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Com o tempo ela começou a perceber os trechos de poesias “impressos” com estêncil
pela cidade. Um dia já à noite no ônibus, reparou que havia uma certa lógica na
sequência e caminho que ela percorria. Faculdade, supermercado, trabalho. A cada dia
aparecia um texto, frase, poema que coincidentemente lhe cabia naquela escrita:
cabelo, cor da pele, lábios... Palavras que imaginativamente eram declaradas ao seu
ouvido.
Se o poeta pode ter sua musa, é direto da musa saber quem é seu poeta. Ela tinha
convicção que a cidade estava sendo pintada e desenhada por sua causa. Ela só não
sabia se estava se enamorando pela poesia ou por quem estava deixando a cidade
menos dura naquele caos de construções e entulhos.
“E se for mulher?” pensava ela com frio na espinha num misto acima de tudo de
alegria.
Três meses depois ela se depara com mais um recado. A mesma forma, mesma
tonalidade de tinta, mesmo tamanho. A frase que ela já sabia e já sentia: “Carol, te
amo.”
A leitura foi lenta e repetida várias vezes. Sorriu várias vezes também.
E em vinte e sete anos, pela primeira vez ela desejou não se chamar Fernanda.