Disciplina de Reformas contemporâneas e a formação do professor Prof.ª Suzane Gonçalves Acadêmica Ana Carolina Scott-Hood – 152939
TRABALHO FINAL – REGISTROS REFLEXIVOS
Ao longo da disciplina tecemos muitas reflexões no que diz respeito a
formação docente e as reformas educacionais que perpassam a formação e o trabalho docente ao longo do tempo, principalmente voltadas a grupos com intenções privativas. Vale ressaltar que os textos discutidos se complementam e abordam fatores que se interligam, contribuindo assim para o aprofundo das aprendizagens ao longo dos estudos realizados. O primeiro texto, “políticas itinerantes de educação e a reestruturação da profissão docente: o papel das cúpulas da OCDE e sua recepção no contexto brasileiro” de Dalila Oliveira, a autora discute as reformas educacionais que perpassam o campo educacional, as chamadas políticas itinerantes. O texto proporcionou refletir como as políticas interferem em toda a formação e a prática docente, principalmente quando há a influência de grupos e organizações com intenções que visam padronizar o currículo e as formas de trabalho docente. Um exemplo trago é a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que faz parte de uma rede que tem como finalidade padronizar as políticas, e um exemplo disso é a Base Nacional Comum Curricular – BNCC, que se implantou em 2017, e seu texto visa padronizar os currículos, visando uma formação preparatória para o futuro, excluindo o tempo, tempo das experiências, das diferenças e das especificidades. O texto também nos faz refletir sobre como esses currículos padronizados quando fracassados caem sob o professor, excluindo essa culpabilização das reformas, das condições. Essa noção de formação como preparação é trago no texto “educação na lógica do Banco Mundial: formação para a Sociabilidade Capitalista”, onde os autores especificam que para o Banco Mundial da Educação a pobreza e o desenvolvimento econômico são de responsabilidades da educação. É exatamente o que propõe a Base, a formação de competências para o futuro. Estimulando a escolarização e uma formação que atenda as demandas do capital. A escola vem se tornando um local de preparação, onde as políticas como as do Banco Mundial possuem como intenção não mais um ensino pautado em buscar conhecimentos. Busca-se uma maior escolarização e, consequentemente isso resulta em uma maior inserção no mercado de trabalho, com um salário maior. Se pararmos para refletir isso já não está somente no papel. Existem políticas que circulam, posicionamentos que defendem esse formato de “escola e escolarização”. Um exemplo disso é a BNCC (2017), pautada em conteúdos que devem ser “ensinados” ao longo das etapas da educação básica, instituindo-os desde a etapa da Educação Infantil com as “competências e as habilidades” que devem ser atingidos. Segundo os autores “impor à escola tal função configura-se como verdadeiro assalto ao conhecimento histórico e cientificamente desenvolvido pela humanidade” (Decker, Evangelista, p. 10). Essa é a educação e o modelo de escola que os autores trazem que está impregnada nas políticas instituídas pelo Banco Mundial da educação, preparatória, acreditando que essa preparação combaterá a pobreza, jogando para a educação e para os professores essa responsabilização ao invés do governo. E por falar em culpabilização do trabalho docente e BNCC (2017), o texto discutido na aula do dia 23 de maio, “quando o capital educa o educador” explicita e nos faz refletir sobre como o trabalho docente vem sendo regulado, gerenciado através destas políticas. Muitos foram os movimentos e contribuições para que este documento normativo se implementasse, contribuindo para a padronização do currículo. É importante refletir que cada vez mais os professores são submetidos a cumprir estas normativas, e por vezes não há sequer reflexão sobre esta prática, um olhar crítico, e isso pode estar sendo acompanhado desde a formação, onde está cada vez mais difícil para as universidades discutir estas questões, visto que a intencionalidade destes grupos é justamente de formar professores reprodutores, que cumpram as normativas. Um professor gerenciado. Vem se tornando cada vez mais comum dentro das reformas educacionais o quanto o capitalismo vem dominando e propagando noções de como educar, de como formar os docentes dentro de uma noção preparatória, padronizada. O autor Álvaro Hypólito retrata no texto “padronização curricular, padronização da formação docente: desafios da formação pós – BNCC” o quanto essa padronização curricular imposta pela Base interfere na formação docente, onde o capital vem cada vez mais impondo as competências e os objetivos que devem ser atingidos. É importante refletir o quanto a pandemia de Covid-19, o ensino remoto expandiu a expansão das relações entre o público e privado, aproveitando-se da situação para influenciar nos projetos de formação docente. Ao longo do tempo foram surgindo movimentos que viessem a contribuir e instituir na educação formas de governamento, como por exemplo o GERM – Movimento de Reforma Global, que buscar a partir de políticas padronizar a educação, tornar algumas disciplinas centrais, ou seja, aquelas que podem contribuir para as avaliações dos sistemas educacionais, atingindo os objetivos de aprendizagem. Podemos refletir a cerca de alguns materiais que circulam, principalmente nas mídias digitais modelos prontos de atividades, de planos, de como fazer, e não é por caso. Um exemplo disso é a Nova Escola, uma revista que divulga materiais prontos, com passo a passo de como ser aplicado. E ainda há profissionais que recorrem a esses materiais, utilizando-se desse sistema padronizado que a Base vem instituindo desde a formação dos docentes, e é justamente o que a ANFOPE – Associação Nacional pela formação dos profissionais da Educação buscou e busca romper desde a constituição da Base. Essas formas de governamento mencionadas anteriormente reportam para um projeto neoliberal-gerencialista que esvazia o trabalho docente. Esse projeto nos faz refletir o quanto a educação vem se tornando cada vez mais uma mercadoria. Um exemplo disso é como a educação vem sendo vista por grupos com fins lucrativos, que buscam investir na construção de escolas, em materiais didáticos. Mas com qual objetivo? As autoras Kátia Augusta da Silva e Shirleide Pereira Cruz trazem a noção de “competência”, e esse pode ser um dos objetivos dos grupos que buscam investir na educação. A noção de competência firmada nas políticas educacionais da última década prevê uma ação de fazer bem-feito, do aprender a fazer. Uma educação pautada em habilidades para atingir objetivos. Isso nos remete a pensar novamente na educação como preparação, principalmente para o mercado de trabalho. Neste texto, intitulado de “Base Comum Nacional ou Base Nacional Comum para a formação inicial de professores da educação básica: a quem interessa a inversão da nomenclatura?” o autor nos faz refletir o quanto nada é por acaso, por exemplo a troca de nomenclatura de uma política que tem como objetivo formar professores. Mas qual professor está sendo “formado”? A BNC possui um esvaziamento da formação crítica e científica, sendo alinhada diretamente a BNCC (2017) agindo como uma ferramenta de regulação das práticas pedagógicas. O autor ainda nos faz refletir o quanto a BNC age como um processo de desmonte e destruição da Universidade publica e dos atuais cursos de licenciatura, retirando a autonomia docente. Enquanto de um lado temos a BNC - Formação como padronização da formação alinhada a Base, de outro temos a BCN – Formação, defendida pela ANFOPE como uma política que possui como princípios gerais da formação docente a qualidade, a formação de educadores críticos e liberais, que agem com autonomia sob sua prática. Os textos “o currículo para a formação de professores: tensões, disputas e perspectivas” e “Diretrizes Curriculares nacionais n. 02 de 2019: a possível dissolução do curso de pedagogia” nos faz refletir o quanto as políticas educacionais que surgem com fins lucrativos interferem e agem desde a formação de professores. Além de toda desqualificação e desvalorização do trabalho docente, baixo salário, as reformas curriculares ainda buscam ressignificar o papel do professor, tornando-o responsável pelo sucesso ou fracasso dos estudantes, pelas competências adquiridas para a vida, para o mercado de trabalho. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial buscam a dissolução do curso de pedagogia, reduzindo-o, buscando que ele se torne fragmentado e não atenda as diversas áreas que engloba a formação de pedagogos, mas principalmente, reorganizar o currículo, tornando-o peça do sistema. Os textos seguintes a discussão nas aulas novamente nos remete a pensar sobre a formação docente prevista pela Base Nacional e o controle sobre seu exercício, a regulação que está por traz da formação inicial e continuada previstas pela BNC. O neoliberalismo vem a cada dia assumindo a postura de regular as práticas e os currículos, tornando-os padrão e indiscutível, onde não é possível flexibilidade e discussão. Essa formação por competências recai sobre os docentes que se sentem impotentes e acuados, sem voz para atuar de acordo com a necessidade de seus grupos de estudantes. E os estudantes por sua vez vem a cada dia sendo preparados, instrumentalizados para o futuro. Os dois últimos textos discutidos na disciplina nos fazem pensar em todas estas questões em um cenário novo que se instalou em 2020, a pandemia de Covid-19 e a necessidade de se readaptar, escancarando as problemáticas que a educação sofre. A precarização do trabalho é um item discutido nos dois textos como uma das maiores dificuldades encontradas nesse período. As autoras discutem como houve o aumento de número de horas trabalhadas, resultando em um adoecimento dos docentes, além da preocupação em atendar todas as demandas, tendo como obstáculo as plataformas digitais, pois o ensino remoto que se instalou precisou que novas plataformas fossem utilizadas. Muitas foram as dificuldades escancaradas, durante a pandemia e para o retorno as atividades presenciais, a baixa remuneração, fraca infraestrutura, fatores que contribui para a qualidade da educação.