Você está na página 1de 7

RESENHA CRÍTICA SOBRE LIVRO TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO DE

MIGUEL REALE
Maria Fernanda Cossolosso Ribeiro
Curso de Direito

Reale, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito. São Paulo: Editora Saraiva, 1994.
186 páginas

A Teoria Tridimensional do Direito é uma das obras mais significativas e


reconhecidas para além dos códigos, dentro do curso de Direito, em diversas matérias e
profissões. Foi escrita pelo jusfilósofo e professor Miguel Reale (1910-2006), sendo autor de
diversas outras escritas, ficou mundialmente conhecido após a publicação da Teoria Integral
do Direito, em 1968, o autor consegue abranger a Ciência Jurídica, transcendendo o
dogmatismo e comprovando que a experiência jurídica e o Direito em si, é formado pelo
aspecto axiológico - valor -, sociológico - fato - e normativo - norma-, com isso dá para se ter
a máxima de que todo fato possui um valor, ambos previstos em uma determinada norma
jurídica
Miguel Reale inicia sua obra introduzindo a ideia que os juristas possuem dos
filósofos e vice-versa. De certa forma, os operadores do Direito reconhecem que a Filosofia
do direito é indispensável para a cultura e formação cognoscitiva do jurista, entretanto não
defendiam a afirmação de que essa formação tivesse utilidade prática para a Ciência do
Direito.
Tal descrença faz com que haja primazia da técnica, defendida pela Escola Exegese,
sendo o Direito algo sistêmico, dogmático e resulta na falta de cobertura das mudanças
sociais, uma vez que o homem, o tempo e o seu ser mudam constantemente, um esquema
fixo não irá suprir e manter a ordem necessária, com muitas lacunas e fatos à mercê do
senso comum.
Com isso, os filósofos do direito foram de encontro ao positivismo, baseando-se nos
ditames da linha formal neokantiana. Isso fez com que houvesse um distanciamento ou um
"divórcio", como escrevera Reale, maior entre filósofos e juristas, devido à diversidade de
linguagem e problemáticas diferentes. Tão logo, torna-se conhecimento ao leitor que
houveram atitudes excepcionalmente extremadas, por conta da ideia da inutilidade das
pesquisas filosóficas para os juristas e a visão banalizadora destes para com a Filosofia do
Direito.
Pode-se concluir que o divórcio teorético entre os filósofos e os juristas só foi
concebido por não impedir as insuficiências e contradições da sociedade ocidental, onde
eram mantidas firmes as suas estruturas e regimes, pois era como se houvesse um direito
para os juristas e outro direito para os filósofos cada um era isolado, sem que um
interferisse sob o outro, criando então um certo dualismo de perspectivas.
Os princípios filósofos-jurídicos continuavam sendo de forma pacifica a desconfiança
dos juristas, pois suas investigações eram extremamente dogmáticas, ou seja, seus
preceitos possuíam caráter incontestáveis. Era levado em conta pelos filósofos-jurídicos a
questão de o cristianismo não ser imposto como regra das ações realizadas pelos
indivíduos, mas por ser responsável por modificar os mesmos.
Os juristas concentravam sua atenção em elementos conceituais, não havendo
assim razões para a Filosofia do Direito e a Teoria Geral do Direito, onde acabou se criando
a “enciclopédia jurídica”, porém tempos depois, perceberam que haviam vigorosas razões
para conflitos entre os fatos e os códigos, fazendo com que os filósofos-juristas e seus
métodos dogmatistas recuperassem sua soberania extinta.
Logo, através de um breve resumo, pode-se concluir que após esses movimentos de
desarranjos entre os sistemas normativos, a ciência do Direito se viu agitada, onde surgiu o
movimento do Direito livre que questionava os elementos indispensáveis para a Ordem
Jurídica positiva, Direito positivo este que defendia o mundo social do qual é um elemento
integrante e buscava estudar a função das forças intelectuais e morais da humanidade, pois
somente ela poderia dar-lhe o seu real valor.
Por conta da divergência que sempre existiu entre jurista e filósofos Miguel Reale diz
que a combinação entre os dois é a melhor solução, tanto a filosofia como o direito têm
aspectos importantes e essenciais a serem compreendidos e que juntos eles trariam
benefícios.
Sendo o filósofo aquele com um caráter epistemológico muito elevado, a
necessidade de dividir os diversos aspectos que abrangem o direito cresceu, juntamente
com a exigência de concretude e formalidade que o jurista sempre teve. Então é assim que
ele resolve a situação com o filósofo abrindo mão do caráter totalmente axiológico e
entendendo a formalidade normativa enquanto o jurista tenta entender melhor a retórica
filosófica e como pode contribuir da melhor maneira no mundo do direito, encontrando por
fim a balança do direito concreto que ele idealizava.
Além do que foi visto, é importante saber que os juristas se interessam pelos
aspectos filosóficos em relação aos problemas que afetam eles diante o direito positivo. A
mentalidade do século XIX foi fundamentalmente analítica ou reducionista, ou seja, sempre
buscavam uma solução unilinear para resolver os problemas históricos e sociais, já
atualmente prevalece um sentido concreto da totalidade. Se for analisar o fenômeno jurídico
através desse pensamento, é possível perceber que a maioria dos juristas ainda mantém
fidelidade a essa ideia do passado, pois, para os juristas o direito é apenas a norma e nada
além disso. Esse pensamento se contrapõe com o de alguns sociólogos do direito, que
analisam o jus a partir da eficácia e da efetividade.
A compreensão concreta da experiência jurídica iria ficar comprometida se fosse
situar o problema da tridimensionalidade apenas no âmbito empírico da Teoria Geral do
Direito, como Werner Goldschmidt sugeriu. Ele distinguia uma Filosofia Jurídica maior e
outra menor, que se confundia com a teoria tridimensional, que para ele havia uma
concepção do tridimensionalismo abstrato ou genérico. Segundo Recaséns Siches, o direito
é essencialmente tridimensional, logo, essa qualidade não poderia existir apenas para os
juristas, mas sim para todas as estruturas e modelos que compõem a experiência do direito.
Se não fosse assim, começaria a existir, na Filosofia do Direito, um divórcio entre filósofos e
juristas, pois não iria restar nada entre eles capaz de relacionar as tarefas.
Com isso, é perceptível que a Filosofia do Direito não pode se alienar dos problemas
da Ciência do Direito, mas sim deve coloca-los em objeto de análise para propor
alternativas. Há duas diferentes perspectivas do valor, uma transcendental e outra empírica.
Na primeira o valor é condição transcendental da história do direito, na segunda o valor se
atualiza como valoração efetiva. Contudo, percebe-se que a experiência jurídica é variável
em seus parâmetros, em cada país, com suas diferentes conjunturas históricas, assim, é
compreendido a multiplicidade das formas do tridimensionalismo jurídico, o que vai ser
possível ver no próximo capítulo.
Além disso, em uma nova abordagem, Reale traz para os leitores a questão da
vigência, eficácia e o fundamento, no qual de forma maestra ele correlaciona a Filosofia com
a questão da validade da norma. Para o autor, os estudos dos sociólogos, filósofos e juristas
se interagem no momento que é analisado o problema da validade do direito. Dessa forma,
é a presentado que a avaliação dos critérios: vigência, eficácia e fundamento, são crucias
para entender o direito em um plano tridimensional, fugindo assim, do estudo unilateral.
Reale afirma que o antigo discurso defendido, onde predominava a imagem do
direito com base na certeza objetiva da lei, tinha razões históricas plausíveis, uma vez que
as estruturas jurídicas do Estado de Direito eram modeladas de acordo o influxo do
individualismo liberal dominante na cultura burguesa, contudo essas abordagens do direito
tinham falhas que vieram a ser reparadas através da teoria tridimensional do direito.
Então, o autor discorre sobre os requisitos para obter tanto a validade formal quanto
material. Sob esse viés, compreende-se que a validade diz respeito a integração na norma
no sistema jurídico e o respeito do conteúdo das normas superiores, e para isso, ela precisa
atender os seguintes critérios: vigência, sendo necessário que a lei reúna três requisitos: à
legitimidade do órgão; à competência ratione materiae e à legitimidade do procedimento,
quando uma regra de direito obedece, em sua gênese, a esses três requisitos, dizemos que
ela tem condições de vigência. Eficácia, que se refere, à aplicação ou execução da norma
jurídica, ou por outras palavras, é a regra jurídica enquanto momento da conduta humana, a
sociedade deve viver o Direito e como tal reconhecê-lo. E por fim, o fundamento, se ela
apresenta legitimidade, que Segundo Miguel Reale, o fundamento é o valor ou fim
objetivado pela regra de direito. É a razão de ser da norma, ou ratio júris. Nesse sentido,
Reale expõe a importância de uma nova visão, trazendo um ponto de vista diferente daquele
apresentado pelo formalismo positivista e do que acreditava na subordinação do direito à
vigência.
Ademais, ao discorrer sobre o assunto, a obra demonstra que o atual direito baseado
na justiça social necessita conter soluções compatíveis com a sociedade. Nesse aspecto, no
momento da busca em proporcionar um direito compatível aparece o problema da eficácia,
visto que, como citado anteriormente, as regras jurídicas precisam ser respeitadas e
acatadas pelas autoridades superiores. Sendo assim, nota-se que ao revelar que as
soluções divulgadas pelas Jurisprudência Conceitual, de Interesses e a dos Valores foram
uma tentativa do dogmatismo jurídico de solucionar a questão. É nítido que Reale traça uma
linha histórica cultural do direito para que os leitores consigam compreender o assunto de
modo objetivo, e com essa ênfase, nota-se que um elemento implica com outro. Com isso,
entende-se que o direito só é possível ser mediante a eficácia no corpo social, haja vista,
que os símbolos estão presentes na realidade do homem e o “dever-ser” traz consigo
implicações pré-estabelecidas no Direito.
Por outro lado, o autor chama a atenção do leitor para a postura das pesquisas
cientificas. Para Reale, os filósofos do direito renunciaram todo estudo da vigência e da
eficácia, para focar nas razões fundamentais do direito, se aprofundando apenas na Teoria
da Justiça. Por conseguinte, atribuiu-se aos juristas e sociólogos a pesquisa dos respectivos
estudos.
No segundo capítulo do livro, o autor busca mostrar o que era a tridimensionalidade
em diferentes pontos de vista e lugares. É possível perceber que são muitas as teorias em
que pode ser explicado a natureza do termo “tridimensional” para a área jurídica. Na
primeira parte, é visto sobre a tridimensionalidade na Alemanha, em que são citados dois
jusfilósofos, Emil Lask e Gustav Radbruch. Eles buscaram um elemento de ligação entre os
valores ideais e os dados pela experiência jurídica. Era considerado que as bases de um
tipo de tridimensionalidade seguiam três ordens lógicas distintas, que eram os juízos de
valor, juízos de realidade e juízos referidos a valores. De acordo com as passagens de Lask
e Radbruch, foi denominado a tridimensionalidade genérica e abstrata do direito, que era a
análise ôntica do fenômeno jurídico. Para Lask, a Ciência integral do Direito somente seria
obtida se houvesse uma integração dos três estudos, que eram um objeto, um método e
uma ordem particular de conhecimentos. Já para Radbruch, teria que haver uma
justaposição das três perspectivas.
Em seguida, é falado sobre a tridimensionalidade na Itália. Ficou conhecida a divisão
da Filosofia do Direito em Gnoseologia, Deontologia e Fenomenologia Jurídicas, a qual foi
desenvolvida desde Icilio Vanni até Giorgio Del Vecchio, e passou muito tempo sendo a
orientação prevalente nessa área de estudos na Itália. Norberto Bobbio fazia uma
discriminação entre as tarefas da Filosofia do Direito, da Sociologia Jurídica e da Teoria
Geral do Direito. Para ele, a experiência jurídica é focalizada através dos prismas do fim, do
meio e da forma, assim, criando três ordens de estudos. Houveram algumas pesquisas jus
filosóficas na Itália feitas por Giuseppe Lumia e Dino Pasini. O primeiro autor concluiu a
necessidade de uma consideração integral da experiência jurídica, fazendo com que o
filósofo e o jurista percebam que, quando observam o direito, não estão em duas realidades
diversas, mas sim perante uma única realidade, porém com dois pontos de vista diferentes.
Entretanto, Dino Pasini diferencia na realidade jurídica o fato, a norma e o valor. Outro autor
citado foi Bagolini. Segundo ele, as várias expressões da experiência jurídica e as
exigências valorativas e ideológicas levam a uma compreensão das soluções normativas do
direito em função de um conceito de tempo, chamado de “tempo cultural”. Essa expressão
tem sido muito utilizada pela Antropologia e pela Sociologia contemporâneas.
Na França, o tridimensionalismo surge pelos domínios principalmente da Teoria
Geral do Direito, pelos estudos de Paul Roubier. Para o autor, a decomposição do direito é
esquemática, ou seja, a vida social não se inspira somente em uma tendência, elas se
misturam na cena jurídica. Através dos pensamentos de Roubier, houveram estudos
recentes de Francis Lamand. Para ele, o tridimensionalismo (fato, valor e norma) não
reconstituem a unidade do jus no tempo, que representaria mais uma dimensão do direito.
Outro autor citado é Michel Virally, em que sua principal obra, “La Pensée Juridique” é
destinada principalmente para a investigação das dimensões do direito. De acordo com esse
autor, na experiência jurídica há três dimensões, que são a normativa ou histórico-
normativa, a fática e a axiológica.
Outro ponto de vista abordado foi em relação à tridimensionalidade na área do
“Common Law”. Um dos autores citados foi Roscoe Pound, para ele, os adeptos da corrente
analítica cuidam exclusivamente do corpo dos preceitos estabelecidos, os juristas de
tendência historicistas se preocupam principalmente com as ideias e técnicas tradicionais e
o jurista-filósofo visa os fins éticos e ideais do direito. Para ele, os três pontos de vista se
completam. De acordo com o pensamento de Roscoe Pound, houve uma percepção do
direito criada por Julius Stone, em que a jurisprudência é dividida em três ramos, a
jurisprudência analítica, a jurisprudência sociológica e por fim, a teoria da justiça. A
tridimensionalidade de Stone era abstrata, em que haviam três áreas de pesquisa que
deviam se completar. Com isso, foi considerado que a sua tricotomia se aproximou com o
pensamento de Kelsen. Em uma concepção do tridimensionalismo genérico, é citado um
jusfilósofo chamado Josef L. Kunz, que defende a ideia de que há três ramos da filosofia do
Direito, o analítico, sociológico e axiológico. O analítico é o principal para os juízes,
advogados e juristas, pois concebe o direito como norma. A filosofia sociológica também
considera a efetividade do direito, e a filosofia jurídica axiológica, de um lado critica o direito
e a partir dessa crítica cria uma série de normas extrajurídicas.
O tridimensionalismo na cultura ibérica era notado principalmente nas obras de L.
Legaz y Lacambra e E. Garcia Máynez. É uma tridimensionalidade genérica que está
implícito na teoria egológica de Carlos Cossio. Para Cossio, a conduta apresenta três
dimensões. Outro autor citado foi Luís Recaséns Siches, o qual elaborou um
tridimensionalismo perspectivístico que exerceu uma larga influência no mundo jurídico
latino-americano. A participação de Luís é relevante para a teoria da tridimensionalidade, no
estudo da conceituação do direito e no da concreção do fenômeno normativo.
É possível perceber que a compreensão tridimensional da realidade jurídica foi pauta
de muitas discussões, pensamentos e pontos de vista diferentes. Isso ocorreu em todos os
lugares, um fenômeno universal. Vários jusfilósofos tentavam explicar o que eles
consideravam a tridimensionalidade do Direito, com base nos seus estudos, ou com base
em pensamentos de outros juristas. Através desse capítulo, Miguel Reale tenta mostrar o
que foi a tridimensionalidade nos diferentes lugares do mundo, quais as consequências
disso para o direito.
Já no terceiro capítulo do livro, Miguel Reale traz um pouco da sua perspectiva
tridimensional que ele quer passar aos leitores, como ele chegou a essa conclusão de
concretude da teoria e como os juristas e filósofos se relacionam com essa terminologia. No
seu ponto de vista, há grande aceitação e conformidade com o caráter fator, norma e valor
do tridimensionalismo, que retira da questão outras considerações ou problemas.
Ele tenta trazer uma problemática acerca da teoria tridimensional que é como ela se
relacionaria com outras matérias, como a Sociologia Jurídica ou a Filosofia, como elas
enxergam a tríade fato, valor e norma, problemas que talvez esses elementos não
conseguiriam responder sozinhos. Sua ideia é que a melhor forma de abarcar todos esses
aspectos seria distinguir o estudo do direito em áreas específicas seguindo sua matéria de
pesquisa e envolvimento.
Há algo em que tanto Reale quanto o direito aplicado nos moldes atuais convergem,
há apenas um direito, porém com diversas leis que acompanham a mudança da sociedade
que traz a necessidade de que cada jurista se adeque a realidade e esteja sempre em um
contato direto com as diversidades. De forma que o autor denomina direito como uma
unidade que abrange diversos fatores e não uma conduta que se restringe a fato, valor e
norma, mas sim um conjunto onde traz o exemplo da conduta jurídica, que se torna jurídica
no momento que se adequa ao fato, consiste em um valor e por fim se torna uma norma,
mas atrelado a uma eticidade.
Com base nesse sentido, Reale vê a necessidade de explicar motivo de ter criado
uma tri-dimensão para o direito. Em 1941, durante um discurso na Faculdade de Direito ele
foi avisado por um colega que além do fato e norma que foi algo que sempre esteve
presente nos seus estudos, há um terceiro elemento atrelado a ela que é o valor. Ele
analisou a teoria dos objetos, que colocava o valor como um objeto ideal e concluiu que o
valor na verdade tinha uma autonomia nesse processo gnosiológico e não seria um mero
artefato de qualificação da norma. A partir desse momento de elucidação, ele passa a
compreender o caráter concreto da Teoria Tridimensional, e nos próximos capítulos procura
trazer melhor elucidação das suas ideias.
Após uma elucidação, concretização e localização do tridimensionalismo, Reale
investe na explicação da dialética de complementariedade e sua conexão com o
tridimensionalismo.
A história da teoria tridimensional de Reale é traçada com início na necessidade de
sua fundamentação epistemológica. A Filosofia da cultura buscou trazer um maior
enriquecimento em contraste ao positivismo e ir de encontro ao dualismo de Kant em sua
Filosofia dos valores, que limitou a visão e interpretação com viés no historicismo, mas que
foi complementado com os ideais de Giambattista Vico, com uma compreensão sobre a
"ciência do espírito".
A Escola de Baden, com nomes importantes tais como Radbruch e Lask, teve
importância inegável ao compreender que Kant, além de trazer o ser e o dever ser, traz o
conceito de valor, paralelamente teria a realidade e o intermédio seria chamado de cultura.
Ainda assim, toda a Filosofia dos valores deixa a desejar quando se é pautado a correlação
sujeito e objeto e não vai além do ser, dever ser e da eticidade.
Sendo assim, o tridimensionalismo fica estático, as mudanças da vida e a liquidez da
sociedade e dos tempos não é considerada, tão logo se faz necessário introduzir a dialética
de complementariedade, uma vez que o conhecimento tem natureza relacional, ou seja, os
termos e conceitos podem ser opostos, distintos ou funcionais, mas de qualquer modo
devem ser complementares em sua essência e essa ideia é aplicada quando, no plano
epistemológico, o valor é uma intermediação na relação sujeito e objeto.
Com essa dialética, correlação e complementariedade, dá para entender o
tridimensionalismo como uma integração do fato, do valor e, com a experiência jurídica, da
norma, podendo esta se transformar em fato, com isso há a tríade de normas determinadas,
por conta de valores, aplicados sobre situações fáticas, sendo essa a única possibilidade de
compreender a experiência jurídica de maneira plena e do intérprete e operador do Direito
atingir a completude da interpretação e conexão com a sociedade e suas mudanças.
O capítulo cinco, intitulado “Tridimensionalismo e Historicismo Axiológico”, deixa de
lado a compreensão gnosiológica da experiência jurídica para analisar pelo enfoque ético,
no qual Reale denomina “historicismo axiológico”. Desse modo, a investigação do homem e
de sua historicidade revela que a conduta do homem há uma intencionalidade, pois ele é
uma fonte de valores, e com isso, o capítulo apresenta a forma que é visto o valor,
correlacionando com a estrutura do direito. Sendo assim, entende-se que o ser homem é o
seu “dever-ser”, ou seja, o homem é um indivíduo que possui a capacidade de valorar as
condutas e determinar as desejáveis em um modelo jurídico e ao mesmo tempo se
submeter à suas próprias criações.
Além disso, o autor apresenta uma análise disso em dois aspectos, o objetivo e
subjetivo, que se implicam. Dessa forma, é notório o quanto a visão do autor traz elementos
da Filosofia para explicar a dialeticidade entre fato, valor e norma, salientando a participação
histórica do ser homem a partir do aspecto cultural do direito. Como também, expõe que o
valor não é abstrato, ele está no plano do dever-se, contudo é aplicado no plano do ser em
determinado momento histórico. Em virtude de que no momento que o homem realiza uma
conduta que contrária aos valores estabelecidos pela sociedade, pode surgir uma norma
jurídica que se aplica aquele fato. Portanto, diante do exposto por Reale, considera-se que a
natureza do direito está no homem, então, o mundo jurídico está sempre se modificando
para atender os anseios valorativos sociais.
Segundo o autor não é possível vislumbrar o Direito apenas pela simples
constatação desde pelas experiências que nada mais é que a correlação entre fatos, valores
e normas. Ainda afirma que a concepção adotada depende da visão que cada autor possui,
tornando assim uma ideia diferente para cada um deles.
De acordo com o que se constata em seu livro o tridimensionalismo já existia em
substância, porém ainda não era caracterizado como tal. E essa exposição verbal do
tridimensionalismo foi se dando ao passo em que ele compreendia melhor a concepção de
“valor” como um objeto autônomo e pertencente ao mundo do “deve-ser”. O autor ainda
indagou sobre a questão dos valores não possuírem idealidade e nem “objetividade em si e
por si” e de como neles poderiam ser caracterizados a objetividade, onde afirma que essa
objetividade tem base na natureza histórica, visto que são projeções de um valor-fonte que é
o indivíduo. Segundo ele os valores se diferem dos objetos ideais por conta da
realizabilidde, inexaurimentabilidade, transcendentalidade e a polaridade.
Após explanar sobre o conceito de “valor”, o autor passou para o conceito também
de “fato”, onde o definiu como “momento de um processo, um elo no encadeamento dos
atos humanos, que em função de atos anteriores, quer em razão de dados da natureza.”
Posteriormente definiu que um “fato” jamais deve ser reduzido a um “valor”, porém com
frequência isso ocorre no empirismo jurídico. O “fato” deve ser valorado e não ser reduzido a
um valor. Assim como também não é possível conceber o a norma jurídica como uma
relação neutra e objetiva, como cópia de relações factuais.
Passou-se a analisar os elementos fato, valor e norma a partir de como eles se
encontravam no processo, pois estes elementos eram melhor compreendidos quando
focalizados no homem. Contudo, não se tratou de realizar a correlação do desenvolvimento
do direito e o indivíduo de maneira abstrata e estática, mas sim na correlação da
subjetividade com os fatos ocorridos no momento. Portanto a norma jurídica define de
maneira positiva de um fato perante uma situação, ou seja, ela define o que o homem deve
fazer enquanto membro de uma coletividade.
Segundo o autor é necessário que a norma vá passando por adaptações com o
tempo, pois por se tratar de criação humana, a partir do momento em que ela é promulgada
já sofre com o desgaste e que daí advém a necessidade de haver uma mudança normativa
constate para que se mantenha atualizada. Ou seja, após promulgada a norma sofre
alterações por conta da superveniência das mudanças dos fatos e valores até o omento de
sua revogação.
A ciência jurídica só pode ser pensada graças a vida social ser dotada de
estabilidade e previsibilidade, pois os indivíduos nas relações de convivência obedecem a
diretrizes de conduta e por isso foi viável a criação de regras destinadas a reger a conduta e
a ordem dos atos. Em seu texto o autor menciona dois valores que para ele são essenciais
quais sejam a logicidade e historicidade do ser humano e que graças a esses dois valores
que o homem não age apenas na intenção, mas põe como objetivo as intencionalidades
próprias da consciência. E assim com essa objetivização e pondo em pratica as tentativas
de fazê-lo, o homem vai constituindo sobre o mundo aquilo que um dia idealizou.
Em 1968 no congresso internacional de Viena, propôs o conceito de modelo jurídico,
onde cada modelo expressa um caminho lógico de meios e fins, ou seja, há uma
representação antecipada de resultados a serem alcançados por meio de medidas
ordenadas em prol deste objetivo. Existem 2 tipos de modelos no Direito que são uns de
caráter puramente teóricos e outros que são prescritivos. O segundo modelo, apesar de ser
prescritivo, tem caráter obrigatório, pois representa a organização de conduta escolhida pela
autoridade vigente, o que lhes traz coercibilidade.
Portanto, é possível perceber que o direito se dispõe por meio de estruturas e
modelos, que são interligados por um propósito em comum que é a ideia de justiça.
Após a análise e interpretação da obra, concluímos que o tridimensionalismo jurídico
de Miguel Reale é uma boa alternativa para a tradição brasileira que é marcada pelo
idealismo e pelas duas formas de positivismo jurídico (legal e social). Miguel Reale mostra
que não se pode focar no enunciado das leis, sem considerar que fato e valor fazem parte
do processo de constituição da norma no espaço da cultura, dessa forma a teoria
constituída pelo autor traz uma forma de solução, onde um dos três pontos abordados
trazem uma maior facilitação para que os conflitos sejam solucionados.
Por fim, é importante destacar que um sistema normativo será eficiente e inclusivo, a
partir do momento que o fato, valor e norma sejam utilizados em conjunto, além da utilização
da metodologia jurídica e as suas subdivisões que irão facilitar entender o real saber jurídico

Referências:
REALE, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito. São Paulo: Editora Saraiva,
1994. 186 páginas
BOMFIM, Marco Antônio Correia. Curso de Filosofia Jurídica. Bahia:
Faculdade de Ilhéus, 2021

Você também pode gostar