Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Jornalista, doutora em Comunicação Social, professora de Jornalismo da PUC-Campinas
2
2
O Departamento de Imprensa e Propaganda foi criado por decreto presidencial em 27 de dezembro de 1939, com o
objetivo de difundir a ideologia do Estado Novo junto às camadas populares, porém sua origem está em 1931,
quando foi criado o Departamento Oficial de Publicidade e, em 1934, com o Departamento de Propaganda e Difusão
Cultural (DPDC). No Estado Novo, no início de 1938, o DPDC transformou-se no Departamento Nacional de
Propaganda (DNP), que deu lugar ao DIP, com setores de divulgação, radiodifusão, teatro, cinema, turismo e
imprensa. In: CARONE, Edgard. A Terceira República (1937 –1945) São Paulo: Editora Difel, 1974..585 p.
5
Essa articulação teve como pano de fundo reverter a influência alemã sobre
os brasileiros presente desde 1933, quando o Partido Nazista alemão passou a ter
projeção internacional, alinhadas à propaganda germânica, com a presença de
embaixadas, consulados, empresas comerciais, linhas aéreas, agências de notícias.
Tudo para criar simpatias internas e difundir os valores germânicos, enquanto se
recrutavam alemães e seus descendentes residentes no Brasil para ingressarem no
núcleo do partido nazista.
Um ano antes de seu fechamento, na edição de quinta-feira, 09 de março de
1939, o jornal Meio Dia revelava que estava Estabelecido o acordo final -
Entendimento entre EUA e Brasil, transmitida pela Agência de Notícias H, de
Washington:
Moniz Bandeira (1973) descreve esse período como de lealdade aos Estados
Unidos, tendo Getúlio Vargas nutrido simpatia pelos acordos comerciais ao mesmo
tempo que se rompia a simpatia que alguns brasileiros ainda nutriam pela
Alemanha3. A teoria desenvolvimentista norte-americana reforçava o paradigma do
liberalismo e ganhava o apoio da Divisão de Imprensa e Publicações – DIP4 – do
governo de Getúlio Vargas.
3
Moniz Bandeira relata que o embaixador Oswaldo Aranha tinha especial simpatia pelos Estados Unidos, enquanto
que o ministro da Fazenda, Arthur de Souza Costa, apoiava a Alemanha, principal rival dos EUA, desde a Primeira
Guerra Mundial, na conquista dos países da América Latina. In: Presença dos Estados Unidos no Brasil – dois
séculos de história. São Paulo: Civilização Brasileira, 1973, páginas p.247-249.
4
As funções do Departamento de Imprensa e Propaganda eram as de coordenar, orientar e centralizar as
propagandas interna e externa, censurar o teatro e o cinema, além das funções esportivas e recreativas, organizar
manifestações cívicas, festas patrióticas, exposições, concertos, conferências e dirigir o programa de radiodifusão
oficial do governo. Na imprensa, a uniformização das notícias era garantida pela Agência Nacional. Elas eram
10
distribuídas gratuitamente pelo DIP, que monopolizava o noticiário. O órgão atuou para difundir o rádio nas escolas
e nos estabelecimentos agrícolas e industriais, com a organização do programa oficial "Hora do Brasil". Em agosto
de 1941, foi criado o Repórter Esso, jornal radiofônico inspirado no modelo norte-americano com notícias
procedentes da United Press International (UPI). Um dos reflexos da Segunda Guerra Mundial no Brasil foi uma
campanha de penetração cultural do governo norte-americano destinada a barrar a influência alemã no país. O DIP
colaborou nessa campanha, que marcou a presença dos Estados Unidos no Brasil, apoiando e desenvolvendo de
projetos conjuntos com a agência norte-americana criada para esse fim. Foi nesse contexto que vieram ao Brasil
artistas famosos como o cineasta Orson Welles, Walt Disney e o empresário Nelson Rockefeller. Entre 1939 e 1942,
o DIP esteve sob a direção de Lourival Fontes, que já dirigira o DPDC e o DNP. Seus sucessores foram o major
Coelho dos Reis, de agosto de 1942 até julho de 1943, e o capitão Amilcar Dutra de Menezes, que atuou até a
extinção do DIP, em maio de 1945. In: CHAGAS, Carlos. O Brasil sem retoques 1808-1964. A história contada
por jornais e jornalistas. Volumes 01 e 02.Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2001. 1215 p. e CARONE,
Edgard. A Terceira República (1937 –1945) São Paulo. Editora Difel, 1974. 585 p.
11
Sousa, Danton Jobim, Samuel Wainer e Alberto Dines. “A finalidade do grupo era
a produção de coberturas jornalísticas na América do Norte para serem
transmitidas ao Brasil, como parte das atividades do Departamento de Informação
e Propaganda (DIP)” (PEREIRA, 2001, p.236).
Por outro lado, a todo instante, os Estados Unidos mostravam suas intenções
na organização mundial após Segunda Guerra Mundial, com a condição de
que deveriam prevalecer seus conceitos de desenvolvimento e de
democracia, com a implantação de uma disciplina internacional
“compatível com a preservação do american way of life e em defesa de seus
interesses econômicos” (FURTADO, 1978, p.39). Houve uma mudança de
paradigmas, com a modernização da vida na América, cuja gênese ocorreu no
governo de Getúlio Vargas (TOTA, 2000).
A difusão cultural ganhou maior espaço após a Segunda Guerra Mundial
com a exportação de padrões de comportamento, gostos musicais, hábitos de
consumo. Na arte, na ciência e na cultura brasileira predominaram a influência dos
Estados Unidos, que impuseram seus conceitos em detrimento dos costumes
tupiniquins. “O Brasil foi literalmente invadido por missões de boa vontade
americanas, compostas de professores universitários, jornalistas, publicitários,
artistas, militares, cientistas, diplomatas, empresários, todos empenhados em
estreitar os laços de cooperação com brasileiros, além das múltiplas iniciativas
oficiais” (MOURA, 1993, p.11).
O intercâmbio promovido e sustentado pelo Birô Internacional influenciava
todas as áreas do conhecimento, com reflexos na economia, na administração das
empresas, na medicina, na educação – com a expansão de escolas de inglês, por
exemplo.
12
5
O ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros – influenciou a sociedade brasileira nas décadas de 50 e 60,
sendo o responsável pela formulação e divulgação das ideologias nacional-desenvolvimentista, subordinado ao
Ministério da Educação e Cultura, com “autonomia e plena liberdade de pesquisa, de opinião e de cátedra. (...) Os
isebianos, ao proclamarem a ideologia nacional-desenvolvimentista como a ideologia de toda a nação e endossaram
- durante certo período – os padrões de desenvolvimento que se realizavam no país, não deixavam de se mover
dentro dos quadros de pensamento da classe hegemônica (burguesia industrial, ainda que sob o controle do capital
estrangeiro). Pode-se reconhecer – através das formulações (ou, mais propriamente, das intenções) de certos
isebianos – que havia firme convicção no sentido de se realizar um desenvolvimento capitalista em bases
estritamente autonomistas. Para tanto, julgava-se que significativas parcelas da burguesia industrial eram movidas
por interesses nacionais autóctones. À ideologia, a ser forjada, caberia a função de esclarecer e de organizar tais
setores (torná-los classes dirigentes) e convencer outras frações da classe dominante acerca de seus interesses
objetivos para a efetivação de uma prática econômica e política mais racional e lúcida. Daí, criaram os isebianos a
viabilidade e a necessidade histórica da ideologia nacional-desenvolvimentista”. In: TOLEDO, Caio Navarro. ISEB
– Fábrica de ideologias. São Paulo: Ed. Da Unicamp, 1997. 197 p.
14
Galeão, um Inquérito Policial Militar – IPM - dirigido pela FAB, da Base da Área
do Galeão do Rio, à revelia das autoridades constituídas. “O poder real interno da
FAB estava nas mãos do brigadeiro Eduardo Gomes8” (TAVARES, 2004, p.77).
O guarda-noturno da rua Toneleros, Sálvio Romero, foi quem ajudou a
desvendar o assassinato do major Rubens Vaz9. Ele anotou a placa do carro 5-60-
21 e estabeleceu o eixo-condutor da trama policial (TAVARES, 2004).
No dia 13 de agosto, Alcino João do Nascimento, assassino confesso do
major Vaz, foi preso e no dia seguinte aconteceu a prisão de Gregório Fortunato. O
poder político de Getúlio Vargas se esvaziou. Políticos e militares, apoiados pela
imprensa, exigem sua renúncia acusando-o de ser o responsável pelo crime.
Isolado, Getúlio Vargas escreveu uma carta testamento e se suicidou na madrugada
de 24 de agosto de 1954 com um tiro no coração, no Palácio do Catete. "Contra a
justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. (...) Não querem
que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. (...) Eu vos
dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o
primeiro passo no caminho da Eternidade e saio da vida para entrar na História".
Referências bibliográficas
ABREU, Alzira Alves de. Os suplementos literários, os intelectuais e a imprensa
nos anos 50. In: ABREU, Alzira Alves de, LATTMAN-WELTMAN, Fernando,
FERREIRA, Marieta de Moraes e RAMOS, Plínio de Abreu (orgs). A imprensa
8
O brigadeiro Eduardo Gomes tinha sido candidato duas vezes à Presidência da República pela UDN, em 1945
quando perdeu a eleição para Eurico Dutra, que recebeu apoio de Getúlio Vargas, e em 1950 para o próprio Getúlio
Vargas. In: TAVARES, Flávio. O dia em que Getúlio matou Allende e outras novelas do poder. Rio de Janeiro,
Ed. Record, 2004. 333 p.
9
Segundo o levantamento realizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, publicado na Série Memória – Cadernos da
Comunicação, “Pompeu de Sousa, na época diretor de redação do Diário Carioca, dizia que o atentado da Rua
Tonelero,( em Copacabana), tinha sido um crime feito com exclusividade para o jornal. Estava fechando a edição
quando o repórter Armando Nogueira o chamou ao telefone de um botequim para contar o crime que, por acaso,
havia presenciado. Ele estava em companhia de dois colegas do jornal, Deodato Maia e Otávio Bonfim, passando
em frente ao prédio onde morava Lacerda, e também assistiram o atentando. Viram alguém (mais tarde identificado
como o pistoleiro Alcino João do Nascimento), atirar no major Rubens Vaz e fugir em seguida. Enquanto Deodato
Maia ajudava a levar o major Rubens Vaz, agonizante, para o hospital, os outros voltaram para a redação, onde
Armando Nogueira escreveria a reportagem na primeira pessoa”. In: BRAGA, Regina Stela (edição). Diário
Carioca. O máximo de jornal no mínimo de espaço. Série Memória. Cadernos da Comunicação. Secretaria Especial
de Comunicação Social da Prefeitura do Rio de Janeiro. 2003. p. 39.
16
em Transição: O Jornalismo Brasileiro nos Anos 50. São Paulo: Fundação Getúlio
Vargas, 1996, p. 13 a 60
BANDEIRA, Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil – dois séculos de
história. São Paulo: Civilização Brasileira. 1973. 497 p.
BARS MENDEZ, Rosemary. Pompeu de Sousa. O jornalista que mudou o
jornalismo. Tede defendida na Universidade Metodista de São Paulo, 2006.
Disponível
http://ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=232
BRAGA, Regina Stela (edição). Diário Carioca – o máximo de jornal no mínimo
de espaço. Cadernos da Comunicação. Série Memória. Prefeitura do Rio de
Janeiro: Imprensa Oficial, 2003. 115 p.
BOMENY, Helena M. Três decretos e um ministério: a propósito da educação no
Estado Novo. In: PANDOLFI, Dulce. (Org) Repensando o Estado Novo. Rio de
Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, 1999. 345 p. disponível ebook
http://cpdoc.fgv.br acessado em 11/01/2016
CAPELATTO, Maria Helena R. Os arautos liberalismo – imprensa paulista
1920-1945. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989. 258 p.
____________ Imprensa e História do Brasil. São Paulo: Contexto. 1988, 75 p.
CARONE, Edgard. A Terceira República (1937 –1945). S.Paulo: Editora Difel,
1974. 585 p.
CICCO, Claúdio de. Hollywood na cultura brasileira. São Paulo: Editora
Convívio, 1979. 129 p.
CHAGAS, Carlos. O Brasil sem retoques. 1808-1964. A história contada por
jornais e jornalistas. Volumes 01 e 02. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record,
2001.1215 p.
DINIZ, Eli. Engenharia institucional e políticas públicas: dos conselhos técnicos às
câmaras setoriais. In: PANDOLFI, Dulce. (Org) Repensando o Estado Novo. Rio
de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, 1999. 345 p. disponível ebook
http://cpdoc.fgv.br acessado em 11/01/2016
DUARTE, Maria de Souza (org). Pompeu. Brasília: Conselho de Cultura do
Distrito Federal/Senado Federal, 1992. 149 p.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Pesquisa e Documentação
Histórica. http.//www.cpdoc.fgv.br e
17
www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/biografias/ev_bio_gilbertofreyre.htm - 7k
Acesso em 13 de janeiro de 2016.
FRANCIS, Paulo. O Brasil no mundo. Uma análise política do autoritarismo
desde suas origens. Rio de Janeiro: Jorge Zaher Editores. 1985. 793 p.
FOLHA DE S.PAULO. História mal contada. Edição de 4 de agosto de 2004.
Disponível http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult505u163.shtml acessado
em 11 de janeiro de 2016.
LEAL, Carlos Eduardo. Diário Carioca. Centro de Pesquisa e Documentação
Histórica – Fundação Getúlio Vargas
http.//www.cpdoc.fgv.br/dhbb/verbetes_htm/5833_1.asp Acesso em 11 de
novembro de 2003.
LINS DA SILVA, Carlos Eduardo. O Adiantado da Hora. A influência
americana sobre o Jornalismo brasileiro. São Paulo: Summus, 1991. 155 p.
MARQUES DE MELO, José. Introdução. In: MARQUES DE MELO, José e
RAUDE, Maria Beatriz (orgs) – Memória das Ciências da Comunicação no
Brasil, o grupo gaúcho. Porto Alegre. PUCRS, 1997. páginas 11 a 21
________________(org.). Transformações do Jornalismo brasileiro – ética e
técnica. Coleção GT’s Intercom, número 02. São Paulo: Intercom, 1994. p. 27- 38
MEIO DIA. Edição de 09 de março de 1939. Acervo disponível na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro.
MOOG, Vianna. Bandeirantes e Pioneiros. 1a. edição. Rio de Janeiro: Globo,
1959. 413 p.
MOURA, Gerson. Tio Sam chega ao Brasil – a penetração cultural americana.
São Paulo,: Editora Brasiliense: 1993. 91 p.
PANDOLFI, Dulce. (Org) Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Ed.
Fundação Getulio Vargas, 1999. 345 p. disponível ebook http://cpdoc.fgv.br
acessado em 11/01/2016
PEREIRA, Verenilde. Pompeu de Sousa e a luta pela liberdade de expressão. In:
MARQUES DE MELO, José e DUARTE, Jorge (orgs). Memórias das Ciências
da Comunicação no Brasil - Os Grupos do Centro-Oeste. Brasília: Centro
Universitário de Brasília, 2001. p.235-242.
18