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História do Brasil – Rodrigo Goyena

Trilha 07 – A Primeira República (1889-1930)

Rota 01 – A Proclamação da República (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 – 6.7 – 6.8)

 República das espadas?


 República dos coronéis?
 República oligárquica?
 República que não foi?1
o Terminou lembrada como República Velha: uma desqualificação do Estado
Novo2.
 Seja como for, a República Velha “forjou um processo claro de republicanização de
nossos costumes e instituições. É nesse momento que os diferentes poderes tomaram
forma definida, que se ensaiaram novos processos eleitorais (a despeito de serem
ainda muito marcados pela fraude) e que se rascunharam os primeiros passos no
sentido de se construir uma sociedade cidadã com modelos inaugurais de
participação” (MORITZ SCHWARCZ, As marcas do período in História do Brasil Nação -
1808-2010; 2012)”.
 A Primeira República, no entanto, não foi assim tão democrática, e é consagrada na
historiografia atual como uma república que não foi. Pode ser caracterizada, inclusive,
como um modelo menos inclusivo/participativo do que o Segundo Reinado.
 Ver Cidadania no Brasil: o longo caminho, de José Murilo de Carvalho.
 A Primeira República consolida em tese os direitos civis, mas na prática o Estado, em
variadas ocasiões, se superpôs aos direitos da população. O mesmo pode se dizer dos
direitos políticos, com o agravante de que sequer eram assegurados pela Constituição
de 1891.
 Em resumo, embora não se possa falar em consolidação republicana e num modelo
genuinamente democrático, tendo em vista os sérios entraves à cidadania
(CARVALHO), foi um período de aprendizado democrático e cidadão (SCHWARCZ).

Após o golpe de Quinze de Novembro, Deodoro da Fonseca formou um governo provisório,


que se estendeu até o dia 24 de fevereiro de 1891, quando foi promulgada a primeira
Constituição republicana do Brasil.
Era necessário formar um governo de coalizão, no qual estariam representadas todas as alas
republicanas que articularam o fim do Império. Essas forças, no entanto, tinha interesses
claramente contraditórios, a exemplo dos militares, que visavam uma política industrializante,
e dos cafeicultores paulistas, que buscavam o fortalecimento do setor agrícola. Eliminado o
problema comum – D. Pedro II e o Império – esses grupos rapidamente entram em rota de
colisão, a começar pela reorganização administrativa.
1. Aos positivistas deram-se os ministérios da Guerra e da Instrução Pública, ambos
chefiados por Benjamin Constant.
2. Os republicanos paulistas obtiveram de Deodoro a pasta da Justiça, sob Campos Sales.
3. Os republicanos históricos do Rio de Janeiro foram agraciados com o Ministério das
Relações Exteriores, que Quintino Bocaiúva deveria representar.
4. A Fazenda, por sua vez, foi entregue ao reformismo de Rui Barbosa, árduo defensor do
federalismo e do abolicionismo.

1
Ver Os Bestializados, de José Murilo de Carvalho.
2
A historiografia recente chama de Primeira República, porque de fato assim o foi. A nossa atual, por
sua vez, é a Terceira República.
 Decretou-se a forma federativa de administração pública e o sufrágio popular como
método eleitoral (com critério de alfabetização e sem participação feminina, ou seja,
um voto extremamente restrito).
 Surgiram os Estados Unidos do Brasil em detrimento das províncias, que constituíam o
Império.
o Campos Sales, na pasta da Justiça, apressou-se para implementar a cisão
definitiva entre Estado e Igreja, o que os liberais, como Rui Barbosa, e os
positivistas, como Benjamin Constant, apoiaram sem maiores dificuldades:
 Secularizava-se o nascimento, o casamento e a morte, e surgia,
portanto, a obrigatoriedade do registro civil antes mesmo da constituinte
de 1890.
 Estava-se num contexto de chegada massiva de imigrantes, que
serviriam de mão de obra sobretudo aos cafeicultores paulistas. E esses
imigrantes, especialmente alemães e japoneses, não vinham de países com
matrizes católicas. Campos Sales argumentava que os imigrantes
prefeririam outros Estados não oficialmente católicos, caso fosse mantida a
vinculação entre Estado e Igreja no Brasil.

Rota 02 – A Constituição de 1891 (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 – 6.7 – 6.8)
 Inspirada na federação de tipo estadunidense, a Constituição garantia aos entes
federativos competências residuais, quais sejam, todas aquelas não vedadas
expressamente no corpo do texto.
 Os Estados tinham, portanto, amplas atribuições: possuíam constituições
(assimétricas) e forças públicas próprias, justiças específicas e, mais importante,
capacidade de contrair empréstimos internacionais.
o Essa última atribuição era exigência específica do Partido Republicano Paulista,
que vislumbrava nessa competência maior possibilidade de autonomia fiscal:
contrair empréstimos exteriores seria garantir a sustentabilidade da produção
cafeeira caso porventura viesse a arrefecer.
o O dinheiro emprestado internacionalmente seria compensando pelas tarifas
alfandegárias de exportação, de competência dos Estados.
 Como era o Estado do Brasil que mais exportava, São Paulo garantia
sua autonomia fiscal graças às tarifas alfandegárias de exportação.
Vê-se a influência do campo agrário paulista.
o À União entregou-se:
 a arrecadação de impostos alfandegários oriunda das importações.
 o direito de criar bancos de emissão e empregos públicos de âmbito
federal.
 o direito de organizar as Forças Armadas nacionais, para garantir a
unidade nacional e para manter a ordem republicana e federativa do
país, além de evitar conflitos entre os entes federados.
 proibiam-se candidatos monarquistas, vistos como advogados da
centralização.
o A tripartição de poderes era assegurada pela trindade Executivo, Legislativo e
Judiciário e contra o primado imperial do Poder Moderador, abolido
definitivamente.
 Conforme queriam os constitucionalistas liberais, os poderes
seriam harmônicos e independentes entre si.
 O Judiciário era representado pelo Supremo Tribunal Federal,
órgão máximo na escala judiciária, que garantiria o equilíbrio
entre entes federativos.
O Legislativo, que aprovava o orçamento federal, compunha-

se da Câmara de Deputados, cujos membros eram eleitos por
mandato de três anos e segundo a proporcionalidade
demográfica de cada Estado, e do Senado, que contava com
três senadores por Estado, incluído o Distrito Federal, eleitos
por período de nove anos.
 A população era, portanto, representada pelos deputados, e
os Estados, pelos senadores.
 Executivo: eleito por mandato de quatro anos não renováveis,
o Presidente sancionava as leis oriundas tanto da Câmara de
Deputados quanto do Senado, o que não o impedia de ter
iniciativa legislativa. Nomeava também os ministros de Estado,
tornando-se, a um só tempo, chefe de Estado e chefe de
governo.
A toada geral é de um federalismo exacerbado, o que serve aos interesses de São Paulo. Logo,
se no arranho constitucional os paulistas saíram em vantagem, os militares buscarão na prática
um arranjo que concentre poderes em suas mãos, isto é, promoverão uma centralização.

Rota 03 – A República das Espadas (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 – 6.7 – 6.8)
i. Primeiras Eleições
 Eleições de fevereiro de 1891, que deram a presidência a Deodoro e a vice-presidência
a Floriano Peixoto, foram indiretas.
o As eleições para Vice-Presidente eram feitas separadamente do pleito eleitoral
para Presidente.
o Floriano Peixoto, notadamente, candidatou-se e para Presidente e para Vice-
Presidente.
 Quem votaria numa eleição direta?
 Votavam os maiores de 21 anos, seja qual fosse sua renda.
 Proibia-se expressamente o voto aos analfabetos, aos mendigos e aos
militares de baixa patente (praças de pré) 3; implicitamente, visto que
não havia menção no texto, as mulheres foram excluídas do voto.
 Mantinha-se, portanto, a lógica eleitoral da lei Saraiva, de 1881, na
medida em que não votou mais de 5% da população em todo o
período da Primeira República.
 Mais grave, a característica aberta, e não secreta do voto, dava
margem às manipulações eleitorais que o Império conhecera
preteritamente.
 Quando eleito para a presidência da República, Deodoro decidiu renovar o ministério
do governo provisório.
o Compôs um ministério que excluía os políticos não alinhados com as tentativas
de fortalecer o poder Executivo. O PRP (Partido Republicano Brasileiro,
cafeicultores paulistas), portanto, foi excluído do governo.
o Interveio também nos Estados, valendo-se do direito que lhe assegurava a
carta constitucional de nomear funcionários públicos.
 Nada poderia parecer pior aos olhos dos republicanos paulistas, que vislumbravam em
Deodoro o retorno da centralização monárquica.
o Deodoro pretendia eliminar a desigualdade de representação na Câmara de
Deputados, visando diminuir a representatividade de São Paulo.

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Visando evitar polarização política e insurreição na Caserna.
 Oposição no Congresso e cenário de crise econômica (Crise do
Encilhamento4).
 Novembro de 1891, Congresso tenta aprovar a Lei de
Responsabilidades, que reduzia significativamente os poderes
do presidente.
o No dia 3 de novembro de 1891, o presidente dissolveu o poder Legislativo, à
moda da carta de 1824, e prometeu uma nova constituinte.
 Vinte dias após a dissolução do Congresso, parte das Forças
Armadas, sobretudo aquelas ligadas ao jacobinismo do
Marechal Floriano Peixoto, aliou-se à oposição civil para
derrubar Deodoro da Fonseca. É um movimento de forças que
continuam tendo contradições e interesses conflitantes, mas
que se unem momentaneamente para extirpar um inimigo em
comum.
Rota 04 – A Revolução Federalista e a Revolta da Armada (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 –
6.7 – 6.8)
Primeira Revolta da Armada5.
 O segundo golpe em menos de três anos dava a presidência a Floriano Peixoto.
o O novo Presidente constitui uma República jacobina, isto é, radical, militar e
popular.
o Defendia maior centralização do que aquela configurada na carta de 1891 e,
para tanto, contava com o apoio da mocidade militar do Exército.
o Mas!
 Sem o Partido Republicano Paulista, os florianistas não governariam, e
sem estes, aqueles não teriam acesso à União, que editava a política
econômica.
o Tornavam-se mais nítidas as três variáveis de incerteza política que
caracterizaram os 40 anos da Primeira República, quais sejam, a gestão dos
atores coletivos (controle dos movimentos rebeldes estaduais e municipais), as
relações entre União e Estados (em razão do federalismo exacerbado da
Constituição de 1891) e entre Executivo e Legislativo (LESSA, 1988).
 O compromisso entre o Partido Republicano Paulista e Floriano Peixoto abriu uma
segunda brecha na ordem constitucional de 1891, se considerarmos a primeira a
dissolução do Congresso por Deodoro.
o A Constituição previa, no caso de vacância na presidência nos primeiros dois
anos de mandato, a convocação de novas eleições, que o Vice-Presidente
deveria assegurar.

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Tema que é tratado com profundidade de História Econômica, na matéria de Economia. Mas é
importante ter um panorama do que foi esse crise. Origina-se na edição da Lei Bancária de 1890,
editada por Ruy Barbosa. Ela autoriza a multiplicação monetária, permitindo a multiplicação de bancos e
afrouxando-se os mecanismos de constituição de sociedades anônimas, sendo enterrada a Lei de
Entraves (1860). Por extensão, isso significou uma grande corrida à Bolsa carioca. Ruy Barbosa esperava
dar liquidez à economia, sob a ideia fundamental de que o fim da escravatura levaria a um adensamento
da capacidade de consumo da população brasileira. Assim, quanto maior a liquidez e a disponibilidade
de moeda, maior seria o dinamismo econômico. Nos momentos iniciais, houve um reduzido crescimento
econômico, mas ele se mostrou ilusório, porque esse capital injetado na economia não se transformou
em capital produtivo e sim em capital financeiro. Há uma bolha especulativa que estoura, dando-se a
Crise do Encilhamento. A economia republicana não vai bem, assim como a política.
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Uma historiografia passada sustentava o caráter monarquista da Armada, refletindo, assim, na
Primeira Revolta da Armada. Tal interpretação foi deixado de lado, pois percebeu-se que embora
houvesse alguma presença monarquista no movimento, o sentido dele foi muito mais de um
constitucionalismo liberal, buscando-se respeitar a Constituição de 1891.
o Embora o Partido Republicano Paulista advogasse o respeito à ordem
constitucional, não se opôs a permanência de Floriano até 1894, quando
completaria o mandato de Deodoro. Faz isso para barganhar a próxima
presidência. E de fato, em 1894, assume Prudente de Moraes.
o Esse arranjo, porém, não garantiu a paz nacional, e a Segunda Revolta da
Armada eclode justamente do desrespeito, por Floriano, à Constituição de
1891.
A Revolução Federalista
 Eclodiu em 1893 no Rio Grande do Sul.
o Reproduzia-se o embate entre positivistas e liberais constitucionalistas que
marcara a esfera federal. Não dá para sustentar que esses movimentos –
Segunda Revolta da Armada e Revolução Federalistas – foram isoladas, porque
há clara ligação entre eles. Tratou-se de um processo de tensão nacional de
contestação à liderança militar positivista.
 Duas forças antagônicas:
o A forte inspiração positivista que caracterizava o Partido Republicano Rio-
Grandense, chefiado por Júlio de Castilhos e por Pinheiro Machado.
o O Partido Federalista, liderado por Gaspar Silveira Martins, que participara do
partido Liberal durante o Império.
 Reivindicações de Silveira Martins:
 Revogação da carta constitucional gaúcha e a instauração de
um regime parlamentar.
 O Partido Federalista condenava a excessiva concentração de
poderes nas mãos do Executivo, o que era ratificado pela
possibilidade de ilimitadas reeleições à presidência do Rio
Grande do Sul.
 O Partido Republicano articulou verdadeiras milícias armadas, chefiadas pelos
coronéis, ou seja, oficiais de alta patente vinculados à Guarda Nacional.
o Os próprios Júlio de Castilhos e Pinheiro Machado eram coronéis em suas
regiões.
o Do outro lado, militares à serviço da política ou políticos de feição militar, os
republicanos civis encontraram nos federalistas forma de resistência baseada
em exércitos privados, que Silveira Martins e o liberal Assis Brasil articularam a
seu favor.
o Maragatos (Silveira Martins, Assis Brasil) vs. Pica-paus (Júlio de Castilho e
Pinheiro Machado).
 O governo de Floriano Peixoto foi implacável no apoio a Júlio de Castilhos.
o Sob o comando do chefe do Exército, isto é, o coronel positivista Moreira
Cesar, as tropas do Rio de Janeiro marcharam sobre Desterro, onde os
maragatos – ou federalistas de Silveira Martins – haviam estacionado.
o Fim do conflito em 1895.
 Desterro é rebatizada Florianópolis, em homenagem ao Marechal.
 Foi justamente em Santa Catarina onde a Revolução Federalista tomou novas
proporções nos derradeiros meses de 1893.
 Um ano antes, oficiais da Marinha manifestaram apoio aos maragatos e, portanto,
rebeldia à intervenção federal no Rio Grande do Sul.
o Ligação com a Segunda Revolta da Armada (1893-1894)
 O almirante Custódio de Melo liderou os insurretos, conclamando-os a
avançar até a porção meridional do país e prometendo gratificações, já
que se declarara candidato à sucessão presidencial.
 Após severa derrota em Niterói, não restava a Custódio de Melo senão deixar o Rio de
Janeiro em direção ao Sul do país.
o Para derrotar os rebeldes, em 1894, Floriano contou com o apoio das
esquadras estadunidenses, que contornaram o bloqueio ao porto do Rio de
Janeiro organizado por Custódio de Melo.
o Para desespero do almirante da Marinha, Floriano adquiriu nova frota militar
dos Estados Unidos, o que tolhia a margem de ação dos navios insurretos.
Embora a resposta para esse vínculo com os EUA ainda não seja consensual na
historiografia, tem-se explicado sob o argumento de que por trás de Floriano
Peixoto havia o PRP. Os EUA percebiam a importância comercial do Brasil e da
aliança com o país, haja vista ao presença do PRP no governo de Floriano e o
acordo para que os paulistas chegassem à presidência em 1894, um grupo
abertamente pró-EUA.
 Quando os revoltosos do Rio de Janeiro chegaram ao Sul, juntaram-se aos federalistas
gaúchos e tomaram Curitiba.
o Concentraram-se no Rio de Grande do Sul e, sem grande êxito, foram
derrotados pelas tropas federais em 1895.
 A vitória do Floriano Peixoto deveu-se, em grande parte, ao apoio que o Partido
Republicano Paulista conferiu às tropas de Júlio de Castilhos, ou melhor, às tropas
legalistas do Rio de Janeiro.
o  Na delicada equação entre preservação do equilíbrio federativo e
concentração do poder no Executivo federal, convinha aos republicanos
paulistas fortalecer a União, se quisessem, em troca, participar do Executivo
federal.
 Não raro, em 1894 era eleito Presidente da República o paulista Prudente de Morais
(coração intelectual da São Paulo republicana ainda durante o império), e com ele
assumia o também paulista Rodrigues Alves a pasta da Fazenda.
 Não faltou aos paulistas articulação política para atrair a adesão do Legislativo para
seu benefício.
o Controladas as insurreições no Sul e assegurada a posse de Prudente de
Morais na União, restava ganhar o Congresso Nacional:
 Passariam a controlar, portanto, as três variáveis-chave da Primeira
República, quais sejam, os atores coletivos, o binômio Estados-União e
o equilíbrio Executivo-Legislativo.
 O controle do Legislativo foi assegurado pela obra de Francisco Glicério, que formou o
Partido Republicano Federal, isto é, um partido de âmbito nacional.
o Nas eleições de 1894, o Partido Republicano Federal conquistou a presidência,
o terço do Senado e a totalidade da Câmara.
o Belisário Távora, “era uma catedral aberta a todos os credos”.
o Todos esses credos entraram em colisão, o que era de se esperar num partido
que congraçou camadas com distintos vieses.
o Prudente de Morais, na tentativa de garantir governabilidade, faz concessões
aos variados campos que compunham o novo partido, inclusive aos militares.
o Em 1895, falece Floriano Peixoto, o que parecia um sinal de que as coisas
caminharem bem para o projeto de poder paulista. Não foi isso que ocorreu, e
o governo de Prudente de Morais foi conflituoso, nele eclodindo o histórico
episódio de Canudos.
o Os Paulistas asseguram a presidência até 1906, com Campos Sales e Rodrigues
Alves, isso deixando de lado Minas Gerais, que à época era o Estado mais
populoso e portanto tinha imenso peso político, com a maior bancada da
Câmara.
Rota 05 – Entropia Republicana: os anos Prudente de Morais (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 –
6.6 – 6.7 – 6.8)
Entropia republicana: os anos Prudente de Morais
 Desmantelamento da aproximação com os florianistas.
o O acordo de 1894 era tácito e não resistiu as desmobilizações da base jacobina
promovidas pelo novo presidente paulista.
 Ficava clara a fronteira ideológica que separava a elite política
agroexportadora do republicanismo militarizado radical carioca.
 De forma a limitar a margem de ação dos jacobinos, Prudente de
Morais cortou a verba militar e demitiu funcionários públicos ligados
ao radicalismo florianista.
 Os jacobinos responderam à altura das demissões,
provocando arruaça pública e protestos de grande
envergadura.
 Eram membros da classe média e popular, operários e,
sobretudo, militares de baixa patente: acusavam o
arrocho fiscal e os altos custos de vida.
 Os jacobinos eram nacionalistas e, não raro, assumiam feições
antilusitanas.
 Conforme pregara o próprio Floriano Peixoto, os portugueses
– ou galegos, como eram então chamados – deveriam ser
extirpados do Brasil, já que além de monopolizar o comércio
varejista do Rio de Janeiro, davam preferência a contratação
de mão de obra portuguesa em detrimento da brasileira.
 As ruas da capital, nos anos Prudente de Morais,
pareciam as casernas de 1889. As ruas estão
constantemente insubordinadas.
 Ponto importante é lembrar que não existia
homogeneidade (identidade) entre a classe média e a
classe militar, mas sim uma simetria de interesses em
dado momento histórico. OS militares no poder
adotaram políticas que favoreceram a nascente classe
média. Por exemplo, defendiam que a mão de obra
imigrante deveria ficar restrita ao trabalho rural, sem
tirar vagas urbanas de brasileiros.
 Prudente de Morais não cedeu:
o Buscou cindir o Exército entre oficiais de baixa patente e alto oficialato.
o O objetivo era torná-lo menos uma instituição total do que uma entidade
vinculada à presidência.
 Cooptou o ministério da Guerra, expulsando os últimos vestígios
florianistas do governo, e entabulou esforços de mediação entre
republicanistas e federalistas no Rio de Grande do Sul, o que em nada
agradou a Júlio de Castilhos e aos florianistas do Rio de Janeiro.
 Resposta:
 A paz no Sul firmou-se em 1895, e Prudente de Morais assegurou a
primazia de Júlio de Castilhos no Rio Grande do Sul, mas numa tônica
de mediação com os federalistas (Borges de Medeiros).
 Mas a traição dos paulistas, a crer nas ponderações florianistas, já estava consumada:
o Prudente de Morais perdeu a base de apoio no Congresso, e as rivalidades
entre paulistas e jacobinos reproduziram-se no Partido Republicano Federal.
A entropia republicana  atingia seu paroxismo, quando em 1896 emerge a Guerra de Canudos.
Rota 06 – A Guerra de Canudos (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 – 6.7 – 6.8)
 A morte de Floriano Peixoto (1896), embora tenha arrefecido o temor de um golpe nos
moldes caudilhistas da América hispânica, não se traduziu pelo apaziguamento nas
ruas do Rio de Janeiro.
o A notícia da morte do Marechal de Ferro somou-se à eclosão da Guerra de
Canudos, em 1896.
 Às margens do rio Vaza-Barris, no sertão baiano, formou-se o arraial
de Canudos sob a liderança de Antônio Conselheiro.
 Misto de sacerdote e chefe de jagunços, na caracterização de Boris
Fausto (FAUSTO 2008), Antônio Conselheiro articulou 30 mil
habitantes em Canudos no intuito de pregar uma fé salvacionista.
 Falava-se em sebastianismo, em alusão ao rei de Portugal, Dom
Sebastiao, que retornaria para salvação dos oprimidos.
 A retórica messiânica não poderia servir melhor a uma população
castigada pelas secas cíclicas que assolaram o sertão baiano.
 Contra Antônio Conselheiro, uniram-se os coronéis locais e a Igreja católica;
o A Igreja teria perdido o monopólio da fé. Conselheiro representava uma perda
de força e expressão política por parte da Igreja.
o Os coronéis teriam perdido o controle política da região.
o Para os jacobinos: Conselheiro pregava um regresso na ordem do progresso
positivista.
o Antônio Conselheiro era visto como resquício monarquista: retorno da religião
de Estado.
 Pouco após a vitória do arraial contra as tropas do governador da Bahia, Euclides da
Cunha publicou A nossa Vendeia,  série de artigos nos quais se falava em
contrarrevolução, em referência à resistência monárquica da Vendée, região da Loire,
que se opôs à Revolução Francesa.
 Seguiram-se duas expedições do Exército contra o arraial de Canudos, a última
chefiada pelo famigerado coronel Moreira César:
o Fracassam!
 As forças legalistas foram novamente derrotadas, e a notícia da morte
de Moreira César causou nova agitação jacobina no Rio de Janeiro,
com os militares no intento de voltar ao poder, sob a concepção de
que os civis (paulistas) não tinham capacidade para extirpar a ameaça
de Canudos.
 Morre Moreira César: jagunços da Bahia vingam os revoltosos do Sul.
 Quarta e última expedição:
o Crueldade!
 No Rio de Janeiro, tentativa de homicídio contra Prudente de Morais.
 O PRP, que comandava o Partido Republicano Federal, via que a extinção de Canudos
era a única forma de manter o poder.
 Arraial de Canudos liquidado em 1897: destruído em nome da República.
 1902:
o Euclides da Cunha temperou o determinismo racial que antes o caracterizara.
o Com Os sertões,  deixava-se entender que tanto litorâneos quantos
interioranos se encontrariam em estágio de barbárie, a considerar a
brutalidade com a qual foi reprimido o arraial de Canudos.
o “não é o bárbaro que nos ameaça”,  salientava o autor em Os sertões, “é a
civilização que nos apavora”. Ou seja, que civilização é essa que promove a
barbárie?
Rota 07 – Rotinização do Regime: de Campos Sales a Afonso Pena (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 –
6.5 – 6.6 – 6.7 – 6.8)
 Após a tentativa de assassinato contra Prudente de Morais, o movimento jacobino foi
sufocado. Os militares voltaram à caserna, e a presidência buscou apoio nas bancadas
estaduais. Foi um acordo com a participação do alto oficialato do Exército.
o Prudente de Morais garantiu a eleição de Campos Sales, político paulista que
então governava o Estado de São Paulo, em detrimento de Lauro Sodré,
candidato positivista da oposição paraense.
o São Paulo lançava-se à frente da política dos Estados, o que significava pôr
termo às espadas de 1889.
 Campos Sales compreendeu rapidamente que a chave-mestra da Constituição de 1891
estava nos Estados.
o Garantir a governabilidade do regime era assegurar a unidade entre Executivo
e Legislativo.
  A União deveria contar com o apoio dos Estados, que articulavam as
eleições para a Câmara de Deputados. E aqui Minas Gerais falava
muito alto, iniciando-se então a política do Café com Leite.
 Os Estados agiriam em favor dos interesses da União, inclusive
internamente, sufocando movimentos de revolta.
 Em troca, a União apoiaria os Presidentes de Estados e os aliados
regionais, mediante colaboração fiscal.
 Se o regime está rotinizado, ele é mais previsível e os resultados das
apostas políticas são, em teoria, mais eficientes.
Rota 08 – O Regime Oligárquico e o Sistema Eleitoral (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 – 6.7 –
6.8)
 A garantia da eleição de deputados federais nos Estados coligados ao Executivo federal
estava na fiscalização dos votantes locais.
o Os coronéis, em sua maioria proprietários rurais, articulavam os eleitores a seu
favor. Mas também atuavam no mundo urbano.
o Se o poder local discordasse do Presidente de Estado, restava a este ora apoiar
outra base coronelista, ora intervir militarmente.
 Coronelismo, para Vitor Nunes Leal:
o Prática clientelista, não necessariamente de base rural, vinculada ao
mandonismo local. Esse mandonismo local não é desvinculado do que
acontece nos demais níveis da federação.
o Tratava-se de um pacto no qual as fronteiras entre público e privado se
tornavam mais difusas:
 Apoio político dos votantes municipais em troca de promessas dos
coronéis, que dependiam, por sua vez, dos recursos repassados pelos
Presidentes de Estado.
 Chega-se a um arranjo institucional no qual as disputas por poder se
tornam pacíficas e razoavelmente previsíveis, daí se falar em
rotinização.
 Qual a importância das eleições nesse contexto?
o Mais do que uma troca de favores e promessas entre eleitorado e base de
poder local, o pacto coronelista constituía uma negociação entre esfera local e
esfera estadual, com vistas a promover se não o congelamento do poder
advogado por Campos Sales, a disputa pacífica por recursos de poder no
âmbito dos Estados.
o Embora Campos Sales estivesse consciente que o almejado congelamento do
poder não seria duradouro, garantir esse engessamento seria assegurar a
institucionalização da política dos Estados.
o Funciona: persistente presença dos Tarasca em Minas Gerais, dos Acioly no
Ceará, dos Nery no Amazonas, dos Rosa e Silva em Pernambuco e de Borges
de Medeiros, por mais de vinte e cinco anos, à frente do Partido Republicano
Rio-Grandense.
 Rearranjo eleitoral, para garantir a rotinização do regime e o fim da entropia
republicana:
o A mudança ocorreu na Comissão de Verificação de Poderes, órgão vinculado à
Câmara de Deputados que se encarregava de validar os pleitos eleitorais.
 O reconhecimento das cadeiras legislativas era dado pelo presidente
da Câmara, quem nomeava os cinco deputados que constituiriam a
Comissão de Verificação de Poderes.
 O presidente da Câmara, por sua vez, era o mais velho deputado entre
os eleitos.
o Com a reforma de Campos Sales, modificou-se o procedimento de escolha de
presidente da Câmara e, portanto, da constituição da Comissão de Verificação
de Poderes.
 Decretou-se que, quando reeleito, o presidente da Câmara da
legislatura anterior permaneceria no cargo, para formar a Comissão de
Verificação de Poderes.
 Em outras palavras, se o presidente da Câmara, cujo período
legislativo estivesse terminado, fosse reeleito, e se esse presidente
fosse favorável ao chefe de Estado, o Executivo articularia
continuadamente as eleições em seu benefício.
 Era maneira eficaz de congelar o poder, conforme almejava Campos Sales.
o Presidente da Bahia, José Bezerra: “ser eleito é uma coisa, ser reconhecido é
outra”.
 A rotinização do regime entabulada por Campos Sales marcou a cadência do andar
republicano, pelo menos até 1910.
o Os maiores Estados, assim considerados não somente pelo tamanho de suas
bancadas legislativas, mas também pela envergadura da Força Pública
estadual e da economia, sucederam-se no poder, fazendo eleições e elegendo
Presidentes da República.
o Saiu à frente, como era de se esperar, o Estado de São Paulo, seguido de
Minas Gerais e, em menor medida, do Rio Grande do Sul.
 Para São Paulo, necessidade de manter controle da União, visto que ao ente federal
cabia à implementação das políticas monetária, fiscal e cambial.
o A sustentabilidade da produção cafeeira, principal fonte da renda paulista, em
muito coincidia com a condução das políticas econômicas federais, em
detrimento dos interesses dos rio grandenses.
o Embora São Paulo tivesse a segunda maior Força Pública Estadual, perdendo
apenas para o Rio Grande do Sul, e contasse com uma bancada de 22
deputados, não poderia governar sem os outros.
 Por quê?
o O Estado de Minas Gerais, o mais populoso do Brasil segundo o censo de 1890,
tinha bancada maior: eram 37 deputados mineiros, que influenciavam
sobremaneira o acesso aos cargos públicos federais.
o A economia mineira, no entanto, não correspondia ao potencial de São Paulo,
o que deixava Minas Gerias em posição de dependência perante os recursos
orçamentários da União.
o Não surpreende que os mineiros tenham insistido, ao longo da Primeira
República, na expansão das ferrovias federais, que beneficiariam
inevitavelmente o Estado de Minas Gerais, visto sua centralidade geográfica.
Por isso interessava à Minas chegar ao Governo (União).
 Economia fundamentada mais no café do que no gado, Minas Gerais apoiou São Paulo,
pelos menos durante os primeiros anos republicanos, nos sucessivos planos de
sustentação da produção cafeeira.
o O controle da política econômica da União seria exercido sem embates entre
Minas Gerais e São Paulo.
 O Rio Grande do Sul era mais problemático para mineiros e para paulistas.
o Os gaúchos contavam com o maior número de efetivos do Exército, o que
significou constante presença do Rio Grande do Sul nas cúpulas castrenses e
no Clube Militar.
o Militares e republicanos gaúchos coincidiam no positivismo que marcou a
República antes de chegada de Prudente de Morais à presidência. A exemplo
de Júlio de Castilhos.
o Constituição do Rio Grande do Sul era emblematicamente positivista: era a
única que permitia a reeleição indefinida do Presidente de Estado.
 Somava-se uma economia voltada para o mercado interno à união entre oficiais de
alta e baixa patente com o Partido Republicano Rio-grandense, que não agradava
especialmente paulistas e mineiros.
o Se a política econômica da União fosse demasiado laxista, o que privilegiava,
em grande medida, a economia cafeeira do Sudeste, a economia gaúcha
sofreria com a alta da inflação e, portanto, com a perda de poder aquisitivo
dos consumidores nacionais.
o Se considerarmos, ainda, a forte concorrência do charque platino, temos que
os gaúchos eram fervorosos advogados de políticas conservadoras e
ortodoxas.
 A política dos Estados resultou na concertação entre paulistas e mineiros; juntos,
ambos os Estados superavam amplamente a bancada legislativa gaúcha.
o Essa “política do café com leite”,  denominação que caracterizou a concertação
entre São Paulo e Minas Gerais, mais se parecia a uma política do café...com
café, visto que havia mais identidade do que complementariedade entre
paulistas e mineiros.
 Se Sucederiam esses Estados na presidência da República, a contar a partir de 1902,
quando deixou o governo Campos Sales.
o Largariam novamente os paulistas na frente, em consideração com o
apaziguamento político trazido por Campos Sales e pelo bem da rotinização do
regime.
o O Rio Grande do Sul ficou fora do arranjo político.
o Afirmava-se o regime civilista em torno da união entre membros do Partido
Republicano Paulista.
 A presidência do paulista Rodrigues Alves, entre 1902 e 1906, foi marcada por um
empreendedorismo modernizador, especialmente no Rio de Janeiro.
o Constitui ministérios sólidos e duradouros, notadamente com José Maria Da
Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, na pasta das Relações Exteriores,
com J. J. Seabra no ministério da Justiça e dos Negócios Interiores, e José
Leopoldo de Bulhões Jardim na pasta da Fazenda.
 Fortalecimento interno e externo.
 Projeto modernizador (empreendedorismo) 6:
o Nomeação de Oswaldo Cruz na Diretoria-Geral da Saúde Pública.
Nomeação de Pereira Passos para a prefeitura do Rio de Janeiro (Política de Higienização).
 Rodrigues Alves foi sucedido, conforme estipulava o pacto oligárquico, pela
presidência do mineiro Afonso Pena.
o O novo Presidente eleito incentivou amplamente a criação de ferrovias,
conforme reivindicava o Estados de Minas Gerias, e a interligação das
diferentes regiões brasileiras.
o As expedições de Cândido Rondon (interiorização da República) auferiam
dividendos, e em especial a linha telegráfica que uniu a Amazônia ao Rio de
Janeiro.
 No âmbito político, a sucessão presidencial estava longe de ser matéria de consenso:
o Afonso Pena adotou uma política bifronte:
 Por um lado, apoiava João Pinheiro, então Presidente de Minas Gerais,
para o Executivo federal.
 Por outro, articulava um grupo de deputados mineiros, que deveria
apoiar, na Câmara de Deputados, a indicação para a Presidência da
República.
 Com o repentino falecimento de João Pinheiro, esse grupo de deputados mineiros,
conhecido como Jardim da Infância7 de Afonso Pena, cindiu-se em blocos díspares:
o havia quem apoiasse Davi Campista para a disputa pela presidência, conforme
advogava Afonso Pena, e havia quem o rejeitasse.
 Essa divergência no seio do Partido Republicano Mineiro apontava para uma fratura
no pacto oligárquico entre São Paulo e Minas Gerais, que se alargou com o
falecimento por problemas de saúde de Afonso Pena em 1909, um ano antes,
portanto, de completar o mandato presidencial.
 Aos olhos dos Estados menores, isto é, aqueles que detinham ora pequena bancada
legislativa, ora pequeno poder econômico, o falecimento de Afonso Pena abria uma
brecha na formação do Executivo federal, o que não poderia servir melhor ao Rio
Grande do Sul.
 Para Pinheiro Machado, senador pelo Rio Grande do Sul, chegava o momento de
articular a política interna a seu favor.
 Com o apoio de Borges de Medeiros, sucessivamente reeleito Presidente do Rio
Grande do Sul, Pinheiro Machado passou a controlar a Comissão de Verificação de
Poderes.
o Buscava opor ao conluio paulista-mineiro os Estados menores, notadamente
os do Nordeste.
o Articulava a representação desses Estados por intermédio de manipulações na
Comissão de Verificação de Poderes e insistia na formação de um partido de
ordem nacional, que rejeitaria mineiros e paulistas, o que somente veio a
ocorrer em 1910 com o surgimento do Partido Republicano Conservador.
 1909: assume Nilo Peçanha (fluminense).

6
Rodrigues Alves ficou conhecido como o “gastador”, porque fez amplos investimentos para fomentar a
economia, buscando sua modernização. Seu governo foi beneficiado pela austeridade do governo de
Campos Sales, que recebeu o Tesouro esgarçado após uma década de crise na República. No Governo
Campos Sales, inclusive, contraiu-se um Funding Loan junto à Inglaterra, que exigiu pesadas garantias e
impôs uma política econômica ortodoxa ao Brasil.
7
Assim eram chamados pela oposição, compostas por Estados menores, sob a liderança do Rio Grande
do Sul, mas também São Paulo. Isso porque Afonso Pena rompe o pacto político costurado por Campos
Sales, ao escolher um mineiro para a sucessão presidencial.
o Conforme advogam as teses historiográficas de Claudia Viscardi, a constituição
do pacto oligárquico, embora seja certa a primazia de São Paulo e de Minas
Gerias na condução da política nacional, não significou apagamento dos
demais Estados.
 Não houve constante fluidez no acordo entre o Partido Republicano
Paulista e o Partido Republicano de Minas Gerais, como o provam a
eleição de 1910 e as últimas eleições da Primeira República.
o Importavam os Estados menores na formação de alianças políticas, que
poderiam, como ratificam as eleições de 1910, modificar o equilíbrio paulista-
mineiro.
o A Bahia, notadamente, tinha representação igual a de São Paulo na Câmara de
Deputados, pouco mais do que dispunha Pernambuco.
o Somados Bahia e Pernambuco, portanto, eram 39 deputados representados,
mais do que São Paulo e Minas Gerais separadamente.
 O que explica, não obstante, as frágeis capacidades de coalizão entre Estados
nordestinos?
o Boris Fausto vislumbra na competição (desavenças) entre esses Estados a
causa das desuniões:
 Visto que eram escassas as receitas alfandegárias derivadas dos
impostos de exportação, os Estados nordestinos digladiavam-se por
recursos federais, o que obrigava os menos favorecidos a aumentar os
impostos interestaduais.
 A seu turno, esses impostos redobravam as rivalidades em um ciclo de
conflitos entre Estados menores.

Rota 09 – Reação Popular: a Revolta da Vacina e a Revolta da Chibata (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4
– 6.5 – 6.6 – 6.7 – 6.8)
 A institucionalização da República oligárquica, característica do período que sucedeu o
governo de Campos Sales, acompanhou-se de políticas de modernização da economia
e dos costumes.
 Os europeus migrariam para o bem da pureza da raça, conforme acreditava-se à
época, promovendo o higienismo racial em muito identificado a um tipo de
darwinismo que denunciava a miscigenação social e defendia o branqueamento da
população (política pública).
o Rapidamente, contudo, a liberdade e a igualdade prometida transformaram-se
em insatisfação popular.
o A República parecia ser para poucos. A maioria da população não se encaixava
nos moldes desejados pela elite dirigente.
o O descontentamento traduzia-se, no campo, por fugas e revoltas de colonos
imigrados e, na cidade, por desordem e roubo.
 Engordavam os cortiços, que rapidamente foram associados a focos de criminalidade,
e seus habitantes, a casos de polícia.
o Classes laboriosas, classes perigosas.
 Longe da igualdade que ornamentava a letra da lei constitucional, a pobreza de uns
contrastava com a riqueza de outros.
 A cidade – Rio de Janeiro - segregava espacial e racialmente, constituindo caricatura
em escala reduzida de um Brasil fragmentado entre a modernização da capital e a
barbárie de Canudos, na expressão da época.
o Alguns poucos eram bacharéis, outros tantos não sabiam sequer ler. A
Constituição, a seu turno, exigia a alfabetização para o exercício do sufrágio.
o O próprio diploma constitucional não garantia a obrigatoriedade do ensino
fundamental, o que a carta de 1824 fazia.
 A população total, por sua vez, superava os 17 milhões em 1900, duplicando,
praticamente, os 10 milhões de habitantes de 1872. Nas principais cidades brasileiras,
houve tentativas de importar para o Brasil o modelo europeu das habitações
operárias, mas numa escala muito reduzida.
 O que era modernizar o país?
o Importar a Belle Époque  para a capital do Brasil.
 Como modernizar o país?
o Rodrigues Alves nomeou Pereira Passos prefeito do Rio de Janeiro,
concedendo-lhe poderes ilimitados para fazer a reforma a urbana que Lauro
Muller e Oswaldo Cruz, respectivamente, acompanhariam no porto e no
saneamento básico.
 Formado na École Nationale des Ponts et Chaussées,  Pereira Passos acompanhara de
perto a reforma urbana que o Barão de Haussmann fizera em Paris, transformando
ruelas medievais em amplas avenidas onde desfilavam carruagens imperiais. O
alargamento das avenidas tinha dois objetivos principais:
o Conter barricadas (segurança pública – melhor circulação da polícia).
o Higienizar a cidade.
 Pereira Passos não duvidou em importar o modelo de Haussmann;
afinal, os cortiços multiplicavam-se, e com eles, os principais focos de
insalubridade pública.
o Melhorar a circulação de capital, conectando os polos econômicos da cidade.
 Transformações no Rio de Janeiro:
o Alargaram-se as ruas, a começar pela Avenida Central, hoje Avenida Rio
Branco, que ligou o porto ao Centro da cidade.
o Desafogou-se o fluxo viário, especialmente graças à Avenida Beira-Mar, que
conectou o Centro aos bairros do Catete, do Flamengo e de Botafogo.
o Impulsionou-se a ocupação de áreas desabitadas, como eram Copacabana,
Ipanema e Leblon.
o Reformou-se, enfim, o tipo de habitação, privilegiando os edifícios
neoclássicos de estilo haussmanniano em detrimento dos casarões coloniais e,
não raro, dos barracões que ocupavam densamente os populares bairros da
Saúde e da Gamboa. Houve a expulsão de pessoas de bairros populares, sem
qualquer política de indenização.
 Ao passo que a Avenida Central ganhava boutiques e cafés à moda de uma Paris nos
trópicos, os bairros populares sofriam com o bota-abaixo de Pereira Passos:
o Era precisamente nesses bairros pobres que a insalubridade permanecia,
como se fossem ninhos de insetos, conforme assinalou a prosa naturalista de
Aluísio de Azevedo em O cortiço,  publicado em 1890.
Conviviam em delicada intimidade brasileiros da capital e do interior, estrangeiros, ex-escravos
e descendentes de africanos.

A Revolta da Vacina
 Oswaldo Cruz, como Diretor-Geral da Saúde Pública, resolveu implementar campanha
de vacinação obrigatória contra a varíola.
 Aprovada em outubro de 1904, a lei da Vacina Obrigatória dava carta-branca às
brigadas sanitárias, para que entrassem nas residências particulares no intuito de
aplicar a vacina, de bom grado, se não houvesse resistência, ou à força, se necessário.
o Policiais acompanhariam as brigadas, que aplicavam a vacina nas intimidades
corporais da população.
 Foi o estopim para os atos de insubordinação que se seguiram à
publicação da lei.
 Exaltada, a população do Rio de Janeiro incendiou bondes, depredou trilhos e quebrou
postes: enfrentou-se, assim, às forças da ordem, erguendo as barricadas que Pereira
Passos buscou evitar com a reforma urbana.
o Poucos dias depois, os alferes-alunos positivistas da Escola Militar da Praia
Vermelha alinharam-se aos revoltosos.
o Declarado o estado de sítio, o governo conteve a revolta, mas deixou cerca de
trinta mortos e dezenas de feridos.
 As ruas foram apaziguadas, mas a obrigatoriedade da vacina foi
suspensa.
 Historiografia da Revolta da Vacina:
o Fragilidade do respeito à cidadania e o atropelamento dos direitos
civis (Nicolau Sevcenko)
o Jaime Benchimol vislumbra no bota-abaixo de Pereira Passos uma invasão à
intimidade privada.
o José Murilo de Carvalho: a revolta derivou do rompimento do equilíbrio entre
o público e o privado, e não do bota-abaixo, visto que não atingiu os bairros
onde a rebelião eclodiu.
o Sidney Chalhoub, a seu turno, acusa o autoritarismo de Pereira Passos e de
Oswaldo Cruz como causa da insubordinação.
 Ainda, ressalta a história do rechaço cultural à vacina.
 O atropelamento dos direitos civis, que os historiadores identificam como causa da
Revolta da Vacina, constitui também o pano de fundo da Revolta da Chibata, ocorrida
sob a presidência de Hermes da Fonseca, em 1910.
o Os marinheiros revoltosos bradavam, no manifesto da insurreição, pela defesa
dos cidadãos brasileiros e republicanos.
o Ser cidadão para os marinheiros da Primeira República não era forçosamente
assegurar o direito ao voto, visto que a Constituição vedava aos soldados a
participação eleitoral.
o Tratava-se mais de uma garantia de liberdade, de segurança individual e de
propriedade, consoante a letra da lei constitucional.
o Ser cidadão, nesse sentido, era ser respeitado no direito de integridade física e
de ir e vir.
 Direitos civis, portanto, pareciam mais relevantes do que os direitos
políticos.
A Revolta da Chibata:
 Suprimidos formalmente com a proclamação da República, os castigos físicos na
Marinha voltaram à tona em 1890.
 Previam-se punições corporais que podiam chegar a 250 chibatadas, o que “lembrava
as punições de escravos criminosos no período imperial”.
 A analogia bem se prestava, a considerar o forte contingente de população negra na
Marinha e o matiz antirracista que assumiu a liderança de João Cândido Felisberto, o
Almirante Negro, conforme ficou conhecido posteriormente 8.
o Mobilizaram-se cerca de 2,5 mil marinheiros e quatro embarcações 9.

8
A revolta emerge também num sentido corporativo, tendo em vista as questões raciais dentro da
própria corporação. A cor da pele era fator chave para atingir o oficialato, e um negro jamais atingiria tal
posição.
9
A armada havia passado por modernização durante o governo de Rodrigues Alves.
o Ameaçava-se bombardear o Rio de Janeiro, caso os açoites não fossem
banidos da legislação.
o Hermes da Fonseca cedeu na proibição das chibatas e prometeu anistia para
os revoltosos que se entregassem de bom grado, mas publicou novo decreto
autorizando a expulsão por desmando de marinheiros insubordinados à
hierarquia militar.
o A resposta veio com uma segunda rebelião, agora sem a presença de João
Cândido (expulso), a qual se seguiu árdua repressão e consequente
instauração de estado de sítio.
o Os presos foram enviados para a Amazônia, onde fariam trabalhos forçados
nos seringais ao lado dos insurretos da Revolta da Vacina.
Rota 10 – Ruptura e Continuidade: de Hermes da Fonseca a Epitácio Pessoa (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3
– 6.4 – 6.5 – 6.6 – 6.7 – 6.8)
 Eleições de 1910:
o A aproximação de Pinheiro Machado e de Nilo Peçanha com o marechal
Hermes da Fonseca, que era sobrinho de Deodoro, deveu-se, em grande
medida, à:
 Insatisfação popular em vista das constantes fraudes eleitorais.
 Pouca representatividade do movimento operário, que se formara
poucos anos antes.
o Pinheiro Machado tirou proveito dessas insatisfações, constituindo
uma “agenda de reformas políticas e sociais, associada à figura do marechal”.
 Em 1890, formou-se o Centro do Partido Operário sob os auspícios de José Augusto
Vinhaes no Rio de Janeiro.
o Era uma aproximação entre jacobinos e operários, que perdurou durante a
segunda década republicana.
o Em 1893, criou-se o Partido Operário Brasileiro, cujo manifesto defendia o
sufrágio universal, incluindo-se, portanto, analfabetos e mulheres.
o O movimento assumiu proporções maiores quando se fundou análogo bloco
operário em São Paulo.
 Em 1906, formou-se o I Congresso Operário Brasileiro, onde se
aliaram, não sem dissensos, anarquistas e sindicalistas em nítida
condenação ao excludente pacto oligárquico.
 Hermes da Fonseca contou com o apoio de:
o Parte do Partido Republicano Mineiro, que se opunha a Rui Barbosa, o
candidato da oposição.
o Do Rio Grande do Sul, constituído pela adesão de Pinheiro Machado à
campanha do marechal.
 A dissidência mineira, especialmente aquela vinculada ao Jardim de Infância, optou
por fortalecer a campanha civilista de Rui Barbosa, que contava com o firme apoio da
oligarquia baiana e do Partido Republicano Paulista 10.
 Opunham-se, portanto, mineiros, gaúchos e fluminenses, de um lado, contra baianos,
paulistas e...mineiros, do outro.
o A presença de Minas Gerais em ambos os lados da contenda eleitoral marcava
a primeira fissura no pacto oligárquico.
 Programas eleitorais semelhantes, mas!

10
Apoiava a campanha antioligarquista de Rui Barbosa muito mais por exclusão do que por
concordância com essa pauta, haja vista que do outro lado estava o movimento de Pinheiro Machado e
do PRM, que significava a volta dos militares ao Poder e a defesa de uma política econômica oposta aos
interesses dos paulistas.
o A campanha civilista de Rui Barbosa, contudo, diferenciava-se pela pretendida
submissão das Forças Públicas estaduais ao Exército nacional.
 Resultado de pleito eleitoral de 1910:
o A campanha salvacionista do marechal, na qual se falava em salvar as
instituições e a pureza republicana, ganhou as eleições com cerca de 65% dos
votos, o que era pouco para a época.
Consolidava-se o Partido Republicano Conservador, de ordem nacional, que foi oficializado sob
a chefia de Pinheiro Machado em outubro de 1910.
 Governo Hermes da Fonseca:
o O governo de Hermes da Fonseca caracterizou-se pela adoção de duas
posturas quanto ao papel do Exército11:
 Os primeiros dois anos foram marcados pela intervenção
reformista  nos moldes positivistas do soldado-cidadão.
 Os dois seguintes pautaram-se pela não intervenção, conforme o
modelo do soldado-profissional.
o Até 1912, portanto, adotaram-se políticas salvacionistas, consoante expressão
da época, que permitiam a interferência de oficiais militares nos Estados não
alinhados com o governo.
 Multiplicaram-se os conflitos armados nesses Estados, o que cindiu o
Exército em duas as alas:
 Havia quem apoiasse o salvacionismo de Hermes da Fonseca e
quem o rejeitasse.
 Na oposição:
o São Paulo e Minas Gerais, almejando o declínio de Pinheiro Machado,
articularam-se de forma a retomar o pacto oligárquico que caracterizou as
primeiras décadas republicanas.
 Pelo acordo tácito do Ouro Fino (1913), paulistas e mineiros voltariam
a controlar a Executivo federal, respeitando o revezamento no poder a
cada quatro anos.
o Como era de se esperar, o conluio paulista-mineiro decidiu as eleições de
1914.
 Largariam à frente os mineiros, afinal, três paulistas haviam assumido
o Executivo federal desde a proclamação da República, e apenas um
mineiro ascendera à presidência.
Venceslau Brás foi eleito, com mais de 90% dos votos, em detrimento da candidatura
oposicionista de Rui Barbosa, que terminou por não a oficializar em crítica ao retorno do pacto
oligárquico.
Rota 11 – A Sedição de Juazeiro e a Guerra do Contestado (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 –
6.7 – 6.8)
 Qual foi o papel dos coronéis locais?
o Preencher os vazios de poder deixados quando da proclamação do Estado
laico e o fim da escravidão.
 Caso emblemático foi o de padre Cícero, no Ceará, que se converteu em líder popular.
o Aos olhos de padre Cícero, o sincretismo do qual a Igreja católica o acusava
não constituía ruptura com a fé católica.
o Pouco importava para os políticos da capital, que vislumbravam nas
capacidades de mobilização popular de padre Cícero um risco para a
serenidade da República (lembrança de Canudos).

11
Interpretação de José Murilo de Carvalho, de matriz weberiana, que estabelece tipos ideais para a
atuação política das forças armadas.
 As irmandades formadas pelo padre rapidamente se tornaram espécie
de comícios políticos, nos quais se afiançavam novos tipos de
socialização e de identificação.
 Outro movimento de contestação ao Estado laico e republicano originou-se, pouco
antes da Sedição de Juazeiro, em 1912, nos arredores de Taquaraçu, região disputada
por catarinenses e paranaenses. Durou até 1916.
o Sob a liderança do monge José Maria, como ficara conhecido Miguel Lucena
de Boaventura, articulou-se um movimento religioso de forte contingente
rural que preconizava o retorno da monarquia, num contexto de forte carestia.
o Ao ideário religioso de característica milenarista somava-se a prontidão dos
insurretos para tomar as armas contra a República:
 Acusada de romper os tradicionais laços religiosos de socialização que
vigiam sob o Império.
o Severamente reprimida, assim como Canudos, com extrema brutalidade.
Rota 12 – Nova Rotinização do Regime após o Pacto de Ouro Fino (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5
– 6.6 – 6.7 – 6.8)
 A nova rotinização do regime vislumbrada após a conclusão tácita do pacto de Ouro
Fino não se produziu nos moldes daquela encetada por Campos Sales.
o Por quê?
 A população brasileira, e com ela os eleitores alfabetizados, havia
mudado.
 No campo:
o os movimentos de Canudos, de Juazeiro e do Contestado haviam adquirido
feições políticas.
 Boris Fausto classifica os movimentos sociais da época como os
que “combinaram conteúdo religioso com carência social, que
combinaram conteúdo religioso com reivindicação social e que
expressaram reivindicações sociais sem conteúdo religioso”
 Se nas duas primeiras categorias compreendem-se as
insurreições de Canudos, de Juazeiro e do Contestado; na
última, inserem-se os movimentos rurais nos cafezais
paulistas, que reclamavam melhores condições de trabalho e
maiores salários.
 Entre as mais significavas dessas greves rurais, destaca-se a
ocorrida em Ribeirão Preto, em 1913, na qual o Consulado
italiano buscou mediar as reivindicações de seus nacionais em
território brasileiro com a polícia estadual de São Paulo.
 Na cidade:
o os movimentos sociais tomaram maior amplitude em razão da maior
circulação de manifestos e de periódicos.
o O governo de Venceslau Brás foi marcado, do início ao fim, pela deflagração da
Primeira Guerra Mundial e pela eclosão da Revolução Russa, de 1917:
 Fevereiro/outubro de 1917 na Rússia trazia para o Brasil as marcas do
vindouro trabalhismo soviético.
 WWI: promoveu crescimento industrial e, consequentemente,
ampliação do número de operários 12.

12
Teoria dos Choques Adversos. Sob essa ótica, a WWI foi uma choque adverso positivo, que aquece a
indústria nacional. Além disso, essa tônica sugere que esse industrialismo brasileiro de forma alguma
significou a exportação de bens manufaturados para a Europa em guerra ou para os EUA. Ocorre um
crescimento industrial porque a produção industrial europeia não mais atende o mercado interno
brasileiro.
 Tão cedo quanto em 1918, sucederam-se propostas, no Legislativo federal, para
constituir um Código de Trabalho, que em pouco resultou.
o As oligarquias paulista e mineira condenavam os operários que se
sindicalizassem: ameaças como dissuasão.
 Os operários somente causariam algum impacto se as mobilizações fossem:
o De ordem nacional
o Contra o setor produtivo agroexportador
 O que significava mobilizar portos e ferrovias.
 Nada simples, tendo-se em conta que os operários brasileiros, se é
que havia capacidade alguma de organização, não se entendiam
facilmente com operários imigrantes.
 Em 1917, estouraram três greves gerais em São Paulo: inicialmente vinculado às
paralizações nas fábricas têxteis, o movimento expandiu-se para a quase integralidade
da massa trabalhadora urbana, atingindo pouco mais de 50 mil operários, mulheres e
crianças entre eles.
o As greves operárias foram controladas e reprimidas pelas autoridades
públicas.
 Malgrado a dificuldade de alcançar os objetivos reivindicados, os levantes operários
tiveram êxito na proliferação de propostas políticas, o que não quer dizer
concretização efetiva da legislação trabalhista.
o Na terceira década do século XX, foram propostas leis que assegurariam os
operários contra acidentes do trabalho e que previam férias anuais aos
trabalhadores do comércio e da indústria.
 Não raro, a candidatura oposicionista de Rui Barbosa, nas eleições de
1919, incluía a adoção de uma legislação trabalhista.
 Depois dos direitos políticos e civis, era a vez dos direitos
sociais.
 As eleições de 1918 transcorrem conforme previa o pacto de Ouro Fino:
o Após o quatriênio do mineiro Venceslau Brás, Rodrigues Alves assumiu
novamente a presidência com mais de 99% dos votos pelo Partido
Republicano Paulista.
 Acometido pela gripe espanhola, provavelmente trazida pelas tropas
brasileiras que lutaram na Europa do lado da Tríplice Entente, o súbito
falecimento do Presidente eleito provocou, conforme estabelecia a
Constituição de 1891, a convocação de novas eleições.
 Formou-se um consenso entre paulistas e mineiros pelo nome do
paraibano Epitácio Pessoa, candidato que apresentava não somente
um programa de construção de açudes para o combate às secas do
Nordeste, mas propostas de defesa dos interesses cafeeiros.
 Epitácio venceu com 70% dos votos, e teve em Rui Barbosa, candidato derrotado, a
expressão de um eleitorado insatisfeito com o conluio paulista-mineiro.
o Sintomático dessa insatisfação foi o surgimento, em 1922, do Partido
Comunista do Brasil, que rompeu com a base anarquista.
o Fato inédito na história da América latina, visto que os partidos comunistas,
nessa região, derivaram dos partidos socialistas, o Partido Comunista do Brasil
simbolizou uma valorização do Estado em detrimento do pensamento
anarquista.
o Tratava-se de abrir o caminho para a revolução socialista, como advogava a III
Internacional de Moscou.
 A insatisfação popular contra a perpetuação do arranjo oligárquico constituído entre
mineiros e paulistas encontrou nova expressão com as eleições de 1922.
o Apoiado pelos Estados de São Paulo e de Minas Gerais, Epitácio Pessoa indicou
o mineiro Arthur Bernardes para a sucessão presidencial, o que muito
desagradou pernambucanos, baianos, fluminenses e, especialmente, gaúchos.
o A Reação Republicana,  como ficou conhecida a candidatura oposicionista de
Nilo Peçanha (fluminense), denunciava os sucessivos planos de valorização do
café.
o No Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros advogava políticas de equilíbrio
fiscal e de combate à inflação.
o Acreditava-se, não sem razão, que as receitas da União não atendiam aos
interesses dos Estados ditos de segunda grandeza, quais sejam, todos, exceto
São Paulo e Minas Gerais.
 Ao desconforto nos Estados de segunda grandeza somou-se a mobilização militar
contra a candidatura de Arthur Bernardes.
o Dois falsários ligados ao Exército publicaram no Correio da Manhã, em
outubro de 1921, duas cartas nas quais se fazia acreditar que Bernardes
condenava os militares.
o Descontente, o Clube Militar aproveitou-se do episódio das cartas falsas, para
condenar a intervenção das tropas legais em Pernambuco, Estado parte da
coligação Reação Republicana.
o Em resposta à denúncia dos militares, Epitácio Pessoa fechou o Clube Militar e
prendeu Hermes da Fonseca, que incentivou a não repreensão dos levantes
populares em Recife contra a candidatura de Bernardes.
 Pouco depois, editou-se lei contra as associações que pudessem promover agitação
social: enquadravam-se operários e militares.
 Para desespero da Reação Republicana,  Arthur Bernardes venceu as eleições de 1922
com pouco menos de 60% dos votos.
 Posição da caserna:
o Por três repetidas ocasiões, em 1906, em 1908 e em 1910, oficiais do Exército
brasileiro foram enviados à Alemanha com o objetivo de modernizar as
corporações.
o Contaram com o aval do Kaiser Wilhelm II, do Barão do Rio Branco, que servira
preteritamente como embaixador em Berlim, e, sobretudo, com a insistência
de Hermes da Fonseca, que patrocinou a profissionalização das Forças
Armadas.
o A doutrina militar alemã pregava o reformismo que muito se assemelhava à
doutrina positivista do soldado-cidadão.
o  Essa tendência que se confirmou nos oficiais turcos - com quem os brasileiros
mantiveram contatos profundos. 
 Tenentes e capitães brasileiros, rapidamente rotulados de jovens turcos pela alta
cúpula do Exército, reclamavam a reabilitação da doutrina do soldado-cidadão no
Brasil, o que significa uma reaparição da intervenção reformista.
 Uma segunda ala mais moderada, que contava com a liderança de Bertholo Klinger,
preconizava um novo modelo.
o Ideia era encontrar uma solução intermédia entre o soldado-cidadão de
Benjamin Constant e o soldado-profissional de Hermes da Fonseca.
o Optou-se pela constituição de um soldado-corporação e de uma intervenção
moderada, apenas em casos de grave crise nacional.
 A posição vencedora em 1922 foi a do soldado-cidadão, com ampla participação do
jovem oficialato (jovens turcos).
Rota 13 – A Crise da Década de 1920: tenentismo e revoltas (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6
– 6.7 – 6.8)
 Os levantes tenentistas da década de 1920 apontaram para uma renovação do
positivismo característico do soldado-cidadão.
 O modelo de Bertholo Klinger somente vigorou após a revolução de
1930.
 Em 5 de julho de 1922, ou seja, entre a confirmação da vitória de Arthur Bernardes e a
posse prevista para o dia 15 de novembro, eclodiu o episódio dos Dezoito do Forte.
 O que foi esse episódio?
o Um punhado de oficiais de baixa patente - portanto, com rendas e prestígio
inferior aos membros da alta cúpula do Exército – aglutinou-se no Forte de
Copacabana, no Rio de Janeiro, em protesto contra o fechamento do Clube
Militar.
o Cercados, os tenentes entregaram-se, exceto um grupo de dezoito insurretos
que resistiu à pressão do governo.
 Morreram dezesseis, mas Eduardo Gomes e Siqueira Campos, os únicos dois
sobreviventes, marcaram a ascensão de uma nova identidade de resistência, que
passou a constituir o tenentismo.
o Não era propriamente democrático; pelo contrário, preconizava reformas pela
via autoritária.
o Tampouco era a expressão das classes médias urbanas, malgrado a adesão
dessas classes médias ao tenentismo (FAUSTO).
o Os tenentes provinham de antigas linhagens castrenses vinculadas às
empobrecidas famílias do Nordeste.
o A causa profunda do movimento tenentista esteve na insatisfação com o Pacto
Oligárquico.
 O que foi o tenentismo?
 Movimento político e ideologicamente difuso, de
características predominantemente militares, onde as
tendências reformistas autoritárias aparecem em embrião,
com o intuito de purificar a república dos vícios do sistema
oligárquico.
 Movimentos tenentistas iniciaram-se independentemente dos
setores civis.
 Tenentes identificaram-se como responsáveis pela salvação
nacional, guardiões da pureza das instituições republicanas,
em nome do povo inerme.
 Tratou-se de movimento substitutivo, e não organizador do
“povo”.
 Houve apenas alguns contatos, especialmente após
1924, com as dissidências paulistas e gaúchas.
 Não restou a Arthur Bernardes outra possibilidade senão governar em estado de sítio
por praticamente todo seu mandato eleitoral.
o Pelo lado da resistência armada, a Revolução de 1924, inspirada no levante
dos Dezoito do Forte, dava sinais de maior organização.
 Tratou-se de novo levante tenentista, promovido contra o Presidente
do Estado de São Paulo e com o apoio de Eduardo Gomes e de Miguel
Costa.
 Os revoltosos deslocaram-se para o interior de São Paulo e,
posteriormente, fixaram-se na porção ocidental do Paraná,
onde aguardavam o apoio dos revoltosos do Sul, liderados por
Luís Carlos Prestes.
 O encontro das colunas paulista e gaúcha deu origem a
famigerada coluna Costa-Prestes, que percorreu o país com
vistas a disseminar rebeliões antioligárquicas.
 Com parcos recursos militares e débil adesão rural 13, a coluna
esfacelou-se em 1927, quando Prestes se retirou para a
Bolívia.
  Daí em diante, passou a advogar teses marxistas,
somente aderindo ao Partido Comunista do Brasil em
1934.
 Resposta de Arthur Bernardes:
o O Partido Comunista do Brasil foi posto na ilegalidade no mesmo ano de sua
fundação, em 1922.
o O movimento operário foi duramente reprimido, e as greves rapidamente
controladas.
 O Bloco Operário, frente legal do Partido Comunista do Brasil,
conseguiu, no entanto, eleger um deputado em 1927.
o Os levantes tenentistas também foram cerceados.
 Eleições de 1926:
o A retomada do pagamento da dívida externa, prevista para 1927, deixava
pouca margem de manobra para que Arthur Bernardes perpetuasse a defesa
do café.
o A União decidiu deslocar a responsabilidade de sustento ao setor cafeeiro para
o Estado de São Paulo, que se incomodou até acerto ponto, visto que chegava
a vez de um paulista assumir a presidência da República. É uma primeira
fissura no edifício oligárquico.
o As eleições de 1926 transcorrem sem maiores abalos, e Washington Luís
assumiu o Executivo federal com 99% dos votos.

Rota 14 – A Revolução de 1930 (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 – 6.7 – 6.8)
 Nova agitação no Rio Grande do Sul:
o Embora derrotados em 1895, os maragatos, antigos artífices da Revolução
Federalista sob a liderança de Gaspar Silveira Martins, não deixaram de
mostrar insatisfação contra a perpetuação no poder de Borges de Medeiros.
 Quando os federalistas de 1893 se uniram aos maragatos de 1922,
formou-se a Aliança Libertadora, cujo escopo era debelar os reiterados
mandatos de Borges de Medeiros. 
 Para as eleições gaúchas de 1923, a Aliança Libertadora lançou
a candidatura oposicionista de Assis Brasil, mas em pouco
resultou.
 Derrotado nas urnas, Assis Brasil promoveu campanha política,
para contestar as supostas fraudes eleitorais que deram
vitória a Borges de Medeiros.
 Com o fim da Revolução Libertadora em dezembro de
1923, assinou-se o Pacto de Pedras Altas, por meio do
qual o mandato de Borges de Medeiros condicionou-
se à reforma da Constituição gaúcha.
 Irrompia Getúlio Vargas na presidência gaúcha (1928-
1930), selando união entre a Aliança Libertadora e o

13
Os coronéis locais contiveram o avanço tenentista. Lembrar da lógica tripartite de Vitor Nunes Leal, do
coronelismo como sistema de administração em três níveis.
Partido Republicano do Rio Grande do Sul. Com isso,
ele podia gestar alianças em âmbito nacional.
o Contestações também em São Paulo:
 Em São Paulo, o Partido Republicano Paulista perdia a hegemonia que
o caracterizou nas décadas precedentes.
 Com a fundação do Partido Democrático, em 1926, vislumbrava-se
derrocar a centralidade do Partido Republicano Paulista na
administração pública. Contou com pequena parcela da burguesia
industrial e de cafeicultores.
 Advogava-se a constituição de uma Justiça Eleitoral, o que ampararia
as minorias não representadas.
 São Paulo estava implodindo.
 Voltando ao cenário nacional:
o Ficava claro aos Estados de segunda grandeza que se Washington Luís,
o paulista de Macaé, como dizia-se então, conseguisse eleger um sucessor à
presidência, as políticas de fomento e de sustentabilidade do café não
arrefeceriam.
o Para Washington Luís importava sobremaneira garantir a continuidade dos
planos de valorização do café, vislumbrados como pilar da economia brasileira.
 Em 1929, apoiou a candidatura do paulista Júlio Prestes à presidência da República;
afinal, além de ter sido preteritamente Presidente do Estado de São Paulo, Júlio
Prestes era líder da maioria no Legislativo federal, o que constituía carta-branca para
perpetuar as políticas de defesa do café.
 Resposta mineira e gaúcha:
o O Estado de Minas Gerais não aceitaria uma nova presidência paulista em
detrimento do pacto de Ouro Fino.
o Os gaúchos, a seu turno, não suportariam novo governo voltado para os
interesses exclusivos de São Paulo.
 Apressaram-se os mineiros em lançar a candidatura oposicionista de
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, então Presidente do Estados de
Minas Gerais.
 Mas a necessidade de consolidar robusta aliança com os gaúchos
inclinou Antônio Carlos a ceder a candidatura em benefício de Getúlio
Vargas.
 A articulação mineiro-gaúcha contou ainda com o apoio dos Estados
do Nordeste, representados pela indicação do paraibano João Pessoa,
sobrinho de Epitácio, para a Vice-Presidência da República.
 Formava-se, portanto, a chapa oposicionista da Aliança Liberal contra
a o Partido Republicano Paulista, encabeçado por Washington Luís e
por Júlio Prestes.
 Organização das dissidências:
o Enquanto uma parcela do Partido Republicano de Minas Gerais apoiou Júlio
Prestes, temendo o esfacelamento definitivo do regime oligárquico, o Partido
Democrático de São Paulo pendeu para o lado de Getúlio Vargas.
o Os tenentes, a classe média urbana e o proletariado optaram, como era de se
esperar, pela candidatura da Aliança Liberal (o que não deixava de ser
surpreendente!):
 Os políticos da Aliança Liberal não eram o oposto das oligarquias
paulistas; pelo contrário, eram também oriundos de oligarquias
regionais, mas advogavam a defesa do trabalhador e a
regulamentação da legislação trabalhista.
o Os industriais paulistas não acreditaram no benefício que a Aliança Liberal
poderia trazer: regulamentar a legislação trabalhista poderia traduzir-se em
arrefecimento dos lucros.
 Para desconforto da chapa oposicionista, Júlio Prestes venceu com
pouco menos de 60% dos votos.
 um punhado de jovens políticos vinculados à Aliança Liberal
opôs-se veementemente aos resultados de março de 1930.
 Entre eles, Getúlio Vargas, Oswaldo Aranha e Lindolfo Collor
passaram a constituir o grupo dos tenentes civis, conforme
eram então rotulados, o que não quer dizer que fossem
aliados incontestes dos tenentes da caserna.
 Pelo contrário, os capitães e tenentes dos levantes da década
de 1920 desconfiavam da Aliança Liberal, visto que, na
composição dessa agremiação, encontravam-se Arthur
Bernardes, João Pessoa e Oswaldo Aranha, políticos que
tinham participado de atos de perseguição a tenentes no
interior do país.
 A Aliança Liberal era uma oligarquia dissidente que não havia
encontrado espaço no poder.
 Em julho de 1930, o assassinato de João Pessoa na Paraíba arrefeceu o clima de
discórdia entre tenentes civis e tenentes da caserna.
o Transformado em mártir!
 Na capital, formou-se um movimento armado sob a liderança de Góis
Monteiro, e a revolução estourou poucos meses depois em Minas
Gerais e no Rio Grande do Sul.
 Um dia depois, na madrugada do dia 4 de outubro, Juarez
Távora encarregou-se de estender a revolução ao Nordeste.
 Tomadas as porções meridionais e setentrionais do país,
restava aos revolucionários adentrar o Estado de São Paulo.
 Previa-se tomar o território paulista pelo Sul: seria a batalha de Itararé, supunha-se
então.
o Mas antes disso:
 oficiais de alta patente do Exército e da Marinha, que em nada se
assemelhavam os tenentes da caserna, formaram o movimento
pacificador:
 preferiam depor o Presidente da República, Washington Luís,
a esperar os resultados de um conflito armado que poderia
provocar insubordinação nas camadas castrenses.
 Sob o comando de Mena Barreto, de Tasso Fragoso e de Isaías
Noronha, o movimento pacificador   tornou-se a Junta
Governativa Provisória, e o regime de 1889 encerrou-se da
mesma forma que começou, sob o comando das espadas.
 Vargas funciona como um ponto de ligação entre todas as
dissidências do regime oligárquico.
 
Historiografia da Revolução de 1930
 Boris Fausto recorda que a Revolução de 1930 caracterizou-se pela heterogeneidade
de sua composição:
o não foram burgueses industriais ou membros das classes médias que a
fizeram, embora tivessem dado, ainda que de forma difusa, apoio a Aliança
Liberal.
o “O novo tipo de Estado que nasceu em 1930”,  prossegue Fausto, “distinguiu-se
do Estado oligárquico não apenas pela centralização e pelo maior grau de
autonomia como também por outros elementos. Devemos acentuar pelo
menos três dentre eles: 1. Atuação econômica, voltada gradativamente para
os objetivos de promover a industrialização; 2. A atuação social, tendente a
dar algum tipo de proteção aos trabalhadores urbanos, incorporando-os, a
seguir, a uma aliança de classes promovida pelo poder estatal; 3. O papel
central atribuído às Forças Armadas – em especial o Exército – como suporte
da criação de uma indústria de base e sobretudo como fator de garantia da
ordem interna. [...] Foi desse modo, e não porque tivesse atuado na
Revolução de 1930, que a burguesia industrial foi promovida, passando a ter
forca no interior do governo”  (FAUSTO 2008).
Em síntese, os industriais paulistas muito mais se beneficiaram do que fizeram a Revolução de
1930.
Rota 15 – A Política Externa durante a Primeira República (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 –
6.7 – 6.8)
 A proclamação da República contou com o rápido reconhecimento dos Estados
vizinhos.
o A Argentina, a Venezuela, a Bolívia, o Chile, o Paraguai, o Peru, o México, o
Equador e o Uruguai reconheceram imediatamente.
 Curiosamente, os Estados Unidos tardaram em reconhecer a República
brasileira.
 Conforme assinalam Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, Dom
Pedro II tinha bom trânsito com o vizinho norte-americano:
fora o único rei a pisar em solo estadunidense.
 A historiografia mais recente defende que havia um claro
interesse norte-americano em reconhece o novo regime
brasileiro. O State Department percebe a importância do café
no Brasil e vê a ascensão paulista como uma forma de frear
uma tentativa industrializante no Brasil, ao mesmo tempo em
que ganha poder de barganha.
 Há no contexto histórico uma virada de poder global em favor
dos EUA.
 A Inglaterra percebe a articulação norte-americana em relação ao
continente americano, movimento que ameaça o mercado britânico
na região. Daí a relutância inglesa em reconhecer o novo regime, que
tinha acentuada matriz estadunidense.
 A França, devido às pendências lindeiras do rio Oiapoque, demorou
até junho de 1890 para seguir a rota dos Estados Unidos, como forma
de ganhar tempo para barganhar uma melhor resolução da questão.
Influiu, além disso, o processo forçado de naturalização dos
estrangeiros em território nacional.

Rota 16 – A Conferência Pan-americana e o paradigma americanista (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 –


6.5 – 6.6 – 6.7 – 6.8)
 O governo de Deodoro da Fonseca dispôs-se a afirmar a presença do Brasil na
Conferência Pan-Americana de Washington.
o “Somos da América e queremos ser americanos”  consagrava o manifesto
republicano de 1870.
 Desde 1881, James Blaine defendia maior adensamento das relações
interamericanas em detrimento da incidência britânica na América do
Sul.
 Em uma reinterpretação da Doutrine Monroe, Blaine vislumbrava nos
esforços pan-americanos um incremento do comércio estadunidense
com a região e maior presença na condução de conflitos, o que
significaria, em última instância, maior liderança no continente
americano.
 O sucessor de Cleveland, Benjamin Harrison, deu carta-branca
a Blaine para organizar a I Conferência Pan-Americana,
nomeando-o Secretário de Estado.
o Apesar da desconfiança de algumas repúblicas hispânicas, o que não foi o caso
do Brasil, as delegações chegaram à capital estadunidense em outubro de
1889.
 Previu-se para fins de novembro daquele ano o início das reuniões.
 Entrementes, ruiu o Império do Brasil, e Quintino Bocaiúva, na
pasta das Relações Exteriores, substituiu o liberal Lafaiete
Rodrigues, então chefe da delegação brasileira, pelo
declaradamente republicano Salvador de Mendonça.
 A República ordenou sua delegação a dar “espírito americano às instruções do regime
caído”.
o Salvador de Mendonça apadrinhou as propostas estadunidenses referentes à
constituição de arbitramento obrigatório em caso de controvérsias entre
Estados Americanos14.
 No decorrer da Conferência, os Estados Unidos perceberam a virada
americanista na política externa do Brasil.
 Em janeiro de 1891, Salvador de Mendonça e James Blaine
assinaram tratado de reciprocidade mediante o qual ampla
gama de produtos manufaturados estadunidenses teriam
acesso ao mercado brasileiro em troca de isenções
alfandegárias para o açúcar, o couro e o café.
 O acordo comercial inseria-se na lógica da aprovação, nos
Estados Unidos, da protecionista tarifa McKinley, por
intermédio da qual somente se assegurariam vantagens
comerciais caso houvesse reciprocidade alfandegária.
o Interessava sobremaneira à bancada nordestina
brasileira, representada pelo pernambucano Barão de
Lucena no Ministério da Justiça, o ingresso do açúcar
no mercado estadunidense, visto que seria maneira
senão de contornar a inconteste hegemonia nacional
e internacional do café, pelo menos de robustecer a
economia nordestina.
o O Governo Deodoro teve de ceder, porque não havia
poder de barganha. Progressivamente o projeto
vencedor de país foi o projeto agrário dos paulistas, e
não o projeto industrializante dos militares.
 Os Estados Unidos passaram a vislumbrar no Brasil um possível cúmplice na América
do Sul, visto que, em abril de 1891, a Argentina e, em menor porte, os demais vizinhos
sulinos, rechaçaram as pretensões estadunidenses na Conferência Pan-Americana.

14
Movimento oposto se deu nas repúblicas hispânicas, sobretudo na Argentina, tendo em vista a ainda
grande influência inglesa.
 A Conferência redundou em apenas um resultado concreto após o
retorno das delegações em abril de 1891: a constituição do Escritório
Comercial das Repúblicas Americanas, encarregado da compilação e
da distribuição de dados comerciais.
 Não era praxe do Império concluir acordos comerciais.
o A assinatura do acordo Blaine-Mendonça (1891) assinalava para uma mudança
de tom.
 O Congresso Nacional15 opôs-se à assinatura menos em razão de
discordâncias ideológicas do que em função do direito constitucional
(regra procedimental) que concedia ao poder Legislativo a faculdade
de “regular o comércio internacional [...], de alfandegar portos, de
criar ou suprimir entrepostos”, conforme estipulava o artigo 34, §5º,
da Constituição de fevereiro de 1891.
o O tratado Blaine-Mendonça, no entanto, era de janeiro de 1891.
 Embora terminasse por ratificar o acordo comercial, o Congresso dava
um aviso ao poder Executivo.
 Os parlamentares, contudo, não sabiam que, paralelamente, pelo acordo de 1891 com
a Espanha, os Estados Unidos estenderam os benefícios açucareiros, com
reciprocidade, às colônias hispânicas de Cuba e de Porto Rico.
o Pelo lado político, Deodoro da Fonseca enxergava no acordo Blaine-Mendonça
um estreitamento dos laços de amizade, o que poderia servir a seu benefício
caso os dissensos com o Congresso não arrefecessem.
 Pesava na consciência de Deodoro a guerra civil chilena de 1891,
deflagrada após reiterados incidentes entre o Presidente José Manuel
Balmaceda e o poder Legislativo.
 Pior, o Congresso brasileiro parecia apoiar os parlamentares
chilenos.
 O que parecia um acordo desigual terminou beneficiando o Brasil.
o Conforme assinalava Serzedelo Corrêa, as exportações brasileiras para os
Estados Unidos expandiram-se, sobretudo por causa da competitividade do
açúcar brasileiro.
o Após o mandato republicano de Benjamin Harrison, voltou à presidência o
democrata Grover Cleveland, que se apressou em desmontar a estrutura
alfandegária de seu predecessor.
 Cleveland promulgou leis tarifárias que desserviram ao Brasil.
 Tornaram a subir as taxas aplicadas ao açúcar brasileiro, o que
levou Floriano Peixoto a denunciar o acordo Blaine-Mendonça
em 1894.
 A atitude do novo Presidente não desagradou aos Estados
Unidos, visto que foi apenas um reflexo da legislação
alfandegária entabulada por Cleveland.
 Quando estourou a Revolta da Armada, o idealismo
americanista dos primeiros meses republicanos serviu bem ao
pragmatismo de Floriano.
 Mendonça insistiu para que os Estados Unidos fornecessem
armas ao governo em detrimento dos revoltosos.
 Cleveland enviou uma esquadra para debelar o bloqueio naval
à Baia de Guanabara orquestrado por Custódio de Melo.

15
A banca costuma cobrar questões relacionadas às diferenças de posições entre o Executivo e o
Legislativo.
Rota 17 – A Questão de Palmas no Eixo Assimétrico de Poder (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 –
6.6 – 6.7 – 6.8)
Americanismo ilusório: um alinhamento automático com os Estados Unidos. Com a
proclamação da República, há uma clara virada na Política Externa em favor de um
alinhamento com os EUA. Do ponto de vista historiográfico, faz-se uma oposição entre o
americanismo ingênuo, do início da primeira república, e aquilo que teria sido uma
americanismo pragmático, levado a cabo pelo Barão do Rio Branco. Essa distinção inflexível, no
entanto, não funciona bem, haja vista que mesmo uma política externa supostamente
ideológica buscará atingir certa finalidade, buscará obter resultados favoráveis no campo da
política externa. E foi exatamente isso o que fez o chamado “americanismo
ilusório/ingênuo/ideológico” do início da Primeira República, um modelo de política externa
que também possuía seu viés pragmático e buscava, portanto, resultados práticos a partir da
postura ideológica adotada. Floriano Peixoto, por exemplo, apontado como defensor de um
americanismo ilusório, conseguiu apoio militar estadunidense para sufocar a Revolta da
Armada. Numa terceira fase, não é aconselhável apresentar essa distinção seca, porque ela é
intelectualmente pobre. É necessário perceber os resultados buscados por determinada linha
de Política Externa. Na primeira fase, por outro lado, não se deve brigar com a prova, isto é,
uma questão não deve ser marcada como errada por apresentar a lógica dualista
americanismo ilusório/americanismo pragmático, haja vista ser essa a posição da bibliografia
fundamental para o concurso.
A Questão de Palmas no eixo simétrico de poder (Argentina)
 Estanislao Zeballos, então ministro das Relações Exteriores sob a presidência de
Miguel Celman (1886-1890), vislumbrou no rápido reconhecimento da República do
Brasil uma possibilidade de resolver a seu favor a questão de Palmas.
o Quintino Bocaiúva concedeu parte da região de Palmas à Argentina.
 Pelo Tratado de Montevidéu de 1890, o Estado gaúcho ficava ligado ao
resto do país por una tênue faixa de terra de não mais de 200 km.
 Além disso, havia grande agitação no Rio Grande do Sul, estando-se às
vésperas da Revolução Federalista.
o O Tratado de Montevidéu não foi ratificado pelo Congresso brasileiro!

 Prevaleceu o acordo de 1889, que deixava a questão de Palmas (Missiones) à sorte do


arbitramento estadunidense16.
o A indicação do Barão do Rio Branco para a defesa brasileira, então cônsul em
Liverpool, advinha da estima que o Ministério das Relações Exteriores tinha
16
Questão definida às vésperas da Proclamação da República, por for pressão de republicanistas, que
viam a mudança do eixo de inserção internacional do Brasil, que passaria a ser os Estados Unidos no
lugar da Inglaterra, que continuava a ser o eixo de inserção internacional da Argentina. Assim, o Brasil
teria maiores chances de conseguir um bom resultado na arbitragem da questão, o que evidencia a
insuficiência da distinção entre americanismo ilusório e americanismo pragmático, haja vista que essa
questão definida por atores apontados como ingênuo tinha claro viés pragmático.
não somente por seu pai, o visconde do Rio Branco, que esteve presente nas
negociações de paz após a Guerra do Paraguai, mas também pela reconhecida
erudição de Paranhos Júnior acerca da formação territorial brasileira.
 Qual foi a posição brasileira?
o Três aspectos:
 Primeiro, ordenou-se a argumentação pelo matiz histórico,
enfatizando o espírito conciliador do tratado de Madri, de 1750, e o
arranjo territorial dele resultante.
 Segundo, definiu-se os acidentes geográficos (fronteiras naturais) dos
rios Pepiri e Santo Antônio como aqueles que foram designados no
tratado de Madri como fronteiras americanas entre Portugal e
Espanha.
 Por último, invocou-se a relevância do princípio de uti possidetis,  a
considerar as populações brasileiras que habitavam o território em
disputa.
 Qual foi a posição argentina?
o Estanislao Zeballos deslocava os rios Pepiri e Santo Antônio para as margens
orientais do que fora estabelecido pelo tratado de Madri.
o Pautou-se pela demarcação de 1788, que em muito atendia ao não demarcado
tratado de Santo Ildefonso.
o Ainda, Zeballos enfatizava a ideia do que o princípio do uti possidetis  só
atenderia aos países que do Vice-Reino do Rio Prata resultaram. O que deve
ter primazia é o direito (uti possidetis iuris), e não o fato. O fato só serve
quando não há possibilidade de recorrer ao direito.
 Em 5 de fevereiro de 1895, conforme o acordo de setembro de 1889, o Presidente dos
Estados Unidos dirimiu o pleito.
o Grover Cleveland, então Presidente em 1895, deu posse ao Brasil de 30 mil
quilômetros quadrados.
 Inicialmente constrangido, Zeballos terminou reconhecendo o mérito
do Barão e a justiça do laudo arbitral.
 No Brasil, Paranhos Júnior ganhava os aplausos retirados de Bocaiúva.
A “vitória também o qualificou para ocupar”,  conforme assinala
Francisco Doratioto,  “a posição de figura patriótica paradigmática no
imaginário brasileiro, que antes fora de Pedro II”.

 Satelização do Paraguai contra a Argentina

 Nas eleições paraguaias de 1893, o Partido Colorado cindiu-se em duas alas.

o A primeira, mais afeta aos interesses do Brasil, articulava os candidatos Juan


Bautista Egusquiza e Bernardino Caballero.

o A segunda, que vislumbrava possibilidade de estreitamento de laços com a


Argentina, era encabeçada por Juan Gualberto González e José Segundo
Decoud.

 Nos primeiros meses de 1894, Floriano Peixoto enviou o senador brasileiro Amaro
Cavalcanti para orquestrar golpe de Estado que derrubasse González e impedisse,
portanto, a eleição de Decoud.

o O golpe efetivamente aconteceu em junho de 1894, apenas em parte devido


à ingerência brasileira, e Egusquiza assumiu a presidência do Paraguai.

 Vitória brasileira, mas existia coesão na política externa da República das Espadas?
 Sucederam-se onze ministros no Ministério das Relações Exteriores, de 1889 a
1902; nada menos do que sete apenas no governo de Floriano Peixoto.

Rota 18 – A Questão do Amapá e a Questão do Pirara no Eixo Assimétrico de Poder (6 – 6.1 –


6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 – 6.7 – 6.8)
Se está no contexto da corrida imperialista, com disputas entre Inglaterra e França, além da
entrada dos EUA como ator chave no cenário global. A formulação da política externa
brasileira leva em conta a análise do cenário internacional, como não poderia deixar de ser.
Reativação da Doutrina Monroe:
o Secretário de Estado Richard Olney, na presidência de Cleveland, elaborou declaração
em 1895 no sentido de conter avanço inglês na disputa com a Venezuela pela Guiana
Inglesa. Isso dá bom lastro às pretensões do Brasil, que cada vez mais se aliava aos
EUA.
o Intervenção em Cuba:
 Intervenção em Cuba contra alegadas atrocidades cometidas pelas tropas
espanholas, embora René Girault associe a intervenção à proteção dos
interesses estadunidenses no Caribe, conforme assinalara o acordo açucareiro
de 1891.
o Posição brasileira em relação ao Amapá:

o Ideia era tirar proveito das rivalidades entre Estados europeus, de modo a opor
britânicos a franceses no que concerne à presença desses na América do Sul.
o 1884: Fundação da República de Cunani por Trajano Benitez.
o 1891-1895: República do Amapá, fundada por Francisco Xavier Almeida Cabral.
 Criou-se o Exército Defensor do Amapá.
 Foram tentativas de tornar a região independente, o que desagradava tanto ao
governo brasileiro quanto ao francês, ao passo que ambos concordam em levar a
questão lindeira à arbitragem internacional.
o 1894: descobertas auríferas na região do rio Calçoene, fronteira com a Guiana
Francesa.
o Mobilização de garimpeiros brasileiros, que entram em choque com tropas
francesas.
 Prudentes de Moraes e Felix Faure concordam em levar a questão
lindeira ao arbitramento internacional.
o O arbitramento seria feito pelo Presidente do Conselho Federal da Suíça.
 Posição francesa:
o Paul Vidal de La Blache alinhou os argumentos à tese que
trocava o rio Oiapoque pelo rio Araguari, alegando não haver
consenso quanto à real posição daquele rio no que concerne
ao complexo fluvial da região.
o Confusão: saber qual é o rio Oiapoque. O Vicente
Pinzón? o Araguari?
 Tratado de Utrecht de 1713 não deixou claro.
 Posição brasileira:
o Ocupação brasileira do Oiapoque vinha desde o período da
França Equinocial.
o Uti possidetis.
o Araguari não pode ser o Oiapoque, porque o Araguari
desemboca no Amazonas.
o Em dezembro de 1900, três dias antes de deixar a presidência do Conselho Federal da
Suíça, Eduard Muller pronunciou-se favoravelmente ao Brasil.
o Para além da qualidade de suas “memórias”, Paranhos Júnior havia acertado
em sua análise sistêmica das relações internacionais.
o Se à Inglaterra incomodava a presença francesa na corrida expansionista, e
vice-versa, um choque entre essas potências europeias resultaria em um retraimento extra
europeu de ambas, e não de uma só, visto que o sistema europeu de alianças impediria a um
Estado pôr-se à frente dos demais.
o Precisamente após a crise de Fachoda, em 1898, que opôs franceses e
britânicos no atual Sudão do Sul, Théophile Delcassé substituiu Gabriel Hanotaux no Quai
d’Orsay, constituindo um novo sistema internacional no qual a França daria primazia aos
assuntos europeus: desse sistema resultaria se não um congelamento, um equilíbrio do
expansionismo europeu. Não escapava aos pensamentos de Delcassé a possibilidade de a
Alemanha expandir sua área de influência, seja na Europa ou não, caso a França voltasse a
indispor-se com a Inglaterra.

o A questão do Pirara trouxe novamente à tona a imagem expansionista das


potências europeias no América do Sul, isto é, do imperialismo. Vem à tona no
contexto do Tratado de Berlim (1895).
 Tratava-se de disputa lindeira entre o Brasil e a Inglaterra:
 Contrariamente à questão do Amapá, no entanto, a origem da
controvérsia não datava no período colonial, mas do Segundo
Reinado.
 Conforme assinala Synésio Sampaio Goes Filho, uma expedição
geográfica encabeçada pelo prussiano Robert Herman Schomburgk,
então a serviço da Royal Geographical Society,  adentrou a região do
Pirara, em 1838, quando a província do Pará, acometida pela Revolta
da Cabanagem, não tinha condições de rebater as incursões britânicas.
o Após alguns incidentes envolvendo o deslocamento de tropas
brasileiras e inglesas, a região foi considerada neutra.
o A posição brasileira não se alterou ao longo do século XIX: advogava a manutenção dos
limites anteriores à expedição de Schomburgk.
o Pelo lado britânico, Lord Salisbury propôs, em 1898, a divisão da região
disputada em duas partes iguais, o que desagradou o Brasil.
 Consentiram as partes, em 1899, em submeter o litígio ao
arbitramento do rei Vitor Emanuel III da Itália.
o Problema sistêmico:
 Vitor Emmanuel III é claramente anglófilo.
 Aproximação da Itália com a Inglaterra, para questões africanas
(sobretudo porção oriental), contra a Alemanha.
o Para Joaquim Nabuco, designando para suceder a Souza Correia nas negociações com
a Inglaterra, o cenário era delicado, portanto.
o Nabuco vai à Roma buscar apoio!
o As “memórias” de Nabuco consubstanciaram a defesa brasileira com três argumentos
jurídicos, evitando-se retornar ao contestado argumento dos limites naturais.
o Primeiro, afirmava que a constituição do Forte São Joaquim, em 1775,
assegurou a Portugal a posse da região do Pirara (uti possidetis usados de
forma tênue, porque o território não estava ocupado quando da ocupação
inglesa).
o Segundo, defendia o respeito à doutrina do inchoate title,  “que dá ao
possessor temporário ou intermitente direito contra terceiros”;
o Por último, advogava o princípio de watershed, “que dá ao ocupante de um rio
direitos sobre seus afluentes”.
o Pelo lado britânico, Thomas Sanderson, advogado indicado por Lord Salisbury,
contestava a posse brasileira do Forte de São Joaquim, que fora abandonado durante a
Revolta da Cabanagem, não havendo, portanto, linha demarcatória entre o Brasil e a
Guiana.
o Nesse sentido, os princípios de inchoate title  e de watershed, assim como
serviam ao Brasil, prestavam-se bem à causa britânica.
o Em julho de 1904 (Rio Branco já era Chanceler), Vitor Emanuel resolveu a favor
da Inglaterra, embora parcialmente. Por isso, não se pode falar em vitória
absoluta da Inglaterra na questão do Pirara, porque um terço do território
disputado fica com o Brasil.
Posteriormente à resolução da questão do Pirara, Rio Branco indica Nabuco como primeiro
embaixador brasileiro em Washington. Ao longo do tempo, Nabuco adotará uma postura
americanista mais inflexível, em contraposição ao chamado americanismo pragmático de Rio
Branco, o que criará rusgas entre os dois.
Rota 19 – Eixos Múltiplos de Poder: a questão do Acre (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 – 6.7
– 6.8)
Eixos múltiplos de poder: a Questão do Acre
 A solidez da cumplicidade entre o Brasil e os Estados Unidos foi testada a ferro e fogo
durante a questão do Acre.
o Consoante o mapa da linha verde,  que orientara o tratado de Ayacucho de
1867, a região compreendida entre o rio Beni e o Javari não estaria
inteiramente sob soberania brasileira.
 No entanto, a expansão da indústria do látex deslocou populações
brasileiras para essa região, conformando situação na qual a ausência
de autoridades bolivianas dava margem a um vazio de poder.
 As negociações entre a Bolívia e o Brasil não resultaram em acordo
sobre os limites não demarcados pelo tratado Santo Ildefonso, o que
não impediu, contudo, ao chanceler Olinto de Magalhães conceder
Porto Acre, então chamado de Puerto Alonso, ao governo boliviano,
malgrado a presença de brasileiros na localidade. A lógica de Olinto foi
assegurar bom transito com a Bolívia e assentar a influência brasileira
na região, num contexto de elevada tensão com a Argentina, inclusive
com a perspectiva real de um conflito militar.
 A preenchimento do vazio de poder pelas autoridades bolivianas iniciou período de
grande agitação na região do Acre.
 Os brasileiros contestaram as leis que a Bolívia impunha em Puerto Alonso, e sob a
liderança de Luiz Gálvez (brasileiro), declararam o Acre provisoriamente independente
até que o Brasil aceitasse a anexação da região.
o Olinto de Magalhães refutou rispidamente as pretensões de Gálvez.
 Nesse momento, consoante Rubens Ricupero, o governo boliviano cometeu grave erro
estratégico.
 Subestimando tanto as capacidades de deslocamento de tropas
brasileiras quanto as intenções bélicas do Rio de Janeiro, as
autoridades de La Paz concederam ao Bolivian Syndicate o controle da
região do Acre por 30 anos (poder de polícia, assistência bélica e
coleta de impostos).
 O que era o Bolivian Syndicate?
o  Um conglomerado formado por especuladores
britânicos e, sobretudo, estadunidenses.
 Em contrapartida, o Bolivian Syndicate deveria ceder 40% dos lucros
da exploração ao governo de La Paz.
 Sucederam-se revoltas locais lideradas por José Plácido de Castro.
o Declarou-se novamente a independência do Acre.
o Era tarde demais quando José Pando, Presidente da Bolívia, enviou tropas,
para debelar os comandos de Plácido de Castro.
 Os insurretos já haviam ultrapassado a localidade de Puerto Alonso.
 Posição do Rio de Janeiro:
o Barão do Rio Branco assume a chancelaria (1902).
 Não se indispor com os Estados Unidos!
 Evitar conluio entre americanos e
europeus, especialmente com a
Inglaterra, na América do Sul!
 Solução, no entanto, somente poderia vir com
posição de força brasileira.
 Era necessário combinar os eixos múltiplos de
poder!
 Ordenou o fechamento do rio Amazonas à
navegação internacional, o que cerceava o
escoamento do látex acreano pelo oceano
Atlântico.
 Optou por indenizar o Bolivian Syndicate em
valor de 110 mil libras mediante renúncia a
todo e qualquer direito que as autoridades de
La Paz deram aos especuladores sobre o Acre.
 Era o máximo que Rio Branco poderia fazer no
eixo assimétrico Washington-Londres-Rio de
Janeiro.
o Separando o State Department  do Bolivian Syndicate, Rio Branco apresentou
aos governos boliviano e peruano - este também contestava a posse brasileira
da região do Acre- reinterpretação do tratado de 1867 consoante a qual a
fronteira brasileira incluiria o território em disputa.
o Por último, Rio Branco deslocou tropas brasileiras em direção ao Acre 17.
 Invertiam-se, portanto, as assimetrias de poder, estando agora o Rio
de Janeiro em posição de força perante La Paz.
 As negociações seriam bilaterais, e a posição brasileira advogaria o respeito ao
princípio do uti possidetis.
 Rui Barbosa e Assis Brasil acompanharam Paranhos Júnior nas
negociações.
 Estimava-se que a posição brasileira não deveria transcender
os limites do que se julgava necessário para pacificar a região
e contornar possível expansionismo estadunidense ou
europeu. Defendia-se uma posição lindeira histórica brasileira,
não uma postura imperialista por parte do Brasil.
 Assis Brasil e Rio Branco concordaram em indenizar a Bolívia
no valor de 2 milhões de libras, ao que Rui Barbosa se opôs
ferozmente. A imprensa também os criticou, na medida em
que esse mesmo território era disputado pelo Peru com a
Bolívia, e se o Peru vencesse a questão, o Tratado de
Petrópolis poderia ser rasgado. Pouco depois, de fato, faz-se a
disputa lindeira entre Bolívia e Peru, com mediação argentina,
que dá ganho de causa aos peruanos. A questão se resolve em
190918.
o Voltava à baila, ainda, a promessa brasileira de construir ferrovia Madeira-
Mamoré, que ligaria a porção setentrional da Bolívia a Porto Velho,
oferecendo, nesse sentido, acesso ao oceano Atlântico.
 Não poderia a proposta melhor atender à geopolítica boliviana.

17
Fato histórico interessante, Getúlio Vargas integrou essas tropas.
18
Altamente recomendável a leitura das principais bibliografias do Barão do Rio Branco.
 Quando prometida pela primeira vez, em 1867, a ferrovia não
apresentava senão interesse limitado para La Paz, visto que a
Bolívia tinha acesso ao oceano Pacífico.
 Após a derrota na Guerra do Pacífico, em 1883, tornou-se
premente escoar a produção boliviana pelo rio Amazonas e
seus afluentes, em direção ao Atlântico.
 Nesse sentido, Rio Branco garantiu à Bolívia livre navegação
pelo complexo fluvial do Amazonas.
o Malgrado pequenos ajustes de fronteira, o tratado de
Petrópolis, assinado em 1903, incorporou o Acre ao
Brasil, pondo termo às disputas lindeiras entre Rio de
Janeiro e La Paz.
 A assinatura do tratado de Petrópolis repercutiu duramente na fazenda de
Descalvados, localizada às margens do rio Paraguai, no Mato Grosso.
o Tratava-se de um empreendimento de capital belga, que buscava constituir,
para além da promoção da indústria do charque, uma colônia no Oeste do
Brasil, precisamente na fronteira com a Bolívia.
 O empreendimento chegou a contar, conforme relata Domingos Sávio
da Cunha Garcia, com um Exército paramilitar liderado por forças
públicas da Bélgica que haviam lutado no Congo, então sob controle
de Leopoldo II:
 “a expectativa dos belgas era de que a posse do território do
Acre pelo Bolivian Syndicate lhes abrisse um caminho para
tentar estabelecer na fronteira Oeste do Brasil com a Bolívia, a
partir de Descalvados, um empreendimento colonial
semelhante àquele implantado na África”.
 O desajuste entre o Bolivian Syndicate e os Estados Unidos, ou
o não endosso estadunidense dos empreendimentos dos
acionários no Acre, contribui para que as pressões belgas no
Mato Grosso arrefecessem, o que alijava do Brasil novo risco
de expansionismo europeu.
Rota 20 – A América do Sul na Chancelaria de Rio Branco (6 – 6.1 – 6.2 – 6.3 – 6.4 – 6.5 – 6.6 –
6.7 – 6.8)
 Política de aproximação com a América do Sul:
o Em 1904, conflitos internos no Paraguai e no Uruguai testaram a validade da
nova retórica do Itamaraty:
  Novas tensões entre blancos e colorados no Uruguai punham em risco
a momentânea estabilidade política entabulada pelo governo de José
Batlle y Ordóñez, cujo partido colorado era historicamente favorável
ao Brasil.
 Os blancos, por sua vez, obtinham as difusas simpatias do
governo de Júlio Argentino Roca.
 Paranhos Júnior optou por evitar novas ingerências brasileiras
no Uruguai, o que não significava desinteresse pela política
platina.
o Quando Batlle y Ordóñez consolidou sua posição no
Uruguai em detrimento dos blancos, Rio Branco
buscou adensar os laços com os orientais colorados,
de forma a perfazer o equilíbrio entre o Brasil e
Argentina na bacia do Prata.
 No Paraguai a situação política era ainda mais delicada.
o O governo colorado de Juan Antonio Escurra viu-se ameaçado por levantes
liberais, que contavam com o decidido apoio de Júlio Argentino Roca.
 Os subsequentes golpes no Paraguai derrubaram Escurra e trouxeram os liberais ao
poder:
o Para o Brasil:
 garantir o equilíbrio platino pela separação entre argentinos e
uruguaios.
 Rio Branco cedeu aos uruguaios o condomínio da Lagoa Mirim
em 1909.
 Era maneira de enterrar as antigas discórdias oriundas do
tratado de limites de 1851, julgado injusto não somente pelo
partido blanco do Uruguai, mas também pelo colorado.
 Não se deu, entretanto, uma harmonização na relação entre
Brasil e Argentina.
o O reequipamento das Forças Armadas brasileiras, central para Rio Branco na
lógica de eixos múltiplos de poder, é resposta à Argentina?
 Respondia também ao incidente Panther.
o Em 1905, a canhoneira alemã Panther,  embora tivesse
autorização do Brasil para realizar práticas de
artilharia na Baia da Ilha Grande, violou a soberania
nacional ao atracar no litoral catarinense e conduzir,
por terra, tropas que alegadamente estariam a
procura de desertores.
o Rodrigues Alves encomendou a compra de
três dreadnoughts,  de três scout cruisers, de
quinze destroyers,  de três submarinos.
 Estanislao Zeballos:
o  Advertiu o Presidente Alcorta da nova ameaça brasileira e incitou-o a
promover nova corrida armamentista, não mais contra o Chile, mas contra o
Brasil.
o Exigiu de Rio Branco que o Brasil concedesse à Argentina, como prova de
equilíbrio do poder, um dos três dreadnoughts que Rodrigues Alves
encomendara em 1906.
 A recusa do Itamaraty levou Zeballos a elaborar plano de ataque ao
Brasil e de consequente ocupação do Rio de Janeiro.
 Por descuido de Zeballos, o plano veio à tona nos jornais
portenhos, o que forçou a demissão do ministro das Relações
Exteriores de Alcorta.
 Em 1908, Zeballos interceptou o telegrama número 9 que
Paranhos Júnior enviava à legação brasileira em Santiago:
o  Ajustou-o a sua moda e publicou-o na imprensa.
 Pela decodificação de Zeballos, haveria um
suposto conluio entre o Brasil e o Chile em
detrimento da Argentina.
 Rio Branco apressou-se em tornar público o
documento secreto, no qual se lia que o
Itamaraty tencionava adensar os laços de
amizade entre a Argentina, o Chile e o Brasil.
 As hostilidades entre o Brasil e a Argentina arrefeceram quando Roque Sáenz Peña
(1910-1914) substituiu José Figueroa Alcorta (1906-1910).
o Fim da corrida armamentista.
o Rio Branco insistia na necessidade de constituir um triângulo de paz na
América do Sul (Pacto ABC). Seria um mecanismo de equilíbrio e segurança.
o Recusa argentina!
o Chancelaria argentina prefere manter o status quo: havia suspeita quanto ao
intenso relacionamento do Brasil com os EUA, enquanto a Argentina se
relacionava de forma mais intensa com a Inglaterra.
Pontos relevantes sobre o americanismo do Barão do Rio Branco
- 3ª Conferência Pan-americana realizada no Rio de Janeiro em 1906;
- Contexto das reformas urbanas de Pereira Passos na então capital da República;
- Posição brasileira na conferência: não subserviente;
- Eixos de atuação do Barão: 1) mostrar à América Latina o alinhamento de interesses
e o fortalecimento da aliança com os EUA, para alçar o Brasil à posição de segunda
potência do continente e de potência intermediária em escala global; 2) no plano
bilateral, a relação com os EUA não devia estar fundamentada na subserviência
brasileira, até mesmo porque os EUA eram visto como uma possível potência
imperialista com interesses na América do Sul;
- Por isso fala-se em americanismo pragmático do Barão do Rio Branco;
- Discurso de Rio Branco causa surpresa: ele passou a mensagem de que o
estreitamente de laços com os EUA não significava o abandono de laços históricos
com potências europeias, sempre tendo em vista a defesa dos interesses soberanos
do Brasil.
Rota 21 – O Americanismo Pragmático de Rio Branco
 O americanismo pragmático de Rio Branco veio à tona durante a III Conferência Pan-
Americana, organizada no Rio de Janeiro, em 1906:
 Elihu Root, Secretário de Estado sob a presidência de Theodore
Roosevelt, no Brasil. Como tirar proveito da visita?
 No plano multilateral:
o Deveria servir como sinal de estreitamento de laços
entre o Brasil e os Estados Unidos.
 No plano bilateral:
o Marcar relação não fundamentada na subserviência.
 
 A cumplicidade entre Brasil e Estados Unidos, verificada no Rio de Janeiro, não se
ratificou em junho de 1907.
o II Conferência de Paz da Haia:
 Tinha por escopo contornar os riscos de um conflito mundial, uma vez
que a formação de dois blocos europeus, constituídos pela Entente
Cordiale  e pela Tríplice Aliança, dava maus presságios sobre a
manutenção da paz.
 Ao contrário da I Conferência de Paz, na qual participaram somente o
México e os Estados Unidos entre os países americanos, a II
Conferência incorporava dezessete delegações latino-americanas, nas
quais não eram poucas as personalidades presidenciais e ministeriais.
 A Argentina apressou-se em trazer à baila a Doutrina Drago:
 A delegação uruguaia propôs mecanismo de arbitragem
compulsório para assegurar a paz nas relações internacionais.
 Seguiu-se discussão plenária acerca da constituição de um
Tribunal Permanente de Justiça.
o As intervenções de Rui Barbosa foram de encontro às propostas
estadunidenses.
 Rui Barbosa endossou a Doutrina Drago:
o Seu fundamento jurídico era a tese do jurista
estadunidense James Hamilton, segundo a qual
contratos firmados entre Estados somente obrigavam
as partes.
  Respeito ao princípio de igualdade soberana
das nações.
o Em uma cartada única, Rui Barbosa obtinha os
aplausos de Sáenz Peña e o assentimento da América
do Sul!
o Os Estados Unidos não cederam e mantiveram o apoio
às potências europeias, que não respaldavam o pleito
brasileiro pelo assento permanente no Tribunal de
Justiça.
 Americanismo do Barão de Rio Branco vs. Americanismo de Joaquim Nabuco
 Nabuco:
o Defesa do pan-americanismo.
 “A política de aproximação com Washington equivale ao maior dos
Exércitos, à maior das Marinhas; Exército e Marinha que nunca
poderíamos ter”. Logo, não era ideológico/ingênuo.
 Aliança estratégica com os EUA (melhor do que alinhamento
automático)
 América do Sul ficaria em segundo plano.
 
 Barão do Rio Branco
o Defesa do pan-americanismo.
      Brasil daria apoio a Washington em questões hemisféricas.
 Ao mesmo tempo, Washington apoiaria o Rio de Janeiro no
processo de multilateralização da Doutrina Monroe (Gelson
Fonseca Júnior). A ação norte americana no hemisfério deveria
ter a participação das demais nações americanas.
 Em caso de resistência norte-americana no que diz respeito
à multilateralização do Doutrina Monroe, ora alianças com a América
do Sul reequilibrariam, a favor do Brasil, a balança hemisférica de
poder; ora alianças com a Europa reequilibrariam, a favor do Brasil, a
balança internacional de poder.
 
 Americanismo do Barão do Rio Branco é pragmático (ou realista) quando confrontado
ao americanismo de Nabuco? Seria o americanismo de Nabuco ingênuo ou ilusório?
 Para ambos os dois, as motivações diplomáticas brasileiras deveriam
ordenar-se pela defesa da soberania nacional (segurança territorial; e,
eventualmente, econômica).
 Em ambos os dois há marcas de liberalismo:
o Relações intensas estratégicas com os EUA:
 Desenvolvimento econômico e industrial dos
povos como elementos de pacificação.
 Interligação e interdependência mútua
nublariam os ganhos que poderiam advir de
uma guerra.
 Em ambos os dois há marcas de realismo:
o Nabuco:
 “O Brasil é um mundo sobre o qual cada dia
mais se dirigem as cobiças das nações que têm
fome de terra, das raças que precisam
expandir-se.”
 Sem capacidade de defesa própria, era
necessário ter como objetivo uma aliança com
os Estados Unidos para garantir a manutenção
do Estado soberano.
 Crença em um sistema anárquico das
relações entre as unidades políticas
europeias.
 Crença em um sistema hierárquico das
relações entre as unidades políticas
americanas.
 O Brasil, por sua importância financeira e econômica, deveria
desempenhar papel de interlocutor e de intermediário entre o
mundo americano anglo-saxão e o mundo americano latino.
 Rio Branco:
o Não discorda de Nabuco no que diz respeito às relações entre as unidades
políticas europeias.
o Tampouco discorda de Nabuco quanto às relações entre unidades políticas
americanas:
 Contudo, por haver hierarquia na ordem hemisférica, reequilíbrio da
balança do poder é chave-mestra para garantia dos interesses
brasileiros em caso de ação imperialista norte-americana.
 De que forma?
o Aliança com a América do Sul.
o Aliança com a Europa.
Rota 22 – Os Sucessores do Barão
 A eclosão da Revolução Mexicana fez do Brasil o baluarte da cumplicidade
estadunidense na América do Sul.
o O governo situacionista de Victorino Huerta, no México, desentendeu-se com
o de Wilson, o que levou a ruptura das relações diplomáticas em abril de 1914.
 No Brasil:
 Itamaraty não reconhece o governo de Huerta.
o Mas!
 A legação brasileira foi mantida na Cidade do
México, o que permitia aos Estados Unidos
representar seus interesses por intermédio da
representação diplomática brasileira.
o Poucos meses depois, em 28 de junho de 1914, era deflagrada a Primeira
Guerra Mundial.
 O esgotamento do concerto europeu projetou a Argentina, o Brasil e o
Chile como Estados mediadores das delicadas relações entre Huerta e
Wilson.
 Em julho de 1914, concluíam-se as negociações de Niágara Falls: a paz
entre o México e os Estados Unidos foi assegurada, o que era um êxito
para a Argentina, para o Brasil e para o Chile, mas o clima de guerra
civil no México perdurou para além da Constituição de 1917.
 Em maio de 1915, cientes dos benefícios que a coalizão de forças lhes
ofereceu no México, a Argentina, o Brasil e o Chile concluíram a
assinatura do tratado para facilitar a solução pacífica de controvérsias
internacionais.
 Fundava-se o Pacto ABC, cujo escopo era garantir paz na
América do Sul, sem constituir qualquer ascendência sobre os
vizinhos.
 Lauro Müller teve de acomodar a inserção internacional do Brasil na lógica da Primeira
Guerra Mundial. A premissa da política externa brasileira nesse momento era garantir
a segurança nacional, sem importar um conflito considerado estritamente europeu.
o A declarada neutralidade inicial do Brasil foi contestada pela Inglaterra e pela
França:
 Aliados estão sob bloqueio naval que a Alemanha impusera.
  Instigam a ruptura das relações comerciais do Brasil com as
potências Centrais.
o Em janeiro de 1917, os Estados Unidos interceptaram telegrama enviado pelo
ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Arthur Zimmermann, a seu
representante no México.
 Em fevereiro de 1917, Wilson rompeu relações diplomáticas com as potências Centrais
e instou o Brasil a fazer igual.
o Müller, contudo, não cedeu, o que motivou Rui Barbosa a vislumbrar no
Itamaraty um bastião germanófilo no Brasil.
o As críticas de Rui Barbosa em muito associam o sobrenome do chanceler
brasileiro à demora em declarar guerra ao Eixo.
 Embora Müller não fosse germanófilo, advogava a manutenção da
neutralidade.
o Em abril de 1917, após o torpedeamento de navios mercantes brasileiros na
costa atlântica francesa por submarinos alemães, a opinião pública brasileira
não fez senão pressionar o Itamaraty pela adoção do americanismo que
caracterizou as gestões anteriores.
o Em maio de 1917, Lauro Müller cedeu o lugar a Nilo Peçanha, quem
rapidamente abandonou a neutralidade de 1914 e promoveu a ruptura das
relações diplomáticos com a Alemanha.
o Em outubro de 1917, o Itamaraty reconhecia estado de guerra: ficava
autorizado o Executivo a declarar estado de sítio e a tomar posse de bens de
súditos inimigos.
 Navios mercantes alemães surtos foram retidos no litoral brasileiro.
 Do lado alemão, as sacas de café brasileiro anteriormente importadas
não foram pagas.
o Único país da América do Sul a enviar tropas à Europa, o Brasil contrastou com
a neutralidade argentina mantida ao longo do conflito.
Rumaram aviadores, médicos e observadores brasileiros à Europa. A Divisão Naval em
Operações de Guerra, contudo, não alcançou à península ibérica devido a um surto de gripe
espanhola que afligiu a tripulação em costas africanas.
 A insistência de Rui Barbosa em tomar parte das hostilidades resultou em alguns
benefícios aquilatados durante a Conferência de Paz de Versalhes.
o Sob a liderança de Epitácio Pessoa, chefe da delegação, o Brasil obteve dos
aliados a redação dos artigos 230 e 440 do tratado de paz, que versavam,
respectivamente, sobre:
 a reparações financeiras que a Alemanha deveria oferecer ao governo
brasileiro em vistas do café apreendido
 a posse dos navios alemães surtos retidos definitivamente no Brasil.
o A primeira reunião da Liga das Nações, criada em 1919 conforme o décimo
quarto ponto da lista de Wilson, contou com a participação da diplomacia
brasileira.
 O Brasil obteve das grandes potências, devido à insistência dos
Estados Unidos, a condição de membro temporário do Conselho da
Liga.
 Governos de Epitácio Pessoa e de Arthur Bernardes:
o Desavenças no plano regional:
 As marinhas argentinas e chilenas, no decurso da década de 1910,
deixaram em posição de inferioridade numérica a brasileira.
 Epitácio Pessoa recebeu com entusiasmo a proposta do Presidente do
Paraguai, Manuel Gondra, para construir ferrovia que ligasse Assunção
ao porto de Santos via o Mato Grosso.
 A um só tempo, a ferrovia permitiria ao Paraguai reduzir a
dependência com o porto de Buenos Aires e daria ao Brasil a
possibilidade de um rápido deslocamento de tropas em caso
de ataque contra a Argentina.
o A geopolítica triangular entre Rio de Janeiro, Buenos
Aires e Assunção parecia recobrar viço nesses
primeiros anos da década de 1920.
 Iniciativa de integração física entre o Brasil e o Paraguai não alcança sucesso:
o Mas!
 Cumplicidade manteve-se firme ao longo da V Conferência Pan-
Americana de Santiago do Chile, de 1923.
 A Argentina e o Chile defendiam a necessidade de estacionar
de vez a corrida naval que não cessara desde o início do
século.
 Afrânio de Melo Franco, então delegado brasileiro em Santiago, recusou-se a aceitar a
proposta, visto que a manutenção do status quo  naval significava consolidar a
inferioridade numérica da Marinha brasileira.
 Manuel Gondra propôs o Pacto Gondra, isto é, o arbitramento como método para
garantir a solução pacífica de controvérsias. O pacto é bem recebido por Afrânio de
Melo Franco.
 No plano global, a diplomacia brasileira caminhava a largos passos para o isolamento:
o A diplomacia de Arthur Bernardes convenceu-se de necessidade de
representar a América no Conselho permanente da Liga das Lições, sendo o
Brasil o candidato natural em face da recusa do Congresso estadunidense em
autorizar a participação dos Estados Unidos na Liga.
 Para consolidar sua crença, Bernardes nomeou Afrânio de Melo
Franco delegado permanente junto à Liga das Nações.
 Como fórmula de auxílio à ação de Melo Franco, nomeou-se
Raul Fernandes para realizar verdadeiro trabalho de lobby  na
Europa.
o Se conseguisse elevar o Brasil a membro permanente
do Conselho da Liga, Bernardes ganharia, acreditava-
se no governo, a credibilidade de uma opinião pública
pouco afeita à ortodoxia fiscal introduzida em 1922.
 Em dezembro de 1925, as potências europeias vencedoras da Primeira Guerra Mundial
assinaram os Tratados de Locarno, pelo meio dos quais a Alemanha aceitava a
desmilitarização da Renânia, os limites lindeiros estabelecidos na Conferência de
Versalhes e o arbitramento em caso de controvérsia internacional.
o Era a forma que a República de Weimar alemã encontrou para obter voto
favorável à demanda de ingresso na Liga das Nações.
o Era maneira para as potências aliadas de fissurar a aproximação germano-
soviética confirmada na assinatura do tratado de Rapallo, de 1922, segundo o
qual a República de Weimar e a Rússia Soviética renunciavam às reivindicações
territoriais e financeiras entre ambos acordadas quando da saída da Rússia da
Primeira Guerra Mundial, em março de 1918.
 Inicialmente, o governo de Arthur Bernardes não se opôs à candidatura da Alemanha,
vislumbrando na possível reforma do Conselho da Liga maneira de tornar permanente
o assento temporário do Brasil.
o Em março de 1926, os membros da Liga das Nações decidiram proceder à
ampliação do Conselho.
 A Alemanha era o candidato privilegiado da Inglaterra e da França,
visto que enxergavam no ingresso alemão possível política de
pacificação na Europa.
 A diplomacia de Bernardes opôs-se rispidamente:
 Comunicou à Liga seu afastamento em caso de adesão da
Alemanha ao quadro permanente do Conselho.
o Melo Franco, ainda, dizia ser o Brasil o candidato por
excelência do continente americano, embora não
contasse com o apoio da integralidade dos países
latino-americanos.
 O Brasil parecia ter falhado em sua alegada liderança do continente:
o Em 1920, Honorio Pueyrredón, chanceler argentino, comunicava o
desligamento de Buenos Aires da Liga.
o Em 1925, convocou-se ume reunião secreta de Estados latino-americanos
para debater o ingresso da Alemanha na Liga, a qual o Brasil não foi
convidado.
o A Venezuela passou a insistir na necessidade de renovar os assentos
temporários do Conselho.
o Em junho de 1926, o delegado Afrânio de Melo Franco, prevendo que o
Brasil poderia perder o assento temporário, interpôs seu veto ao ingresso da
Alemanha: era vencer ou não perder, conforme dizia a presidência.
o A Alemanha tornou-se membro permanente do Conselho em 1926, e
Bernardes comunicou o desligamento do Brasil da Liga da Nações.
 Voltava Melo Franco para o Brasil, alegando que a Liga parecia mais a Santa Aliança
de 1815 do que o ente internacional arquitetado por Woodrow Wilson.
 A Espanha, que também pleiteava um assento permanente, juntou-se ao coro
brasileiro e retirou-se da Liga.

Rota 24 – Debatendo a Historiografia


1. Proclamação da República (1889)
 
 Fatores acumulativos
 Desfiladeiro de questões  leva à crise do Império.
o Religiosa, servil, republicana e militar
 Manifesto Republicano, Lei do Ventre Livre, prisão dos bispos,
reforma eleitoral de 1881, insubordinação na caserna,
campanha federalista, abolição.
o Agência vs. estrutura
 Determinações desiguais
o Implosão da estrutura imperial:
 Oliveira Viana (1925), José Maria dos Santos (1930), Pandiá Calógeras
(1930):
 Monarquistas foram responsáveis pelo fim do Império.
o Nunca houve convicção republicana.
o Abolição da escravidão foi determinante.
 Christian Lynch (2018)
 Instituições imperiais eram plásticas e flexíveis.
o Reformismo imperial acelerado a partir de 1870:
autonomia administrativa para as províncias, fomento
à imigração, liberdade de ensino, ferrovias.
o Por que, então, reformismo do Império não tolheu o
advento da República?
 Golpe militar – sem grande papel importante
dos civis –, para garantir o bem-estar da
corporação.
o Os atores decisivos:
 Ouro Preto (1891):
 Militares (oficiais veteranos do Paraguai) aliaram-se com
fazendeiros ressentidos com a abolição.
 Quintino Bocaiúva (1900):
 República proclamada para corrigir os vícios do Império.
o Era aspiração nacional.
 Aristides Lobo (1889): tese dos bestializados.
 José Murilo de Carvalho: cidadãos em
negativo (cidadania reativa).
 Opinião pública restringia-se à classes
dos proprietários ou à elite imperial.
 Não havia verdadeiro espírito
associativo.
 Papel dos militares:
 Werneck Sodré (1962):
o Sentido de corporação, após Guerra do Paraguai,
permitiu uma unidade política.
 Victor Izecksohn (1997); William Dudley (1972):
o Havia corporação, mas não unidade política.
 Profissionalização da tropa passou por (após a
guerra): alto grau de conhecimento
institucional, autonomia institucional, esprit
de corps, controles internos, ética social.
 Wilma Peres Costa (1990), John Schulz (1994), Ricardo Salles
(1990):
o War generation teve papel basilar na irradiação de
suas insatisfações nas novas gerações de oficiais e nos
desentendimentos com civis.
 Celso Castro (1995); Hendrik Kraay (2004):
o É a mocidade militar o que interessa!
 Alain Rouquié (1980):
o Ideia de partido militar:
 As Forças Armadas podem ser entendidas
como partido, porque preenchem as mesmas
funções elementares dos partidos eleitorais: à
imagem desses, as Forças Armadas possuem
processos de tomada de decisão, de
articulação de interesses e de escolha de
porta-vozes.
 Antônio Carlos Peixoto afirma que a
historiografia sobre as Forças Armadas no
Brasil divide-se em duas visões:
 Visão instrumentalista vs. visão
autonomista.
o Ideias decisivas:
 Ângela Alonso (2002)
 Evolucionismo, positivismo, darwinismo social.
 Federalismo, liberalismo, republicanismo.
 Determinações interdependentes
o Caio Prado Jr. (1933): Imigração, urbanização, industrialização, federalismo,
abolição e decadência das oligarquias tradicionais.
 Cisão entre setores retrógrados e setores progressistas. Essa ideia é
relativizada por uma nova historiografia, na qual o Goyena se insere.
 Contexto da interpretação (influencia a obra):
o Revolução de 1930: queda da oligarquia cafeeira,
fortalecimento dos setores industriais, projeção das
camadas urbanas.
o Emília Viotti da Costa (1964):
 Primeiro grupo:
 Emergência de novos grupos economicamente dominantes ou
politicamente influentes.
o Explicou-se o declínio do Império por intermédio da
ascensão dos cafeicultores do Oeste paulista – que se
mostraram rapidamente republicanos e federalistas e,
somente mais tarde, abolicionistas; e, ainda, pela ótica
do republicanismo civil fluminense, mineiro e gaúcho,
com suas variadas correntes: evolucionistas,
revolucionários e positivistas.
 O segundo grupo:
 Declínio dos grupos hegemônicos tradicionais.
o Sob esta perspectiva, a república foi consequência de
uma insatisfação com a monarquia, especialmente no
que diz respeito à abolição da escravatura.
o A cafeicultura escravocrata do Vale do Paraíba e,
indiretamente, aqueles que representavam os
interesses cafeeiros e servis no Estado teriam retirado
seu apoio à Coroa depois da abolição.
 Terceiro grupo:
 Os militares.
o Aqui, ora se deu atenção aos atritos entre a caserna e
o governo sobre questões corporativas, ora se
assinalou a emergência de um jovem núcleo
positivista – a mocidade militar – que atuou sobre a
alta patente, acelerando o contágio republicano.
 Para Viotti da Costa, a República surgiu de três forças: parcela do
Exército, fazendeiros do Oeste Paulista e representantes da classe
média urbana.
o Nelson Werneck Sodré (1962): dificuldade das instituições em se adaptarem a
uma nova realidade social e econômica.
 Classe média, cafeicultura progressista, militares.

o Exército: papel essencial, porém discute mais
problemas da caserna do que problema do Estado.
Não assumiu função partidária. Mas representa
grupos sociais até então inferiorizados na escala
social. Caracteriza Exército como representante das
classes médias.
o República resultou da aliança entre núcleo
progressista das classes rurais com representantes da
classe média.
 Definição proposta de classe média: “a ela
pertencem todos os que não exploram o
trabalho alheio em escravidão ou servidão”.
 Se as classes dominantes estivessem unidas,
as reivindicações da classe média não teriam
encontrado ressonância. As divergências que
dividiam as classes senhoriais facilitaram a
concretização do movimento.
 Atentar para a discussão sobre o descolamento do capital financeiro em relação ao
capital produtivo, ou seja, o já estudado processo de financeirização por que passou a
economia brasileira à época da proclamação da república. O antigo capital escravista
passa para o capital financeiro, que irá financiar a altos juros o empreendimento
cafeeiro do oeste paulista, o que irá gerar descontentamentos.
 Atentar também para o movimento do Oeste Paulista (Glicério, Campos Sales e Arthur
Bernardes) rumo à mão de obra livre, como forma de prejudicar seus concorrentes do
Vale do Paraíba.
 Há uma cisão na classe dominante, abrindo-se espaço para que os militares fizessem a
ponte entre os grupos no projeto republicano. Essa aliança dura muito pouco, porque
após a proclamação os interesses conflitantes levam à chamada entropia republicana.
1. Coronelismo entre variações e permanências
 Vitor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto (1948):
o Coronelismo não é simplesmente um fenômeno da política local, não é
mandonismo.
o É o vínculo entre município, Estado e União:
 Entre coronéis, governadores e presidente.
 Num jogo de coerção e cooptação exercido nacionalmente.
 “Coronelismo é sobretudo um compromisso, uma troca de
proveitos entre o poder público, progressivamente
fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais,
notadamente os senhores da terra. Não é possível, pois,
compreender o fenômeno sem referência à estrutura agrária,
que fornece a base de sustentação das manifestações de
poder privado ainda tão visíveis no interior do Brasil”.
o Superação da análise dicotômica que opunha ordem privada e ordem pública:
 Superação da visão de Nestor Duarte, em A ordem privada e a
interpretação política nacional  (1939):
 Atuação do Estado seria rarefeita no extenso território
brasileiro, pois exclusivamente emergiria em determinados
momentos de surtos de desenvolvimento econômico e na
capital.
o Desse modo, organização municipal se submeteria aos
interesses dos senhores rurais.
o Relações são dialéticas, e não polarizadas:
 Não é litoral vs. sertão (Euclides da Cunha), nem tampouco eleição vs.
representação (Gilberto Amado).
 Nem, ainda, capitalismo vs. feudalismo.
 O coronel e o governador obedeciam a dinâmicas distintas, mas
interagiam, imbricavam-se, invadiam-se reciprocamente, corroendo e
alternando no processo a própria natureza do público e do privado.
 “Voto do cabresto” e “voto a descoberto”.
o Coronelismo:
 Resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime
representativo à estrutura econômica e social.
 Não é mera sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia
constituiu fenômeno típico de nossa história colonial.
 É antes uma forma peculiar de manifestação do poder
privado, uma adaptação em virtude da qual os resíduos do
nosso antigo e exorbitante poder privado têm conseguido
coexistir com um regime político de extensa base
representativa.
 
 Maria Isaura Pereira de Queiroz, O mandonismo na vida política brasileira e outros
ensaios (1976):
o Base da estrutura coronelística era a parentela, uma vez que o coronel
representava o chefe de um grupo, cuja coesão ocorria pelos laços de sangue
ou compadrio, bem como pelas alianças estabelecidas pelos matrimônios.
o Base da estrutura, diferentemente de Leal, era a posse de bens de fortuna, e
não a terra.
 Vias de acesso à fortuna: herança, casamento e comércio.
o Dilatação do conceito de coronelismo:
 Incorporou manifestações urbanas e os coronéis empresários ou
médicos, desvinculados das propriedades rurais.
 Base interpretativa teórica:
o Max Weber:
 Patrimonialismo.
 Oliveira Vianna, Populações meridionais do Brasil  (1918)
o Solidariedade parental.
 Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil  (1936)
o Ingerência patrimonial como entrave ao
fortalecimento da democracia, devido à prevalência
de interesses particulares de um grupo específico.
 Raymundo Faoro, Donos do poder  (1958):
o Estrutura patrimonialista transplantada para o Brasil
durante o período colonial.
o Formação do estamento burocrático.

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