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Pertencendo a expresséio ‘mysterium paschale’, também o termo ‘mysterium (ori ginariamente em grego ‘mysterion’, em por- tugués ‘mistério) vem a ocupar posicdo central na constitui¢io sobre a liturgia Sacrosanctum Concilium (nn. 5 ¢ 6; 2) na reforma litirgica razio, a Instrugdo’ Iter Oecumenici aponta como linha de chegada dessa-reforma o em: penho pastoral que, por meio da devida ce- Iebragio da liturgia, conduza a realizagao do que Se acha contido na expressio: “ut mysterium paschale vivendo exprimatur”! Com a expressio ‘mysterium paschale’ os Padres do concilio, mesmo sem entrar em uma discussiio teoldgica ainda aberta, quise- ram indicar algo muito central: aceitavam uma formulagao “agora ja de uso comum’, restabeleciam ¢ reapresentavam para ser ‘sdotada’umasacratissimatradigaodoutsinal »‘mysterion’? qualoseusenti patristico-litirgica: a liturgia, no mistério, | Norn presenepara cada cen «para todos 0s crentes, de qualquer época, a piena reali- dade do opus salutis”. O fatodeasrealidades centrais da salvagio_ ands doadas em Cristo serem indicadas com) © lermo ‘misteio"€, na verdade, dado trade tional, mas nés reconquistamos a clara ia disto somente a partir do movi- mento liturgico deste século ¢ durante ele. Paratantoserviudeocasidoconcretaareflexio sobre o sentido gensino e eventwalmente so- breacorreta tradugaodeconccitos do Missale Romanum, em particular dos termos ‘sacramentum/sacramenta’ ¢ ‘mysterium/ mysteria’. Fot sobretudo Odo Casel que mostrow, cm numerosos trabalhos, que para compreender bem 0 significado ‘de Eacramentum, era preciso ter sempre pre- fenteque, om este ermo, olatimdos ses. = Tile do periodo seguinte quiscra reproduzir 0 rego mysterion ern preciso, prtanto, rect perar.¢ restabelecer 0 contetdo tao rico do {ermo grogo origindric™. Essa hipdtese de tra- batho assinalow o tnicto de longa e por veres violenta controversia, que no fim levou ‘inicio de novos e preciosos conhecimen- tos, ainda que a critica tenha acabado por rmodiffear algumas posigdes iniciaist. Gosta- ‘amos de expor os resultados permanentes {de tais valores e da nova coneepeao dees | ‘agora jf projetada. \ I. Terminolos linguagem ONT, nos evangelhos, s6 emprega otermo em Mc4,11 e paralelos: “mistério do reino de biblica; Jenista ‘liar, Com muita_- até um conceito condutor, capaz. de exprimi MIsTERIO Deus"; no entanto, nas epistolas do Apéstolo, “ © termo assume posicso muito-central para indicar o evento salvilico em Cristo; e., por ‘exemplo, Cor 2,1 (caso 'mysterion’ seja aqui aleitura correta) e2,7; sobretudo nas episto- las tardias, como Efe Cl, ‘mysterion’ se torna {odo 0 contetido da pregagao de Crist Apéstolo quer proclamaro”mistériode Deus”, “2 sabodoria de Deus no mistério” (ICo “fazer conhecer a gloriosa riqueza deste istério em meio aos pagios, ot soja, Cristo em vs, esperanca da gloria” (Cl 1,27); e, um pouco mais adiante, diz ainda mals expres- Samente que quer introduzir “no perfelto Eonhecimento do mistério de Deus, isto é Cristo” (2.2). Vemos logo tratar-se aqui do contetido central da pregago apostélica s0- ‘pre Cristo: maspor que ¢ empregado otermo 7? Nalinguagem profana do helenismo certamente termo Significava antes de mais nadaas celebragoes rituais de vatios cultos que prometiam a sal- ‘ago através da inielaglo ao destino dos seus ticos). Os eristSos, porém, devidoa ida oposigdo aos usos e costumes pagSos, nio.oretiraram dali, porém da LXX, ) do.texto grego da Sagrada Escriturd da lin- guagem da apocaliptica e principalmente do judaismo contemporanco. Af ele significava tum “arcano escatologico, a progagao velada dos eventos futurosestabelecidos por Deus”. ‘Voltando a vincular-se a tal sentido e desen- volvendo-o, ‘mysterion’ passa depois a signi- Ticar no NT “o designio (ou plano) oculto de Deus, s6 manifestado mediante a revelagio edestinado a ser realizado no fim... 0 “‘mysterion deDeus ¢, pois, definitivamente, 0 proprio Jesus como Messias", “utha hist6ria preparada na esfera de Deus ¢ levada a seu Cumprimento” Acentoespecial ésempre posto ‘a perspectivaescatoldgieaem quetal historia se cumpriré, como se apresenta de modo clarissimo, por exemplo, em Et 1,9:Deus “nos fex conhecer o mistério da sua vontade, se- ‘gundo decisio prévia que Ihe aprouve tomar 1a levar o tempo asta plenitude: a de nele fom Cristo] recapitular todas as coisas". Para compreender e valorizar estes nexos, niio hd nevessidade de recorreraosignilicadocultual do termo, como queria a tese exagerada de | Casel. No entanto, é também verdade que ~ | essareferéncia ao significado cultual permite » , ‘compreender o sentido conereto da palavra, que indica em primeiro lugar uma acao salvifica de Deus endo, antes de tudo, apenas 6 carater do ocultamento no sentido de mis térlo doutrinal abstrato*. O significado origi- MIsTERIO nério do termo ecoa, outrossim, na LXX ena literatura apocaliptica em geral. I. Os Padres e a liturgia antiga 1. Afirmagées dos Padres — Este signi ‘eado originario permite a surpreendente ut lizagao do termo grego'mysterion’no perodo imediatamente pés-apostdlico e em toda a poca patristica. Também aféBornkamm, na suaqualidadedeobservadorneutro, que forne ‘coum quadro objetivo, Otermoaindaéusado Taramente pelos Padres apostdlicos, mas “desde os primeiros apologistas” ele se torna ‘onceito “de capital importancia para a teo- logia da liturgia sob o impulso das controvér- siascoma gnose ea religiosidade mistérica””. Resumindo, podemes dizer o seguinte: ‘mysterion’ indica agdes salvifieas, especial- mente figuras (iypoi), eventos © pessoas veterotestamentarias de caréter tipolégico que aludem futura realizagao ou cumpri- mento em Jesus Cristo; especialmente nos alexandrinos, indica também as verdades da religiio crista que se referem & realizagio da salvagdo em Cristo; finalmente, serve em ge- ral também para indicar os sacramentos. Mistério € 0 conceito que abrange tanto a acdo salvifica (de Deus em Cristo), quanto a stiarepresentacio cultual*. Ele, portanto, ora indiea Cristo, talcomoelecasuaobrasalitica foram preanunciadosnoAT, asuavvidaeasua ‘morte pela nossa salvagdo; ora aponta a atu- alizagdo de tudo isto na igreja e nos seus ritos salvificos. Mesmo reconhecendo a distancia ue existe entre esta salvacio (do AT edoNT) querida e realizada por Deus ¢ os cultos icos helenistas,¢ preciso contudo levar em consideragio o paralelismo (Justino ch: aro de imitagdo diabolica). Clemente jé se ‘mostra muito mais desenvolto ao apresentar © mistério cristo como 0 cumprimento su- premo dos pressiigios pagios e ao explicé-lo stabelecendlo comparacdes. O carater de ocultamento ocupa af posiedosecundéi: agio salvifica vem de Deus, é por ele mani- festada e revelada e, depois, novamente pro- clamada e comunicada de forma velada na celebracao cultual. Para Origenes, toda a histGria da salvacao é mistério, Deus opera a salvacio no simbolo profético, no ‘typos’ do AAT, realiza-a na vida, morte eressurreicao de Cristo © comunica-a mediante a Palavra e os Sitos cultunis da igrja, até que encontre cumprimento escatologico na manifestagio clare da relidade de Deus, que cota ta por trés de cada um dos mistérios. Os Padres posteriores seguem esta mesma dirego. Sob 158 ‘© aspecto sistemético, Gregério de Nissa re- resenta, até certo ponto, o seu vértice. O imysterion’é, no sentido da teologia paulina, agio salvifica de Dous em Cristo e prociso- mente na sua triplice gradagio: AT-Cristo- jgreja. Depois, em sentido ainda mais geral,¢ arealidade salifica ocultasobosinal,simbolo ‘u ‘typos, externo, tanto nas formas histo casdo AT edo NT, quanto na sua reproducio cultual, destinada’a comunlear aos cis 2 particfpaeso na. prépria agiosalvifica reproduzida. & assim que permanecem, em- bora com matizes diversos, 0 sentido © 0 significado de'mysterion’ nos Padres gregos: gio salvifica de Deus em Cristo ¢ sua re produgio comuni “Enquanto isso, a pregagdo cristd invadiua frea ating. 0 termo Tating ‘mysterium, tomado do grego, ja éconhecido desde os tempos de Cicer af, porém, ele perdeu em grat mais nitido o seu significado Gulual eno campo cristo passoua indica YVerdade revelada ea prefiguragao {iypos velerotestamentatia,Considerando, contido, ‘que ele continua de certo modo a repetir 6 Significado cultual e, porianto, a recordar os los pages, sobretudonocampodaprimeira formagso de um latim eristio (na Africa) 3° dew preferénefa 2 sua tradugio fatina: a0 {ermo'sacramentumTertuliano, mesmono sendo 0 autor desea traducio, reservouthe decidida preferéncia. artindo do significado biblico,o termo ‘sacramentum’ assume rica varedade de sentios no pla litre Conereto significa sacrificioeritosagrado (no sentido hodierno de sacramento ¢ de sacra- ‘mental); de modo especial indica o batismo om as suas obrigagdes de fidelidade (Fazen ddo eco 20 sentido profano de ‘sacramentum isto é, juramento do recruta mediante cor sagragao a divindade). Em plano mais abs- trato, significa ‘typos’ do AT, arevelagio do NT, isto ¢, economia da salvaglo operada em Cristo, a religizo crit, uma verdade es: condida. E assim que Tertuliano fala do “felix Sacramentum aquae nostrae" (De bapt. 1): da “eucharistiae sacramentum’ (Decorona3)cle afirma que “caro abluitur... ungitur.., Signatur..., veseitur..... quam D sacramentis suis disciplinisque vestivit” (De resurr. 9); “vocati sumus ad militiam Dei vivi iam tune, cum in sacramenti verba res- pondemus” (Ad martyres 3). Pouco a pouco, porém, as sutis distingdes gnire o “‘mysteriuim latino ¢ a sua traducao ‘sacramentum’ foram desaparecendo com- pletamente, 159 Napoca seguinte, reveste-se de particular importincia Agostinho, que, com o termo ‘sacramentum vai cada vez mais indicando fatos, agdes, rtos cristaos e até ritos do AT. Ele desenvoive, de maneira autonoma ect tiva, tudo o que haviam afirmado a teolo agrega, e, particularmente, a alexandrina, © orienta toda a teologia latina posterior no sentido de ver no’‘sacramentum’ um tito sa- grado, um sinal santo, um sinal vis(vel (Signum) de coisas divinas, em que nos sao mostradas realidades invisiveis. Isto deve ser entendido, antes de mais nada, em sentido muito intelectualista: [0 sinal] faz conhecer algo diferente de si” (Docir.christ.2, 135). Estes sinais, todavia, sdo de natureza tal que também possuem semelhanga ontolégicacom coisa indicada: “Com efeito,scossacramen- tos nio tivessem ceria semelhanga com a5 coisasde que sio sacramentos, nao seriam de forma alguma sacramentos” (Ep. 98,9). Mas coisa indicada, a ‘res a realidade, no fundo semprefoiamesia, isioé,Cristoca suaagdo salvifica, B af Agostinho se coloca plenamen- tena linha da antiga concepeao do 0s mistérios/sacramentos sS0 08. sina! areanos, que aludem & titima e suprema realidade salvifica de Cristo. Os ‘typoi' do AT Sfoossacramentosda futuraagiosalvficade Cristo, da sua paixio, morte e ressurreiga0; por sua vez, também os ritos do NT sio acramenta’ quealudemaCristo, Aeconomia salvifica abrangente de Cristo, também en- ‘quanto ela ainda espera por se realizar plena- mente no futuro. Por conseguinte, 08 “sa cramenta’, so, de um lado, “signa prac. hnuntiativa” (no AT), portanto, “promissiva” (no NT) da salvagio escatoldgica, mas tam- bbém, desde, “signa contemplativa’,"dantia salutem” (Cir: Faust. 19, 14)-Por isso, cles nda Stosimplesmentesinais intcloctuaisalusivos, masdecertomod comunicamoque indicam. Para os gregos (por exemplo, para Orfgenes), esse aspecio realista do simbolo era mais marcante e importante, contudo também Azostinho ainda ‘ra, suicientemente neoplatonico para pereeber e diseernir, no Sncramento e'no seu earater de sinal, de imagem, a partieipagio na realidade origin ade Cristo Esto tanto mais qu para cleo simbolo material se completa com a palavra “Accedit verbum ad elementum, et fit secramentum” Joh 803) Eta plavraga palavra de Cristo, transmitida por meio da Igrejacdasua fe, de tal modo que éCristoque, 1no fundo, opera no ‘sinal’¢ torna os ficis participantes desua acto salvfica. Agostino pio dizaindaqueosinalseja"signumefficax”. MIsTERIO © seu coneeito de sacramento é demasiado amplo para se limitar a este aspecto; o sacra- mento alude a realidade, indica a realidade salvifica de Cristo em todo o seu aleance ¢ torna os homens partieipantes dela’ Este concelto rico de ‘sacramentum (mysterium)'volta com particular frequéncia ‘em Leiio Magno. Ele ¢ pregador festivo que mostra com insisténcia como, na celebragio ccultual no “hodie” do eulto divino, o memo- rial das ages salvificas passadas nos faz participarexatamentedelas. ‘Salvator noster, dilectissimi, hodie matus est, gaudcamus” (Sermo 21, 1): "Hodic... auctor mundi editus est utero virginali” (Sermo 26, 1); “Cuius facti ‘memoriam merito placuit honore anno celebrari" (35, 1). A celebracao memorial {az de certo modo reviver o evento: “Renovat tamen nobis hodirnafestvias nat Jesu ex Maria virgine sacra primordia” (26, 2): "Reparatur enim nobis salutis nostrae annua revolutione sacramentum, ab initio pro- ‘issum, in fineredditum, sine finemansurum: in quo dignum est nos... divinum adorare ‘mysterium” (22, 1), Em uima mistura confusa ¢ caracteristica os termos ‘mysterium’ e ‘sacramentum’ indicam as ages salvificas histGricaseacelebragiolltrgicadasmesmas, @ tltimo sentido oculto de tais agdes ¢ a doutrina crista que nos fala delas e da salva- ‘Glo que por meio delas nos é conferida. Com {ais termos pretende-se expressar toda a obra da redencao, o plano salvifico ea sua realiza- ‘¢lo na histéria, a sua celebragio cultual, a festa, 0 rito, 0 sinal sagrado, “Excellens Passionis |'dominicaesacramentum celebremus” (Sermo 42, 1); “Celebrantes ppaschalis festi inaestimabilis sacramentum” (66, 4); “Baptismi sacramentum celebretis” (16, 1); ‘Solemnitatum vicina sacramenta” GI, Ds "De salutis suae sacramentis gaudeat ecclesia” 25, 5);"Caclestismilitiaesacramenta servaveris" (22, 5); "In dispensationibus sacramentorum Christi" (37, 1 forum non est neganda commun 11), Enfim, uma singular combinagao dos dois conceitos: “Ut. sacraméntorum paschalium divina mysteria digno sus- Cipiantur officio” (Sermo 45, 2). Estes poucos exemplos bastam para mostrar como Ledo, com oauxilio dos conceitos fundamentais de ‘mysterium (mysteria)’ e ‘sacramentum (sacramentay, tem condigées de sintetizar a tunidade do evento salvifico que no decorrer do tempo se foi explicitando de muitos mo- dos. O ‘mysterium (sacramentum)’ do plano salvifico de Deus se realiza nos eventos da histéria do AT; tais eventos sio os sinais * (Ep. 12, usréRi0 (sacramenta’) da agio salvifica de Cristoe de todos 0s seus mistérios. Estes, por sua vez, ‘vem ao nosso encontro nos ‘sacramenta’ da igreja, nos quails se celebra a memria deles ¢ eles so comunicados no momento presente 405 figis; o evangelho anuncia-os; a doutrina da fé os da a conhecer. Mistério é tudo isto: plano salvifico, ago salvifica, ages histér as salvificas de Cristo, celebragio memorial de tais agdes, simbolo (‘typos’), ritos do AT do NT, contetido de fé e doutrina que trans mile tal conteddo, santa obrigacdo" 2. Testemunhos da liturgiaantiga—Esta Jingusagem também se encontra nos antigos Sacramentérios romanos, permanecendo im Aiferente ao fato de que Leao e outros bispos da época tenham composto as oragesreuni- das nos Sacramentarios, ou que jaa tenham ericontrado compostas. Trata-se do pat méniocomum da greja romana no campo da oragio, No Sacramentario Veronense lemos, por exemplo, o seguinte: "Omnipotens ‘sempiterne Deus, qui paschale sacramentum quinquaginta dierum voluisti mysterio contineri: praesia, ut_gentium dispersio. congregetut”(n. 191); “Adesto.. populo tuo, et quem mysteriis caclestibus inbuisti., des fende" (n,214):". hoc die, quo ipsum salutis Rostrae sacramentum in lucem gentium revelast..”(m.1247);".. mysteriumm, quod extitit “mundo. salutare, principalis recordatione munerisadsequimu”(n. 1255): “Deus, qui nos sacrament tui participations contingis, virtutis eius effectus in cordibus nostris operare..” (n. 1256); * iam... quae salliaris myste etiam mundo testifieante non sequitur. Ut enim in principio difficile videretur, cum ad hocsacramentum genus humanum diceretur esse venturum..”(n, 1262); Da nabis, Domi he, quaesumus, ipsius recensita nativtate vegelari, cuius caclesti mysterio pascimur et potamur (n, 1267). Acrescentamos ainda alguns exemplos do Sacramentirio Gelasiano antigo: *.-respice ropitius ad totius ecclesiae tuae inirabile sacramentum et opussalutis..operare,olus. quemundus experiatur et videatdelecta erg inveterata novari, et per ipsum redire omnia ad integrum, a quo sumpsere principium” (a 432); "Deus, qui nos ad celebrandum pas. chale sacramentum utriusque Testamenti Paginis imbuisti, da nobis intelligere miseri- cordias tuas, ut ex pereeptione praesentium munerum firma sit exspectatio faturorum” (0.437) 70 IL AfirmagSes da Idade Média A heranga patristica antiga, assim recebi- dacaceitana linguagem da liturgia (romana), continuou sendo patriménio vivo da grande teologia medieval, se bem que af ela nao tenha sido expressa com idéntica clareza também terminolégica. A identidade ea permutabilidade originaria e quase pendula dosconceitos de'mysterium’e’sacramentum’ se foram tornando cada vez mais raras. O termo ‘sactamentum’ passou a indicar cada ‘vex mais, embora nao de modo exclusivo, 0 aspectoritual;emais:em progressivoprocesso. de esclarecimento, ele foi ficando reservado — para depois ficar definitivamente reserva do —a0s ritos que sao os sete’ sacramentos io verdadeiro e propriamente espe- cifico do termo (tal como estamos agora ha- bituados a chamé-los sobretudo a partir do coneilio de Trento)". Em vezde'mysterium’, passot a indicar cada vez mais, embora nao de modo exclusivo, as agdes salvificas histé- ricas de Jesus endo mais os arcanos da fé que superam toda capacidade de compreensio" Detcrminante para a histéria ulterior do termo ‘mysterium’ foi depois a orientacao da nossa teologia especificamente catélica para © conhecimento ontoldgico da esséncia de Deus. Trata-se indubitavelmente de uma Possibilidade legitima, mas podemos dizer ‘com G. Sdhngen: “Paulo e Isafas no ser-ocul- to-de-Deus nao olham, ou pelo menos nao © fazem em primeiro lugar, para 0s mistérios da ‘esséncia’ divina, porém, sim, para o fato de serem ocultos os‘caminhos' de Deus, para © ser-oculta a acdo divina na historia salvifica”™’. No contexio das suas afirmagoes sobre a relagdo entre fé'e ‘razao!, 0 con Vat. I (sesso XIMD possui um texto classico: “A igreja catdlica sempre sustentou © con- tinua a sustentar (perpetuus consensus ecclesiaecatholicae tenuitet tenet) também isto: existedupla ordem deconhecimento, distinta ‘Bo S6 quanto a0 principio, mas também quantoao objeto: quantoao principio, porque emumconhecemospormeiodarazsonatural, eno outro mediante a fé divina; quanto a0 objeto, porque, além das coisas a que pode chegar'arazio humana, siopropostosa nossa ‘renga os mistérios ocultosem Deus, os quais 1ndo podem ser conhecidos enquanto nao sao divinamente revelados. A propésito disso 0 Apéstolo... afirma: FFalamos de uma sabedo- ria divina, misteriosa (in mysterio), que per- ‘maneceu oculta, e que Deus previamente of denou antes dos séculos... (1Cor 2,7-8).. A razio, pois, iluiminada pela fe... por graga de Deus (Deo dante) atinge certa inteligéncia frutuosissima dos mistérios... Com efeito, os mistérios divinos pela sua natureza ficam muito além (sic excedunt) do imelecto cria- do..” (DS 30158). Tais verdades so fundamentais para a teologia catdlica, mas na teologia da Idade Moderna com freqiiéncia elas foram vistas de maneira demasiadamente isolada umas das outras.A “sabedoria divina misteriosa” (ICor 2,7, que deve sr lido no contexto mais amplo de ICor 1,18-2,16) € bem mais vasta: "Con- tetido-c-objeto do mistério de Deus e da sa- bedoria de Devs nfo é a sesincia de Dest (pelo menos ndo em primeiro lugar, propria- mente), mas a vontade salvifica de Deus, a organizagdo temporal do designio salvifico divinonahistériada salvacio"'*. Naoobstante, ‘a Tdade Moderna viu no ‘mistério/mistérios’ ‘quase que exclusivamente o arcano entendi- do em sentido doutrinal e abstrato”. IV. Retorno ao significado originério A recuperagio e o restabelecimento da concepga histérico-salvifica da nossa exis- {eneia sao fruto de varios fatores: por exem- plo, de rellexdes exegetieas, de conhecimento naisaprofundadoda interpretaglocscriturts- {ica medieval” e ainda mais de renovado re- tomo fs fontes por uma teologia dogmatica qucavanca maisem profundidade, Maso fato cesta perspectivahhisrico-slvifica tersido ‘onceblda especialmentepormelodoconesito de mistério’ deve ser atribuldo de modo mais dlecisivo a pesquisa teoldgie felta dentro do ‘uadro do”> movimento litirgico modemo, Sbbretudo ao simples aprofundamento do Sentido pleno das expresses corresponden tes das oragdes romanas. 1. Casel — 0. Casel chamou com insis- tencia a atengiio paraa riqueza encerradaem tals oragbes. O estudo de textos patristicos, por exemplo, das afirmagées contidas nas Apologias de . Justino, martir, sobre a cele- bragso da eucaristia, as analogias entre cele bragoes culluais helenistas ¢ crists, e, ainda mals, 0 estudo da tradugdo do termo grezo ‘mysterion’ pelo latino ‘sacramentum"® ha- viam-no levado a compreender mais a fundo as celebracdes litirgicas ¢ a sua expressio lingtifstica no Missale Romanum depois a formular em grandes linhas a sua propria ‘concep em escritos como Die Liturgie als Mysterienfeier, Mysterium und Martyrium in den romischen Sakramentarien, Die Messe als hreilige Mysterienhandlung, escritos que te MIsTERIO am dado, inicio chamada “teologa, dos mistérios"™, surgida posteriormente. Casel cenfatiza que 03 antigos, quando falavam de ‘mistérios,, nfo entendiam apenas doutrinas teoldgicas, verdades reveladas e nogdes tco- Iogicas deias deduzidas, mas “também algo completamente diferente, algo que os tocava fe atingia mais profundamente do que tais, Serdates,oumelhorcalgoemauesomente as verdades se tornam vida, ago e realidade cficaz; isto equivale a dizer: {entendiam] a celebragio litingica das realidades salvificas cristis, a sagrada aeto mistérica, ¢, por co! seguinie, uma realidade muito concreta, visi vel, tangivel eaudivel, queconsistia nao s6 de objetos concretos, mas também de uma ago que se desenvolve diante dos olhos dos especiadoresem que eles mesmos tomam parte ativa” (Die Messe als...em Mysteriam [+ nota 19], 32s). “O espetculo sagrado (heilige Schauspiell, em que se representa a agao salvifica divina, ¢ ‘memorial’ Canam- nesis,,‘commemoratio’). O sujeito do culto € jinariamente todoo pov... memorial se © mistério. A agao misteriea, portan- to, € somente um tipo particular de agao sagrada e precisamente a que é celebrada por lum circulo eleito, escolhido, para tanto ha- bilitado por particular iniciagao, e que per- maneee absolutamenteinacessiel as profs- nos. Quanto mais sagrada é uma ago, tanto ‘maisela introduz na vida dadivindade segun- doa fédosparticipantes, tantomaisohomem tem cuidado de expé-la diante dos olhos do mundo profano... Assim sendo, tantona anti- guidade quanto no cristianismo, as mais pro- fundas e complexas ages sagradas assumem ‘nome e 0 carater de mistérios; através de ‘uma sania iniciagdoo homem fica capacitado para se aproximar dos mistérios mais eleva dos, mais altos, para entrar em unio mistica com a divindade ¢ para encontrar nela. a salvagio que permanece alé a eternidade” (de., 38).O que dissemos acima éverdade em gratt maximo justamente a propésito da cel bragio da missa (ib.). O evento que nela “é representado e realizado... é nada mais menos do que a obra da redengdo cum; por Cristo, que teve infcio com a encarnacio, aleangou 6 seu Spice na morte e ressurreigdo do Senhor e que atingiu sua realizacao plena na igreja. Trata-se, pois, de aco histérica {inca que, nfo obstante, tendo sido praticada pelo mais nobre de todos os homens, pelo ‘Segundo Adao’, pelo progenitor espiritual do novo género humano, se reveste de grande imporiancia para todo o género humano; e, como este homem era simultaneamente MisTéRI0 Deus, ela atinge a esfera da santidade divi- na, € agio divina..” (Le., 38s). Casel se per- uta: "Sera que a prdpra liturga se atio- lefine como mistério? E, se a resposta for ppositiva, em que sentido isso acontece? (Le, 46). "Mesmo quem utiliza apenas o atual ‘Missale Romanum pode responder afirmati- vamente” (Le, 46). ‘Com base nos scus estudos, ele afirma antes de tudo que o termo ‘sacramento’ nada mais significa Sendo ‘mistério'. “Sacramento tem omesmo... significado de mistério c, nos textoslltuirgicos, possuio mesmosentidoam- plo”. “Originariamente ele nfo indicava ape- nnass sete meios de graca queagem’ex opere §: pelo contrario, para osantigos todos icos, até os sacramentais, ¢ até ‘slo ‘sacramenta’, mistérios” (Le., 48). Podemos ver isto primeiramente jé em alguns textos do Sacramentério Veronen- se: "Vere dignum.... quamvis enim semper in tui guadeamus actione mysterii, copiosus tamen eius munere gratulamur, ‘cum pro martyrum solemnitate... offertur’ (Ve 806). “Sempre, nos alegramos com a agio do teu mistério”. Portanto, depois de haver discuti- do alguns outros exemplos, Casel continua: “Uma oragSo breve, mas apesar disto carre- gada de sentido — que se encontra no ‘Leonianum’ [= Ve] ¢ que, por conseguinte, pertence 8 mais antiga liturgia romana, apa- Tece porduas vezesno'Gelasianum, faliando contudono'Gregorianum, mas pelo'Gelasia- ‘num fot introduzida no Missale Romanu de hofe como ‘secreta’ do nono domingo depois de Pentecostes — diz 0 seguinte: ‘Concede- nos, Senhor, nés te pedimos, que possamos celebrar muitas vezes estes mistérios, pois todas as vezes que celebramos a meméria deste sacrificio, que te¢ agradével, realiza-se a obra da nossa redencdo.. Portanto, 0 ‘mysterium’ que é continuamente celebrado (frequentare’) consiste em uma celebra sacrifical, que é memorial; esse memorial é, aomesmo tempo, aexecuctoatual daobrada redengio™ (Le, 49). “Omemorial ndoésimpleslembranga, mera recordagdo, mas antes simbolo prenhe de rea- dade no sentido antigo do termo. Contetido € objeto da celebragto crista dos mistérios, pols, é a redengio operada por Cristo” (1 49). Como a oragio foi prontinciada origina- riamente na festa da péscoa, dat decorre que “a celebracao da pascoa, que encontra seu pice na missa, é verdadciro mistério red tor. Porissoa igrejareza assim na quintac da semana da Pasco" Dé-nos, Senhor, que nos alogremos sempre com estes mister que culmina no sacrificio da cruz e na res- ‘surreicio e também na consequente glorifi- Soptolin gra ae toroars Chtinasivente nla, dunbal pleno derealidade via, Une secret’ do Gelaslanun na clave ds pentecostes exprime claramente ¢ muito bem: Tic ponsamettor Voliando as cota he in gens falsas dos sacrificios de carne [de ani- hai nos te oferecemos cm humilde ergo, Fl supremo, uma vila espinal, quo por uinows‘c inetivel materia conti: tnctls moladog Gontinunments oferecida Sualdentidade (Le, 50: GeV 679) ‘Enoontumasa cama inguager aasora- oes do nave llssle Romareunt da reform Seeconalior. Denisntratene tates pence Eremplos que opresclamos a segue (nem sempre talaga vases omen pondem edi typica lating). “Mystria tua, Domine, sicher eee ropamusulquod. voflerimus noble roti (GP domingo ‘per annum, ‘super oblata). senildo das paavras€esc:"Aenlizagao dos tous misters. Inia a aqao sage, ere Que se realsa 9 ncrfcio coun sotto de Gristopresente (ef. 9¢domingo, ‘superoblat TStdomiago, posi communi) Alarbes.© moneracs informe, quae, placate antdmene atraspentun tret fedemptionis efficias” (4 domingo ‘per annum, ‘super oblata’). Sentido: onossodom, set por Ben ao foren ramen da towsa redengi isto sna efcas (ipnunt sacrumefficax) (cf. 5*domingo, ‘super oblata’; Tie dontago, super eblatts 19" dominge, ‘super oblate; 23" domingo, super oblaa). “Mysteriis caclestibus imbuisti” (16° do- mingo ‘perannum’, postcommunio’).Sentido: tines multe saciale Com os mistios celestes, isto é, com o alimento mistérico, ‘como pio eucaristico (cl. 19"domingo, ‘post communio; 23* domingo, ‘post communio’; 25? domingo, ‘post communio’; 27# domingo, ‘post i domingo, ‘post cot: FRanios 39" domingo ‘pon exenimgnis “Quod agit mysterio, virtute perficiat” (22° domingo, ‘per annum’, ‘super oblata’): a ago sagrada (= sacra semper oblatio) cumpre po- Saesnchioieeneed comenaralner aa sagan acgosimbole tor op reer, 2 gue; obo sats exteriores, torna-se presente a agao salvifica. ‘deta de que na ade mists oe tone presenteomisttsiosaliico™-neplosalviicn de Cristo — por certo no se acha expressa 163 com toda a clareza, mas pelo menos é men- cionada de modo a fazer parecer justificada a interpretagao que Casel havia dado emampla visdode conjunto. Na quarta-feira da semana sania rezamos (super oblata’): “Suscipe ‘munus oblatum, et dignanter operate, quod, gerimus Filii (ul mysterio passionis, eliectibus consequamur": 0 que celebra- mos no ‘mysterium’ da paixio de Cristo, na agio mistérica, na sagrada ago simbolica, aconteea para nés com plena realidade. Na segunda-feira santa rezamos dizendo (‘super oblata): "Respice... propitius sacra mysteria quae gerimus": voitao teu olhiar propicio para os sagrados mistérios que celebramos. Na terga-leira santa, na ‘collecta’ dizemos:".. da nobis ita dominicae passionis sacramenta peragere, ut indulgentiam percipere me- Teamur”: concede-nos celebrar a ‘acio mistérica’ (os ‘sacramenta’, os ‘mysteria’, a acho simbélica) de modo tal que obtenha a remissio dos pecados. Esta visio fica ainda mais clara na liturgia pascal. As oragdes da vigilia pascal falam de “paschale sacra- mentum” (depois da segunda leitura “praesentium temporum declarasti mysteria” (depois da quinta leitura); “respice propitius ad totius ecclesiae sacramentum” (depois da sétimaleitura);"nosad celebrandum paschale sacramentum utriusque Testamenti paginis instruis” (cutraoragioad libituns,ib,);"adesto ‘magnac pietatis tuae sacramentis” (depoisda ladainha dos santos). Na liturgia euearistica, assim reza a oragio ‘super oblata’: "pas: chalibus initiata mysteriis... proficiant’: ea oragio ‘post communio: “quos sseramentis paschalibus satiasti..". Sabado da oitava da ppiscoa, ‘super oblata’ *... semper nos per hace mysteria paschaiagratular om uma linguagem um pouco flutuante, mas com suficiente clareza,uusandoos termos clissicos de ‘mysteria’ ¢ ‘sacramenta’ so af indicadasasagées: da liturgia pascal: ‘aacdosalvifica pascal damorteeressurreigdo do Senhor; a participacio nela por meio dos sacramentos da iniciagao: batismo, confir- magdoc sobretudo eucaristia, eafoacentoas vezes recai mais sobre as agdes, separada- mente ou no set conjunto, ao passo que outras vezesseentendeosagradoalimentoda cucaristia af significado. O novo Missale ‘Romanum assume como sua esta concepcio nas palavras introdutérias da celebragio da vigilia pascal (antesdabéngiodo fogo) quando diz: *Se ita memoriam egerimus Paschatis Domini sudientes verbutn et celebrantes mysteria cius, spem habebimus participandi triumphum ciusdemorte..".Naintrodugio& isTeRIO renovagiodas promessas batismaisdizemos: *Per paschale mysterium... In. baptismo consepulti sumus cum Christo, ut cum €0 in nowiale vile ambulemus. sel procurou incessantemente por em evidéneia a realldade entendida com estas palavras. Em um ensaio™ ele resume assim e esullado obtido: “No ‘mysterium"..o sacrt ficio de Cristo, ponto eulminante da sua obra salvifica em que so recapituladas todas as suas agoes salvificas, tornase presenga, justamente uma presenga que esta sempre renovando-e... Copia misterica e imagem origindrlase fuindem de modo tal quea missa & chamada de ‘redencao origina’ em uma ‘benedictio super populum post communio’ {GeV 1280}: Familia tua, Dews, et ad ce- lebranda principia suae redemptionis desi. deranter gecurrat et eius dona perseveranter aeaulra Cel presou ses pers zmentos, em primelro lugar, para expliear 0 sentido profundo dos sacramentos da i ioesobretudo da celebracio da mia. Mas eles decorre também uma interpretagio profundada liturgianoseuconjunto."Todaa Fiturgia nada mais ¢ do que memorial em sentido objetivo das agdes do Senhor e, por. tanto, desdobramento e efeito da anamnese da missa. Cristo ea igreja, na liturgia, reali- zamjunlosaobrada redengao, da santificagao € da glorificasao de Deus". A importin. cia decisiva desta concep, segundo Th. Filthaut, reside no seguinte: “Ela expos, com surpreendenteseguranca, toda arealdadede Cristo em uma dnica visto unitdria, em um conceito que enfatiza cessencial eabrangeao mesmo tempo, todos os detalhes"™. Esse concelto éo de ‘misterig, mais precisamente ode nisin cali misteo do clon A ‘exposigdo mais conhecida domistério cultual enconita-se no volume de Casel, Das hrislische Kultmysterium,ondelemos entre ‘outras coisas: “A religifo’ do evangelho, religiosidade do NT, o servigo litursico da igreja nfo podem subsistirsem o misterio do allo, Se concebemos a liturgia no seu sign. ficado antigo e auténtico, nfo no sentids de umritualismo ampliado eestetieizante ou de luma ostentagdo chela de magnificenela e calculada; mas sim no sentido de uma atua- Gocrealizagdodomistérioneotestamentario de Cristo em beneficio de toda a igreja.atra- ‘és dos ical pars sum snticaao © ‘cntdo a liturgia mistérica ita a atividade central ¢ essencial da do crisit, ‘No mesmo livro, Casel dé a seguinte deft nigio breve do mistério do culto: "0 mistérlo MISTERIO rada de caréter cultual, em que um fico se torna presente sob a forma de ito; pelo fato de a comunidade eultwal cum- prir este rito, ela participa do ato salvifico e bem, desta mana, a ealvagao’™ "artindodoestudoda linguagem da iturgia romana, Casel ampliara a sua visto, Ele fala de “eaminhdavoliaao isto" Procure novamente “a antiga figura de Deus, que em Tajestade sublime e grandera som fmt deixa ‘amplamenteatrasdest midooqueéhimano, O Deus presente, como 0 desereveram profetas,¢ 0 infinito amor de Deus, como se manifestou na cruz de Cristo, revelam de novo ao espirito aténito do homem 0 seu esplendor... O mistério divino esté de novo dante dos nossos olhos suscitando tremor, a0 mesmo tempo, cheio de atrativo ¢ de onvite”, “Triple e ainda assim Unico € 0 sentido do mistériodivino™. "Mistéria éantes de tudo Deus em si, Deus como aquele que é {infinitamente distante... 0 anseio dos ho- ‘mens de se aproximarem deste Deus foi sa- tisfeto pelo adventode Deusna carne. “Asta altura, a palavra ‘mistério’ assume significa. donovo, aprofundado. Para Paulo, omistério por exceléncia é.a maravilhosa revelagio de Deusem Cristo...Cristo€omistérioem forma pessoal. Asagéesdasuaexisténcia humilhada breudoa sua morte sacrifical na cruzsi0 ‘mistérios.. Principalmente, porém, so mis- Aérios a sua ressurreigio ea sua glorilicagio, jue no homem Jesus se torma manifesta € evidentea majestade de Deus... Este mistério de Cristo’ foi anunctado peios apéstolos & jgreja primitiva ea igreja o ransmitea todas as goraies. plo somentcatravésdaPalavra, mas através das agoes sagradas...Assim, £0: ‘mos conduzidos ao teresiro significado da palavra ‘mistério, significado que se acha ésireitamente unido aos dois primeiros, que, porsua vez, sli uma s6 coisa. Encontramos hos mistérios do culto a sua (de Cristo] pes- soa, a sua obra'salvifica, a sua eficdcia de raga, com diz santo Ambriso: Eu te ew Contronos teus mistérios (Apologia prophetae David 58). Deus-Cristofigreja-agdes sacramentais: cis a trade que o termo ‘mysterium (sacramen- tum)’ quer compreender e resumir Casel procurou ilustrar e explicar em ‘muitos rabalhosariqueza dessa concep¢ao*" 0 seu ponto de vista suseltou contestagoes, mas justamente tal controvérsia, longa e di- {icil,Ihepermitiuamadurecé-laedemonstrar a sua validade. © ponto até hoje mais con- testado a tentativa de Casel de explicar 0 significado do mistério, do ‘eidos’ cultual 168 recorrendo aos mistérios pagos helenistas. Casel partiu certamente também af; para ele 0 mistério pagio era extrema- ‘mente importante para se compreender 0 sentido genuino das ages cultuais cristas. Sejacomo for, tal posicaonio éabsolutamente essencial para explicar a liturgia cristé mes- mo no sentido desejado por Casel 2, “Mediator Dei” — Também Pio XIE na enefelica Mediator Dei se expressou de ma- ymente a’ instancia essencial da tcologia dos mistérios, disse: O ano litdrgico... ndo é represeniagio [ria e inerte de fatos que pertengam a0 passado, ou reevocagio simples e nua de realidades de ‘outros tempos. Ele ¢, mais que tudo, o pré- prio Cristo, que... prossegue 0 caminho de imensa miseric6rdia por ele iniciado..., com o objetivo de por os homens em contaio.com (8 scus mistérios e fazé-los em certo sentido viver deles; mistérios que esto perenemente ppresentes ¢ operantes nao do modo incerto ¢ nebuloso de que falam alguns escritores re- centes, mas do modo que nos ensina a dou- trina catdlica..”% A discussao ocorrida ¢ desenvolvida em torno deste trecho fez. ver queelepensaem obscuridadesedificuldades da concepeao caseliana. A critica fol e é estimulo para aprofundar 0 ‘modo’ da pro- senga, que como presenca é sem diivida al- guma reconhecida, ¢ a se chegar a maiores Certeza e clareza. ‘Tanto melhor podemos afirmar isto quanto mais constatamos que o prdprio Papa, com palavras que sero reto- madas pelo Vat. II (SC 7), enfatiza com forga a idéia da presenca de Cristo: “Em toda agio liuirgica..., juntamente com aigreja esta pre- ssente o seu divino fundador: Cristo esta pre- sente no augusto sacrificio do altar, tanto na Besson do seu ministro quanto, em grau mé- ximo, sob as espécies eucaristicas; esté pre- sentennossacramentos comavirtudeque neles € infundida..” (Mediator Dei, Le. & nota 28), Naoem titimo lugar, por causa desta exor- tagdo papal as idéias condutoras da teologia dos mistérios foram de novo examinadas criticamente, ¢, neste trabalho, mérito particular adquiriram diversos estudos fran- De particular importancia revelow-se af a ligagao entre mistério ¢ pascoalcelebracdo pascal, ligagdo que jé Casel havia ressaliado: *A antiga celebragio pascal crista no seu conjunto ¢ a festa da redengio mediante a marte ea glorificagéo do Senhor, 0 que equivale a dizer: a festa da ‘oikonomia’, do Dados de Catalogagéo na Publicaglo (CIP) Internacional (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Dicionsrio de lturgia/organizadoies Domenico Sartore e Achille M. Triacca; tradu- ‘io Isabel Fontes Leal Ferreira, — Sto Paulo: Edigbes Paulinas, 1992. — (Dicio- narios EP) Bibliografi, ISBN 85-05.01112.0 1. tgreja Catclica — Liturgia — Diciondrios 1, Sartore, Domenico Il. THacca, Achille M. HL. Série 90-0894 DD -264.02003 Indices para catilogo sistemético: 1. Dicionrios:Igroja Catsica: Liturgia 264.02003, 2 Liturgia:Igreja Catélica: Diclondrios 268,02003,

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