FERRAMENTAS DO APRENDIZ MAÇOM NO R.’. E.’.A.’.A.’.
FRANCISCO RAIMUNDO BATISTA, A.’.M.’.
ARLS UNIÃO E FIDELIDADE Nº 5175
O significado filosófico e simbólico dos instrumentos de trabalho do
Primeiro Grau de Aprendiz Maçom representa os conceitos fundamentais sobre a vida e o trabalho do homem, a sua natureza tríplice – corpo, mente e espírito. Esses instrumentos – a Régua de 24 PP.’., o Maço e o Cinzel – são essenciais para que o Aprendiz consiga desbastar a sua ‘pedra bruta’, que significa o próprio Aprendiz nas condições em que se encontra no mundo profano, com seus defeitos (arestas), e sobre o qual deverá proceder à sua autolapidação, sua autoescultura, seu autodesenvolvimento, transformando-se na ‘pedra polida’ em busca da construção de seu ‘Templo Moral’.
Simbolicamente, a Régua de 24 PP.’. é a consciência, o Maço a
força de vontade e a energia, e o Cinzel a beleza moral, a razão, e significam que o Aprendiz deve dominar suas paixões, emoções e vaidades, aperfeiçoando seu espírito e desbastando as arestas que causam suas preocupações e vícios profanos.
A Régua de 24 PP.’.
A Régua de 24 PP.’. consiste no mais fundamental e transcendental
de todos os instrumentos de trabalho do Aprendiz, já que sem a sua aplicação não é possível o emprego de nenhum outro instrumento. No trabalho desenvolvido pelo Aprendiz, a Régua de 24 PP.’. serve para medir e traçar sobre a ‘pedra bruta’ o corte a ser efetuado. Em outras palavras, sem a aplicação adequada da Régua de 24 PP.’. e de suas propriedades diretivas, de nada servirá os outros instrumentos de trabalho do Aprendiz – o Malho (símbolo da vontade, determinação e força executiva) e o Cinzel (símbolo da razão e do discernimento). A aplicação prática da Régua de 24 PP.’. significa preparar com precisão, planejar de forma clara e definida todo trabalho a ser executado pelo Maçom. Segundo Reis, A origem da palavra régua é francesa (règle) e significa “lei ou regra”. Remete-nos a idéia do traçado reto e da medida (REIS, 2008). A função da Régua de 24 PP.’. é medir a longitude, base de todas as medidas, que permite compreendermos o que é cada objeto (GOMG, 2004), avaliarmos o transcurso do tempo e registrarmos seus fenômenos em movimento (PESSANHA, 2008). Como instrumento de medida pode ser utilizada para comparar e aferir os resultados alcançados mediante o que foi planejado, além de permitir definir parâmetros de ação quando do desbaste da ‘pedra bruta’ (DANIEL, 2008). A Régua de 24 PP.’., portanto, guia o Aprendiz na realização de seu trabalho, permitindo-lhe planejar suas ações e criar regras, leis e padrões de conduta norteadores de seus objetivos. As 24 polegadas da régua (tamanho de um passo normal de ± 75 cm) representam o total de horas de um dia, e significam que o Aprendiz deve viver o dia com critério e planejamento (régua) sabendo também dividir seu tempo entre o trabalho, o lazer, a espiritualidade e o descanso físico e mental. REIS (2008) cita o filósofo grego Demócrito, que no século V a.C. escreveu “Ocupe-se de pouco para ser feliz”, significando administrar o tempo frente às diversas tarefas do dia a dia, e que uma única coisa deve ser feita por vez. Nos dias de hoje a preocupação com a administração do tempo, representada na lição das 24 polegadas, é fundamental, dada a dinâmica da vida cotidiana, onde é preciso reconhecer e aceitar nossos limites e aprender a priorizar e eliminar atividades que desperdiçam um dos recursos mais valiosos que o ser humano possui e que não pode ser recuperado, o tempo.
O Maço:
O Maço (ou martelo rudimentar) foi o primeiro instrumento imaginado
pelo homem primitivo para mover a matéria de um lugar para o outro no plano material (GOMG, 2004), inaugurando a era das ferramentas, na qual coisas alheias ao próprio corpo começaram a ser utilizadas pelo homem para conseguir seus intentos. Até então, o homem era o maço de si mesmo, utilizando seus próprios músculos como ‘instrumento’ de força. Com a sua evolução, foi se apoderando dos maços da natureza e de sua força, potencializando suas energias para o alcance de seus objetivos (PESSANHA, 2008).
Como instrumento que serve para descarregar golpes, o Maço
representa o método mais simples da aplicação da força (e do poder) e simbolizam, na Maçonaria, todas as forças físicas, morais, mentais e espirituais. O poder do Maço é ilimitado, pois dentro de cada pessoa existe uma reprodução do G.’.A.’.D.’.U.’., cujo poder é onipotente (GOMG, 2004).
O Maço representa a força, a energia necessária para a execução
de qualquer trabalho. A energia é fundamental para a própria existência do mundo, pois nada existe sem energia (DANIEL, 2008). Na construção de sua autoescultura, o Aprendiz precisa da força e da energia do Maço para que as ações planejadas (Régua de 24 PP.’.) possam ser efetivamente realizadas. O Cinzel:
O Cinzel possui o poder de cortar, dar forma, abrir caminho através
da matéria. Para isso, necessita ter um fio cortante e resistente, de maneira a receber e transmitir a força que lhe for aplicada pelo Maço, e de acordo com a obra que com ele o Aprendiz será capaz de realizar (GOMG, 2004). O Cinzel significa a capacidade de enxergar aquilo que é preciso mudar, deve ser a autocrítica do Maçom que, apoiada pela força de vontade, fará com que consiga o desbaste necessário de sua ‘pedra bruta’ (DANIEL, 2008). Para tanto, o Aprendiz-Maçom deve possuir qualidades morais, sentimentos bons e generosos (linha da virtude), uma mente bem dotada e educada (linha da direção) e uma natureza espiritual pura e profunda (linha do discernimento), os quais serão utilizados em suas obras. Além disso, deve dirigir e concentrar a energia a um ponto definido, a obra final, para que a força não se disperse e o resultado seja alcançado, sem nunca se desviar do caminho traçado (PESSANHA, 2008).
Conclusão:
Apesar de suas diferenças intrínsecas, os três instrumentos de
trabalho do Aprendiz devem ser utilizados de forma conjunta e integrada. Enquanto a Régua de 24 PP.’. caracteriza-se como um instrumento estático, rígido, inflexível e fixo, o Maço e o Cinzel se mostram como instrumentos dinâmicos, móveis, flexíveis e adaptáveis ao trabalho desenvolvido pelo Maçom. Ou seja, a Régua de 24 PP.’. serve para medir e planejar com sabedoria a obra a ser realizada, o Maço para aplicar a força e energia na ação efetiva, e o Cinzel para executar o trabalho com qualidade, foco e discernimento, além de servir para polir os vícios, vaidades e paixões, e representar a beleza da obra (MOREIRA, 2008). O conhecimento está ligado à Régua de 24 PP.’., pois permite ao Aprendiz medir suas emoções, paixões e vaidades, dominando-as para que possa evoluir enquanto Maçom. A ação está ligada à aplicação da força pelo Maço sobre o Cinzel, onde deve ser observado o controle emocional do Irmão Aprendiz na aplicação dos golpes para que não haja um acidente ou imperfeições na confecção da obra a ser construída. O Cinzel representa a qualidade de sentir, pois é o instrumento com que o Aprendiz entre em contato com a matéria do mundo externo. Portanto, “conhecemos com a Régua de 24 PP.’., sentimos com o Cinzel e agimos com o Maço” (GOMG, 2004; ROSENHAIM)
Relembrando o que foi comentado no início deste trabalho, a
utilização dos três instrumentos do Aprendiz deve servir para polir a ‘pedra bruta’ na busca por transformá-la em ‘pedra polida’. Isso significa determinar as ações, aplicar toda a energia e desenvolver todas as faculdades, educando e dominando a si mesmo em busca do aperfeiçoamento moral e espiritual. Este trabalho que é realizado com a Régua de 24 PP.’., o Maço e o Cinzel, nunca deve ser considerado como concluído. Como um artesão exigente, o Aprendiz deve constantemente descobrir pequenas arestas que o leve a novos desbastes em sua ‘pedra bruta’. “Quanto mais exigente for o artesão melhor ficará a escultura” (DANIEL, 2008).
Conforme destacado em GOMG (2004), “à medida que o Aprendiz
pondere todas estas coisas e aperfeiçoe as suas faculdades, a energia nele existente passará a obedecer aos mandamentos da mente, realizando belas obras de artífice. Descobrirá o segredo da sua individualidade que, ao emergir do fio do seu Cinzel, o capacitará a lavrar a sua marca única e singular, signo de sua propriedade exclusiva por direito de nascimento, que só ele pode traçar”.
Por último vale também destacar a correspondência entre os três
instrumentos de trabalho do Aprendiz e as três principais Luzes da Loja: a Régua de 24 PP.’. corresponde à Sabedoria do Venerável Mestre quando do planejamento e direção dos trabalhos que devem estar ajustados à perfeição e à beleza da obra de arquitetura que se realiza em cada sessão da Loja; o Maço corresponde à força e transmissão de energia realizada pelo 1º Vigilante em sua missão, cujo equilíbrio e discernimento deverá saber usá-lo no momento próprio; e o Cinzel corresponde ao 2º Vigilante, que representa a beleza e a forma como o Maçom cinzela a ‘pedra bruta’ (GOMG, 2004; ROSENHAIM) BIBLIOGRAFIA: • Frederico Cesar Mafra Pereira, M.M. ARLS Ordem E Progresso – N.133 – Belo Horizonte (MG) – Brasil • DANIEL, Jorge Otavio. Desbastando a Pedra Bruta. Disponível em <https://www.maconaria.net>. Acesso em 07/08/2008. • GOMG – Grande Oriente de Minas Gerais. Ritual e Instruções de Aprendiz-Maçon do Rito Escocês Antigo e Aceito. 1ª edição. Belo Horizonte: Grande Oriente de Minas Gerais, 2004. • MADEIRA, Mário Sérgio. Instrumentos de Trabalho do Aprendiz. Criciúma: Grande Oriente de Santa Catarina, Loja Nova Aurora n.41, setembro de 2001. • MOREIRA, Fábio Teddy. Ser Aprendiz. Disponível em <https://www.maconaria.net>. Acesso em 07/08/2008. • PESSANHA, Harry. 2º trabalho: Instrução do Primeiro Grau. Disponível em <http://www.ictys.kit.net/Maat/haprediz1.htm>. Acesso em 07/08/2008. • REIS, Álvaro Botelho. A Régua de 24 Polegadas. Disponível em <https://www.maconaria.net>. Acesso em 07/08/2008. • ROSENHAIM, Olman. 3ª Instrução: Instrumentos de Trabalho Régua, Maço e Cinzel – Pedra Bruta. In: Instruções para Aprendizes: 24 lições – Meditando sobre a Pedra Bruta. 2ª edição, p.43-49