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1 Paralisia do Nervo Radial: uma revisão

2 Kleber Juliano Pessoa Oliveira Silva¹

3 ¹Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Veterinária, Docente de

4 Medicina Veterinária, Recife, Brasil.

6 Resumo

7 O nervo radial é responsável pela comunicação nervosa do sistema nervoso periférico

8 com vários músculos da região úmero-radio-carpal e até digital de equídeos. Desta forma, ele

9 tem grande importância para manutenção na função locomotora dos membros anteriores do

10 animal. A falha nessa comunicação pode está diretamente relacionada com a paralisia do nervo

11 radial, podendo ser ocasionado por compressão durante o decúbito lateral, processos

12 inflamatórios, traumas diretos ou em estruturas adjacentes. O Nervo radial é essencial para os

13 músculos extensores do membro e em casos de paralisia ocorrerá o comprometimento no

14 movimento de avanço do membro afetado. Os sinais clínicos desta afecção irão depender do

15 local do dano, podendo se manifestar de forma parcial ou completa, sendo frequentemente

16 associado a claudicação. Devido ao estresse físico associado à paralisia do nervo radial, ainda

17 podem ser identificados em alguns casos o quadro de sudorese excessiva, taquipnéia e

18 taquicardia. Seu diagnóstico é baseado diretamente a sintomatologia apresentada, podendo ser

19 realizados exames diferenciais para confirmação da patologia. O tratamento para paralisia do

20 nervo radial pode ser realizado através da administração de fármacos, manutenção vitamínica

21 e ainda através de terapias alternativas e seu prognóstico é variável, estando também

22 relacionado com a gravidade do quadro clínico apresentado, sendo em sua maioria favorável

23 para paralisia parcial e de reservado a mau na maioria dos casos de paralisia completa.

24 Palavras Chaves: Equino, radial, nervo, paralisia.

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25 Abstract

26 The radial nerve is responsible for the nervous communication of the peripheral nervous

27 system with several muscles of the humerus-radio-carpal region and even digital of equines.

28 Thus, it has great importance for maintaining the locomotor function of the animal's forelimbs.

29 The failure in this communication can be directly related to the paralysis of the radial nerve,

30 which can be caused by compression during the lateral decubitus, inflammatory processes,

31 direct trauma or in adjacent structures. The radial nerve is essential for the extensor muscles of

32 the limb and in cases of paralysis there will be impairment in the forward movement of the

33 affected limb. The clinical signs of this condition will depend on the location of the damage,

34 and may be manifested partially or completely, being frequently associated with lameness. Due

35 to the physical stress associated with radial nerve palsy, excessive sweating, tachypnea and

36 tachycardia can still be identified in some cases. Its diagnosis is based directly on the symptoms

37 presented, and differential tests can be performed to confirm the pathology. The treatment for

38 radial nerve palsy can be carried out through the administration of drugs, vitamin maintenance

39 and even through alternative therapies and its prognosis is variable, and is also related to the

40 severity of the clinical condition presented, being mostly favorable for partial paralysis and

41 from reserved to bad in most cases of complete paralysis.

42 Keys words: Equine, radial, nerve, palsy.

43 Introdução

44 O nervo radial faz parte do Sistema nervoso periférico de via eferente ou motor, sua

45 função decorre do sistema somático e ele participa diretamente da regulação da locomoção,

46 auxiliando o organismo com sua interação com o meio exterior. O nervo radial se origina dos

47 dois últimos nervos cervicais e dois primeiros torácicos, respectivamente as vértebras C7 e T1.

48 O nervo Radial, segue distalmente pelo membro torácico, caudal a artéria braquial, antes de se

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49 dividir entre as cabeças longa e média do tríceps braquial, seguindo o sulco espiral do úmero,

50 que leva a face crânio lateral do braço, (DYCE, 2010). Ele surge da T1, inervando um flexor

51 do ombro e os extensores das articulações do cotovelo, carpal e digital. Esta região pode ser

52 passível de trauma, onde a raiz nervosa pode ser dilacerada por fraturas das vértebras C7 ou T1

53 ou primeira costela, podendo ocasionar a paralisia do nervo Radial. (MACKAY, 2010)

54 A paralisia do nervo radial é a interrupção das sinapses responsáveis por comandar a

55 função de alguns músculos da região do membro anterior do animal. Pode ser ocasionada por

56 compressão durante o decúbito, processo inflamatório circunvizinho, como abscesso, ou, ainda,

57 devido a traumas diretos se tratando em fraturas de úmero, desta forma, os fragmentos ósseos

58 podem lesar o nervo, ou ainda, por derrame sanguíneo, que produz compressão e inflamação

59 perineural, (THOMASSIAN, 2005). A inervação de todos os músculos extensores é de

60 exclusividade do nervo radial, desta forma, qualquer tipo de lesão pode ocasionar a perda da

61 função motora deste grupo muscular, com gravidade variável, dependendo diretamente de sua

62 etiologia. Quando a lesão é proximal à origem dos ramos tricipitais, o animal é incapaz de

63 suportar o peso no membro acometido, ficando em estação, com as articulações flexionadas de

64 maneira anormal, já se o local do dano for distal, o ombro e o cotovelo estarão normais (DYCE,

65 2010).

66 Os sinais clínicos dependem do local do dano, onde a paralisia do nervo radial é uma

67 causa frequente de claudicação. A paralisia completa deste nervo é mais comum, acarretando

68 perda da função dos músculos extensores do cotovelo, carpo e dígito, e resultando na

69 incapacidade de ficar em pé no membro. (DYSON, 2011). Os sintomas podem ser de paralisia

70 total ou parcial e dependem exclusivamente da gravidade da lesão do nervo. Por ser um tronco

71 nervoso essencialmente extensor, isto é, irá inervar obrigatoriamente os músculos responsáveis

72 pela extensão dos membros, o cavalo afetado apresentará incapacidade de realizar o avanço do

73 membro, arrastando-o no solo. Podemos observar que os músculos flexores estarão

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74 tensionados, enquanto os extensores estarão relaxados. (THOMASSIAN, 2005). Como a

75 aparência do cotovelo caído de um cavalo com paralisia do nervo radial é semelhante à de um

76 cavalo com miopatia por tríceps ou um olecrano fraturado, devemos ter cuidado ao realizar o

77 exame físico e talvez fazer uso de radiografias como diferencial para identificar corretamente

78 as lesões (WAGNER, 2008)

79 Embora o nervo radial tenha numerosos ramos sensoriais cutâneos, a lesão desse nervo

80 não resulta em nenhuma área consistente de anestesia cutânea, (MACKAY, 2010). A paralisia

81 radial alta pode ser resultante de lesão ou doença do úmero, ou de dano do próprio plexo

82 braquial, já a paralisia radial baixa pode ser simulada por isquemia, que tem relação em alguns

83 casos com posição em que o animal permaneça, como em decúbito lateral prolongado, (DYCE,

84 2010). Cavalos com paralisia radial completa ficam com o ombro estendido, o cotovelo

85 "abaixado" e o dorso do casco apoiado no chão. Quando induzido a andar, o animal pode

86 prolongar parcialmente o membro por extensão exagerada do ombro, no entanto, a ponta do

87 casco arrasta e o cavalo cai no membro durante a fase de sustentação do passo, (MACKAY,

88 2010).

89 O decúbito lateral prolongado pode manifestar o quadro de paralisia do nervo radial sob

90 anestesia geral sendo em mesa cirúrgica, no chão ou superfície dura em que ocorra a

91 compressão do nervo. (MACKAY, 2006). Quando o animal estiver em repouso, em posição

92 quadrupedal, manterá todas articulações em posição de flexão, apoiando o casco em pinça no

93 chão, passando a impressão que o membro é mais comprido do que o normal. (THOMASSIAN,

94 2005). Quando o cotovelo é abaixado o cavalo tende a ficar com o membro lesionado para a

95 frente, com o antebráquio em um ângulo de aproximadamente 45 graus em relação ao solo, com

96 o carpo e o cadeado semiflexo, (DYSON, 2011). Muitos equinos com o tempo aprendem a

97 compensar esta deficiência baixando o casco antes de perder o impulso, obtido quando o

98 membro é deslocado à frente durante um passo, (DYCE, 2010). Devido ao estresse físico

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99 associado à paralisia do nervo radial, sudorese excessiva, taquipnéia e taquicardia podem ser

100 identificados, (RIJKENHUIZEN et al., 1994).

101 O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos apresentado, necessitando, porém, a

102 realização de diagnóstico diferencial para confirmação precisa ou até em possíveis descartes de

103 outras afecções, como em casos de fratura do úmero, que sob certas condições pode ser

104 confundida com a paralisia do nervo radial. Para tanto, tente fazer o animal recuar, se ele

105 conseguir normalmente apoiar o casco no solo, trata-se de paralisia do nervo radial, caso

106 contrário, poderá ser uma fratura do úmero, que deverá ser confirmada radiograficamente.

107 (THOMASSIAN, 2005). A utilização de um eletromiograma pode demonstrar um

108 envolvimento de outras estruturas além do o nervo radial. A mielite protozoária equina deve

109 ser considerada em cavalos mais velhos, especialmente se houver evidência de outras condições

110 patológicas dos neurônios motores inferiores, (DYSON, 2011). Exame neurológico completo

111 deve ser realizado em cavalos apresentados para paralisia do nervo radial. (LOPEZ et al, 1997)

112 O tratamento da paralisia do nervo femoral e radial é semelhante ao da rabdomiólise e

113 é essencialmente sintomático, onde a utilização de corticosteroides e dimetilsulfóxido podem

114 ajudar a reduzir o inchaço dos nervos e acelerar a recuperação. (HUBBELL, 1999). Muitos

115 cavalos fazem uma lenta recuperação progressiva e a estimulação elétrica dos músculos

116 afetados pode ajudar a manter a massa muscular. Podem surgir problemas em cavalos jovens

117 com sobrecarga do membro contralateral, sendo necessário uma rápida intervenção para evitar

118 maiores complicações, (DYSON, 2011). A radiação infravermelha é muito eficaz como

119 tratamento, gera calor terapêutico que causa vasodilatação, isto ocasionará o aumento de fluxo

120 sanguíneo na região, analgesia, aumento da atividade metabólica intracelular e aumento da

121 extensibilidade do tecido, assim promovendo diminuição da rigidez articular. (DYSON, 2011).

122 Pode-se associar ao tratamento aplicações de drogas contendo gangliosídeos titulados

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123 (THOMASSIAN, 2005). Em alguns casos o cavalo pode precisar de uma tipoia para diminuir

124 a carga no membro afetado.

125 O prognóstico de cura é bom nos casos de paralisia parcial, injetando-se: anti-

126 inflamatórios, vitaminas do complexo B, principalmente B1 e tônicos nervosos

127 (THOMASSIAN, 2005). Na maioria dos casos de paralisia do nervo radial, o prognóstico é

128 reservado a mau, no entanto, em lesões por compressão e aprisionamento geralmente levam à

129 recuperação parcial ou completa. (SINGH et al, 2017). A recuperação do animal é mais

130 favorável se uma única perna estiver envolvida. A resposta terapêutica normalmente ocorre

131 dentro de 24 a 48 horas, com melhora contínua durante um período de 7 a 10 dias. (HUBBELL,

132 1999). Pode-se considerar uma melhora dentro de 2 a 4 semanas como um prognóstico otimista,

133 já a persistência dos sinais clínicos por mais de 6 meses podemos categorizar como prognostico

134 mau, onde novos exames devem ser realizados para confirmação da evolução do tratamento,

135 assim como diagnóstico de outra patologia, (DYSON, 2011).

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137 Conclusão

138 A paralisia do nervo radial é uma afecção que atinge os membros anteriores de equinos

139 de maneira uni ou bilateral, possuindo diferentes formas etiológicas de manifestação, seja por:

140 compressão do nervo radial, processos inflamatórios circunvizinhos ou por trauma de úmero,

141 sendo estas as causas mais frequentes. O diagnóstico é feito e baseado diretamente nos sinais

142 clínicos apresentado pelo animal, de modo que, irá depender da gravidade da lesão, local onde

143 ocorre a lesão e ainda a forma que ocorreu a lesão, se parcial ou completa. É importante

144 considerar que o tratamento é essencialmente sintomático, podendo se fazer uso de fármacos

145 ou terapias auxiliares. Tendo um prognóstico que irá variar entre bom, mau ou reservado, de

146 acordo com o quadro clínico de cada animal.

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147 Referências

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