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Resumo

          Considerando a importância da relação


professor-aluno no processo ensino-
aprendizagem e as necessidades de construir
uma prática educativa que possibilite a reflexão,
a crítica e a construção do conhecimento
pautando-se nos problemas que ocorrem
diariamente em sala de aula e no decorrer do
processo ensino-aprendizagem, o presente
artigo tem por finalidade apresentar sugestões e
argumentos sobre o papel da escola como
organização reflexiva considerando o ensinar e
o aprender, qual o papel do professor e de sua
relação com o aluno e a necessidade de
construir o conhecimento crítico, reflexivo e
compartilhando respaldando-se por
embasamentos teóricos como os de Paulo
Freire. No processo de construção do
conhecimento, o valor pedagógico da interação
humana é evidente, pois é por meio dela que o
conhecimento vai se construindo e a relação
educador-educando não se torna unilateral, pois
necessita que a mesma proporcione a
construção coletiva do conhecimento na qual
esteja baseada no diálogo.

          Unitermos: Educação. Relação
professor-aluno. Processo ensino-

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aprendizagem. Conhecimento crítico-reflexivo.

EFDeportes.com, Revista Digital.


Buenos Aires, Año 16, Nº 160,
Septiembre de
2011. http://www.efdeportes.com/

Introdução

    Muitos são os questionamentos e discussões a respeito do papel da escola na educação, porém,
é preciso vê-la além de somente transmitir conhecimentos aos alunos. Sendo a escola conhecida
como “instituição do saber”, a mesma exerce uma enorme importância por toda a sociedade. Por
tamanha importância que a mesma se faz jus, necessita-se olhar além do que os olhos podem ver
e ensinar os alunos a pensarem sobre o mundo, a sociedade na qual estão inseridos e o mundo
das diferenças/descriminações para dar subsídios aos alunos ao enfrentem essas adversidades da
vida.

    A escola necessita ser pensada como “preparação” para a vida, na função de preparar cidadãos
do mundo. De acordo com Pérez Gómez (2000), a escola é um ambiente de aprendizagem, onde
há grande pluralidade cultural, mas que direciona a construção de significados compartilhados
entre o aluno e o professor. A construção desses significados compartilhados enfatiza uma
necessidade de mudança na escola, por meio da reflexão. A mesma necessita da individualidade
e da coletividade ao mesmo tempo, a qual envolve diversos aspectos da escola, ou seja: as
relações entre o ensinar e aprender com diversas trocas de informações, a interação de indivíduos
que participam da cultura escolar, além dos processos curriculares, pedagógicos e
administrativos haverá o compartilhamento de informações e interação da cultura escolar.

    Deve-se pensar a escola como um ambiente atrativo para professores, alunos e os profissionais
nela atuantes, para que estes possam se sentir convidados a participar desta atmosfera de
conhecimento que dia após dia é construída por professores e alunos, aproveitando o
conhecimento prévio que é trazido por todos. É preciso que os docentes reinventem e reencantem
a educação, tendo como foco uma visão educacional, usufruindo do conhecimento já construído

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e produzindo novas experiências no processo de ensino-aprendizagem dos educandos
(ASSMANN, 2007).

    As relações entre professor/aluno/conteúdo não são estáticas, mas dinâmicas, pois se trata da
atividade de ensino como um processo coordenado de ações docentes. Freire (1987) em seu livro
Pedagogia do Oprimido deixa-nos entender que a relação professor (opressor) e aluno (oprimido)
ou vice-versa têm a finalidade de que a relação professor-aluno nesse processo de ensino-
aprendizagem gira em torno da concepção da educação, tendo uma perspectiva de que quando
todos se unirem na essência da educação como prática de liberdade, ambos abrirão novos
horizontes culturais de acordo com a realidade e imaginação de todos os indivíduos, seguido das
diferentes culturas de cada um.

    Porém um dos maiores problemas relacionados ao fracasso escolar pode estar ligado ao
preconceito. Com certa freqüência os professores procuram explicar a razão do não aprender do
aluno às deficiências orgânicas, psicológicas, culturais em detrimento de um estudo e diagnostico
que pudessem esclarecer a situação. Em outras palavras já fazem de antemão o diagnostico e
rotulam esse aluno. Acredita-se que a mescla de teorias que se complementem teria um caráter
mais proveitoso para professores e alunos do que a tendência de seguir um “método”. Nada
substitui o fator humano, a afetividade, a interação e o olhar atento às diferenças reações.

Escola: Organização reflexiva ou reprodutores de conhecimento?

    O processo ensino-aprendizagem compreende ações conjuntas do professor e do aluno, onde


estarão estimulados a assimilar, consciente e ativamente os conteúdos/métodos e aplicá-los de
forma independente e criativa nas várias situações escolares e na vida prática. O ato de ensinar e
aprender não se pauta em somente o professor passar a matéria e o aluno automaticamente
reproduzir mecanicamente o que “absorveu”.

    É nessa perspectiva que a compreensão sobre o conhecimento escolar pode ser analisada sob a
ótica de no mínimo quatro visões: como produto acabado e formal (visão tradicional); como
produto acabado e formal de caráter técnico (visão tecnológica); como produto aberto, gerado em
um processo espontâneo (visão espontaneísta e ativista) e; como um produto aberto, gerado por
um processo construtivo e orientado (visão investigativa) (BOLZAN, 2002, p18).

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    Em um contexto onde há o estímulo às atividades diversificadas, à curiosidade, a iniciativa e o
desenvolvimento de capacidades, resultarão em um ambiente onde, tanto professor como seus
alunos, ambos estarão cientes de suas responsabilidades. Desse modo, a escola deve conceber-se
como um local, um tempo e um contexto, visando à formação que vai além da representação
física, e tornando-se uma concepção de formação com relacionamento interpessoal. A escola
pela qual se busca lutar hoje se deve ter como pressuposto principal o desenvolvimento cultural e
científico do cidadão, preparando as crianças, adolescentes e jovens para a vida, para o trabalho e
para a cidadania, através de uma educação geral, intelectual e profissional.

    Para Lima (2006) compreender a escola como organização educativa exige a consideração da
sua historicidade enquanto unidade social artificialmente construída, das suas especificidades,
bem como do seu processo de institucionalização ao longo do tempo. Seguindo essa linha de
pensamento, Alarcão (2001) aponta uma mudança paradigmática, uma visão e pensamento
diferente da escola, saindo de uma concepção tradicional para uma concepção reflexiva, onde
será capaz de gerar conhecimento sobre si próprio, fazendo significado a sua própria existência.

    O ambiente escolar, assim, pode contribuir para suscitar o amor pela escola, o amor e a
dedicação aos estudos, com reflexos sensíveis no aproveitamento escolar dos alunos. Para
Durkheim (1978, p.49) “A escola não pode ser propriedade de um partido; e o mestre faltará em
seus deveres quando empregue a autoridade de que dispõe para atrair seus alunos à rotina de seus
preconceitos pessoais, por mais justificados que lhes pareçam”.

    Se a aprendizagem em sala de aula for uma experiência de sucesso, o aluno constrói uma
representação de si mesmo como alguém capaz. Do contrário, se for uma experiência de
fracasso, o ato de aprender tenderá a se transformar em uma “ameaça”. O aluno ao se considerar
fracassado, buscará os culpados pelo seu conceito negativo e culpará o professor pela sua
metodologia de ensino, e pelos conhecimentos transmitidos, os quais irão julgá-los como sendo
desnecessários e sem validade para sua vida estudantil como pessoal.

    Freire (1980, p.119) aponta de forma ampla o que se espera da escola:

    Somente uma outra maneira de agir e de pensar pode levar-nos a viver uma outra educação
que não seja mais o monopólio da instituição escolar e de seus professores, mas sim uma

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atividade permanente, assumida por todos os membros de cada comunidade e associada de todas
as dimensões da vida cotidiana de seus membros.

    Portanto, o processo educativo tem que ocorrer como um fenômeno social e cultural, onde a
reflexão sobre o saber e suas relações é continuamente redimensionada em uma “negociação” e
“recriação” dos significados. Tendo o diálogo entre professor e aluno como elemento norteador
para a construção do conhecimento em uma dimensão reflexiva.

    Em vista disso, a escola como contexto de construção e apropriação de conhecimentos deve
compreender que, professor e aluno, participam desse processo essencialmente pela interação e a
mediação entre si. Contudo, a escola reflexiva vai além, no momento em que vê a escola como
uma organização que continuadamente pensa em si própria, “na sua missão social e na sua
organização, e se confronta com o desenrolar da sua atividade em um processo heurístico
simultaneamente avaliativo e formativo”, pois “só a escola que se interroga sobre si própria se
transformará em uma instituição autônoma e responsável, autonomizante e educadora”
(ALARCÃO, 2001, p.25).

    A escola não cumprindo seu papel como organização reflexiva cairá no fracasso escolar. Para
tanto entre as diversas razões possíveis, podemos citar: dificuldades de aprendizagem; causas
orgânicas; problemas emocionais; teoria da carência cultural e distância cultural entre a escola
pública e a população que ela atende; formação dos professores; a ineficácia dos métodos;
preconceito e segregação (COLLARES, 1996; POLITY, 2002).

Aprender e ensinar reflexivamente

    O ensino é um meio fundamental do progresso intelectual dos alunos e uma combinação
adequada entre a condução do processo de ensino pelo professor e a assimilação ativa, como
atividade autônoma e independente, por meio do aluno. Pode-se sintetizar-se dizendo que a
relação entre ensino e a aprendizagem não é automática, não pode ser vista como uma simples
transmissão do professor que ensina para um aluno que aprende. Tendo como base os conceitos
de Jean Piaget a respeito da aprendizagem, os processos mentais que antecedem o tão esperado
resultado da mesma, revelam a dificuldade existente nos educandos de obterem e aprenderem
novos conceitos e conteúdos.

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    O processo da aprendizagem tem início através das abstrações empíricas feitas pelo aluno e
pela reflexão a respeito desta abstração. Depois de assimilar um novo conceito que lhe é
apresentado, o aluno depara-se com o novo, na tentativa de não entrar em conflito dentro de si
mesmo, procurando acomodar as informações a ele transmitidas, fazendo a modificação mental
entre os conhecimentos prévios e os adquiridos. Entende-se que a aprendizagem então, é a
assimilação ativa do conhecimento e de operações mentais, para compreendê-los e aplicá-los de
forma consciente e autônoma.

   Segundo Chalita (2001, p.12) “A educação não pode ser vista como um depósito de
informações. Há muitas maneiras de transmitir o conhecimento, mas o ato de educar só pode ser
feito com afeto, esta ação só pode se concretiza com amor.” Percebe-se que há uma grande
diferença entre transmitir o conhecimento e educar. A diferença de educar seres humanos que se
encontram nas primeiras etapas da vida é uma tarefa para os docentes que se preocupam na
formação global do educando e não apenas na formação parcial, obtida em sala de aula. As
demonstrações de carinho, bem como a afetividade nas palavras ditas pelo professor, resultarão
no auxílio e conforto para o aluno, quando este necessitar acomodar as informações recebidas,
sem que haja repulsão ou aversão ao conteúdo apresentado, ou até mesmo ao próprio ato de
aprender algo novo.

    O processo de construção do conhecimento, que considere tanto as experiências dos alunos
como as dos professores inseridos, se faz necessária uma abordagem dos conteúdos, e para
Anastasiou (2003) isso se dá através de um método dialético, a partir da reflexão e discussão
conjunta, uma nova concepção ou forma de ação. Situações como processos de ensino que
constituem mais um desafio para uma ação docente inovadora e comprometida, precisam buscar
uma prática social complexa, que seja efetivada entre os sujeitos, professores e alunos, buscando
o engloba mento tanto da ação de ensinar como de aprender.

    Rodrigues (1997, p.64) afirma:

    Assim, a escola tem por função preparar e elevar o indivíduo ao domínio de instrumentos
culturais, intelectuais, profissionais e políticos. Isso torna sua responsabilidade pesada e
importante. Assim dimensionada a tarefa da escola, evidencia-se a expectativa que sobre ela
recai no contexto da sociedade.

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    A esse respeito Werneck (1996, p.61) elucida que:

    Educar é difícil, trabalhoso, exige dedicação, sobretudo aos que mais necessitam. Transferir
problemas é fugir da verdadeira educação, é uma espécie de médico que transfere o doente de
hospital, lava as suas mãos e não se sente comprometido com o caso quando da morte do
paciente, porque aconteceu em outro hospital e em outras mãos.

    Educar é proporcionar ao aluno conhecer a si próprio, leva-lo à consciência de poder ser mais,
reconhecendo que é chamado a encontrar-se no mundo com o outro e não mais solitário em seu
“mundo”. Portanto, o professor como mediador para ensinar o aluno a ser reflexivo precisa estar
atento a todos os elementos necessários para que o aluno aprenda e se desenvolva integralmente.

    A sala de aula é um espaço de “luta” extremamente importante, desde que se compreenda e
acolha o educando, independente do quão diferente ele seja. A educação situa-se como
possibilidade de ser um instrumento de mudança social e de transformação da realidade.

    Educar é possibilitar a conscientização e humanização, mediatizando aos alunos as condições


para que se desenvolvam em todas as suas potencialidades. Assim o educando aparece como
primeiro agente do processo educativo, em cooperação com os demais, sendo ativo, participante,
reflexivo e crítico.

    Portanto Zabala (1998, p. 34) aponta que:

    O fato de que não exista uma única corrente psicológica, nem consenso entre as diversas
correntes existentes, não pode nos fazer perder de vista que há uma série de princípios nos quais
as diferentes correntes estão de acordo: as aprendizagens dependem das características singulares
de cada um dos aprendizes, correspondem, em grande parte, às experiências que cada um viveu
desde o nascimento; a forma como se aprende e o ritmo da aprendizagem variam segundo as
capacidades, motivações e interesses de cada um dos meninos e meninas, enfim, a maneira e a
forma como se produzem as aprendizagens são o resultados de processos que sempre são
singulares e pessoais.

Relação Professor-Aluno no processo ensino-aprendizagem

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    É importante considerar a relação entre professor/aluno junto ao clima estabelecido pelo
professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir, discutir o
nível de compreensão dos mesmos e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles.
Sendo assim, a participação dos alunos nas aulas é de suma importância, pois estará expressando
seus conhecimentos, preocupações, interesses, desejos e vivências de movimento podendo assim,
participar de forma ativa e crítica na construção e reconstrução de sua cultura de movimento e do
grupo em que vive. (GÓMEZ, 2000).

    Abreu & Masseto (1990, p.115), afirmam que:

    É o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de
personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos; fundamenta-se numa
determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da
sociedade.

    Nesse contexto, entende-se que a qualidade de atuação da escola não pode exclusivamente
depender somente da vontade de um ou outro professor. É necessária a participação efetiva e
conjunta da escola, junto da família, do aluno e profissionais ligados à educação, de forma que o
professor também entenda que o aluno não é um sujeito somente receptor dos conhecimentos
“depositados”.

    De acordo com Pérez Gomes (2000) a função do professor é ser o facilitador, buscando a
compreensão comum no processo de construção do conhecimento compartilhado, que se dá
somente pela interação. A aula deve se transformar e provocar a reflexão sobre as próprias ações,
suas conseqüências para o conhecimento e para a ação educativa. Nesse mesmo raciocínio é que
Rey (1995) defende a idéia de que a relação professor-aluno é afetada pelas idéias que um tem
do outro e até mesmo as representações mútuas entre os mesmos. A interação professor-aluno
não pode ser reduzida ao processo cognitivo de construção de conhecimento, pois se envolve
também nas dimensões afetivas e motivacionais.

    Freire (1996, p. 96) aponta que:

    O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do
movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus

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alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento,
surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.

    Logo, o professor deixará de ser o “dono do saber” e passará a ser um orientador, alguém que
acompanha e participa do processo de construção e das novas aprendizagens do aluno em seu
processo de formação. Sendo assim, pode-se dizer que os métodos de ensino são as ações do
professor pelas quais se organizam atividades de ensino e dos alunos para atingir objetivos do
trabalho docente em relação a um conteúdo especifico. Eles regulam as formas de interação entre
ensino e aprendizagem, ente o professor e os alunos, cujo resultado é a assimilação consciente
dos conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas e operativas dos alunos.

     Pode-se dizer então, que os métodos de ensino são as ações do professor pelas quais se
organizam atividades de ensino e dos alunos para atingir objetivos do trabalho docente em
relação a um conteúdo especifico. Esses métodos fazem à mediação nas formas de interação
entre ensino e aprendizagem, entre o professor e os alunos, tendo como resultado a assimilação
consciente dos conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades cognitivas e operacionais
dos alunos.

    Ressaltando Freire (1980, p.23), “o diálogo é um encontro no qual a reflexão e a ação,
inseparáveis daqueles que dialogam, orienta-se para o mundo que é preciso transformar e
humanizar”. A ação pedagógica do professor em sala de aula é imprescindível, desde que o
mesmo assuma seu papel como mediador e não como condutor. Grossi (1994, p.02) entende que
a relação professor-aluno deve pautar-se como “uma busca do aqui e agora e que nós não
precisamos nos comparar com outras gerações, mas, sobretudo temos que ser fiéis aos nossos
sonhos”.

    Loyola (2004) refere-se ao “professor autoritário”, o qual não deve impor o respeito, mas
conquistar de seus alunos. O professor autoritário busca com suas atitudes fazer com que os
alunos venham se calar, reprimindo suas expressões e até mesmo sentir medo. Assim, essa
relação professor-aluno não tem uma ação dialógica de construção e reconstrução de idéias.
Seguindo essa linha de pensamento, Freire (1996, p. 73) refere-se ao professor autoritário como:

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    "O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor
incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado,
sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa
pelos alunos sem deixar sua marca." (FREIRE, 1996, p.73)

    A relação estabelecida entre professores e alunos constitui o ápice do processo pedagógico.
Não há como segregar a realidade escolar da realidade de mundo vivenciada pelos discentes, e
sendo essa relação uma “via de mão dupla”, tanto professor como aluno pode ensinar e aprender
através de suas experiências. Para tanto, Gadotti (1999, p.2) refere-se a essa relação como:

    "Para por em prática o diálogo, o educador não pode colocar-se na posição ingênua de quem
se pretende detentor de todo o saber; deve, antes, colocar-se na posição humilde de quem sabe
que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto não é um homem "perdido", fora da realidade,
mas alguém que tem toda a experiência de vida e por isso também é portador de um saber".

    Cabe ao professor aprender que para exercer sua real função necessita-se combinar autoridade,
respeito e afetividade; isto é, ainda que o docente necessite atender um aluno em particular, a
ação estará direcionada para a atividade de todos os alunos em torno dos mesmos objetivos e do
conteúdo da aula. Ressalta-se a atuação de alguns professores não como modelo inquestionável
de docência, mas como fonte de inspiração para buscar um novo e melhor caminho para alcançar
os alunos. Para isso faz-se necessário o diálogo, conforme Libâneo (1994, p.250) diz:

    “O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também ouve os
alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar
respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e as opiniões dos alunos
mostram como eles estão reagindo à atuação do professor (...)”.

Considerações finais

    Se o interesse dos profissionais da educação for de fato com o foco nas reais necessidades,
como expectativas da educação na formação de indivíduos críticos-reflexivos, são necessárias
haver mudanças não apenas nas palavras, mas nas atitudes. É preciso estar comprometido com o
aluno, a escola, a sociedade e professores com uma educação de qualidade, vendo o aluno como

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indivíduo ativo do processo ensino-aprendizagem. Só assim os docentes estarão cumprindo o
papel de orientador realizando mais que o simples papéis de ensinar.

    Faz-se necessário ao longo da trajetória formativa, seja ela recém-formada ou com anos de
formação, refletir sobre o quanto os professores são capazes de reconstruir os próprios caminhos.
Isso lhes dará experiências enquanto alunos que foram, e eternamente serão, e quanto a
professores atuantes no espaço escolar hoje e amanhã.

    O professor em muitos casos é visto como força estimuladora para despertar nos alunos uma
disposição motivadora para determinado assunto. Essa relação de “ídolo” do aluno para com o
professor estimula sentimentos, instiga a curiosidade, relata de forma sugestiva um
acontecimento, faz uma leitura expressiva de um texto, e assim sucessivamente, ocorre o
crescimento desta cumplicidade entre professores e alunos.

    Os docentes devem levar em consideração, enquanto profissionais da educação ou acadêmicos


que almejam iniciar a carreira docente, que não são melhores que ninguém, mas que devem
sempre aprender seja com outros professores ou até mesmo com os alunos, pois até o mais
analfabeto pode ensinar de uma maneira diferente: com o exemplo da própria vida. E nesse
sentido que a produção conjunta do conhecimento é uma forma de interação ativa entre o
professor e os alunos, pois abre horizontes para novos conhecimentos, habilidades, atitudes e
convicções, bem como a fixação e consolidação de conhecimentos e convicções adquiridas
anteriormente.

    Assim sendo, entende-se que a proposta de ensino de qualidade, que se volta para a formação
cultural e científica do aluno que o possibilite em sua ampliação da participação efetiva nas
várias instâncias de decisão da sociedade, defronta-se com problemas de fora e dentro da escola.
Sendo a escola pública gratuita, com direito essencial para se constituírem como indivíduo-
cidadão, faz-se necessário pensar sobre uma “nova didática” voltada para os interesses populares
de transformação da sociedade.

    Faz-se cada vez mais evidente pensarmos sobre as necessidades de se construir uma prática
educativa inovadora, pautada na construção e reflexão do conhecimento compartilhado, que
possibilite agir, transformar e refletir na prática educativa dos docentes. É preciso pouco a pouco

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através dos desafios do contexto em que se vive olhar e perceber os obstáculos como
possibilidades de construção do novo.

    Para que essas mudanças aconteçam e escola consiga exercer seu papel, é necessário que todos
caminhem juntos, tendo a perspectiva praticada nas escolas de nossa sociedade, educando para
um mundo mais igual e cumprindo assim o seu papel mais importante na educação: formar seres
que possam pensar a respeito de tudo o que fazem.

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