Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Promoção da Saúde
Ana Célia Teixeira de Carvalho Schneider
Dalvan Antonio de Campos
João Batista de Oliveira Junior
Marina Steinbach
Virgínia de Menezes Portes
Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Ana Célia Teixeira de Carvalho Schneider
Dalvan Antonio de Campos
João Batista de Oliveira Junior
Marina Steinbach
Virgínia de Menezes Portes
S358a
CDD 610
Impresso por:
Apresentação
Neste Livro Didático, são apresentados e aprofundados conceitos re-
levantes para a área da saúde, considerando sua multiplicidade e complexi-
dade. Na primeira unidade, os conteúdos acerca das concepções de saúde,
medicalização, ética, biopoder, biopolítica e necropolítica são divididos em
três tópicos, sendo eles: 1) refletindo sobre saúde; 2) entendendo a medicali-
zação e a ética; 3) compreendendo o biopoder, a biopolítica e a necropolítica.
III
nômico, político, cultural, histórico entre outros. Finalizamos essa discussão
com a reflexão de algumas práticas medicalizadas e muito presentes nos dias
atuais, como o TDHA e o sedentarismo.
IV
No tópico “Modelos de saberes e práticas”, o desenvolvimento do
conteúdo concentrou-se nos elementos que caracterizam os modelos tradi-
cionais de aprendizagem, até os modelos mais inovadores como a interdis-
ciplinaridade e multidisciplinaridade, os quais emergem a partir da necessi-
dade de incentivar a autonomia do aluno e formar um profissional crítico e
reflexivo. Além disso, relata o processo de tensionamento, identificação dos
desafios e tentativas práticas de respostas para a ocorrência das mudanças
nos cursos de graduação das áreas da saúde.
V
No terceiro tópico são trabalhadas as articulações e interação dos
DSS em três grupos sociais vulneráveis, a saber: a população privada de
liberdade, a população em situação de rua e a população indígena. Para
cada uma dessas populações são exploradas as formas como as iniquidades
sociais fazem com que determinados grupos fiquem submetidos de forma
mais vulnerável a condições que geram doenças e agravos em saúde.
Bons estudos!
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
VI
VII
LEMBRETE
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
VIII
Sumário
UNIDADE 1 - SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER,
BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA............................................................................1
IX
3 A FORMAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL E NO MUNDO...........................................................69
4MUDANÇAS NO SETOR SAÚDE E O “NOVO” ENSINO NA SAÚDE NO BRASIL............77
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................85
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................86
X
2 SAÚDE E VULNERABILIDADE SOCIAL.....................................................................................175
2.1 ENTENDENDO OS CONCEITOS...............................................................................................176
3 OS DSS E A SAÚDE DE POPULACÕES VULNERÁVEIS.........................................................177
3.1 POPULAÇÃO PRIVADA DE LIBERDADE................................................................................178
3.2 POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA....................................................................................181
3.3 POPULAÇÃO INDÍGENA............................................................................................................184
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................192
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................193
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................194
XI
XII
UNIDADE 1
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – REFLETINDO SOBRE SAÚDE
TÓPICO 2 – ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
TÓPICO 3 – COMPREENDENDO O BIOPODER, A BIOPOLÍTICA E A
NECROPOLÍTICA
CHAMADA
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos as diversas formas de pensar o conceito saúde,
suas diferentes definições ao longo do tempo, assim como alguns aspectos que
impactam suas diferentes conceituações. Assumiremos como foco as perspecti-
vas voltadas ao modelo biomédico e ao conceito ampliado de saúde (modelo de
determinação social do processo saúde e doença).
Você deverá refletir sobre o que é saúde a partir da lente que permite
identificar as noções históricas, os motivos associados aos aparecimentos e desa-
parecimentos. Da mesma forma, deverá ser capaz de refletir acerca dos modelos
e fatores influenciadores — que tendem a se tornar cada vez mais complexos
— que corroboram para concepção individual e coletiva de saúde nas múltiplas
formas de organização social em determinado tempo e lugar.
2 O QUE É SAÚDE?
O conceito de saúde não pode ser apresentado como algo estático, único e
absoluto. Ao se deparar com a definição do que é saúde, se faz necessário refletir
também sobre qual é o momento histórico que estamos analisando, a conjuntura
social, econômica, política e social, pois saúde não tem um significado universal,
ela depende de valores individuais, concepções científicas, religiosas, filosóficas,
entre outras (SCLIAR, 2007).
3
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
E
IMPORTANT
4
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
cartes, Newton, Bacon, dentre outros que defendiam a realidade do mundo como
uma máquina (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002). Assim, o modelo biomédico
tradicional se traduz por uma visão cartesiana de ver o mundo, considerando a
doença como um desarranjo temporário ou constante do funcionamento de um
organismo. Por isso, podemos afirmar que curar uma doença se equivalia ao con-
serto de uma máquina (ENGEL, 1977; NOACK, 1987).
NTE
INTERESSA
6
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
7
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
8
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
Desse modo, fica claro que o SUS foi idealizado para superar o modelo
biomédico, com caráter preventivista e assistencial, com uma proposta de
reestruturação organizacional dos serviços e ações em saúde. O Programa de
Saúde da Família (PSF), atual Estratégia de Saúde da Família (ESF), se mostra
como uma das estratégias de reestruturação e superação do modelo biomédico a
partir da proposta de atenção primária, porém o que ainda se observa é uma forte
influência do modelo hegemônico.
9
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
10
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
NOTA
Antes de prosseguirmos, podemos pensar: quais fatores podem estar associados a estes
casos?
Continuando...
A partir de uma reunião de equipe, os profissionais de saúde decidiram fazer uma visita
no território, para pensar quais fatores poderiam estar influenciando esta situação, pois a
maioria dos pacientes diagnosticados morava na mesma região.
Após uma visita junto à equipe de vigilância sanitária no território e reunião com algumas
lideranças do centro comunitário, os profissionais encontraram os seguintes problemas:
11
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
Nas reuniões seguintes, a equipe percebeu a diminuição progressiva dos casos de diarreia
aguda, destacando que ainda não havia sido modificado nenhum aspecto físico daquele
ambiente relacionado ao tratamento de água e esgoto.
AGORA REFLITA:
a ideia de contágio entre a população, mas agora com caráter religioso. Assim, as
causas estão ligadas à conjugação dos astros, ao envenenamento das águas pelos
leprosos, judeus ou até mesmo por bruxarias. Sob forte influência do cristianis-
mo, a doença assume um sentido místico religioso — vista como castigo — e a
cura é buscada em poderes milagrosos (amuletos, água benta, exorcismo). Ainda
nesse período, os estudos empíricos são responsáveis pela formação das ciências
básicas, surgindo assim a necessidade de descobrir a origem das matérias que
causavam os contágios, dando origem à Teoria Miasmática, cuja explicação da
doença estava nas partículas que não podiam ser vistas, os miasmas.
13
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
Assim, saúde não significava mais a ausência de doenças, mas deveria ser
capaz de expressar o direito a uma vida sem privações, entendo que o trabalho, a
moradia, o convívio social, o acesso a serviços e bens de consumo, o saneamento
básico, a dimensão psicológica, dentre outros, eram aspectos relevantes na defi-
nição de saúde e doença de uma população.
Apesar de avançada para a época em que foi realizada, essa definição pas-
sa a exigir atualmente outras concepções diante da complexidade da saúde dos
indivíduos. Diante da definição do que é saúde e de seus parâmetros de nor-
malidade, é preciso lançarmos um olhar detalhado para outros fatores. O que
é normal? Como é mensurada a normalidade de um fenômeno? Comumente, o
normal é pensado como sendo o estado mais comum — como deveria ser — de
um determinado fenômeno, a partir disso, determina-se o mais saudável, haven-
do uma padronização. Entretanto, pelo fato de a saúde e a doença envolverem
dimensões subjetivas, sociais, econômicas, políticas e não apenas biologicamente
científicas, a normatividade que define o normal e o patológico varia de uma so-
ciedade para outra nos diferentes tempos e lugares (CANGUILHEM, 1995).
Além disso, podemos dizer que, para além das definições de normal e
patológico, as sociedades contemporâneas têm considerado as questões estéticas
como componentes importantes na concepção de ter ou não saúde. Dessa forma,
se identifica novos elementos capazes de definir saúde e doença. Em contrapo-
sição, os determinantes sociais em saúde nos chamam atenção para os múltiplos
fatores que influenciam o nível de saúde e qualidade de vida das populações,
salientando-os em uma associação direta com a classe social, relações étnicas e
de gênero, condições de trabalho e sanitárias, acesso aos serviços de saúde e bens
de consumo, dentre tantas outras. Cenários estes que revelam mundos comple-
tamente opostos — atravessados pela dimensão econômica e social — em uma
mesma cidade, por vezes, em um mesmo bairro. Desafios que se relacionam di-
retamente ao fazer saúde e produzir cuidado no cotidiano dos serviços de saúde
em seus diferentes níveis de atenção.
14
TÓPICO 1 | REFLETINDO SOBRE SAÚDE
a se tornar cada vez mais complexas, uma vez que as modificações econômicas,
culturais, sociais e políticas vão alterando a vida das pessoas, impactando, assim,
a forma de viver, de se ver nesse mundo, e sentir-se saudável ou doente. É fun-
damental considerar que o aparecimento e desaparecimento de fenômenos de
saúde e doença, o aumento ou a diminuição de sua frequência, a menor ou maior
importância que adquirem estão diretamente associados às múltiplas formas de
organização social em determinado tempo e lugar.
DICAS
Sugestões de leituras:
15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
● Há dois modelos que possuem grande relevância para pensar saúde, sendo eles:
o conceito biomédico, o qual é considerado hegemônico na nossa sociedade
e apresenta uma compreensão pautada nas ciências da vida, centralizado
na doença, partindo especificamente da biologia, anatomia e fisiologia; e o
conceito ampliado de saúde, que considera saúde uma conquista dos direitos
humanos e não se restringe à acessibilidade aos serviços, depende também de
outros fatores que são considerados determinantes e condicionantes sociais da
saúde, assim, indo além do ao modelo biomédico.
● Sobre a Promoção da Saúde, o que é e de que maneira ela acontece na vida prá-
tica das pessoas, e de que maneira é vista como um novo modo de olhar para as
questões de saúde, possuindo também múltiplas definições. Destacamos sua di-
mensão prática, a qual é atravessada diretamente pelos modelos conceituais em
saúde, especialmente o modelo biomédico e o modelo de determinação social.
16
AUTOATIVIDADE
17
quais são as possibilidades existentes ou não de realizar tais mudanças,
e quais são as formas para que essas condições ocorram, através de um
exercício de direitos e de cidadania, para que de fato as pessoas tenham
autonomia e consigam tomar decisões a respeito do seu processo de saú-
de e doença.
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2
ENTENDENDO A
MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos o conceito de medicalização e de ética, seus
processos históricos e sociais de construção, assim como suas interfaces com as
diversas disciplinas e sua aplicação prática. Por isso, você deverá refletir sobre os
temas mencionados, os quais estão subdivididos em dois grandes grupos com o
objetivo de apresentar detalhadamente cada conceito, facilitando a aprendizagem.
2 O QUE É MEDICALIZAÇÃO?
A medicalização é o processo de extrapolação dos limites da medicina e
de fenômenos que faziam parte de outros campos, como a educação, as leis, a reli-
gião entre outros, e que passam a ser objetos de preocupação médica, mostrando-se
como uma expressão de extenso alcance social. A partir disso, ocorreu a incorpo-
ração de normas biomédicas para a vida comum, fazendo com que as experiências
singulares das pessoas se tornassem objetivo de controle e intervenção médica, nor-
matizando o cotidiano, o corpo e o comportamento, tentando intervir em todos os
modos de expressão da vida humana (CONRAD, 2007; TESSER, 2010).
20
TÓPICO 2 | ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
Criando a lei dos pobres, por conta de uma epidemia de cólera em 1832, portanto,
a lei tinha o intuito de controlar os pobres (através de medidas autoritárias, como
obrigatoriedade de vacinação), fazendo com que as pessoas ficassem mais ap-
tas ao trabalho e oferecessem menores riscos às classes mais ricas (FOUCAULT,
1984b; ZORZANELLI; CRUZ, 2018).
21
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
22
TÓPICO 2 | ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
Por tratar-se de um tema bastante polêmico, tem sido foco de várias pes-
quisas atualmente e, de maneira geral, é apresentada de maneira bem simplifica-
da. Os diagnósticos sobre o TDAH são bastante complexos, pautados a partir de
categorias descritivas criadas pela psiquiatria, entretanto, mesmo com protocolos
existentes, as queixas levantadas se tratam de situações e condições subjetivas e
que poderiam ser justificadas por outros fatores (sociais, culturais, econômicos,
familiares, educacionais) e não deveriam ser especificamente reduzidos a alte-
rações ou distúrbios neuroquímicos, com uma origem exclusivamente orgânica
(BIANCH; FARAONE, 2015).
Esse contexto faz com que haja uma individualização dos problemas da
dificuldade de aprendizagem e dos comportamentos tidos como inadequados, cen-
trando as intervenções somente nas crianças e adolescentes (medicando-as) e po-
dendo culminar em uma culpabilização do sujeito, e ainda, desviando o olhar sobre
os problemas relacionados ao contexto de vida dessas pessoas que podem estar
diretamente ligados a suas ações e comportamentos (COLLARES; MOYSÉS, 1994).
24
TÓPICO 2 | ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
DICAS
FONTE: <http://escambau.org/wp-content/uploads/2018/11/d398efac5b73ea51f5720e279995e
7d670d01117-800x445.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
26
TÓPICO 2 | ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
3 ÉTICA E BIOÉTICA
Os conceitos de ética e bioética não possuem a mesma definição e foram
concebidos por diversificados autores. Os processos de conceituações de ética e
bioética ocorreram em momentos históricos distintos, conforme será ilustrado
a seguir.
Mas qual a diferença entre ética e moral? Podemos definir suas distinções
no fato de que, enquanto a moral faz parte da vida cotidiana das sociedades e de
suas populações, não sendo objeto da filosofia, a ética se define por ser um saber
filosófico. Além disso, enquanto a moral possui “sobrenomes”, os quais derivam
da vida social, como moral cristã, moral socialista, entre outras, a ética possui
sobrenomes filosóficos, como ética aristotélica, ética kantiana e assim por diante.
Assim, podemos pensar a moral de “moral vivida”, e a ética de “moral pensada”,
isso porque ela se circunscreve nesses dois níveis diferentes de reflexão: o cotidia-
no e o filosófico (ARANGUREN, 1994).
Além disso, no centro da discussão estava o fato de que para esta sobre-
vivência não seria necessário um conhecimento rigoroso da técnica, mas respeito
e consideração aos valores humanos. Para o autor, o termo bioética enfatiza dois
aspectos relevantes para alcançar a prudência necessária: o conhecimento bioló-
gico associado aos valores humanos (POTTER, 1971). Assim, a associação entre
biologia (em seu sentido amplo, como bem-estar dos seres humanos, animais não
humanos e meio ambiente) e ética representa a essência da bioética na atualidade
(DINIZ; GUILHEM, 2002).
28
TÓPICO 2 | ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
Esse cenário foi fundamental para provocar debates sobre respeito às di-
ferenças, acesso como direito e pluralidade ética e moral. Paralelamente ao pro-
tagonismo dos grupos houve críticas a instituições já tradicionais e mudanças
aos padrões morais da época, como a configuração familiar, crenças religiosas
e outras estruturas enraizadas socialmente. Por isso, considerando a crise moral
dos anos 1960 e 1970, sobretudo no contexto estadunidense, é que o surgimento
da bioética pode ser concebido como a principal resposta no campo ético a essas
grandes modificações.
Para tanto, Berlinguer (1993) nos convoca a pensar a bioética pelas len-
tes da vida cotidiana, em que o fundamental é atentarmos para os problemas
éticos oriundos de situações que envolvem milhares de pessoas, que poderiam
ser evitados na atual conjuntura da humanidade, sendo injustos e moralmente
reprováveis (VERDI, 2013). Isso significa considerar na discussão atual que as
ciências da vida estimulam uma reflexão teórica mais ampla e provocam dilemas
mais dilacerantes.
29
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
30
TÓPICO 2 | ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
Para tanto, o que se coloca como desafio geral é: Como a bioética permeia
o fazer cotidiano dos profissionais da saúde? Como podemos utilizá-la enquanto
uma ferramenta fundamental no cuidado?
Da mesma forma, podemos destacar casos de usuários que optam por não
realizar certo procedimento ou tratamento devido a sua religião, filosofia ou esti-
lo de vida. Assim, o profissional de saúde, a partir das suas práxis profissionais,
sugere a adoção de hábitos capazes de proteger a saúde do usuário, entretanto,
considerando o conceito da autonomia, é necessário que sejam aceitas todas as
escolhas individuais, mesmo aquelas que consideradas prejudiciais pela equipe
de saúde. Diante desses desafios éticos/bioéticos podem surgir embates entre os
31
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
Dessa forma, Testa (1992) nos apresenta uma visão mais ampliada de prá-
tica profissional, a qual implica considerar tanto a ciência como as profissões,
além do campo das formalidades legais, no âmago histórico de Estado como con-
tinente global das práticas sociais. Portanto, assumimos aqui a defesa de que a
ética profissional dos trabalhadores de saúde cumpra duas funções: a concreta/
específica, resultado da formação específica e de trabalho concreto, e outra abs-
trata, social e independente de formação científica, a qual resulta do seu trabalho
abstrato, identificada com a mais-valia, e que se dá como consequência das con-
dições sociais ofertadas pelo Estado acerca dessa prática (SOARES; SHIMIZU;
GARRAFA, 2017).
33
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
34
TÓPICO 2 | ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
Por se tratar da forma pela qual uma pessoa manifesta sua existência, seu
processo de vir a ser, podemos apontar a centralidade da educação em saúde
como estratégia de promoção do autocuidado. Assim, a equipe de saúde pode
assumir ações que sejam capazes de construir — junto ao usuário — práticas de
autocuidado que garantam sua saúde e sua segurança. É importante considerar
as condições existentes para essas práticas, assim como a responsabilidade e o
conforto do indivíduo para realizá-las. Essas ações podem ser vistas nos dife-
rentes níveis de atenção à saúde, entretanto, são frequentemente encontradas na
Atenção Básica, a qual possui suas diretrizes e princípios baseados no vínculo
entre profissional de saúde e usuário.
35
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
3.5 IATROGENIA
Iatrogenia é um termo que deriva do grego e consiste na geração de um
dano físico ou psíquico causado ao usuário por um profissional de saúde. Essa
concepção vem sendo bastante desenvolvida na atualidade devido à identifica-
ção de sua relevância no contexto da saúde. Temas como segurança do pacien-
te, procedimento seguro, prevenção quaternária, redução das taxas de infecções
hospitalares, excesso de rastreamento, medicalização de fatores de risco e demais
questões relevantes têm ganhado fundamental destaque tanto no cenário da pes-
quisa, quanto da prática assistencial.
36
TÓPICO 2 | ENTENDENDO A MEDICALIZAÇÃO E A ÉTICA
Por essa razão, baseando-se na ética do cuidado, muito se tem feito para
a criação e implementação de estratégias institucionais práticas a fim minimizar
e/ou erradicar a iatrogenia clínica, dada a sua importância para o cuidado à saú-
de. Sem pretender esgotar as situações e práticas que podem causar iatrogenia,
abordaremos três situações típicas: excesso de rastreamentos, excesso de solicita-
ção de exames complementares e abusos na medicalização de fatores de risco, si-
tuações estas detalhadamente desenvolvidas em estudos anteriores (NORMAN;
TESSER, 2009).
37
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
DICAS
Dicas de leitura:
Dicas de filmes:
Mar adentro (2004. Direção: Alejandro Cobaias (1997). Direção: Joseph Sargent.
Amenábar.
38
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
● Bioética é o termo que se refere aos problemas éticos oriundos das descobertas
e das aplicações das ciências biológicas, que visa dar respostas aos desafios
de maneira mais justa e correta. Para demonstrar algumas possibilidades
de sua aplicação, abordamos as políticas públicas como forma de respostas
às desigualdades sociais e econômicas causadoras de iniquidades em nossa
sociedade; e bioética aplicada ao dever do exercício profissional em saúde.
39
● Ética do cuidado é quando o cuidado é pensado a partir de uma proposta
ética, a qual não se limita a um ato isolado, mas sim à maneira como a pessoa
estrutura e estabelece suas relações consigo mesma, com os outros e com o
mundo, sendo identificada como uma atitude de ocupação, preocupação,
responsabilização e vinculação com o outro. Trata-se de uma abordagem que
possibilita a sensibilidade a partir do reconhecimento da realidade do outro
por meio das suas singularidades e diferenças.
40
AUTOATIVIDADE
42
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, abordaremos o conceito de biopoder, biopolítica e necro-
política, apresentando o contexto histórico e social que inspirou seu surgimento,
assim como seus principais autores e implicações no contexto contemporâneo.
Por isso, neste tópico, você deverá refletir sobre os temas mencionados, que estão
divididos em três subtítulos com o objetivo de apresentar detalhadamente cada
conceito, facilitando a aprendizagem.
Assim, neste subtópico, você deverá refletir sobre como ocorre a aplicação
prática dessas concepções, quais aspectos que as influenciam e, além disso, que
formatos vão assumindo ao longo do tempo. Refletir, sobretudo, diante da ma-
43
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
2 O QUE É BIOPODER?
Pensar no conceito de biopoder é pensar em um grande filósofo que
trouxe importantes contribuições no âmbito das teorias sociais: Michel Foucault,
que se dedicou a estudar as relações de poder na sociedade que é onde se insere
nossa discussão.
Vale salientar também que essa temática se relaciona com o que já
estudamos anteriormente, quando discutimos a medicalização social, visto que a
medicalização para Foucault está relacionada diretamente a essa noção de poder.
É importante entender que o poder sempre esteve presente na história da
humanidade e sua grande característica se dá por sua invisibilidade. Entretanto,
essa característica não afeta sua ação sobre a vida humana, podendo assim ser
‘personificado’ por diversas formas de dominação (leis, autoridade, capital) que
são executadas na sociedade, estando cada vez mais presentes nas diferentes
formas no corpo social. Assim, o poder pode ser considerado uma forma de
dominação, uma característica única do Estado, que vem de maneira vertical e
que é aceito de forma passiva.
Poder, nos pensamentos de Michel Foucault, não significa algo que
alguém ou alguma entidade possui e outros não, mas está presente a partir de
uma série de relações de forças multilaterais, que se alastra de forma capilarizada
e que se propaga por meio de uma rede social que envolve instituições como a
família, escola, hospital, prisões etc. As relações de saber possuem centralidade
para refletirmos acerca do poder, necessitando assim de conhecimentos para
que seja possível exercê-lo. Para Foucault, o poder não se dá de maneira dual
(um sobre o outro), não tem um centro, mas se alastra de maneira microfísica,
além disso, o filósofo também coloca o poder como um instrumento que é capaz
de provocar comportamentos, indo muito além do imaginável, permeando os
corpos e os transformando completamente (FURTADO; CAMILO, 2016).
44
TÓPICO 3 | COMPREENDENDO O BIOPODER, A BIOPOLÍTICA E A NECROPOLÍTICA
NOTA
45
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
46
TÓPICO 3 | COMPREENDENDO O BIOPODER, A BIOPOLÍTICA E A NECROPOLÍTICA
3 BIOPOLÍTICA
Biopolítica é um conceito foucaultiano, que surge predominantemente
para responder à seguinte questão: De que forma o poder pode regular a própria
vida dos indivíduos? Para que possamos adentrar no conceito de biopolítica, pri-
meiramente é necessário entendermos o que é poder para Foucault.
Com isso, a instauração da norma que tem como tarefa principal a ga-
rantia da vida, passa a ser uma das consequências práticas desse poder, o qual
sempre será dependente de mecanismos contínuos, reguladores e corretivos. A
norma é aplicável tanto a um corpo que se deseja disciplinar (âmbito individual)
como a uma população que se deseja regulamentar (âmbito coletivo). Assim, a
sociedade de normalização é uma sociedade onde se faz presente a norma disci-
plinar e a norma da regulamentação e foi exatamente esta sociedade que conse-
47
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
guiu dar conta de toda essa superfície que vai do orgânico ao biológico, do corpo
à população, a partir dessas duas tecnologias: a disciplinar e a regulamentadora
(FOUCAULT, 1979).
48
TÓPICO 3 | COMPREENDENDO O BIOPODER, A BIOPOLÍTICA E A NECROPOLÍTICA
4 NECROPOLÍTICA
Assim como biopoder e biopolítica são conceitos foucaultianos, a necro-
política é um conceito consideravelmente atual desenvolvido por Achille Mbem-
be, filósofo negro, historiador, teórico político e professor universitário camaro-
nense. Em 2003, o autor escreveu um ensaio questionando os limites da soberania
quando o Estado escolhe quem deve viver e quem deve morrer, baseando-se nas
concepções de biopoder e biopolítica anteriormente desenvolvidos.
49
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
50
TÓPICO 3 | COMPREENDENDO O BIOPODER, A BIOPOLÍTICA E A NECROPOLÍTICA
51
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
Além disso, utilizar as lentes da necropolítica para refletir acerca das re-
lações sociais, das formas como as pessoas vivem e seus impactos na educação,
saúde, segurança pública, seguridade social e tantos outros aspectos e meca-
nismos que envolvam a relação entre Estado e sociedade, torna-se um exercício
fundamental de cidadania e enfrentamento dos desafios na atualidade. Trata-se
de atitudes capazes de produzir a vida, derrubar as hierarquias instituídas por
aqueles que se acostumaram a vencer utilizando a “violência absoluta”. Trata-se
de cuidar, e se possível, curar aqueles e aquelas que o poder machucou, violou ou
torturou ou, simplesmente, enlouqueceu.
DICAS
Sugestões de leitura:
• AGAMBEN, G. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. 2. ed.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. (Homo Sacer – Il Potere Sovrano e la nuda vita).
• AGAMBEN, G. Estado de exceção. Trad. Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo, 2004
(Stato di Eccezione).
• ALMEIDA, S. L. de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
• AMBRÓZIO, A.; VASCONCELOS, P. A. C. Biopoder e cuidado de si no pensamento de
Michel Foucault. Revista Margens Interdisplinares, Belém, v. 6, n. 7, p. 135-150, 2010.
• FURTADO, M.; SZAPIRO, A. Promoção da saúde e seu alcance biopolítico: o discurso
sanitário da sociedade contemporânea. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 21, n. 4, p.
811-821, 2012.
52
TÓPICO 3 | COMPREENDENDO O BIOPODER, A BIOPOLÍTICA E A NECROPOLÍTICA
LEITURA COMPLEMENTAR
Daniele Lorenzini
53
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
biológico"). Para permanecer fiel à ideia de Foucault de que o poder não é bom
ou ruim em si mesmo, mas que ele é sempre perigoso (se aceito cegamente, ou
seja, sem nunca questioná-lo), pode-se dizer que essa “mudança de paradigma”
no modo como somos governados, com seus resultados tanto positivos e quanto
horríveis, corresponde, sem dúvida, a uma extensão perigosa do domínio de in-
tervenção dos mecanismos de poder. Não somos mais governados apenas, nem
mesmo primariamente, como sujeitos políticos da lei, mas também como seres
vivos que, coletivamente, formam uma massa global - uma “população” - com
uma taxa de natalidade, uma taxa de mortalidade, uma taxa de morbidade, uma
expectativa média de vida, etc.
54
TÓPICO 3 | COMPREENDENDO O BIOPODER, A BIOPOLÍTICA E A NECROPOLÍTICA
55
UNIDADE 1 | SAÚDE, MEDICALIZAÇÃO, ÉTICA, BIOPODER, BIOPOLÍTICA E NECROPOLÍTICA
56
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
57
AUTOATIVIDADE
58
De maneira geral, as recomendações nutricionais giram em
torno da quantidade adequada de nutrientes necessárias para se ter
uma alimentação saudável, visando à ‘qualidade de vida’, porém essas
recomendações são feitas com base em uma pessoa idealizada, em um
padrão legitimado socialmente, com acesso total a bens e serviços de
consumo e saúde.
2 Com base nas reportagens a seguir, faça uma reflexão sobre como as relações
de poder na contemporaneidade acabam decidindo os corpos que importam
e aqueles que não importam — “fazer viver e deixar morrer” — e o quanto
o conceito de necropolítica contribui para a compreensão de tais fenômenos.
59
FIGURA – REPORTAGEM VICE
60
FONTE: <https://bit.ly/2Z9YdNm>. Acesso em: 15 abr. 2020.
61
62
UNIDADE 2
INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS
HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
63
64
UNIDADE 2
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, diversas mudanças ocorreram no que diz respeito à
saúde em nosso país e, felizmente, muitos direitos foram conquistados para a
população brasileira. Entretanto, para que isso ocorresse, milhares de pessoas se
dispuseram a estudar e pensar melhores formas de “fazer saúde”, inúmeras lutas
foram travadas para que chegássemos à quantidade e qualidade de ações e ser-
viços de saúde que são oferecidas, hoje, tanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
quanto nos hospitais, clínicas e outras instituições privadas.
Mas essas mudanças não ocorreram apenas na forma de fazer saúde, de-
pois de um tempo percebeu-se que para que a qualidade da atenção à saúde
alcançasse os níveis de melhora desejáveis era necessário que a formação dos
profissionais também sofresse uma transformação. Era necessário que os profis-
sionais de saúde desenvolvessem outras habilidades que não somente as específi-
cas de cada profissão, como por exemplo, autonomia, pró-atividade, pensamento
crítico-reflexivo e a capacidade de trabalhar em uma equipe multidisciplinar.
FONTE: <http://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/592-8-conferencia-nacional-de-
saude-quando-o-sus-ganhou-forma>. Acesso em: 18 abr. 2020.
66
TÓPICO 1 | O ENSINO NA ÁREA DA SAÚDE
DICAS
67
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
ATENCAO
Existem outras ações que podem ser destacadas no cotidiano das equipes
de saúde da família,dentre elas, programar e implementar atividades de atenção
à saúde; desenvolvimento de ações que priorizem os grupos e fatores de risco;
acolher através de uma escuta qualificada as necessidades individuais; prestar
atenção integral, continuada e organizada; realizar ações tanto dentro da UBS,
quanto na casa das pessoas e em outros locais comunitários como escolas, igre-
jas e associações; desenvolver ações educativas que possam interferir o processo
saúde-doença das pessoas, de forma individual e coletiva; implementar diretrizes
para qualificar modelos de atenção e gestão; participar do planejamento local de
saúde e desenvolver ações intersetoriais (BRASIL, 2008).
É importante que você perceba que essa estratégia (ESF) teve como obje-
tivo, e, até os dias de hoje tem como desafio, quebrar a organização disciplinar
tradicional que se fez presente na área da saúde durante muitos anos, estratégia
estaque além de ser fragmentada é predominantemente centrada no aspecto bio-
lógico do processo saúde-doença.
Para que isso possa acontecer, se torna necessária uma mudança em todos
os integrantes desse novo sistema: gestores, profissionais e usuários. É impres-
68
TÓPICO 1 | O ENSINO NA ÁREA DA SAÚDE
Perceba que, propondo uma nova forma de fazer saúde, se propõe tam-
bém um novo perfil profissional, sendo este essencial para a implementação da
nova estratégia que tanto os novos quanto os antigos integrantes tenham com-
prometimento em colocar em prática, aceitando e conservando esse novo perfil.
69
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
E
IMPORTANT
DICAS
Um exemplo que pode ser encontrado no livro foi um dos primeiros usos
do éter líquido para deixar o paciente desacordado durante uma cirurgia, já que à
época, as cirurgias ainda eram realizadas sem anestesia, como você pode observar
no trecho a seguir, retirado do livro:
70
TÓPICO 1 | O ENSINO NA ÁREA DA SAÚDE
71
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
73
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
FONTE: <https://traditionalmedicina.blogspot.com/2018/01/alma-ata-declaration-1978-2018.
html>. Acesso em: 18 abr. 2020.
NOTA
74
TÓPICO 1 | O ENSINO NA ÁREA DA SAÚDE
a língua portuguesa e é bastante interessante ver as diretrizes traçadas e que deveriam ser
seguidas pelos países, para que no ano 2000, o cenário da saúde pudesse ser bastante
diferente do que era naquela época. Como já passamos mais de 20 anos dos anos 2000,
tire suas próprias conclusões. Leia! Não leva muito tempo, pois tem um pouco mais de
duas páginas apenas.
E
IMPORTANT
Apesar de não ser o principal tema desta disciplina é importante você saber que
a Lei nº 8.080/90, a lei orgânica do SUS, apesar de ser conhecida com esse nome, não diz
respeito apenas aos serviços e ações ofertados no setor público.
75
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
Cinco anos mais tarde, novas mudanças foram propostas, agora centradas
nas escolas da América Latina, e o seu diferencial era a integração com a comuni-
dade. O programa Uma Nova Iniciativa (UNI) pretendia unir a comunidade, a es-
cola e o serviço, ainda utilizando o serviço como local de aprendizagem, além de
estudos epidemiológicos, trabalho multidisciplinar e atenção integral. Entretan-
to, a adesão dos professores e profissionais foi muito baixa, o que impediu que o
programa tivesse muitos avanços (GONÇALVES; BENEVIDES-PEREIRA, 2009).
Você pode achar que o movimento deveria ser inverso, certo? Que com o
avanço da medicina, as formações, cursos e residências deveriam estar cada vez
mais especializados. O que acontece é que esse movimento já havia acontecido e
aparentemente não estava dando certo. Na década de 1970 já existiam diversos
programas de residência médica, e estes estavam em um momento de valorização
e expansão devido ao mercado especialista, baseado na saúde intervencionista,
biologicista e hospitalocêntrico da época (BOTTI, 2012). Entretanto, no dia a dia,
percebeu-se que apesar dos avanços tecnológicos, os problemas de saúde conti-
nuavam aumentando, em quantidade e gravidade. No próximo tópico, veremos
isso com mais de profundidade.
76
TÓPICO 1 | O ENSINO NA ÁREA DA SAÚDE
E
IMPORTANT
Você sabe o que é um Programa de Residência? Sabia que após a sua gradu-
ação você pode participar desse tipo de formação? No Brasil, os programas de residência
tiveram início há bastante tempo já, em 1944, com a residência em ortopedia da Universi-
dade de São Paulo (SKARE, 2012). Começaram com áreas tradicionais da medicina, voltadas
para áreas especializadas.
Elas duram 2 anos, têm carga horária de 60 horas semanais, e as profissões que podem
fazer parte são: Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia,
Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Servi-
ço Social e Terapia Ocupacional (BRASIL, 2012).Além disso, há várias áreas: hospitalar, saúde
da família, saúde mental, terapia intensiva.
Assista a este vídeo de cinco minutos, o qual traz dez informações básicas sobre a Residên-
cia Multiprofissional em Saúde: https://www.youtube.com/watch?v=oSk0oVjuAbY.
77
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
NTE
INTERESSA
Hipócrates foi um médico nascido em Cós, na Grécia, que transformou a medicina em ciência
ao adotar métodos específicos para pesquisar a causa das doenças humanas, geralmente
baseado em observações, ignorando as ideias religiosas e supersticiosas que justificavam
a causa das doenças à época. Considerado o “Pai da Medicina Ocidental”, Hipócrates
influenciou outros filósofos famosos, como Platão e Aristóteles, e ficou conhecido por suas
ideias, que à época, pareciam revolucionárias, como por exemplo, afirmar que não só o
ambiente no qual as pessoas vivem afetam a sua saúde, mas também os regimes políticos
e suas instituições. Além disso, ele nos deixou o “Juramento de Hipócrates” e algumas frases
bastantes curiosas, e que parecem muito atuais, como:
• Tuas forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que vão curar tuas doenças.
• Os homens deveriam saber que somente do cérebro vem as alegrias, o prazer, o riso,
a preguiça, os sofrimentos, a dor, a tristeza e as lamentações.
78
TÓPICO 1 | O ENSINO NA ÁREA DA SAÚDE
É claro que essa mudança não ocorreu assim de forma tão simples, uma
série de fatos sucederam para que se começasse a pensar que deveriam ter outras
formas de se fazer saúde que não as que já se tinha. Além disso, as modificações
que aconteceram tanto na forma de “fazer” saúde quanto na forma de “estu-
dar” saúde não começaram de uma hora para outra, e também não foram rápidas
como podem estar parecendo para você, muitos anos se passaram até que a mu-
dança pôde ser observada.
Para Arouca (2003), a Medicina Preventiva iniciou por três motivos prin-
cipais:
79
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
Veja como a forma de pensar e fazer saúde na prática diária está intimamente
ligada ao tipo de formação que as escolas da área da saúde proporcionam aos
alunos. A partir do momento que se pensou nessa mudança, uma das primeiras
atitudes tomadas pelas instituições que tinham interesse nessa alteração de
padrão foi incentivar as escolas da área da saúde. Então, sempre que se pensa
em modificar o modelo de ação do profissional, a primeira atitude é modificar a
forma como esse profissional é formado.
80
TÓPICO 1 | O ENSINO NA ÁREA DA SAÚDE
E
IMPORTANT
Para saber um pouco mais sobre o assunto, assista ao vídeo a seguir: https://www.youtube.
com/watch?v=BF7LOhxCNSk.
Mas, e as Ciências Sociais? Segundo o Dicionário Aurélio (2020a, s.p.), Ciências Sociais é
o “ramo da ciência que estuda as relações humanas em seus diferentes aspectos, desde as
formas de organização social até o uso da linguagem”. E para compor o estudo de uma
área tão complexa como as relações humanas são estudadas várias disciplinas, entre elas,
antropologia, comunicação, administração, história, linguística, ciência política, economia,
filosofia social, sociologia, entre outras.
Para saber um pouco mais sobre o assunto, assista ao vídeo a seguir: https://www.youtube.
com/watch?v=JkT912HhXVQ.
81
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
ria da saúde da população e estudos epidêmicos, mas tudo isso era subordinado
ao Estado. A Medicina Urbana era baseada em analisar locais de amontoamento,
controlar circulação e qualidade do ar e da água, organizar a distribuição de esgo-
tos, fontes etc. E, por fim, a Medicina da Força de Trabalho foi considerada a “me-
dicina dos pobres”, pois era voltada a ações de manutenção da saúde das classes
mais baixas para que se mantivessem produtivas no trabalho e não oferecessem
perigo às classes mais ricas (FOUCAULT, 1979).
Como já foi comentado algumas vezes, todas essas modificações que ocor-
reram não foram isoladas, não se baseavam apenas em ações e formas de “enten-
der” saúde, que a partir do momento que ocorria uma transformação no concei-
to, as ações dentro dos consultórios médicos, hospitais etc. eram modificadas.
Grande parte dessas reformulações tiveram início e foram fomentadas dentro das
escolas de saúde, e precisavam ali ser sedimentadas também, para que houvesse
um movimento síncrono de mudança tanto nas escolas quanto nas instituições.
Afinal, se os profissionais de saúde aprendem suas atribuições dentro das esco-
las, era necessário que lá dentro fossem “ensinados” da forma “correta”.
82
TÓPICO 1 | O ENSINO NA ÁREA DA SAÚDE
E
IMPORTANT
83
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
Você se lembra que falamos, no início deste tópico, sobre o modelo francês
de educação médica? Que se baseava em realizar o ensino da medicina dentro dos
hospitais, ou seja, dentro dos futuros locais de atuação daquele profissional? Pois
bem, o que começou a acontecer no Brasil foi algo semelhante a isso, porém mais
ampliado. A própria política de educação começou a ser organizada através da
integração do ensino com a rede prestadora de serviços do SUS, estabelecendo um
ato pedagógico de aproximação de todos os atores envolvidos. Os profissionais
da rede de serviços de saúde sendo aproximados às práticas pedagógicas e aos
professores dos processos de atenção em saúde, assim como os estudantes do dia
a dia do trabalho em saúde, proporcionando a inovação e a transformação dos
processos de ensino e de prestação de serviços (HADDAD, 2011).
É nesse contexto que atuamos nos dias de hoje, com uma visão ampliada
de saúde, baseada nos princípios da Saúde Coletiva, integrando o ensino das
escolas de saúde com os serviços realizados no dia a dia do profissional, para
cada vez mais melhorar a qualidade dos profissionais de saúde, assim como o
mercado requer atualmente.
84
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Para colocar essa estratégia em prática são necessários profissionais com pre-
paro adequado para tal.
85
AUTOATIVIDADE
A sequência correta é:
I- Assim como as causas das doenças o ensino na saúde já passou por diversas
fases, entre elas a do modelo anatomoclínico, que unia a realização do trabalho
e da pesquisa em hospitais.
II- O Relatório Flexner, ficou conhecido por denunciar que na maioria das
faculdades, os alunos não possuíam um preparo anterior suficiente para
iniciar as práticas e não havia relação entre a clínica e a formação científica.
E então, Flexner propôs o modelo que ensino que usamos até os dias atuais,
unindo teoria e prática
III- É importante, que nos dias atuais, o estudante da área da saúde desenvolva
com afinco suas capacidades técnicas na profissão específica. Possuir o
domínio dos aspectos biológicos e clínicos de sua área de atuação, é mais
valorizado pelos pacientes do que habilidades éticas e sociais.
86
A sequência correta é:
87
88
UNIDADE 2 TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Como vimos até agora, é muito importante que os profissionais de saúde
tenham uma visão holística a respeito da saúde e estejam abertos a estar sempre
em evolução, buscando sempre aprender, não somente as técnicas específicas
de cada profissão, mas também um pouco de cada profissão que faz parte da
equipe multidisciplinar, bem como a trabalhar de forma equilibrada dentro dessa
equipe, buscando sempre a atenção integral a saúde do paciente.
2 O MODELO TRADICIONAL
Como já vimos no tópico anterior, o sucesso das mudanças que se fizeram
necessárias na forma de perceber e fazer saúde depende muito da formação que é
concedida aos profissionais que serão responsáveis pela prestação desse serviço.
Então, assim como o modo de se “fazer” saúde foi por muito tempo bastante
tecnicista, fragmentado e individualizado, assim também foi a formação desses
profissionais de saúde.
89
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
FONTE: <http://pensar-pedagogia.blogspot.com/2017/02/depositando-o-que.html>.
Acesso em: 18 abr. 2020.
90
TÓPICO 2 | MODELOS DE SABERES E PRÁTICAS
Além disso, existia a concepção dos currículos mínimos, aprovada pela Lei
de Diretrizes e Bases da Educação de 1961, que era uma listagem de disciplinas
consideradas indispensáveis para cada curso de graduação e que deveriam
respeitar a um padrão nacional, o que acabava promovendo um engessamento
da formação. Inicialmente, parecia ser uma forma de garantir a qualidade
da educação, mas nunca foi possível provar que igualar todos os cursos seria
garantia de qualidade (SOUZA, 2001).Com o passar dos anos,se foi observando
que os currículos mínimos, além da rigidez, acabavam por deixar os cursos com
a carga horária muito elevada e tinham um:
91
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
vezes não sabemos dizer o porquê agimos daquele jeito, fazemos pelo simples
fato de que “é assim que se faz”. Mas é importante questionarmos nossas ações
no sentido de romper paradigmas que já não nos servem mais, ou que poderiam
ser melhorados, você não acha?!
DICAS
Mas porque estamos falando sobre isso, mesmo? Estávamos falando so-
bre o modelo tradicional de ensino na área da saúde e, consequentemente, de
trabalho na saúde, os dois são exemplos de padrões seguido por muitos anos.
Você se lembra de que, no Tópico 1, falamos sobre os modelos de ensino na área
da saúde? Primeiramente, foi o modelo francês, depois o modelo alemão, depois
o modelo proposto por Flexner, enfim, sempre reproduzindo um modelo, um
padrão, ou seja, um paradigma. E assim esse paradigma se transporta para o dia
a dia do trabalho, pois temos a inclinação de reproduzir as ações da forma como
as aprendemos. E se aprendemos a trabalhar de forma individualizada, assim
iremos reproduzir até que nos questionemos (ou alguém nos questione) se esse é
realmente o jeito mais eficaz de se proceder.
94
TÓPICO 2 | MODELOS DE SABERES E PRÁTICAS
DICAS
E
IMPORTANT
95
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
Multidisciplinaridade
Existe uma temática comum
Não existe relação nem cooperação entre disciplinas
FONTE: <https://bit.ly/2LZzxkN>.Acesso em: 18 abr. 2020.
Interdisciplinaridade
Existe cooperação e diálogo entre as disciplinas
Existe uma ação coordenada
FONTE: <https://bit.ly/2LZzxkN>. Acesso em: 18 abr. 2020.
96
TÓPICO 2 | MODELOS DE SABERES E PRÁTICAS
Mas você deve estar se perguntando: quais são as disciplinas que devem
participar de uma abordagem interdisciplinar? Quanto maior o número, mais
completa a solução? Segundo Minayo (2010, p. 436):
Não sabemos de antemão: é o objeto que nos convoca com sua com-
plexidade. Então, a interdisciplinaridade não deve ser entendida como
uma camisa de força para juntar pessoas, e nem para acomodar inte-
resses: quando demandada, ela responde a uma pergunta trazida por
um tema, de tal forma que ultrapasse a multidisciplinaridade e a mul-
tiprofissionalidade, ao mesmo tempo em que conta com elas.
97
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
98
TÓPICO 2 | MODELOS DE SABERES E PRÁTICAS
A inclinação ao uso mais frequente desse modelo permite transpor esse abis-
mo e formar não mais especialistas, mas profissionais com uma bagagem mais am-
pla, melhor preparados para enfrentar o competitivo e feroz mercado de trabalho.
Transdisciplinaridade
Cooperação entre todas as disciplinas e interdisciplinas
DICAS
99
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
100
TÓPICO 2 | MODELOS DE SABERES E PRÁTICAS
101
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
Agora ficou mais claro, caro acadêmico, sobre esse modelo na prática de
saúde? E dada essa importância, especialmente, nas ações em saúde?
Partindo disso, podemos entender que toda a explicação teórica que nos
for possível escrever será insuficiente para alcançar a totalidade da compreensão,
a qual só se configura, neste caso, no dia a dia do que fazer em saúde, relação
dialética entre teoria e prática, reflexão e ação. Nesse sentido, Freire (1996, p. 24)
afirma que “a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação
Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo”.
102
TÓPICO 2 | MODELOS DE SABERES E PRÁTICAS
DICAS
FIGURA – HUMANIZASUS
103
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
Pensando ainda nas áreas de conhecimento, nas quais se pode atingir es-
ses modelos, podemos mencionar:
105
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
DICAS
Caro acadêmico, para que você possa se aprofundar um pouco mais sobre o
processo de trabalho, sugerimos a seguinte leitura: O CAPITAL - PROCESSO DE TRABA-
LHO, de Carl Marx. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1867/capital/
livro1/cap05/01.htm.
106
TÓPICO 2 | MODELOS DE SABERES E PRÁTICAS
107
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
DICAS
108
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
109
AUTOATIVIDADE
110
UNIDADE 2
TÓPICO 3
MODELOS ASSISTENCIAIS
1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, este é o último tópico Unidade 2. No decorrer do
estudo, você encontrará os modelos assistenciais, que são os sistemas de saúde,
e o processo histórico da Saúde. O conceito de saúde é amplo e controverso,
veremos a definição e evolução do Sistema de Saúde, especialmente no Brasil,
apresentando o SUS como Sistema Único de Saúde, universal e de direito a todos.
2 OS SISTEMAS DE SAÚDE
O conceito de saúde é amplo e controverso. Durante os anos, houve várias
mudanças sobre concepções de saúde, diante do tempo, cultura e visões. Nessa
concepção do verdadeiro conceito universalmente, de saúde, só houve um con-
senso entre as nações, após o término da Primeira Guerra, porém não conseguin-
do esse objetivo, apenas após a Segunda Guerra.
111
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
Diante disso a saúde estava sendo analisada como além dos fatores
biológicos que levam à doença, tais fatores seriam os determinantes sociais: como
o meio ambiente que influencia a qualidade de vida, o estilo de vida escolhido
pelo indivíduo ou condicionado a ele e também à assistência à saúde. Pensando
nessa perspectiva, o conceito de saúde remete às relações amplas e que vão além
da dicotomia doente/saudável.
NOTA
113
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
DICAS
E também os artigos Constituição Federal (Artigos 196 a 200) sobre o SUS: https://bit.
ly/3cQgHYZ.
114
TÓPICO 3 | MODELOS ASSISTENCIAIS
DICAS
FIGURA – SUS
Boa Leitura!
A saúde de uma pessoa pode ser verificada por diversos fatores, como
a biologia humana, o ambiente físico, social e econômico a que está exposto e
pelo seu estilo de vida, isto é, pelo conjunto de ações cotidianas que refletem as
atitudes, valores e oportunidades na vida de cada um (NAHAS, 2006).
115
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
NTE
INTERESSA
117
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
118
TÓPICO 3 | MODELOS ASSISTENCIAIS
119
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
O Sistema Único de Saúde (SUS) obedece a esta lógica e foi pensado para
existir através do coletivo de partes, os denominados pontos de atenção, que mesmo
de maneira desordenada e sem qualquer tipo de integralidade, já pertenciam às anti-
gas estruturas gerenciais antes da Reforma Sanitária, leia-se aí o Instituto Nacional de
Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS), que abrigava os diversos pontos
de atenção da assistência ambulatorial e hospitalar e a Fundação Serviço de Saúde
Pública (FSESP) responsável pelos pontos de atenção da saúde preventiva.
120
TÓPICO 3 | MODELOS ASSISTENCIAIS
O SUS, dentro dos seus três níveis de atenção: atenção primária, média
e alta complexidades precisava ser visto e resolver os problemas de saúde da
população de maneira integral, sem fissuras, dentro de cada território onde essa
população vive. E o coletivo de pontos de atenção capazes de ofertar e garantir
essa assistência integral, comunicada e relacionada com as necessidades de saúde
de cada usuário que dele necessite representa a denominação de rede, no caso
específico da saúde, Redes de Atenção à Saúde (RAS).
Os casos que não pudessem ser resolvidos neste nível seriam encaminha-
dos a um hospital de referência, ao qual os centros se vinculariam. Os profissio-
121
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
nais trabalhariam de forma integrada, de modo que o pessoal adscrito aos centros
de saúde poderia acompanhar o processo em que interferiram desde o começo,
familiarizar-se com o tratamento adotado e apreciar as necessidades do paciente
depois de seu regresso ao lar.
Basicamente, existem dois tipos clássicos de RAS que se diferem pelo pro-
cesso organizacional e também funcional. O primeiro tipo e, infelizmente hege-
mônico até hoje, é o conceito de RAS na perspectiva piramidal, onde os serviços
122
TÓPICO 3 | MODELOS ASSISTENCIAIS
1) População: um dos preceitos básicos, ter uma população adscrita, ou seja, de-
terminada pelos limites de um território e que seja de conhecimento total todos
os determinantes sociais que possam afetar tais componentes desta população e
comprometer sua qualidade de saúde. Esta população deve ser organizada pela
célula familiar e a Atenção Primária deve ter toda cadastrada como forma de
123
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
124
TÓPICO 3 | MODELOS ASSISTENCIAIS
DICAS
125
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
MODELO SANITARISTA:
126
TÓPICO 3 | MODELOS ASSISTENCIAIS
127
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
Modelos de Atenção
128
TÓPICO 3 | MODELOS ASSISTENCIAIS
LEITURA COMPLEMENTAR
Apreende-se que a equipe que atua no PSF não é imune a esta formação
mais ampla e historicamente construída. Assim, o objetivo do presente estudo foi
analisar o significado da experiência do trabalho em equipe para os profissionais
do Programa Saúde da Família.
Métodos
[...]
Resultados e discussão
129
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
[...]
130
TÓPICO 3 | MODELOS ASSISTENCIAIS
vidades atribuídas a cada membro, pode não ser suficiente porque não permite a
compreensão exata de como funciona o Programa. A capacitação deve acontecer
antes de se estruturar a equipe, mas é o trabalho diário com orientações e acom-
panhamento da enfermeira da unidade. Por exemplo, reuniões entre os membros
da equipe para discutir as condutas, estudos para dispensar melhor assistência
que permitem melhor compreensão dos objetivos do Programa, principalmente
quando o treinamento propriamente dito não ocorre, impelindo os profissionais
a buscarem o conhecimento.
131
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
132
TÓPICO 3 | MODELOS ASSISTENCIAIS
133
UNIDADE 2 | INTERDISCIPLINARIDADE E SISTEMAS HIERÁRQUICOS E HORIZONTAIS
134
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
136
AUTOATIVIDADE
137
138
UNIDADE 3
A ABORDAGEM DOS
DETERMINANTES SOCIAIS
PARA AÇÕES EM SAÚDE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
139
140
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
A temática dos Determinantes Sociais da Saúde vem ganhando importân-
cia pela sua relação com as doenças crônicas, que apresentam grande prevalência
no contexto contemporâneo. Entretanto, sua grande contribuição está na possi-
bilidade de explicação da relação entre as desigualdades sociais e as iniquidades
em saúde, ou seja, mostra como as diferentes condições sociais, econômicas e am-
bientais que os indivíduos experienciam, produzem efeitos em seus organismos
e geram formas desiguais de adoecer e morrer.
142
TÓPICO 1 | OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE
Entretanto, é importante ressaltar que por lidar com aspectos sociais e cul-
turais, os DSS pressupõem certa maleabilidade para serem utilizados nos diferen-
tes contextos. Isso porque essa perspectiva está relacionada com a qualidade de
vida, que se trata de uma construção conjunta de padrões e parâmetros de conforto
e tolerância que, em determinada sociedade, produz para si e que afeta de maneira
positiva ou negativa a saúde deste grupo (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000).
2.1 HISTÓRICO
Atualmente, parece trivial o conhecimento acerca dos efeitos das condi-
ções de vida e hábitos sobre a saúde dos indivíduos e populações, todavia esta
é uma percepção bastante complexa e dependente tanto do desenvolvimento e
progresso dos estudos de fatores fisiológicos e fisiopatológicos do organismo,
como de estudos da sociologia e antropologia.
Desta forma, a saúde pública possui um caráter político e suas ações im-
plicam em intervenções na vida social e política das populações com o intuito de
identificar e eliminar os determinantes que prejudicam a saúde (ROSEN, 1980).
143
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
DICAS
144
TÓPICO 1 | OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE
Você já refletiu sobre quais temas prioriza ou tem mais interesse de estudo
na sua formação? É importante compreender os aspectos biológicos relacionados
à saúde, mas entendendo que os seres humanos estão imersos em contextos
sociais e que isso impacta a sua possibilidade e escolhas, ocasionando efeitos
diretamente na saúde.
145
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
E
IMPORTANT
Desde 1948, foi adotado o conceito ampliado de saúde pela OMS, que en-
tende saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não
meramente a ausência de doença ou enfermidade. A partir disso, tem-se evidente
perspectiva da necessidade de considerar a saúde como um fenômeno complexo
com diversos determinantes, para além de um enfoque centrado na doença e no
biológico (SCLIAR, 2007).
146
TÓPICO 1 | OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE
147
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
3 DETERMINANTES DA SAÚDE
Como vimos, existem diferentes formas de pensar a saúde e a doença.
Essas variações influenciam a forma como os profissionais da saúde, ao longo do
tempo, orientam as pessoas para terem hábitos saudáveis e estabelecem o diag-
nóstico e tratamento de doenças.
• classes sociais;
• distribuição de renda;
• gênero;
• raça/etnia;
• estruturas políticas e de governança.
148
TÓPICO 1 | OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE
b) Saúde ambiental:
149
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
Nota-se que há uma estreita relação entre os três níveis, sendo que esses
determinantes ambientais não existem de forma isolada. Além disso, como vimos
anteriormente, possuem relação e influência das mudanças socioeconômicas e, a
depender do contexto analisado, apresentam diferentes combinações e sobrepo-
sições de exposições, riscos e efeitos sobre a saúde.
seres humanos. Autores como Smith e Ezzati (2005) indicam que cerca de 5% da
carga total de doenças está relacionada a esse tipo de determinante. Entretanto,
há estimativas que apontam que 24% da carga total de doenças e 23% de todos os
óbitos estão relacionados ao meio ambiente, atingindo em especial as crianças de
0 a 14 anos, nos países desenvolvidos.
151
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
evolução fará com que tenhamos um aumento de três graus centrígrados ao final
do século XXI.
152
TÓPICO 1 | OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE
Percebe-se, assim, que tanto ações e alterações globais quanto locais inter-
ferem a qualidade do meio ambiente e impactam a saúde das populações a curto,
médio e longo prazo. Visto que alguns problemas ambientais atingem mais os
grupos socialmente vulneráveis, entretanto, outros se configuram de modo que
toda a população sofre com seus efeitos. Portanto, é necessário se atentar para
essa relação entre ambiente e saúde, bem como atuar de forma intersetorial para
minimizar as agressões ao ambiente, contribuindo para redução de seus efeitos
deletérios na saúde humana.
No campo da saúde não são recentes os estudos que fazem a relação entre
o nível socioeconômico e o estado de saúde dos indivíduos e populações, sendo
153
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
que os estudos identificam como os três principais fatores que contribuem para as
desigualdades em saúde: a privação material, os comportamentos relacionados à
saúde que dependem diretamente do rendimento e o desemprego (KARMAKAR;
BRESLIN, 2008; OLIVEIRA, 2010).
DICAS
155
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
Assim, essa estrutura social ao mesmo tempo que constitui os sujeitos é por eles
constituída. Ou seja, as pessoas seguem determinadas regras, mas ao longo do
tempo vão as aperfeiçoando de forma a transformá-las. A organização social está
muito relacionada à cultura (ANDRADE, 2007).
157
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
158
TÓPICO 1 | OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE
O trabalho realizado por Alves e Faerstein (2016) teve como objetivo in-
vestigar as desigualdades em saúde relacionadas à escolaridade, gênero e raça
no acometimento por obesidade. O estudo, que utilizou dados dos Estudos Pró-
-Saúde 1999-2001 e 2011-2012, verificou maior probabilidade de ser acometido
por obesidade entre as mulheres e homens pardos/pretos com menor escolarida-
de. Entretanto, ao longo da década, houve aumento da obesidade também nos
grupos com maior escolaridade. Assim, a pesquisa aponta que gênero e cor/raça
são determinantes sociais que influenciam a diferente distribuição da obesidade
abdominal.
159
RESUMO DO TÓPICO 1
• Esses fatores devem ser observados nas ações em saúde para que seja possível
realizar uma abordagem integral dos indivíduos, bem como a redução das
iniquidades em saúde.
160
AUTOATIVIDADE
161
162
UNIDADE 3
TÓPICO 2
MODELOS DE DETERMINANTES
SOCIAIS DE SAÚDE
1 INTRODUÇÃO
A compreensão dos diferentes Determinantes Sociais da Saúde, isolada-
mente, nos permite aprofundar e compreender como eles operam e influenciam
na saúde dos indivíduos e grupos populacionais.
163
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
ao biológico e outra com uma compreensão da saúde como fenômeno social, exi-
gindo formas complexas de ação política intersetorial e relacionada a uma justiça
social mais ampla (WHO, 2010).
165
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
166
TÓPICO 2 | MODELOS DE DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE
167
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
modelo, essas redes estão articuladas com o chamado capital social, ou seja, um
conjunto organizado de relações que envolvem confiança, solidariedade e par-
ceria entre grupos de pessoas para o enfrentamento de problemas individuais
ou coletivos. Destaca-se que o capital social vai além da relação com os amigos
próximos e parentes, pois pode estar presente em diversas formas de participa-
ção social, como a participação e integração em grupos religiosos, associações
sindicais, associações de moradores e clubes de recreação. Todos esses vínculos
representam maneiras que os grupos criam e mantêm vínculos sociais e de coo-
peração. Entretanto, a depender da forma do vínculo e dos efeitos provenientes
deles, essas redes sociais podem auxiliar ou prejudicar os indivíduos e grupos em
relação aos eventos em saúde.
DICAS
168
TÓPICO 2 | MODELOS DE DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE
• Características individuais
169
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
• Determinantes estruturais
• Determinantes intermediários
Nota-se que esse modelo de determinação social aponta para uma inte-
gração e relação entre as diferentes partes que o compõem. Por exemplo, uma
situação de doença pode interferir na posição socioeconômica, comprometendo o
acesso a emprego, renda ou mesmo à educação (WHO, 2010). Ou seja, apesar de
propor um fluxo principal que vai de um plano estrutural amplo para condições
específicas, considera que há uma alteração dos fatores estruturais a partir de
situações vivenciadas pelas pessoas e grupos.
171
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
DICAS
172
RESUMO DO TÓPICO 2
173
AUTOATIVIDADE
174
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Os determinantes sociais da saúde nos permitem compreender aspectos
da saúde que transcendem os determinantes biológicos, sendo possível identifi-
car características nos indicadores saúde a depender do grupo que se está traba-
lhando. Ou seja, nota-se que por iniquidades sociais determinados grupos ficam
submetidos de forma mais vulnerável a condições que geram doenças e agravos
em saúde. Neste sentido, deve-se observar essas diferenças evitáveis com o intui-
to de agir sobre esses determinantes sociais, bem como promover ações de saúde
direcionadas para compensar essas iniquidades em saúde.
Desse modo, neste tópico aprofundaremos nosso olhar sobre algumas po-
pulações marginalizadas, apresentando informações de pesquisas quantitativas e
qualitativas acerca das condições de vida, perfil de saúde, morbidade e mortalida-
de. Com isso, buscamos despertar seu olhar de estudante da saúde em três direções:
1) Como profissionais de saúde devemos ter um olhar ético, sendo que não se
deve fazer juízo de valor acerca do modo de vida ou situação atual das pessoas.
Nosso papel é, nas diferentes frentes e especialidades, promover saúde, preve-
nir doenças e cuidar/tratar de pessoas doentes considerando a saúde em sua
perspectiva ampla.
175
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
176
TÓPICO 3 | DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE E AS POPULAÇÕES VULNERÁVEIS
Visto isso, podemos apontar que mesmo dentro das populações vulne-
ráveis, as quais estamos estudando neste tópico, existem alguns indivíduos ou
subgrupos mais vulneráveis e vulnerados. Assim, enquanto futuro profissional
da saúde, você deve observar essas minúcias para que suas ações sejam contextu-
alizadas com a realidade sociocultural e econômica, tornando-se efetivas.
Agora que conhecemos os conceitos centrais e sua relação com o que será
abordado neste tópico, seguiremos os estudos abordando a articulação dos DSS
com os indicadores de saúde de quatro populações consideradas vulneráveis.
177
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
• Pneumonia.
• Hepatite.
• Infecções sexualmente transmissíveis.
179
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
• Diabetes.
• Hipertensão.
• Problemas de saúde mental.
DICAS
Saiba mais sobre esse contexto lendo o livro do Médico Dráuzio Varela,
intitulado Carcereiros, em que traz sua experiência na atenção a pessoas privadas de
liberdade, com enfoque no relato dos pacientes privados de liberdade.
180
TÓPICO 3 | DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE E AS POPULAÇÕES VULNERÁVEIS
Os motivos de ida para a rua são um grande tema, observado pela saúde
junto a outros setores, sendo os aspectos das desigualdades econômicas, promo-
vidas pela disparidade na distribuição das riquezas, o enfoque central. Fatores
como impossibilidades de acesso a emprego, renda, moradia e outros direitos
humanos básicos são apontados como os principais estopins de ida para as ruas.
Entretanto, fatores biográficos como uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, pro-
blemas graves de saúde e os conflitos familiares também são importantes motiva-
dores para esse deslocamento (GIORGETTI, 2014; BRASIL, 2009b).
181
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
• Distribuição por gênero: cerca de 82% da população era composta por pessoas
do sexo masculino (BRASIL, 2009b). Tal proporção mantém-se, com variações
entre 79% e 89,4% nos estudos municipais recentes (ICOM, 2017; FAS, 2016;
FASC; 2015; FIPE, 2015).
• Renda: vivendo nas ruas, as pessoas moradoras de rua têm suas situações eco-
nômicas agravadas. Mais da metade dessa população (52,6%) recebe entre R$
20,00 e R$ 80,00 semanais, ou seja, de R$ 100,00 a R$ 400,00 mensais (BRASIL,
2009b). Estudo mais recente realizado em São Paulo verificou que a renda men-
sal média obtida pelos albergados com carteira assinada foi de R$ 1.024,00,
enquanto os que tinham emprego fixo, sem carteira assinada, era de R$ 791,00
(FIPE, 2015).
• Raça/etnia: quanto à composição por raça/etnia, em 2008, no Brasil 67% das pes-
soas em situação de rua se declararam pardas ou negras, proporção muito supe-
rior quando comparada com a população brasileira (44,6%) (BRASIL, 2009b). Os
brancos representavam 29,5% da população, número bastante inferior aos dados
da população brasileira (53,7%). Esse padrão de composição pode ser observado
em grande parte dos estudos com essa população no Brasil.
• Escolaridade: quanto à escolaridade da PMR brasileira, no censo realizado em
2008 identificou-se que 74% dos entrevistados sabem ler e escrever, 17,1% não
sabem ler e escrever e 8,3% apenas assinam o nome. Quanto ao grau de escola-
ridade, a maioria da população tem primeiro grau incompleto (48,4%), seguido
do primeiro grau completo (10,3%). Nos dois extremos, os que nunca estudaram
representam 15,1% e os com ensino superior completo 0,7% (BRASIL, 2009b).
• Vulnerabilidade à violência.
• Alimentação incerta e sem condições de higiene.
• Pouca disponibilidade de água potável.
• Privação de sono e afeição.
• Dificuldade de adesão a tratamento de saúde.
182
TÓPICO 3 | DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE E AS POPULAÇÕES VULNERÁVEIS
DICAS
Entretanto, uma situação comum e que unifica grande parte dos povos
indígenas são as violações sofridas ao longo da complexa trajetória histórica, com
conflitos fundiários para a expansão das fronteiras demográficas nacionais, a de-
gradação ambiental e os efeitos deletérios na saúde a partir do contato com a
civilização ocidental (COIMBRA-CARLOS JR., 2014).
Destaca-se que 78,9 mil pessoas que residiam em terras indígenas se de-
clararam de outra cor ou raça, com destaque para os pardos (67,5%), por sua
integração com aspectos das tradições, costumes, cultura e antepassados, se con-
sideravam indígenas (IBGE, 2010). Além disso, destacam-se outras características
socioeconômicas, como:
184
TÓPICO 3 | DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE E AS POPULAÇÕES VULNERÁVEIS
lheres. Nos grupos que vivem em áreas urbanas há mais mulheres que homens
e o contrário ocorre no contexto rural (IBGE, 2010).
• Distribuição por faixa etária: percebe-se que a pirâmide etária dessa popula-
ção apresenta uma base larga e vai se reduzindo com o aumento da idade. Pa-
drão que reflete altas taxas de fecundidade e mortalidade precoce. Sendo que
metade da população indígena tem até 22,1 anos de idade (IBGE, 2010).
• Escolaridade: esse grupo social apresenta nível educacional muito baixo, es-
pecialmente na área rural. Sendo que em terras indígenas, grupos acima de 50
anos possuem mais pessoas analfabetas do que alfabetizadas (IBGE, 2010).
• Renda: em relação à renda, 52,9% não tem qualquer tipo de rendimento, sendo
que esse número sobe entre os que residem na área rural (65,7%). Na região
Norte, 25,7% ganhavam até um salário mínimo e 66,9% eram sem rendimento.
Sendo que 1,5% da população indígena, com 10 anos ou mais de idade, ganha-
va mais de cinco salários mínimos, percentual que caía para 0,2% nas terras
indígenas (IBGE, 2010).
Esse contexto faz com que a população indígena ainda apresente altas
taxas de doenças infecciosas, mas também conviva com o problema das doenças
crônicas, do uso de álcool, tabaco e situações de violência. Apesar da escassez de
dados sobre a saúde indígenas, estima-se que as taxas de morbidade e mortalidade
sejam de três a quatro vezes maiores que aquelas encontradas na população
brasileira em geral. Visto isso, podemos destacar como principais problemas de
saúde deste grupo, segundo Coimbra-Carlos Jr. (2014) e Brasil (2009a) as:
186
TÓPICO 3 | DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE E AS POPULAÇÕES VULNERÁVEIS
LEITURA COMPLEMENTAR
Introdução
188
TÓPICO 3 | DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE E AS POPULAÇÕES VULNERÁVEIS
189
UNIDADE 3 | A ABORDAGEM DOS DETERMINANTES SOCIAIS PARA AÇÕES EM SAÚDE
dentes das regiões menos desenvolvidas, em particular entre os mais velhos. Aos
quarenta anos de idade, por exemplo, enquanto no Sudeste a perda de anos sau-
dáveis é de 2,8 anos, no Nordeste está em 5,3 anos. A desigualdade regional é ain-
da mais pronunciada quando não apenas a mortalidade, mas também o quadro
de bem-estar é levado em consideração (SZWARCWALD et al., 2016).
190
TÓPICO 3 | DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE E AS POPULAÇÕES VULNERÁVEIS
191
RESUMO DO TÓPICO 3
192
AUTOATIVIDADE
193
REFERÊNCIAS
AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019.
194
ARAUJO, M. E.; ZILBOVICIUS, C. A formação acadêmica para o trabalho no
Sistema Único de Saúde. In: MOYSÉS, S. T.; KRIGER, L.; MOYSÉS, S. J. Saúde
bucal das famílias: trabalhando com evidências. São Paulo: Artes Médicas,
2008. p. 277-290.
ARAÚJO, L. B.; MELO, T. R.; ISRAEL, V. L. Baixo peso ao nascer, renda familiar
e ausência do pai como fatores de risco ao desenvolvimento neuropsicomotor.
J. Hum. Growth Dev., v. 27, n. 3, p. 272-280, 2017. Disponível em: https://www.
researchgate.net/publication/321885146_Low_birth_weight_family_income_
and_paternal_absence_as_risk_factors_in_neuropsychomotor_development.
Acesso em: 3 mar. 2020.
195
BERLINGUER, G. Questões de vida: ética, ciência, saúde. Salvador/São Paulo/
Londrina: APCE/HUCITEC/CEBES, 1993.
BIANEZZI, M. Terra plena: por que a teoria da Terra plana não faz nenhum
sentido. Ciência, mundo estranho. Revista Superinteressante, São Paulo, 10 abr.
2018. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/terra-plena-
por-que-a-teoria-da-terra-plana-nao-faz-nenhum-sentido/. Acesso em: 4 abr.
2020.
196
processo_trabalho_aisan_atuacao_equipe_saude.pdf. Acesso em: 15 abr. 2020.
197
BRASIL. Ministério da Saúde. Instrução Normativa n° 1. Regulamenta a
Portaria GM/MS n° 1.172/2004 no que se refere às competências da União,
estados, municípios e Distrito Federal na área de vigilância em Saúde ambiental.
Diário Oficial [da] União, Poder Executivo, Brasília, DF, 8 mar. 2005.
198
BRIGIDO, E. I. O biopoder na perspectiva foucaultiana. Sapere aude, Belo
Horizonte, v. 7, n. 12, p. 211 - 227, jan./jun. 2016.
199
CARRAPATO, P.; CORREIA, P.; GARCIA, B. Determinante da saúde no
Brasil: a procura da equidade na saúde. Saúde Soc., São Paulo, v. 26, n. 3, p.
676-689, set. 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0104-12902017000300676&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 3 mar.
2020.
200
no Programa de Saúde da Família. Rev Bras Enfermagem, Brasília, v. 53, n.
especial, p. 143-147, dez. 2000.
CORTINA, A. O fazer ético: guia para a educação moral. São Paulo: Moderna,
2003.
201
DANNER, F. O sentido da biopolítica em Michel Foucault. Revista Estudos
Filosóficos, São João del Rei, n. 4, 2010. Disponível em: http://seer.ufsj.edu.br/
index.php/estudosfilosoficos/article/view/2357/1630. Acesso em: 15 abr. 2020.
ENGEL, G. L. The need for a new medical model: a challenge for biomedicine.
Science, Washington DC, v. 196, n. 4286, p. 129-136, 1977. Disponível em:
http://www.drannejensen.com/PDF/publications/The%20need%20for%20a%20
new%20medical%20model%20-%20A%20challenge%20for%20biomedicine.pdf.
Acesso em: 15 abr. 2020.
202
final de pesquisa: cadastro de adultos em situação de rua de Porto Alegre/RS.
Porto Alegre: FASC, 2015.
203
FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
204
GIORGETTI, C. Moradores de rua: uma questão social? São Paulo: Fapesp;
Educ, 2014.
205
ILO – INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION. World of work report
2011: making markets work for jobs. Geneva: International Labour Office, 2011.
KHAN, S. et al. Drinking water quality and human health risk in Charsadda
district, Pakistan. Journal of Cleaner Production, Amsterdam, v. 60, p. 93-101,
2013.
206
LIMA, F. Bio-necropolítica: diálogos entre Michel Foucault e Achille Mbembe.
Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, v. 70, n. esp., p. 20-33, 2018.
207
MINAYO, M. C. de S. Interdisciplinaridade: funcionalidade ou utopia? Saúde e
sociedade, São Paulo, v. 3, n. 2, 1994. p. 42-64.
208
na questão da saúde pública. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS
POPULACIONAIS, 26., 2008, Caxambu. Anais [...]. Caxambu: 2008. p. 1-14.
209
ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Los derechos econômicos,
sociales y culturales. Genebra: Conselho de Direitos Humanos, 2005. 26 p.
210
24, n. 12, p. 4437-4448, dez. 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232019001204437&lng=en&nrm=iso. Acesso
em: 3 mar. 2020.
ROSEN, G. Da polícia médica à medicina social. Rio de Janeiro: Graal, 1980.
211
SIQUEIRA, S. A. V. de; HOLLANDA, E.; MOTTA, J. I. J. Políticas de Promoção
de Equidade em Saúde para grupos vulneráveis: o papel do Ministério da
Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Manguinhos, v. 22, p. 1397-1397, 2017.
STARFIELD, B. Is US health really the best in the world? JAMA, [s.l.], v. 284, p.
483-485, 2000.
212
TESSER, C. D. Medicalização social e atenção à saúde no SUS. São Paulo:
Hucitec, 2010.
VAZ, P. et al. O fator de risco na mídia. Interface, Botucatu, v. 11, n. 21, p. 145-
63, jan./abr. 2007.
213
WCSDH – World Conference on Social Determinants of Health. Closing the
gap: policy into practice on social determinants of health. [internet], out. 2011.
Disponível em: http://www.who.int/sdhconference/Discussion-Paper-EN.pdf.
Acesso em: 20 abr. 2020.
214