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muito importante para mantermos a excelência editorial. A Editora Fórum agradece a sua contribuição.
N665p
Niebuhr, Pedro
Processo administrativo ambiental / Pedro Niebuhr. 3. ed.– Belo Horizonte : Fórum, 2021.
332 p. E-book
ISBN: 978-85-5518-069-5
1. Direito Administrativo. 2. Direito Ambiental. 3. Licenciamento ambiental. 4. Fiscalização
ambiental. I. Título.
CDD: 341.3
CDU: 342.9
NIEBUHR, Pedro. Processo administrativo ambiental. 3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2021. 332 p. E-book. ISBN
978-65-5518-069-5.
CAPITÚLO 2
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
29
Pesar a incerteza sobre a evolução dos factores de risco, os benefícios aliados à decisão e
as lesões eventuais por ela provocadas, à luz da consideração dos bens jurídicos em jogo,
é uma operação de prognose que só a Administração tem capacidade – e legitimidade
constitucional – para levar a cabo.44
42
“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...]
VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII
43
Os artigos 5º e 15 da Lei de Competências Ambientais (Lei Complementar nº 140/11) determinam a hipótese
de exercício de competência supletiva por outro ente federado diante da inexistência de órgão ambiental
capacitado ou de conselho de meio ambiente pelo ente titular. Por órgão ambiental capacitado diz-se aquele que
possui técnicos devidamente habilitados e em número compatível com a demanda das ações administrativas
exercidas.
44
GOMES, Carla Amado.
Coimbra: Coimbra Editora, 2007. p. 398.
45
Para autores como Maria Alexandra Aragão, José Eduardo Figueiredo Dias e Cláudia Maria Cruz Santos, a proe-
minência do Direito Administrativo na aplicação do Direito Ambiental deve-se a atributos como a imperativida-
de do ato administrativo (ARAGÃO, Maria Alexandra; DIAS, José Eduardo de Oliveira Figueiredo. SANTOS,
Cláudia Maria Cruz. Introdução ao Direito do Ambiente. Lisboa: Universidade Aberta: 1998. p. 115).
46
SILVA, Vasco Pereira da. Verde cor de direito: lições de Direito do Ambiente. Coimbra: Almedina, 2002. p. 56.
PEDRO NIEBUHR
30 PROCESSO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL
mágica”.47 Assim como também não existem decisões “one shot”,48 ou seja, no Estado
de Direito as decisões administrativas “não brotam da cabeça de nenhum déspota
iluminado”,49 como refere Pereira da Silva. Elas se desenvolvem por meio de processos
administrativos (ou procedimentos, segundo a doutrina estrangeira50), imposição que
é justamente a marca distintiva da atuação do Poder Público em comparação com a
atuação privada.51
A imprescindibilidade da atividade administrativa de se desenvolver segundo
47
Segundo a expressão de Bandeira de Mello (MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 30. ed. São
Paulo: Malheiros, 2012. p. 497).
48
A expressão é utilizada por Sabino Cassese: “Toda organización compleja – y no hay duda de que las
Administraciones públicas constituyen las organizaciones más complejas de las sociedades modernas – ordena
one shot: esto es, ninguna decisión se agota en un solo acto”
(CASSESE, Sabino. Las bases del derecho administrativo. Tradução para espanhol: Luis Ortega. Madrid: Instituto
Nacional de Administración Pública, 1999. p. 249).
49
SILVA, Vasco Pereira da. Verde cor de direito: lições de Direito do Ambiente. Coimbra: Almedina, 2002. p. 124.
50
Tal qual esclarecido na introdução deste estudo, optou-se por utilizar o vocábulo “processo” administrativo no
lugar de “procedimento” por razões práticas e de conveniência. As referências estrangeiras indicadas nesta se-
trabalho, o termo “procedimento” usado nos originais será substituído por “processo”, com a ressalva de que,
ao contrário do que ocorre em nossa realidade, “procedimento” e “processo” no âmbito de sistemas de dupla
51
SANTAMARÍA PASTOR, Juan Alfonso. Principios de Derecho Administrativo. Vol. II. 2. ed. Madrid: Editorial
Centro de Estudios Ramón Areces, 2000. p. 56
52
PONCE SOLÉ, Juli. Deber de buena Administración y Derecho al Procedimiento Administrativo Debido: Las bases
constitucionales del procedimiento administrativo y del ejercicio de la discrecionalidad. Valladolid: Editorial
Lex Nova, 2001. p. 50.
53
LOUREIRO, João Carlos Simões Gonçalves. O procedimento administrativo
particulares. Coimbra: Coimbra Editora, 1995. p. 43, 45.
54
PONCE SOLÉ, Juli. Deber de buena Administración y Derecho al Procedimiento Administrativo Debido: Las bases
constitucionales del procedimiento administrativo y del ejercicio de la discrecionalidad. Valladolid: Editorial
Lex Nova, 2001. p. 54.
55
GIANNINI, Massimo Severo.
CAPITÚLO 2
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
31
unilaterais) e executar suas decisões por procedimentos próprios. Além disso, seu pa-
trimônio goza de estatuto especial.
Junto a esses privilégios, decorrem restrições. A Administração é menos livre
para agir do que o particular: não pode contratar quem quiser, mas deve observar
um procedimento para tanto; sua vontade não pode ser livremente formada; ela não
privilégios e garantias.57
Em sentido parecido, Juan Alfonso Santamaría Pastor escreve que a proces-
sualização consubstancia-se numa reação natural do Estado Liberal de Direito face
56
GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo; FERNÁNDEZ, Tomás-Ramón. Curso de Derecho Administrativo. Vol. I. 11. ed.
Madrid: Civitas Ediciones, 2002. p. 49-50.
57
Sobre o equilíbrio entre privilégios e garantias, apontam os autores: “lo que se trata es de perseguir y obtener
60
SANTAMARÍA PASTOR, Juan Alfonso. Principios de Derecho Administrativo. Vol. II. 2. ed. Madrid: Editorial
Centro de Estudios Ramón Areces, 2000. p. 56-57.
61
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Procedimento adminstrativo e defesa do ambiente.
Jurisprudência, Coimbra, n. 3790-3801, p. 135, 1990/1991.
62
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Procedimento adminstrativo e defesa do ambiente.
Jurisprudência, Coimbra, n. 3790-3801, p. p. 135-169, 1990/1991.
63
Tanto que muitos autores, ao referirem-se a processo administrativo, versam sobre o expediente que baliza a
atividade de sancionamento do agente público em relação ao exercício de suas funções (processo disciplinar).
iniciativas da Administração, que envolvem o servidor público, possibilitando-lhe, porém, a mais ampla defesa,
(CRETELLA JÚNIOR, José. Prática do Processo Administrativo. 8. ed. São Paulo: RT, 2011. p. 51)
64
Nesta direção parece ser a análise de Maria Sylvia Zanella Di Pietro (Direito Administrativo, 26. ed. São Paulo:
Atlas, 2013. p. 682 e seguintes), José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito Administrativo. 23. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 1067 e seguintes), Hely Lopes Meirelles (Direito Administrativo Brasileiro. 33. ed.
São Paulo: Malheiros, 2007. p. 685 e seguintes), dentre outros.
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A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
33
68
inapta para explicar o fenômeno
em toda a sua complexidade.
65
MEDAUAR, Odete. A processualidade no Direito Administrativo. 2. ed. São Paulo: RT, 2008.
66
DALLARI, Adilson de Abreu; FERRAZ, Sérgio. Processo Administrativo. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
67
SUNDFELD, Carlos Ari. Considerações sobre o processo administrativo. Revista de Direito Administrativo, São
Paulo, n. 130, out./dez. 1977.
68
Vide ANTUNES, Luís Filipe Colaço. O procedimento administrativo de avaliação de impacto ambiental. Coimbra:
Almedina, 1998. p. 109-110.
69
João Loureiro, por exemplo, acresce ao rol das principais contribuições doutrinárias no desenvolvimento do
administrativo nas relações jurídicas das quais a Administração faz parte – por ser o
necessário caminho que deve ser percorrido para alcançar o ato administrativo – como
também, ao equiparar o processo administrativo ao judicial, ressalta a importância
da função de garantia aos indivíduos que o primeiro guarda em face da atuação da
-
72
MERKL, Adolf. Teoría General del Derecho Administrativo. Madrid: Revista de Derecho Privado, 1935. p. 38.
73
MERKL, Adolf. Teoría General del Derecho Administrativo. Madrid: Revista de Derecho Privado, 1935. p. 283.
74
CASSESE, Sabino. Las bases del derecho administrativo. Tradução para espanhol: Luis Ortega. Madrid: Instituto
Nacional de Administración Pública, 1999. p. 223.
75
Vide LOUREIRO, João Carlos Simões Gonçalves. O procedimento administrativo
particulares. Coimbra: Coimbra Editora, 1995. p. 46, e; SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira. Em busca do
acto administrativo perdido. Coimbra: Almedina, 2003. p. 347.
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A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
35
e conclusivo”;79
o “conjunto de atos ordenados, cronologicamente praticados e necessários a produzir
uma decisão sobre certa controvérsia de natureza administrativa”;80 e por Hely Lopes
Meirelles, que o conceitua como “conjunto de atos coordenados para a obtenção de
decisão sobre uma controvérsia no âmbito judicial ou administrativo”.81
Apesar dos préstimos da concepção de Sandulli para a compreensão do fenômeno
– notadamente ao recusar uma noção estática e unitária do processo administrativo e
ressaltar que suas fases eram suscetíveis de serem consideradas autonomamente –, sua
que, aparentemente, não foi da mesma forma percebido pela doutrina nacional (aqui, o
processo administrativo ainda é visto, majoritariamente, como um iter de atos sequen-
76
SANDULLI, Aldo M. Il procedimento Administrativo
77
SANDULLI, Aldo M. Il procedimento Administrativo
78
SANDULLI, Aldo M. Il procedimento Administrativo
79
MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 30. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 495.
80
GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1002.
81
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33. ed. Atualizado por Eurico de Andrade Azevedo,
Délcio Balestero Aleixo e José Emmanuel Burle Filho. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 685.
82
SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira. Em busca do acto administrativo perdido. Coimbra: Almedina, 2003. p. 348.
83
considera-se o momento de realização da concretização do poder num ato. Do ponto de vista subjetivo, refere-se
ou, ainda, a capacidade do sujeito ou competência do órgão em relação ao ato (BENVENUTI, Feliciano. Fuzione
amministrativa, procedimento, processo. , Milão, p. 122 e 123, 1952).
PEDRO NIEBUHR
36 PROCESSO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL
85
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Procedimento administrativo e defesa do ambiente.
de Jurisprudência, Coimbra, n. 3790-3801, p. 261, 1990/1991.
86
GIANNINI, Massimo Severo.
87
GIANNINI, Massimo Severo.
88
GIANNINI, Massimo Severo.
89
Os processos administrativos constitutivos distinguem-se em ablatórios (nos quais o sujeito sofre a privação
de um bem), concessivos (produzem um acréscimo de bem em favor do sujeito) e autorizativos (impedem
ou permitem que se faça alguma coisa, segundo o juízo da Administração). Também podem ser simples ou
complexos se resolvem um só interesse público (ex. licença de construção) ou uma pluralidade de interesses (ex.
plano urbanístico).
90
GIANNINI, Massimo Severo.
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A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
37
busca de modo imediato o interesse público, ao passo que o segundo tem como objetivo
outros atos administrativos).91
A sistematização do processo administrativo comporta, em sua visão, uma aná-
o fato como ele é apresentado pelo introdutor do interesse (seja o particular ou agente
-
do, traduzido no princípio da máxima aquisição de fatos, impõe a obrigação, à autoridade
competente, de colher o maior número de informações possíveis como condição de
a serem valoradas.96
sentido judicial, por ser uma atividade, no âmbito administrativo, menos rigorosa: um
91
GIANNINI, Massimo Severo.
92
suma, todos os interesses (e, por consequência, todos os fatos e elementos trazidos
pelo introdutor do interesse) devem ser considerados e necessariamente ponderados
na decisão administrativa.
A contribuição de Nigro completa o panorama do desenvolvimento histórico da
teoria do processo administrativo. A partir da constatação das transformações operadas
pela crise do Estado liberal e das mutações na ideia de legalidade (com atribuição de
-
cesso administrativo assume uma nova perspectiva: deixa de ser método de realização
de uma legalidade/legitimidade para ser método de realização de uma legalidade/
justiça. Na atualidade “não se trata mais”, segundo o autor, apenas:
sujeitos e interesses, que é, antes de mais nada, uma trama organizativa. Por tal razão
98
tutela giurisdizionale contro la pubblica amministrazione (il problema di una legge generalse sul procedimento
amministrativo). , Pavoa, Vol. XXXV, Série II, p. 261-262, 1980).
99
NIGRO, Mario. Procedimento amministrativo e tutela giurisdizionale contro la pubblica amministrazione (il
problema di una legge generalse sul procedimento amministrativo). , Pavoa, Vol.
XXXV, Série II, p. 266, 1980.
100
NIGRO, Mario. Procedimento amministrativo e tutela giurisdizionale contro la pubblica amministrazione (il
problema di una legge generalse sul procedimento amministrativo). , Pavoa, Vol.
XXXV, Série II, p. 273, 1980.
101
SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira. Em busca do acto administrativo perdido. Coimbra: Almedina, 2003.
p. 353-354.
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A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
39
entre vários sujeitos na realização de uma função, e não como forma de exercício de
um poder.102 Ademais, ele deve realizar a Justiça num senso de integração e comple-
mentaridade ao processo judicial.
Das ideias ora expostas, observa-se que o processo administrativo assumiu, em
seu “nascimento”, uma perspectiva garantística dos direitos dos cidadãos, à seme-
lhança do processo judicial (Merkl). A autonomização do processo administrativo foi
feita através de sua caracterização como um mecanismo formal, de sucessão de atos
-
pelo qual a Administração é capaz de compor os interesses que lhes são apresentados
(Giannini). Só recentemente é que se constata, para além da natureza formal, que o
processo administrativo serve a propósitos materiais, de produção de decisões justas
diante de uma estrutura organizativa que permite o diálogo entre os mais variados
sujeitos e interesses em questão (Nigro).
Nenhum dos posicionamentos ora destacados é isento de críticas. O breve pa-
norama exposto serve, todavia, para demonstrar que o processo administrativo não
é um conceito evidente, pronto e unânime, um instituto supostamente revelado pela
legislação. Pelo contrário, trata-se de uma noção em constante evolução, a ponto de
alcançar, na doutrina estrangeira (notadamente a italiana), posição central no estudo
do próprio Direito Administrativo.
Torna-se essencial ao propósito da presente investigação avaliar como são perce-
bidas, na atualidade, as construções históricas da teoria do processo administrativo para
deduzir e conformar seu escopo. Noutras palavras, entender o que a ciência jurídica
reputa, hoje, como sendo o propósito do processo administrativo.
está em jogo é a maior importância que se atribuiu a uma ou outra função. Se a tônica
102
SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira. Em busca do acto administrativo perdido. Coimbra: Almedina, 2003.
p. 303.
103
SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira. Em busca do acto administrativo perdido. Coimbra: Almedina, 2003.
p. 404.
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40 PROCESSO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL
104
PONCE SOLÉ, Juli. Deber de buena Administración y Derecho al Procedimiento Administrativo Debido: las bases
constitucionales del procedimiento administrativo y del ejercicio de la discrecionalidad. Valladolid: Editorial
Lex Nova, 2001, p. 54. p. 58-60.
105
SCHILLACI, Angelo. Derechos fundamentales y procedimento, entre libertad y seguridad. Revista de Derecho
Constitucional Europeo – ReDCE
REDCE13pdf/08Schillaci.pdf, acesso em: 17 jul. 2012.
CAPITÚLO 2
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
41
106
107
SCHILLACI, Angelo. Derechos fundamentales y procedimento, entre libertad y seguridad. Revista de Derecho
Constitucional Europeo – ReDCE
REDCE13pdf/08Schillaci.pdf, acesso em: 17 jul. 2012.
108
SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira. Em busca do acto administrativo perdido. Coimbra: Almedina, 2003.
p. 331.
109
Tradução livre. “[...] La conformación de la organización administrativa y de los procedimientos de decisión
pública en un sentido conforme a los derecho fundamentales implica directamente la apertura de estos últimos
a la participación de los titulares de los derechos, y eventulamente de las organizaciones exponenciales de sus
intereses. [...]
La participación en el procedimiento [...] representa así una nueva forma expresiva de la clásica función defensiva
centralidad de la participación, el momento defensivo puede retenerse completado a través del procedimiento”
(SCHILLACI, Angelo. Derechos fundamentales y procedimento, entre libertad y seguridad. Revista de Derecho
Constitucional Europeo – ReDCE
REDCE13pdf/08Schillaci.pdf, acesso em: 17 jul. 2012. p. 222-223).
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42 PROCESSO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL
110
SCHILLACI, Angelo. Derechos fundamentales y procedimento, entre libertad y seguridad. Revista de Derecho
Constitucional Europeo – ReDCE
REDCE13pdf/08Schillaci.pdf, acesso em: 17 jul. 2012.
111
GOERLICH apud CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição e décife procedimental. In: Estudos sobre
Direitos Fundamentais. Coimbra: Coimbra Editora, 2004. p. 74.
112
GOERLICH apud SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira. Em busca do acto administrativo perdido. Coimbra:
Almedina, 2003. p. 334.
113
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição e décife procedimental. In: Estudos sobre Direitos Fundamentais.
Coimbra: Coimbra Editora, 2004. p. 75.
114
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição e décife procedimental. In: Estudos sobre Direitos Fundamentais.
Coimbra: Coimbra Editora, 2004. p. 77.
CAPITÚLO 2
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
43
fundamentais.115
O processo administrativo adquire, por esta via, uma feição abertamente ga-
rantística da posição subjetiva dos particulares. É isto que, em comentário à posição
de Canotilho, anota Pereira da Silva: “é, pois, dos próprios direitos fundamentais que
decorre um direito dos privados à defesa de suas posições de vantagem perante a
Administração, por intermédio de um procedimento”.116
Entre os autores nacionais, a dimensão processual (administrativa e judicial)
dos direitos fundamentais é percebida por Ingo Wolfang Sarlet. Trata-se de direitos
de proteção, vinculados à dimensão objetiva dos direitos fundamentais, que partem
do reconhecimento de que a fruição de diversos direitos fundamentais é enfraquecida
sem que sejam colocadas à disposição prestações estatais de cunho organizacional,
procedimental e coordenatório.117
No âmbito administrativo, é de se destacar a posição de Augustín Gordillo. Apesar
de ressaltar a diferença entre processo judicial e administrativo, o autor sustenta que
diante de uma afetação dos direitos do indivíduo deve aplicar-se os mesmos princípios
e garantias que estão destinados à proteção formal desses direitos no âmbito judicial.
Por isto, esclarece o autor, salientar a diferença entre processo judicial e administra-
administrativa, nem negar que o processo administrativo seja objeto de regulação ju-
115
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição e décife procedimental. In: Estudos sobre Direitos Fundamentais.
Coimbra: Coimbra Editora, 2004. p. 78-79.
116
SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira. Em busca do acto administrativo perdido. Coimbra: Almedina, 2003.
p. 408.
117
SARLET, Ingo Wolfang. : uma teoria geral dos direitos fundamentais na
perspectiva constitucional. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado: 2009. p. 194 e 196.
118
GORDILLO, Augustín. Tratado de derecho administrativo. Tomo 2. 8. ed. Buenos Aires: Fundación de Derecho
Administrativo, 2006, p. IX-2 e IX-3.
119
“[…] la parte del derecho administrativo que estudia las reglas y principios que rigen la intervención de los
interesados en la preparación e impgunación de la voluntad administrativa”. (GORDILLO, Augustín. Tratado de
derecho administrativo. Tomo 2. 8. ed. Buenos Aires: Fundación de Derecho Administrativo, 2006. p. IX-7).
PEDRO NIEBUHR
44 PROCESSO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL
a subsistência de decisões capazes de violar sua esfera jurídica protegida (garantia im-
120
GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo; FERNÁNDEZ, Tomás-Ramón. Curso de Derecho Administrativo. Vol. II. 8. ed.
Madrid: Civitas Ediciones, 2002. p. 445.
121
Em condições normais de juridicidade, ou seja, pressupondo o ato legal, motivado e proporcional. É de se ressal-
var, entretanto, a posição contrária que admite a sindicabilidade judicial, sob aspectos mais amplos, do mérito
do ato administrativo. Sobre o assunto toma-se, por exemplo, a posição de Freitas (FREITAS, Juarez. O controle
dos atos administrativos e os princípios fundamentais. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2009).
CAPITÚLO 2
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
45
da pert
contexto, o Judiciário não poderia substituir o juízo da autoridade administrativa para
reavaliar a conveniência ou oportunidade de uma dada medida mitigadora estabelecida
pelo órgão ambiental a título de condicionante da licença, é no processo administrativo
que o particular deve apresentar propostas alternativas que possam produzir os efeitos
esperados pelo órgão ambiental com menores sacrifícios a seus interesses. O processo
administrativo é o foro adequado para que o particular deduza suas pretensões de
modo a vê-las cotejadas no próprio mérito do ato administrativo.
O segundo exemplo do funcionamento do processo administrativo como opor-
tunidade ideal de controle do mérito da decisão administrativa é atinente ao exercício
da pretensão punitiva da Administração. Uma das notas características do Direito
Administrativo Sancionador é a ampla discricionariedade atribuída ao administrador
quantum da medida de sanção aplicável em repressão à
conduta ilícita. Também em condições normais de juridicidade do ato sancionatório, seria
de igual forma vedado ao juiz substituir a avaliação da autoridade administrativa para
pretender reexaminar a medida e a intensidade da sanção. É no processo administrativo
– porque a alegação diz respeito ao mérito do ato sancionatório (que, insista-se, só em
situações excepcionais poderia ser sindicável) – que o particular tem a oportunidade
apropriada para pleitear o enquadramento e a revisão do quantum arbitrado a título de
multa à luz das condições e da situação concreta enfrentadas.
Em síntese, na perspectiva subjetivista, o processo administrativo assume impor-
tância porque, além de outros motivos, funciona: (i) como mecanismo para proteção,
prévia e sucessiva, da posição subjetiva do particular diante da possibilidade da decisão
administrativa vir a violar, direta e unilateralmente, sua esfera jurídica protegida; (ii)
como instituto que permite maiores possibilidades instrutórias e aprofundamento da
Administração está atrelada. A participação dos cidadãos – ainda que venham a defender
posições jurídicas próprias – permite que a Administração tome conhecimento de mais
122
“Art. 5º [...] LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
PEDRO NIEBUHR
46 PROCESSO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL
Ademais, a 123
a se considerar.129
Enterría e Fernández relacionam a participação dos interessados a um viés legi-
timador das decisões administrativas que são tomadas, contemporaneamente, em um
quadro de maior liberdade conferida pela lei ao administrador. Segundo os autores,
123
LAFERRIÈRE, Edouard apud PONCE SOLÉ, Juli. Deber de buena Administración y Derecho al Procedimiento
Administrativo Debido: las bases constitucionales del procedimiento administrativo y del ejercicio de la
discrecionalidad. Valladolid: Editorial Lex Nova, 2001. p. 70.
124
PONCE SOLÉ, Juli. Deber de buena Administración y Derecho al Procedimiento Administrativo Debido: las bases
constitucionales del procedimiento administrativo y del ejercicio de la discrecionalidad. Valladolid: Editorial
Lex Nova, 2001. p. 70.
125
PONCE SOLÉ, Juli. Deber de buena Administración y Derecho al Procedimiento Administrativo Debido: las bases
constitucionales del procedimiento administrativo y del ejercicio de la discrecionalidad. Valladolid: Editorial
Lex Nova, 2001. p. 213 e ss.
126
PONCE SOLÉ, Juli. Deber de buena Administración y Derecho al Procedimiento Administrativo Debido: las bases
constitucionales del procedimiento administrativo y del ejercicio de la discrecionalidad. Valladolid: Editorial
Lex Nova, 2001. p. 312.
127
PONCE SOLÉ, Juli. Deber de buena Administración y Derecho al Procedimiento Administrativo Debido: las bases
constitucionales del procedimiento administrativo y del ejercicio de la discrecionalidad. Valladolid: Editorial
Lex Nova, 2001. p. 342.
128
MACHETE, Rui. Lisboa: Editorial Notícias, 1992.
p. 10.
129
MACHETE, Rui. Lisboa: Editorial Notícias, 1992.
p. 11.
CAPITÚLO 2
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
47
Direito anglo-saxônico (que assume uma vertente notadamente subjetivista), Peter Cane
130
Tradução livre de: “el procedimiento administrativo tiende así a convertirse, tanto por razones de legitimidad
ENTERRÍA, Eduardo; FERNÁNDEZ, Tomás-Ramón. Curso de Derecho Administrativo. Vol. II. 8. ed. Madrid:
Civitas Ediciones, 2002. p. 446-447).
131
CANE, Peter. An Introduction to Administrative Law. Oxford: Clarendon Press, 1986. p. 310.
PEDRO NIEBUHR
48 PROCESSO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL
interesse público e dos direitos dos particulares. Apesar da garantia dos administrados
ter tradicionalmente aparecido, segundo o autor, como único e fundamental sentido
para o processo administrativo, atualmente faz-se imperativa a preocupação com o in-
teresse público concentrado na legalidade e no acerto das resoluções administrativas.134
É isso que, mais recentemente, escreve João Loureiro. Para o autor o processo
administrativo aparece revalorizado como:
Entre os autores nacionais, esta realidade é percebida, entre outros, por Dallari
e Ferraz136 e por Bandeira de Mello, que reconhecem o duplo objetivo do instituto:
resguardar os administrados e contribuir para uma atuação administrativa mais clari-
vidente (mais bem informada e responsável).137
Em síntese, o viés objetivo do processo administrativo não substitui nem se so-
132
CAETANO, Marcello. Princípios fundamentais do Direito Administrativo. Coimbra, Almedina, 1996. p. 407.
133
DROMI, Jose Roberto. El Procedimiento Administrativo. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local,
1986. p. 20-24.
134
PÉREZ, Jesús González. Comentarios a la Ley de Procedimento Administrativo. 4. ed. Madrid: Editorial Civitas, 1991.
p. 77.
135
LOUREIRO, João Carlos Simões Gonçalves. O procedimento administrativo
particulares. Coimbra: Coimbra Editora, 1995. p. 69.
136
[...] do agir estatal e maximizar as garantias do administrado [...] o processo administrativo viabiliza a atuação
administrativa justa, doutra banda facilitando, pela coparticipação, o controle maior da Administração”
(DALLARI, Adilson de Abreu; FERRAZ, Sérgio. Processo Administrativo. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 31).
137
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 30. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 505-506.
CAPITÚLO 2
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
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139
11.105/05141).
Estão dispostas, de todo modo, as bases da investigação proposta no presente
trabalho: a atuação administrativa adquire proeminência quando o assunto é a tutela ambien-
Ainda assim, para que realizem as funções que são próprias da atividade admi-
nistrativa à frente da proteção ambiental, o Direito Administrativo e especialmente o
processo administrativo devem superar algumas de suas amarras que lhes impedem
de responder satisfatoriamente às demandas e os problemas contemporaneamente
apresentados.
138
SILVA, Vasco Pereira da. Verde cor de direito: lições de Direito do Ambiente. Coimbra: Almedina, 2002. p. 126.
139
“Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da Administração Federal
direta e indireta, visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos
140
contida no inciso III do §1º do artigo 8º da Lei de Biossegurança, e pela deliberação da Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança sobre a avaliação de se a atividade é potencial ou efetivamente causadora de degradação
ambiental, bem como sobre a necessidade do licenciamento ambiental, prevista no 3º do artigo 16 da mesma lei.
(NIEBUHR, Pedro de Menezes. Aspectos processuais da Lei de Biossegurança. In: FAGÚNDEZ, Paulo Roney
Ávila; LEITE, José Rubes Morato (Org.). : aspectos jurídicos,
técnicos e sociais. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. p. 260 e seguintes).