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DIARRÉIA AGUDA - DA

PROTOCOLO ASSISTENCIAL DO SETOR DE PEDIATRIA DO


HOSPITAL ESAÚ MATOS – FSVC

ELABORAÇÃO: DRA SARAH MINÁ V. DE ALMEIDA

DATA DA PUBLICAÇÃO: 13/03/2019

1) OBJETIVO:

1) PROMOVER ATUALIZAÇÃO SOBRE O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA


DIARRÉIA AGUDA (DA) EM CRIANÇAS, MELHORANDO A ASSISTÊNCIA;
2) REDUZIR MORBIDADE RELACIONADA A DA
3) REDUZIR TEMPO DE INTERNAÇÃO POR DA

2) APLICABILIDADE:

CRIANÇAS ACIMA DE 30 DIAS DE VIDA ATÉ 12 ANOS, 11 MESES E 29 DIAS.

3) POPULAÇÃO EXCLUÍDA

1) Pacientes com imunodeficiência primária ou secundária


2) Portadores de doença falciforme
3) Portadores de doença intestinal crônica - Inflamatória ou alérgica
4) Recém-nascidos (até 30 dias de vida)
5) Pacientes acima de 12 anos, 11 meses e 29 dias.

4) CONSIDERAÇÕES INICIAIS
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas últimas duas décadas,
ocorreu globalmente expressiva redução na mortalidade por diarreias infecciosas
em crianças com idade inferior a cinco anos.
Entretanto, algumas doenças que poderiam ser prevenidas continuam sendo
responsáveis por mortes de lactentes e pré-escolares: cerca de 30% dos óbitos antes
dos cinco anos ocorrem devido à PNEUMONIA E DIARRÉIA.
5) DEFINIÇÃO: ocorrência de três ou mais evacuações amolecidas ou líquidas nas
últimas 24 horas.
A diminuição da consistência habitual das fezes é um dos parâmetros mais
considerados.
Na diarréia aguda ocorre desequilíbrio entre a absorção e a secreção de líquidos e
eletrólitos e é um quadro autolimitado.
Assim, doença diarréica aguda pode ser entendida como um episódio de aumento
no volume e/ou na frequência de evacuações com início abrupto, etiologia
presumivelmente infecciosa, potencialmente autolimitado, com duração inferior a
14 dias. Tem evolução autolimitada, mas pode ter consequências graves como
desidratação, desnutrição energético-proteica e óbito.
Nem sempre é possível identificar o agente causador do episódio diarreico.

De acordo com a OMS (2005), a doença diarréica pode ser classificada em três
categorias:

TIPO Tempo duração CONSEQUÊNCIAS


DIARRÉIA AGUDA ATÉ 14 DIAS CAUSAS: DESIDRATAÇÃO
AQUOSA BACTÉRIAS E
VÍRUS
DIARRÉIA AGUDA ATÉ 14 DIAS LESÃO DE RISCO PARA INFECÇÃO
COM SANGUE ( MUCOSA SISTÊMICA/DESIDRATAÇÃO
DISENTERIA) INTESTINAL
BACTÉRIAS -
SHIGELLA
DIARRÉIA ACIMA DE 14 DIAS MULTIFATORIAL DESNUTRIÇÃO
PERSISTENTE DESIDRATAÇÃO

A investigação da etiologia da diarréia aguda não é obrigatória em todos os casos,


devendo ser realizada nos casos graves e nos pacientes hospitalizados.
6) ETIOLOGIA
A investigação da etiologia da diarréia aguda não é obrigatória em todos os casos,
devendo ser realizada nos casos graves e nos pacientes hospitalizados.
VÍRUS Rotavírus, Coronavírus, Adenovírus,
Calicivírus (em especial o norovírus) e
Astrovírus.
BACTÉRIAS E. coli enteropatogênica clássica, E. coli
enterotoxigenica, E. coli enterohemorrágica,
E. coli enteroinvasiva, E. coli
enteroagregativa, Aeromonas, Pleisiomonas,
Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni,
Vibrio cholerae, Yersinia
PARASITOS Entamoeba histolytica, Giardia lamblia,
Cryptosporidium, Isosopora
FUNGOS Candida albicans

Pacientes imunocomprometidos ou em Klebsiella, Pseudomonas, Aereobacter, C.


antibioticoterapia prolongada difficile, Cryptosporidium, Isosopora, VIH e
outros agentes

7) DIAGNÓSTICO
É CLÍNICO!
A história e o exame físico são indispensáveis para uma conduta adequada.

O QUE COLOCAR NA ANAMNESE?


NÚMERO DIÁRIO DE SANGUE NAS FEZES VÔMITOS ( QUANTIDADE)
EVACUAÇÕES
DURAÇÃO DOS SINTOMAS
FEBRE HÁBITO ALIMENTAR APETITE
CASOS SEMELHANTES EM INGESTÃO DE LÍQUIDOS MEDICAMENTOS EM USO
ESCOLA OU CASA
VACINAÇÃO DIURESE PESO RECENTE

NO EXAME FÍSICO: O QUE ATENTAR?


Estado de hidratação, o estado nutricional, o estado mental (ativo, irritável,
letárgico), a capacidade de beber e a diurese.
O percentual de perda de peso é considerado o melhor indicador da desidratação.
Mesmo quando o peso anterior recente não é disponível, é fundamental que seja
mensurado o peso exato na avaliação inicial do paciente. O peso é fundamental no
acompanhamento tanto em regime de internação hospitalar como no ambulatório.
A avaliação nutricional é muito importante na abordagem da criança com doença
diarreica.
Outro ponto fundamental na avaliação da hidratação da criança com doença
diarreica é vincular os achados do exame clínico à conduta a ser adotada. Assim,
apesar de existirem outras estratégias para avaliar o estado de hidratação, a
proposta da OMS, também adotada pelo MS deve continuar sendo utilizada
conforme quadro abaixo.

Quadro 1. Avaliação do estado de hidratação para crianças com doença diarreia

O QUE A B C
OBSERVAR?
Condição BEM ALERTA IRRITADO COMATOSO/HIPOTÔNICO
Olhos NORMAIS FUNDOS MUITO FUNDOS
Lágrimas PRESENTES AUSENTES AUSENTES
Boca e lingua ÚMIDAS SECAS MUITO SECAS
Sede BEBE SEDENTO, BEBE BEBE MAL OU NÃO É
NORMALMENTE RÁPIDO/AVIDAMENTE CAPAZ DE BEBER
O QUE EXAMINAR?
SINAL DA PREGA DESAPARECE DESAPARECE DESPARECE MUITO
RAPIDAMENTE LENTAMENTE LENTAMENTE (MAIS
DE 2 SEG)
PULSO CHEIO RÁPIDO, DÉBIL MUITO DÉBIL,
AUSENTE*
PERDA DE PESO NÃO HOUVE ATÉ 5% - LEVE MAIS QUE 10%
5 A 10% -
MODERADA
ENCHIMENTO NORMAL (ATÉ 3 SEG) PROLONGADO (3 A 5 PROLONGADO ( MAIS
CAPILAR SEG) DE 5 SEG)*
CONCLUSÃO NÃO HÁ SE HÁ DOIS OU MAIS SE HÁ DOIS OU MAIS
DESIDRATAÇÃO SINAIS ACIMA, HÁ SINAIS ACIMA,
DESIDRATAÇÃO INCLUINDO UM DOS
LEVE A MODERADA ASSINALADOS COM * -
DESIDRATAÇÃO GRAVE
TRATAMENTO PLANO A- PLANO B – TERAPIA PLANO C- TERAPIA DE
TRATAMENTO DE REIDRATAÇÃO REIDRATAÇÃO
DOMICILIAR ORAL NO SERVIÇO PARENTERAL
DE SAÚDE
1 – Para avaliar o enchimento capilar, a mão da criança deve ser mantida fechada e
comprimida por 15 segundos. Abrir a mão da criança e observar o tempo no qual a coloração
da palma da mão volta ao normal. A avaliação da perfusão periférica é muito importante,
principalmente em desnutridos nos quais a avaliação dos outros sinais de desidratação é
muito difícil.

8) TRATAMENTO

Baseia-se no estado de hidratação do paciente.

Se o paciente está com diarreia e está hidratado deverá ser tratado com o Plano A.

Se está com diarreia e tem algum grau de desidratação, deve ser tratado com o Plano B.

Se tem diarreia e está com desidratação grave, deve ser tratado com o Plano C.

EM TODOS OS ESTÁGIOS: É fundamental para o tratamento adequado a REAVALIAÇÃO


PEDIÁTRICA CONTÍNUA!

8.1) TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL

A TRO é considerada uma das modalidades terapêuticas que mais salvou vidas a partir do
século XX.

O princípio fisiológico da eficácia vincula-se ao fato de que a via de transporte ativo, acoplada
de sódio-glicose-água pelo enterócito está preservada na diarreia aguda, independentemente
da etiologia.

A partir das décadas de 1970/1980, optou-se no Brasil, pelo emprego da solução


recomendada pela OMS com 90 mmol de sódio por litro (alta osmolaridade). A partir de 2002,
com a justificativa de reduzir as perdas diarreicas, a OMS modificou a composição dos sais de
reidratação oral com redução das concentrações de sódio e glicose. Esta nova solução recebeu
a denominação de soro oral com baixa osmolaridade. No Brasil são comercializadas soluções
com composição variável na concentração de sódio e glicose.

O soro caseiro não contém citrato (para gerar bicarbonato) e potássio. A glicose é substituída
por sacarose (dissacarídeo constituído por glicose e frutose). Assim, o soro caseiro é uma
mistura de sal de cozinha, açúcar e água. Existem problemas na composição final das soluções
preparadas no domicílio.

A utilização dos soros de reidratação oral pode ser feita com dois objetivos:

a) Reposição de perdas para prevenir a desidratação no paciente com diarreia (Plano A)

 Na prevenção da desidratação, deve-se optar por soros com menor concentração de sódio.
Os sais de reidratação oral distribuídos pela rede pública de saúde do Brasil com 90 mmol de
sódio por litro é considerado de alta osmolaridade. Nesta situação, devem ser oferecidos
outros tipos de líquidos, inclusive água. Não devem ser administrados refrigerantes ou sucos
de frutas que apresentem elevada osmolaridade.

b) Reversão da desidratação, ou fase de reparação, para o paciente com desidratação por


diarreia (Plano B).

 Para a reversão da desidratação com o emprego da TRO, deve ser utilizada a solução de
reidratação oral com 75 a 90 mmol de sódio por litro. Exceto para os lactentes em
aleitamento materno, o soro deve ser oferecido sem outros alimentos.
 Se o paciente apresentar reversão da desidratação, caracterizada pelo desaparecimento
dos sinais clínicos e ocorrência de diurese abundante, o paciente deverá ser realimentado
e voltar ao Plano A. Caso não seja obtida melhora clínica no paciente desidratado com a
TRO, ou nos caso graves de desidratação, deve ser iniciada a terapia de reidratação
parenteral. Considera-se fracasso da reidratação oral se as dejeções aumentam, se
ocorrem vômitos incoercíveis, ou se a desidratação evolui para grave.

Plano A – Prevenção da desidratação no domicílio  DEVERÁ SER ENTREGUE FOLHETO


EXPLICATIVO AO ACOMPANHANTE. (VIDE ANEXO). HÁ CÓPIAS DISPONÍVEIS NO PRONTO
SOCORRO. EM CASO DE FALTA, SINALIZAR À ENFERMEIRA PARA PROCEDER IMPRESSÃO OU
CÓPIA DE NOVO FOLHETO. O DOCUMENTO ESTÁ SALVO NA ÁREA DE TRABALHO DOS
COMPUTADORES DA ENFERMARIA PEDIÁTRICA.
1. Plano A:

BASEIA-SE NA TRÍADE HIDRATAÇÃO ORAL (EVITAR DESIDRATAÇÃO) ALIMENTAÇÃO


ADEQUADA (EVITAR DESNUTRIÇÃO) E SUPLEMENTAÇÃO DE ZINCO (FAVORECER
RECUPERAÇÃO INTESTINAL).

IDADE QUANTIDADE DE LÍQUIDO A SER INGERIDO


APÓS CADA EPISÓDIO DE DIARRÉIA
MENORES DE 1 ANO 50-100ML
ENTRE 1 E 10 ANOS 100-200ML
ACIMA DE 10 ANOS QUANTIDADE QUE O PACIENTE ACEITAR

 Administrar ZINCO uma vez ao dia por 14 dias. (VIDE TÓPICO ESPECÍFICO)

Plano B: ADMINISTRAR O SRO SOB SUPERVISÃO MÉDICA (REPARAÇÃO DAS PERDAS


VINCULADAS À DESIDRATAÇÃO)

 Manter o aleitamento materno e suspender os outros alimentos (jejum apenas durante o


período da terapia de reparação por via oral).
 Após o término desta fase, CASO O PACIENTE RECUPERE SINAIS DE HIDRATAÇÃO, SEGUIR
procedimentos do Plano A. Se continuar desidratado, MAS SEM CRITÉRIOS DE
GRAVIDADE, indicar a sonda nasogástrica (gastróclise). Se o paciente evoluir para
desidratação GRAVE, seguir o PLANO C.

GRAVE- SEGUIR PLANO C

INSATISFATÓRIO/
NÃO HIDRATADO

PLANO B NÃO GRAVE- INICIAR


(HIDRATAÇÃO ORAL) GASTRÓCLISE
50 A 100ML/KG DE SRO
2 A 6HORAS

SATISFATÓRIO/
SEGUIR PLANO A
HIDRATADO

 Alimentação DEVE SER reiniciada no serviço de saúde para que as mães sejam orientadas
quanto à importância da manutenção da alimentação.

 ADMINISTRAR A SRO entre 50 a 100 mL/Kg, durante 2 a 6 horas, FRACIONAR AS DOSES,


MANTER FREQUÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO.

 Administrar ZINCO uma vez ao dia por 14 dias. (VIDE TÓPICO ESPECÍFICO)

PLANO C: CORRIGIR A DESIDRATAÇÃO GRAVE COMTERAPIA DE REIDRATAÇÃO POR VIA


PARENTERAL (reparação ou expansão)

INDICAÇÕES:

 desidratação grave
 contraindicação de hidratação oral (íleo paralítico, abdômen agudo, alteração do estado
de consciência ou convulsões)
 choque hipovolêmico

Idealmente deve-se conseguir a punção de veia CALIBROSA Quando necessário, sobretudo


em casos de choque hipovolêmico, podem ser necessários dois acessos venosos. Caso não
seja possível infusão venosa, considerar infusão intraóssea e/ou acionar CIRURGIA
PEDIÁTRICA PARA ACESSO CENTRAL.
O PLANO C É DIVIDIDO EM 2 FASES:

1) REPARAÇÃO OU EXPANSÃO

SOLUÇÃO: SORO FISIOLÓGICO 0,9%

Se choque: 20 mL/kg SF em 20 minutos, 2 a 3X.


AVALIAR DROGA VASOATIVA SE AUSÊNCIA DE RESPOSTA.

Se desidratação grave: 20 mL/kg de SF por hora por 2-4 horas

2) MANUTENÇÃO
O VOLUME total nas 24 horas segue o modelo proposto por Holiday & Segar:

ATÉ 10 KG 100 ML /KG/DIA


ENTRE 10 E 20 KG 1000 ML+ 50 ML /KG ACIMA DOS 10 KG
ACIMA DE 20 KG 1500 ML +20 ML /KG ACIMA DOS 20 KG

USAR SOROS ISOTÔNICOS (CONCENTRAÇÃO EM TORNO DE 130mmol/l de Na) OU PELO


MENOS COM CONCENTRAÇÃO MÍNIMA DE SÓDIO DE 77 mmoL/Litro (HIPOTÔNICO, PORÉM
MENOS HIPOTÔNICO DO QUE AS SOLUÇÕES 1:4) para prevenção de hiponatremia.

POR EXEMPLO: UMA SOLUÇÃO 1:1 (UMA PARTE DE SF 0,9% E OUTRA DE SG 5% TEMOS UMA
SOLUÇÃO COM CONCENTRAÇÃO SÓDIO DE 77MMOL/LITRO)

EXEMPLO DE SOLUÇÃO ISOTÔNICA: PARA CADA 500ML DE SOLUÇÃO, COLOCAREMOS 50 ML


DE SG 50% E 450ML DE SF 0,9%.

 ATENÇÃO PARA RISCO DE ACIDOSE HIPERCLORÊMICA COM ELEVADOS VOLUMES DESTA


SOLUÇÃO. MONITORAR ELETRÓLITOS REGULARMENTE.

NÃO USAR SOROS HIPOTÔNICOS. EX: SOLUÇÃO 1:2; 1:4: ETC.

A MAIORIA DAS DESIDRATAÇÕES POR D.A SÃO HIPONATRÊMICAS, DAÍ O RACIONAL DE NÃO
UTILIZAR SOLUÇÕES HIPOTÔNICAS.
OBSERVAÇÃO: EM ALGUMAS SITUAÇÕES ESPECÍFICAS QUANDO O SÓDIO SÉRICO DO
PACIENTE ESTIVER ALTO ( DESIDRATAÇÃO HIPERNATRÊMICA) DEVEREMOS USAR SOLUÇÕES
HIPOTÔNICAS.

ATENTAR PARA VOLUME TOTAL SE O PACIENTE ESTIVER ACEITANDO BEM ALIMENTAÇÃO E


A TRO.

NENHUMA DAS DIRETRIZES ANALISADAS RECOMENDOU O USO DE SOLUÇÃO DE


MANUTENÇÃO COM 154 MMOL/L DE SÓDIO. SALIENTAMOS QUE A CONCENTRAÇÃO DE
SÓDIO DO SF 0,9% É DE 154MMOL/LITRO. OU SEJA, NÃO COLOCAR SOMENTE SF 0,9% NA
TERAPIA DE MANUTENÇÃO DEVIDO A D.A.

A ASSOCIAÇÃO DE POTÁSSIO EM APORTE BASAL 2 A 3 MEQ/KG/DIA PODE SER CONSIDERADA


NAQUELES QUADROS CUJAS PERDAS DIÁRIAS SEJAM EXCESSIVAS, ATÉ QUE SE OBTENHA
RESULTADO DE EXAMES LABORATORIAIS.

SALIENTAMOS A NECESSIDADE DA REPOSIÇÃO ELETROLÍTICA SER GUIADA PELA DOSAGEM


SÉRICA DESTES ELETRÓLITOS.

9) INDICAÇÕES DE ADMISSÃO HOSPITALAR

MENORES DE 2 MESES VÔMITOS PERSISTENTES OU BILIOSOS

FEZES DISENTÉRICAS

DESIDRATAÇÃO GRAU C/ PERDAS VOLUMOSAS E FREQUENTES (MAIS DE


8 EPISÓDIOS DIÁRIOS)
PERDA PONDERAL MAIOR QUE 10%

CHOQUE HIPOVOLÊMICO

INSUFICIÊNCIA RENAL IMPOSSIBILIDADE DE MANEJAR EM


DOMICÍLIO/ QUESTÕES SOCIAIS

DOENÇA DE BASE GRAVE (DIABETE MELITO) DESIDRATAÇÃO GRAU B SEM RESPOSTA NO


PRONTO SOCORRO

LETARGIA/ ATERAÇÃO DO ESTADO MENTAL FALHA NO PLANO A EM CASA

CONVULSÕES SUSPEITA DE PATOLOGIA CIRÚRGICA


ASSOCIADA

INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA DESNUTRIÇÃO

10) EXAMES COMPLEMENTARES:

DEVEM SER RESERVADOS PARA OS CASOS MODERADOS A GRAVES, UMA VEZ QUE A
MAIORIA DOS QUADROS É AUTOLIMITADA E DISPENSA EXAMES COMPLEMENTARES.

HEMOGRAMA, PCR, ELETRÓLITOS (NA, K, CL, MG, CA, P), GASOMETRIA ARTERIAL (
LACTATO) , GLICEMIA, FUNÇÃO HEPÁTICA E RENAL: SÃO EXAMES SUBSIDIÁRIOS ÚTEIS NOS
CASOS QUE REQUEIRAM INTERNAÇÃO.

COPROCULTURA DEVE SER COLHIDA ANTES DE INICIAR ANTIBIÓTICO. EM NOSSO HOSPITAL,


A COPROCULTURA ANALISA SALMONELA, SHIGUELLA E E. COLI INVASORA.

HEMOCULTURA PARA OS CASOS EM QUE HÁ SUSPEITA DE TOXEMIA E ACOMETIMENTO


SISTÊMICO DA INFECÇÃO.

PESQUISA DE SANGUE OCULTO NAS FEZES TAMBÉM PODE SER ÚTIL QUANDO A EVOLUÇÃO
DO QUADRO NÃO ESTÁ SATISFATÓRIA E QUEREMOS AMPLIAR A INVESTIGAÇÃO.

PESQUISAS DE ROTAVÍRUS NAS FEZES É REALIZADA PELO LACEN, ENTRETANTO O


RESULTADO DEMORA (CERCA DE 30 DIAS NO CENÁRIOS SUS) E SUA SOLICITAÇÃO NÃO
MUDARÁ A CONDUTA, PORTANTO, NÃO DEVE SER PEDIDA DE FORMA ROTINEIRA, EXCETO
EM VIGÊNCIA DE SURTO HOSPITALAR.

PARASITOLÓGICO DE FEZES (03 AMOSTRAS) INCLUINDO LÂMINA PARA GIARDIA E AMEBA É


ÚTIL CONSIDERANDO DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DO PACIENTE ENVOLVIDO.

11) ALIMENTAÇÃO:

A manutenção da alimentação com oferta energética apropriada é um dos pilares mais


importantes no tratamento da diarreia aguda.

Todas as diretrizes são unânimes que o aleitamento materno deve ser mantido e incentivado
durante o episódio diarreico.
A alimentação deve ser reiniciada de acordo com o esquema habitual do paciente, sendo uma
oportunidade para a correção de erros alimentares.

Na diarreia aguda, não há recomendação de fórmula sem lactose para lactentes tratados
ambulatorialmente com diarreia aguda. Entretanto, para os pacientes hospitalizados com
diarreia aguda e nos com diarreia persistente tratados no hospital ou ambulatorialmente, há
vantagens na prescrição de fórmula sem lactose. Uma revisão da Cochrane de 2013
evidenciou redução de 18h no tempo de duração da DA em pacientes submetidos a dieta de
exclusão da lactose.

12) ZINCO

Pode reduzir a duração do quadro de diarreia, a probabilidade da diarreia persistir por mais de
sete dias e a ocorrência de novos episódios de diarreia aguda nos três meses subsequentes.

O racional para seu emprego é a prevalência elevada de deficiência de zinco nos países não
desenvolvidos.

De acordo com a OMS deve ser usado em menores DE 5 ANOS, durante 10 a 14 dias, sendo
iniciado a partir do momento da caracterização da diarreia:

Maiores de seis meses: 20mg/dia

Menores de 6 meses: 10mg/dia

EM DESNUTRIDOS E EM IMUNOSSUPRIMIDOS: ADICIONAR ZINCO NO TRATAMENTO DA D.A


EM QUALQUER IDADE, MESMO ACIMA DE 5 ANOS.

EM NOSSO SERVIÇO, DISPOMOS DE ZINCO NA FORMA DE SULFATO E NA CONCENTRAÇÃO DE


10MG/ML.

Tanto a ESPGHAN como a Diretriz Íbero-Latinoamericana questionam a validade da terapia


com zinco no primeiro semestre de vida.

No Brasil, é comercializado um soro de reidratação oral com 6 mg de gluconato de zinco em


cada 100 mL.

ATENÇÃO! O SUS não oferece suplemento de ZINCO. Os pais devem ser orientados a comprar.
Há no mercado várias apresentações, solução com 2mg/0,5 mL na forma de gluconato de
zinco; 4mg/Ml e 10mg/ml (gotas) na forma de sulfato de zinco.
13) VITAMINA A

O uso da vitamina A reduz o risco de hospitalização e mortalidade por diarreia e tem sido
administrada rotineiramente no Norte, Nordeste e alguns municípios das regiões Sul, Centro-
oeste e Sudeste. Crianças entre 6 e 59 meses recebem a macrodose.

Recomendada para desnutridos e imunodeprimidos com diarreia aguda, no primeiro dia de


internação.

50.000ui oral para menores de 6 meses

100.000 ui oral para 6-12 meses

200.000ui para acima de 12 meses

14) ANTIBIÓTICOS

Na grande maioria das vezes os antibióticos não são necessários no tratamento da diarreia
aguda, pois os episódios são autolimitados e grande parte se deve a agentes virais.

O USO DE ANTIBIÓTICOS FICA RESTITO PARA OS CASOS DE DISENTERIA (COM FEBRE E QUEDA
DO ESTADO GERAL), CÓLERA, INFECÇÃO COMPROVADA POR Giardia lamblia ou Entamoeba
hystolitica, EM IMUNOSSUPRIMIDOS, EM DESNUTRIDOS, NOS PORTADORES DE ANEMIA
FALCIFORME OU EM CASOS EM QUE HÁ SUSPEITA DE INFECÇÃO DISSEMINADA
EXTRAINTESTINAL (SEPSE).

SEMPRE ANTES DE INICIAR O ANTIBIÓTICO, COLETAR COPROCULTURA E HEMOCULTURA (


ESTA ÚLTIMA SE HOUVER SINAIS DE COMPROMETIMENTO SISTÊMICO).

INICIALMENTE, DE FORMA EMPÍRICA, MESMO QUE NÃO COMPROVADA


LABORATORIALMENTE, PREVALECE A HIPÓTESE DE SHIGELLA.
TRATAMENTO
HOSPITALAR
ANTIBIÓTICOS NA
DA

SEM SINAIS DE COM SINAIS DE


SEPSE SEPSE

PRIMEIRA ESCOLHA CEFTRIAXONA


SEGUNDA ESCOLHA 100MG/KG/DIA, IV, 12/12H
AZITROMICINA
CIPROFLOXACINO +
PRIMEIRO DIA:
12MG/KG/DIA 30MG/KG/DIA DE 12/12H METRONIDAZOL
POR 3 DIAS.
DO 2 AO 5 DIA: 6MG/KG/DIA 30MG/KG/DIA, IV, DE 8/8H

OBSERVAÇÕES: Levantamento da literatura mostrou que, no Brasil, as amostras de Shigella


testadas apresentam alta taxa de resistência ao sulfametoxazol-trimetropim. Por sua vez,
apresentam boa sensibilidade ao ciprofloxacino e ao ceftriaxone. Os estudos realizados no
Brasil não testaram a sensibilidade à azitromicina, embora estudos em vários países
demonstrem resultados muito animadores em crianças com DA infecciosa. Deve ser lembrado
que no Brasil não existe ciprofloxacino na apresentação em suspensão ou solução para uso
oral, o que levou a não colocá-lo como ficar como primeira escolha.

Quando a diarréia aguda é causada por giardíase ou amebíase comprovada, o tratamento deve
ser feito com metronidazol ou análogos.

15) ANTIEMÉTICOS

A ESPGHAN e SBP consideram que a ondansetrona pode proporcionar redução na frequência


de vômitos, na necessidade de hidratação parenteral e de internação hospitalar. A diretriz
Íbero- -Latinoamericana recomenda o emprego da ondansetrona para os pacientes com
diarreia aguda com vômitos frequentes.

A dose de ondasentrona é de 0,15-0,3mg/kg, até o máximo de 4 mg por via oral ou


intravenosa.
Em nosso serviço temos somente a apresentação em comprimidos de 4mg disponível para o
Pronto Socorro.

16) PROBIÓTICOS

Os probióticos são microorganismos vivos que, quando consumidos em quantidades


adequadas, proporcionam efeito benéfico para a saúde do indivíduo. O emprego de
probióticos no tratamento e na prevenção da diarreia aguda tem sido ultimamente bem
estudado. A ESPGHAN e a diretriz Íbero-Latinoamericana, com base em evidências científicas,
consideram que determinados probióticos podem ser utilizados como coadjuvantes no
tratamento da diarreia aguda, devendo ser utilizados em conjunto com outras medidas
terapêuticas básicas. Eles não diminuem perdas diarreicas. No entanto, determinadas cepas,
conforme demonstrado em ensaios clínicos duplo-cego, controlados por placebo e
metanálises, proporcionam redução de aproximadamente 24 horas na média da duração da
diarreia aguda.

As cepas consideradas como tendo evidências suficientes e que foram recomendadas tanto
pela ESPGHAN como pela diretriz Íbero-Latinoamericana para o tratamento coadjuvante da
diarreia aguda são: Lactobacillus GG, Saccharomyces boulardii e Lacotobacillus reuteri DSM
17938. Vale lembrar que o Lactobacillus GG não é comercializado no Brasil.

Em nosso serviço padronizamos o S. boulardii como probiótico de eleição para pacientes


internados. Ele está disponível em saches de 200mg. SUGESTÃO DE USO:2 a 3 saches ao dia,
comiserando a dose terapêutica do Saccharomyces boulardii que é de 250-750mg/dia,
habitualmente 5-7 dias

De acordo as diretrizes mencionadas, existem outros probióticos em investigação, mas no


presente, apenas estas cepas têm evidências suficientes para merecer recomendação como
coadjuvante no tratamento da diarreia aguda.

17) RACECADOTRILA

A racecadotrila é um inibidor da encefalinase, enzima responsável pela degradação das


encefalinas produzidas pelo sistema nervoso entérico. As encefalinas com ação mais
duradoura, em função da menor atividade da encefalinase, reduzem a secreção intestinal de
água e eletrólitos que se encontra aumentada nos quadros de diarreia aguda.

A ESPGHAN e a diretriz Ibero-Latinoamericana consideram que a racecadotrila pode ser


utilizada como coadjuvante no tratamento da diarreia aguda, uma vez que, foi demonstrado,
em ensaios clínicos e metanálise, seu papel na redução das perdas diarreicas e na duração da
diarreia aguda.

Trata-se de medicamento com eficácia e segurança, que não interfere na motilidade intestinal.
A dose recomendada é de 1,5mg/kg de peso corporal, três vezes ao dia. É contraindicado para
menores de 3 meses. Esta substância é encontrada em sachês (pó) com 10mg e 30mg (nome
comercial Tiorfan ™) ou comprimidos com 100mg (Tiorfan ou Ávide™). Dose máxima (adultos)
400mg/dia. O tratamento com a racecadotrila deve ser interrompido assim que cesse a
diarreia. Não dispomos deste medicamento em nosso serviço.

18) CUIDADOS DE ENFERMAGEM


O CUIDADO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NO MANEJO DO PACIENTE
COM D.A É FUNDAMENTAL, SENDO UM DOS PILARES DO CUIDADO
MULTIPROFISSIONAL.
SÃO COMPETÊNCIAS DESTA EQUIPE:
1) CONTROLES E SINAIS VITAIS ANALISADOS A CADA 4 HORAS
2) MONITORIZAR ACEITAÇÃO DA T.R.O E ALIMENTAÇÃO/ ALEITAMENTO
MATERNO
3) PESAGEM DE TODAS AS FRALDAS (ANOTAR QUAIS TEM SÓ DIURESE, SÓ
DEJEÇÕES OU AMBOS) DOS PACIENTES INTERNADOS POR D.A
4) NOS PACIENTES QUE NÃO USEM MAIS FRALDAS QUANTIFICAR PERDAS
ATRAVÉS DE NÚMERO DE VÔMITOS, NÚMERO DE EVACUAÇÕES
FEZES/DIURESE NAS 24 HORAS.
5) COMUNICAR ANORMALIDADES AO MÉDICO ASSISTENTE.
ANEXO 1. FOLHETO INFORMATIVO SOBRE PLANO A AOS PAIS

TRATAMENTO DA DIARRÉIA AGUDA – PLANO A

SEU FILHO (A) FOI DIAGNOSTICADO COM DIARRÉIA AGUDA E, NO MOMENTO, APÓS
AVALIAÇÃO MÉDICA ADEQUADA, NÃO FORAM CONSTATADOS SINAIS DE DESIDRATAÇÃO,
PODENDO O TRATAMENTO SER FEITO EM CASA.

ESTE FOLHETO TEM O OBJETIVO DE ORIENTAR QUANTO A INGESTÃO DE LÍQUIDOS,


INCLUINDO O SORO DE REIDRATAÇÃO ORAL E MANUTENÇÃO DA ALIMENTAÇÃO HABITUAL DA
CRIANÇA, LEMBRANDO QUE DEVEMOS OFERECER ALIMENTOS QUE NÃO PIOREM A DIERRÉIA.

ALÉM DO SORO DE REIDRATAÇÃO ORAL, CONSIDERAMOS LÍQUIDOS ADEQUADOS: sopa de


frango com hortaliças e verduras, água de coco, água, água de arroz, soro caseiro.

IDADE QUANTIDADE DE LÍQUIDO A SER INGERIDO


APÓS CADA EPISÓDIO DE DIARRÉIA
MENORES DE 1 ANO 50-100ML (1/4 A ½ COPO AMERICANO)
ENTRE 1 E 10 ANOS 100-200ML( ½ A 1 COPO AMERICANO)
ACIMA DE 10 ANOS QUANTIDADE QUE O PACIENTE ACEITAR

SÃO INADEQUADOS: refrigerantes, líquidos açucarados (sucos naturais ou industrializados),


chás adoçados e café.

Você não deve deixar de dar o ZINCO conforme o médico receitou, durante os 14 dias.

Se SEU FILHO(A) NÃO melhorar em DOIS DIAS ou se apresentar qualquer um dos SINAIS DE
ALERTA A SEGUIR VOCÊ DEVE RETORNAR AO HOSPITAL:

• Piora na diarreia • Vômitos repetidos • Muita sede • Recusa de


alimentos • Sangue nas fezes • Diminuição do xixi • Sono Excessivo •
muito quieto, hipoativo

DATA:

MÉDICO PLANTONISTA DO PA ESAÚ MATOS


AO RETORNAR AO HOSPITAL, FAVOR TRAZER ESTE FOLHETO. OBRIGADA.
19) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. WORLD GASTROENTEROLOGY ORGANIZATION: GLOBAL GUIDELINES


ACUTE DIARRHEA IN ADULTS AND CHILDREN: A GLOBAL PERSPECTIVE,
2015.
2. WHO/CAH03.7. GENEVA:WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015
3. ESPGHAN: GUIDELINES FOR THE MANEGEMENT OF ACUTE
GASTROENTERITIS IN CHILDREN IN EUROPE: UPDATE 2014
4. SBP. DIARRÉIA AGUDA: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO, 2017

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