Em sua obra Psicologia das Massas e Análise do Eu, escrito em 1991, Freud
aponta logo no início um questionamento sobre o Psicologia Individual esta ligado a
Psicologia social, onde o “outro” é uma constituição do “eu”, sendo assim, para analisa-
lo é de extrema importância analisar o meio social em que esta inserido, para assim
compreender a si mesmo.
Freud retoma seu estudo trazendo o trabalho de Le Bon de 1895, “Psicologia das
Multidões”, orientando assim seus estudos para a formação de grupos, onde nos traz que o
sujeito dentro da massa se sente com um poder invencível, o que faz o mesmo a se entregar a
instintos, ou seja um comportamento contagia o outro e assim sucessivamente dentro da
massa, onde esse indivíduo se sente pertencido diante desse cenário, onde esse sentimento de
pertencer leva a um estado de hipnose, deixando sua razão de lado para ser sugestionado pelo
líder da massa, abrindo mão assim de sua individualidade.
O autor apresenta a influência dessa massa e mostra como está presente diante do
contexto com certa harmonia em sua formação, onde a influência se encontra presente de
acordo com a identificação do indivíduo com seu líder e seu comportamento diante dos
demais membros. É questionado também a hipótese se baseando em Le Bon, quando relata
que a formação da massa está sendo conduzido para um determinado propósito. Esse
processo de identificação citada por Freud adentra em seus estudos do fenômeno
comportamental ligado a libido, onde é preciso deixar claro que a libido citada por Freud está
além da pulsão sexual. Nesse caso a libido citada por Freud expressa a tomada da afetividade,
onde chamamos assim a energia considerada como grandeza quantitativa, ainda que por hora
não seja mensurada daqueles impulsos que tem a ver com tudo que podemos reunir na
categoria “amor”. Sendo assim, essa energia vital, essa afetividade expressa que torna a
relação coesa e que faz com que o sujeito abra mão da sua singularidade e agir de maneira
sugestiva diante do líder da massa.
De acordo com Enríquez (1990), o grupo para Freud apresenta suas particularidades
em sua formação, podendo ter um líder ou de acordo com o grupo de forma igualitária,
podendo observar que nem todo grupo tem líder, onde no lugar desse líder, pode haver uma
ideia coletiva.
Com base nos escritos freudianos, em suas observações que esse processo, é
preciso entender que as pessoas tem uma sede inconsciente de “paternismo”, onde eleva
essa ligação ao desejo perante ao líder, onde preferem cumprir ordens do que se
responsabilizar por seus atos diante das situações, onde o substrato do inconsciente faz
com que o sujeito dentro da massa se comporte dessa maneira, abrindo mão da
racionalidade e a própria singularidade, deixando sua autonomia de lado, perdendo assim
sua capacidade de julgamento.
Quando Freud exemplifica a ligação do processo de hipnose com a constituição
das massas e sua relação com os líderes, ele deixa claro que os sujeitos abandonam a sua
ideia do Eu, se posicionando diante de um único sujeito e passa a se identificar com os
demais, onde seus ideais do Eu se torna um objeto comum para todos.
Freud deixa claro em seu estudo referente a essa articulação entre o indivíduo e o
grupo, onde destaca que aquele comportamento apresentado diante de um grupo, de
certa forma apoiado a teoria de Le Bon, os indivíduos ao se unirem em determinado
grupo, passa a agir de forma coletiva, sendo assim possuidores de alguma “consciência
de massa”. Segundo Enríquez (1990), seria como se o indivíduo não agisse mais pela
razão e sim pela emoção diante da massa, pois esse sujeito reprime suas tendências
pulsionais, parecendo sofrer de forma inconsciente uma regressão nas ações.
Diante disso, Freud se sustenta em duas grandes massas na sociedade para ter
embasamento em sua teoria: a igreja e o exército onde “ambas as organizações só existem
na medida em que, […] prevalece à ilusão da existência de um chefe supremo.”
(ENRIQUEZ, 1990, p. 61) Afirmando o reforço a ideia a ilusão com seus seguidores como
sendo sempre igual.
Para julgar corretamente a moralidade das massas, deve-se levar em consideração
que, ao se reunirem os indivíduos numa massa, todas as inibições individuais caem por terra e
todos os instintos cruéis, brutais, destrutivos, que dormitam no ser humano, como vestígios
dos primórdios do tempo, são despertados para a livre satisfação instintiva.
Percebe-se que esta análise leva a algumas conclusões a respeito do psiquismo
humano enquanto ser de grupo e individual. Uma de suas conclusões é a respeito da
consciência moral; para Freud a mesma se origina no “medo social”. Faz-se importante citar
que todo esse poder exercido pela massa parte de ações impulsionadas pelo inconsciente.
Apesar disso, Freud conceitua a massa como um rebanho dócil, pois não pode “jamais
viver sem um senhor. Ela tem tamanha sede de obediência, que instintivamente se submete a
qualquer um que se apresente como seu senhor.” Essa demanda por um senhor demonstra o
lado perigoso das massas, pois isso evidencia que o mais notável e também mais importante
fenômeno da formação da massa é o aumento de afetividade provocada no indivíduo.
Percebe-se então, que as massas são dóceis enquanto seu senhor assim o quiser e sem ele não
há como a mesma continuar.
Com isso, Freud se preocupa em explicar quais motivos fazem com que a massa se
mantenha unida, e considera que esta é a grande contribuição da psicanálise para o
entendimento das peculiaridades descritas por Le Bon. A estruturação de uma massa e
manutenção de sua união necessita de alguma explicação consistente sobre seu
funcionamento como exposto até agora. Primeiro, que evidentemente a massa se mantém
unida graças a algum poder. Segundo que temos a impressão, se o indivíduo abandona sua
peculiaridade na massa e permite que os outros o sugestionem, que ele o faz porque existe
nele uma necessidade de estar de acordo e não em oposição a eles, talvez, então, “por amor a
eles”.
Vê-se que o uso inteligente feito por Freud de sua teoria pulsional, ao atribuir a Eros a
responsabilidade de unificação dos grupos, além de eficaz, acaba por necessitar de outros
esclarecimentos em relação aos vínculos estabelecidos pelo sujeito. Há um mecanismo de
identificação do sujeito com o Outro, chamado de “infecção psíquica”, que age a partir de
uma semelhança, em determinado aspecto, com outra pessoa. O sujeito desloca o aspecto
identificado como semelhante ao seu para o sintoma, e o recalca.
Nota-se, que toda a teoria elaborada por Freud sobre as possíveis formas de
dependência do Eu em relação ao outro, termina por mostrar a imensa limitação do indivíduo
em relação a sua capacidade de impor-se. Isso denota o quanto a dependência se faz notar em
uma sociedade, ao mesmo tempo em que, sem ela nenhuma relação poderia ser capaz de se
estruturar. Enfatiza a dependência do sujeito em relação às massas ou aos seus líderes, sempre
crescente. Além disso, faz-se importante notar, que não é apenas pelos líderes das massas que
a alienação do indivíduo se mostra, Freud cita o poder que a sugestão tem, ao ponto de
caracterizá-la como enigmática, pois a mesma tem estrutura não só vertical, mas também
horizontal, e com isso sua forma de influência é exercida por todos da massa e seu poder de
domínio é muito forte.
Percebe-se que esse domínio age como um processo hipnótico que “toma o lugar do
ideal do ego”, o que produz uma perda da capacidade de autocrítica. Faz-se importante citar a
forma como Freud continua sua investigação a respeito dessa falta de imposição pessoal do
sujeito em relação aos quereres da massa em que está inserido, mencionando suas
observações a respeito do universo infantil. Sua rivalidade com os irmãos é o impulso
primário, mas isso não é bem aceito pelos pais. Nessa análise, Freud considera que a
dependência humana está ligada diretamente à perda da exclusividade do amor dos pais. Não
bastando isso, tal perda acaba por obrigar o infante ao recalque do ciúme, seguida de
identificação a estes semelhantes.
Por muito tempo, então, nada se percebe de um instinto gregário ou sentimento de
massa na criança. Isto se forma apenas em casas com mais de uma criança, a partir da relação
delas com os pais, como reação à inveja inicial com que a criança mais velha recebe a
menor. A primeira exigência dessa formação reativa é aquela por justiça, tratamento igual
para todos. É sabido como essa reivindicação se expressa de modo nítido e inexorável na
escola.
Com a análise desse estudo, podemos perceber a importância do embasamento
teórico frente as observações dentro de um grupo para a psicologia, onde pode-se
explicar o comportamento da nossa sociedade diante do estudo que fazemos, pois tudo na
psicologia é científico e essa base é o que nos aponta frente a esses comportamentos ,
onde o profissional de psicologia que trabalha com demandas grupais precisa ter uma
posição ética e não deixar que seu comportamento possa influenciar o grupo de forma
negativa, onde todos são iguais, onde os espaços grupais com foco no desenvolvimento,
compreensão e debate de algum assunto em comum precisa de respeito, onde todos são
iguais, sem julgamentos e que não precisa se anular e acarretar tudo que o orientador
fala. Grupo é diferente de massas, onde o coletivo trabalha ao bem comum de todos
através das vivências e troca de experiências e assim de forma benéfica levar o
conhecimento da melhor forma possível a todos.
Indicações do resenhista: Esta resenha foi escrita para a matéria Teorias e Técnicas
de Grupo do curso de psicologia e apresenta a importância do estudo da “Psicologia das
massas e análise do eu”, escrito por Freud no contexto das formações de grupos e assim
compreender a sociedade num todo e a formação da psiquê diante das decisões em que
tomamos.
Referências complementares