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06/06/2022 16:33 Infância na História e na Cultura Contemporânea

INFÂNCIA NA HISTÓRIA E NA
CULTURA CONTEMPORÂNEA
CAPÍTULO 2 - CRIANÇA PRODUZ
CULTURA?
Suellen Irene Pereira Pierri

INICIAR

Introdução
Você já parou para pensar sobre a infância hoje? Será que a criança de hoje é
diferente da de ontem e da que virá nos próximos anos? Quando pensamos em
cultura, temos que levar em consideração que ela é um organismo vivo que está
sempre mudando e tomando rumos outros a partir das pessoas que vivem suas
vidas de determinadas maneiras e pensam de determinadas formas. Todas essas
falas e vivências vão se entrelaçando e contando a história de cada um, ao mesmo
tempo em que contam a história de uma comunidade ou de um conjunto de
pessoas. Mas será que a influência dos que vieram antes de nós e daqueles que
vivem conosco pode mudar toda uma conjuntura espaço-temporal de forma a
influenciar os indivíduos em uma escala ainda maior do que imaginamos? O
antropólogo Lévi-Strauss (1976, p. 19) afirma que cultura “[...] é este conjunto
complexo que inclui conhecimento, crença, arte, leis, costumes e várias outras
aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.
Dessa forma, pensar na criança como um indivíduo passando por mudanças no
decorrer dos tempos, e a partir da influência das pessoas que vieram antes e
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convivem agora para juntas transformarem o amanhã, é premissa que se prova a


partir de pesquisas antropológicas, sociológicas e histórias contadas entre gerações.
Neste capítulo, você entenderá melhor as leis que regem a infância no país, assim
como conhecerá o conceito de cultura em que se baseiam as literaturas sobre a
infância, e de que forma a interação entre as gerações influencia a criança e a
infância. Além disso, aprenderá que a cultura também é constituída por outros
conceitos como educação, diversidade, cidadania, identidade, e que ela se constrói
a partir das relações entre as pessoas dos diferentes grupos etários, seus contextos e
suas relações com o meio. Bom estudo!

2.1 Infância na contemporaneidade a


partir das crianças e dos adultos
(gerações)
Quando tratamos de conceitos e concepções sobre um determinado tema, temos de
levar em conta que não há uma verdade única, mas sim teorias e pensamentos nos
quais as pessoas acreditam, se identificam ou aceitam – e que acabam por
transformar essas ideias em verdades.
Bourdieu (1998) alerta-nos sobre a “ilusão biográfica”, ou seja, para o entendimento
de que a unidade do “eu” de cada um nada mais seria do que sua apresentação
sociocultural. Dessa forma, seríamos influenciados, de forma consciente ou não, por
conceitos, ideias, pensamentos e atitudes que ocorrem em conjunto com os outros
com os quais nos relacionamos, e é a partir disso que recriamos nossos próprios
conceitos, ideias, pensamentos e atitudes.
Nesse sentido, podemos concluir que a criança é o indivíduo que também ouve,
entende e cria conceitos, já que está imersa e atuante na cultura desde o
nascimento. Essas ressignificações da criança, ou seja, sua maneira de ver, entender
e dar sua própria significação aos fatos, é o que também perpetua as constantes
mudanças que ocorrem na sociedade.
A infância, nessa perspectiva, refere-se a uma determinada classe de idade, porém
revestida pelo conceito de geração, num viés histórico e também relacional, na
diferenciação com as outras classes de idade, ou seja, outras gerações. A partir
desses pressupostos, a infância é considerada uma categoria geracional de caráter

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relacional, pois é histórica e socialmente construída, por meio da participação das


crianças em suas culturas e de sua geração com as dos adultos, instâncias
mutuamente entrelaçadas.
Note que, por meio dessa análise, entende-se que as crianças vivem suas vidas
como parte de um grupo social – a geração –, que por sua vez, faz parte de uma
estrutura social mais ampla: a sociedade. Nesse âmbito, a infância pode ser
reconhecida como a fase de descobertas do indivíduo, um período em que a criança,
desde que nasce, é apresentada e inserida em um grupo cultural, com costumes e
ideias específicas do contexto em que vive.
Assim, desde que nasce, o indivíduo é inserido em um grupo social, é um integrante
da sociedade cuja cultura, costumes e valores lhe são passados por aqueles que
nela convivem, em uma relação primeiramente de transmissão, realizada pelos
demais integrantes do grupo, como seus familiares e outras pessoas. À medida que
o indivíduo convive com seu grupo cultural, também recria as influências e os
hábitos recebidos, estabelecendo relações de recriação e trocas.
A partir dessas informações e trocas, que são oriundas do convívio com o grupo
cultural no qual estão inseridas, as crianças também vão se constituindo e se
reconhecendo como cidadãos com direitos e deveres.
Nesse sentido, você consegue perceber a importância do outro na constituição do
ser criança e do viver a infância? Isso porque a criança se constitui a partir das
múltiplas relações que estabelece com as pessoas às quais se relaciona, e com elas
determina formas de interação com o mundo.
Observe o exemplo ilustrado pela figura a seguir.

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Figura 1 - Os vínculos com a criança permitem que ela estabeleça relações de afeto desde os primeiros
anos de idade. Fonte: Sunnystudio, Shutterstock, 2017.

Apoiada na perspectiva das pessoas que fazem parte de seu convívio, a criança vai
estabelecendo formas de criar seus próprios entendimentos e suas concepções
sobre o mundo.
Dessa maneira, quando se pensa na concepção de infância hoje, não se pode tratá-
la como momento isolado, já que “[...] não pode ser entendida fora da relação com a
vida adulta, configurando-se também como uma categoria de caráter relacional.”
(SALGADO, 2014, p. 67). Esse caráter relacional se estende ao convívio entre a
criança e todos aqueles que compartilham sua vida social, como representa a figura
a seguir.
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Figura 2 - A infância é cercada de diversidade de ideias, pessoas, histórias, permitindo inúmeras


possibilidades relacionais para a criança. Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2017.

Você pode imaginar que a escola, por sua vez, é o local em que as relações
estabelecidas são as mais diversificadas, é onde a criança estabelecerá,
obrigatoriamente, vínculos com várias pessoas à sua volta – das mais variadas
idades –, permitindo relações intergeracionais que irão agregar conhecimento ao
seu entendimento de mundo.
O “fazer-fazendo”, que acontece na escola e na vida cotidiana das crianças  a partir
da relação que elas estabelecem com o outro, deve ser levado em conta ao se
construir o currículo escolar (MARTINS FILHO, 2013). Assim, deve-se garantir à
criança que seja ela mesma na escola, mas em interação com os outros alunos da
sua faixa etária e com os professores. A proposta pedagógica, portanto, deve levar
em consideração os conhecimentos prévios e os saberes trazidos pelas crianças,
considerando-se seu contexto social e cultural.

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De acordo com essa visão da infância, deve-se criar, então, situações de


aprendizagens nas quais as crianças, a partir dos conhecimentos adquiridos em seu
meio social, poderão ampliar e reconstruir conceitos e habilidades. Essas vivências
devem também levar em consideração as aprendizagens coletivas, entendendo que
é coletivamente e nas relações entre as pessoas que o conhecimento se amplia.

VOCÊ QUER VER?


No filme Mogli: o menino lobo, fica evidente quanto se aprende no contexto natural e/ou cultural em que
se vive a infância. Depois de ter sua vida ameaçada por um temível tigre, Mogli, um menino criado por
lobos, deixa o seu lar na selva e parte em uma viagem de autodescoberta, guiado por uma pantera
austera e um urso alegre e independente. Para assistir à versão dublada, acesse o endereço:
<http://filmesonlinegratisahd.com/mogli-o-menino-lobo-dublado-online/
(http://filmesonlinegratisahd.com/mogli-o-menino-lobo-dublado-online/)>.

Dessa forma, é possível compreender quanto a multiplicidade de encontros, trocas


e experiências durante a vida da criança – comcoetâneos, familiares, professores e
pessoas das mais diversas idades, ou seja, trocas intergeracionais – agregam
conhecimento de mundo e permitem à criança se apropriar da sociedade a partir da
realidade em que vive. Ademais, note quanto a escola é local privilegiado para se
estabelecer essas trocas, seja em momentos de escolha entre as próprias crianças,
seja a partir da mediação do professor, como você pode inferir a partir do exemplo
de relação que consta na figura a seguir.

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Figura 3 - A
professora também é quem faz a mediação entre o conhecimento dos alunos e as propostas de ensino
da escola e oportuniza a troca de conhecimentos entre os atores sociais. Fonte: ESB Professional,
Shutterstock, 2017.

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Quando tratamos da importância da mediação do professor, é conveniente ressaltar


que ele é mais um dos mediadores entre a criança e o conhecimento, e que este se
faz também a partir das relações estabelecidas entre a criança e todos os outros
com os quais ela faz contato durante sua vida, permitindo a elacompreendero
mundo a partir de inúmeras perspectivas.

[...] é básico que a escola, as crianças, os jovens e os adultos recuperem, aprendam,


descubram a paixão pelo conhecimento, porque só o ser humano pode conhecer e,
nesse processo – de construção de conhecimento – o papel do outro e da coletividade
é fundamental (KRAMER; LEITE, 1998, p. 20).

VOCÊ QUER LER?


No livro “As Marcas do Humano: as origens da constituição cultural da criança na perspectiva de Lev S.
Vigotski”, você pode conferir como o professor Angel Pino (2005) explana sobre a constituição do ser
cultural e social da criança desde seu nascimento e a influência do outro no entendimento de mundo da
criança.

É muito importante que você compreenda, como já explicamos, que a criança traz
seus conhecimentos prévios e diferentes de acordo com o seu grupo social. Estando
na escola, ela terá contato com outras crianças com diferentes conhecimentos, além
do contato com os saberes das ciências e os conceitos científicos. Assim, na escola,
através da mediação dos professores e das outras crianças, serão construídos outros
conhecimentos, a partir daqueles que a criança já carrega consigo. É na troca que
está o entendimento, a partir do outro e com o outro os saberes se entrelaçam e se
multiplicam, dando forma a uma cultura multifacetada e viva.
No próximo tópico, você continuará a aprender sobre os diferentes modos de viver a
infância, bem como os modos de se estabelecer relações com as crianças no
contexto geracional.

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2.2 Infância na contemporaneidade a


partir das experiências das crianças e
dos adultos (gerações)
Quando tratamos do conceito de infância, nos referimos também à maneira pela
qual a sociedade vê essa criança e ao que espera dela.Nesse sentido, se
entrecruzam as expectativas das diferentes gerações: das crianças e dos adultos.
De acordo com Shultz e Barros (2011, p. 139) “[...] a infância é ligada diretamente às
outras fases da vida e construída ao longo do tempo.” Dessa forma, relaciona-se
com o entendimento que se tem também sobre as outras gerações ao longo da
história e os papéis assumidos pelos integrantes de cada uma.
A partir desses pressupostos, podemos concluir que ser integrante da categoria
geracional da infância indica assumir diferentes comportamentos e atitudes de
acordo com o contexto histórico e cultural vivido. Nos itens a seguir serão
exploradas mais detidamente a questão geracional e suas implicações.

2.2.1 Relações intergeracionais


Como você já pôde perceber, as relações intergeracionais são múltiplas e inevitáveis
quando pensamos na criança e em seu círculo social. Quando a criança é muito
pequena, essas relações se limitam a seus familiares e amigos próximos;mas,
conforme vai crescendo, as suas conexões aumentam, e a criança começa a
frequentar outros lugares e a conhecer outras pessoas.
Cada pessoa é produto das relações que estabelece desde o nascimento, entre as
pessoas com quem convive em casa, na escola, no trabalho e nos locais que
frequenta. Seja por muito, seja por pouco tempo, cada interação que ocorre durante
a vida acaba por montar um pouco do que forma cada indivíduo. “[A] socialização é
um termo amplo que indica que o ser humano, desde que nasce, não apenas está
sujeito a influências da sociedade de que participa e ajuda a construir, como
também a influencia.” (MORAGAS, 1997, p. 101). Assim, cabe nos perguntarmos: de
que forma se dão essas relações intergeracionais?
Dessa forma, o que acontece são interações baseadas em trocas e assimilação de
regras de conduta e formas de viver em determinada sociedade. Essas trocas
acontecem – ou deveriam acontecer – de forma que a transmissão de memórias e
experiências permita que as várias gerações se respeitem e se compreendam em um
processo recíproco de aprendizagens.
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VOCÊ QUER LER?


No livro “Vidas Compartilhadas: cultura e relações intergeracionais na vida cotidiana”, de Paulo de Salles
Oliveira (2011), você pode ter acesso a um estudo do dia a dia de crianças cuidadas por seus avós, nas
classes populares. Esse estudo mostra o encontro de sujeitos sociais diferentes e o caminho que passam
a construir juntos, buscando cultivar interações igualitárias, nos direitos e nos deveres.

Você pode imaginar como, para a criança, qualquer evento, a exemplo da ida para a
creche, abre um novo mundo de possibilidades relacionais entre gerações, tanto
com coetâneosquanto com adultos ou crianças mais novas ou mais velhas,e essas
relações oferecem aprendizagem e ampliação de conhecimento de mundo da
criança.
Assumindo a visão de que as crianças são seres sociais desde que nascem, vemos
que elas continuam, na creche, sua busca por socialização com o outro, e essas
relações devem ser otimizadas na instituição, de forma que se priorizem princípios
baseados em respeito às diferenças, solidariedade e troca de experiências,
ampliando o bem-estar entre as gerações, e garantindo que as trocas sejam feitas de
forma constante e harmoniosa, em que todos ganham e doam seu
conhecimento.Dessa forma, pode-se caminhar para uma sociedade mais igualitária,
justa e respeitosa, tendo a instituição educacional como ponto chave desse
caminhar.
Por tudo o que já expomos a respeito do tema, você deve ter em vista que essa troca
deve ser via de mão dupla, na qual adultos, jovens, crianças e idosos compartilham
experiências.Porém, é inegável o fato de que os papéis de cada envolvido na relação
diferem, sendo que “há posições geracionais de uma geração sobre a outra”
(LIBARDI, 2016, p. 53), ou seja, aos adultos e idosos cabe uma responsabilidade com
a geração mais nova de jovens e crianças.Então, tanto nas instituições de educação
quanto nas relações que se estabelecem em qualquer âmbito social, cabe aos mais
velhos proteger os mais novos e passar a eles determinados conhecimentos.
Por outro lado, também deve ser permitido aos mais novos contribuir com a
sociedade a partir daquilo que recebem dela, pois também os menores têm algo a
compartilhar e aplicar perante as informações a que foram expostos.
Consequentemente, essas relações intergeracionais devem ser baseadas em fatores

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de reciprocidade e interdependência, de forma que crianças, jovens, adultos e


idosostroquem compreensões e entendimentos, cada um à sua maneira, dentro
daquilo que veja como verdade, na percepção de que são muitas histórias e muitas
verdades existentes.

2.2.2 A geração como um constructo sociológico


Como já expusemos brevemente, a questão das gerações e todas as implicações
relacionais entre elas é um constructo sociológico. Essa afirmação se baseia na ideia
de que há interações dinâmicas a todo momento entre as gerações, ou seja,
crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos se relacionam das mais diversas
maneiras em suas interações (SARMENTO, 2005). No entanto, é importante destacar
que em cada geração hápapéis constituídos socialmente no transcorrerhistórico.
É importante que você perceba que as dinâmicas intergeracionais acontecem
quando os mais velhos trocam informações e conhecimentos com os mais novos, e
estes os ressignificam.

CASO
Sabemos que, paracrianças de quatro a cinco anos, todas as descobertas são interessantes, pois são
movidas pela curiosidade pelas coisas do mundo, e que as brincadeiras têm valor simbólico a partir
da tentativa de entender esse mundo que as rodeia.Numa escola pública, em sala de aula com
crianças dessa idade, como um professor ou professora deve agir?

Nesse caso que trazemos, a professora está participando de uma conversa com as crianças, a quem
eles fazem perguntas e explicam a partir do seu entendimento e de suas hipóteses sobre a
metamorfose e o ciclo de vida das borboletas. Nesse momento, uma criança diz ter visto minhocas
em sua casa e que elas ficam na terra.A professora aproveita essa fala e questiona sobre o ambiente
em que vivem as borboletas e as minhocas. As crianças falam animadamente e escutam o que os
colegas pensam sobre isso. A professora propõe que juntos possam descobrir mais informações e
façam investigações. Dessa forma, a professora leva em consideração oque as crianças têm como
hipóteses e também se propõe a criar condições de ampliar esses conhecimentos. É muito provável
que, juntos, aprendam muito. 

Com base no exemplo analisado e no que já discutimos anteriormente, é importante


que você perceba que as relações intergeracionais ultrapassam a transmissão de
valores e conhecimento, agindocomo uma forma de se estabelecer a mediação
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entre diferentes conhecimentos, sendo as crianças respeitadas em seu processo de


busca por esses conhecimentos. A professora não impõe o conhecimento, mas parte
do interesse e da curiosidade das crianças. Tanto na escola quanto fora dela, as
relações entre os indivíduos de diferentes gerações devem acontecer a partir do
respeito pelo conhecimento do outro, buscando um convívio colaborativo e de
trocas entre os envolvidos.
Como você pode perceber, a imagem a seguir ilustra a ideia de quanto as crianças
podem participar da tomada de decisões e envolver-se em situações de
aprendizagem.


Figura 4 - Crianças atuantes em sala de aula desenvolvem o convívio colaborativo. Fonte: Monkey
Business Images, Shutterstock, 2017.

Além da relação intergeracional em si, você precisa ter em mente a existência de


fatores externos que a influenciam. Deve-se levar em conta que a mudança de
entendimento sobre o mundo, que também perpassa as gerações, é fator relevante
para a troca de ideias intergeracional. Por outro lado, no mundo contemporâneo
estão disponíveis elementos diferentes em relação a outras épocas; a tecnologia é
um desses fatores e influencia diretamente as vivências diárias das crianças dentro e
fora da escola: “Para as professoras, a tecnologia também aparece como um
significativodiferencial entre a infância de sua geração e a das crianças hoje [...]”
(SALGADO, 2014, p. 74). Esse fato precisa ser levado em consideração na mediação
dos processos de aprendizagem.
Nesse sentido, entende-se que,pelo fatode as crianças e os jovens serem indivíduos
que nasceram emum contexto com mais acesso a novos recursos tecnológicos, têm
mais facilidade para utilizar computadores, celulares, tablets etc. do que os
adultos.Assim, este é um desafio para o professor:que sejam implementadas
propostas em que a tecnologia seja um recurso utilizado na escola, a fim de
transformar informações em conhecimentos. 
Perceba que a tecnologia, então, não pode ser considerada apenas algo que separa
gerações, mas também pode ser vista como uma ferramenta a partir da qual outras
interações permitiriam aproximações.
Dessa forma, as relações intergeracionais, independentemente de seu tempo, são
capazes de proporcionar uma aprendizagem recíproca que valoriza as diferenças e
as histórias dos envolvidos.
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No próximo tópico, você irá aprender mais sobre a infância como um direito,
sabendo analisar criticamente esses direitos, assim como reconhecer a visibilidade
social da infância e a criança como produtora de cultura.

2.3 Infância como um direito da criança


Ao entendermos que a visão do que hoje compreendemos por infância é uma
construção histórica, podemos perceber quenão é estáticanem imutável. Nesse
sentido, também os direitos relacionados às crianças foram constituídos ao longo
de processos de defesa da infância.
Atualmente, temos a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), de 1990, como os pilares legais dos direitos das crianças no
Brasil. Mas será que essas leis protegem todas as crianças da mesma forma? O que
pode ser feito para permitir aos pequenos gozarem desses direitos de maneira
plena, como cidadãos que são desde o nascimento?

2.3.1 Visibilidade social da infância


Qual o papel social da criança na sociedade de hoje? Para responder essa questão,
você precisa ter em mente que esse papel mudou consideravelmente conforme os
anos e séculos foram passando. Assim, pode-se dizer de forma introdutória que,
atualmente,pelomenos no mundo das ideias e teorias, a criança tem um papel
atuante socialmente, ela é entendida como indivíduo participante da sociedade.
Observe a imagem a seguir antes de continuarmos a discussão.

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Figura 5 - A
imagem revela uma criança que não tem direito à infância. Fonte: Gallery 3.0.9 (Chartres), Shutterstock,
2017.

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Com base nesse sentimento de infância,histórica e socialmente construído, você


podeobservar essa imagem e perceber que esse menino, aparentemente ainda tão
pequeno, não está vivendo sua infância. O ato de pedir esmola leva a crer que esse
menino, muito provavelmente, não frequenta a escola e não leva uma vida que o
permita gozar de seus direitos comocidadão. Assim, sua cidadania, ao mesmo
tempo que garantida por lei, está lhe sendo retirada, por motivos imbricados por
questões sociais, econômicas e políticas.Sendo assim, o fato de ser criança não
garante uma infância digna e com os direitos básicos garantidos.

VOCÊ QUER VER?


Crianças do Brasil é um roadmovie filmado em muitas cidades brasileiras. O Brasil, do extremo Norte
(Oiapoque) ao extremo sul (Chuí), é visto sob a ótica das crianças. Trata-se de uma série de 10 programas
de 12 minutos de duração sobre várias regiões do Brasil mostradas por crianças de diferentes classes
sociais, etnias, sotaques e culturas. Trailer disponível em: <https://youtu.be/LKQaRhKpG2k
(https://youtu.be/LKQaRhKpG2k)>.

Ainda analisando o exemplo da figura anterior, podemos pensar que a visibilidade


sobre a infância muitas vezes está pautada em uma visão unilateralde criança, ou
seja, o olhar das pessoas hoje já está acostumado a ver crianças pelas ruas ou como
pedintes. Assim, esse fato passa a ser banalizado, e nem sempre se exigem
mudanças.
Destarte, se faz importante que você – e todas as pessoas – compreenda os direitos e
deveres constitucionais, participando da busca por diminuições das barreiras que
impedem o acesso às condições mínimas de vida para todos os cidadãos brasileiros.
Perceba, dessa forma, que ser criança no Brasil e no mundo não implica,
necessariamente, gozar plenamente da infância e de todos os direitos que derivam
do fato de ser criança. A execução na práticadesses direitos, de forma que sejam
realmente garantidos a todas as crianças do país, ainda está em pauta e será ainda
uma luta a ser travada por muito tempo.
Estar criança não é direito, é condição; o indivíduo nasce e passa, obrigatoriamente,
pela fase da infância, não sendo possível a mudança por nenhum ator social.
Contudo, para que seja permitido à criança o direito ao ser plenamente criança,
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deve-se entendê-la em suas particularidades e garantir seus direitos legais e


constitucionais, sendo este dever político e social. Na esfera política, cabe aos
legisladores fazerem valer os direitos das crianças não apenas no papel, mas
igualmente em seu dia a dia. Na esfera social, é importante que todos os indivíduos
tenham um olhar sensível voltado à criança, a todas as crianças,
independentementede sua condição social.
Observe a imagem e reflita sobre o direito que esse menino tem de ser criança.

Figura 6 - Muitas famílias de baixa renda dependem do trabalho infantil para garantir sustento. Fonte:
Zzvet, Shutterstock, 2017.

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Com uma leitura mais atenta da imagem, pode-se supor que esse menino não faz
parte de uma família que mantém uma renda sustentável para uma vida que lhe
permita gozar dos direitos à alimentação, saúde e habitação dignas, devendo, por
isso, complementar a renda familiar à custa da venda de sua própria força de
trabalho.
O ser criança deve levar em conta todos os direitos que permitam viver a infância:

[...] a existência de um direito, seja em sentido forte ou fraco, implica sempre a


existência de um sistema normativo, onde por "existência" deve entender-se tanto o
mero fator exterior de um direito histórico ou vigente quanto o reconhecimento de um
conjunto de normas como guia da própria ação. A figura do direito tem como correlato
a figura da obrigação. (BOBBIO, 1992, p. 79-80).

Você deve se lembrar, pois já tratamos desse assunto, que as leis mais importantes
que delineiam a criança são a Constituição de 1988 e o ECA, de 1990.A Constituição
do país assegura inúmeros direitos a todo brasileiro.Em seu artigo 6º, caput, dispõe:
“São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” (BRASIL,
1988, s. p.). 
Além disso, a mesma Carta também trata sobre o direito à educação de todas as
crianças de zero a seis anos, conforme análise de Kramer (1999, s. p.):

A população brasileira, a partir da progressiva consciência de seus direitos e da


participação em movimentos sociais, teve papel central numa das maiores conquistas
da educação infantil no Brasil: o reconhecimento, na Constituição de 1988, [...] do
dever do Estado de oferecer creches e pré-escolas para tornar fato este direito.
Movimentos sociais e instâncias públicas (municipais e estaduais) vêm se esforçando
no sentido de expandir com qualidade a educação infantil e enfrentar os desafios que
se colocam. Pela primeira vez na história da educação brasileira, foi formulada uma
política nacional de educação infantil, com diretrizes para a formação dos
profissionais.

Dessa forma, a criança, assim como todo cidadão brasileiro, tem direito a uma vida
plena, com boa moradia, saúde e educação de qualidades, lazer e assistência. A luta,
da qual trata Kramer (1999), fez valer as leis no mundo das ideias, mas ainda temos
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que fazê-las valer para todas as crianças, não apenas para aquelas cujas famílias
conseguiram se adequar à desigual sociedade em que vivemos, mas também as
ditas marginais, às quais foi negado o direito de viver e ser criança.
O ECA foi criado com o objetivo de proteger integralmente crianças e adolescentes.
Em seu artigo 7º o estatuto prevê que a criança e o adolescente “[...] têm direito a
proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que
permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência.” (BRASIL, 1990, s. p.).
Infelizmente, não é essa a realidade das crianças brasileiras, pois as manchetes do
ano de 2017 de jornais e revistas do país sobre a infância contam outra história. A
história contada é de um país em que milhões de crianças vivem em situação de
extrema pobreza (LAMBERT, 2017), com o retorno à condição de “país da miséria” (O
BRASIL…, 2017), local em que 40% das crianças até 14 anos vivem em situação de
risco e desamparo (CRUZ, 2017). Essas são histórias de um país que não se preocupa
com sua infância, um país que mantém leis de proteção à criança apenas no papel e
que permite à criança estar criança, mas não permite a todas o ser criança e
aproveitar o que esse ato traz em sua plenitude.
Apenas a luta da sociedade, assim como o trabalho do professor na sala de aula e
fora dela, permitirá relevantes mudanças no panorama social e político do país.Se
foi com luta que se garantiu as leis, também com luta se garantirá a efetivação
dessas leis para todas as crianças e todos os adolescentes brasileiros, assim como
para todos os cidadãos do país.
No próximo tópico, vamos abordar a questão das culturas infantis, para que você
possa reconhecê-las e detectar aspectos que indicam a relação entre concepções de
infância, educação, cultura, conhecimento, diversidade, cidadania e identidade.

2.4 Culturas infantis


As pesquisas com crianças aumentaram, assim como o conceito de criança e a
concepção de infância foram se transformando. Hoje aceita-se que a criança, para
além de ser influenciada pela cultura que a cerca, também produz cultura a partir
das relações com seus pares e adultos. Corsaro (2002) apresenta o conceito de
“reprodução interpretativa (p. 115), construindo a ideia de que as crianças

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contribuem ativamente para a preservação social, assim como para sua mudança. E
são essas mudanças que acontecem coletivamente que permitem reconhecermos a
participação das crianças na construção cultural da sociedade.
Nos itens a seguir, você entenderá melhor a visão da criança como produtora de
cultura, além de conhecer a área de estudo da Sociologia da Infância.

2.4.1 Criança como produtora de cultura


Como você já pôde constatar a partir da visão atual de infância, é indiscutível que a
criança influencia e é influenciada pelo grupo cultural que integra. O que ainda é
objeto de estudo é o olhar para a criança como produtora de cultura, sob uma
perspectiva pela qual a criança cria sobre aquilo que absorve.Ou seja,
primeiramente ela age concretamente sobre a realidade que a cerca, levando em
consideração todos os aspectos da cultura e as relações entre seus pares; a partir
disso, ela também reelabora as influências recebidas e assim produz cultura.

  Elas [as crianças] elaboram sentidos para o mundo e suas experiências


compartilhando plenamente de uma cultura. Esses sentidos tem uma particularidade,
e não se confundem nem podem ser reduzidos àqueles elaborados pelos adultos; as
crianças têm autonomia cultural frente ao adulto. Essa autonomia deve ser
reconhecida e também relativizada: digamos, portanto, que elas têm uma relativa
autonomia cultural. Os sentidos que elaboram partem de um sistema simbólico
compartilhado com os adultos (COHN, 2005, p. 35).

Dessa forma, entende-se que as crianças produzem cultura a partir daquilo que
vivenciam e aprendem,conforme o grupo cultural em que nascem, as conversas com
as pessoas com quem convivem, brincando com outras crianças, enfim,emvariadas
formas de interação com o meio e as pessoas.


Figura 7 - As inúmeras relações disponíveis para a criança durante suas vivências formam o seu mundo.
Fonte: Guz Anna, Shutterstock, 2017

Porém, há uma complexidade no entendimento dessas dinâmicas infantis


(SARMENTO; PINTO, 1997), já que é necessário escutar e observar a
criança,estimulando o seu protagonismo. Para tanto, você deveter em mente que as
infâncias são vividas das mais diversas formas, dependendo dos contextos sociais e
culturais; assim,não há apenas um tipo de criança ou um tipo de infância.

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Sendo assim, as pesquisas que se debruçam sobre a infância devem levar em


consideração os contextos nos quais as crianças estão imersas para entender a
complexidade dos envolvidos. Somente dessa forma há a possibilidade de
compreender as culturas infantis de determinado grupo partindo da estrutura social
que o cerca, das relações que se estabelecem e das suas visões de mundo.
Esse estudo mais aprofundado a partir do entendimento da criança como produtora
de cultura é considerado como fazendo parte de uma linha de pesquisa
denominada Sociologia da Infância, uma ramificação da sociologia determinada a
estudar a criança imersa em seus constructos culturais, sociais e históricos, e será
tratada no próximo item.

2.4.2 A Sociologia da Infância


Pode-se afirmar que a Sociologia da Infância é uma área de estudo relativamente
nova, que busca compreender a condição social da infância e as relações das
crianças com os adultos e entreseuspares. Como forma de ampliar essa
interpretação, segue trecho de uma explicação do professor Sarmento (2005, p.
361):

A sociologia da infância propõe-se a constituir a infância como objecto sociológico,


resgatando-a das perspectivas biologistas, que a reduzem a um estado intermédio de
maturação e desenvolvimento humano, e psicologizantes, que tendem a interpretar
as crianças como indivíduos que se desenvolvem independentemente da construção
social das suas condições de existência e das representações e imagens
historicamente construídas sobre e para eles. Porém, mais do que isso, a sociologia da
infância propõe-se a interrogar a sociedade a partir de um ponto de vista que toma as
crianças como objecto de investigação sociológica por direito próprio, fazendo
acrescer o conhecimento, não apenas sobre infância, mas sobre o conjunto da
sociedade globalmente considerada.

Dessa forma, a Sociologia da Infância não procura estudar as crianças per se, mas
sim em sociedade, e busca posicioná-las como atores sociais, tanto no campo
teórico como no metodológico.

VOCÊ SABIA?
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A Sociologia da Infância surgiu no Brasil em meados da década de 1980, contrapondo-se às teorias


biológicas e higienistas que entendiam a criança como um vir a ser, um indivíduo simples em
constante maturação. Porém, foi somente no final da década de 1990 que pesquisas relevantes na
área começaram a ser publicadas, o que coloca essa área do estudo ainda como algo novo e em
ascensão no país.

Essa área de estudo busca transpor o pensamento adultocêntrico, ainda tão vigente
na sociedade, assim como convida estudiosos e profissionais da educação a pensar
a infância sob outroângulo: o da criança por ela mesma, ou seja, entender que há
uma criança que é sujeito de sua aprendizagem e de seu conhecimento, ao mesmo
tempo em que também é motivada a partir das atitudes do outro.
Além disso, os professores Manuel Sarmento e Manuel Pinto (1997) atentam para o
fato de que estudar as infâncias, para além de aumentar a compreensão sobre o ser
criança, também auxilia na compreensão de toda a sociedade:

O olhar das crianças permite revelar fenômenos sociais que o olhar dos adultos deixa
na penumbra ou obscurece totalmente. Assim, interpretar as representações sociais
das crianças pode ser não apenas um meio de acesso à infância como categoria social,
mas às próprias estruturas e dinâmicas sociais que são desocultadas no discurso das
crianças (SARMENTO; PINTO, 1997, p. 25).

Essa explanação permite destacar ainda mais importância ao estudo sociológico da


infância, já que legitima a importância do estudo da criança não apenas por ela
mesma, mas em uma perspectiva mais ampla, de entendimento social, cultural e
histórico.

VOCÊ O CONHECE?
Ana Lúcia Goulart de Faria é professora doutora da Faculdade de Educação da Unicamp, grande
precursora da Sociologia da Infância no Brasil, com inúmeros textos e livros publicados sobre o tema.
Para mais informações e acesso a publicações da professora, veja:
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4793285J1
(http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4793285J1)>.

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Estudos na área da Sociologia da Infância são como uma “[…] retomada do


movimento de luta a favor das crianças, da infância e da educação.” (ROCHA, 2011,
p.  3). Para além da criança vista através da psicologia, medicina ou psicanálise, a
infância observada sob a lente das ciências sociais vem ganhar uma nova forma,
permitindo aos profissionais da área e a toda a sociedade um melhor agir sobre a
infância. 

Síntese
Concluímos o segundo capítulo relativo aos diferentes modos de viver a infância e
às culturas infantis. Agora você já sabe como é entendida a infância no mundo
contemporâneo, sua relação com a educação e as gerações. Além disso, é de seu
conhecimento que a cultura infantil é algo socialmente definido e que esse aspecto
da infância deu início a uma nova vertente sociológica conhecida como Sociologia
da Infância. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
compreender que o entendimento da infância pela sociedade é uma
construção política e social;
perceber o que são relações intra e intergeracionais e no que elas influenciam
a criança de seu tempo;
conhecer as mais importantes leis que regem a educação e o bem-estar de
crianças e jovens no Brasil;
aprender que a criança pequena, para além de compreender a cultura do
grupo que a cerca, também produz cultura;
identificar que existe uma vertente da sociologia que se dedica a estudar a
infância: a Sociologia da Infância.

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