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Apostila de

Economia Ecológica

APOIO
Localização do Pré-Ágrarias
O Pré-Agrárias é a semana de acolhimento dos calouros do
Centro de Ciências Agrárias (CCA), localizado no Campus do PICI,
Fortaleza - CE, composto por oito departamentos e quatro fazendas
experimentais, congrega as atividades de ensino, pesquisa e
extensão na respectiva área. Assim, sendo responsável pelos cursos
de Agronomia, Economia Ecológica, Engenharia de Alimentos,
Engenharia de Pesca e Zootecnia.
O Pré-Agrárias permite que o calouro conheça o CCA e partes
Campus do Pici importantes, sendo o primeiro momento localizado
no Departamento de Zootecnia para o CREDENCIAMENTO de todos e
direcionamento dos calouros para suas respectivas salas de aula.

ull
AV. Mister H

AV. Humberto Monte

Legenda
Biblioteca Central
Local do Pré-Ágrarias

DEINTER e Eng. de Alimentos


Departamento de Zootecnia

Mapa completo do Campus do Pici


AGRADECIMENTOS
Esta apostila foi elaborada com todo cuidado pela equipe de ensino do curso de Economia
Ecológica, discentes e docentes se prontificaram para preparar um material didático que possa
sanar dúvidas e orientá-los nessa nova jornada acadêmica. No final desta apostila, você
encontrará o Projeto Pedagógico do Curso completo e atualizado, os principais anexos e
informações essenciais que serão de grande utilidade para a sua graduação, desde a entrada até
o fim da sua formação acadêmica.
Atenciosamente,
Centro Acadêmico Georgescu-Roegen – Gestão Echos e Comissão de Ensino 2022.

Material didático auxiliar para calouros, escrito e


produzido em colaboração da equipe de ensino do Curso de
Economia Ecológica juntamente com o corpo docente do curso
para ser usado no evento Pré-Agrárias da Universidade Federal
do Ceará.

Nem sequer toda a sociedade, uma nação, mais ainda,


todas as sociedades contemporâneas juntas são proprietárias
da Terra. Somente são seus possuidores, seus usufrutuários, e
devem melhorá-la, como boni patres famílias, para as gerações
futuras.
(Karl Marx)
1. Economia Ecológica
1.1. Projeto Pedagógico do Curso
1.1.1. Apresentação
1.1.2. Missão
1.1.3. Áreas de atuação
1.1.4. Grade Curricular
1.1.5. Projetos de Extensão e bolsas
2. Conhecendo a Universidade
2.1. Campus do Pici
2.1.1. Deinter
2.1.2. Cronograma VI Pré-Agrárias
3. Conhecendo o Curso
3.1.1. Programa Terra Mãe
3.1.2. ECOMundo
3.1.3. EREC
3.1.4. Pet Agrárias
3.1.5. ECOS
3.1.6. Centro Acadêmico
4. Conteúdo das aulas
4.1. Introdução a Economia Ecológica
4.2. Antropologia
4.3. Formação Socioeconômica
4.4. Ecologia
4.5. Metodologia da Pesquisa
4.6. Cartografia Social
4.7. Formação do Território Brasileiro
5. Extra
5.1. Questões
5.2. Material de apoio
5.3. Informações importantes
Projeto Pedagógico do Curso
Apresentação
O Curso de Economia Ecológica propõe-se a fornecer fundamentos
interdisciplinares e transdisciplinares para mais bem qualificar o
entendimento das complexas relações entre ambiente, sociedade e
economia. Trata-se de um modo de pensar que se opõe à
fragmentação das ciências estabelecidas, particularmente ao ideário
da teoria econômica tradicional que respalda o dogma do
crescimento econômico ilimitado. Aponta para possibilidades de
alternativas ao modo de produção e de vida que prevalece nas
sociedades capitalistas contemporâneas e seu paradigma tecnológico-financeiro.
Ao reconhecer a inevitabilidade dos impactos ambientais de todo e qualquer processo
econômico, a Economia Ecológica sugere que as decisões políticas sejam balizadas pela
minimização da entropia, que levem em consideração a conservação da biodiversidade e os
serviços ambientais. Isso significa dizer que a eficiência econômica terá que estar subordinada à
sustentabilidade ecológica. Para tanto, os componentes curriculares contemplam metodologias e
ferramentas que permitam uma atuação profissional consentânea ao princípio da precaução,
diante do desconhecimento das leis que regem a dinâmica dos ecossistemas e dos impactos
decorrentes dos processos produtivos em geral.
O Curso, de modalidade presencial, é ministrado no período vespertino-noturno, tem seu
percurso formativo efetivado em 8 semestres, no mínimo, e, no máximo de 12 semestres, com a
entrada anual de 50 estudantes, via Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O egresso fará
jus ao diploma de Bacharel em Economia Ecológica, correspondente a integralização de, no
mínimo, 3.200 horas-aulas.
Missão
O Bacharelado em Economia Ecológica tem por missão formar um profissional com elevada
consciência ecológica, capaz de compreender criticamente as relações entre ambiente,
sociedade e economia para mais bem intervir na realidade em que estiver atuando. Neste
sentido, na eventual condição de elaborador e gestor de políticas públicas de desenvolvimento
socioeconômico, tenha profundo respeito aos biomas e à cultura local, sempre cioso de que as
intervenções humanas tendem a provocar mudanças sociais e no ambiente onde ocorrerem.
Assim procedendo, estará contribuindo para o bem viver atual e deixar um legado saudável para
as futuras gerações.
Áreas de atuação:
O(A) Bacharel em Economia Ecológica pode atuar em:
● Ensino e pesquisas acadêmicas voltadas para a Economia Ecológica;
● Planejamento socioeconômico e ambiental;
● Estudos e pesquisas sobre impactos socioeconômicos e ambientais decorrentes de
projetos de investimentos públicos privados, ou decorrentes de complexos produtivos em
funcionamento;
● Elaboração de políticas de gestão ambiental de resíduos sólidos e líquidos;
● Estudos para o combate da desertificação e recuperação de áreas degradadas do
semiárido;
● Consultoria de órgãos governamentais, de empresas privadas, ONG’s ou outras
organizações, para o estudo de impactos socioeconômicos e ambientais; e
● Análise de relatórios e estudos sobre impactos socioeconômicos e ambientais.
Grade curricular:

Carga % Carga
Componentes curriculares Créditos
horária horária total

Disciplinas obrigatórias 106 1.696 53

Disciplinas optativas (das quais 512 horas poderão ser cursadas


52 832 26
em disciplinas optativas livres)

Trabalho de campo integrado 10 160 5

Trabalho de conclusão de curso 20 320 10

Atividades complementares 12 192 6

Carga horária Total 200 3.200 100

Projetos de Extensão e Bolsas que o EcoEco pode participar:


Ofertados pelo curso:
● EcoMundo;
● EREC - Equidade Racial e Educação do Campo;
● Programa Terra Mãe;
● Ecos - Laboratório de Variáveis em Economia Ecológica
Ofertados pelo DEINTER e/ou CCA:
● LEADERS (criado pelo curso de Gestão de Políticas Públicas)
● Pet Agrárias sendo do CCA e todos os cursos do centro podem participar.
Ofertados pela UFC:
● Bolsa de iniciação acadêmica (BIA)
● Bolsa de iniciação científica (BIC)
● Bolsas de Monitoria (podendo ser do próprio curso)
● Incentivo ao Desporto (PRAE)
Conhecendo a Universidade!
Campis:
A Universidade é composta de sete campi, denominados: Campus do Benfica, Campus do
Pici e Campus do Porangabuçu, todos localizados no município de Fortaleza (sede da UFC),
além do Campus de Sobral, Campus de Quixadá, Campus de Crateús e Campus de Russas.
O primeiro mapa, é do Campus do Pici resumido com a localização do Centro de Ciências
Agrárias responsável pelos cursos de Agronomia, Economia Ecológica, Engenharia de Alimentos,
Engenharia de Pesca e Zootecnia. O bloco do curso de Economia Ecológica está localizado no
Departamento de Estudos Interdisciplinares (Deinter), n° 860, sendo também o bloco do curso de
Gestão de Políticas Públicas, ficando perto da entrada da Av. Humberto Monte e do lado do bloco
de Engenharia de Alimentos.
Foto do DEINTER, bloco dos cursos de Economia Ecológica e Gestão de Políticas Públicas.

Bloco 860 - Curso de Economia Ecológica / UFC: Ac. Público, 860 - Pici, Fortaleza - CE, 60020-181
Projetos de Extensão e CA do Curso de Economia Ecológica:

Programa Terra mãe:


O Programa Terra Mãe é um programa de extensão do curso de
Economia Ecológica da Universidade Federal do Ceará. Tendo
parceria com o VIÈS – Núcleo de Economia Política e a Rádio
Universitária da UFC. Este programa tem como proposta produzir
conteúdo acerca das relações entre Sociedade, Natureza e
Economia, conduzindo discussões em uma sistemática perspectiva
econômico-ecológica, favorecendo as territorialidades, a socio biodiversidade e o biocentrismo.

ECOMundo:
EcoMundo é um Programa de Extensão em Economia Ecológica,
vinculado ao Centro de Ciências Agrárias, Campus do Pici/UFC. A
temática escolhida é concomitante ao conteúdo ministrado em cada
semestre do Curso de modo a aprofundar o conteúdo programático
das disciplinas. Atualmente conta com o projeto Quintal Pedagógico
em parceria com o Núcleo de Desenvolvimento da Criança (NDC), que
objetiva trazer ao ensino básico uma melhor relação com o que se consome e ressaltando a
importância de uma alimentação saudável para a soberania e segurança alimentar. O EcoMundo
busca estimular o exercício da crítica e reforça a transdisciplinaridade que é inerente à Economia
Ecológica, seja com os estudos programados e com a exibição de filmes e documentários. O
Programa busca também atrair participantes de outros cursos ou mesmo de interessados extra
Universidade.

EREC - Equidade Racial e Educação do Campo:


O EREC é um projeto de extensão do curso de Economia Ecológica
vinculado ao Centro de Ciências Agrárias e a Faculdade de Educação
(FACED) da Universidade Federal do Ceará que objetiva apoiar as
escolas do campo em estratégias pedagógicas antidiscriminatórias/
antirracistas, oportunidades de avaliação e proposição de caminhos
de gestão, ancorados na equidade racial e no desenvolvimento de
lideranças negras no Estado, que foi o primeiro a declarar abolição da escravatura, mas não
apresentou saídas para a desigualdade racial presente. Os negros no Ceará estão nas periferias,
no campo e têm na experiência das “escolas do campo” um ambiente para fortalecimento de
novas estratégias e atores na transformação da realidade desigual do país. O racismo é estrutural
em nossa sociedade, para combatê-lo há necessidade de leitura da realidade, investigação e
ação. O projeto propõe a vinculação destas duas premissas, investigar e agir, produzir mudança
sustentada pela produção de conhecimentos, proporcionado pela pesquisa em sua função social
quando viabiliza ações extensionistas que contemplem as demandas sociais.

PET Agrárias - Conexões de Saberes:


O PET Agrárias é um Programa de Educação Tutorial direcionado a
estudantes do Centro de Ciências Agrárias da UFC, Campus do Pici.
Trabalhando nas dimensões do ensino, pesquisa e extensão, este
PET, em especial, é vinculado ao Programa Residência Agrária (PRA).
Um histórico programa que surgiu do Programa Nacional de Educação
Tutorial. Deste modo, o PET Agrárias têm os mesmos objetivos do
PRA, proporcionar uma formação qualificada dos profissionais das Ciências Agrárias para a
atuação em áreas de reforma agrária (assentamentos rurais). Tem-se como princípios, a
pedagogia da alternância, onde o bolsista oscila entre um tempo-comunidade (em um dado
assentamento) e um tempo universidade (seu local habitual de aula e estudo). Produzindo
pesquisas e ações de ensino tem-se uma forte potência de promover transformações sociais e
ecológicas. O bolsista recebe uma bolsa de 400 reais que é garantida, caso cumpra suas
obrigações, durante toda sua graduação.

ECOS - Laboratório de Variáveis em Economia Ecológica


O ECOS Laboratório de Variáveis em Economia Ecológica foi criado
com o intuito de estipular variáveis socioambientais que não tivessem
como parâmetro o valor monetário. A partir dessas variáveis o ECOS
tem como objetivo auxiliar movimentos sociais e as minorias na busca
por produção econômico-ecológica e desenvolvimento social dentro de
sua comunidade, favorecendo a auto-suficiência comunitária e a
economia local.

Centro Acadêmico Georgescu-Roegen / CA de Economia Ecológica


O Centro Acadêmico Georgescu-Roegen do curso de Economia
Ecológica (CAEE) é uma sociedade civil de direito privado, sem fins
lucrativos, sem filiação político-partidária, livre e independente dos
órgãos públicos e governamentais, entidade máxima de representação
de todos os estudantes do Curso de Economia Ecológica criada por
tempo indeterminado. A Gestão atual é a Echos (2021 - 2022.1), com
objetivos de incentivar cada vez mais a interação e comunicação entre o
corpo estudantil do Curso de Economia Ecológica; Promover mais
informação e conhecimentos sobre o Curso de Economia Ecológica; Promover mini cursos,
eventos e palestras abordando o curso e sua multidisciplinaridade e Acessibilidade para todos.
Introdução a Economia Ecológica
No Capítulo 1 encontram-se os fundamentos e noções básicas de economia e de ecologia para
afirmar a dependência da economia ao ambiente natural. A ênfase é sobre a importância das
funções da biosfera para a economia e os impactos do processo econômico sobre as funções da
biosfera.
Manual de Economía Ecológica - Saar Van Hauwermeiren
O processo econômico e a biosfera

1. Alguns fundamentos da teoria econômica tradicional


a) O significado e a visão de economia
A Ciência Econômica propõe-se a estudar a administração (utilização) de recursos escassos
com o objetivo de produzir bens e serviços e sua distribuição para o consumo dos membros da
sociedade. Também se diz também que essa Ciência estuda e propõe uma alocação eficiente
dos recursos escassos na produção de bens e serviços com a finalidade de atender às
ilimitadas necessidades humanas. Nesses termos, parece não haver margem para se falar em
desperdícios, quando da transformação de recursos em bens e serviços, e que a finalidade da
produção é o homem.
Nada mal. Mas, como está o mundo do ponto de vista econômico, social e ambiental?
b) O sistema econômico
É um conjunto de estruturas e relações técnicas e institucionais que caracterizam a organização
de uma sociedade. Essa organização terá que dar respostas para três perguntas centrais: o quê,
como e para quem.
1) que bens e serviços produzir e em que quantidades
2) como produzir esses bens e serviços
3) para quem ou quem consumirá os bens e serviços produzidos
Quais são as respostas dadas pela teoria econômica tradicional?
c) O processo econômico
Corresponde a todas as atividades
relacionadas à produção, distribuição e
consumo de bens e serviços.
d) Agentes econômicos
* Famílias
🡪 Consomem bens e serviços
🡪 Oferecem recursos às empresas: trabalho, capital e terra (fatores da produção)
* Empresas
🡪 Compram fatores de produção das famílias
🡪 Produzem bens e serviços
* Estado (setor público)
Estabelece o marco jurídico-institucional para as atividades econômicas e é responsável pela
implementação de políticas econômicas.
d) Setores econômicos
*Primário
Reúne as atividades produtivas que se realizam próximas da base dos recursos naturais:
agricultura, pesca, mineração e extração de madeira
*Secundário
Conjunto de atividades produtivas nas quais ocorre a transformação física ou química de recursos
em bens e serviços: indústria e construção
*Terciário
São as atividades que produzem os diversos serviços: comércio, transportes, bancos,
publicidade, médicos, educação etc.

2. Os fatores da produção
Toda e qualquer atividade produtiva depende de três fatores básicos: capital, trabalho e terra.
Também são conhecidos por insumos, ou seja:
Y = F (K, L, T; C&T)
Y = Produto; K = capital; L = trabalho; T = terra; C&T = ciência e tecnologia
F = representa a combinação dos fatores.

O fator terra (T) deve ser entendido como solo cultivável e urbano e os demais recursos naturais.
O capital (K) compreende as edificações, as fábricas, as máquinas e equipamentos,
instrumentos de utilizados no processo produtivo, estoques de produtos e matérias-primas etc.
O fator trabalho (L) corresponde à mão de obra contratada pelas empresas. Algo mais se junta
aos trabalhadores e as trabalhadoras que inclui a escolaridade, a saúde, a formação profissional,
a experiência de trabalho e tudo que contribua para elevar a capacidade produtiva de um
indivíduo. Esse conjunto de atributos também é conhecido por “capital humano”. Um sinônimo
utilizado para capital humano é “empregabilidade”.
C&T inclui a pesquisa científica e suas aplicações tecnológicas na produção de bens e serviços.

3. O consumo das famílias


Do anterior conclui-se que as atividades econômicas dependem dos fatores produtivos para gerar
um fluxo de bens e serviços com objetivo de atender às necessidades e desejos das famílias e
para investir na produção de mais bens e serviços. Aqui já se percebe que se trata de um sistema
econômico que se pretende em crescimento.

A teoria econômica tradicional supõe que as necessidades totais das famílias são ilimitadas
porque o homem é um ser egoísta, hedonista e ávido por novidades. Mas também supõe que seu
desejo diminui à medida que consome mais de um mesmo bem ou serviço. Daí a importância das
novidades. Este indivíduo é considerado racional porque é capaz de valorar – atribuir um preço –
aos bens consumidos. Cada indivíduo atribui valor (utilidade) aos bens de acordo com seus
desejos e preferências, mas à medida que este consumo aumenta, à medida que se aproxima da
saciedade, atribui um preço menor a essas unidades adquiridas. Para a economia neoclássica, o
preço que o indivíduo está disposto a pagar diminui à medida que unidades adicionais são
consumidas. Daí surge a “curva de demanda” do mercado.
Algumas observações:
🡪Como o indivíduo é intrinsecamente egoísta, os bens que consome contribui apenas para sua
satisfação – a utilidade dos bens depende de cada indivíduo –, independentemente do que ocorra
aos outros. (Por exemplo, se alguém deseja fumar, não lhe interessa se outros indivíduos se
sentem afetados ou não. Se uma fábrica polui e afeta a saúde de quem habita em suas
vizinhanças, pois o desejo e a satisfação do empresário é a obtenção de lucro.)
🡪Para a teoria econômica o importante é que os indivíduos sejam livres para fazer suas escolhas
e obter o máximo de satisfação possível. A economia (o sistema econômico) deverá estar
organizada de tal modo que estimule cada indivíduo a buscar o atendimento de seus desejos
ilimitados, não importando se outros estão atingindo ou não seus objetivos, ou se o ambiente
natural está sendo impactado.
4. O sistema de preços e o equilíbrio de mercado
De acordo com a teoria econômica tradicional, o objeto da economia é estudar e encontrar a
melhor alocação de recursos escassos e que têm usos alternativos. Como isso é realizado?
O sistema de preços
Os desejos dos consumidores e os desejos dos empresários estabelecem os preços de mercado.
Os primeiros buscam maior satisfação (utilidade); os segundos, satisfazem seus desejos com um
maior lucro possível. Do lado da demanda, os consumidores como um todo estão dispostos a
pagar menos para comprar maiores quantidades, porque a utilidade diminui quando o consumo
se aproxima da saciedade. Do lado da oferta, os empresários estão dispostos a cobrar um preço
maior para vender maiores quantidades, porque seus custos crescem.
Como se pode ver, são essas forças que se opõem que levarão ao equilíbrio de mercado. Os
preços de equilíbrio resolvem as questões “o que produzir”, “como produzir” e “para quem
produzir”, e a quantidade produzida. Para Adam Smith, essas são as forças invisíveis dos
mercados, ou o que ele denominava por “mão invisível”.
O mecanismo é simples. Os consumidores compram umas coisas e não outras, de acordo com
seus desejos e preferências e a renda de que dispõe. Os empresários serão guiados por essas
decisões, produzindo os bens e serviços nas quantidades desejadas pelos consumidores. O que
produzir fica resolvido.
Como os bens serão produzidos resulta da concorrência entre as empresas. A concorrência
induzirá as empresas a uma combinação de fatores da produção que minimize seus custos, com
a tecnologia que lhes proporciona o máximo de lucro. O problema para quem produzir fica
automaticamente resolvido no mercado onde os fatores são vendidos: aqueles que venderem
terra, trabalho, capital e tecnologia serão os beneficiários da produção. Esses vendedores terão
seus desejos satisfeitos.
No equilíbrio, em todos os mercados as quantidades oferecidas pelas empresas serão
precisamente aquelas demandadas pelos consumidores. Os preços de equilíbrio são aqueles em
que coincidem os planos das famílias e aqueles dos empresários. A curva de demanda mostra a
relação entre quantidades e preços que os consumidores estão dispostos e podem pagar. Quanto
maior o preço menor a quantidade que os consumidores estarão dispostos a comprar. A curva de
oferta mostra a relação entre quantidades oferecidas e seus preços. Para os empresários, as
maiores quantidades implicam em maiores os custos de produção e, por consequência, maiores
terão que ser os preços.
Gráfico 1.1: O equilíbrio de mercado

Se o preço estiver acima de p*, a quantidade que os empresários gostariam de oferecer excederá
aquela que os consumidores desejam adquirir. O excesso de oferta – estoques de bens –
pressionará os preços para baixo em virtude da concorrência entre os empresários.
Na situação oposta, o preço menor do que aquele de equilíbrio, os consumidores desejarão
comprar uma quantidade maior do que aquela oferecida pelos empresários. Nesse caso, o
excesso de demanda levará a aumentos de preços, em virtude da “concorrência” entre os
consumidores para obter a (menor) quantidade oferecida.
5. O funcionamento do sistema econômico
Na visão tradicional de economia, o sistema de economia de mercado funciona de maneira
harmoniosa, como um circuito contínuo que conecta empresas e famílias a um fluxo circular de
dinheiro. As empresas fazem pagamentos às famílias quando compram os fatores de produção
de que necessitam para produzir, sob a forma de salários, aluguéis, renda da terra, juros e lucros.
A famílias que recebem esses pagamentos se tornam os compradores dos bens e serviços
produzidos pelas empresas.

6. Conclusão geral
Essa é uma descrição típica do funcionamento de sistemas fechados, ou seja, uma descrição do
funcionamento de estruturas que não trocam matéria-energia com os sistemas que lhes são
externos.
A economia é um sistema fechado? Não! O processo econômico é sempre uma troca de matéria
e energia por resíduos. Na realidade, a utilização de matéria e energia DISPONÍVEL em matéria
e energia INDISPONÍVEL. Como veremos adiante, é uma troca de matéria-energia de baixa
entropia em resíduos de elevada entropia.
Em nenhum momento dessa descrição da visão tradicional de economia foram considerados os
aspectos físicos da produção. Em nenhum momento as funções da biosfera foram mencionadas.
A economia funciona independentemente dos ecossistemas existentes na biosfera que envolve o
Planeta? Não! Sem a biosfera as atividades não poderiam existir.
Noções Básicas de Ecologia
1. O objeto e o método da Ecologia
Pode-se definir a Ecologia como a ciência (ramo da Biologia) que estuda os seres vivos e suas
interações com o meio ambiente onde vivem. A palavra é a junção do grego "oikos" – que
significa casa – e "logos" – que significa estudo. De modo geral, é o estudo do lugar onde de vive.
O cientista alemão Ernst Haeckel utilizou o termo, pela primeira vez, em 1866 para designar o
estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem.
O objeto de estudo situa-se nos ecossistemas, entendidos como subconjuntos do mundo da
Natureza que têm determinada unidade funcional, como um lago, um bosque, um campo, um
estuário, a foz (estuário) etc.
Níveis de estudo
No estudo dos ecossistemas, a Ecologia considera as seguintes questões:
🡺 Diversidade
🡺 Abundância ou escassez das espécies
🡺 Regulação de suas populações

a) Ecossistema
O conjunto de estruturas que interagem e que ligam os seres vivos entre si e ao ambiente
inorgânico onde vivem as comunidades. Designa o conjunto formado por todas as comunidades
bióticas que vivem e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que atuam sobre
essas comunidades.
Consideram-se como fatores bióticos os efeitos da interação das diversas populações de animais,
plantas e bactérias e os abióticos os fatores externos como a água, o sol, o solo, o gelo, o vento.
Em determinado local, seja uma vegetação de cerrado, mata ciliar, caatinga, mata atlântica ou
floresta amazônica, as relações dos organismos entre si e com seu meio ambiente constituem um
ecossistema. É um conjunto de comunidades interagindo entre si e intervindo sobre os fatores
abióticos e destes sofrendo influência.
b) Biosfera ou ambiente natural
Congrega a água, solo, atmosfera, flora, fauna e a energia solar. Sua dinâmica depende do fluxo
contínuo de energia e reciclagem da matéria.

As três funções da Biosfera e as Tipos de recursos


atividades econômicas
1) Recursos Renováveis (RR)
1) proporcionar recursos para a atividades
econômicas 2) Recursos não Renováveis (RnR)

2) assimilar resíduos 3) Recursos Inesgotáveis (RI)

3) fornecer serviços ambientais


🡺 RR podem se regenerar, mas dependendo da taxa de utilização, tornarem-se esgotados:
consumo mais rápido do que a capacidade de regeneração ou por alterações profundas dos
ecossistemas.
🡺 RnR são aqueles que não podem se regenerar na escala de tempo humana, mediante
processos naturais. Exemplos: carvão, petróleo, minérios etc.
🡺 RI correspondem a fontes de energia cuja disponibilidade não é afetada pelas atividades
humanas. Exemplos: radiação solar e energia eólica.
Serviços ambientais:
🡺 São os processos naturais de que depende o funcionamento da Biosfera. Esses processos dão
suporte de vida de todas as espécies. Exemplos: biodiversidade, estabilização dos ecossistemas,
regulação do clima.
🡺Também são os atrativos que o ambiente oferece para consumo direto da espécie humana
(serem apreciados e usufruídos pelo homem). Exemplos: espaço para recreação, paisagem, vida
selvagem, belezas naturais.

>2. Uma nova dimensão para o processo econômico


Agora podemos ter uma visão ampliada do processo econômico, incluindo a dimensão ecológica
ou as funções ecossistêmicas. A descrição do processo de produção considera agora:
🡺 As dotações ou disponibilidade de recursos naturais
🡺 A absorção de resíduos

São considerados os estoques de capital e fluxos de serviços de cada fonte, os quais compõem
os insumos (entradas ou input). Na outra ponta estão as saídas (output) sob a forma de fluxos de
bens e serviços (produção econômica), de resíduos (que resultam do processo produtivo e do
consumo) e de externalidades. Uma parte das saídas poderá reverter (reciclagem) ao processo
produtivo e outra depositada na Natureza.

Observação: Por amortização entenda-se a perda do valor econômico dos ativos (máquinas,
equipamentos, prédios, instalações físicas etc.) de uma empresa durante sua vida útil.
Corresponde ao desgaste físico decorrente do uso desses ativos e que precisam ser substituídos.
Também se usa o termo “depreciação”.
a) O capital e os fluxos de entrada (input)
O capital natural proporciona um fluxo de matéria e energia necessário ao processo econômico e
assimila os resíduos provenientes da produção (consumo das empresas) e do consumo das
famílias.
O capital humano proporciona um fluxo de serviços de trabalho. Compreende o conhecimento, a
saúde, as competências dos indivíduos e as organizações que cooperam para que esse estoque
se amplie.
O capital industrial proporciona um fluxo de bens materiais sob a forma de máquinas,
equipamentos, edifícios, infraestrutura (rodovias, ferrovias, metrôs, viadutos, pontes etc.)
b) O output do processo produtivo (fluxos e saídas)
Saídas positivas: bens intermediários, bens de consumo e bens de investimento ou de capital.
Saídas negativas: depreciação de bens de capital (sucata de máquinas e equipamentos) e
externalidades negativas (fluxos que afetam a saúde humana e degradam o ambiente). Essas
externalidades afetam negativamente os estoques de capital natural, de capital humano e até
mesmo do capital industrial. Os resíduos decorrentes do consumo e do investimento
(obsolescência tecnológica) também são considerados saídas negativas.
Essa representação mais ampla do processo econômico considera apenas as funções de
fornecedor e de assimilador de resíduos dos ecossistemas. As funções de suporte à vida ou dos
processos naturais que mantêm o funcionamento da biosfera não foram consideradas. É preciso
considerar a importância desses serviços ambientais para o processo econômico.
3. Impactos das atividades econômicas sobre as funções da biosfera
🡺Atividade econômica e impacto ambiental
Qualquer processo econômico de produção necessita da Natureza como fornecedora de insumos
– energia e matéria – e como depósito de seus resíduos. A atividade econômica depende por
completo das funções ambientais, mas ao mesmo tempo causa danos a estas funções.
🡺Alguns fatores determinantes de impactos
Toda atividade econômica necessita de insumos (matéria e energia) existentes na Natureza, bem
como do ambiente natural como receptor de seus resíduos. A atividade econômica depende por
completo das funções dos ecossistemas, mas, ao mesmo tempo, causa danos a estas funções.

Dentre os fatores importantes que causam impactos ambientais estão os seguintes:


● Tamanho da economia, da população, do nível de renda per capita;
● Estrutura produtiva da economia em termos de uso intensivo de recursos naturais e do grau
de contaminação industrial;
● Desenvolvimento científico-tecnológico;
● Eficiência da economia (quantidade de insumos por unidade de produto)
● Contexto social e institucional em que funciona a economia.
🡺Danos às funções da biosfera
As funções da biosfera sofrem danos quando ocorre as seguintes situações:
a) Esgotamento de recursos naturais
b) Contaminações
c) Comprometimento de serviços ambientais

a) Esgotamento de recursos
🡺 O esgotamento dos Recursos não Renováveis-RnR depende:
● Das reservas (que podem não ser conhecidas)
● Taxa de consumo
● Existência de recursos substitutos
● Possibilidades de reciclagem
● Eficiência no uso do recurso
🡺Esgotamento de recursos renováveis-RR depende de:
Exploração intensiva do recurso a taxas superiores a capacidade de regeneração: atividade
pesqueira intensiva, camada fértil do solo (monocultura), desmatamento (venda de madeira) água
para empreendimentos altamente consumidores (termoelétrica, siderúrgica) etc. A atividade
econômica pode causar impactos irreversíveis sobre os ecossistemas de tal modo que impede
sua renovação. Nessa circunstância, a exploração estaria ultrapassando a capacidade de
regeneração natural dos ecossistemas.

b) Contaminação
A contaminação gerada pelas atividades econômicas se dá sob a forma de resíduos sólidos e
líquidos, tais como, chumbo, enxofre, CO2 na atmosfera, nitratos, alumínio na água, resíduos
nucleares e pesticidas etc. Caso os ecossistemas não possam absorver o volume ou o tipo de
contaminação, sofrerão danos irreversíveis. Em tais casos, a concentração de resíduos
contaminantes comprometerá o habitat dos organismos vivos. A contaminação se inicia quando
os níveis de concentração atingem o nível da capacidade de suporte dos ecossistemas e
ocasiona efeitos nocivos às espécies vivas.

c) Danos aos serviços ambientais


Os danos aos serviços ambientais ocorrem quando:
🡪Os processos naturais que mantêm o funcionamento da biosfera são destruídos ou debilitados.
Isso se expressa como perda de biodiversidade, mudanças climáticas, destruição da camada de
ozônio dentre outros efeitos.
🡪Afetam os atrativos que o ambiente nos oferece para consumo direto, como a perda da
paisagem, da vida selvagem etc.
A biosfera somente se mantém em função da complexa interação dos organismos vivos. À
medida que as atividades econômicas destroem habitats, os ecossistemas se tornam instáveis, o
que compromete as possibilidades de sua recuperação.
4. A interação dos diversos danos
Há uma complexa interação entre as três funções da biosfera de tal modo que danos causados a
uma delas podem afetar as demais. A contaminação pode causar danos aos organismos vivos,
destruindo estoques de recursos naturais, desequilibrando os ecossistemas e degradando os
serviços ambientais. As interações são inúmeras.
Antropologia
A antropologia é uma ciência social surgida no século XVIII. Porém, foi somente no século
XIX que se organizou como disciplina científica. A palavra tem o seguinte significado:
antropo=homem e lógica=estudo.
ESTUDO ANTROPOLÓGICO
Esta ciência estuda, principalmente, os costumes, crenças, hábitos e aspectos físicos dos
diferentes povos que habitaram e habitam o planeta.
Portanto, os antropólogos estudam a diversidade cultural dos povos. Como cultura,
podemos entender todo tipo de manifestação social. Modos, hábitos, comportamentos, folclore,
rituais, crenças, mitos e outros aspectos são fontes de pesquisa para os antropólogos.
A estrutura física e a evolução da espécie humana também fazem parte dos temas
analisados pela antropologia.
Os antropólogos utilizam, como fontes de pesquisa, os livros, imagens, objetos,
depoimentos entre outras. Porém, as observações, através da vivência entre os povos ou
comunidades estudadas, são comuns e fornecem muitas informações úteis ao antropólogo.
PARA COMPREENDER A ANTROPOLOGIA - Autora: Milena Marcintha Alves Braz
A CONCEPÇÃO ANTROPOLÓGICA
A antropologia surge da tentativa de explicar as diferenças entre os “outros”, habitantes
das colônias e os europeus, os “exploradores de além mar”. É bem antigo o “espanto” dos
homens em relação à diferença de costumes, comportamentos, modo de produção e crenças.
Assim, desde seu surgimento a ciência antropológica se ocupa em explicar as diferenças entre
homens. No decorrer do processo de consolidação enquanto ciência, a antropologia
desenvolveu inicialmente uma visão etnocêntrica dos “outros” tomando o europeu como o
modelo mais evoluído de homem e os outros como seres primitivos. Aos poucos o olhar
antropológico foi se tornando mais sensível e reparando mais nos costumes dos “outros”, isto
levou os antropólogos ao relativismo, ou seja, considerar que por mais exótico que fossem os
costumes dos outros, têm uma coerência e importância para a organização destes em grupos
sociais.
Assim relativizando, compreendeu-se que todo ponto de vista, visão de mundo só é válido
se associado ao contexto onde surgiu, e o pensamento antropológico nos alerta que temos uma
tendência para considerar o que é nosso como verdadeiro e o que é do outro como digno de
reprovação. “Quem observa o faz de um certo ponto de vista, o que não situa o observador em
erro. O erro na verdade não é ter um certo ponto de vista, mas absolutizá-lo e desconhecer que,
mesmo do acerto de seu ponto de vista é possível que a razão ética nem sempre esteja com ele”
(FREIRE,1996:14). Desta forma, nem sempre o que parece correto para nosso grupo é correto
para outros grupos e vice-versa.
A antropologia nos ajuda a pensar as diferenças e a aceitá-las, sugerindo um olhar de
alteridade em relação ao outro. E ao conhecer esse outro, esta ciência também nos possibilitou
um referencial metodológico que coincide com uma aproximação do objeto/sujeito no seu local de
origem.
Ou seja, o pesquisador se desloca e vai ao encontro dos sujeitos sociais em seus locais de
moradia (ou outros locais que o sujeito interage) para melhor compreender o contexto que estes
estão inseridos. A observação no local da pesquisa é também associada a uma interação com os
sujeitos através de conversas informais, esperando o estabelecimento da empatia, o que facilita
o processo e se chega à concessão de entrevistas.
A proposta, teórica metodológica da antropologia, auxilia no entendimento do cotidiano
(em casa, no trabalho ou na escola) e da diversidade cultural aí existente, de acordo com os
locais de origem de cada indivíduo. Nos alerta para pensarmos na pluralidade de compreensões
do mundo (às vezes díspares) em relação a uma mesma realidade. Pois, os costumes, a
condição socioeconômica, os valores, as crenças, elementos intrínsecos a cada família e as
várias comunidades são responsáveis na construção das diversas possibilidades de percepção
do mundo.
Atualmente, um discurso presente na escola é o combate a qualquer forma de
discriminação, o que ocasionou, dentre outras ações, a inclusão da disciplina de história da
África no ensino fundamental3. A proposta é romper com aquela educação “racista” incentivada
até pouco tempo. Normalmente ouvíamos dos professores e líamos nos livros as seguintes
afirmações: “os negros eram”, “os índios eram”, sempre no verbo passado. Assim, crescemos
acreditando que estes seres não mais existiam e esta visão equivocada ajudou sobremaneira
nosso pensamento discriminatório em relação aos diferentes. Àqueles sobre os quais nos falava
a história – “não mais existiam”.
Este é um dos exemplos que nos trás a reflexão sobre a importância do pensar sobre a
diferença é a melhor forma de conviver com ela, desta forma, lançar um olhar antropológico
consiste em considerar o contexto social e cultural em que todos os atores sociais estão
inseridos.
O QUE É ANTROPOLOGIA
A antropologia não é apenas o estudo de tudo que compõe
uma sociedade. Ela é o estudo de todas as sociedades humanas (a
nossa inclusive), ou seja, das culturas da humanidade como um todo
em suas diversidades históricas e geográficas (LAPLANTINE,
2000:20).
É uma necessidade intrínseca do homem, desde seus primórdios, a compreensão e
explicação sobre si e sobre a sociedade em que vive. O homem no seu estado de “primitivismo”
já apresentava o desejo de descobrir formas de conviver com aspectos adversos da natureza e
dos predadores e foi ao longo dos tempos “evoluindo” no sentido de encontrar estratégias para
defender a si e ao grupo. Se lançarmos um olhar perscrutador na história humana, encontraremos
a confirmação desta premissa de que a elaboração de saberes
para a compreensão dos homens remonta tempos longínquos.
Do conhecimento dos homens acerca de seu grupo e de técnicas para resguardá-lo, a
história da humanidade avança para a necessidade do conhecimento do “outro”, aquele
habitante de além mar, que foi “descoberto” a partir das grandes navegações favorecidas, dentre
outros fatos, pelo Renascimento. A exploração de territórios habitados por povos
diversos, deflagrou a necessidade de um entendimento acerca dessas sociedades que diferiam
sobremaneira da sociedade responsável pelas navegações – a européia.
Apresenta-se aí, uma curiosidade dos europeus que se interrogaram: quem são estes tão
diferentes de “nós”, mas que vivem na mesma época? O espanto foi inevitável, pois a Europa:
católica, industrial, “vestida” se defrontou com seres que divergiam sobremaneira dos costumes
dos europeus. Para explicar estas diferenças surge a necessidade do conhecimento
antropológico que se propõe a explicar as diferenças entre os povos. Este conhecimento é
revelado no século XIV, portanto só se afirmando dois séculos depois como uma ciência
esclarecedora da ideia da "alteridade”.
O encontro da Europa com os “outros” povos da Ásia, África e América revelou a
inabilidade do homem em lidar com as diferenças. Os europeus mais desenvolvidos em relação
ao conhecimento racional proporcionado pela ciência e pelas técnicas industriais, admitiram os
“outros” como primitivos e selvagens, revelando aí a visão etnocêntrica dos europeus. Destarte,
em nome da suposta “civilidade” e superioridade dos europeus, estes dominaram as colônias,
subjugando os “selvagens” às suas compreensões religiosas, econômicas, sociais e culturais.
Do encontro da Europa com os “outros” no século XVI, começou a se delinear um esboço
sobre as formas de se pensar as diferenças. Mas, somente no século XVIII inicia-se a
sistematização do conhecimento antropológico, sendo esse saber desvinculado das ciências
naturais, e centrado no estudo do homem, especificamente.
Assim, a diferença que nos séculos XV e XVI era vista como “primitivismo” das sociedades
não européias, nos séculos seguintes encontra uma nova explicação. De acordo com o
evolucionismo as diferenças foram explicadas como um processo natural da humanidade, onde
todos os povos evoluíram de sua condição de primitivo a de civilizado.
O evolucionismo biológico passa a ser o novo modelo explicativo das diferenças entre “eu”
e os “outros”; permanecendo a compreensão de que a sociedade européia estava num estágio
de evolução superior às outras sociedades. A partir desse modelo explicativo, quem não tivesse
padrões civilizados europeus estariam na categoria de inferiores.
Nesta mesma linha de pensamento em meados do século XIX, uma nova geração de
antropólogos (Frazer, Morgan, Tylor) afirma que todas as sociedades humanas provinham de uma
origem remota e caminhavam para a “civilização”. Estes senhores dispensavam o trabalho de
campo e a relativização, pois acreditavam que tinham conhecimentos suficientes sobre as outras
sociedades, já que a cultura deles era a melhor.
Costa (1997) afirma que a antropologia neste momento serviu para fins além dos
científicos, pois através da ciência a Europa procurou justificar a dominação e exploração de
suas colônias, transformando os “colonizados” em mão-de-obra barata e consumidores dos seus
produtos. Nesta época, raramente os antropólogos recolhiam seu próprio material, deixavam isso
a cargo de viajantes, missionários ou administradores das colônias.
As concepções etnocêntricas dos antropólogos os convenciam de sua superioridade e os
impediam de realizar pesquisas de campos, foi necessário uma compreensão maior das outras
sociedades para no final do século XIX, estes começarem a refletir sobre a necessidade de uma
observação direta.
Destarte, no século XX há definitivamente a separação entre aqueles que colhem os
dados (missionários, viajantes) daqueles que os analisam (teóricos). Reunindo assim as duas
atividades em uma só pessoa - o antropólogo. Ao sair do seu escritório e vivenciar as
experiências em campo, o estudioso passa a viver com o grupo estudado e falar sua língua.
Essa forma de estudo, apresenta-se mais rica e com melhores condições de interpretação, pois
uma só pessoa vivencia as experiências e as interpreta. Esta nova forma de fazer antropologia é
inaugurada com os antropólogos Franz Boas, Radcliffe Brown e Bronislaw Malinowski que
passaram longas estadias entre as populações estudadas.
AS TEIAS DE RELAÇÕES SOCIAIS: A NECESSIDADE DE (DES)NATURALIZAR O CONSTRUÍDO

A antropologia enquanto uma ciência que lança um olhar para desvendar as teias de
relações entre os homens é ferramenta teórica metodológica dos profissionais que se ocupam
com seres humanos e relações sociais. É mister compreender as relações sociais como teias
elaboradas pelos próprios homens a partir de suas experiências na família, na escola, na
instituição religiosa, etc.
As relações sociais são produzidas na própria experiência humana e não definidas
biologicamente como ocorre com outros animais. O homem dotado de uma inteligência abstrata
é capaz de produzir sua vida inventando sempre formas novas.
Segundo Laplantine (2000), a ciência antropológica é essencial no desvendamento da
relação entre o inato e o adquirido, este saber nos faz desnaturalizar aquilo que tomávamos
como natural - essencialmente biológico.

Aos poucos, notamos que o menor dos nossos


comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não
tem realmente nada de „natural‟. Começamos, então, a nos
surpreender com aquilo que diz respeito a nós mesmos, a nos
espiar. O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa
inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos
especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre
tantas outras, mas não a única (LAPLANTINE, 2000:21-22).

Os nossos comportamentos se apresentam como tão naturais que não paramos para
refletir, por exemplo, que até o sentimento passa por uma construção cultural. Ao compararmos
duas sociedades, poderemos encontrar interpretações díspares para a morte; uma delas traz a
necessidade do festejo e celebração e na outra o desespero e o choro. Ao pensarmos também
no papel do homem e da mulher em nossa sociedade ocidental veremos que suas funções são
bem definidas; a mulher como se fosse dotada de uma habilidade inata para o cuidado da casa e
das crianças e despreparada para o trânsito ou para o futebol, e o homem como tendo habilidade
inquestionável para estas duas habilidades. Por estas determinações já estarem prontas quando
o indivíduo nasce; elas são naturalizadas na vida social, fazendo com que algumas pessoas não
suspeitem que se trate de habilidades construídas, e não inatas.
Mas para lançarmos um olhar de refutação sobre esta premissa, basta lembrarmos quais
os brinquedos dados pelos pais às crianças nos primeiros anos de vida. Para a menina não pode
faltar casinhas e bonecas e para os meninos bolas e carrinhos. Daí a prova de que estas
habilidades não são inatas, mas sim ensinadas e reforçadas no convívio social. Claro que hoje
os pais estão relativizando, mas num passado próximo a menina brincar de bola ou o menino de
boneca era considerado uma heresia.

Aquilo que de fato, caracteriza a unidade do homem, de que


a antropologia, como já dissemos e voltaremos a dizer, faz tanta
questão, é sua aptidão praticamente infinita para inventar modos de
vida e formas de organização social extremamente diversos. E, a
meu ver, apenas a nossa disciplina permite notar, com a maior
proximidade possível, que essas formas de comportamento e de
vida em sociedade que tomávamos todos espontaneamente por
inatas (nossas maneiras de andar, dormir, nos encontrar, nos
emocionar, comemorar os eventos de nossa existência) são, na
realidade, o produto de escolhas culturais. (LAPLANTINE,2000:21)

O conhecimento antropológico pode possibilitar um olhar mais sensível em relação ao


outro e a percepção de que os comportamentos divergentes são produtos de experiências de
vidas diferenciadas. E mais que isso, o conhecimento da diversidade cultural nos faz estranhar
nossa visão de mundo e nos questionar se esta visão não está sendo severa demais em relação
aos outros. A antropologia nos faz tentar descobrir o “exótico” em nós mesmos. E este é o
primeiro passo para respeitar o outro.
O respeito é um valor importante quando tratamos com um público plural, nos faz mais
sensíveis para ouvirmos os outros e duvidarmos um pouco de nossas certezas. Neste
movimento de abertura em relação às outras formas de perceber a realidade e de duvidar um
pouco da nossa, abrimos espaço para um diálogo mais compreensivo.
Na sociedade ocorre o encontro de seres singulares e complexos que convivem ao
mesmo tempo, e que têm comportamentos específicos, pois compartilham dos sentidos
formados nos seus espaços de sociabilidade. O ser humano se faz nesta teia de significado que
ele mesmo teceu em parceria com todos os outros seres com que mantêm relação (WEBER
apud GEERTZ, 1989). Considerar estas condições em que são gestadas a cultura e a
sociabilidade humana, juntamente com a humildade de duvidar de certezas construídas e
absolutas é um grande passo para suscitar uma discussão sobre o respeito.
Formação Socioeconômica
Para entender a Formação Socioeconômica são utilizados como principais livros Paul Singer - O
Capitalismo: sua evolução, sua lógica e sua dinâmica e História da Riqueza do Homem - Leo
Huberman, assim, disponibilizamos anotações do feitas pelo Professor Júlio Ramon que é o
professor fixo da cadeira no curso de Economia Ecológica.

Formação Socioeconômica Geral


Feudalismo (XI a XIV)
A organização social e econômica típica da idade média européia, caracterizada pelo
sistema de grandes propriedades territoriais isoladas (feudos) pertencentes à nobreza e ao clero
e trabalhadas pelos servos da gleba (porção da terra doada do suserano a seu vassalo para que
a cultive). O sistema era organizado segundo uma intensa e intrincada hierarquia de feudos. [...] .
Essa estrutura de relações de vassalagem tornava o poder muito descentralizado(Sandroni, p.
237
As relações medievais eram baseadas nos costumes e tradições, inexistindo uma
autoridade central forte em condições de impor um sistema de leis. Na verdade, a organização
medieval baseava-se num sistema de obrigações e serviços mútuos.
Nos primórdios do Feudalismo, a vida econômica decorria sem muita utilização de capital.
A economia era basicamente de consumo, em que cada feudo era praticamente autossuficiente.
O baixo nível de comércio não estimulava uma produção em larga escala. Ou seja, não há
incentivo à produção de excedente (Huberman, 1986.
O Feudalismo tem sido associado a um baixo nível da técnica, com a utilização de
instrumentos simples e baratos. Já a forma de produzir apresenta um caráter individual; a divisão
do trabalho revela-se em nível bem primitivo de desenvolvimento.
Nas regiões antigamente povoadas e superpovoadas, a revolução agrícola encontrava
dificuldades. Grande parte dos camponeses, submetidos às corveias, era pobre para adquirir
novos equipamentos. Ademais, os senhores feudais aproveitavam a numerosa e dócil massa de
trabalhadores para cultivar gratuitamente suas terras.

● Porém, alguns fatores determinaram a revolução agrícola nas regiões superpovoadas


(Mazoyer & Roudar, 2010, p.330-332):
1) A concorrência com novos territórios; com o crescimento dos desmatamentos nas novas
zonas agrícolas, as remessas de grãos, animais e outras mercadorias provenientes das novas
zonas agrícolas cresceram, simultaneamente a ampliação da emigração da população. A dupla
concorrência no mercado de produto e no nascente mercado de trabalho força os antigos
territórios a utilizar métodos de cultivo com tração pesada e condições sociais vigentes nas
novas terras (trabalho assalariado, camponeses livres).

2) A transformação nas relações sociais; o aumento da produção e da produtividade decorrentes


das novas técnicas permitiu uma expansão do excedente comercializável e da renda das
propriedades – com a expansão agrícola, houve um aumento dos tributos cobrados pelos
senhores aos camponeses (taxas de pastagem e de corte de madeira; taxa para utilizar o
moinho, o forno ou a prensa construídos pelo senhor feudal). A revolução agrícola na idade
média permitiu o aparecimento de uma nova sociedade rural composta por novos atores: ricos
lavradores, camponeses pobres, arrendatários ou meeiros, trabalhadores agrícolas sem terra,
empreendedores agrícolas de origem burguesa e senhorial, artesãos, comerciantes e senhores
laicos ou eclesiásticos que monopolizavam as indústrias de montante (minas e siderurgia) e as
indústrias de jusante (moinhos prensas e fornos).

Crise do Feudalismo
O declínio do Feudalismo está associado a conjugação do desenvolvimento das
atividades comerciais e artesanais nas cidades com a ampliação do poder monárquico, que aos
poucos foi abolindo o particularismo feudal e estendendo as fronteiras para o'comércio (Sandroni,
p.237).
O desenvolvimento do comércio trouxe consigo a reforma da antiga economia natural, na
qual a vida econômica se processava praticamente sem a utilização do dinheiro. [...]. A
intensificação do comércio reage na extensão das transações financeiras. Depois do século XII a
economia de ausência de mercados se modificou para uma economia de muitos mercados; e
com o crescimento do comércio a economia natural do feudo autossuficiente se transformou em
economia de dinheiro, num mundo de comércio em expansão (Huberman, 1986, p.25)
O estabelecimento da ordem capitalista ocorre em meio ao empobrecimento da nobreza
europeia, devido aos gastos com as cruzadas e à fuga dos camponeses para as cidades
(burgos).
Nesse contexto, uma burguesia mercantil crescerá em riqueza e influência. Seu
aparecimento exerce pouco efeito direto sobre o modo de produção, e seus lucros vinham da
extração de vantagens de diferenças de preço no espaço e no tempo, devidas à imobilidade
prevalecente de produtores e seus modestos recursos –
Diferenças essas que buscava manter e mesmo ampliar graças a seus privilégios monopolistas
(Dobb, p. 29).
● De acordo com Marx, o Capital Mercantil é a forma histórica de capital bem antes do
capital ter submetido a produção ao seu controle ... O capital se desenvolve na base de
um modo de produção independente e exterior a ele (Capital, vol. III, 384)
Fatores que possibilitaram a afirmação do capitalismo na economia europeia, em especial o de
natureza mercantil (Borges, P.4):
1) As novas tecnologias no campo viabilizaram a concentração de agentes produtores nas
cidades, que podiam produzir excedentes manufaturados para exportar, com atrativos retornos
para os recentes capitalistas.
2) As Cruzadas que, embora não tenham alcançado seu objetivo de recuperar as Terras Santas,
foram cruciais no renascimento comercial e urbano europeu.
3) O conjunto de feiras que aconteciam ao longo do ano, núcleo das primeiras cidades
modernas.

Portanto, o desenvolvimento das atividades primária e secundária da economia, criando


um novo setor agrícola mais amplo e impulsionado a manufatura, tornou-se
condição sine qua non da expansão ultramarina e da colonização do novo mundo – surgimentos
das classes sociais modernas, com força política baseada nas atividades econômicas e
financeiras mercantis – Constituição das grandes companhias de comércio (monopólios ligados
ao aparelho de Estado).
A prolongada crise social e econômica na Europa ao longo dos séculos XIV e XV sinalizou
os obstáculos e os limites da ordem feudal no período final da classe média. Como decorrência,
para gerir esse cenário de contradições, nasce o Estado Absolutista que simboliza a ruptura
decisiva com soberania piramidal e parcelarização das formações sociais medievais, com seus
sistemas de propriedade e vassalagem. As monarquias representam o produto de um equilíbrio
de classe entre a velha nobreza feudal e a nova burguesia urbana (Anderson, p.17).
Do ponto de vista do modelo agrícola, observa-se que a continuidade da expansão
demográfica acarreta um incremento, além das proporções ideais, da superfície das espécies
das quais essa população se alimenta (os cereais). Como decorrência, houve uma redução da
fertilidade do solo e da produção do ecossistema em questão –
aumento dos preços, tornando alguns produtos derivados inacessíveis aos pequenos
camponeses e pobres das cidades.
● As principais consequências do descompasso entre produção agrícola e demanda
(Mazoyer & Roudar, 2010, p.345-346):
1) Terras livres cada vez mais escassas e mão de obra abundante – aumento dos encargos
fundiários exigido pelos senhores – endividamentos das classes mais modestas do campo
(camponeses livres, servos) junto aos senhores ou aos comerciantes – vender a possessão e se
submeter a servidão por conta da dívida, ou fugir para escapar dela.
2) Com o recuo da produção por habitante, a partilha dos frutos do trabalho tornava-se cada vez
mais difícil e conflitante. Nas cidades, o conflito entre ricos e pobres manifesta-se por meio das
reivindicações salariais e contra os impostos e das rebeliões contra os especuladores. No
campo, o crescimento da miséria engendrou um aumento das exações e das pilhagens – diante
da impossibilidade dos poderes locais de combater os conflitos, constata-se uma reorganização
política com a concentração do poder em alguns grandes senhores, duques, príncipes ou reis.

A construção do sistema mundo moderno colonial de uma perspectiva ambiental.


Em uma tentativa de periodização, Porto-Gonçalves (2013) sugere quatro etapas do
processo de globalização, tomando como referência, em cada uma delas, como se dá
aglobalização da natureza. São elas (p.23):
1) O Colonialismo e a Implantação da Moderno-colonialidade (do século XV-XVI ao século XVIII);
2) O Capitalismo Fossilista e o Imperialismo (do século XVIII ao início do século XX Até hoje)
3) O Capitalismo do Estado Fossilista Fordista (de 1930 aos anos 1960-70);
4) A Globalização Neoliberal ou Período Técnico-científico-informacional (dos anos 1960 até
hoje).

O colonialismo e a implantação da moderno-colonialidade (do século XV-XVI ao século XVIII)


Nesse período, todas as grandes cidades da Inglaterra, França, Espanha e Países Baixos
já tinham se transformado em prósperas economias capitalistas, dominadas pelos mercadores
capitalistas, que controlavam não só o comércio, mas também grande parte da indústria. Nos
modernos Estados-nação, coalizões de monarcas e capitalistas tinham retirado o poder efetivo
da nobreza feudal de muitas áreas importantes, principalmente nas relacionadas à produção e ao
comércio.
● Essa época do início do capitalismo é conhecida como mercantilismo (Hunt e
Lautzenheiser, 2011, p.53).
1)Controle da indústria por parte dos mercadores ocorre em função da necessidade dos
mercadores assumirem o controle crescente sobre o processo de produção. Esse fato acarreta a
substituição da indústria do tipo artesanal, onde o artesão era proprietário tanto da oficina como
dos instrumentos de trabalho e das matérias primas, para um sistema manufatureiro doméstico
(putting-out system) nos ramos industriais voltados para a exportação. Esse novo sistema
consiste em duas etapas (Hunt e Shermann, 1977):
1) o mercador limitava-se a fornecer ao artesão independente a matéria-prima, remunerando-o
para que a transformasse em produtos finais. Nessa etapa, os mercadores eram os proprietários
do produto, porém o trabalho permanece sendo realizado em oficinas independentes;
2) o mercador capitalista passa a ter o controle dos meios de produção (máquinas e instrumentos
de trabalho) e, na maioria das vezes, do prédio onde a produção se realizava.
Concomitantemente ao controle capitalista sobre o processo de produção, criava-se uma força
de trabalho total ou parcialmente despojada do capital.
A afirmação do capitalismo ocorre quando o mercado e a busca de lucros monetários
passaram a determinar como seriam divididas e executadas as atividades produtivas bem como
as oportunidades de trabalho proporcionadas (Hunt e Shermann, 1977, p. 28).
Portanto, a consolidação do capitalismo como sistema dominante ocorreu quando as
relações entre capitalistas e trabalhadores nas indústrias de exportação do século XVI invadiram
as demais linhas de produção. Nesse novo contexto, o sistema capitalista atinge, com base na
transformação técnica, seu próprio processo específico de produção (Dobb, 1987).
Expansão do Capitalismo – Declínio do Feudalismo (Fatores Determinantes)
1) relações capitalistas no feudo em função do crescimento das cidades – fonte de
matérias-primas e alimentos para as indústrias de exportação – especialização rural urbana com
intensa troca de mercadorias entre os feudos e as cidades.
2) A introdução de relações capitalistas no campo permitiu aos camponeses trocar o excedente
agrícola produzido nos feudos por dinheiro nos mercados locais de grãos. Esse processo
permitiu que os camponeses obtivessem do senhor a comutação* de suas obrigações no
trabalho.
* A comutação implicava a substituição das prestações de trabalho exigidas do servo por rendas
em dinheiro.
3) A generalização do processo de comutação por obrigações levou à crescente alienação das
terras senhoriais. Com a necessidade de dinheiro para a aquisição de manufaturas, os senhores
feudais optaram pelo arrendamento de suas terras a camponeses arrendatários.
4) O sistema capitalista emergente foi igualmente beneficiado pelo regime de enclosure
(cercamento dos campos) que consistiu no fechamento das terras utilizadas até então como
pastagens comunais - criação de ovelhas visando atender a procura de lã da crescente indústria
têxtil inglesa – os preços elevados e a baixa utilização de mão de-obra estimulava a produção.
Os pilares da acumulação primitiva:
1. a expansão comercial;
2. a política de cercamento (enclosure);
3. a produção de manufaturas;
4. a grande inflação de preços;
5. a pilhagem colonial e;
6. o tráfico de escravos.

O colonialismo e a implantação da moderno-colonialidade (do século XV-XVI ao século XVIII)


A economia política do mercantilismo traduz os anseios da classe da burguesia mercantil,
que ainda não chegara ao poder. Esse grupo foi constituído nos marcos do capitalismo
emergente e o Estado absolutista* traz a sua marca (Borges, p.5). * produto de um equilíbrio de
classe entre a velha nobreza feudal e a nova burguesia urbana. O resultado da busca do
equilíbrio do poder, no momento em que nenhum dos vetores em ação tem condições de exercer
sua hegemonia.
Plataforma política da burguesia mercantil: Acumulação de metais preciosos, balança
comercial e balança de pagamentos superavitários, protecionismo, Pacto Colonial – projeto de
afirmação da força econômica emergente, nesse momento histórico circunscrito às tarefas de
acumulação primitiva.
A criação de monopólios comerciais foi crucial para a geração de excedentes na balança
comercial – A existência de um único mercador na venda internacional de mercadorias força a
elevação de preços. De forma análoga, a compra de mercadorias estrangeiras por um único
mercador engendra uma queda de preços.
Saldo na balança comercial incentivado – regulamentação existente foi ao encontro do
fortalecimento da política econômica - pacto colonial* com as colônias visando eliminar a
concorrência externa. Dessa forma, as colônias forneciam matérias-primas baratas para a
metrópole e compravam dela produtos manufaturados a preços elevados. * Relação comercial
entre a colônia e sua metrópole, durante a colonização da América do Sul. Este pacto garantia a
exclusividade dos colonizadores sobre todas as riquezas encontradas ou produzidas nas
colônias.
Na avaliação de Porto Gonçalves, essa primeira fase associa dois processos:
modernização e colonização. A colonização da América foi crucial para a consolidação da
hegemonia europeia no mundo como centro dinâmico do comércio. Isso ao preço da servidão,
etnocídio e, até mesmo, genocídio de povos indígenas e da escravização para fins de produção
mercantil de negros trazidos da África, com a consequente desorganização das sociedades
originárias e a exploração de seus recursos naturais por outro lado (ecocídio) (p.24-25).
● Afirma-se, portanto, um sistema-mundo moderno-colonial cada vez mais interdependente
e organizado com base num sistema de relações hierárquicas de poder. As
consequências desse sistema para a América Latina:
1) Pilhagem do ouro e da prata da América Central e Andina, exaurindo as principais minas da
região;
2) O desenvolvimento de Plantations (cana-de-açúcar, café, algodão, banana, entre tantas) com
base no trabalho escravo engendrou a destruição de boa parte das florestas e o esgotamento
dos melhores solos.
Portugal, ao contrário da Espanha, não logrou encontrar, de saída, metais preciosos em
suas terras. Também não encontrou passagem para as ricas Índias, centro das especiarias.
Portanto, coube ao colonizador criar alternativas adaptadas às especificidades da colônia
(produção extrativa, plantation de cana de açúcar, mineração, café) – integração da colônia na
história metropolitana.
Nas palavras de Galeano (p.22) a Europa necessitava de ouro e prata. Os meios de
pagamentos em circulação se multiplicavam sem cessar e era preciso alimentar os movimentos
do capitalismo na hora do parto: os burgueses se apoderaram das cidades e fundaram bancos,
produziam e trocavam mercadorias, conquistando novos mercados. Ouro, prata, açúcar: a
economia colonial, mais abastecedora do que
consumidora, estruturou-se em função das necessidades do mercado europeu, e a seu
serviço. O valor das exportações latino-americanas de metais preciosos foi, durante prolongados
períodos do século XVI, quatro vezes maior que o valor das importações, compostas por
escravos, sal e artigos de luxo. Os recursos fluíam para que os acumulassem as nações
europeias emergentes do outro lado do mar.
O Brasil inicia sua história como membro do império português, inserida na empresa
mercantil, colonial escravocrata, que marcou a expansão ultramarina no período quinhentista
(afirmação do capitalismo comercial).
A acumulação primitiva, pressuposta na acumulação geral do capitalismo, conhecerá no
solo nacional, um dos momentos de generoso retorno para as cifras comerciais (Brasil como polo
exportador de riqueza para todo o continente europeu)
Primeira fase: o país constitui-se em puro e simples objeto de espoliação, expediente típico da
fase de acumulação primitiva. Nosso país se coloca como parte subordinada de um processo
que tem seu movimento principal na Europa e que constitui a etapa primeira da afirmação do
modo de produção capitalista em seus primórdios (economia coletora, fundada no trabalho dos
índios e na extração do pau brasil
Segunda fase: o país aparece como produtor de bens primários, de baixo valor agregado,
num processo objetivado em movimentos cíclicos assentados, cada um deles, em produtos
qualitativamente distintos. Num período que vai desde a época do exclusivismo metropolitano ate
o início do século XX, o Brasil vai funcionar como alavanca da acumulação do centro”. (...). Os
produtos agrícolas e matérias primas aqui produzidos garantiram o sucesso da acumulação
capitalista nos países centrais e mantinham a natureza heterônoma da economia brasileira”
(Paulani, Leda, p. 90)
Afirmação do capitalismo comercial como marca do sentido da nossa colonização – desde
o início da nossa formação econômica, política, social e cultural nos realizamos como sistema
produtor de mercadorias para exportação. Superada a fase extrativista, passamos a produzir
uma especiaria, o açúcar, para remunerar o capital comercial investido nas plantations – grandes
propriedades rurais monocultoras, baseadas no trabalho escravo, cujo destinado do produto era
o mercado externo (Borges, p.4).
Ecologia
Despertar no estudante a importância da interdisciplinaridade das ciências naturais como subsídio
básico ao manejo e conservação da biodiversidade, a partir da compreensão das inter-relações,
entre o meio biótico e o abiótico, como condicionantes da diversificação, da distribuição e da
abundância dos organismos.

● Ecologia: A palavra ecologia deriva da palavra grega oikos, que significa《casa》[...]. Em


sentido literal, a ecologia é o estudo dos organismos 《em sua casa》.

1. Organismo: É a mais simples unidade em Biologia que tem vida própria no ambiente,
ou seja, fisiologicamente capaz de executar os diversos processos necessários à
manutenção da vida.

2. População: formado por um conjunto de organismos de uma mesma espécie vivendo juntos,
em um mesmo local e ao mesmo tempo, interagindo uns com os outros.

3. Comunidade: consiste em muitas populações de diferentes espécies vivendo juntas e


interagindo umas com as outras.

4. Ecossistema: mais complexo que os anteriores e que consiste em um conjunto de


organismos (organizados em populações e comunidades) interagindo com seus ambientes
físicos e químicos (fatores abióticos).

5. Biosfera: engloba toda a complexidade biológica, física e química, e é por isso considerada a
mais complexa unidade em Ecologia. Este sistema ecológico inclui todos os ecossistemas do
planeta Terra interligados pelas correntes de vento, ciclo da água e movimento de
organismos que geram as trocas de nutrientes e fluxo de energia entre os meios biótico e
abiótico.

● Todos os animais têm de se


alimentar e são potencial alimento
para outros animais.
Observando as duas imagens. O
que você entende por CADEIA
TRÓFICA e TEIA ALIMENTAR:

Como você pode analisar a distribuição de energia dentro de um ecossistema? Lembre-se, a


energia está relacionada à capacidade de realizar trabalho.
Qual Ciclo biogeoquímico você consegue observar na prática?

A figura abaixo mostra os resultados de um experimento onde foram feitas medidas do fluxo de
água e fósforo a jusante de uma bacia hidrográfica que sofreu 80% de desmatamento
experimental. Explique os resultados com base nos efeitos do desmatamento sobre a ciclagem de
nutrientes do ecossistema.

2) Para cada processo indicado abaixo, indique um ciclo biogeoquímico envolvido e os


compartimentos de saída e entrada do fluxo do nutriente em questão.
● Precipitação de carbonatos
● Decomposição
● Intemperismo de rochas com o mineral Apatita
● Desnitrificação
Matemática para Economia Ecológica
Não pretendemos dar uma exposição completa sobre esses assuntos, mas apenas apresentar
alguns fatos e estabelecer notações a respeito de coisas elementares conhecidas. Estas
definições serão utilizadas constantemente na disciplina: é importante verificar que ele consegue
fazer todos os exercícios.
Função e Derivada. É uma noção útil e leva-nos para resultados importantes, assim, é possível
descrever muitos fatos matemáticos como estudo de funções apropriadas.
Derivada da Função logaritmo natural. Derivada da função exponencial natural. Aplicações à
Ecologia:
1) Modelos populacionais para uma espécie: exponencial, logístico e de Gompertz (Para bancos
de pesquisa qualitativa).

2) Modelos para interações populacionais: clássico predador-presa, modelos de competição,


modelos de mutualismo.
Metodologia da Pesquisa
O lugar da ciência no mundo dos valores e da experiência vivida. A pesquisa como modo de
conhecer e de aprender. A produção de conhecimento e as perspectivas teórico-metodológicas.
Teoria da Complexidade. A pesquisa e suas etapas. Métodos, técnicas e instrumentos de
pesquisa. Investigação e exposição dos resultados. A dimensão ética na produção do
conhecimento científico.

Normalização:

A normalização é o processo de desenvolvimento, difusão e aplicação de normas técnicas,


desenvolvidas para a padronização de um produto, serviço, processo ou sistema.

As normas técnicas estabelecem requisitos de qualidade, de desempenho, de segurança,


ambientais, de procedimentos, de formas, de dimensões, de classificações e de terminologias.

ABNT:

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a entidade responsável pela normalização


técnica brasileira. Trata-se de uma entidade privada, sem fins lucrativos e de utilidade pública,
fundada em 1940.

A ABNT é membro fundador da International Organization for Standardization (ISO), da Comissão


Panamericana de Normas Técnicas (COPANT) e da Associação Mercosul de Normalização
(AMN).

Normas mais utilizadas para artigos:

● ABNT NBR 14724 (Trabalhos Acadêmicos)


● ABNT NBR 6027 (Sumário)
● ABNT NBR 6023 (Referências)
● ABNT NBR 10520 (Citações em documentos)
● ABNT NBR 6028 (Resumo)
● ABNT NBR 6024 (Numeração das seções de um
documento)
● ABNT NBR 12225 (Lombada)

O QRCode direciona para baixar o E-book Metodologia do Trabalho Científico: Métodos e


Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico (2° edição - Cleber Cristiano Prodanov e
Ernani Cesar de Freitas, 2013).
Cartografia Social
Princípios e conceitos de cartografia básica:
A cartografia é a área do conhecimento que se preocupa em estudar, analisar e produzir mapas,
cartogramas, plantas e demais tipos de representações gráficas do espaço. Trata-se, portanto, de
um conjunto de técnicas científicas e até artísticas que visa à elaboração de documentos que
representem de forma reduzida uma determinada localidade. Apesar de contar, atualmente, com
avançadas técnicas e modernos equipamentos, essa é uma prática extremamente antiga, pois
existe desde que o homem aprendeu que seria melhor conhecer os lugares desenhando-os em
pedaços de rochas. O mais antigo mapa que se tem notícia tem 4500 anos e provavelmente foi
produzido pelos povos babilônicos. Ele foi produzido em uma placa de argila e representa,
provavelmente, a área do vale do Rio Eufrates.
Com o passar dos tempos, as técnicas cartográficas foram se aprimorando, principalmente
durante o período das grandes navegações, em que os europeus utilizavam mapas para
encontrar novos caminhos marítimos e descobrir novos territórios. Temos aí a constituição da
Cartografia como ciência moderna. A evolução, no entanto, não parou por aí, de forma que as
técnicas cartográficas se tornaram mais aprimoradas, especialmente durante períodos de guerra
e de grandes revoluções científicas. No século XX, uma nova era estabeleceu-se na cartografia
com o uso de fotografias aéreas para auxiliar a produção dos mapas, uma técnica denominada
por aerofotogrametria. Pouco tempo depois, a Terceira Revolução Industrial propiciou o
desenvolvimento de procedimentos ainda mais avançados. Nos dias de hoje, graças aos avanços
realizados no âmbito dos meios informacionais, a produção de mapas conta com complexas
técnicas de elaboração e representação, envolvendo computadores, satélites, softwares e muitos
outros equipamentos.
Mapa ou Carta: principais diferenças
MAPA:
Definição Simples: Representação dos aspectos geográficos-naturais ou artificiais da Terra
destinada a fins culturais, ilustrativos ou científicos.
Definição do Dicionário Cartográfico: (Oliveira, 1980, pág. 233) Mapa 1. Representação gráfica,
em geral uma superfície plana e numa determinada escala, com a representação de acidentes
físicos e culturais da superfície da Terra, ou de um planeta ou satélite. As posições dos acidentes
devem ser precisas, de acordo, geralmente, com um sistema de coordenadas. Serve igualmente
para denominar parte ou toda a superfície da esfera celeste. O mapa, portanto, pode ou não ter
caráter científico especializado e é frequentemente construído em pequena escala, cobrindo um
território mais ou menos extenso.
CARTA:
Definição Simples: Representação precisa da Terra, permitindo a medição de distâncias, direções
e a localização de pontos.
Definição do Dicionário Cartográfico: (Oliveira, 1980, pág. 57): Carta. Representação dos
aspectos naturais e artificiais da Terra, destinada a fins práticos da atividade humana,
principalmente a avaliação precisa das distâncias, direções e a localização geográfica de pontos,
áreas e detalhes; representação plana, geralmente em média ou grande escala, de uma
superfície da Terra, subdividida em folhas, de forma sistemática, obedecendo um plano nacional
ou internacional. Assim, a carta é comumente considerada como uma representação similar ao
mapa, mas de caráter especializado construído com uma finalidade específica e geralmente em
escala média ou grande; De 1:1.000.000 ou maior.
Principais componentes de uma carta.

Acima vê-se uma representação de um mapa onde é imprescindível a presença dos seus
principais elementos citados e descritos abaixo:
Título: Deve expressar de forma resumida a temática na qual será abordado durante a
representação gráfica, indicando o tema ou assunto, bem como informações gerais como
localidade, tempo além de algo relevante para a compreensão do tema.
Informação gráfica: Trata-se da imagem produzida a partir da análise de dados e representação
geográfica de um local a ser estudado.
Legenda: É a especificação do significado atribuído aos símbolos presentes nos mapas. Esses
podem apresentar-se em forma de ícones, cores, áreas, entre outras formas de representação.
Orientação cartográfica: Indica os pontos cardeais que são necessários para que o leitor tenha
uma correta noção da posição relativa da área indicada no mapa. Geralmente, ela apresenta-se
nos mapas com uma seta apontando para o norte (N), mas também pode ser indicada por uma
rosa dos ventos.
Escala: É a proporção matemática entre a área real e a sua respectiva representação
cartográfica. Existem dois tipos de escala, a numérica e a gráfica, ambos presentes no exemplo
do mapa acima.
Projeção cartográfica: Geralmente indicada no mapa pelo seu nome (no exemplo acima é uma
projeção ortográfica), é a forma ou a base cartográfica que o autor do mapa utilizou para
representar uma parte da Terra, que é esférica, em um plano.
Conceito de Cartografia Social:
De acordo com a definição da temática, a cartografia social se trata de uma vertente da ciência
cartográfica que, de maneira crítica e participativa, trabalha com a caracterização espacial de
territórios de interesses socioambiental, econômico e cultural, que estão em disputa e que
possuem vínculos ancestrais e simbólicos. Na cartografia social, a população desenha os mapas
dos espaços e territórios que ocupam, é claro, com a ajuda de profissionais. A primeira iniciativa
no Brasil ocorreu em territórios da Amazônia Legal e a partir daí se estendeu para outras regiões
do país, principalmente para as áreas rurais.
O que é um mapa social?
O mapa social é a representação de populações tradicionais de nossa cultura, como os
ribeirinhos, extrativistas, indígenas, quilombolas e agricultores familiares. Mas o seu papel é muito
mais do que apenas representar graficamente essas populações. O mapa social é usado como
ferramenta para fazer valer os direitos desses grupos frente a empreendimentos como:
● Construção de usinas hidrelétricas;
● Não cumprimento de normas relacionadas à delimitação de terras indígenas;
● Não cumprimento de leis que regulam as delimitações de áreas de preservação ambiental;
● Implantação de projetos de mineração e dentre outros.
O mapa social não tem informações técnicas, eles mostram o cotidiano de uma determinada
comunidade. As representações aparecem em forma de lagos, rios, casas, hospitais, escolas,
áreas de lazer, sistemas de esgoto e tudo que a comunidade julgar importante.

Como são feitos os mapas sociais e seus principais tipos


Recomenda-se iniciar com o mapa de população-natureza, onde se localizam, além dos
referentes ecossistemas, os recursos e as atividades de produção que se traduzem na relação
população-capital. Dessa forma, obtém-se um mapa econômico-ecológico. Num outro mapa se
coloca a infraestrutura produtiva, reprodutiva e de serviços, isto é, estradas, caminhos, pontes,
escolas, igrejas, depósitos de lixo, redes elétricas, parques, praças, etc. Num terceiro mapa
desenham-se as relações sociais e culturais da
população, identificando atores e cenários. Por fim, num quarto mapa se representam os
conflitos, riscos, vulnerabilidades e potencialidades. Na Cartografia Social, a metodologia possui
os fundamentos conceituais da pesquisa-ação participativa baseados no território como elemento
fundamental da metodologia:
● Mapa do passado;
● Mapa do presente;
● Mapa do Futuro; e
● Mapa temático:
Numa outra etapa, devem ser elaborados “mapas temáticos” que nos permitam um melhor
conhecimento do ambiente/entorno, segundo os temas e a disponibilidade de tempo que se vão
trabalhar:
● Mapa administrativo e
infraestrutural;
● Mapa econômico;
● Mapa ecológico;
● Mapa rede de relações; e
● Mapa de conflitos.
Objetivos da produção de mapas
sociais
Dos objetivos presentes nos processos
de mapeamento participativo
realizados no Brasil, pode ser a
seguinte:
● Busca por legitimidade;
● Busca por informações mais precisas;
● Busca pelo fortalecimento da mobilização dos grupos.
O mapeamento bem-sucedido deveria:
● Criar e apoiar iniciativas de maior autonomia das comunidades;
● Contribuir para a expressão e visibilidade dos interesses das comunidades;
● Propiciar a participação de todos os membros das comunidades.
Metodologia usada na CS
As metodologias e práticas de mapeamento coletivo realizadas pelas comunidades são
significativas e conjuntas. Essas metodologias procuram valorizar e respeitar o conhecimento,
modo de ser e viver, cultura e maneiras das populações das comunidades tradicionais, buscando
atender as mais importantes demandas, desde resolução de conflitos, fortificação e identidade
cultural através da cartografia. Na Cartografia Social, a principal metodologia possui os
fundamentos conceituais da pesquisa-ação participativa baseados no território como elemento
fundamental da metodologia. Tem como pilares:
● A pesquisa;
● A participação;
● A sistematização.
Pesquisa-Ação Participativa
Pesquisa-Ação Participativa é um método sistemático e cíclico de levantamento de informações e
planejamento, onde os pesquisadores (grupo e/ou comunidade) entram em campo, observam,
avaliam e refletem, antes de planejar os próximos passos de um projeto. Envolve a participação
direta de todos os atores, num processo dinâmico e empoderador. É necessariamente baseado
na autorreflexão e criação coletiva, no diálogo, escuta ativa e potencialização, num processo que
se modifica continuamente, em espirais de reflexão e ação, onde cada espiral inclui:
● Aclarar e diagnosticar uma situação prática ou um problema prático que se quer melhorar
ou resolver;
● Formular estratégias de ação;
● Desenvolver essas estratégias e avaliar sua eficiência;
● Ampliar a compreensão da nova situação;
● Proceder aos mesmos passos para a nova situação prática.
Dessa forma, a Pesquisa-Ação Participativa surge como uma abordagem útil para melhorar a
maneira como aprendemos e como lidamos com processos em áreas e setores, como social ou
ambiental. Na Pesquisa Participativa em Ação, a abordagem é melhorar uma situação, e a
pesquisa faz parte do processo para desenvolver o conhecimento público que se soma às teorias
de ação que darão origem a processos colaborativos semelhantes.
Características da Pesquisa-Ação Participativa
Na Pesquisa-Ação Participativa, o grupo de pessoas que a realiza está envolvido em todo o
processo de pesquisa. Desde o planejamento dos objetivos até o relatório final ou conclusão do
projeto. Dessa forma, observa-se que as principais características dessa metodologia são:
● Levar em conta os problemas e necessidades pelos quais o grupo de pessoas está
passando, a fim de identificar possíveis meios para uma solução rápida e eficaz do
problema.
● Link de reflexão com ação.
● Promove a comunicação entre todos os participantes
Vantagens da pesquisa-ação participativa
● Incentiva a colaboração através da participação;
● Desenvolve conhecimento;
● Busca a transformação social; e
● Capacita os participantes.
Como fazer uma pesquisa-ação participativa
Essa metodologia usa um processo de ciclo:
● Reflete em grupo como será a pesquisa;
● Planeja as atividades de pesquisa e as etapas a seguir;
● Atua com base nas atividades de pesquisa planejadas; e
● Observa os dados coletados e o processo de pesquisa.
Como se pode inferir, o processo que o pesquisador utiliza para orientar os envolvidos em uma
Pesquisa-Ação Participativa pode ser visto como ciclos de aprendizado que consistem nas fases
de planejamento, ação, observação e reflexão. Portanto, o conceito de “aprender fazendo” é
fundamental para a pesquisa-ação participativa. Esse tipo de pesquisa reconhece que as pessoas
aprendem através da adaptação ativa de seus conhecimentos existentes; em resposta às suas
experiências com outras pessoas e seu ambiente, ou seja, através da aprendizagem social. Uma
abordagem de pesquisa-ação busca reflexão. Através da observação e comunicação no processo
colaborativo, os profissionais realizam continuamente avaliações e julgamentos informais sobre a
melhor maneira de se envolver. A diferença em uma pesquisa focada na ação é que, durante o
processo de pesquisa, você precisará desenvolver e usar uma série de habilidades para obter
uma melhor avaliação e reflexão crítica. Essas habilidades incluem coisas como planejamento
mais detalhado, observação mais consciente, escuta ativa, melhor atenção à avaliação e reflexão
crítica.
Vantagens da CS
● Facilita o uso da informação mediante um impacto visual;
● Permite apresentar a informação de forma gráfica e devolvê-la aos participantes da
pesquisa;
● Permite perceber como se conformam as relações resultantes das mudanças do mundo
atual e analisar suas consequências;
● É de grande utilidade para as partes envolvidas em um conflito, que podem chegar a
converter um problema numa oportunidade e gerar soluções criativas.
Limitações da CS
● Sua complexidade torna muito difícil a interpretação para os participantes que não estão
familiarizados com essa metodologia;
● Os mapas são produtos simbólicos e culturais, razão pela qual o emprego das cartografias
deve estar de acordo com o contexto sociocultural em que é utilizado.
Exemplos de projetos de Cartografia Social no Brasil: Nova cartografia social dos povos e
comunidades tradicionais do Brasil
Os primeiros trabalhos de cartografia social no Brasil foram desenvolvidos em territórios da
Amazônia Legal. Hoje envolve populações tradicionais
extrativistas, ribeirinhos, agricultores familiares e indígenas,
devido aos grandes projetos de usinas hidrelétricas, problemas
relacionados à grilagem de terras e ao não cumprimento das
normatizações referentes às delimitações de terras indígenas e
áreas de preservação/proteção ambiental. A Nova Cartografia
Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil é um
projeto da Associação Pró Reintegração Invernada Paiol de Telha,
constituído de vários fascículos sobre o cotidiano e o mapa social
de várias comunidades espalhadas pelo Brasil, sobretudo com
histórias desses povos. Além disso a Nova Cartografia Social
visa:
● Incentivar povos e comunidades tradicionais da região a produzirem sua auto cartografia;
● Com o material produzido, tem-se não apenas um maior conhecimento sobre o processo
de ocupação dessa região, mas, sobretudo, uma maior ênfase e um novo instrumento para
o fortalecimento dos movimentos sociais que nela existem;
● Regularmente, o projeto publica fascículos onde materializa a manifestação da auto
cartografia dos povos e comunidades com que atua.
Formação do Território Brasileiro
Nesta cadeira você verá: Noções e conceitos fundamentais ao estudo da relação
sociedade-espaço. Território e identidade nacional (povoamento, formação do mercado nacional e
o papel do Estado). Sociedade, capital e Estado. Apropriação territorial no Brasil. Do rural ao
urbano: mundo do trabalho, dinâmica demográfica e migrações. Regionalização e regionalismos.
Políticas públicas e conflitos territoriais no campo e na cidade.

Território é uma porção do espaço geográfico que coincide com a extensão espacial da jurisdição
de um governo. Ele é o receptor físico e o suporte do corpo político organizado sob uma estrutura
de governo. Descreve a arena espacial do sistema político desenvolvido em um Estado nacional
ou uma parte deste que é dotada de certa autonomia. Ele também serve para descrever as
posições no espaço das várias unidades participantes de qualquer sistema de relações
internacionais. Podemos, portanto, considerar o território como uma conexão ideal entre espaço e
política. Uma vez que a distribuição territorial das várias formas de poder político se transformou
profundamente ao longo da história, o território também serve como uma expressão dos
relacionamentos entre tempo e política.

EXTRA
Questões:
Após aprender um pouco sobre Economia Ecológica, disponibilizamos algumas atividades para
vocês exercitarem, refletirem e entenderem um pouco mais sobre as tarefas passadas durante
algumas cadeiras.
A seguir, contém algumas questões repassadas ao longo do curso:

Ecologia:
1) Conceitue PPB e PPL em um ecossistema e descreva exemplos mostrando situações onde a
PPL seja negativa ou positiva.
2) Por que à medida que um ecossistema acumula energia (biomassa) a PPL tende a reduzir?
3) Veja as PPls (g m-2 ano -1) de alguns ecossistemas e responda as perguntas abaixo.
Floresta tropical: 1800
Savana: 700
Oceano aberto: 125
Estuários (aquático): 1800
4) Explique as diferenças de PPL entre Floresta tropical e Savana.
5) Por que os estuários possuem uma PPL tão alta em relação ao oceano aberto?
6) Em uma área, as aves de uma certa espécie alimentavam-se dos insetos que atacavam uma
plantação. As aves também consumiam cerca de 10% da produção de grãos dessa lavoura. Para
evitar tal perda, o proprietário obteve autorização para a caça às aves (momento A) em sua área
de plantio, mas o resultado, ao longo do tempo, foi uma queda na produção de grãos. A caça às
aves foi proibida (momento B) e a produção de grãos aumentou a partir de então, mas não
chegou aos níveis anteriores. Ao longo de todo esse processo, a população do único predador
natural dessas aves também foi afetada.
No gráfico estão representados os momentos A e B e as linhas representam a variação das
populações de aves, de insetos que atacam a plantação e de predadores das aves, bem como a
produção de grãos, ao longo do tempo.
Represente de acordo com a leitura da
questão e do gráfico o que cada linha é
respectivamente:
1)
2)
3)
4)

Essa 3° questão já envolve os conceitos de ecologia e matemática básica para entender o


conceito de populações.

Matemática para Economia Ecológica:


1. Se A = {a, b, c} e B = {a, d}, determinar A − 4. (X + 1)(X 7) = 0
B; B − A; A ∩ B e A ∪ B.
5. 6X3 1 = 3X(1 + 2X2)
2. Se A ∩ B = {a, c}, A − B = {b} e A ∪ B = {a,
6. Existe um triângulo retângulo de área 7 e
b, c, d}, determinar A e B.
de perímetro 12? (A= bxh/2)
3. Numa faculdade em que estudam 250
7. x > 4 5
alunos houve, no final do semestre,
reposição nas disciplinas de 8. X

Matemática e Português, sendo que 10 2


alunos fizeram reposição das duas matérias,
(X + 7) ≤ 0
42 fizeram reposição
9. 2X2
de Português e 187 alunos não ficaram em
reposição. Determinar: + 10X 12 < 0

a. Quantos alunos ficaram, no total, em 10. |X + 27| ≥ 0


reposição?
11. 2X3|X|4 ≥ 0
b. Quantos fizeram reposição apenas em
12.Procuremos a equação da reta r que
Matemática?
passa pelos pontos P= (1,3) e Q= (3,0)
c. Quantos ficaram em apenas uma matéria?
13. Determine a equação da reta que passa
Resolva a seguinte equação pelos pontos (0; 0), (1; 1).
Cartografia Social:
Cartografia Social com Povos Indígenas no Norte e Nordeste:

A metodologia utilizada durante as atividades dos Grupos de Trabalho do "V


Coloquio Internacional “Turismo, Pueblos Indígenas, Comunidades Tradicionales y
Afrodescendientes (V CTurTI) : Derechos Indígenas, Territorio y Desarrollo en
Contextos Turísticos”, que ocorreu no Chile, PUC - Villarrica, em 2018.
Referências:
AP2
COSTA, Natane Oliveira de. Cartografia social: instrumento de luta e resistência no
enfrentamento dos problemas socioambientais na reserva extrativista Marinha da
Prainha do Canto Verde, Beberibe - Ceará. 2016. 155 f. Dissertação (Mestrado em
Geografia) -Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2016.
http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/21447

1. Defina 1 (um) problema passível de ser resolvido com a intervenção da Cartografia Social
e das metodologias da cartografia e do planejamento participativo/ colaborativo:
2. Descreva 4 (quatro) consequências prováveis advindas deste problema:
3. Descreva 4 (quatro) causas que originam as consequências enumeradas no item 2:
4. Descreva 4 (quatro) possíveis soluções considerando-se as 4 (quatro) consequências do
problema:
INDICAÇÃO DE LEITURA (LIVRO): Cartografia Afetiva: um caminho metodológico na leitura da
dimensão simbólica-subjetiva do espaço escolar. Anderson da Silva Marinho, Adryane Gorayeb.
INDICAÇÃO DE LEITURA (LIVRO): Cartografia social e cidadania : experiências de mapeamento
participativo dos territórios de comunidades urbanas e tradicionais / Adryane Gorayeb, Antônio
Jeovah de Andrade Meireles, Edson Vicente da Silva [organizadores]. Fortaleza: Expressão
Gráfica Editora, 2015. Acesso
INDICAÇÃO DE LEITURA (LIVRO): Cartografias Sociais e Território. Org. Henri Acselrad. Rio de
Janeiro: IPPUR/ UFRJ, 2008. Acesso
INDICAÇÃO DE LEITURA (LIVRO): Redes de movimentos sociais na luta por direitos:
(des)caminhos da participação popular. Vanessa Calixto Veras. Fortaleza: UECE, 2017. Acesso
INDICAÇÃO DE VÍDEO: "Nosso mapa foi nós que fizemos: território, cartografia social e energia
eólica no litoral oeste do Ceará". Acesso

Material de Apoio

← Drive com material de apoio para as questões da apostila


Pré-Agrárias
Drive - Conteúdos das cadeiras do curso →

← Projeto Pedagógico do Guia para estudantes da UFC →


Curso completo
Informações importantes!

OBS:
1. A partir do 2° semestre é possível adicionar as cadeiras que você deseja cursar além das
obrigatórias do período, como as optativas obrigatórias e livres, então fique atento a carga
horária de optativas e respeite o seu limite! Recomendamos colocar pelo menos duas
optativas por semestre e participar de atividades extracurriculares.
2. A partir do 3° semestre são apenas 4 cadeiras obrigatórias, então recomendamos que
você coloque mais cadeiras optativas, tanto das obrigatórias quanto das livres, assim, no
final da conclusão do curso você não vai surtar tentando completar as 832 horas de carga
horária optativa.
3. Sobre as atividades extracurriculares, não deixei de participar de palestras, projetos de
extensão ou cursos oferecidos pela UFC ou fora dela, pois elas contam como horas
complementares!
4. A partir do 7° semestre são apenas 3 cadeiras por período, organize seus conteúdos já
estudados; verifique se já possui horas suficientes de optativas e complementares; foque
no tema do seu futuro TCC.
REFERÊNCIAS de Antropologia:
BRAZ, M. M. A.; PRADO, A. I. S.. ANTROPOLOGIA E EDUCAÇÃO. 1 ed. FORTALEZA: FGF,
2017. v. 1000, p. 105.
BRAICK, Patrícia; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 2ª edição.
São Paulo: Moderna, 2006. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à
prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. LAPLANTINE, François. Aprender
Antropologia. Tradução de Marie-Agnès Chauvel. São Paulo: Brasiliense, 2000.

Atenciosamente,
Organização de Ensino do curso de Economia Ecológica do VI Pré-Agrárias,

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