e do Adolescente Amanda Máximo AULA 5 Proteção Integral 1. CONCEITUAÇÃO
Antes de conceituar o tema estudado, devemos entender o
significado de doutrina e de sistema.
A doutrina serve como base de princípios que
fundamentarão um sistema.
Já o sistema é formado por normas, dependentes entre si,
unidas por uma organização lógica, tendo um princípio base como fundamento. Proteção Integral ou Doutrina da Proteção Integral, é o reconhecimento de que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos, através de um conjunto de interpretações, agregando um valor ético maior, com fundamentação legal.
A Proteção Integral está estampada na Constituição Federal
de 1988, em seu artigo 227, diretamente ligado ao Princípio Fundamental da Dignidade da Pessoa Humana. Os estudiosos sobre o assunto, assim determinam: Deve-se entender a proteção integral como o conjunto de direitos que são próprios apenas dos cidadãos imaturos; estes direitos, diferentemente daqueles fundamentais reconhecidos a todos os cidadãos, concretizam-se em pretensões nem tanto em relação a um comportamento negativo (abster-se da violação daqueles direitos) quanto a um comportamento positivo por parte da autoridade pública e dos outros cidadãos, de regra dos adultos encarregados de assegurar esta proteção especial. Em força da proteção integral, crianças e adolescentes têm o direito de que os adultos façam coisas em favor deles (CURY, 2008, p. 36). Houve, ao longo do tempo, a superação do pensamento de que a criança e o adolescente eram apenas objeto de manipulação dos adultos e não sujeitos que merecem atenção e cuidados especiais.
Por apresentarem condições incompletas de formação, nas
mais diversas formas (psicológica, biológica, fisiológica, etc), não externam as suas vontades e ações, com discernimento dos seus atos, de forma completa. Hoje, a Criança e o Adolescente são tratados na sua integralidade como sujeitos de direitos.
Coube às normas, aos preceitos e aos princípios, garantirem
que todos aqueles que não perfizessem o perfil adulto, e que pudessem ser responsabilizados por seus atos como tal, recebessem uma proteção especial e integral do poder público e da sociedade. Seja negativamente, quando o poder público não viola os direitos e garantias protegidos, ou positivamente, quando deve intervir de forma direta no que possa vir a prejudicar o menor, sempre deve haver a predominância do interesse da criança e do adolescente, em sua forma integral, evitando qualquer prejuízo ou risco.
Como agora as crianças e os adolescentes são tratados como
sujeitos de direitos que necessitam de normas específicas, o trabalho em sua aplicação também deve ser especializado. Com a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, foi afastada a doutrina da situação irregular, onde cabiam os direitos apenas aqueles que se encontravam em alguma situação negativa.
Agora, é garantida a todas as crianças e adolescentes a
proteção integral de seus direitos, bem como a garantia de que não estarão expostos a situações que coloquem sua integridade física e moral em risco. O alcance do fim objetivado, com a nova doutrina de proteção infantojuvenil, é dever e obrigação de todos, pois apenas com uma fiscalização ampla é que se pode garantir a aplicação correta das normas.
A família, a comunidade em que se vive, a sociedade em
geral, o poder público com maior responsabilidade em suas atribuições, todos devem ser vigilantes no intuito de questionar qualquer anormalidade que enseje a infringência de qualquer regra em relação aos menores de idade. O maior passo dado em relação à proteção da criança e do adolescente no Brasil foi a promulgação do ECA, que em linhas gerais:
a) Reafirmou a criança e o adolescente como sujeitos de
direitos;
b) Colocou a sua situação como pessoa em
desenvolvimento;
c) Trouxe a prioridade absoluta na defesa de seus direitos
fundamentais. 2. PROTEÇÃO INTERNACIONAL
O que mais motivou e exigiu as mudanças das legislações e
políticas quanto à proteção da criança e do adolescente foram os documentos internacionais assinados e respeitados pelos países seguidores desses acordos de vontade.
Com o passar do tempo verificou-se a necessidade de
globalizar diversos assuntos relevantes, o que não foi diferente com a legislação especial a criança e do adolescente. Promovida pela Liga das Nações, a Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente de Genebra, de 1924, foi o primeiro documento internacional a reconhecer os direitos da Criança e do Adolescente, assim como garantir sua proteção especial.
A partir daí, aperfeiçoaram-se as legislações e a forma de
tratar o assunto, dando-se maior relevância. Porém, apenas com a Declaração Universal dos Direitos da Criança, que foi adotada pela ONU em 1959, houve o reconhecimento da criança como sujeitos que necessitam de cuidados e proteção especial.
Com esta Declaração Universal, houve o estabelecimento de
diversos princípios, dentre eles, a proteção ao desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual. Outras garantias que surgiram:
• Gratuidade de educação e sua obrigatoriedade;
• Socorro e proteção prioritários;
• Maior vigilância contra negligência, crueldade e
exploração;
• Proteção contra atos de discriminação.
Com a necessidade de atualização, frente à modernização da sociedade à época, a ONU verificou que deveria ser feita uma revisão e adequação do documento assinado anteriormente.
Com isso, em 1979, foi criado um grupo para a elaboração
do texto da Convenção dos Direitos da Criança, que foi aprovado em novembro de 1989. A partir da Convenção dos Direitos da Criança, foi adotada pela primeira vez a doutrina da proteção integral, consolidada em três fundamentos:
1) Reconheceu a peculiar situação da criança e do jovem;
2) A criança e o jovem têm direito à convivência familiar;
3) As nações signatárias da Convenção devem tratar os
direitos nela estampados com prioridade. Com a chegada da década de 1990, novos passos foram dados e, com isso, novas perspectivas em garantir e melhorar os progressos já alcançados.
A mudança constante da sociedade, assim como a sua
evolução, demandaram a adequação da legislação vigente para a manutenção de seu fundamento e aplicabilidade. O Encontro Mundial de Cúpula pela Criança, realizado em setembro de 1990, no qual participaram representantes de 80 países, inclusive o Brasil, buscava a efetividade da Convenção dos Direitos da Criança.
Deste encontro, resultou a assinatura da Declaração Mundial
sobre a Sobrevivência, a Proteção e o Desenvolvimento da Criança. Outra preocupação no encontro, foi com a imediata implementação da Convenção dos Direitos da Criança assumida por seus signatários.
Os compromissos assumidos estenderam-se também na
melhoria da saúde de crianças e mães, no combate à desnutrição e ao analfabetismo. Essa documentação internacional foi fundamental para a concretização dos direitos da criança e do adolescente e para a positivação das normas, criando sistemas e políticas na concretização dos direitos infantojuvenis. 3. EVOLUÇÃO DA DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a
consequente aplicação da proteção integral para a garantia dos Direitos da Crianças e do Adolescente, a doutrina da Situação Irregular foi substituída e perdeu a sua aplicabilidade.
Diferente de outrora, agora todas as crianças e adolescentes
estarão guardados pelas normas inerentes a eles. Não houve apenas uma simples mudança de nomenclatura ou conceito, mas a reinvenção do sistema, atendendo as reais necessidades existentes.
Levando em consideração os princípios aplicados e os
paradigmas apresentados, adequou-se a política a ser adotada para atender de forma eficaz o seu propósito. A antiga doutrina da situação irregular, vigente no cenário infantojuvenil por quase um século, era restrita apenas àqueles que se enquadravam no disposto do art. 2º do antigo código de menores.
O norte daquela doutrina era: assegurar a proteção e
garantias apenas àqueles que apresentassem algum “problema” nesta fase de formação intermediária da vida humana. Segundo o artigo 2º do antigo Código de Menores,a doutrina da situação irregular abrangia:
O menor privado de condições essenciais à subsistência,
saúde e instrução obrigatória em razão de ação ou omissão dos pais ou responsáveis;
• As vítimas de maus-tratos;
• Os que estavam em perigo moral;
• Os autores de infrações penais.
Restrita também era atuação da justiça nas questões infantojuvenis, onde tudo era decidido pelo juiz de menores, como uma formação totalmente inadequada para a visão adotada nos dias atuais.
O que não tivesse relação com as questões de carência e
delinquência passava para a Vara de Família, mas eram tratadas com os poucos recursos conceituais existentes. Apesar da legislação existente naquela época, a regularização da situação das crianças e dos adolescentes era realizada com uma política totalmente segregatória, em que estes eram encaminhados para instituições de acolhimento, internatos ou de recuperação.
Essas instituições assumiam apenas o papel de tirá-los do
convívio social e não havia preocupação na manutenção de vínculos com a família. De forma geral, os jovens em situação irregular eram rotulados como sendo aqueles provenientes de famílias pobres que moravam em zonas carentes.
Havia grande preconceito e estigma em relação a
determinados grupos de pessoas. A partir da Convenção dos Direitos da Criança, a criança e o adolescente passam a realmente ter direitos e garantias.
É aqui que há a mudança da nomenclatura de Direito do
Menor para Direito da Criança e do Adolescente, de forma abrangente, universal e principalmente exigível. O Estatuto da Criança e do Adolescente foi a norma que concretizou o mandamento constitucional referente à proteção integral.
Ao invés de avaliar a situação irregular do menor, trouxe
maior amplitude de análise pelo risco social em que poderia ser exposta a criança ou o adolescente, dando maior flexibilidade aos profissionais envolvidos para adequar sua aplicação à necessidade de cada caso. Quando analisamos o plano formal para execução, aplicação e proteção dos direitos da criança e do adolescente, a legislação é bastante avançada.
Porém, na realidade, ainda temos muito o que progredir,
para atingirmos o fim desejado de cobertura total de todo o público infantojuvenil.
Para essa concretização, indispensável é a participação de
todos junto ao poder público e os seus agentes. REFERÊNCIAS
BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL, 1988. Site da Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçãoompil ado.htm>. Acesso em 30/10/2018;
CURY, Munir (coord.). Estatuto da criança e do adolescente
comentado: comentários jurídicos e sociais. 9ª ed., atual. São Paulo: Malheiros, 2008.