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Nádia Nhampimbe
DECLARAÇÃO..............................................................................................................................6
CAPITULO I: INTRODUÇÃO.......................................................................................................7
1.1. Justificativa...........................................................................................................................7
1.3. Problematização....................................................................................................................9
1.4. Hipóteses.............................................................................................................................10
2.1. Tributo................................................................................................................................11
2.2.1. Impostos.......................................................................................................................15
AT Autoridade Tributária
Eu Nádia Nhampimbe, declaro que esta Monografia é resultado da minha investigação pessoal e
das orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho de monografia em nenhum momento foi apresentado em outra
instituição para a obtenção de qualquer grau académico.
_________________________________________
(Nádia Nhampimbe)
CAPITULO I: INTRODUÇÃO
Startiene & Trimonis (2010:277) sugerem que a economia informal resulta de impostos elevados
e péssimo bem-estar social, acrescentando que se trata de um mercado secundário onde ocorrem
transacções que poderiam ser possíveis no formal, mas seriam taxadas, situação que gera a
necessidade de praticar essas operações longe do encalce da lei. O argumento destes autores é
consistente com a abordagem de Chen (2007: 80) segundo o qual muitos proprietários de
empresas informais operam de forma semilegal ou ilegal devido ao ambiente regulatório que é
muito punitivo, desajustado ou simplesmente não existente.
Reconhece Chowdhury (1999) que o não pagamento de direitos aduaneiros e demais imposições,
traz elevadas implicações na capacidade dos Estados de arrecadar receitas para o financiamento
das suas economias. Por isso, o contrabando tem sido conhecido como uma das causas dos
desequilíbrios económicos e da perda de receitas, em muitos países, particularmente os menos
desenvolvidos.
1.1. Justificativa
Social: Afigura-se relevante a escolha do tema para compreensão efectiva em relação aos
factores que influenciam o cumprimento ou não cumprimento de obrigações fiscais por parte dos
micro importadores na fronteira de Ressano Garcia. Neste sentido, nota-se a ausência de uma
estratégia consertada para lidar com a informalidade em Moçambique pode ser encontrado na recente
pretensão da Autoridade Tributária em Moçambique. Se se considerar a fuga ao fisco um dos
1
Disponível em: http://www.agt.minfin.gov.ao/PortalAGT/#!/iva/contexto/o-iva-na-sadc
2
Em 2019, os impostos sobre rendimentos representaram cerca de 47% da receita tributária, CGE
comportamentos que caracterizam o agente informal, é expectável que esta medida não atinja os
objectivos pretendidos pelas autoridades estatais. Por outro lado, a proliferação de taxas e
impostos, incluindo o Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes (ISPC), não fará mais
do que criar confusão entre os operadores e incrementar a aversão ao fisco.
Pessoal: o presente estudo foi resultado de indagação pessoal em relação aos factores que
influenciam o cumprimento ou não cumprimento de obrigações fiscais por parte dos pequenos
importadores na fronteira de Ressano Garcia, visto que esta é a fronteira que regista o maior
movimento de pessoas e bens entre a República de Moçambique e da África do Sul. Este
movimento que sujeita os pequenos importadores de várias situações que incorrem ao
cumprimento ou não das obrigações fiscais.
Acadêmico: trabalho é uma fonte de acréscimo bibliográfico, este que pode servir de orientação
para futuros estudos, levando em consideração o contexto do cumprimento ou não cumprimento
de obrigações fiscais por parte dos importadores informais transfronteiriços.
A escolha da fronteira de Ressano Garcia, é justificada por ser a fronteira terrestre que mais
regista movimento migratório entre pessoas, importação e exportação de mercadorias para a
África do Sul. Este factor que atrai muitos moçambicanos que operam no sector informal que
buscam produtos alimentares, vestuários, material de construção, com vista a garantir o sustento
familiar.
Nos termos do quadro legal moçambicano, as infrações aduaneiras podem ser diferenciadas de
acordo com a sua natureza e gravidade. Para efeito desta pesquisa, todas as infrações que
resultem na evasão de direitos aduaneiros e demais imposições são classificadas como
contrabando. Esta perspectiva é trazida por Chowdhury (1999), ao afirmar que o contrabando é
mais do que a não declaração de mercadorias ou a sua introdução por circuitos ilegais, inclui um
vasto leque de infrações que consistem na passagem de mercadorias, pelas Alfândegas, à luz do
dia, sem pagar as devidas imposições fiscais ou efectuando um pagamento parcial.
Diante do exposto, surge a seguinte questão de partida: Quais são os factores que influenciam o
cumprimento ou não cumprimento de obrigações fiscais por parte dos pequenos importadores
utentes da fronteira de Ressano Garcia?
1.4. Hipóteses
H0 – As obrigações Fiscais impostas pelas autoridades tributarias influenciam no cumprimento
de obrigações fiscais por parte dos pequenos importadores que usam a fronteira de Ressano
Garcia;
2.1. Tributo
2.1.1. História do Tributo
Etimologicamente a palavra tributo vem do Latim tributum e significava uma contribuição paga
pelos membros das antigas tribos (tribus) romanas. O termo se generalizou para se referir aos
valores cobrados dos cidadãos romanos, como também aos valores que um povo vencedor
obrigava o vencido a pagar como símbolo de submissão e obediência (ROCHA, 2014). A origem
da palavra tributo está diretamente ligada à formação do homem como um ser social. Ainda
como nômade e livre de relações sociais estáveis e permanentes, ele andava pelos mais
diferenciados lugares acomodando-se temporariamente em terras que lhe oferecessem as
melhores condições de sobrevivência.
Com crescimento da família e do seu grupo social, ele foi forçado a se estabelecer de modo
permanente para dali poder garantir a sua subsistência. Em determinado período da história, o
homem buscou organizar-se socialmente em comunidades com o objetivo de atender aos mais
diferentes interesses, que iam desde as necessidades básicas de defesa, alimentação e abrigo, até
a proteção contra a ameaça de outros povos (AMORIM & WEYNE, 2006, p. 13).
A presença de um chefe tribal ou líder religioso dentro dessas tribos era algo bastante comum e
muitas vezes como forma de prestar alguma homenagem ou reconhecer o papel desenvolvido por
eles na condução do grupo, a entrega de oferendas e presentes era sempre vista como uma atitude
honrosa. Silveira (2002, apud ROCHA, 2014) chega a afirmar que a origem do tributo
acompanhou essa evolução humana, sendo que as primeiras manifestações tributárias surgiram
voluntariamente sob a forma de ofertas a esses líderes eu chefes.
A imposição dos tributos se tornará algo mais frequente e obrigatório diante das conquistas de
novas terras ou povos, onde os povos vencedores passariam a impor aos vencidos o pagamento
de pesadas taxas. A cobrança de tributos pelos líderes de uma comunidade aos seus próprios
súditos ou liderados vai surgir com maior intensidade mais tarde quando, de tudo o que o súdito
produzisse em suas terras, uma parte deveria ser entregue ao chefe em forma de tributo
(ROCHA, 2014).
A opressão em relação à cobrança de tributos persistiria enormemente ao longo da história do
homem, com a imposição do tributo aos derrotados nas guerras (Roma antiga), passando pela
Idade Média quando, além dos senhores feudais, que exigiam pesados tributos, cobrados das
colheitas em troca de proteção, o povo ainda recolhia à Igreja algumas contribuições, fosse por
meio dos dízimos e ofertas, fosse por outras imposições como, por exemplo, as indulgências. É
importante lembrar que durante as Cruzadas (entre os séculos XI e XIII), diversos senhores
feudais passaram a cobrar ainda mais impostos de seus súditos visando o financiamento de suas
viagens à Terra Santa.
Durante o Absolutismo francês, a cobrança de tributos pelos monarcas alcançou seu ponto
culminante. Para Amorim & Weyne (2006, p. 20), 80% dos ganhos dos camponeses eram pagos
aos vários coletores de impostos. Acontece que o resultado dessa cobrança feita aos franceses era
predominantemente marcado pela utilização do que era arrecadado no sustento do luxo dos
palácios e da boa vida dos reis e seus fiéis súditos.
“O novo papel do Estado exigia a realização de diversos gastos e investimentos, fato este que
justificava a cobrança de tributos sobre a população, pois como assegurar ao povo educação,
saúde, moradia, emprego e outros tantos direitos sociais sem que houvesse a arrecadação de
tributos”. Daí a imprescindível função social do tributo. O dever de pagar tributos é que gera,
então, as condições financeiras para que o Estado atenda as demandas da sociedade. Segundo
Martins (2005, p. 255), “o tributo é o principal elemento da história depois do homem, pois é o
instrumento que dá força ao Estado”.
Concordando com Harada & Coêlho (2015, p. 365), define que tributo é toda prestação
pecuniária em favor do Estado ou de pessoa por ele indicada, tendo por causa um fato lícito,
previsto em lei, instituidor de relação jurídica, diferenciando-se da multa porque esta, embora
prevista em lei em favor do Estado, decorre de um fato ilícito, ou seja, ter alguém descumprido
algum dever contratual ou legal.
Nisso segundo Correia Neto (2019), existem três características principais ou essenciais para
que se possa enquadrar certa obrigação na noção de tributo:
I. Compulsoriedade ou obrigatoriedade;
II. Natureza pecuniária, isto é, geralmente em forma de dinheiro; e por fim
III. O tributo não constituí uma punição pela prática de um acto proibido.
Nesse mesmo debate Pimpão (2012), por sua vez, acrescenta dois elementos aos já apresentados
por Correia Neto (2019), que são a legalidade instituída pela Lei, e a cobrança mediante
actividade administrativa plenamente vinculadas.
Fazendo uma análise ao debate acima evidenciado percebemos que enquanto Passos (2014), olha
para o sistema tributário como o conjunto de tributos, e Correia Neto (2019), por sua vez defende
que o sistema tributário como o conjunto de regras que disciplinam a instituição, cobrança, a
arrecadação e a partilha de tributos, sendo que ambos autores acabam por apresentar apenas uma
parte do que é o sistema tributário, no entanto para o presente trabalho a definição que é utilizada
é a de Musgrave (s/d ), pois ela é mais abrangente e o entendimento aceite é que o sistema
tributário engloba tanto os tributos, assim como os princípios e normas que os regem.
De acordo com ACIS (2011), são tributos, para efeitos da Lei tributária, os impostos, as taxas e
as contribuições especiais, assim definidos:
As bases da política de impostos e o sistema fiscal são definidos por Lei, nos termos da
Constituição;
A Lei de Bases do Sistema Tributário determina a incidência, as taxas e os benefícios
fiscais dos impostos nacionais, as garantias e as obrigações do sujeito passivo e da
administração tributária, bem como os procedimentos básicos de liquidação e cobrança
de impostos;
A Lei das Finanças Autárquicas determina a incidência, as taxas e os benefícios fiscais
dos impostos autárquicos;
O exercício da justiça tributária é garantido através dos tribunais das jurisdições fiscal e
aduaneira para tutela plena e efectiva de todos os direitos ou interesses legalmente
protegidos em matéria tributária.
2.2.1. Impostos
Segundo Ibraimo, (2002) “imposto é uma prestação coactiva, pecuniária, definitiva e unilateral,
estabelecida por lei, sem caracter de sanção, a favor do Estado, para realização de fins públicos.
Com uma definição similar, Waty (2002), define o imposto como, uma prestação coactiva,
patrimonial, positiva, definitiva, não sinalagmática, sem carácter de sanção, estabelecida por
lei, a favor de uma entidade pública, ou com funções públicas para a satisfação de
necessidades públicas e redistribuição de riqueza, independentemente de qualquer vínculo
anterior.
De uma forma simples e clara, pode-se definir o imposto como, o valor pago pelas pessoas
físicas ou colectivas (empresas), a título obrigatório, a favor do Estado ou entidades públicas
para financiar as despesas e investimentos de carácter público.
Segundo Ibraimo (2002), os impostos foram criados com vista a atender os seguintes objectivos:
Uma questão importante é que, um sistema tributário justo, deve ser bem administrado para
minimizar a evasão fiscal, uma vez que, ao se permitir que alguns contribuintes escapem às suas
responsabilidades, isto causará que os restantes contribuintes tenham que suportar uma parte
adicional e não devida de carga tributária. Ao alargar-se o mais possível o sistema tributário, o
Estado (governo) pode de forma justa distribuir a carga por todos os contribuintes. Finalmente,
um sistema tributário justo evita a existência de taxas de impostos excessivamente altas.
O critério de classificação dos impostos directos e indirectos usado pelo legislador moçambicano
é o critério jurídico. A divisão dos impostos em directos e indirectos remonta aos fisiocratas
(indivíduos defensores da fisiocracia). Para os fisiocratas, a terra era o único factor produtivo,
pelo que, todos os impostos acabavam sempre por ser suportados pela terra, estabelecendo-se a
partir daí, a distinção entre impostos directos, aqueles que tributavam a posse do solo ou o
produto líquido da agricultura, e impostos indirectos todos os restantes que, tributando outras
realidades, acabavam por indirectamente recair sobre a agricultura (VOUGA, 2011 apud
SANTOS, 2003).
Os impostos pessoais, respeitam aos rendimentos das pessoas, neles se incluindo os rendimentos
empresariais e profissionais quando exercidos em nome individual. Por ele tributa-se o
rendimento global das pessoas singulares, pois só assim se pode avaliar a capacidade de
pagamento individual e, consequentemente, tributar tomando em consideração os elementos
reveladores da sua situação socioeconómica, tendo em conta o rendimento e as necessidades do
individuo ou do agregado familiar, portanto, desta forma, pode-se dizer que os impostos
pessoais, tributam as pessoas em função da sua riqueza (VOUGA, 2011).
De acordo com Franco (2010), considera-se fraude fiscal, com maior rigor, o conjunto de
práticas tendentes a reduzir irregularmente o montante do imposto a pagar (por contabilização
viciada, declaração errónea, ocultação parcial da matéria colectável ou de factos tributários),
havendo por vezes tendência para considerar fraudulento, em sentido amplo, até o
comportamento de potenciais contribuintes que pratiquem a evasão ilegal. A fraude e a evasão
fiscal ilícita constituem práticas ilegais, que são objecto de prevenção e repressão, com
ocorrência de sanções jurídicas adequadas, normalmente pela via de imposição de penas e
infracções fiscais.
De acordo com a literatura existente, há uma diversidade de causas para o incumprimento fiscal
(FISCHER et al., 1992; JACKSON & MILLIRON, 2002). De acordo com estes autores, o
cumprimento fiscal é influenciado por fatores demográficos, económicos, sociológicos ou
psicológicos (fatores comportamentais), e por fatores culturais, como defendem Chau e Leung
(2009) mais recentemente. A nossa investigação, por sua vez, aborda o tema de forma diferente.
São apresentadas as causas gerais para o incumprimento fiscal, subdivididas em; económicas;
comportamentais, psicológicas ou sociológicas; e políticas ou institucionais (PINTO, CRUZ, &
ABRUNHEIRO, 2014 apud PINTO, 2016).
Desta forma, podemos assinalar como causas económicas de incumprimento fiscal: por um lado,
a origem e o nível de rendimento dos contribuintes; por outro lado, a penalização e a
probabilidade de auditoria.
O rendimento dos contribuintes como causa para o incumprimento fiscal está directamente
relacionado com a fonte de rendimento e com o montante de rendimento auferidos pelos
indivíduos (BORREGO et al. 2013; CHAU & LEUNG, 2009). Estudos realizados nos Estados
Unidos, em Inglaterra e no Canadá, tal como citado por Borrego et al. (2013), mostraram-se
unânimes no que diz respeito à influência da fonte de rendimento como factor de incumprimento
fiscal ao concluírem que os trabalhadores dependentes, ou seja, que trabalham por conta de
outrem, são menos propensos a cometer evasão fiscal, do que os trabalhadores independentes.
Para este facto foi indicada como razão a facilidade com que os trabalhadores independentes
conseguem omitir o seu rendimento às autoridades fiscais, face aos trabalhadores dependentes,
que vêm os seus rendimentos declarados pelas entidades patronais (BORREGO et al., 2013 apud
PINTO, 2016).
Nas suas pesquisas, Pinto (2016) obtive uma conclusão semelhante. Os autores investigados por
Pinto (2016) concluíram que os trabalhadores independentes têm uma probabilidade mais
elevada de cometer evasão fiscal. Adicionalmente, Chau & Leung (2009) afirmam que a fonte de
rendimento como motivo do incumprimento fiscal pode estar ainda nos rendimentos não sujeitos
a retenção, uma vez que não são tributados diretamente, tornam-se uma oportunidade de
contornar o sistema fiscal e praticar incumprimento fiscal.
O montante de rendimento ou a alteração do mesmo é também por vezes uma razão para os
contribuintes não cumprirem fiscalmente as suas obrigações. Pinto (2016) concluiu, também nas
suas pesquisas que o aumento da taxa de tributação resultante de um aumento do nível de
rendimento é um incentivo a declarar menos rendimento e, portanto, a diminuir o nível de
cumprimento dos contribuintes.
Verifica-se assim que as decisões dos indivíduos são influenciadas por um conjunto de valores e
preferências que pretendem minimizar a perda resultante do crime (BECKER, 1974 apud
PINTO, 2016) e que ponderam o nível de penalização e a probabilidade de auditoria, antes de
cometer evasão fiscal. Neste sentido, existem autores que defendem que uma elevada
penalização e uma elevada probabilidade de auditoria são fatores que desencorajam a prática de
evasão fiscal.
Equidade Fiscal
A administração fiscal considera, assim como os contribuintes, que a maior causa para o
crescimento do incumprimento fiscal é a crescente insatisfação com a equidade do sistema fiscal
(CHAU & LEUNG, 2009). A perceção de equidade tem subjacentes duas dimensões diferentes:
uma relacionada com o equilíbrio de trocas6 e a outra com a comparação da carga fiscal do
contribuinte com a dos outros contribuintes (JACKSON & MILLIRON, 2002).
Chau, Leung (2009) concluíram no sentido do equilíbrio das trocas, isto é, que se os
contribuintes verificarem que o pagamento dos impostos a que estão obrigados não lhes permite
usufruir de contrapartidas que considerem justas, desenvolvem um sentimento de injustiça para
com o sistema fiscal e por isso são mais propensos a não cumprir fiscalmente as suas obrigações,
ao contrário do que era esperado caso considerassem o sistema fiscal justo.
Em forma de resumo, podemos concluir que os contribuintes que sentem que o sistema fiscal não
pratica uma equidade fiscal, quer ao nível de equilíbrio de trocas, quer ao nível de comparação
com as outras classes sociais, são mais propensos a praticar incumprimento fiscal (PINTO,
2016).
Os autores Chan et al. (2000) ao avaliarem os cidadãos de Hong Kong concluiram que apesar de
os contribuintes aparentemente não apresentarem dificuldades específicas com o sistema de
tributação, estes podem decidir por não cumprirem fiscalmente as suas obrigações, quando estão
convencidos que o incumprimento é consistente com as expectativas e normas da classe social
em que se inserem. Concluiu-se assim, que os contribuintes deste país são movidos por
expectativas e aprovações sociais, ou seja, pelo comportamento dos pares.
Moral Tributária
Na opinião de Torgler (2002), citado por Lopes e Santos (2013), uma boa relação entre os
contribuintes e a administração fiscal contribui para um grau de cumprimento fiscal
voluntário. Neste sentido, o Estado pode fomentar moral tributária ao promover um sistema
justo e transparente, esperando que os contribuintes concretizem as suas obrigações fiscais.
Assim, a moral tributária torna-se um fator importante no cumprimento fiscal pois define-se
como “motivação intrínseca para pagar os impostos” (Torgler, 2006, p. 82), dado que está
relacionada com motivações religiosas, de classe social, económicas, de confiança e de
imagem da administração fiscal. Desta forma, se a moral fiscal é fator determinante no
reforço do cumprimento das obrigações fiscais, há uma variedade de políticas além da
coerção que podem ajudar a aumentar o cumprimento das obrigações fiscais (TORGLER et
al., 2007 apud PINTO, 2016).
Saad (2014), ao citar Mustafa (1996), sugeriu que a presença de complexidade fiscal na Malásia
está relacionada com factores como a ambiguidade, os cálculos, as mudanças, os detalhes, as
formas e as manutenções de registos. Assim, verificamos que são várias as variáveis que
compõem a complexidade tributária e que quando são adicionadas ao inadequado conhecimento
fiscal contribuem para um aumento da dificuldade de interpretação e consequentemente
dificuldade de cumprimento fiscal.
Por outro lado, na África do Sul e na Tanzânia, Ali et al. (2014) apud Pinto (2016), os inquiridos
mostraram uma discordância relativamente a esta conclusão. Os indivíduos destes países que
compreendem que é difícil para as autoridades fiscais saberem quais os impostos a que cada um
está obrigado a pagar, são menos propensos a ter uma atitude de cumprimento fiscal do que os
que compreendem que é relativamente fácil. Este estudo evidencia, portanto, que a correlação
referida, difere de país para país e que o conhecimento fiscal está não só associado ao
cumprimento fiscal, mas também ao incumprimento fiscal voluntário por parte dos contribuintes
com conhecimentos fiscais elevados.
A preferência por diferentes tipos de impostos está relacionada com o interesse pessoal dos
contribuintes (Dornstein, 1987; Ferreira, 2013; Hammar et al., 2008).
Dornstein (1987) em Israel, Hammar et al. (2008) na Suécia e Ferreira (2013) em Portugal
abordaram a insatisfação dos contribuintes em relação aos impostos e de um modo geral
concluíram que os contribuintes são mais adversos aos impostos a que estão sujeitos do que aos
restantes, devido ao sentimento relativo de privação. No mesmo sentido, a preferência dos
contribuintes foi analisada através da averiguação da vontade de aumentar, diminuiu ou manter
os impostos em vigor no país. A conclusão foi ao encontro da anterior – os contribuintes são
motivados por interesses pessoais no que respeita aos impostos, dado que preferem diminuir os
impostos a que estão sujeitos e aumentar os impostos que não fazem parte das suas obrigações
fiscais.
Instabilidade Legislativa
O impacto das mudanças nas políticas fiscais em momentos de forte tensão no orçamento de
Estado e a perceção da tributação nas formulações políticas do Governo foram objeto de um
estudo realizado, no Reino Unido, por Webb e Hussain (2010). De modo resumido, o artigo
discute como a perceção da tributação e a aceitação das mudanças fiscais estão interligadas
aquando das reformulações nas políticas fiscais. Assim, a compreensão dos contribuintes tem um
papel chave na determinação da resposta do sistema fiscal em aumentar ou diminuir as receitas
fiscais e taxas de tributação devido ao comportamento de cumprimento fiscal.
Neste âmbito e a partir de modelos projetados sobre períodos de austeridade ou de crise, Webb e
Hussain (2010) concluíram que as receitas fiscais poderão subir em período de austeridade e que
a maioria das mudanças poderá, teoricamente, ter um amplo apoio público. Consequentemente,
poucos são os contribuintes que num período destes irão sentir que há uma carga fiscal imposta
coercivamente. No entanto, tais mudanças podem gerar ressentimento e conduzir a uma receita
fiscal menor do que seria expectável, uma vez que os contribuintes podem incorrer em
incumprimento fiscal voluntário por não concordarem com as alterações, ou mesmo involuntário
por falta de atualização em matéria fiscal (Webb & Hussain, 2010). Note-se que os sistemas
fiscais nos dias de hoje estão em constante mudança e por isso, existem inúmeras falhas na
prestação de informações aos contribuintes, mesmo nos órgãos que integram o sistema fiscal.
A incerteza do sistema fiscal está de certa forma relacionada com a instabilidade legislativa
abordada no ponto anterior, com a perceção de equidade do sistema fiscal, com a complexidade
fiscal e com a interpretação fiscal, ou seja, com o conhecimento fiscal (Vos & Mihail, 2006).
Quando o sistema tributário é complexo, ou é constantemente sujeito a alterações fiscais,
fomenta incerteza entre os contribuintes no que respeita à forma como a lei é aplicada e os
contribuintes ficam potencialmente expostos aos custos: pagamento de impostos, multas e juros
adicionais e os custos de aconselhamento profissional e contencioso.
Com a aplicação da lei neste ambiente, o resultado não é coerente com o que a administração
fiscal esperava, dando origem a uma consequência não intencional na receita, fomentando a
incerteza dos contribuintes e injustiça no sistema tributário (Vos & Mihail, 2006).
Qualidade da Governação
Verifica-se que na verdade, quando os contribuintes não estão satisfeitos com a qualidade dos
serviços públicos, procuram esses serviços junto de órgãos não estatais, demonstrando que
quando a qualidade de governação não é positivamente percebida dá origem a uma atitude de
incumprimento fiscal (Ali et al., 2014). No mesmo sentido, quando há aplicação de impostos
opressivos e perseguição dos contribuintes, considera-se que a qualidade de governação
percebida pelos contribuintes é negativa, aumentando a resistência fiscal e o incumprimento
fiscal generalizado (FJELDSTAD & SEMBOJA, 2001 apud PINTO, 2016).
Os importadores são registados junto do Ministério da Indústria e Comércio (MIC) que emite um
cartão de identificação atestando a autorização para operador de importação. São isentos da
necessidade de possuir uma autorização emitida pelo MIC:
Este tipo de pesquisa tem como objectivo proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. A grande maioria dessas pesquisas
envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências
práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que estimulem a compreensão.
Essas pesquisas podem ser classificadas como: pesquisa bibliográfica e estudo do caso (Gil,
2007:57).
A tipologia de pesquisa vigente no presente trabalho é descritiva esta que segundo Gil (2008:
p.48):
“As pesquisas deste tipo têm como objectivo primordial a descrição das
características de determinada população ou fenómeno ou o
estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que
podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais
significativas está na utilização de técnicas padronizadas de colecta de
dados”.
3.1.3. Do ponto de Vista dos Procedimentos Técnicos
Quanto aos procedimentos de colecta, foi utilizada a pesquisa bibliográfica, porque qualquer
trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador
conhecer o que já se estudou sobre o assunto, embora existem, porém, pesquisas científicas que
se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas
com objectivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do
qual se procura a resposta (FONSECA, 2002:32).
Quanto aos procedimentos técnicos, ou seja, a maneira pela qual obtêm-se os dados necessários
para a elaboração da pesquisa é de levantamento tipo survey. Esse tipo de pesquisa ocorre
quando envolve a interrogação directa das pessoas cujo comportamento desejamos conhecer
através de um questionário, procede-se a solicitação de informações através de um grupo
significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida, mediante análise
quantitativa, obtermos as conclusões correspondentes aos dados colectados. Onde não são
pesquisados todos os integrantes da população estudada (GIL, 2008). Antes seleccionamos
mediante procedimentos estatísticos, uma amostra significativa de todo universo que é tomada
como objecto de investigação. As conclusões tiradas a partir dessa amostra são projectadas para
a totalidade do universo. (GIL, 2010)
Desta feita, foram analisados os factores que influenciam cumprimento ou não cumprimento de
obrigações fiscais por parte dos importadores informais transfronteiriços vulgo “mukhero” na
fronteira de Ressano Garcia.
3.2. População e Amostra da pesquisa
População
Tipo de Amostra
De um modo genérico, as amostras são agrupadas em duas grandes categorias a saber: Amostra
probabilística e não probabilística. Como os próprios nomes sugerem, existe um grupo de
amostras que se fundamenta pelas leis Matemáticas (Estatística) e o outro não. Essas
características de amostras referidas anteriormente, referem-se, respectivamente as amostras
probabilísticas e não probabilísticas (GIL, 2008).
A amostragem estratificada é aquela que se “caracteriza pela selecção de uma amostra de cada
subgrupo da população considerada (GIL, 2008: p. 49). O fundamento para delimitar os
subgrupos ou estratos pode ser encontrado em propriedades como sexo, idade ou; classe social”.
Desta feita, no universo de todos os colaboradores da autoridade tributária afetos no Ressano
Garcia e importadores informais transfronteiriços que também fazem o uso da mesma fronteira,
foram colhidos como amostra 50, sendo, 15 trabalhadores e 35 importadores informais
transfronteiriços.
Entrevista: É uma técnica usada na colecta de dados, e também mais usada nas pesquisas
das ciências sociais (FREITAS., 2013).
“A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a
respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional”
(LAKATOS & MARCONI, 2003), O pesquisador usou esta técnica ao dialogar com os
trabalhadores da autoridade tributária e importadores informais transfronteiriços vista a colher o
maior número de informações que podem ir ao encontro dos objectivos traçados, para tal efeito,
o pesquisador produziu um roteiro de questões, que será feita com base em 14 perguntas semi-
abertas com pelo menos 4 alternativas.