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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS PARA


O ESTUDO DAS LETRAS

SETOR DE FILOLOGIA

KARNAL, Leandro; TATSCH, Flavia Galli. Documento e história: a memória


evanescente. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de. (Orgs.) O
historiador e suas fontes. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2011. p. 9 - 27.

Karnal & Tatsch (2011), no texto “Documento e história: a memória


evanescente”, tratam do significado de documento histórico, tomando-o por base para
um julgamento da trajetória humana e considerando-o como uma memória de curta
duração, que se torna efêmera com o tempo.

Os autores iniciam a discussão com a apresentação da noção mais difundida de


documento: uma ou mais folhas escritas por alguém importante. Contudo, criticam esta
proposição, afirmando que esta visão omite a história do documento, a importância que
teve à época em que foi escrito.

Com isto, propõem a ideia de que documento não é apenas documento, mas um
diálogo com o tempo presente. Neste diálogo, o entendimento sobre o passado se
transforma, fazendo com que o documento histórico seja uma construção permanente e
permitindo leituras diversas sobre um mesmo material. Ou seja, o sentido atribuído ao
documento no presente torna-o mutável. O fato histórico muda conforme a visão que se
tenha do passado.

Segundo os autores, o documento passou a ser visto como “prova histórica” a


partir do século XX, entendido como “a fonte por excelência”. O historiador busca,
seleciona, critica e classifica o documento encontrado. Neste aspecto, surge não apenas
um documento como “prova histórica”, mas uma série documental, alterando
profundamente o uso e o conceito de documento histórico.

Karnal & Tatsch (2011) comparam o debate dos artistas sobre a validade de
algumas produções com o debate sobre a relevância de alguns documentos históricos.
De acordo com os autores, tal conceito foi esmiuçado: o olhar sobre a fonte mudou, mas
não necessariamente a fonte em si.

Conforme Karnal e Tatsch (2011), antes, um documento falso era considerado


nulo para a História. Por sua vez, um documento fantasioso, mítico era considerado
inútil. Ambos, sem valor interpretativo. E após a fonte não tradicional ser valorizada,
houve vasta reflexão sobre a relativização da fonte clássica.

Os autores abrem então, uma outra discussão: o que garante a autenticidade de


um documento, especialmente os escritos. Apesar de outras fontes terem sido aceitas,
como as fantasiosas, ainda é fundamental a busca pela autenticidade. Karnal & Tatsch
(2011) colocam a publicação da obra De Re Diplomatica (MABILLON, 1681), como
marco para uma nova postura de realização de inquéritos para desvendar a autenticidade
de um texto, o que envolve técnicas de paleografia e filologia, dando origem a ciência
Diplomática.

Desta forma, os autores deixam a conclusão em aberto. Mas, admitindo que “[...]
documento é tudo aquilo que um determinado momento decidir que é um documento.
[...] existe em relação ao meio social que o conserva.” (KARNAL; TATSCH, 2011, p.
20 - 21).

Karnal & Tatsch (2011) lembram, ainda, que há fatores que podem tornar um
documento mais importante que outro e que podem variar no tempo e no espaço: um
documento com mais dados, a raridade, mas também a teia social que o envolve e o que
revela da sociedade da qual se origina.

Assim, os autores entendem como relevante a análise do documento e não ele


próprio. A interpretação de um documento, fará com que ele tenha importância e atinja
outros documentos, que passarão a ter importância para outros historiadores. Mas
também, um único documento poderá trazer dados novos e propor uma nova visão.

“[...] Em síntese, documento histórico é qualquer fonte sobre o passado,


conservado por acidente ou deliberadamente, analisado a partir do presente e
estabelecendo diálogos entre a subjetividade atual e a subjetividade pretérita. [...]
(KARNAL, TATSCH, 2011, p. 24).

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