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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS PARA O


ESTUDO DAS LETRAS

SETOR DE FILOLOGIA

LE GOFF, Jacques. Documento. In: História e memória. Trad. Bernardo Leitão e Irene


Ferreira. 4 ed. Campinas: São Paulo: EDUNICAMP, 1996. p. 462 - 473.

No capítulo Documento/Monumento, Le Goff (1996) trata de dois tipos de


materiais que traduzem a memória coletiva: os documentos e os monumentos. O autor
entende que o que sobrevive como documento é escolha das forças que estão no
controle do desenvolvimento do mundo, do homem e também dos historiadores.

Segundo Le Goff (1996), os monumentos são heranças do passado, já os


documentos são escolha do historiador. Ele aponta que o monumento, desde a
antiguidade, tende a ser uma obra comemorativa de arquitetura ou escritura ou, uma
recordação em decorrência da morte de uma pessoa. Mas, para este autor, a
característica principal de um monumento é o poder de perpetuar a memória coletiva de
sociedades históricas e o interpretar como testemunhos.

Já o documento, que é o fundamento do fato histórico, entre os séculos XIX e


XX, segundo Le Goff (1996), apresenta-se por si só como prova histórica, é mais
objetivo e afirma-se como testemunho escrito. De acordo com o autor, o historiador
deve retirar dos documentos o que eles contêm, sem ideias pré-concebidas, mantendo-se
fidedigno aos textos.

Le Goff (1996) acredita, então, em um triunfo do documento sobre o


monumento. Mas houve a necessidade de não restringi-lo a textos escritos e ampliar esta
noção para outros veículos de transmissão do conhecimento histórico. Surge, portanto,
uma revolução documental. Nesta revolução, a memória coletiva e a história se
interessa por todos os homens e não apenas por uma parcela deles.

Segundo Le Goff (1996), ao mesmo tempo se produziu uma revolução


tecnológica, que ao confluir com a primeira, gera a história quantitativa, pondo
novamente em questão a noção de documento. Agora, seu valor, é relativo e se torna o
objetivo dos historiadores. A revolução tecnológica conseguiu dividir a história em uma
idade pré-estatística e outra quantitativa.

De acordo com o autor, já era de entendimento comum que o documento provém


de causas humanas. No entanto, foi preciso distinguir monumentos linguísticos de
simples documentos. Os primeiros, segundo Le Goff (1996) respondem ao propósito de
edificação moral/material, enquanto os segundos respondem a necessidades mediatas e
imediatas de comunicação.

Neste sentido, um documento pode vir a ser monumento, ao ampliar seus


propósitos, ao ser utilizado pelo poder. No entanto, para Le Goff (1996), ao estar ciente
disto, o historiador não deve se desviar do seu objetivo crítico:

[...] o documento não é qualquer coisa que fica por conta do


passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as
relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do
documento enquanto monumento permite à memória coletiva
recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com
pleno conhecimento de causa. (LE GOFF, 1996, p. 470).

O autor aponta que, ao analisar o documento enquanto monumento, o historiador


necessita isolar os elementos, reagrupar, observar sua pertinência, relacionar com outros
conhecimentos e outros fatos históricos. Esses elementos assumem papel decisivo na
apreensão e compreensão dos acontecimentos.

Segundo Le Goff (1996), o historiador, ao escolher um documento, atribui-lhe


valor de testemunho, resgata “[...] o resultado de uma montagem,
consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziu, mas
também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver [...]”. (LE GOFF,
1996, p. 472).

Para o autor, é preciso desmistificar o significado aparente, porque o documento


é também um monumento, faz parte de um conjunto de monumentos, é resultado dos
esforços de uma sociedade em tentar criar uma imagem de si próprias para o futuro.
Deste modo, o autor defende, que este novo documento, oriundo da confluência entre
duas revoluções, deve ser tratado como documento/monumento e que deve sair do
campo da memória para o da ciência histórica.

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