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DE 9 A 12 DE OUTUBRO
Abstract: This research aims to identify the contribution of music and dance of gaucho folk for the
construction of sul-rio-grandense cultural identity in contemporary society, from analyzes of relations
experienced in the Invernadas Artistic of Student Cultural Traditionalists Departments (DTCEs) Santa
Maria city (RS). The research approach is qualitative and the method used is the phenomenological.
Regarding the methodological procedures, in addition to literature review, informal talks were used
prioritizing discussion groups related to the interaction and daily experiences. The work in the Artistic
Invernadas contributes to cultural preservation, to consolidate the knowledge and experiences of
traditionalists which value, in contemporary times, the of sul-rio-grandense culture.
1 – Introdução
A Geografia Cultural adquiriu expressividade a partir da década de 1970,
privilegiando, em seus estudos, a imaterialidade da cultura, com a denominação de
Geografia Cultural Renovada, a qual resgata e amplia as bases epistemológicas
desenvolvidas pela geografia cultural de Sauer e dos geógrafos europeus. Amplia,
também, o temário de estudo, incluindo em suas análises a dimensão não-material
da cultura (CORRÊA, 1998). Neste sentido, o estudo do espaço geográfico, a partir
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- Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa
Maria – UFSM, nível de mestrado. E-mail de contato: dctl1@hotmail.com
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Docente do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria –
UFSM.E-mail de contato: meribezzi@yahoo.com.br
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dos aspectos culturais, revela que a prática de diferentes tradições interfere nas
singularidades espaciais.
Essa manifestação ocorre através do patrimônio material (histórico,
arqueológico, bibliográfico, entre outros) e dos imateriais (literários, musicais,
lúdicos, religiosos e outros comportamentos da vida social). Estes patrimônios e/ou
códigos culturais estão enraizados no cotidiano de determinada comunidade, bem
como, proporcionam um sentimento de pertencimento sociocultural.
Os códigos culturais contribuem na construção de identidades, estabelecendo
o sentimento de pertencimento sociocultural a um específico recorte espacial. Neste
sentido, a identidade cultural pode ser entendida como o “[...] conjunto dos
repertórios de ação, de língua e de cultura que permitem a uma pessoa reconhecer
sua vinculação a certo grupo social e identificar-se com ele” (WARNIER, 2003, p.
16), uma vez que a construção da identidade cultural manifesta no compartilhamento
de relações sociais, históricas e simbólicas, que compõem as práticas culturais de
um determinado grupo social, influenciando na nossa formação, no modo de agir e
de pensar, conferindo, a este grupo social, sua identidade e particularidades
locais/regionais.
No Rio Grande do Sul, existem diversos códigos culturais que identificam o
gaúcho, entre eles salientam-se os valores morais, a religiosidade, o artesanato, a
culinária, a vestimenta, a lida campeira, a música, entre outras. Dentre estes códigos
gaúchos, pode-se destacar a influência da música e da dança folclórica na
construção da identidade cultural. Ambos os códigos constituem-se em um
importante campo de pesquisa para a Geografia Cultural, pois possuem uma
dimensão imaterial, formada em diferentes contextos e que se difundiram no tempo-
espaço.
Desta maneira, objetivou-se identificar a contribuição da música e da dança
folclórica gaúcha para a construção da identidade cultural sul-rio-grandense na
contemporaneidade, a partir de análises das relações vivenciadas nas Invernadas
Artísticas dos Departamentos Tradicionalistas Culturais Estudantis (DTCEs) de
Santa Maria (RS), assim como, compreender a função social destas entidades na
preservação da cultura gaúcha.
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2 – Desenvolvimento
O Rio Grande do Sul foi colonizado por diferentes grupos étnicos, que
trouxeram consigo as suas características culturais e foram introduzindo-as nos
povos que aqui viviam. A vivência destes diferentes grupos étnicos propiciou a
consolidação da cultura gaúcha, diferenciando-a dos países vizinhos – Argentina e
Uruguai – tornando-a única no contexto mundial. O Rio Grande do Sul estabeleceu-
se culturalmente através da ação humana que ocupou e organizou o território
gaúcho até o século passado. Primeiramente, influenciada pela cultura indígena
(Jês, Pampianos e Guaranis) e, posteriormente, pelos colonizadores portugueses e
espanhóis, assim como pelos escravos e pelos imigrantes, principalmente os
açorianos, os alemães e os italianos.
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antigas danças brasileiras e das trazidas pelos imigrantes europeus, sendo que no
Rio Grande do Sul “agaucharam-se”, adquirindo duas características marcantes do
gaúcho: a teatralidade e o respeito à mulher (OURIQUE et. al, 2010).
A teatralidade refere-se às habilidades campeiras do gaúcho, evidenciada
pelos movimentos livres e largos na lida com o gado xucro, no tiro de laço, na doma;
e pela destreza e habilidade nas guerras. “Se o gaúcho é teatral em seu trabalho
campeiro, se o gaúcho grita e exulta na hora da avançada ou no entrechoque da
cavalaria, por que agirá diversamente na hora de se divertir, de bailar, de mostrar
seu donaire3 à gauchita?” (CÔRTES, 1987, p. 63). Neste sentido, os bailes
revestem-se de expressões contagiantes, uma vez que os gaúchos, na atualidade
representados pelos peões das Invernadas Artísticas, procuram mostrar que são os
melhores sapateadores, recitam os versos mais criativos e enfeitam seus passos de
danças com variações difíceis e peculiares.
O respeito à mulher é o modo cortês que o gaúcho referencia as prendas, ou
seja, os bailes gauchescos envolveram-se em um clima de respeito e moralidade.
“Com o advento das danças em conjunto, tornou-se comum o costume dos gaúchos
tomarem nas mãos um lencinho (que estava no bolso ou preso a guaiaca) no
momento de convidarem as moças para a dança” (CÔRTES, 1987, p. 59). Esse
gesto respeitoso perdura até nossos dias, sendo interpretado nas danças folclóricas,
como a quero-mana, o pezinho e o xote inglês.
As músicas e as danças folclóricas gaúchas possuem características
peculiares dos colonizadores e dos imigrantes que se inseriram no estado, tornando
estes códigos culturais as principais formas de expressão cultural sul-rio-grandense.
A mais antiga representação musical gaúcha é o fandango. Conforme Côrtes; Lessa
(1961, p. 3) chamou-se “Fandango”, no antigo Rio Grande do Sul, a uma série de
cantigas entremeadas de sapateios.
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Atitude de graça e gentileza.
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de ensino. Na cidade de Santa Maria (RS) existem dois DTCEs, o Marcas do Pampa
e o Alma Gaúcha (figura 1).
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3 – Metodologia
O presente estudo começou a ser realizado no ano de 2015, impulsionado
pela inquietação e pela necessidade em compreender a construção da identidade
cultural nos DTCEs, visto que a cultura e o folclore do estado gaúcho são um legado
vivenciado especialmente nas entidades tradicionalistas.
Assim, a presente pesquisa é de natureza qualitativa quanto à forma de
abordagem que, segundo Minayo (2008), responde a questões muito particulares e
trabalha com um universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das
crenças, dos valores e das atitudes. O método empregado é o fenomenológico, uma
vez que foi considerada a percepção e a experiência manifestada pelos indivíduos
que convivem com os espaços de análise (DTCE Marcas do Pampa e o DTCE Alma
Gaúcha).
Em relação aos procedimentos metodológicos, além da revisão bibliográfica,
foram utilizadas conversas informais, com as patronagens dos DTCEs, com os pais
dos dançarinos (das invernadas mirim e juvenil) e com os corégrafos. Realizar-se-á,
no segundo semestre de 2015, entrevistas com os dançarinos. Para debater com os
dançarinos será priorizando discussões em grupos relacionadas à interação e
vivências cotidianas. Para isso, será necessária dispor de um roteiro de debate,
composto por questões que guiaram a discussão, a fim de encorajar os participantes
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4 – Resultados
Como o presente estudo ainda está em fase de desenvolvimento, será
apresentado resultados preliminares, baseada nos diálogos estabelecidos com as
patronagens, com os pais e com os coreógrafos (do DTCE Marcas do Pampa), bem
como, das observações realizadas nas invernadas artísticas durante a visitação dos
ensaios.
O DTCE Marcas do Pampa apresenta um perfil de dançarinos diferenciados,
pois em sua maioria, são carentes e necessitam de doações para permanecerem
atuantes nas invernadas.
Aqui no Marcas a maior dificuldade de manter as crianças participando nos
grupos de danças é a financeira, pois eles são muito carentes. Entretanto,
os pais atuam ativamente com a patronagem buscando patrocínios e
realizando rifas, risotos para que seus filhos permaneçam aqui. Os pais
entendem que é melhor para seus filhos estarem dentro do DTCE, para
estarem escutando música, dançando e participando da invernada, do que
estarem na rua (Depoimento A).
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5 – Conclusão
Este estudo teve como foco a construção de identidades culturais nos
Departamentos Tradicionalistas Culturais Estudantis de Santa Maria (RS) e a função
social destas entidades. Neste sentido, percebeu-se o envolvimento comprometido
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6 – Referências Bibliográficas
BRUN NETO, Helena; BEZZI, Meri Lourdes. Regiões culturais: a construção de
identidades culturais no Rio Grande Do Sul e sua manifestação na paisagem
gaúcha. Sociedade e Natureza (Uberlândia. Online), vol. 20, n. 2, p.135 - 155,
2008.
CÔRTES, João Carlos Paixão; LESSA, Barbosa. Manual de danças gaúchas: com
suplemento musical e ilustrativo. São Paulo: Irmãos Vitali S/A, 1961.
CÔRTES, João Carlos Paixão. O gaúcho: danças, trajes e artesanato. Porto Alegre:
Garatuja, 1987.
KONG, Lily. Música popular nas análises geográficas In: CÔRREA, Roberto Lobato;
ROSENDAHL, Zeny (orgs.). Cinema, música e espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ,
2009, p. 129-175.
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