O setor bancário desempenha um papel central no funcionamento da economia e é ex-
tremamente concentrado: em muitos países, a parcela de ativos mantidos pelos cinco maiores bancos é de cerca de 80%. Além disso, na última década, o grau de concentração do mercado aumentou. Apesar da importância dos bancos e do potencial efeito da con- corrência bancária na economia, o entendimento sobre os efeitos da concorrência bancária ainda é limitado. Um dos principais motivos é que o grau de concorrência bancária é endógeno às condições do mercado. Neste artigo, são encontradas evidências dos efeitos causais da concorrência bancária sobre o custo do crédito e a atividade econômica. Para tanto, são considerados episódios de fusões e aquisições (F&A) de grandes bancos no Brasil como fonte de variação exógena na competição local e são exploradas exposições heterogêneas a esses episódios de F&A nos municípios. São utilizados dados administrativos detalhados sobre empréstimos e empresas e emprega-se uma estratégia empírica de diferenças-em-diferenças que compara as mudanças nos resultados dos mercados afetados ou não pelos episódios de F&A. Primeiramente, o artigo demonstra que uma redução na concorrência bancária au- menta os spreads dos empréstimos (diferença entre as taxas de empréstimo e de depósito) e diminui o volume do crédito, tudo considerado em termos relativos. A diminuição no volume ocorre integralmente por meio da margem extensiva - ou seja, menos empréstimos em equilíbrio e não empréstimos com valores mais baixos. Em seguida, o artigo docu- menta que esses efeitos nos mercados de crédito repercutem na economia real, fornecendo evidências de que eventos de F&A no setor bancário são relevantes para a economia real. Propõe-se também um modelo simples de concorrência bancária e mostra-se que a semielasticidade da demanda por crédito é uma estatística suficiente para o efeito da concorrência nos spreads e do efeito dos spreads no produto. Utilizando-se do instrumento de F&A, estima-se a semielasticidade da demanda por crédito em torno de 3. Entre outros contrafactuais, o artigo mostra que, se a concorrência bancária aumentasse e os spreads brasileiros caíssem para os níveis mundiais, o produto aumentaria em aproximadamente 5%.