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4.2. CONCEITOS BASICOS Para tfaciitar 0 estudo de segdes submetidas a tlexdio composta normal ou obli- qua, 6 importante revanitular aigumas definigdes e hipdteses basicas do calculo flexdo simples, bem como os dominios de deformagao no estado limite ultimo, ja descritos no capitulo 3 de CARVALHO e FIGUEIREDO FILHO [2007] 4.2.1. Sefinigdes fundamentais Considerando, simplificadamente, que a armadura empregada ser sempre si- métrica em relagao ao eixo perpendicular ao momento (pelo menos um eixo de simetria), pode-se definir, para as segdes retangulares: * Flexo normal: é preciso existir ao menos um eixo de simetria na seg4o transver- sal (tanto para segao de conereto quanto de armadura) e o plano do carrega- mento deve conter esse eixo, Flexao compasta normal: corresponde a mesma situagao anterior, considerando a existéncia de uma forca normal atuante. Flexo obliqua: ocorre em segdes assimétricas e em segdes simétricas quando 0 plano do carregamento nao contém nenhum dos eixos de simetria. Flexao composta obliqua: a mesma situagao anterior, considerando a existéncia de uma forga normal atuante. Outras definigSes sao importantes para um melhor entendimento do assunto. Solicitagdes normais: so os esforcos solicitantes que produzem tensdes normais (de tragdo ou de compressao) nas segdes transversais das pecas estruturais; englobam (© momento fletor e a forca normal. Podem ser: tragao centrada, compressaio centra- da, flexao normal simples, flexéio normal composta, flexdo obliqua simples e flexdo obliqua composia. A flexéo normal (simples ou composta) 6 também chamada de flexdo rela, pois o plano do momento fletor é perpendicular a linha neutra. an 272 Tragdo ou compressao entrada: ocorre quando age apenas forga normal, aplica- da no centro de gravidade (CG) da segao transversal. Na pratica essa situagao 6 rara, pois ndo se pode garantir que a forca esteja agindo exatamente nd ca; sempre havera excentricidades, como sera visto no estudo de pilares. = Linha Neutra IL? ,. 32 reta em que todos os pontos tém tensdo nula; 0 conheci- mento da sua posigao conduz a solucao do problema. 4.2.” slip: -ases bdsicas para 0 calculo de vegas flsiidas As hipoteses para 0 cAlculo no estado limite ultimo estéo no item 4.1.1.1 da NBR 6118:2003, tendo como principio basico desconsiderar a resisténcia do con- creto a tragao: a) As segdes transversais permanecem planas apds 0 inicio da deformagao e até o estado limite Ultimo; as deformagdes sao, em cada ponto, proporcionais & sua distancia a linha neutra da segao (hipétese de Bernoulli b) Solidariadade dos materials: admite-se solidariedade perfeita entre o concreto ¢ a armadura; a deformagdo espectfica de uma barra da armadura é igual & do concreto adjace ) Aruina da segdo transversal para qualquer tipo de flexéo no estado limite altima fica caracterizada quando 0 ago, 0 concreto ou ambos atingem suas deformagdes especiticas titimas. Encurtamentos dltimos (méximos) do concrete: no estado limite uitimo, o encurta- mento especifico de ruptura do concreto vale _, =3,5:10° (3,5%e) nas segGes nao inteiramente comprimidas (flexéo); +g = 2,010" (2,0%e) a 3,510? (3,5%s) nas segdes intelramente comprimidas. Alongamento dltimo das armaduras: o alongamento maximo permitido na armadura tracionada é: + «4, = 10,0510? (10,0%e) para prevenir deformagao plastica excessiva. d) Admite-se que a distribuigdo de tensdes no concreto seja feita de acordo com o diagra~ ma pardbola-retangulo da Figura 4.6, com base no diagrama tens4o-deformacao simplificado do concreto (NBR 6118:2003, item 8.2.4); permite-se a substituigad do diagrama pardbola-retangulo por um retangulo de altura 0,8-x (x é a profun- didade da linha neutra), com as seguintes tens6es: * 0,85: f, =0,85-f 'y, — zonas comprimidas de largura constante ou cres- cente no sentido das fibras mais comprimidas, a partir da linha neutra; + 0,80: f, =0,80- f,, /7, > zones comprimidas de largura iecrescente no sen- tido das fibras mais comprimidas, a partir da linha neutra O.85feda 0,85 fed, 0,80f¢q Figura 4.7. Diagramas de tensdes no ago. 273 274 4.2.8. Dominics \* detormagao Conforme ja explicitado, a fuina da segao transversal para qualquer tipa de fle- xG0 no estado limite Ultimo fica caracterizada pelas deformiacdes especificas de clculo do conereto e do ago, que atingem (uma delas ou ambas) 0s valores tltimes (maximos) das deformagGes especiticas desses materiais. Os conjuntos de deformagées especiticas do concreto ¢ do ago, ao longo de uma seg transversal retangular com armadura simples (s6 tracionada) submetida a solicitagdes normais, definem seis dominios de deformacao esquematizados na fi- gura 4.8, Os dominios representam as diversas possibilidades de ruina da seco; a cada par de deformacdes espectficas de célculo ¢,, € c,, Correspondem um esforgo normal, se existir, e um momento fletor atuante na seg, caracterizando situagdes desde tragao uniforme até compressao uniforme. Figura 4.8. Dominios de deformagdo em uma seca transversal (adaotardo da Figura 17.1 da NBR 6118:2003). Para determinar a resisténcia de cdlculo de uma dada se¢do transversal, 6 pre- ciso saber em qual dominio esta situado 0 diagrama de deformacées especificas de calculo dos materiais. A reta “a” e os dominios 1 e 2 correspondem ao estado limite ultimo por deformagao plastica excessiva (ago com o maximo alongamento permitido); os dominios 3, 4, 4a, 5 e reta “b” correspondem ao estado limite Ultimo por ruptura do concreto. Reta a: tragdo uniforme, com e, ='10%e, ¢, = 10%e; X -+ —» (a resultante das ten- sdes ala no cents de gravidade da armadura — todas as fibras tam a mesma deformagao de trag&o) Dominio 1: tragao nao-uniforme, sem compressao (tragao com pequena excentri- cidade — as deformagées de tragao sao diferentes em cada fibra) * Inicio: e, = 10% © ¢, 10% @ €,=0; x,=0; 10%; X + 20) * Término: «, Estado limite ultimo caracterizado pela deformagao &, = 10%e; A linha neutra é externa a segao transversal Dominio 2: Flexo simples ou composta (traco ou compressao com grande ex- centricidade) sem runtura do concreto & compressao (e, < 3,5%s) € 0 ago com 0 maximo alongamento permitido: * Inicio: ¢, ="10% @ 6, =0:x, = 0; * Término: ¢,= 10% © 6, = 35%: 2 = 0,259-d; * Estado limite ultimo caracterizado pela deformagao £, = 10%o; * Allinha neutra corta a seco transversal (tragao e compressao); * Oconcreto é mal aproveitado, pois sua deformagao é menor que a de ruptura. Dominio 3: Flexo simples (segao subarmada) ou composta (tragao ou compres- sao com grande excentricidade) com ruptura do concreto a compressao @ com escoamento do ago (6, /¢,,): + Inicio: 6, = 10% © » ~ 3.5%. 0,259-d; €4q (deformagao especifica de inicio de escoamento do ago) € = 85%: X=x, 275 * Alinha neutra corta a segao transversal (!ragao e compressao): na fronteira entre : ios 3 - 4, sua altura (x = x,) 6 varidvel com 0 tipo de ago; ‘os domi * Aruina se da com aviso (grandes deformagées ¢ fissuragae significativa); ° * Tanto o concreto quanto 0 ago sao bem aproveitados; 0 concreto encontra-se na ruptura e 0 ago tracionado, no patamar de escoamento. Dominio 4: flexdo simples (segao superarmada) ou composta (compresséio com grande excentricidade) com ruptura do concreto comprassao € ago tracionado sem escoamento (e, <¢,,): * Inicio: ¢,=«,, € €,= 3.5%! X =X, + Término:e,=0 © ¢,=3,5%o: x= + Estado limite Ultimo caracterizado por e, = 3,5%e (deformagao de ruptura do conereto); A linha neutra corta a sego transversal (tragao e compressa); Aruptura é fragil, sem aviso, pois 0 concreto se rompe sem que a armadura atin- ja sua deformagao de escoamento (nao ha grandes deformagdes do ago nem fissuracdo signiticativa do concreto, que sirvam de adverténcia); O conereto 6 bem aproveitado, pois se encontra na ruptura, mas 0 ago nao, pois sua deformagao é menor que a de inicio de escoamento. Dominio 4a: flexdo composta com ruptura do cancreto & compresso (, = 3,5%e) com armaduras comprimidas: * Inicio: 6, = 0 @ 6, = 3,5%e: x =x, =d; =(1-d/h) 3.5%. @ &, = 3,5%0:X=X,,=h; ‘Término: Estado limite uitimo caracterizado por.¢, = 3,5%e (deformagao de ruptura do conereto); 276 A linha neutra corta a segao transversal (entre de h); * O.ago da armadiure manos comprimida é mal aproveitado, pois sua deformacéo 6 muito pequena : Dominio 5: compressao nao-uniforme, sem tragao (compresséio com pequena ex- Centricidade), com ruptura do conereto e encurtamento da armadura (nao ha fissu- ragao nem deformagao que sirvam de adverténcia, caracterizando ruptura fragil) * Inicio: ¢, = (1 ~ d/h) 3,5% (compressa) e ¢, 3,5: x =X, * Tétmino: &, = 2,0%s (compressao), a= ,O%e: X = Xz (Xj + 40); * Estado limite wiltimo caracterizado por ¢, variando de 3.5% (para x = (na compressao uniforme); 1) & 2.0% * OQ ponto C (figura 4.8) esta distante (3/7) h da borda mais comprimida; * Alinha neutra nao corta a segao transversal, que esta inteiramente comprimida. Rela b: compressao uniforme com e, = 2 %e, 6, =2 Ket X= Xs (iy + 40), Flesumindo, a partir da caracteristica de cada um dos dominios, é possivel ocor- Ferem as seguintes situagdes, conforme esquematizado na Figura 4.9 (adota-se: compressa -> sinal positivo; tragao -> sinal negativo): * flexocompresséio: dominios 2, 3, 4, 4a ¢ 5; - “ata dominios 1, 2, 3 ¢ 4; 27 278 © © / texo-compreasto f+ dominion: 2, 3, 4, 40, 5 Nexo-ragto + dominios: 1, 2, 3, 4 e| fe Ha ‘rag unitorme I> |o + rota a Me ‘compressso uniforme ® = retab Figura 4.9. Casos possivels de solcitag6es normais e dominios correspondentes. 4.3. FLEXAG (i: MPOSTA NORMAL (FLEXAO RETA) Como jé visto, a tlexdo normal composta caracteriza-se pela ago simulténea de uma forga normal © um momento fletor, cujo plano de ago é perpendicular (vetor seta dupla) a um eixo de simietria da segao. Seja uma segdo transversal genérica (Figura 4.10), em que y é um eixo prin- cipal de inéroia (em geral, de simetria) e as armaduras A, e A, estdo dispostas simetricamente a este eixo. Considerando-se na seco os valores possiveis das deformacées especificas do concreto (¢,) e do ago (¢,), relativos aos diversos domi- nios de deformagdo, podem ser determinados os valores dos esforgos resistentes de célculo N, e M,. E possivel entao fazer um grafico de Ng xMg, resultando em uma curva que tem forma similar 4 da apresentada na Figura 4.10. Para uma dada quantidade de .madura, a cada par (c,, ¢,) corresponde um Unico par de esforcos resistentes (N,, M,)

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