DEDICATÓRIA

Dízimo — tenho mesmo que devolver?

Copyright 2022 Autor da Fé Editora
Categoria: Vida cristã

Primeira e Segunda edição — 2020

Terceira edição — 2021
Quarta edição — 2022
Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução total ou Ao Espírito Santo, meu íntimo e melhor amigo. Eu o
parcial sem a permissão
escrita dos editores.
amo com todas as minhas forças.
Aos meus queridos pais, José Alves dos Santos (In me-
Autor: Francisco Alves moriam) e Maria Trindade Alves de Oliveira (In memoriam),
Projeto gráfico e editorial: Autor da Fé Editora meus maiores exemplos de honestidade, humildade,
simplicidade, amor ao próximo e dignidade.
Coordenação editorial: Filipe Mouzinho
Para sempre vos amarei!
A Editora Autor da Fé informa que o conteúdo dos textos,
incluindo as ideias, opiniões e conceitos publicados, é de
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EDITORA AUTOR DA FÉ
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 AGRADECIMENTOS

Às vezes, Deus nos detém simplesmente para extrair o

melhor de nós. Afirmo isso porque estou registrando essa
gratidão em maio de 2020, em meio a maior crise das úl-
timas gerações. Toda a vida diária da população mundial
foi afetada com o coronavírus e consequentemente a mi-
nha rotina também foi alterada. Após dias trancado em
casa, sendo a maior parte desse tempo no quarto lendo a
Bíblia e orando, senti no meu coração uma confirmação
divina para escrever. Foram muitos dias escrevendo: mui-
tas vezes iniciando ao meio dia e terminando às seis da
manhã, sempre com interrupções para orar um pouco,
pedir graça e assim continuar. Em abril, finalizei o livro
“Oração – Uma fonte de intimidade com Deus”, e neste
momento finalizo outro sobre dízimos. Meu coração
transborda de alegria pela oportunidade de ser útil à
igreja do Senhor.
 Gratidão também ao meu pastor Adeilson Sales pelos
ensinamentos, amizade e companheirismo. É uma honra
e um privilégio muito grande ser pastoreado por alguém
com o coração tão sensível à presença do Espírito Santo.
PREFÁCIO
Não poderia deixar de registrar a gratidão que tenho
à minha família e aos amigos que Deus me deu a alegria e
honra de conhecer tanto aqui no Brasil como em diversos
países do mundo. Vocês são verdadeiras dádivas de Deus
na minha vida.

Deus abençoe a todos! É com muita honra e alegria que apresento a vocês
esta obra ímpar, do meu querido amigo, pastor Francisco
Alves — uma das maiores autoridades que conheço no
assunto dízimos e ofertas — que trata o tema embasado
na Bíblia Sagrada, com uma visão clara, de fácil com-
preensão e aplicabilidade. Suas orientações têm ajudado
milhares de cristãos a encontrarem o caminho para serem
abençoados por meio da honra, aprendendo a honrar a
Deus com os seus dízimos e ofertas. Pastor Francisco é
pastor auxiliar da nossa igreja — Assembleia de Deus
Ministério de Madureira no Amazonas — companheiro
e grande amigo, e posso testificar sobre o resultado das
suas orientações bíblicas com diversos testemunhos de
membros e congregados.
Tenho certeza de que este livro irá ampliar a sua
visão no entendimento acerca de dízimos e ofertas, como
também trará muitas bênçãos para sua vida, sua casa e
sua família!
Leia, desfrute do melhor desta terra aprendendo a
honrar a Deus!
APRESENTAÇÃO
Adeilson Sales
Presidente da Catedral de Madureira em Manaus e da Convenção
das Assembleias de Deus de Madureira no Amazonas

UMA VISÃO JUDAICA SOBRE O DÍZIMO

A natureza é um dos fenômenos que revela segredos e
princípios extraordinários para o sucesso. Por exemplo: as
árvores se sustentam mesmo passando pela mudança das
quatro estações, pois elas conseguem fluir suas virtudes atra-
vés de cada etapa; e não é à toa que o rei David, aquele que
selou a aliança da adoração com o povo de Israel, passava
horas do seu tempo se conhecendo através dos movimentos
comportamentais, e até vemos em Salmos ele admirando as
árvores do campo, estrelas e as aves do céu. Existe um gran-
de segredo em tudo isso. Elas andam em sintonia com a sua
natureza e os princípios, pois querendo ou não todos estão
conectados e nós temos o privilégio de possuir segredos que
já foram revelados através dos patriarcas que enfrentaram
os seus processos sendo fiéis a cada etapa. Existe um código
abraâmico que diz que o segredo do fazer, realizar, criar
e conquistar está na sua fidelidade com a contribuição; e
no conhecimento do povo de Israel temos a consciência de
que para produzir da forma correta temos que contribuir,
pois sem contribuição não haverá multiplicação, e para
conhecermos a Deus em verdade temos que cumprir nosso
propósito de servir; quem não está pronto para servir a Ele,
não pode conhecer a si mesmo porque isso é fundamental
na nossa jornada para chegarmos a Deus, saber quem nós
somos e alinhar nosso propósito para possuir as promessas,
visto que a promessa sem o propósito morre.
O “maaser” – que você conhece como “dízimo” – é
um dos princípios fundamentais para o desenvolvimento
da nossa natureza de servir e reconhecer Deus como
Senhor das nossas vidas.
Hoje, eu te convido a fluir seus sonhos baseados nesses
princípios e você jamais será a mesma pessoa, porquanto
não se conhece Deus através dos líderes religiosos; só
conhecemos verdadeiramente a Deus quando vivemos
nossa própria experiência com Ele, e esse princípio nos
dá acesso a esse relacionamento. O verdadeiro príncipe
cumpre o seu propósito pelo prazer de adoração ao seu
Criador e não pela culpa ou necessidade.
Todas as vezes que você chegar a algum pobre e
miserável com as mãos cheias, você estará curando outro
pobre e miserável que vive aí dentro de você; cada vez
que você contribuir no reino conhecerá mais de ti e mais
de Deus. Hoje, eu sei qual é um dos segredos da bênção
de Deus sobre a minha vida: é o “maaser”, o “dízimo”.
Sempre que cumpro com esse princípio reconheço
a soberania de Deus e ao mesmo tempo me estabeleço
como um grande produtor de riquezas para abençoar
outras vidas.
Está sendo revelado para você um código hebraico
que será mais do que suficiente para te tirar da escassez
e te fazer abundar, o código hebraico que dá origem à
palavra “maaser” ou “dízimo”, cujo nome tem o mesmo
significado.
Em sua raiz, temos o termo “issaron” que significa “a
décima parte”; também o termo “esser” que significa “dez”
e o termo “assar” que significa dar a décima parte; na raiz
anterior, temos nesta palavra um termo muito interessante
que é “assa” que significa “fazer”, fabricar e realizar. E
também a “ma´aseh” que significa “feito, obra”.
Agradeço a oportunidade de participar deste projeto
e ao mesmo tempo parabenizo o meu amigo, pastor Fran-
cisco Alves, por esta obra que, com certeza, irá abençoar
a vida de milhares de pessoas.
Marcos Cohen
Jerusalém – Israel, maio de 2020
 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................15 CAPÍTULO 7
MAASER ANI (DÍZIMO DO CARENTE) �����������65
CAPÍTULO 1
CONHECENDO O DONO DO CAPÍTULO 8
MEU CORAÇÃO.........................................................17 ABRAÃO: UM HOMEM ALÉM
DO SEU TEMPO........................................................69
CAPÍTULO 2
UMA BREVE VISÃO DO DÍZIMO CAPÍTULO 9
EM NOSSOS DIAS...................................................25 O DÍZIMO DE ABRAÃO.........................................79

CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 10
ESMOLAS....................................................................33 DÍZIMO DOS DÍZIMOS .......................................85

CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 11
OFERTAS.................................................................... 43 DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO....................91

CAPÍTULO 5 CAPÍTULO 12
MAASER RISHON (PRIMEIRO DÍZIMO) �������57 E VOS ABRIREI AS JANELAS DO CÉU... ��������99

CAPÍTULO 6 BIBLIOGRAFIA..................................................... 109

MAASER SHENI (SEGUNDO DÍZIMO) �����������61
 INTRODUÇÃO

O
assunto abordado neste livro é um dos mais po-
lêmicos de toda a Bíblia Sagrada. A cada dia
crescem as dúvidas, os questionamentos e até
ofensas contra pastores em redes sociais, sempre tendo
como pano de fundo o dízimo. O argumento é sempre o
mesmo: estão trazendo uma prática do antigo testamento
apenas para arrancar dinheiro do povo!
Sabemos que em toda essa guerra de informações,
muitos pastores foram contribuintes para acirrar ainda
mais os ânimos: cobrando, exigindo, ameaçando e até
alterando o percentual dessa contribuição de dez para
vinte por cento.
Em meio a tudo isso, vários grupos têm surgido no
meio cristão. Muitos não devolvem o dízimo porque não
creem em nada que está na Bíblia; são pessoas que não
professam a nossa fé e o veem como um bom argumento
para justificar a sua incredulidade e dureza de coração,
outros não devolvem porque acreditam que isto diz

15
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
respeito somente à lei e por estarem na graça se sentem
desobrigados, tem outros que até devolvem, mas fazem
isso não por entender sobre o assunto, e sim porque se
sentem pressionados, e nesses grupos ainda tem aqueles
que devolvem sem ser cobrados, que o fazem pela fé, ou
seja, sem entender também aquilo que estão fazendo e,
por fim, uns poucos que devolvem sabendo exatamente o
que estão fazendo.
Todas essas situações acima me levaram a buscar
mais sobre esse assunto, sempre com muito cuidado para
não inventar ou criar nada; lendo, relendo, ouvindo,
pesquisando nos textos originais, na literatura judaica e,
acima de tudo, orando para que Deus iluminasse a minha
mente para explicar da melhor forma possível.
Este livro não tem por objetivo manipular os que estão
em dúvidas, dar razão aos que não creem e muito menos
forçar ninguém a nada. O objetivo é que você leia, com-
preenda e depois faça aquilo que o Senhor te direcionar.
Minha oração é que o Espírito Santo te guie nas
páginas deste livro, sempre te direcionando a fazer não
aquilo que você acha, e sim aquilo que Deus espera de
cada um de nós.
Boa leitura!
Francisco Alves
Manaus – Amazonas, inverno de 2020
16
CAPÍTULO 1
CONHECENDO O DONO DO MEU
CORAÇÃO
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e
amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis
servir a Deus e a Mamom.”
(Mateus 6:24)
O
maior perigo do dinheiro é que ele rouba com
muita facilidade o sentimento de dependência de
Deus. Nada testa mais o nosso coração e espiri-
tualidade do que o dinheiro.
Deus não precisa, nunca precisou e jamais precisará
de dinheiro. O ato de ofertar e dizimar na casa de Deus
nada mais é do que uma maneira de matar o Mamom
que tenta roubar o primeiro lugar no coração do homem.
Durante minha caminhada cristã, tenho percebido
que os cristãos que mais têm o coração quebrantado e
voltado para Deus são aqueles que mais ofertam e di-
zimam. A lógica é bem simples: quanto mais próximo
de Deus você estiver, mais desapegado de bens materiais
17
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
você estará. Não falo de negligência, relaxamento ou não
valorizar aquilo que você tem, mas me refiro a não ter
nenhum apego, apreço ou devoção pelas riquezas e ao
mesmo tempo amar a Deus de tal forma que isso gere
amor pela sua obra.
Muitos cristãos costumam dizer que o teste de fideli-
dade do homem é quando ele está na prova sem nenhum
recurso financeiro em que possa confiar; eu discordo desse
pensamento. Acredito que o nosso maior teste acontece
nos momentos de extrema fartura, pois a abundância
traz consigo a ociosidade, a confiança no próprio braço
e um perigoso sentimento de independência em relação
a Deus.
Deus jamais aceitou ficar em segundo lugar, e o texto
de Mateus 6:24 revela uma guerra interna pelo controle
do coração do homem. O dinheiro é um agente poderoso
a tal ponto que o maior inimigo de Deus não é o diabo,
mas Mamom, o “deus das riquezas”. O diabo é men-
cionado na Bíblia como nosso adversário (1 Pe 5:8), não
de Deus. No mundo espiritual, existe uma batalha pelo
controle do coração do homem, porque quem consegue
dominar o coração consegue dominar o corpo inteiro.
É por isso que Jesus falou tanto sobre dinheiro. Dezes-
seis das trinta e oito parábolas tratam de como lidar com
dinheiro e posses. Na verdade, Jesus Cristo falou mais
sobre dinheiro do que sobre quase todos os outros assun-
tos. Existe na Bíblia 500 versículos sobre oração, menos
18
FRANCISCO ALVES
de 500 sobre fé, porém, mais de 2.350 sobre dinheiro e
posses.1
O dicionário Strong traduz a palavra Mamom como
“tesouro, riqueza personificada e oposta a Deus”. Onde
existe amor ao dinheiro, com certeza haverá oposição a
Deus. Isso é uma guerra tão forte que em toda a Bíblia
o único inimigo que Deus chama de senhor é Mamom.
Esta palavra “senhor” no texto original é “kurios”, que
significa “supremacia, aquele a quem uma pessoa ou
coisa pertence e sobre o qual ele tem o poder de decisão;
mestre, soberano e aquele que tem o controle da pessoa”.
Certa vez, li uma notícia de um pai que matou a própria
filha por causa de uma dívida, e as últimas palavras da
filha foram: — Pai, eu te amo!
O amor ao dinheiro cega, domina e transforma o
homem, tornando-o em escravo e matando até mesmo o
amor que o pai sente pelo filho.
Na segunda metade do século XX, o americano
Jean Paul Getty era proprietário de 80% de todo o
petróleo do planeta, sendo na época o homem mais
rico do mundo. Esse bilionário teve 5 filhos. Um deles
morreu antes de completar 12 anos durante uma pe-
quena cirurgia. Getty soube do ocorrido quando estava
na Europa, porém, se recusou a voar de volta para os
EUA para o velório do filho porque tinha “negócios
mais importantes a resolver”.
1 DAYTON, Howard. O seu dinheiro. Editora Universidade da Família, São
Paulo, 2015.
19
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
Em 1973, sequestraram o seu neto de apenas 16 anos
de idade e, durante 5 meses, ele se recusou a pagar o
resgate pedido no valor de 17 milhões de dólares, pois
segundo ele “há poucas coisas na vida que valem o preço
que as pessoas cobram.” Sua posição só mudou quando
os sequestradores enviaram a Getty a orelha do seu neto
e reduziram o valor do resgate para 3 milhões de dólares.
No entanto, ele pagou apenas 2,2 milhões de dólares,
(valor máximo que poderia ser deduzido do imposto de
renda) e emprestou 800 mil para o seu filho (o pai da
criança sequestrada), a juros de 4% ao ano.
Quando o neto — após ser liberto — ligou para ele
a fim de agradecer pelo resgate, ele se negou a atender
porque ainda estava chateado com o dinheiro que tinha
gasto para resolver o problema.
Em seus últimos dias de vida, ele começou a sofrer de
fobias: tinha medo de voar de avião e de atender telefone
pelo motivo de que “algo poderia sair do fone.” Por fim,
os seus dias terminaram em junho de 1976, sozinho, com
seus cães e guarda-costas em uma mansão de 34 quartos
e 14 banheiros, na Inglaterra; sua família nunca o visitou
em vida nessa mansão, uma vez que o mesmo não os
convidava com receio de que lhe pedissem dinheiro.
A notícia da sua morte foi comentada dessa maneira
por um apresentador de TV: “O homem mais rico, mais
solitário, mais egoísta e mais miserável do mundo faleceu
hoje.”
20
FRANCISCO ALVES
Homens mesquinhos morrem sem deixar saudades,
visto que o amor ao dinheiro arranca todos os bons sen-
timentos que deveriam existir na alma, tais como: amor,
misericórdia, compaixão, generosidade e bondade. Isso
termina custando tão caro que até mesmo os membros
da família passam a ser meros conhecidos, sem nenhum
sentimento de amor entre ambos. A pior pobreza que
existe é a de alma, por isso existem pessoas que são tão
pobres que a única coisa que tem é dinheiro.
Servos de Mamom amam as coisas e usam as pessoas;
servos do Deus altíssimo amam as pessoas e usam as
coisas.
“Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso
coração.”
(Mateus 6:21)
O texto acima nos revela um princípio bem claro: o
coração do homem acompanha o seu investimento.
“Imagine uma pessoa que investe tudo quanto tem para
comprar o carro dos sonhos. Depois que compra aquele
carro, todo mês ela faz algo: põe insulfilme, põe um som
melhor, põe um puxador cromado, põe banco de cou-
ro… Todo mês você coloca um pouco do seu dinheiro
naquele carro. O que vai acontecer? Seu coração vai
ficar no carro e ele vai se tornar o alvo do seu cuidado,
da sua preocupação e do seu zelo. Daí você começa a
entender por que muita gente não tem o coração no
21
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER? FRANCISCO ALVES

reino de Deus. Porque este é o princípio: Onde estiver o nida de mão única e no caminho perceber que todos os
teu tesouro, ali estará também o teu coração. Se eu não carros estão no sentido contrário, isso não significa que a
coloco o meu dinheiro no Reino de Deus, meu coração
sinalização está errada. Ela continuará sendo mão única,
também não entra nele.”2
ainda que todos estejam no sentido contrário. Abusos
sempre existirão, mas o princípio sempre será o mesmo.
Quando ofertamos e dizimamos não estamos aben-
A Bíblia diz em Atos 19:12 que as pessoas levavam
çoando, ajudando ou socorrendo a obra de Deus, pois
os lenços e aventais de Paulo para os enfermos e estes
a obra de Deus já é abençoada. Na verdade, estamos
eram curados e libertos. Não há nenhuma ilegalidade em
ajudando a nós mesmos, blindando o nosso coração para
fazer hoje esse ato profético, porém muitos se apropriam
que Mamom não o domine e nos envolvendo ainda mais
desse texto para usá-lo com a intenção simplesmente de
no reino de Deus. Quanto mais você investir, mais amor
arrancar dinheiro. Deus pode ver o mesmo ato de forma
pela obra do Senhor nascerá no seu coração.
diferente de acordo com a intenção de quem está fazen-
Quando vivemos debaixo da soberania de Deus,
do. Contudo, o fato de haver más intenções não anula
passamos a amá-lo acima de todas as coisas e o dinheiro
o poder de um ato profético, assim também como não
passa a ser nada mais que um servo. Todo cristão que
exclui o princípio de honrar a Deus com os nossos bens.
murmura contra ofertas e dízimos precisa urgentemente
Estamos vivendo hoje o tempo da graça, porém a
rever seus conceitos e pedir para que Deus liberte a sua
graça nos devolveu ao princípio; e desde do princípio o
vida; o cão late quando o seu dono é atacado, se você fica
lugar devido a Deus em nosso coração sempre foi o topo.
ofendido quando alguém toca no assunto de finanças na
igreja, é sinal que o dono do seu coração é Mamom.
Entendo que no decorrer da história e nos dias que
estamos vivendo, muitos exageros foram e continuam
sendo praticados em nome da fé. Muitos excessos foram
cometidos e esse assunto de finanças sempre foi usado de
forma abusiva para extorquir o povo visando unicamente
benefícios próprios. Mas o abuso de um princípio jamais
o anulará. Se eu estiver dirigindo um carro numa ave-

2 GUIMARÃES, Ricardo. O Valor da oferta diante de Deus. Promove Artes Gráfica

e Editora; Rio de Janeiro, 2013.

22 23
 CAPÍTULO 2

UMA BREVE VISÃO DO DÍZIMO

EM NOSSOS DIAS

“Poucas coisas testam mais profundamente a espiri-

tualidade de uma pessoa do que a maneira como ela
usa o dinheiro.”
(John Blanchard)

E
stamos vivendo um tempo de revolução digital, e,
consequentemente, esse processo tem atingido a
nossa vida cristã, com benefícios e malefícios. Se
de um lado podemos usar a tecnologia para nos comuni-
car, acessar bons estudos bíblicos, seminários e pregações,
por outro lado, temos a propagação de muitas heresias e
ataques a nossa doutrina e fé cristã. Ataques estes realiza-
dos tanto por pessoas que têm um conhecimento limita-
do e arriscam se aventurar em um campo desconhecido,
cumprindo assim a famosa palavra de “um cego guiando
outro cego”, como por pessoas mal intencionadas que se
aprofundam em um determinado assunto, não com in-
tenção de propagar a verdade, mas de deturpá-la para
usá-la de acordo com os seus caprichos e más intenções.

25
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
E como a internet é um campo muito aberto, terminou
dando voz a todos, inclusive para aqueles que não que-
rem se enquadrar no evangelho, e sim ajustá-lo de acordo
com as suas obras.
No meio de todo esse contexto, um dos assuntos mais
atacado é o dízimo. A cada dia aumenta o número da-
queles que não concordam porque acham que isso é um
mandamento da lei de Moisés, exclusivo para os judeus
da época, e que o ensino sobre esse assunto nas igrejas
nada mais é do que uma manipulação dos pastores para
extorquir as suas ovelhas. Já outros, movidos por um
espírito de filantropia — não é errado ajudar aos neces-
sitados, desde que seja com o recurso correto — evitam
dizimar na igreja e revertem os dez por cento dos seus
ganhos em cestas básicas para os mais pobres. E ainda te-
mos um terceiro grupo que além de não praticar o dízimo
ainda tentam desestimular os que praticam, numa clara
tentativa de controlar os recursos alheios. São as famosas
“aves” que atacam os sacrifícios que são apresentados ao
Senhor; mas assim como Abraão devemos enxotá-las (Gn
15:11) para que não impeçam o fluir da bênção de Deus
sobre as nossas vidas.
No século XII, durante as Cruzadas, os cruzados
usavam mercenários para lutarem no lugar deles. Como
as cruzadas eram guerras religiosas, os cruzados insis-
tiam que os mercenários fossem batizados antes da luta.
Durante o batismo, eles mantinham suas espadas fora
da água, simbolizando o único ponto sobre o qual Jesus
26
FRANCISCO ALVES
Cristo não tinha controle. Eles tinham liberdade para
usar as suas espadas da maneira que desejassem.1
Pessoas que se entregam a Cristo, mas fazem isso de
forma parcial, deixando sempre “as suas carteiras fora
da água”, se comportam exatamente como esses mer-
cenários do século XII. Quem lida com o dinheiro sem
submetê-lo ao princípio bíblico de dizimar, simplesmente
está declarando que Deus pode ser o senhor de tudo na
sua vida, menos do seu bolso.
Segundo o dicionário Strong, a palavra hebraica
para dízimo é “maaser”, que significa a décima parte
de um todo ou pagamento da décima parte. O dízimo
aparece pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 14:20,
quando Abraão, com apenas 318 homens, voltava de
uma batalha vitoriosa contra quatro exércitos inimigos; e
encontrando no caminho a Melquisedeque, rei de Salém
e sacerdote do Deus altíssimo, deu-lhe o dízimo de tudo.
É interessante registrar que o texto original não revela
quem deu o dízimo a quem, nós só temos a certeza de
que foi Abraão que dizimou porque isso está registrado
em Hebreus 7:4. Alguns estudiosos até acreditam que
essa é a razão de muitos judeus não praticarem o dízimo
de Abraão, visto que eles não creem no Novo Testamento
como nós cremos.
No decorrer da história bíblica, o dízimo aparece
também em Gênesis 28:22, quando Jacó pediu proteção
e provisão divina prometendo dizimar se a mão do Se-
1 DAYTON, Howard. O seu dinheiro. Editora Universidade da Família, São Paulo,
2015.
27
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
nhor assim o abençoasse na sua jornada. Depois, aparece
novamente já em forma de lei, instituída por Deus através
de Moisés.
É preciso deixar claro que dízimo não é esmola, (ato
de justiça), não é primícias e muito menos ofertas. São
princípios totalmente diferentes.
Dízimo:
A. Protege o que você tem
B. É a décima parte dos seus ganhos
Esmolas:
A. Gera memorial diante de Deus e protege os seus
descendentes da miséria. (Salmos 37:25–26)
B. É a sobra da nossa colheita. (Deuteronômio
24:18–19)
Primícias:
A. Santifica o que eu tenho. (Romanos 11:16)
B. É a primeira parte dos meus ganhos; correspon-
dente a um dia do meu salário. (Levítico 23:10)
Ofertas:
A. Multiplica o que eu tenho. (2 Coríntios 9:10)
B. Não há valores exatos para esse princípio, pois ele
pode ser usado em diversas situações de acordo com o
propósito do coração do ofertante. Falo mais sobre esse
assunto no livro de minha autoria: Ofertas – Princípio
28
FRANCISCO ALVES
de prosperidade, instrumento de adoração e arma de
guerra.
Dízimo – maaser em hebraico – é a décima parte de
um todo. Abraão deu dez por cento do que tinha nas mãos
quando retornava de uma guerra, Jacó deu o dízimo dos
animais para o seu irmão Esaú, e na lei de Moisés, o povo
dizimava das suas colheitas e animais.
Alguns tipos de dízimos foram extintos com o cum-
primento da lei através de Jesus, porém, existem outros
que continuam vivos, pois a raiz deles não era a lei, e
sim o princípio. É justamente essa falta de distinção entre
dízimos que tem causado muitas controvérsias, uma vez
que muitos acham que só existe um tipo de dízimo.
O principal versículo usado para combater essa con-
tribuição em nossos dias é Malaquias 3:10.
“Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em
que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.
Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim,
toda esta nação.
Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja
mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz
o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não
derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente
para a recolherdes.”
(Malaquias 3:8–10)
29
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
Essa palavra foi direcionada não somente aos sacer-
dotes que estavam sendo infiéis nos seus dízimos, — o
chamado dízimo do dízimo, que falarei sobre ele nos
próximos capítulos — mas toda a nação de Israel foi
exortada por causa da profanação ao sacrifício; tendo em
vista que estavam oferecendo pão imundo, animais coxos,
enfermos e até cegos, tratando assim com total desprezo
a mesa do Senhor. Era uma época em que muitos não
dizimavam e os poucos que obedeciam apresentavam
qualquer coisa, somente para cumprir protocolo.
A desonra era tão grande ao ponto de Deus declarar
através do profeta que era preferível não ter culto e fechar
as portas do templo do que fazer culto e apresentar qual-
quer coisa sobre o altar (Malaquias 1:10).
Ainda dentro do contexto desta profecia bíblica é
importante pontuar algumas coisas muito interessantes.
O profeta faz outra exortação com uma pergunta,
e toda pergunta gera uma rápida reflexão. Roubará o
homem a Deus? Acredito que na cabeça de muitos a res-
posta é um enfático não! Todavia, isso é algo bem possível
não somente naqueles dias como também nos dias em
que vivemos. Para a nossa melhor compreensão, vamos
entender o significado de ladrão, assaltante e roubador.
Ladrão – É aquele que toma às escondidas aquilo
que não é seu.
Assaltante – É aquele que toma abertamente aquilo
que não é seu.
30
FRANCISCO ALVES
Roubador – É aquele que não devolve aquilo que
não lhe pertence.
O roubador tem legalidade para pegar, mas não tem
legalidade para ficar com aquilo que não lhe pertence.
Observe que o profeta chama os sacerdotes que não
dizimavam de roubadores e não de ladrões. Isso porque
eles tinham legalidade para receber as contribuições do
povo, mas não tinham legalidade para permanecer com
100% daquele valor ou sacrifício. A parte que não lhes
pertencia estava sendo retida, gerando assim roubo na
casa do Senhor.
Outro detalhe importante para pontuarmos é que a
palavra dízimo está no plural “dízimos”, indicando que
naquela época o povo devolvia vários tipos de dízimos.
Antes de falarmos sobre esses dízimos praticados na
lei de Moisés, iremos analisar outras contribuições exis-
tentes naquela época e as diferenças que havia entre elas.
31
 CAPÍTULO 3

ESMOLAS

“O que gastamos em piedade e caridade não é tributo

pago a um tirano, mas resposta de gratidão a nosso
redentor.”
(James Denney)

E
smola – é tudo aquilo que é entregue por necessi-
dade. A esmola não é obrigatória, assim como ne-
nhuma outra contribuição é, mas quem a pratica
tem acesso a grandes promessas bíblicas.
O valor da esmola é definido como a sobra das nossas
colheitas, (Dt 24:18–19), essa sobra são as moedas, as
cédulas de dois reais, os trocadinhos que recebemos na
feira, na padaria e no supermercado. Quem pratica esse
princípio gera um memorial diante de Deus para que os
seus descendentes jamais venham mendigar o pão.
Vejamos o texto a seguir.

33
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
“Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo,
nem a sua semente a mendigar o pão. Compadece-se sempre, e
empresta, e a sua semente é abençoada.”
(Salmos 37:25–26)
Justo é aquele que pratica a justiça. Dar esmolas aos
pobres é um ato de justiça, pois o homem foi feito a imagem
e a semelhança de Deus, e aos olhos do Senhor não é justo
ver a sua imagem e semelhança morrer de fome. Isso é uma
afronta à grandeza e à realeza divina. Segundo a promessa
acima, todo aquele que tem um coração compassivo, mise-
ricordioso e sempre estende a mão para o necessitado, terá
dos céus a garantia de “um seguro contra a miséria” para
guardar todos os seus descendentes.
Um certo centurião por nome de Cornélio foi visitado
certa vez por um anjo do Senhor, e a revelação bíblica
desta visita é impressionante.
“E havia em Cesareia um homem por nome Cornélio, centurião da
coorte chamada italiana,piedoso e temente a Deus, com toda a sua
casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a
Deus. Este, quase à hora nona do dia, viu claramente numa visão
um anjo de Deus, que se dirigia para ele e dizia: Cornélio. O qual,
fixando os olhos nele, e muito atemorizado, disse: Que é, Senhor?
E disse-lhe: As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para
memória diante de Deus.”
(Atos 10:1–4)
34
FRANCISCO ALVES
Cornélio era gentio, contudo, temente a Deus, orava
continuamente, fazia muitas esmolas e, quando o anjo
do Senhor o visitou, ele estava há quatro dias jejuando.
Agora, observe que tanto a oração como as esmolas es-
tavam subindo diante de Deus. O que nos dá a entender
que as nossas contribuições têm no céu o mesmo valor da
oração.
Paulo escrevendo aos coríntios diz que aquele que
dá aos pobres, gera frutos de justiça e esse fruto ficará
atrelado ao seu nome para sempre (2 Coríntios 9:9).
Fazer justiça é ajudar alguém em apuros, por entender
que não é justo aquela pessoa passar por aquela situação.
É honrar alguém que merecia ser honrado e não foi; é
dar um salário a alguém que trabalhou o mês inteiro e
foi vítima de um assalto perdendo assim todo o sustento
mensal da sua família; é socorrer uma viúva que ficou em
apuros porque seu marido gastou tudo que tinha salvan-
do profetas de Deus da mão de uma rainha maligna.
“E uma mulher, das mulheres dos filhos dos profetas, clamou a
Eliseu, dizendo: Meu marido, teu servo, morreu; e tu sabes que o
teu servo temia ao SENHOR; e veio o credor, para levar os meus
dois filhos para serem servos.
E Eliseu lhe disse: Que te hei de fazer? Dize-me que é o que tens
em casa. E ela disse: Tua serva não tem nada em casa, senão uma
botija de azeite.
Então disse ele: Vai, pede emprestadas, de todos os teus vizinhos,
vasilhas vazias, não poucas.
35
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
Então entra, e fecha a porta sobre ti, e sobre teus filhos, e deita o
azeite em todas aquelas vasilhas, e põe à parte a que estiver cheia.
Partiu, pois, dele, e fechou a porta sobre si e sobre seus filhos; e eles
lhe traziam as vasilhas, e ela as enchia.
E sucedeu que, cheias que foram as vasilhas, disse a seu filho:
Traze-me ainda uma vasilha. Porém ele lhe disse: Não há mais
vasilha alguma. Então o azeite parou.
Então veio ela, e o fez saber ao homem de Deus; e disse ele: Vai,
vende o azeite, e paga a tua dívida; e tu e teus filhos vivei do resto.”
(2 Reis 4:1–7)
O historiador Flávio Josefo diz que essa mulher era
esposa de Obadias, um temente servo de Deus que viveu
durante o reinado de Acabe em Israel.
“A viúva de Obadias, mordomo do rei Acabe, veio
dizer ao profeta que, não tendo meios de restituir o
dinheiro que seu marido havia emprestado para ali-
mentar os cem profetas que, como Eliseu devia saber,
ele salvara da perseguição de Jezabel, os credores que-
riam tomá-la como escrava e também aos seus filhos.
E, por causa dessa dificuldade em que se encontrava,
recorria a ele, para rogar que tivesse piedade dela.”1
A dívida que esta viúva precisava quitar não foi con-
traída por ela, mas sim pelo o seu falecido marido. A
lei judaica determinava que todo aquele que contraísse
uma dívida e não pudesse pagar deveria se tornar escravo
1 JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Editora CPAD. Rio de Janeiro, 2014, p. 433.
36
FRANCISCO ALVES
do credor (Lv 25:48), porém essa mesma lei determinava
que um irmão ou parente próximo poderia fazer justiça,
pagando a dívida e resgatando assim o endividado. Pelo
contexto da história, entendemos que essa pobre viúva
não tinha mais nenhum parente que pudesse lhe resgatar
e pelo visto a outra brecha jurídica da época para ela
escapar daquela situação, que era ela mesma alcançar
riqueza para pagar a dívida, também estava impossível
de ser praticada. Ela viu em Eliseu a possibilidade de
sair daquela situação e Eliseu se sentiu obrigado a fazer
justiça por aquela viúva, principalmente quando ela falou
que seu esposo tinha sido fiel a Deus durante a sua vida
e que aquela dívida foi contraída quando ele salvou cem
profetas das mãos de Jezabel. Em outras palavras, ela
estava dizendo: Não é justo eu e meus filhos vivermos
essa situação.
O desfecho dessa história vai nos mostrar que Deus
abençoou aquela viúva não somente para ela pagar a sua
dívida, mas para viver pelo resto da sua vida tranquila-
mente com os seus filhos.
Este mesmo profeta Eliseu recebeu no final da sua
vida uma oferta tão grande do rei da Síria que foram
necessários quarenta camelos para transportar “o que de
melhor havia em Damasco” (2 Reis 8:9).
Eu, particularmente, não acredito que haja coinci-
dência na Bíblia, por isso eu creio que essa oferta foi fruto
da justiça que ele praticou por aquela viúva.
37
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
Muitas vezes Deus nos coloca em posições estratégi-
cas, nos abençoa com recursos financeiros não para nos
exaltarmos ou humilhar os outros, mas sim para sermos
verdadeiros agentes de justiça divina na terra.
Eliseu recusou uma grande oferta de Naamã, todavia,
foi recompensado com outra infinitamente maior quando
fez justiça por uma pobre viúva. O seu ato de fazer justiça
fez com que Deus lhe abençoasse com uma grande oferta,
honrando a sua vida com a justiça que lhe era devida.
Certa vez, fui a uma empresa de internet resolver
um problema, era inverno e naquele dia tinha chovido
a manhã inteira. Quando estacionei o carro, vi uma
senhora já idosa mexendo em um monte de lixo. Já era
quase fim de tarde, e como eu estacionei o carro bem
próximo, percebi que ela estava bastante concentrada
na sua busca. No momento em que eu fui caminhando
em direção à empresa, a voz de Deus bradou em meu
coração: — Volta e pergunta se ela já almoçou. Convicto de
ter ouvido a voz do Senhor, caminhei até a lixeira e
perguntei: — Senhora, boa tarde! A senhora já almoçou hoje?
Foi então que ela parou de mexer no lixo e respondeu:
— Não senhor! Eu trabalho recolhendo ferro velho nas lixeiras
para vender e sustentar os meus filhos. Tenho três filhos, e os
sustento trabalhando assim, mas como hoje choveu bastante, não
consegui sair mais cedo para ganhar um dinheirinho e pagar o
nosso almoço de hoje. Naquele momento, a voz do Senhor
falou mais uma vez no meu coração: — Filho, não é justo
ela e os seus filhos ficarem com fome hoje, paga a alimentação
38
FRANCISCO ALVES
deles. Confesso que tive que ir para o carro às pressas
para ali chorar um pouco, afinal, é impossível não
derramar lágrimas quando somos visitados por Deus
assim.
Pouco tempo depois, voltei e, quando dei a ela um
valor suficiente para alimentar a sua família naquele dia,
as lágrimas desceram pelo seu rosto.
— Oh, senhor, muito obrigado! Eu estava tão preocupada em
como iria alimentar os meus filhos hoje, mas Deus é tão bom que
enviou o senhor para me ajudar. Caminhei um pouco em di-
reção à empresa de internet e no meio do caminho parei
para chorar novamente, pois a voz de Deus voltou a falar
no meu coração dizendo: — Assim como eu te usei para fazer
justiça por essa mulher, eu sempre usarei alguém para evitar que tu
sejas injustiçado.
Quando fazemos justiça a quem precisa, portas celes-
tiais são abertas sobre a nossa cabeça para que a provisão
e a justiça divina nos acompanhem nesta terra em todos
os dias da nossa vida.
Uma outra grande promessa ligada a esse princípio
está em Provérbios 19:17. “Ao Senhor empresta o que se com-
padece do pobre, ele lhe pagará o seu benefício”.
Observe que o texto acima não impõe a obrigatorie-
dade de ser cristão ou não para tomar posse da bênção
ligada a este princípio. Qualquer um que o praticar
poderá usufruir dos benefícios, ainda que seja até mesmo
um ateu.
39
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
Deus não tem compromisso com o homem, mas tem
com a sua palavra. O ato de dar esmolas é descrito como
um empréstimo ao Senhor, e esse empréstimo terá que
ser pago a quem emprestou, pois Deus não pode dar
calote em ninguém.
O americano Warren Buffett é constantemente lista-
do na revista Forbes como um dos homens mais ricos do
mundo. Nos dias atuais, o seu patrimônio líquido é de
88,8 bilhões de dólares, sendo que, no decorrer de toda
a sua vida ele já doou aos pobres 42,8 bilhões de dólares.
Todo esse montante de doação foi visto no reino espi-
ritual como um “empréstimo ao Senhor” e obviamente,
esse bilionário foi imensamente recompensado, pois
como falei anteriormente, Deus não pode dar calote em
ninguém.
Entenda que esse princípio nada tem a ver com sal-
vação, esta por sua vez é pela graça, um favor imerecido,
ofertado gratuitamente através da morte de Cristo e para
tomar posse basta simplesmente confessá-lo como salva-
dor. Obras não salvam, dar esmolas não leva ninguém
para o céu, salvação jamais será alcançada por obras,
para não ocorrer que ninguém se glorie (Efésios 2:9).
Os princípios bíblicos de prosperidade descritos
em sua maioria no antigo testamento são chaves pode-
rosas que nos condicionam a viver bem na terra, nos
prosperando e abençoando a nossa vida. Já os prin-
cípios bíblicos de salvação, em sua maioria no Novo
Testamento, nos ensinam a doutrina da salvação, nos
40
FRANCISCO ALVES
preparando para herdar a vida eterna, algo que não é
alcançável por obras.
Certa vez, um empresário fez a seguinte pergunta
para um contador judeu: — Quem tem demonstrações finan-
ceiras de maior valor: seus clientes judeus ou cristãos?
O contador pensou por um instante e então pegou
uma Bíblia e disse: — Vocês, cristãos, tendem a viver conforme o
que está na segunda parte deste livro, enquanto nós, judeus, vivemos
normalmente de acordo com o que está escrito na primeira parte.
Infelizmente, para os cristãos, a maioria dos princípios financeiros
está na primeira parte deste livro. Assim, nós, judeus, cremos nesses
princípios, enquanto os cristãos parecem ignorá-los e desconsiderá-los
porque são do Antigo Testamento.2
O sacrifício de Jesus Cristo na cruz anulou os rituais,
os princípios permanecem. As primícias, por exemplo, é
citada em levítico 23:14 como um estatuto perpétuo, ou
seja, jamais poderá ser anulada. É um grande erro achar
que o antigo testamento não pode ser observado e obe-
decido porque é do tempo da lei. Muitos cristãos agiram
assim durante muito tempo, perdendo assim inúmeras
bênçãos que estão atreladas a esses princípios.
A esmola é movida pela dó e compaixão ao sofrimen-
to alheio. Por esta razão, não é correto pegar o dízimo
e com ele comprar várias cestas básicas para pessoas
necessitadas, visto que, agindo assim, estaremos trans-
formando o dízimo em esmola, anulando, assim; os seus
efeitos espirituais sobre a nossa vida. Dar esmola é algo
2 HILL, Craig. Cinco segredos da riqueza. Editora Universidade da Família, São
Paulo, 2014.
41
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?

nobre, bíblico e muito agradável aos olhos do Senhor, CAPÍTULO 4

desde que seja feito com os recursos corretos.

OFERTAS
Estender a mão ao pobre e necessitado é algo divino e
esse gesto exala a essência de Deus em nós, nos tornando
conhecidos no céu como homens e mulheres que propa-
gam a misericórdia do Senhor nesta terra.

“É possível dar sem amar, mas é impossível amar

sem dar.’’
(Pr Ricardo Guimarães)

O
ferta é um ato espontâneo de amor, honra, gra-
tidão, reconhecimento tanto ao próximo como a
Deus. É fruto de um coração cheio de genero-
sidade que, movido pelo amor e fé, oferta simplesmen-
te com a intenção de agradar a quem recebe. A palavra
oferta tem várias traduções, isso porque temos outros ti-
pos de ofertas na Bíblia, entretanto, a mais comum é a
doron, que segundo o dicionário Strong significa presentes
oferecidos em expressão de amor e honra.
Quando amamos alguém, sempre procuramos uma
maneira de presentear, agradar com alguma coisa, por
mais simples que seja. Na verdade, quem ama não precisa
de data específica para presentear, é um ato espontâneo
que vem do coração sem esperar nada em troca.

42 43
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
Certo pastor de uma grande igreja recebeu inúmeros
presentes no dia do seu aniversário, porém entre tantos
teve um que chamou a sua atenção: um barco bonito,
com muitos detalhes, todos bem feitos, de aproximada-
mente um metro de comprimento, confeccionado com
palitos de dentes. Curioso, o pastor chamou o irmão para
saber como ele tinha feito aquele barco, e a surpresa e as
lágrimas foram inevitáveis quando aquele humilde servo
de Deus falou que demorou mais de dois meses para fazer
aquele barco. O pastor tinha recebido muitos presentes,
alguns caríssimos, mas nada se comparou aquele barqui-
nho, pois ele não tinha preço, tinha valor. A maior oferta
da história humana foi o próprio filho de Deus, dado pelo
resgate da nossa vida, e essa oferta para Deus e para nós
não tem preço, tem valor. É por isso que é muito perigoso
um cristão não concordar e até murmurar contra ofertas,
pois fazendo isso ele estará afrontando o maior ofertante
da história, que é o próprio Deus.
O homem que apresentou a maior oferta para Deus
até hoje foi Abraão e o que ele apresentou não tinha
preço, tinha valor. Isaque era o filho da sua velhice, e,
portanto, o melhor que ele poderia apresentar.
O sentido da oferta não é o preço que ela vale, e sim
o valor que ela representa para o ofertante. Um milioná-
rio pode apresentar cem mil reais de oferta e não sentir
nenhum grande efeito nas suas finanças; no mesmo culto,
um trabalhador que ganha um salário mínimo pode
apresentar apenas cem reais e sentir um efeito maior que
44
FRANCISCO ALVES
a oferta de cem mil. Deus nunca pediu de nós valores, e
sim qualidade.
Tenho alguns amigos que são muito ricos, e nas datas
de aniversário deles eu sempre procuro presenteá-los com
alguma coisa. Mas como é difícil dar presente para rico…
meu Deus! A solução é procurar algo de valor, pois de
preço eles já tem tudo que querem. Deus nunca precisou
de dinheiro, e muito menos está passando luta financeira.
Acontece que gastamos o melhor do nosso tempo, da
nossa sabedoria, da nossa saúde e da nossa força para
ganhar dinheiro. Então, quando ofertamos, não é papel
que estamos dando, e sim o melhor da nossa vida física
para Deus.
“E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava
a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro;
e muitos ricos deitavam muito.
Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que
valiam meio centavo. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes:
Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos
os que deitaram na arca do tesouro;
Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua
pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento.”
(Marcos 12:41–44)
A septuaginta traduz esse texto com a expressão “viúva
pobre” como viúva mendiga, e como falarei mais adiante,
existiam naquela época vários tipos de ofertas, todavia, a
45
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
tradução original para oferta daquela viúva é “doron”,
que significa presente dado com amor, em expressão de
honra. Os ricos ofertaram a sobremesa, a viúva deu toda
a sua comida; os ricos deram os seus enfeites, ela deu as
suas roupas; os ricos deram os trocados, ela deu todo o
seu salário. Uma clara mensagem aos céus dizendo: o
meu amor pelo Senhor é tão grande que a melhor forma
de o expressar é ofertando tudo o que tenho. Naquele
dia, apenas aquela viúva saiu do templo com a bênção de
Deus sobre a sua vida.
Oferta também é uma semente que cedo ou tarde
vai gerar frutos na nossa vida. Todo agricultor reserva
no meio dos seus frutos de consumo as sementes para
semear novamente a terra. A razão de muitos sofrerem
escassez é porque comem as sementes junto com os frutos
de consumo. No meio da nossa provisão, tem frutos que
não são para o consumo, e sim para a plantação.
Durante a grave crise de fome sobre o Egito, todo o
povo recorreu a José e em troca de pão eles entregaram
todo o dinheiro que possuíam; mais tarde, já sem dinhei-
ro, entregaram todo o gado que possuíam. Como não
há nada que esteja ruim que não possa piorar, a fome
apertou mais ainda, e eles então deram todas as terras em
troca de pão. Entretanto, como tudo que Deus manda
é exagerado, se for prosperidade se prepare para trans-
bordar os celeiros e se for crise, se prepare para apanhar
bastante, novamente o nível da fome aumentou; foi então
que eles chegaram ao nível mais baixo da vida de um ser
46
FRANCISCO ALVES
humano: pediram para ser escravos. José viu nessa situa-
ção, o último estágio social do homem, a oportunidade
de fazer com que eles mudassem a mentalidade. Desta
vez, no lugar de pão, José deu semente para semear a
terra e das colheitas vinte por cento seria dado ao Faraó.
“Então disse José ao povo: Eis que hoje tenho comprado a vós e
a vossa terra para Faraó; eis aí tendes semente para vós, para que
semeeis a terra.
Há de ser, porém, que das colheitas dareis o quinto a Faraó, e as
quatro partes serão vossas, para semente do campo, e para o vosso
mantimento, e dos que estão nas vossas casas, e para que comam
vossos filhos.”
(Gênesis 47:23–24)
Duas coisas importantes quero destacar nessa histó-
ria, primeiro: há pessoas que só mudam de mentalidade
quando chegam ao nível mais triste da sua história.
Segundo: como estavam trabalhando na terra de Fa-
raó e tinham consciência de que até a vida deles pertencia
a Faraó, devolver vinte por cento da colheita era um ato
de reconhecimento de que tudo o que tinham, inclusi-
ve a vida, pertencia a Faraó. Como Deus nunca perde
para Faraó, também nos comprou através do sacrifício
da cruz: nos deu a vida e o sustento, portanto, toda vez
que devolvemos dez por cento dos nossos rendimentos
estamos declarando no reino espiritual que fomos com-
47
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
prados, que temos um dono e que o nosso sustento vem
Dele.
Após José dar sementes aos egípcios, eles nunca mais
voltaram para pedir pão novamente, pois o problema não
estava na falta de pão, e sim em comer as sementes.
Assim como os dízimos, havia também vários tipos de
ofertas; citarei algumas abaixo.
Oferta de resgate – Dada como resgate por algo
perdido.
Coloquei essa oferta em destaque pela sua cronologia
e profundidade por ela alcançada. Essa oferta foi dada
pelo próprio Deus quando estava formando todas as
coisas, e na sua onisciência percebeu que o homem usaria
o livre arbítrio para desobedecê-lo. Após formar todas
as coisas, Ele ofertou o seu próprio filho para resgatar
novamente o homem para si (Apocalipse 13:8).
Oferta é, portanto, o assunto mais precioso da Bíblia
e os seus efeitos são tão poderosos que até mesmo o Deus
todo poderoso ofertou. Toda oferta tem que morrer duas
vezes: primeiro no coração e depois em realidade. O
cordeiro de Deus primeiramente morreu no coração do
Pai, no dia da fundação do mundo, e depois em realidade
na cruz do calvário.
Quando ofertamos a Deus e depois ficamos pensando
o que o pastor fez com a oferta entregue, estamos man-
tendo-a viva em nosso coração, impedindo assim que ela
seja recebida por Deus.
48
FRANCISCO ALVES
Oferta de reparação – Conhecida nos nossos dias
como danos morais. Tinha o objetivo de reparar algum
dano causado. (Gênesis 20:14) Se a minha atitude em
relação ao meu irmão lhe causou danos, prejuízos e cons-
trangimentos, não basta apenas pedir perdão. Eu tenho
que reparar os estragos que fiz na vida dele.
 
Oferta de manjares – Principal objetivo dessa
oferta era presentear, agradar, prestar apreço e devoção.
Essa oferta era oferecida dos frutos da terra (Gn 4.3; Lv
2.1–16; 6.14–23).
Oferta alçada – Oferta dada com um objetivo
específico, uma finalidade. Erguer recursos para fazer
alguma coisa. Aparece pela primeira vez em Êxodo 25:2,
quando Deus mandou Moisés pedir oferta ao povo para a
construção do tabernáculo. Essa oferta é muito usada em
nossos dias para levantar recursos a fim de realizar um
propósito específico.
Oferta de consagração ou voto – Oferta pro-
metida a Deus, com valor definido por antecipação pelo
ofertante e apresentada com a ideia de garantia, entrega
e consagração. Um tipo de voto que até mesmo pessoas
poderiam ser oferecidas a Deus. Ana recorreu a este tipo
de oferta quando, desesperada, queria vencer a sua esteri-
lidade (1 Samuel 1:11). Essa oferta é diferente das demais
porque quando fazemos um voto a Deus, já ministramos
49
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
em nosso coração um valor específico para entregar em
um determinado dia, e na hora que realizamos muitas
vezes não temos, assim como Ana não tinha nenhum
filho quando fez o voto; o interessante é que se fizermos
com fé, Deus provê não apenas o valor prometido, mas
vai além das nossas expectativas. Ana pediu um filho,
Deus deu sete. Jacó pediu proteção, pão para comer e
vestes, Deus deu, além disso, animais, prata, ouro e um
filho governador do império mais poderoso da época.
Oferta de holocausto – Oferta queimada (Ex
29:18). O animal era totalmente queimado e sacrificado.
Esta foi a oferta que Abraão ofereceria a Deus, tendo o
seu próprio filho como sacrifício (Gênesis 22:1–18). Ele
subiu o monte Moriá determinado a degolar e depois
queimar o corpo de Isaque, crendo que pela promessa
que havia sobre a sua vida Deus traria das cinzas o meni-
no novamente à vida (Hebreus 9:17–18).
Oferta pela culpa – Para limpar pecados; nessa
oferta era necessário o derramamento de sangue (Êxodo
29:36). O sangue do cordeiro de Deus que foi derramado
pelas nossas culpas anulou esta oferta, santificando e efe-
tuando em nossas vidas uma eterna redenção (Hebreus
9:11–15).
Oferta do leproso – Purificação e vida liberta. Duas
aves limpas e puras, madeira de cedro, fios de lã tintos em
50
FRANCISCO ALVES
carmesim e hissopo. As duas aves, uma deveria ser morta
e a outra solta; uma expiatória e outra emissária, simboli-
zando a expiação do pecado pela morte de Cristo e a nossa
redenção na proclamação da ressurreição. A madeira de
cedro era um tipo da cruz de Cristo; o fio carmesim, a
nossa esperança no preço da redenção efetuada mediante
o sangue de Jesus, e o hissopo era o elemento usado para
aspergir o sangue. O sacerdote não poderia ficar com
nenhuma das ofertas oferecidas pelo leproso, sob pena de
contrair a lepra do ofertante; esse foi o grande erro e a
razão de Geazi contrair a lepra de Naamã, quando tomou
para si a oferta rejeitada por Eliseu. A oferta carrega sobre
si o espírito para o qual ela foi dedicada, por isso, toda
vez que um pastor recebe uma oferta ou dízimo de um
traficante, sabendo que aquele valor veio do tráfico, a
maldição das drogas aprisionará a sua vida ou a vida dos
seus descendentes; a mesma coisa se aplica para contri-
buições oriundas da prostituição, corrupção ou qualquer
outro ato ilícito, o espírito para o qual foi dedicado aquele
dinheiro se apegará na vida e na descendência do receptor
(Levítico 14:2–6). Por outro lado, quando alguém oferta
um dinheiro oferecido legalmente e com muito sacrifício
e esse dinheiro é desviado para fins que não glorificam a
Deus, maldições se apegam na vida daquele que desviou a
finalidade espiritual para a qual aquela oferta foi dedicada.
Por isso que todo aquele que rouba ao altar termina os seus
dias vivendo uma vida totalmente desgraçada.
51
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
“E fizera-lhe uma câmara grande, onde dantes se depositavam as
ofertas de alimentos, o incenso, os utensílios, os dízimos do grão,
do mosto e do azeite, que se ordenaram para os levitas, cantores e
porteiros, como também a oferta alçada para os sacerdotes.
Mas durante tudo isto não estava eu em Jerusalém, porque no ano
trinta e dois de Artaxerxes, rei de babilônia, fui ter com o rei; mas
após alguns dias tornei a alcançar licença do rei.
E voltando a Jerusalém, compreendi o mal que Eliasibe fizera para
Tobias, fazendo-lhe uma câmara nos pátios da casa de Deus.
O que muito me desagradou; de sorte que lancei todos os móveis da
casa de Tobias fora da câmara.”
(Neemias 13:5–8)
A prática da devolução do dízimo também aconte-
cia nos dias de Neemias. Observe que se tratava de um
povo recém-liberto da escravidão, porém mesmo assim
eles devolviam com fidelidade dez por cento de suas
rendas. Princípios são inegociáveis e eles não mudam
de acordo com a situação; além do mais, quem dizima
e oferta não fica mais pobre, e sim mais abençoado,
pois “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.” (Atos
20:35).
Havia fidelidade no coração daquele povo que, mes-
mo recomeçando as suas vidas, não deixavam de honrar
ao Senhor; mas essa mesma fidelidade não foi encontrada
no sacerdote Eliasibe. Ele foi complacente com Tobias e
permitiu a construção de uma casinha nos átrios da casa
do Senhor, mais precisamente ao lado da câmara onde se
52
FRANCISCO ALVES
depositavam os dízimos. Uma espécie de caixa dois, com
a finalidade de praticar desvios.
Tobias era um amonita e o seu acesso à casa de Deus foi
liberado porque um dos parentes do sacerdote Eliasibe era
casado com a filha de Sambalate (Ne 13:28); Sambalate e
Tobias eram amigos. Esses homens formaram então uma
quadrilha para roubar a casa de Deus.
Era um misto de parentes e amigos em que um aco-
bertava o outro e ninguém entregava ninguém. Todos
eram cúmplices nessa empreitada maligna e miserável de
assaltar o cofre da sala do tesouro.
Neemias não estava em Jerusalém, e quando voltou
descobriu toda a ação da quadrilha que estava instalada
na casa do Senhor. Segundo o texto bíblico, Neemias não
perdeu tempo, e lançou tanto o ladrão, como tudo que
ele tinha fora da casa do Senhor.
Tocar no sagrado, roubando dízimos e ofertas, não
produzirá bons resultados na vida de quem pratica tal
coisa, pois uma vez que se estende a mão para tocar em
algo consagrado ao Senhor, abre-se espaço para a mal-
dição na vida do ladrão e dos seus familiares. Tobias foi
lançado fora, e não somente ele, mas tudo o que ele tinha,
inclusive sua família e seus bens.
Certa vez, conheci um pastor que roubava dízimos,
pois, segundo ele, o salário que recebia era muito pouco.
Os roubos eram tantos que ele começou a investir em
imóveis, comprar carros e ostentar.
53
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
O tempo passou e a enfermidade começou a visitar
a sua esposa com doenças terríveis que os médicos não
conseguiam descobrir a causa. Resultado: gastou todo o
dinheiro roubado que estava na sua conta, depois vendeu
os imóveis, carros, perdeu tudo que tinha e mesmo assim
o mal persistiu; levando ele e toda a sua família para a
miséria.
Muitas famílias sofrem por conta da ação de muitos
sacerdotes que roubam coisas sagradas, atraindo, assim,
“lepra” para si e para a sua família. “Com maldição sois
amaldiçoados, porque a mim me roubais.” (Malaquias 3:9).
Oferta do ciúme – Oferta oferecida quando o es-
poso estava desconfiado de que a mulher o tinha traído.
Era necessário levar a suposta adúltera até a presença do
sacerdote e juntamente com ela uma oferta de uma dé-
cima de efa de farinha de cevada. O sacerdote tomava a
oferta, e caso a mulher negasse o adultério teria que fazer
juramento de maldição, e logo após tomar uma “água
amaldiçoante”. Caso houvesse mentira no seu juramento,
aquela água se transformava em amargura, inchando o
seu ventre, consumindo a sua coxa e tornando-a maldita
no meio do seu povo (Números 5:11–29).
Oferta das primícias – Primeiros frutos, primeiras
coisas, primeira colheita, primeiros animais e primeiros
rendimentos. Essa oferta foi praticada por Abel quando
trouxe as primícias dos seus animais ao Senhor (Gênesis
54
FRANCISCO ALVES
4:4). Essa oferta é muito confundida com o dízimo, po-
rém são contribuições totalmente diferentes. Dízimo é a
décima parte de um rendimento, ou seja, 10% do salário;
primícias são um dia do meu salário, mais precisamente
o meu primeiro dia do mês. Por exemplo, se eu ganho um
salário mínimo de R$ 1.045,00, basta dividir esse valor
por 31 dias, o que resultará em R$ 33,70 por dia. Logo,
meu primeiro dia de salário e consequentemente a minha
primícia do mês seria esse valor.
O objetivo de uma primícia é santificar todo o resto
que vem depois. Quando Deus recebeu Isaque no monte
Moriá, primícia da descendência de Abraão, todo o
Israel passou a ser propriedade do Senhor “meu filho, meu
primogênito” (Êxodo 4:22–23).
Todas as contribuições mencionadas acima são distin-
tas e com objetivos bem diferentes; algumas são impossí-
veis de serem praticadas hoje, tanto pela forma que eram
oferecidas como pela finalidade, como por exemplo, a
oferta pela culpa, que já foi cumprida de uma maneira
eterna por meio do sacrifício de Jesus.
Nos próximos capítulos, veremos os dízimos que eram
praticados pelos judeus na época da lei e as diferenças
que haviam entre eles.
55
 CAPÍTULO 5

MAASER RISHON (PRIMEIRO

DÍZIMO)

“E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em

Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério
da tenda da congregação.
E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da
congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram.
Mas os levitas executarão o ministério da tenda da congregação,
e eles levarão sobre si a sua iniquidade; pelas vossas gerações
estatuto perpétuo será; e no meio dos filhos de Israel nenhuma
herança terão.”
(Números 18:21–23)

O
s levitas eram descendentes de Levi, filho de
Jacó com Lia, e os seus descendentes diretos
foram Gerson, Coate e Merari (Gn 46:11).
Moisés, Arão e Miriã são da linhagem de Coate, do
tronco de Levi. Os filhos de Jacó foram doze, porém,
durante muitos anos, José foi dado como morto após
ter sido vendido pelos seus irmãos. No Egito, José teve

57
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
dois filhos: Manassés e Efraim. Esses dois filhos foram
adotados posteriormente por Jacó para que seu amado
filho José não ficasse sem herança entre as tribos de
Israel (Gn 48:5). É interessante destacar que um dos
motivos para os irmãos de José o terem vendido foi o
desejo de ver ele sem herança na casa do seu pai, mas
esse plano foi tão frustrado que ele não teve um, mas
sim dois territórios entre as tribos de Israel. Portanto,
toda vez que a Bíblia se refere a “casa de José” ela está
se referindo as duas tribos, Manassés e Efraim. Apren-
demos com isso que perseguição a quem tem promessa
sempre será em vão, tendo em vista que o máximo que
irão conseguir é multiplicar os seus territórios.
Após Jacó ter adotado os filhos de José, Israel passou
a ter treze tribos, contudo, na divisão da terra prometida
foram distribuídos apenas doze territórios; uma das tribos
ficou sem território e foi essa a tribo de Levi. Como essa
tribo não tinha terras, ela foi espalhada por todas as tribos
de Israel, entretanto, como Deus sempre é justo em tudo
que faz, foi dado a eles o direito de exercer o ministério
sacerdotal na tenda da congregação e consequentemente
os dízimos das colheitas pelo ministério que executavam.
Havia em Israel sete colheitas ao ano: colheita do
trigo, da cevada, de vides, da figueira, das romeiras, das
oliveiras e das tâmaras, (Dt 8:8) e em cada uma dessas
colheitas era tirado dez por cento para o sustento dos
levitas que faziam diversos trabalhos no templo tais
como: porteiros, sacrificadores de animais, guardas de
58
FRANCISCO ALVES
segurança, cantores, músicos, coletores de lixo e traba-
lhadores do saneamento em toda a área do templo. Os
sacerdotes também tinham que ser da tribo de Levi, no
entanto, o simples fato de alguém ser levita não fazia
dele um sacerdote.  Para atuar como sacerdote, era
necessário o chamado de Deus. “Ninguém, pois, toma esta
honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como
aconteceu com Arão” (Hebreus 5:4). Então, ser sacerdote
era uma honra especial e os que desempenhavam essa
função eram diretamente chamados por Deus.  Embo-
ra os demais levitas desempenhassem trabalhos impor-
tantes na vida religiosa de Israel, não eram sacerdotes.
Em segundo lugar, os sacerdotes da ordem levítica eram
consagrados ou separados por Deus para esse trabalho
especial (Êx 28:1–4). Isso significa que eram santos, não
devendo ser considerados comuns. Deus até mesmo
mandou que usassem “vestes santas” quando estives-
sem ocupados com as funções sacerdotais, e, antes de
servirem a Deus no santuário, tinham de fazer purifi-
cação cerimonial, ofertas, unção e aspersão do sangue.
Além disso, para que alguém fosse sacerdote, essa pes-
soa precisava não só ser da tribo de Levi, ser chamada
por Deus para o trabalho e ser consagrada, mas tinha
de estar isenta de deformidades físicas e de outras con-
taminações (veja Levítico 21). Ainda que uma pessoa
preenchesse alguns dos outros requisitos, se fosse cega,
coxa ou de algum modo deformada não podia atuar
como sacerdote.
59
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?

Apesar de todos serem da mesma tribo, os levitas eram CAPÍTULO 6

considerados inferiores aos sacerdotes, porém o sustento

MAASER SHENI (SEGUNDO

deles era provido por meio da décima parte das colheitas
dos filhos de Israel.
O argumento de que esse dízimo não pode ser pra-
ticado em nossos dias é válido, porquanto não temos
descendentes de Levi no nosso meio e não dizimamos
DÍZIMO)
também com cereais. Portanto, esse dízimo é impossível
de ser praticado hoje.

“Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que

cada ano se recolher do campo. E, perante o Senhor teu Deus, no
lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os
dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos
das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao
Senhor teu Deus todos os dias. E quando o caminho te for tão
comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar
que escolher o Senhor teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o
Senhor teu Deus te tiver abençoado;
Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que
escolher o Senhor teu Deus; E aquele dinheiro darás por tudo o
que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e
por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali
perante o Senhor teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa;
Porém não desampararás o levita que está dentro das tuas portas;
pois não tem parte nem herança contigo.”
(Deuteronômio 14:22–27)

60 61
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
S
egundo a lei da Torá, um ciclo agrícola em Israel
durava sete anos e terminava com o ano sabático.
Durante seis anos, poderia plantar, mas no séti-
mo era proibido fazer qualquer serviço. As lavouras não
eram plantadas ou colhidas, e os frutos que a terra gera-
va de forma natural nesse período deveriam ser deixados
para os pobres. No entanto, os agricultores não passa-
vam nenhuma necessidade durante o ano sabático, pois
havia uma promessa do Senhor de enviar uma colheita
três vezes mais no sexto ano (Lv 25:21). Para tomar posse
dessa promessa, bastava simplesmente obedecê-la, não
trabalhando a terra no sétimo ano. Essa prática, além de
abençoadora, garantia o descanso da terra após seis anos
de produtividade (Êx 23:10–11, Lv 25:2–7).
O Maaser Sheni era separado nos anos um, dois,
quatro e cinco de cada ciclo agrícola. Esse dízimo não era
dez por cento da colheita total, e sim dos melhores frutos.
Seria mais ou menos como um produtor de uvas que se-
para as uvas classe A para exportação; da quantidade de
uvas classe A teria que ser tirado o dízimo. Esse dízimo
também abrangia os animais do povo de Israel; dez por
cento de todos os primogênitos dos animais também deve-
ria ser separado ao Senhor. Diferentemente do primeiro
dízimo, esse não era entregue aos levitas, mas cada judeu
deveria pegar a sua família, viajar até Jerusalém e ali,
dentro dos limites do templo, deveria comer esse dízimo
com a sua família. Os levitas tinham livre acesso a esse
banquete familiar, se quisessem. Se porventura esse judeu
62
FRANCISCO ALVES
morasse muito distante do templo e a sua viagem levasse
muitos dias para chegar, ele poderia vender esses frutos
e animais, e de posse do dinheiro viajar até Jerusalém, e
ali comprar dos cambistas frutos e animais para cumprir
esse propósito com a sua família diante do Senhor.
No tempo dos juízes, a capital religiosa de Israel era
a cidade de Siló, localizada na região montanhosa das
terras de Efraim. Elcana, esposo de Ana e pai do profeta
Samuel, viajava para Siló com a finalidade de ali apre-
sentar esse dízimo. Durante o reinado do Rei Salomão,
veio o templo e esse dízimo passou a ser apresentado em
Jerusalém, dentro dos muros do templo.
Os cambistas desempenhavam um importante papel
no cumprimento desse ritual. Um judeu que morava
distante não tinha como levar os frutos, visto que pere-
ceriam na viagem, e muito menos os animais, uma vez
que poderiam se ferir ou morrer durante o trajeto; tanto
os frutos como os animais deveriam chegar sem nenhum
defeito. Diante desse impasse, a lei abria uma brecha
que consistia em vender os produtos na terra natal e
com o dinheiro arrecadado comprar outros da mesma
qualidade da mão dos cambistas (Dt 14:23–26). Porém,
na época de Jesus, estava ocorrendo uma espécie de
“formação de quadrilha” entre cambistas e sacerdotes.
Funcionava mais ou menos assim: o peregrino optava por
levar os seus próprios animais, contudo, quando chegava
lá, o sacerdote reprovava aquele animal, argumentando
que o mesmo estava com defeito e como a palavra de um
63
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?

sacerdote não poderia ser contestada, o viajante ia até os CAPÍTULO 7

cambistas, vendia aquele animal e com o dinheiro com-

MAASER ANI (DÍZIMO DO

prava outro “apto” a ser apresentado. Todavia, depois
vinha o cúmulo da corrupção: aquele mesmo animal,
antes recusado, era vendido para outro peregrino e agora
era aceito pelo sacerdote simplesmente porque este per-
cebia que a procedência do animal era dos cambistas. Por
CARENTE)
essa razão, Jesus derrubou as mesas e expulsou a todos,
porque não somente estavam atrapalhando a adoração
do povo como também já estavam com uma verdadeira
rede de corrupção dentro do templo. “Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no
Voltando ao dízimo, uma vez de posse dos frutos ou mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; Então virá o
animais aptos para o sacrifício, aquele pai de família levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e
comia aquele dízimo juntamente com a família e juntos o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e
se alegravam naquele banquete na presença do Senhor, fartar-se-ão; para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda a obra
dentro dos limites do templo. Era uma celebração em que as tuas mãos fizerem.”
agradecimento a Deus pela boa colheita dos frutos e pela (Deuteronômio 14:28–29)
multiplicação dos rebanhos.
Nos dias atuais, esse dízimo também é impossível de “Quando acabares de separar todos os dízimos da tua colheita no
ser praticado, pois nem todos podem viajar a Jerusalém e, ano terceiro, que é o ano dos dízimos, então os darás ao levita, ao
além disso, o templo não existe mais. estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas
portas, e se fartem;”
(Deuteronômio 26:12)

A
Torá ensina que tudo que possuímos é um em-
préstimo de Deus; tanto a colheita como a renda
monetária de cada indivíduo é um presente di-
vino, e a razão de Deus permitir a existência de pobres

64 65
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER? FRANCISCO ALVES

e ricos é para os seres humanos exercerem bondade e terra descansava e tudo o que ela gerava por si própria
justiça uns com os outros, transformando o seu livre ar- não poderia ser recolhida pelos seus proprietários, ficando
bítrio em ações positivas. A preocupação com os pobres, livre para os pobres recolherem alimento para o sustento.
viúvas, órfãos e estrangeiros sempre foi bem visível em Em nossos dias, poucos são aqueles que trabalham
toda a Bíblia Sagrada. No entanto, a viúva não poderia com agricultura e como esse dízimo era exclusivo dela,
ter filhos maiores de idade e se casasse novamente per- também não tem efeito na vida diária da igreja.
deria todo e qualquer benefício a que tinha direito — os Em nosso meio, existem pobres e necessitados que po-
órfãos e estrangeiros não poderiam ter parentes na terra, derão também ser assistidos pela igreja por meio de uma
e todos deveriam, acima de tudo, temer ao Senhor para outra contribuição que permanece muito viva entre nós
assim usufruir de todos os benefícios por Ele determina- que é a esmola (expliquei sobre esse princípio no capítulo
do. Olhando por essa ótica, a caridade tinha suas regras e anterior).
nem todos poderiam usufruir dela. Porém, na lei de Moi-
sés, havia um dízimo que era exclusivamente destinado
a essa classe de pessoas, esse dízimo era conhecido como
Maaser Ani ou o “dízimo do pobre”.
No decorrer do calendário agrícola, num ciclo de sete
anos, esse dízimo era retirado duas vezes: no terceiro e no
sexto ano. Esse mandamento correspondia a dez por cen-
to da produção total dos agricultores e, diferentemente
do Maaser Sheni, os beneficiários desse dízimo (pobres,
viúvas, órfãos e estrangeiros) poderiam comer onde
quisessem. Lembrando que os levitas, caso quisessem,
também tinham direito a esse dízimo.
Esse dízimo era exclusivo de colheitas, grãos, e con-
forme mencionei acima, deveria ser retirado no terceiro e
no sexto ano de um período agrícola. Como o sexto ano
antecedia ao ano sabático, a colheita vinha em dobro e,
portanto, esse dízimo era bem maior. No sétimo ano, a

66 67
 CAPÍTULO 8

ABRAÃO: UM HOMEM ALÉM

DO SEU TEMPO

A
braão foi o progenitor da nação hebreia e nas-
ceu aproximadamente em 2.100 antes de Cristo.
Sua terra natal era Ur dos caldeus, uma cidade
próspera localizada na antiga região da mesopotâmia; o
nome do seu pai era Terá e este teve mais dois filhos,
Harã e Naor. A tradição judaica diz que Harã foi morto
por Ninrode, ainda na terra de Ur dos caldeus. Após isso,
Deus chama Abraão para sair daquela terra e ir para Ca-
naã. O interessante é que a proposta de Deus era tirar ele
de uma terra rica e levar para uma terra miserável, com
a promessa que faria dele uma grande nação e que a bên-
ção que estava sobre ele seria tão poderosa que transfor-
maria uma terra miserável em uma terra que manava lei-
te e mel, provando que a bênção não está em coisas, e sim
em pessoas. Obedecendo à voz do Senhor, Abraão toma
a sua esposa, Sarai, seu pai, Terá e Ló, seu sobrinho; filho
de Harã e que agora era seu filho adotivo, e parte para
Canaã. No caminho, eles encontram uma cidade que ti-

69
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
nha o mesmo nome do seu falecido irmão, Harã, e ali
decidem habitar, paralisando assim o trajeto estabelecido
por Deus; porém essa parada foi o fim da vida de Terá,
seu pai. Ele morreu com duzentos e cinco anos e, após a
sua morte, novamente Deus aparece a Abraão ordenan-
do que prosseguisse a sua caminhada.
Na Bíblia, não existe coincidência, por isso entendo
que a ideia de parar e estabelecer morada naquela cidade
partiu de Terá, justamente pela semelhança do nome do
lugar com o nome do seu filho morto, parando assim a
caminhada por causa de um trauma; entendo também
que isto foi a razão de Terá morrer ali mesmo, pois sendo
ele pai iria impedir Abraão de prosseguir. Traumas não
podem parar a nossa caminhada e pessoas que não estão
no contexto da nossa chamada podem nos atrapalhar se
insistirem em prosseguir conosco.
A distância total da viagem de Harã até Canaã foi de
aproximadamente setecentos e cinquenta quilômetros;
Canaã já era uma terra habitada por um povo idólatra
e havia naquele lugar muitos santuários pagãos, gerando
assim muita escassez e pobreza, dado que onde existe
pecado tem escassez de riqueza.
Como sinal de confiança na promessa recebida
de Deus, Abraão levantou um altar, declarando que o
Senhor é soberano sobre aquela terra e que uma nova
realidade estava iniciando.
O tempo passou e o filho prometido não veio, além
disso, houve uma fome em Canaã levando Abraão a
70
FRANCISCO ALVES
ir para o Egito. Segundo Flávio Josefo, essa viagem foi
muito proveitosa tanto para os egípcios, que adquiriram
muitos conhecimentos desconhecidos até então, como
para Abraão, que recebeu de Faraó grande soma em
dinheiro.
“Essa conversa tornou conhecida a sua virtude e
granjeou-lhe grande renome, pois apesar de os sábios
do Egito serem de sentimentos diversos, impondo essa
diversidade uma grande divisão entre eles e Abraão,
ele tão claramente lhes deu a conhecer que estavam
longe da verdade que eles lhe admiraram mais a
grandeza de espírito que o dom de persuadir. Ele
ensinou-lhes até mesmo a aritmética e a ciência dos
astros, que lhes eram desconhecidas: foi por meio dele
que essas ciências passaram dos caldeus aos egípcios e
dos egípcios aos gregos.”1
Abraão tinha um dom muito hábil de convencer as
pessoas e os seus conhecimentos estavam muito além
da sua época, não apenas os seus conhecimentos como
também a sua fé. Foi ele o primeiro a acreditar em res-
surreição de mortos e na existência de uma cidade santa
construída pelo próprio Deus (Hebreus 11:10–18).
O apóstolo Paulo escrevendo aos Gálatas diz que o
evangelho foi pregado primeiro a Abraão (Gl 3:8), e Jesus
revelou aos fariseus que esse velho patriarca tinha visto o
seu dia e muito se alegrou com isso. Os fariseus, surpresos
1 JOSEFO,Flávio. A História dos Hebreus, De Abraão a queda de Jerusalém. Rio de
Janeiro, Editora CPAD 2014, p.91.
71
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
com esta revelação, indagaram: ainda não tem cinquenta
anos e viste a Abraão? A resposta de Jesus deixou aquela
turma mais encapetada do que já eram: — “Em ver-
dade, em verdade vos digo que antes que Abraão
existisse, eu sou.” (João 8:56–58),
Meditando nesses textos, podemos compreender algu-
mas atitudes de Abraão e alguns eventos que ocorreram
após a sua morte. Por intermédio da revelação futura do
evangelho, Abraão viu o nascimento de Jesus e os sinais
no céu que haveria neste grande dia. Após a morte de
Sara, ele casou-se com outra mulher por nome Quetura,
e esta deu-lhe à luz seis filhos: Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã,
Jisbaque e Suá. Antes da sua morte, Abraão deu-lhes
presentes, riquezas e os enviou para o oriente, contudo,
os advertiu sobre o nascimento de um rei que o seu reino
jamais teria fim; e o sinal do seu nascimento seria uma
estrela que os guiaria do oriente até o local onde se en-
contrava o menino. Os filhos de Abraão se tornaram reis
das terras do oriente e foram passando essa profecia de
pai para filho até chegar o tempo do seu cumprimento.
Quando esse tempo chegou, seus descendentes — reis
daqueles países — foram avisados pela estrela, conforme
falado por Abraão, e eles então pegaram a oferta reco-
mendada por Abraão e viajaram por dois anos até chegar
à Judeia. Temos o número exato dessa viagem porque
Herodes os chamou secretamente para saber há quanto
tempo a estrela tinha aparecido a eles, e pela resposta
72
FRANCISCO ALVES
deles, entendemos o porquê de Herodes mandar matar
todas as crianças de dois anos para baixo (Mateus 2:7–11).
Outro detalhe interessante é que, conforme o relato
bíblico, eles já encontraram a criança em casa e não na
manjedoura. O que confirma mais uma vez que Jesus
já tinha dois anos de idade quando eles o presentearam
(Mateus 2:11).
A Bíblia não revela quantos reis eram, mas levando
em conta o número de filhos enviados por Abraão ao
oriente concluímos que eram no mínimo seis. O dicio-
nário Strong diz que a palavra “magos” é de origem dos
caldeus, o que nos leva a crer que eles receberam esse
nome por causa do local de nascimento do seu patriarca.
Após sair da presença de Herodes, eles encontraram
Jesus já na sua casa e ali eles ofertaram o que de melhor
havia nos seus reinos: ouro, incenso e mirra. Por serem
descendentes de um homem generoso e com muita fé, en-
tendo que essa oferta foi grande o suficiente para manter
todo o ministério de Jesus aqui na terra.
Deus abençoou muitíssimo a Abraão, a tal ponto que
essa prosperidade alcançou a Jesus através desta oferta
dada pelos reis do oriente. Todavia, o homem nunca
ganhará de Deus no tocante a dar. Posteriormente, os
reinos do oriente governados pelos filhos de Abraão se
tornaram hoje grandes potências mundiais, tendo em
vista que a bênção de Deus sempre será maior do que
qualquer oferta que o homem possa apresentar.
73
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
Apesar de Abraão ter passado por muitos momentos
de provas no decorrer do seu chamado, a maior ainda
estava por vir.
“E aconteceu depois destas coisas, que provou Deus a Abraão, e
disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.
E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem
amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre
uma das montanhas, que eu te direi.
Então se levantou Abraão pela manhã de madrugada, e albardou o
seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isaque seu filho;
e cortou lenha para o holocausto, e levantou-se, e foi ao lugar que
Deus lhe dissera.”
(Gênesis 22:1–3)
Isaque tinha aproximadamente vinte e cinco anos de
idade quando Deus o pediu em sacrifício; era o filho da
velhice de Abraão, praticava com entusiasmo todo tipo
de virtudes, servia a Deus com fidelidade e prestava ao
seu pai tantos serviços e obediência que o amor entre
ambos só crescia a cada dia; assim, o único desejo de
Abraão era morrer e deixar toda a sua herança para o
seu amado filho.
Todavia, certo dia, Deus o visitou e lhe pediu o único
e amado filho que lhe restava. Apesar do seu coração ter
ficado triste, Abraão preferiu obedecer à vontade divina
por entender que todas as criaturas são devedoras da pró-
pria existência somente a Deus; determinado a obedecer
74
FRANCISCO ALVES
ao Senhor, ele levantou-se pela madrugada e nada contou
para a sua esposa a fim de evitar que ela tentasse impedir
o sacrifício. Tomou consigo tão somente a Isaque, dois
moços e um jumento para carregar o necessário para a
viagem e o sacrifício.
A viagem durou três dias, tempo suficiente para
Abraão refletir e até desistir do sacrifício, mas nem isso foi
o suficiente para lhe fazer desistir. Um fato curioso é que,
quando Deus foi destruir Sodoma, Abraão deteve um dos
três anjos e com ele lutou em oração intercedendo por
um povo mau e desconhecido, já este mesmo ato não é
visto em nenhum momento quando o seu próprio filho
estava sendo pedido em sacrifício.
Como já expus, foi revelado a Abraão os dias de Cristo
e nesta revelação acredito que ele viu por muitas vezes
ser mencionado o nome de Isaque na genealogia de Jesus
Cristo, e isso lhe deu certeza de que o fim da vida de Isaque
não seria o monte Moriá. Sua convicção era tanta que ao se
despedir dos dois moços ao pé do monte ele diz que iria subir
com Isaque, adorar e depois desceriam juntos. Não levou os
dois moços ao cume do monte, mas deixou ao pé do monte,
pois o nível de fé e intimidade deles só permitia acompanhar
aquele sacrifício até ao pé do monte. Nem todos que cami-
nham conosco têm estrutura para ver e entender os nossos
sacrifícios, a estes devemos sempre deixar ao pé do monte
cuidando de jumentos, uma vez que se subirem ao monte
conosco vão atrapalhar.
75
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
O historiador Flávio Josefo diz que Abraão contou
a Isaque o pedido feito por Deus, e Isaque, filho digno
de tão admirável pai, escutou essas palavras não somente
sem admirar, mas até com alegria, por entender que seria
um indigno de viver se recusasse a obedecer à vontade
do seu pai, e principalmente por estar de acordo com a
vontade de Deus.
Apesar de determinado a sacrificar o seu filho em
holocausto, havia no coração de Abraão uma certeza
de que Deus se encarregaria de fazer alguma coisa para
cumprir a promessa que tinha feito; e como ele já tinha
visto por divina revelação que a descendência de Isaque
estava inclusa no futuro de Israel, sua fé lhe dava garan-
tias que ainda que ele degolasse e depois queimasse o
corpo do seu filho em holocausto, a promessa de Deus
o traria de volta, ressuscitando o seu corpo das cinzas
(Hebreus 11:18).
Essa foi a primeira vez que um homem acreditou em
ressurreição de mortos, algo que nunca tinha acontecido.
Frequentemente, temos uma enorme dificuldade de crer
em coisas que já aconteceram muitas vezes, inclusive na
nossa própria vida, mas Abraão tinha uma fé tão grande
que era capaz de crer em algo que nunca tinha visto,
cumprindo assim 1 Coríntios 2:9 em que diz: “as coisas
que o olho não viu, e o ouvido não ouviu e não subiram ao coração
do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.”
Esse tão grande sacrifício teria sido realizado se Deus
não tivesse impedido, chamando Abraão pelo nome duas
76
FRANCISCO ALVES
vezes: Abraão, Abraão! Os escritos da Torá ensinam que
todas as vezes que Deus chama um homem repetindo
duas vezes o seu nome é um sinal de grande carinho por
aquela pessoa. Abraão não tinha ideia do quanto era
amado, e aquele ato de obediência só aumentou ainda
mais o amor de Deus pela sua vida; amor tão grande
que o anjo do Senhor bradou pela segunda vez do céu
dizendo:
“Juro por mim mesmo, diz o Senhor: porquanto fizeste esta
ação, e não me negaste o teu filho, o teu único filho, que
deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a
tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia do
mar; e a tua descendência possuirá a porta dos teus inimigos;
e em tua descendência serão benditas todas as nações da terra;
porquanto obedeceste a minha voz.”
(Gênesis 22:15–18)
Os antigos quando queriam dar segurança e certeza
daquilo que estavam prometendo, geralmente juravam
por aquilo que lhe era mais valioso, tal como: “Juro
pela minha vida, ou juro pela vida do meu filho”. O
anjo do Senhor queria naquele momento transparecer
a Abraão uma certeza irrevogável de que, após aquele
ato, a sua descendência seria bendita na terra e se tor-
naria tão numerosa como as estrelas do céu e a areia
do mar. Por essa razão, Ele fez esse juramento em seu
77
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?

nome, pois nada há mais valioso em todo o Universo CAPÍTULO 9

do que o nome do Senhor.

O DÍZIMO DE ABRAÃO
Hoje, Abraão é pai dos maiores povos da terra:
Árabes (por meio da descendência de Ismael), Judeus
(por intermédio da descendência de Isaque), demais
povos orientais (por meio dos filhos de Quetura) e
de todos os cristãos pela fé. Tudo isso porque os seus
atos de fé e obediência lhe permitiram ser um homem
muito além do seu tempo.

“E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este

sacerdote do Deus Altíssimo.
E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo,
o Possuidor dos céus e da terra; E bendito seja o Deus Altíssimo,
que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o
dízimo de tudo.”
(Gênesis 14:18–20)

S
odoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar eram
cidades-estados e cada uma tinha o seu próprio
rei; todas estavam localizadas na rica planície
do Jordão: uma região cheia de poços de betumes, um
material extremamente caro naquela época, isso tornava
essas cidades muito prósperas. No entanto, a vida diária
daquele povo era cheia de imoralidade e a abundância
de riquezas gerou em seus corações a soberba, fartura de
pão, abundância de ociosidade e desprezo pelos pobres e

78 79
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
necessitados (Ez 16: 49). Tudo isso acendeu a ira de Deus
e atraiu uma terrível destruição sobre aquele povo. Entre-
tanto, antes da destruição, Deus mandou um primeiro si-
nal de insatisfação, permitindo que quatro poderosos reis
se levantassem contra aquelas cidades, saqueando todas
as suas riquezas e levando muitos cativos, entre eles Ló e
a sua família. Quando Abraão soube que o seu sobrinho
tinha sido levado cativo, formou um pequeno exército de
apenas trezentos e dezoito homens e partiu para guerrear
contra os quatro exércitos, e assim resgatar o seu sobri-
nho. Sua fé e coragem foi honrada por Deus e assim ele
venceu quatro poderosos exércitos com apenas trezentos
e dezoito homens; ao retornar para casa com os resgata-
dos e os despojos de guerra, encontrou no caminho Mel-
quisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus altíssimo;
esse trouxe a Abraão pão e vinho e abençoou a Abraão
dizendo: “Bendito seja o Deus altíssimo, que en-
tregou os teus inimigos nas tuas mãos” (Gênesis
14:20).
Melquisedeque reconheceu que era impossível
Abraão ter vencido quatro exércitos com apenas tre-
zentos e dezoito homens sem que houvesse a ajuda de
Deus; a única explicação para aquela vitória era Deus
na vida de Abraão, e em seguida deu-lhe pão e vinho;
essa foi a primeira ceia celebrada na história. Importante
lembrar que a ceia é conhecida também como a mesa do
Senhor, e o sentido dela é sentar à mesa do Senhor para
se alimentar. Não colocamos na nossa mesa qualquer
80
FRANCISCO ALVES
pessoa para almoçar conosco; essa liberdade só é dada
aos amigos. Então, quando Melquisedeque deu pão e
vinho a Abraão, ele estava declarando: Você é um amigo
de Deus!
Abraão tinha um coração muito grato e generoso, e
ao receber de Melquisedeque o pão e o vinho, devolveu a
este a décima parte de tudo que estava na sua mão, como
sinal de generosidade, reconhecimento e gratidão a Deus
por tão grande vitória. O dízimo de Abraão não foi de
cereais, e sim de prata e ouro, também não foi no período
da lei, mas sim no princípio. Todo princípio é maior do
que uma lei. Toda vez que um princípio é quebrado, uma
lei é estabelecida. Caim matou seu irmão Abel, por isso
foi estabelecida uma lei contra o homicídio, as filhas de
Ló tiveram relações sexuais com ele, por isso Deus insti-
tuiu a lei contra o incesto.
À medida que os princípios foram sendo quebrados,
novas leis foram estabelecidas, tornando assim o conjunto
de leis da Torá um total de seiscentos e treze mandamen-
tos, nos quais seria impossível alguém alcançar a salvação
por meio deles, por isso Jesus não veio para destruir a lei,
mas cumpri-las (Mateus 5:17). Uma vez cumpridas todas
as leis por meio de Cristo, fomos devolvidos ao princípio,
o que nos torna isentos da lei; quem anda debaixo de
princípios não pode ter medo da polícia, pois ela só existe
por causa dos transgressores da lei. E quem cumpre prin-
cípios não quebra leis.
81
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER? FRANCISCO ALVES

Uma vez que fomos devolvidos ao princípio nos de- somente pessoas abençoadas reconhecem em Deus todas
paramos novamente com o dízimo de Abraão, o qual, as suas vitórias. Por isso, não pratique esse dízimo para
diferentemente dos dízimos da lei, não é obrigatório, ser abençoado, pratique porque você já é uma bênção de
mas todos que não o praticam estão vazios de genero- Deus nesta terra!
sidade, reconhecimento e gratidão a Deus — o que já é
um grande problema. Quando praticamos esse dízimo,
estamos reconhecendo que Deus é o autor das nossas
conquistas e que nenhuma batalha venceríamos se a
mão Dele não fosse conosco.
Um outro detalhe interessante é que Melquisedeque deu
pão e vinho para Abraão e este deu-lhe o dízimo de tudo.
Numa clara revelação que deveremos devolver o dízimo
para a mesma mão que nos alimenta. Quando o apóstolo
Paulo vai falar sobre isso, ele diz: “Se nós semeamos
para vós as coisas espirituais, será muito que de
vós colhamos as materiais?” (1 Coríntios 9:11). 
É um ato de desonra ser alimentado espiritualmente
por um sacerdote espiritual que Deus colocou na nossa
vida e devolver o dízimo em outro lugar. Seria mais ou
menos como almoçar em um restaurante e pagar a conta
em outro.
O dízimo de Abraão não deve ser praticado por
quem quer ser abençoado, visto que quem devolve esse
dízimo já é um abençoado. Explico melhor: só vence os
inimigos dessa vida quem é abençoado, só é amigo de
Deus quem é abençoado; só tem gratidão no coração
quem é abençoado; só é generoso quem é abençoado, e

82 83
 CAPÍTULO 10

DÍZIMO DOS DÍZIMOS

“Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao Senhor

em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu
lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão.
E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Também falarás aos levitas,
e dir-lhes-ás: Quando receberdes os dízimos dos filhos de Israel,
que eu deles vos tenho dado por vossa herança, deles oferecereis uma
oferta alçada ao Senhor, os dízimos dos dízimos.”
(Números 18:24–26)

A
hierarquia sacerdotal era composta pelo sumo
sacerdote, os sacerdotes e os levitas.

O sumo sacerdote — o sacerdote dos sacerdotes —

era o cabeça simbólico tanto da fé quanto da nação de
Israel. Logo abaixo vinham os sacerdotes que se dividiam
em vários grupos exercendo serviços no templo e, por
fim, os levitas que eram considerados inferiores aos sa-
cerdotes. A escada espiritual de recebimento dos dízimos,

85
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
então, iniciava nos levitas e findava no sumo sacerdote,
conforme abaixo.
1 - O povo dizimava nos levitas;
2 - Os levitas dizimavam nos sacerdotes;
3 - Os sacerdotes dizimavam no sumo sacerdote;
4 - O sumo sacerdote em Deus.
Milhões de judeus dizimavam nos levitas, centenas de
milhares de levitas dizimavam nos sacerdotes e milhares
de sacerdotes dizimavam no sumo sacerdote.
O apóstolo Paulo, na carta aos Hebreus, explica que
o dízimo é do menor ao maior, sendo assim, o menor é
abençoado pelo maior (Hb 7:7).
Em hipótese nenhuma, esse processo poderia ser
quebrado, já que nenhum dos mencionados acima
poderia dizimar em si mesmo. Quando dizimo na vida
do meu líder espiritual, também estou reconhecendo
a legalidade e a autoridade espiritual que ele exerce
sobre a minha vida.
“Portanto uma das evidências de que nossa vida está
debaixo de uma cobertura espiritual é a nossa dispo-
sição de entregar nossos dízimos e ofertas no lugar de
onde recebemos essa cobertura espiritual. Portanto,
quem reconhece a cobertura espiritual entrega fiel-
mente os dízimos. Quem não entrega fielmente os dí-
zimos não reconhece sua cobertura espiritual. Abraão
86
FRANCISCO ALVES
reconheceu a autoridade espiritual de Melquisedeque
sobre a sua vida.”1
Todo ministro precisa ter sobre si um sacerdote
espiritual, tanto para ministrar na sua vida como para
receber o seu dízimo. Os levitas era uma tribo exclusiva
para o serviço do templo, mas isso não os isentava de
dizimar. O que temos hoje é muitos ministros errando
neste princípio porque acham que o fato de trabalhar
para Deus os isenta de devolver o dízimo, e os poucos que
dão preferem dizimar na própria igreja que dirigem, sem
reconhecer nenhum sacerdote instituído por Deus para
abençoar o seu ministério. Todo pastor precisa ser pasto-
reado. Todo ministro precisa ter sobre si outro ministro
para ministrar sobre a sua vida, para orarem juntos e até
ouvi-lo quando necessário. Existe um compartilhamento
de unção quando reconhecemos e aceitamos a cobertura
espiritual do nosso líder. Passamos a ser participantes da
mesma unção, da mesma bênção e da mesma graça.
Certa vez, vi um grande líder aqui no Brasil receber
uma ligação de um outro líder. Pelo teor da conversa,
ambos tinham se desentendido e o líder que ligou queria
pedir perdão e selar uma nova aliança entre eles por
intermédio de uma oferta. Foi então que ouvi a seguinte
resposta: — “Não vou lhe passar a minha conta porque
senão você vai depositar a oferta, e se você depositar, eu
1 GUIMARÃES, Ricardo. O Valor da oferta diante de Deus. Promove Artes Gráfica e
Editora, Rio de Janeiro, 2013.
87
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER? FRANCISCO ALVES

serei obrigado a liberar bênção sobre a sua vida e o meu que Ele vai receber é como duvidar da sabedoria divina,
coração não quer te abençoar.” acreditando que qualquer coisa pode ser apresentada
Confesso que fiquei chocado quando ouvi aquilo, apenas para cumprir protocolo e depois pegar de volta
mas ao mesmo tempo entendi o poder de uma oferta sem que Deus perceba a astúcia.
ou dízimo entregue nas mãos de quem tem autoridade Quando Paulo diz que o menor é abençoado pelo
para nos abençoar. Infelizmente, muitos só reconhecem o maior, entendemos também que não podemos dar
a autoridade espiritual do seu pastor quando querem ser o dízimo para qualquer pessoa, principalmente se esse
consagrados ao ministério. Após a consagração, preferem não tem autoridade para nos abençoar. Se eu entrego o
ignorar e outros até desafiar aquele que recebeu de Deus dízimo para alguém que está pior do que eu, nenhuma
unção e autoridade para os abençoar. autoridade ele terá para me abençoar. O receptor do
Os que preferem caminhar sem reconhecer nenhuma nosso dízimo tem que ter autoridade espiritual sobre nós
cobertura espiritual sobre a sua vida, terminam come- e ser abençoado para nos abençoar.
tendo um outro erro ainda mais grave, que é dizimar
na própria igreja que dirigem. Imagine o quanto seria
fácil pagar imposto de renda para a sua própria empresa.
Assim muitos tem agido quando dizimam na própria
igreja. E esse fato se torna mais complicado ainda na vida
de obreiros que vivem da obra, pois dizimam mil reais
pela manhã e à tarde pedem da tesouraria um vale de
dois mil. É como tirar de um bolso e colocar no outro. Os
que agem dessa forma terminam transformando um ato
de gratidão e generosidade em um insulto a Deus, pois
a pior sensação que existe quando alguém mente para
nós não é a mentira em si, e sim a certeza que existe na
cabeça do mentiroso de que iremos acreditar naquilo.
Isso é um insulto, pois percebemos que na cabeça dele
somos nada mais que um bobo que é facilmente passado
para trás. Apresentar a Deus esse tipo de gratidão e achar

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 CAPÍTULO 11

DÍZIMO NO NOVO
TESTAMENTO

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a

hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei,
o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e
não omitir aquelas.”
(Mateus 23:23)

O
s fariseus eram seguidores rígidos da lei, e faziam
isso de forma bem explícita, transbordando as-
sim os mais altos níveis de autopropaganda para
atrair atenção para si. O fariseu da parábola registrada
em Lucas 18:9–14 é um exemplo disto: em poucos mi-
nutos ele simplesmente fuzilou o seu parceiro de oração,
acusando-o de ser roubador (não devolver o dízimo),
injusto e adúltero; ao mesmo tempo que denunciava o
pecado do seu irmão, ele se vangloriava dos seus feitos,
entre os quais, jejum duas vezes por semana e devolução
do dízimo de tudo quanto possuía. Durante toda a sua
oração, não houve nenhum momento de arrependimen-

91
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
to, confissão ou manifestação de dependência de Deus,
aquele homem se apresentou diante de Deus como um
ser perfeito, tão perfeito que ele por pouco não parabeni-
zou a Deus por ter um servo tão excelente como ele.
Durante o ministério de Jesus, essa turma foi ferrenha
perseguidora do mestre, procurando de todas as formas
alguma falha na lei, na ética e também nos seus discí-
pulos. O interessante é que não encontramos os fariseus
acusando a Jesus e seus discípulos de serem contra, ou de
não devolverem o dízimo em nenhum livro dos evange-
lhos. Pelo contrário, no texto acima é Jesus que repreende
eles, chamando-os de hipócritas porque davam o dízimo
da hortelã, do endro e do cominho, porém estavam
desprezando a justiça, a misericórdia e a fé. Jesus vai
encerrar essa exortação dizendo que eles deveriam fazer
“essas coisas sem desprezar aquelas”, ou seja: deveis dar
o dízimo, mas isso não vai remover de vocês a obrigação
de praticar outros princípios igualmente importantes, tais
como a justiça, misericórdia e a fé. Observe que Jesus
colocou essas coisas no mesmo patamar do dízimo no
reino espiritual.
Em Mateus 22:21, eles decidem armar um laço para
Jesus, com a intenção de pegá-lo em alguma palavra
contra os altos impostos de Roma. Seguros de que o
plano iria dar certo e assim iriam denunciá-lo como um
conspirador contra o domínio romano, eles chegaram até
Jesus e jogaram o laço:
92
FRANCISCO ALVES
“Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou
não? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me
experimentais, hipócritas?
Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro.
E ele diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição?
Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai, pois, a César o
que é de César, e a Deus o que é de Deus.”
(Mateus 22:17–21)
A resposta de Jesus os deixou sem palavras, visto que
os exortava dizendo que: assim como nos ganhos mensais
deles havia uma parte que deveria ser devolvida a César
como pagamento de imposto, também havia uma outra
parte que era devida a Deus como dízimo.
Judas, o tesoureiro do ministério de Jesus, certa vez
protestou porque Maria ungiu os pés de nosso Senhor com
um arrátel de unguento de nardo puro. Segundo o texto
relatado em João 12:5, o traidor indagou o porquê de tanto
desperdício com algo tão caro, que poderia ser vendido por
trezentos denários, sendo que todo esse dinheiro poderia ser
destinado aos pobres. Porém, o texto continua, e temos a
revelação de que a preocupação dele não eram os pobres, e
sim o próprio bolso, pois ele era ladrão e roubava o que ali se
lançava (Jo 12:6). Interessante que até hoje temos no nosso
meio “os descendentes de judas” que sempre questionam a
devolução do dízimo, afirmando que não é correto devolver
na igreja, e sim dar aos pobres. Na verdade, esse “espírito de
filantropia” é apenas uma farsa para esconder corações ava-
93
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
rentos. Além do mais, não podemos transformar dízimos
em esmolas, pois são princípios totalmente diferentes.
Judas murmurou contra a oferta de Maria, calculou o
valor dela em trezentos denários, e ficou revoltado porque
todo esse dinheiro não foi parar na bolsa que ele carre-
gava. O grupo de discípulos não era composto apenas
por pescadores; entre eles havia, por exemplo, Mateus,
um ex-cobrador de impostos, homem acostumado a lidar
com números, e que com certeza não seria enganado tão
facilmente. Judas não roubava descaradamente as ofertas;
como falei anteriormente, os fariseus nunca acusaram
Jesus de não ser dizimista; e isso não aconteceu porque
eles sabiam da fidelidade do Senhor neste princípio.
Isso me faz acreditar que uma prestação de contas era
feita por Judas, periodicamente lá no templo, e era no
caminho que os desvios aconteciam. A revolta de Judas
por não arrecadar trezentos denários era simplesmente
porque ele perderia a oportunidade de roubar o dízimo
desse dinheiro, que seria de trinta denários. Como ele já
era acostumado a roubar, ele via aquilo como um direito
dele, e é por isso que pouco tempo depois ele vendeu o
nosso Senhor exatamente por trinta moedas, pois o dízi-
mo dos trezentos denários não saiu do seu coração.
Os príncipes de Israel tinham o imenso desejo de matar
Jesus, mas para o plano dar certo seria necessário encontrar
alguém entre os doze que estivesse disposto a traí-lo. É visível
que Jesus não escolheu os melhores que havia em Israel para
serem os seus discípulos. No meio desse seleto grupo, havia
94
FRANCISCO ALVES
alguns bem destemperados. Pedro era totalmente imprevisí-
vel no seu emocional; era imprudente, e pelo visto não era
bem convertido, pois até para ir orar no monte ele levava
consigo uma espada. Tomé era muito cético e desconfiava
de tudo e de todos. Tiago e João tinham um emocional tão
descontrolado que desejaram queimar uma cidade inteira
simplesmente porque não foram bem recebidos. Porem
nenhum desses se prontificou a trair Jesus. O único que foi
procurar os príncipes dos judeus para executar a traição foi
Judas; e o que lhe motivou a isso não foi o preço do paga-
mento que lhe foi oferecido, pois trinta moedas não era nada
se comparado a quantidade de ofertas que ele administrava,
o que motivou Judas a trair foi o valor simbólico que aquele
dinheiro representava. O seu coração estava setado ainda
pelo dízimo dos trezentos denários, por isso as trinta moedas
representaram para ele um valor mais emocional do que
monetário.
Um outro detalhe é que os príncipes dos judeus não
desconfiaram em nenhum momento quando Judas se
ofereceu para entregar a Jesus. Não houve dúvida neles,
não pensaram duas vezes e rapidamente ofereceram o
pagamento, pois sabiam que estavam diante de um co-
nhecido. Judas sempre ia ao templo devolver dízimos, já
tinha trânsito livre lá, por isso não foi difícil para ele ter
aquela reunião secreta com aqueles homens.
Quem rouba dízimos abre a possibilidade de receber
propostas que lhe conduzirão para abismos sem volta, e
que irão matar para sempre o seu ministério.
95
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
Conforme as leis do Antigo Testamento e também
o exemplo do dízimo de Abraão, antes da lei, o dízimo
nunca foi para coisas, e sim para pessoas. A finalidade do
dízimo era os sacerdotes, os levitas, os órfãos, as viúvas e
os estrangeiros. Todos deveriam estar dentro dos critérios
estabelecidos: sacerdotes e levitas deveriam pertencer a
tribo Levi; órfãos e estrangeiros não poderiam ter paren-
tes na terra; e a viúva não poderia ter filhos maiores de
idade; e todos acima de tudo deveriam temer ao Senhor
para assim gozar dos benefícios por Ele estabelecidos.
Paulo era um estrito conhecedor da lei, por isso que
quando ele chama a atenção em 1 Coríntios 9, sobre a
necessidade do sustento daqueles que viviam da obra,
ele falava sobre dízimos, pois a finalidade do dízimo era
justamente o sustento de pessoas que estavam a serviço
do Senhor.
É certo que ele não usou esse direito, mas isso foi
uma opção pessoal; segundo o texto, só ele e Barnabé
não usufruíam desse benefício. No entanto, Pedro e os
demais apóstolos tinham esse benefício e ele vai encer-
rar dizendo que “aqueles que pregam o evangelho, que vivam
do evangelho” (1 Coríntios 9:14).
Até hoje não se sabe ao certo quem escreveu a carta
aos Hebreus, eu particularmente acredito que foi Paulo,
pela maneira como ele a encerra, sendo muito semelhante
as demais cartas por ele escritas. Entretanto, nesta carta,
o autor novamente vai falar sobre dízimos e ele se refere
a esse assunto como algo bem presente em seus dias. “E
96
FRANCISCO ALVES
aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém,
aquele de quem se testifica que vive” (Hebreus 7:8).
Observe que o texto se refere ao tempo presente da
vida do autor, indicando que quando a carta foi escri-
ta, o hábito de receber dízimo “por homens” era algo
normal. Um outro detalhe muito importante é que não
encontramos nenhum texto no Novo Testamento proi-
bindo tal contribuição. Caso houvesse, e essa prática se
tornasse nula nos dias do ministério de Jesus, com certeza
encontraríamos vários textos de confronto, assim como
encontramos acerca da guarda do sábado.
Por intermédio do sacrifício de Cristo na cruz do
Calvário, fomos comprados e passamos a ser proprieda-
de exclusiva Dele, após sermos comprados por um alto
preço (1 Co 6:20).
Ora, se fomos comprados, temos um dono e se temos
um dono somos nada mais que servos. O interessante é
que a palavra “servo” consiste em uma tentativa de sua-
vizar a expressão, pois na tradução original é “doulos”,
que significa “escravo” — alguém que se rende a vontade
do outro, abrindo mão dos seus próprios interesses. Um
escravo não tem nada sob o seu domínio, tendo em vista
que tudo o que ele tem e tudo o que ele gera pertence ao
seu senhor. Isso abrange de forma tão integral que até os
filhos de um escravo pertencem ao seu senhor.
Quando Deus virou o cativeiro de Jó, enquanto ele
orava pelos os seus amigos, o Senhor devolveu em dobro
tudo quanto Jó tinha perdido, exceto os filhos, que foram
97
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?

devolvidos na mesma quantidade de antes, pois os filhos CAPÍTULO 12

nunca foram dele, sempre pertenceram a Deus. Muitos

E VOS ABRIREI AS JANELAS

têm uma extrema facilidade para reconhecer Deus como
Senhor da sua casa, contudo, não o aceitam como Se-
nhor da sua vida; pois quem não consegue ser fiel a Deus
no dinheiro, nunca conseguirá ser fiel com a sua vida,
porque a vida é mais importante que o dinheiro.
DO CÉU...
“Tem muita gente que se relaciona com Deus como
se fosse um casamento com regime parcial de bens.
Algumas coisas na vida incluem Deus, mas quando se
“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja
trata das suas finanças Deus tem que ficar de fora.
mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz
Essas pessoas vivem em constante luta. Porque quando
elas se apertam, recorrem a Deus, e querem Ele do o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não
seu lado. Nessa hora a pessoa faz voto, faz propósito, derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente
promete mundos e fundos para Deus, para ter Dele a para a recolherdes.”
bênção. Mas, quando estão bem, se esquecem comple- (Malaquias 3:10)
tamente de Deus.”1
Chegamos ao último capítulo!

Quem se entrega a Deus por completo não coloca
restrições em certas áreas da sua vida porque a sua en-
trega foi total, liberando, assim, acesso divino a tudo que
lhe pertence. Aqueles que têm esse pensamento possuem
uma chave poderosa de provisão, uma vez que Deus
passa a ser participante em todas as áreas da sua vida e
tudo o que ele apresenta a Deus é muito pouco diante da
grandeza de bênçãos que Deus tem para derramar sobre
a sua vida.
1 GUIMARÃES, Ricardo. O Valor da oferta diante de Deus. Promove Artes Gráfica e
Editora, Rio de Janeiro, 2013.
E
aqui quero compartilhar uma promessa poderosa
que Deus fez aos dizimistas. Na verdade, é uma
chave que pode destravar muita coisa na sua vida.
Vamos lá?!
O homem está suscetível a cometer muitos erros, sua
humanidade é carregada de limitações e a sua falta de
visão pode ocasionar o surgimento de muitos problemas
na sua vida. Por outro lado, Deus tem o conhecimento de
todas as coisas, Ele é a sabedoria em pessoa e somente Ele

98 99
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
tem os meios e as estratégias certas para treinar a mente
humana para o sucesso.
Dízimo não é uma ajuda para a obra de Deus, até
porque o Senhor não está carente e muito menos endi-
vidado. Uma das finalidades desse princípio é ser uma
ferramenta para treinar a mente humana e prepará-la
para ver e viver as grandezas do reino.
Um dos primeiros requisitos para alguém ser bem
sucedido na terra é saber lidar com aquilo que não lhe
pertence. Ninguém quer fazer parceria com pessoas
irresponsáveis que não conhecem limites e não sabem
diferenciar o que é seu e o que pertence aos outros.
Quem não sabe lidar com os recursos alheios é facil-
mente dominado pela corrupção e pelo engano, e isso
pode lhe causar muitas dores a curto e a longo prazo.
O princípio de separar dez por cento das nossas finan-
ças e consagrá-lo ao Senhor é um teste de qualificação
para saber se você está preparado ou não para lidar com
aquilo que não lhe pertence.
Eu tenho uma empresa de turismo, e certa vez fui
testado, e graças a Deus aprovado, por um dos meus
clientes. Trata-se de um homem de negócios, muito bem
sucedido e muito influente no Brasil.
Como ele está sempre viajando e por ter um tempo
muito reduzido, certa vez ele me chamou na sua casa e
me entregou uma quantia de 7 mil reais. Esse dinheiro
seria como um saldo de caixa na minha empresa e a
100
FRANCISCO ALVES
medida que ele fosse pedindo passagens, eu deveria ir
abatendo desse valor.
Em menos de quinze dias, ele solicitou várias passa-
gens, e o saldo rapidamente acabou. Enviei vários rela-
tórios de emissões da forma mais transparente possível
para não deixar nenhuma dúvida sobre a seriedade e
honestidade do nosso trabalho.
Certo dia, recebi outra mensagem dele, convidando-me
a ir novamente na sua casa e, ao chegar lá, a sua secretária
me entregou um pacote com quinze mil reais com a mesma
finalidade do primeiro valor que recebi.
No decorrer dos dias, realizamos a emissão de várias
passagens e semelhante a primeira vez, fui enviando
relatórios de todos os gastos. Em pouco tempo, o saldo
já estava acabando e, antes de zerar totalmente, fui no-
vamente chamado para ir na sua casa e dessa vez ele me
entregou um pacote com trinta mil reais.
Fui ao banco, lancei na conta de empresa e, quando
cheguei no escritório, entrei em contato para agradecer
a confiança e informar que naquele mesmo dia enviaria
um relatório com o saldo total que ele tinha conosco.
Porém, ele simplesmente respondeu: não precisa mais
mandar relatório nenhum! Confio em você.
Em Salmos 24:1, a Bíblia nos informa que todas as
coisas que existem na terra pertencem ao Senhor. Deus
é muito sábio. Ele não dá riquezas para qualquer pessoa.
Na verdade, Ele inicia liberando aos poucos para que
possamos administrá-la e a medida que o coração de
101
DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
quem administra vai sendo treinado, Deus vai separando
quem está qualificado para administrar quantias cada
vez maiores.
Eu já vi pessoas que não conseguem devolver duzentos
mil reais de dízimo, porque acham que é muito dinheiro.
Isso significa que um cristão com essa mentalidade não
está preparado para administrar dois milhões.
Seja fiel no que pertence ao Senhor e Ele liberará
muito mais para você cumprir o seu propósito de vida e
viver bem com a sua família na terra.
Antes de desejar o muito, seja fiel no pouco que já
está sendo colocado nas suas mãos. O importante não é
aquilo que você faria se tivesse um milhão de reais, mas
aquilo que você já está fazendo com os dez reais que já
possui.1
“Coisas pequenas são coisas pequenas, mas a fidelida-
de nas pequenas coisas é uma grande coisa.”
Hudson Taylor
A regra que Deus usa para nos testar parte do prin-
cípio das pequenas coisas e também serve como uma
excelente ferramenta para selecionarmos bem as pessoas
com as quais devemos fazer negócios.
Confesso que não tenho nenhuma dificuldade em
fazer negócios com aqueles que praticam o princípio de
devolver o dízimo do Senhor, pois se ele consegue ser fiel
1 DAYTON, Howard. O seu dinheiro: um guia bíblico para ganhar, gastar, economi-
zar, investir, contribuir e livrar-se das dívidas. Editora Universidade da Família. São
Paulo, 2015.
102
FRANCISCO ALVES
a Deus o qual nunca viu, com certeza será fiel a mim que
sou seu semelhante e estou diante dos seus olhos.
Todas as pessoas más pagadoras que conheço
não são fiéis em devolver o dízimo do Senhor. Vivem
enroladas, cheias de trapaças, enganos e a vida nunca
caminha bem.
Quem não sabe lidar com aquilo que não lhe perten-
ce não está preparado nem mesmo para ter um cartão de
crédito; pois o limite que ele tem não é seu, e sim do ban-
co. Se você usar, terá que pagar de volta. E isso é um laço
para quem não é treinado nessa área, pois no primeiro
mês ele vai ao shopping, estoura todo o limite e no outro
mês está pedindo oração falando que o diabo entrou no
cartão de crédito. Eu imagino satanás pensando: Ué! Mas
na fatura do cartão dele tem roupas, sapatos, relógios, perfumes e
ternos. Eu nem uso essas coisas! Isso é calúnia!
A grande maioria dos problemas que as pessoas en-
frentam são criados por elas mesmas. Na verdade, 95%
desses problemas são de autoria das próprias vítimas.
Somente 5% são geradas por situações ou terceiros.
Deus não quer ver os seus filhos metidos em proble-
mas, nem mesmo nós seres humanos, cheios de falhas,
queremos ver nossos filhos em problemas. Volto a repetir,
Deus não quer o nosso dinheiro, o Senhor apenas quer
nos treinar para sabermos lidar com o dinheiro, fazendo
sempre distinção entre o que é nosso e o que não é, pois
se não soubermos fazer essa separação seremos vítimas
de muitas dores, apertos e sofrimento com situações que
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DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER?
aos poucos irão empurrar nossas vidas e famílias para
grandes abismos.
Adão não soube fazer essa separação, tomou do fruto de
uma árvore que não lhe pertencia, e como resultado até hoje
colhemos as consequências dessa sua imprudência.
Não coloque a sua vida em risco, não ponha a sua
família exposta a consequências dolorosas. Seja um servo
bom, sendo fiel no pouco e sobre o muito o Senhor te
colocará (Mt 25:23).
O céu é o lugar mais próspero que existe no Universo.
A nova Jerusalém, a cidade santa, é toda de ouro puro,
semelhante a vidro puro, o seu muro é de jaspe adornado
com pedras preciosas (Ap 21:18–19). Não há escassez
nesse lugar, pois esse é o reino mais próspero e mais
poderoso que há no Universo.
Às vezes imagino que aqueles que têm a mente fecha-
da e até murmuram contra prosperidade terão um cho-
que quando chegarem lá. Com certeza deverão pensar:
Meu Deus! Qual a necessidade dessa ostentação toda?! Por que não
derreteram esse ouro e deram aos pobres?
Os futuros moradores dessa cidade deverão ter men-
talidade de reino, mentes de governo, próspera, aberta
para entender e viver as grandezas de Deus.
A prosperidade inicia na mente, por isso existem
pessoas que carregam riquezas no corpo, mas a mente é
pobre, já outras não têm muitas ou até mesmo nenhuma
riqueza no corpo, mas a mente é próspera. A maioria
dos ganhadores da Mega-Sena voltam a ser pobres nova-
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FRANCISCO ALVES
mente em menos de dez anos, pois é inútil colocar muito
dinheiro em mãos controladas por mente pobre.
“Coloque milhões em mãos controladas por uma
mente miserável e em poucos anos o dinheiro terá aca-
bado, tome todo o dinheiro das mãos de alguém que tem
a mente próspera e em pouco tempo ele terá recuperado
tudo novamente”.
Como falei anteriormente, toda prosperidade começa
na mente; e Deus tem uma promessa para tornar a nossa
mente próspera.
Em Malaquias 3:10, Ele promete abrir as janelas
do céu e derramar bênçãos sem medida sobre as nossas
vidas.
Em uma residência, existem portas e janelas, as por-
tas são usadas para acessar cômodos diferentes, mas as
janelas são usadas para arejar o ambiente e olhar o que
se passa fora.
Noé obteve salvação para a sua vida e família através
de uma informação privilegiada; quando entrou na arca
com a sua família, ele a acessou por uma porta, que mais
tarde foi fechada por Deus. Noé não tinha poder para
abrir aquela porta, mas dentro da arca havia uma janela
e era por lá que ele via tudo o que se passava lá fora. A
janela da arca era um canal de informações para Noé
saber o tempo certo para sair com a sua família.
A informação é algo poderoso, e quem a possui está
sempre à frente dos demais.
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DÍZIMO — TENHO MESMO QUE DEVOLVER? FRANCISCO ALVES

Em 1972, o presidente Richard Nixon tentava a estiver ruim, eu saio consciente de que a chuva poderá
reeleição, e durante o processo eleitoral ele usou informa- cair durante o percurso, dificultando o trânsito e até
ções secretas do FBI e da CIA para ter vantagem sobre mesmo me atrasando para os compromissos que tenho
o partido democrata. Após reeleito, a descoberta dessa agendado.
tática desonesta gerou a sua renúncia.2 Praticar o princípio do dízimo é ser beneficiado com
Bill Gates, um dos homens mais ricos do mundo, informações para os trajetos da vida, é se tornar apto
ficou bilionário com um programa de computador que para ver as riquezas do reino e ter acesso aos tesouros
se chama janelas, ou Windows, como é popularmente escondidos do Senhor.
conhecido. Porque quem tem acesso a janelas tem infor-
mações que outros não tem. “Dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas, para
A promessa de Deus em abrir as janelas dos céus para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo
aqueles que são dizimistas nada mais é do que revelar teu nome.”
informações que outros não têm acesso. (Isaías 45:3)
Quem tem acesso às janelas do céu consegue ver
oportunidades onde muitos só veem crises. A mente de Até o próximo livro!
quem tem esse privilégio é sempre visitada por informa-
ções celestiais que mudam a sua visão das coisas, e ele Deus te abençoe com os orvalhos do céu e com a
consegue ver riquezas onde ninguém vê. gordura da terra!
É uma nova ideia que Deus dá, é uma oportunidade
de negócio que passou batido aos olhos de muitos, é a
uma revelação que funcionará como uma passagem
secreta em um beco sem saída.
Moro em um condomínio e, durante o inverno, antes
de sair para o trabalho, sempre olho pela janela do meu
quarto para saber como está a previsão do tempo lá fora.
A visão que tenho a partir da minha janela me fornece
a informação se o tempo está bom ou ruim. Se o tempo
2 BRUNET, Tiago. Descubra o maior poder do mundo. Editora Vida, São Paulo,
2018.

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 BIBLIOGRAFIA

BÍBLIA. Português. A Bíblia Sagrada. Tradução de

João Ferreira de Almeida, Edição Corrigida e Revisada
Fiel ao texto original. Sociedade Bíblica Trinitariana do
Brasil. São Paulo, 2011.
BÍBLIA. Português. Bíblia Revelada, Antigo Testa-
mento - Alpha. Traduzida, Comentada e Editada por Dr.
Aldery Nelson Rocha.
BÍBLIA. Português. Bíblia Revelada, Novo Testa-
mento – Ômega. Traduzida, Comentada e Editada por
Dr. Aldery Nelson Rocha.
Bíblia Almeida Revista e Atualizada com os números
de Strong. Bible Study Olive Tree.
BRUNET, Tiago. Descubra o maior poder do mundo.
Editora Vida, São Paulo, 2018.

109
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DAYTON, Howard. O seu dinheiro. Editora Univer- Torá RASHI, Sefer Bereshit: Gênesis, com comentá-
sidade da Família, São Paulo, 2015. rios de Rashi. Editora Maayanot, São Paulo, 2015.
GUIMARÃES, Ricardo. O valor da oferta diante de
Deus. Editora Promove Artes Gráficas, Rio de Janeiro, Sites visitados
2013. www.chabad.org
HILL, Craig. Cinco Segredos da Riqueza que 96% www.estudodedeus.com.br
das pessoas não sabem. Editora Universidade da Família,
www.orvalho.com
São Paulo, 2014.
www.morasha.com.br
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus: De Abraão
www.estudosdabiblia.net
a queda de Jerusalém. Editora CPAD, Rio de Janeiro,
2015. www.incrivel.club.com

KRAYBILL, Donald B. O Reino de Ponta Cabeça.

Editora Mensagem para todos, São Paulo, 2017.
KUNZ, Claiton. As Parábolas de Jesus e seu ensino
sobre o Reino de Deus: Desvendando o Mistério das
42 Parábolas muito além do óbvio. Editora A.D.Santos,
Curitiba, 2014.
SOARES, Mateus. Enciclopédia da vida dos persona-
gens Bíblicos de A a Z: A vida dos principais personagens
Bíblicos em detalhes como você nunca viu antes! Edições
Acadêmicas, Rio de Janeiro, 2017.
SUBIRÁ, Luciano Uma questão de honra: O Valor
do dinheiro na adoração. Gráfica Betânia, Curitiba,
2004.

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Caso sinta em seu coração o desejo de semear em nosso
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Francisco C Alves de Oliveira

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