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Área de Competências-Chave
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Tema 2: Empresas, organizações e Modelos de Gestão
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A informação nas organizações
No mundo das empresas e das organizações em geral, a informação assume uma enorme importância
para o seu desempenho racional. Desde o século XV que as empresas dispõem de uma técnica orientada
para a produção sistemática de informação que servirá de suporte à tomada de decisões - a contabilidade.
Esta técnica de expressão, medida e
análise da situação patrimonial de
uma empresa desenvolveu-se ao
longo de séculos, tendo-se constituído
como um recurso essencial na
administração e gestão das unidades
económicas.
Uma decisão fundamentada, em
que os efeitos e consequências sejam
previsíveis, implica o consumo, a
utilização de grandes quantidades de
informação, devidamente selecionada e organizada.
A comunicação numa empresa é o processo através do qual as pessoas que nela trabalham transmitem
informações entre si e interpretam o seu significado. Constitui um dos aspetos básicos da atividade de
gestão, pois que gerir é fazer com que as coisas sejam feitas através das pessoas, e, para que elas possam
atuar de forma eficaz, é necessário comunicar-lhes o que deve ser feito.
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Atendendo às vantagens da comunicação recíproca e à sua relativa incompatibilidade com a estrutura do
poder, a intervenção dos psicossociólogos é muitas vezes solicitada no sentido de melhorar as comunicações
na organização.
As redes de comunicação
As redes de comunicação representam a
estrutura de um grupo ou de uma organização,
reproduzindo os modelos de transmissão de mensagens que se estabelecem entre os seus membros.
Tendo em conta as limitações impostas à comunicação, podem distinguir-se dois grandes tipos de redes
formais de comunicação: redes centralizadas e redes descentralizadas.
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- o número de mensagens emitidas;
- o número de erros cometidos.
Organizando os grupos em 3 tipos de rede - estrela, cadeia e círculo -, chegou às seguintes conclusões:
o grupo organizado em estrela é o mais eficaz dado que o tempo para resolver o problema é menor,
o número de mensagens é reduzido e o número de erros é pequeno.
o grupo organizado em círculo exige mais tempo para resolver os problemas, há emissão de mais
mensagens, há maior número de erros, sendo a organização do grupo reduzida.
Nas tarefas simples, a rede em estrela é mais eficaz do que a organizada em cadeia que, por sua vez, é
mais eficaz do que o círculo. Contudo, se uma nova ideia é introduzida num grupo, há mais aceitação na
organização em círculo do que em estrela.
Relativamente à satisfação dos indivíduos, o círculo mantém mais facilmente a adesão dos participantes,
enquanto que na rede em estrela o desinteresse é mais rápido e o nível de satisfação mais baixo.
As redes descentralizadas são mais eficazes na resolução de problemas complexos, proporcionam maíor
satisfação dos participantes e são mais adaptáveis à mudança organizacional.
Esquematizando:
Em síntese...
A comunicação é inerente a toda a atividade humana. Utilizando diversos tipos de linguagem, os seres
humanos comunicam entre si nos diferentes contextos sociais.
Muitas vezes no processo
de comunicação surgem vários
obstáculos que constituem
barreiras à comunicação e que
decorrem de dificuldades no
domínio do código linguístico,
na diferença de valores,
atitudes e crenças, etc.
A comunicação, que
percorre toda a vida humana,
acontece em vários contextos.
Assim poderemos falar de
comunicação interpessoal,
grupal, organizacional e de
massas. Nos vários níveis a
comunicação assume diversas
funções: informativa, de
Disponível na Internet: http://comumunicare.blogspot.pt/2013/05/comportamento-
socialização e integração, de relacional-comunicacao.html
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influência e persuasão e ainda a função fática. (...)
Nas organizações a comunicação desempenha um papel fundamental, sendo um fator determinante na
eficácia da organização e estando por isso no centro das preocupações dos administradores.
Dada a dimensão das organizações, a comunicação ocorre através de canais estruturados que são as
redes de comunicação. Os diferentes tipos de redes - em cadeia, em estrela e em círculo - têm sido objeto de
várias experiências que visam avaliar os inconvenientes, as vantagens e as potencialidades de cada um deles.
Comunicação organizacional
Por mais que estudemos, sempre teremos algo a descobrir no que diz respeito à comunicação, até
porque é através dela que começamos a compreender o mundo, as pessoas, as nossas atitudes. Para tudo
que requeira
compreensão é
necessário que seja
utilizado a comunicação
certa. Na empresa
temos de ser bons
comunicadores
sabendo distinguir o
que é pessoal e do que
profissional. (...)
Devemos avaliar
periodicamente, seja
como emissores ou
como recetores, os
formatos
comunicacionais
utilizados, com o
objetivo de alcançar
sempre os melhores resultados. (...) Os principais problemas encontrados nas empresas têm como principal
causa problemas no sistema de comunicação.
A interdependência das organizações leva-as ao relacionamento e à integração com as demais e com o
seu mundo interno e externo. Tal é feito através de processos comunicacionais. Existem várias ferramentas
na comunicação que são utilizadas para identificar e atender as necessidades dos clientes de uma
determinada organização. Essas ferramentas constituem a Comunicação Organizacional.
A Comunicação Organizacional ocorre em três patamares: Comunicação Institucional (Relações
Públicas); Comunicação Interna (Comunicação Administrativa) e Comunicação com o Mercado (Marketing).
Para as organizações em geral, é muito importante a integração de suas atividades de comunicação,
incorporando a ideia de uma comunicação integradora. (...)
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Comunicação Institucional (relações públicas)
Um dos principais objetivos da comunicação institucional é o estabelecimento de relações duradouras
com os seus destinatários. Isso é possível através de ações personalizadas e segmentadas, tomando por base
a análise periódica das informações
obtidas através de questionários e
relatórios aplicados na empresa, visando
identificar as necessidades dos clientes.
Usam-se ferramentas da comunicação
institucional para atingir todos os públicos
envolvidos na organização (internos e
externos).
Os principais objetivos das
publicações institucionais são: combater
o desconhecimento em relação à
organização; promover a integração dos Disponível na Internet: http://grupomagister.com.br/v2/noticias/em-
entrevista-professora-mestre-leila-medeiros-fala-sobre-comunicacao-
públicos a ela ligados; projetar a empresarial
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credibilidade, melhorando sua imagem, proporcionando um retorno financeiro, visto que as suas ações
estão voltadas para a sociedade. (...) Especificamente, no âmbito da sua responsabilidade social, as
organizações poderão levar a cabos as seguintes atividades: política de “portas abertas”; reuniões com os
líderes da comunidade; edição de
publicações; contribuições para instituições
de caridade; colaboração com os poderes
políticos; colaboração com as associações
de classe ou profissionais; auxílio a clubes
desportivos e outras organizações
recreativas; comemorações de eventos
especiais. As ações desenvolvidas no
âmbito da responsabilidade social das
organizações, abrangem tanto o público
interno como o externo, visto que todos
estão inseridos no mesmo meio social.
Comunicação Interna
(administrativa)
Algumas empresas desenvolvem ações estratégicas para a comunicação, o que lhes garante um
reconhecimento mais duradouro e eficaz por parte dos seus públicos, sejam eles internos ou externos. As
publicações que circulam dentro da empresa são ferramentas da comunicação interna, podendo conter
diferentes tipos de matérias e serem veiculadas por diversos veículos comunicacionais.
A título de exemplo, podemos referir alguns conteúdos e tipos de matérias que podem integrar
processos de comunicação interna: matérias
institucionais (normas, regulamentos, circulares, avisos,
etc.); matérias de motivação (planos assistenciais,
benefícios, promoções, concursos, prémios, sugestões);
matérias de orientação profissional (segurança, higiene,
saúde, conselhos úteis, programas de treino); matérias
educativas (história, geografia, conhecimentos gerais);
matérias associativas (desportos, festas, concursos,
bailes, casamentos, nascimentos, falecimentos; interesse
feminino (culinária, conselhos de beleza, moda); Disponível na Internet:
http://pt.slideshare.net/davirocha/comunicao-
entretenimento (palavras cruzadas, banda desenhada, organizacional-aula-02
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curiosidades, adivinhações, testes); matérias operacionais (processos de fabrico, inovações técnicas); etc.
Percebemos pois que são inúmeras as
informações que a empresa pode valorizar nas
suas publicações internas. Dentro da
comunicação interna podemos identificar dois
tipos de canais: o formal e o informal.
Os canais formais são os instrumentos
oficiais pelos quais passam tanto as
informações descendentes como as
ascendentes e visam assegurar o
funcionamento ordenado e eficiente da
Disponível na Internet:
empresa (normas, relatórios, instruções...) http://www.chefdentreprise.com/Thematique/vente-marketing-
communication-1027/developpement-export-10121/Breves/Aquitaine-
ou seja, todas as informações que a empresa nouveaux-organismes-referents-vos-projets-export-247927.htm
pode veicular através de canais que possibilitem o seu registo, na maioria das vezes por escrito.
Os canais informais são as formas de livre expressão e manifestação dos trabalhadores, não controladas
pela administração. A título de exemplo podemos citar as conversas paralelas que ocorrem dentro da
organização.
Na comunicação interna das empresas, a informação pode seguir diferentes fluxos, realizar-se em três
sentidos (descendente, ascendente e lateral) e ter caráter unidirecional ou bidirecional.
A comunicação descendente tem a ver com o processo transmissão das informações da gestão de
topo das organizações para os respetivos subalternos. Estamos pois a falar de comunicação de cima
para baixo que traduz a filosofia, as normas e as diretrizes de uma organização. Não existe permuta
das informações quando a comunicação é unidirecional, estabelecida de forma descendente ou
vertical. É este o tipo de comunicação mais utilizado nas pequenas organizações nomeadamente nas
empresas de caráter familiar. Neste tipo de fluxo, a grande maioria dos trabalhadores não pode opinar
em relação às ações estabelecidas, apenas executá-las.
Na comunicação ascendente, normalmente, passa-se exatamente o contrário: as pessoas situadas na
posição inferior da estrutura organizacional enviam informações aos seus superiores hierárquicos,
embora estejamos normalmente perante comunicação unidirecional.
Na comunicação horizontal ou lateral, a direção do fluxo de informações pode, movimentar-se entre
iguais ou pares, do mesmo nível organizacional, isto é, a comunicação processa-se entre
departamentos, secções, serviços ou pessoas
situadas no mesmo plano da organização
social.
Convém esclarecer que nas organizações,
normalmente, coexistem estes três tipos de fluxos:
ascendente, descendente e horizontal. Nas
organizações mais abertas, memos burocráticas,
para além dos três fluxos referenciados, pode existir
um fluxo chamando de diagonal que abrange
mensagens trocadas entre um superior e um
subordinado localizado noutra área/departamento. Disponível na Internet:
http://costideb.costi.ca/costi/course/index.php?categoryid=48
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Em geral, as organizações utilizam um ou mais dos fluxos referidos nos seus processos comunicacionais,
sendo diversas as ferramentas
que podem ser empregadas,
como por exemplo: contactos
pessoais, reuniões, telefone,
memorandos, cartas, circulares,
quadros de avisos, relatórios,
caixas de sugestões, publicações,
vídeos, filmes institucionais e Disponível na Internet: https://www.linkedin.com/company/engage---marketing-e-
comunica%C3%A7%C3%A3o
comerciais entre outros. Para
comunicar internamente, socorrem-se de vários veículos como: relatórios, circulares, boletins, folhas soltas,
folhetos completos, folders, jornais, revistas, manuais de instrução, cartas, etc.
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Considerações finais
A Comunicação Organizacional tem-se transformado significativamente nestes últimos anos, embora
algumas ferramentas tradicionais continuem a ser
usadas. Uma coisa é certa: a comunicação é tudo,
pois sem comunicação não existe compreensão, não
existe nada. (...)
As Tecnologias de Informação e Comunicação
vieram alterar profundamente o modo de
comunicar das organizações, quer do ponto de vista
dos processos, quer das ferramentas utilizadas. Mas
o diferencial das empresas não está ligado somente
à tecnologia, conhecimentos técnicos, localização,
In GESTÃO DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL. Cavalcante, Shirley Maria. Conhecendo as ferramentas e suas aplicabilidades.
Universidade de Potiguar. 2008. [consultado 2015-04-10 22:11:]. Disponível na Internet:
http://www.aberje.com.br/monografias/MONOGRAFIA%20Shirley%20Cavalcante%20PDF.pdf. Adaptado
negócios.
Um outro aspeto, também interessante, no impacto das tecnologias da informação e comunicação
sobre as organizações tem a ver com a transformação do espaço-tempo. A comunicação é agora em
tempo real e independente do espaço físico, gera uma série de mudanças e possibilidades tais como:
permite uma comunicação rápida e fácil; torna o utilizador ativo no processo de comunicação; gera um
ambiente de aprendizagem coletivo e cooperativo.
Comungando da ideia de Manuel Castells (1999) na sua obra A Sociedade em Rede, o espaço e o tempo
estão a mudar sob o efeito combinado das Tecnologias de Informação e das formas e processos sociais
induzidos pela ação atual de transformação histórica. Em poucas palavras, o espaço torna-se um espaço de
fluxos, em que localidades desprendem-se de seu sentido cultural, histórico e geográfico, para se
reintegrarem num espaço de fluxos constantes (a rede). Neste
contexto, o tempo passa a ser intemporal, uma vez que passado,
presente e futuro podem ser programados para se interagirem
simultaneamente. Sobre esta matéria há duas perspetivas:
uma mais simplista que defende que os novos serviços de
comunicação realmente alteraram as relações espaciais, conduzindo à
reconfiguração do lugar, à redução da sua importância, indicando até
mesmo a desmaterialização do local;
outra, mais complexa, considera que geografia e tempo
continuam a ser determinantes na reconfiguração do tempo e espaço,
embora admitam a influência dos novos espaços de interação nesse
aspeto. Segundo esta última perspetiva, "os novos espaços de
comunicação são percebidos como novos espaços sociais, com uma
geografia própria, onde os indivíduos podem interagir sem os
Disponível na Internet:
http://br.blog.zyncro.com/tag/cio/ constrangimentos do corpo, podendo impor-se com base nas
mensagens que emitem". (...)
Independentemente de se concordar mais com esta ou com aquela perspetiva, a verdade é que ao
contrário do defendia a conceção tradicional, o espaço e o tempo não são mais elementos fundamentais
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para que haja o processo de comunicação. Esse não-lugar propicia o aparecimento de uma nova
sociabilidade. A partilha do espaço físico comum já não é fator determinante para que ocorra o acesso e a
troca de informações na nova sociedade;
muito menos o tempo, que se tornou
atemporal, já que a comunicação via novas
tecnologias acontece simultaneamente.
Com efeito, o conhecimento, o acesso à
informação e as relações pessoais e
comerciais adquiriram uma nova dimensão
na sociedade e nas empresas, por meio de
um ambiente em rede dinâmico, livre das
barreiras do tempo e do espaço. Nesse
contexto, a evolução das tecnologias de
comunicação condicionou a deslocação das
empresas da posição tradicional para um
Disponível na Internet: http://www.itespresso.es/la-penetracion-de-las-tic-en-las-empresas-cada-
patamar onde passam a pertencer a um vez-mayor-50011.html
In Tecnologia determina ou condiciona? Porto, Luísa de Melo. [Consultado em 2015-05-26 15:50] Disponível na Internet:
http://www.fsma.edu.br/visoes/ed03/3ed_artigo4.pdf. Adaptado
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GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Hoje estamos em plena “Terceira Revolução Industrial”, a caminho da Quarta. Mas para pensarmos as
mudanças na organização do trabalho temos de olhar para a
“Primeira Revolução Industrial”. Teve o seu início no final do
século XVIII e caracteriza-se pela extraordinária transformação,
nos métodos de produção, transportes e comunicações operada
através da substituição do trabalho manual por processos
mecânicos que produzem maior quantidade de produtos com
menores custos. Contudo, a partir aproximadamente de 1871,
ocorreu aquilo a que se pode chamar uma revolução dentro da
revolução.
Disponível na Internet:
A conquista, pela máquina, da velha ordem social foi um http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?
artigo=504
processo contínuo, de tal modo que um passo na
industrialização levou imediatamente a outro. As máquinas
depressa se tornavam obsoletas: o uso do carvão deu lugar ao
uso do petróleo como fonte de energia; o vapor foi
largamente substituído pela eletricidade, surgiram novas
facilidades de transporte e de comunicação, a produção em
massa instalou-se e apareceram instituições financeiras
Disponível na Internet: internacionais. Estas transformações tiveram tão influentes
http://ahistoriaesuasdescobertas.blogspot.pt/p/blog-page.html
repercussões que é justo usar as palavras "Segunda
Revolução Industrial" para as classificar.
A descoberta da energia nuclear, o desenvolvimento
tecnológico sem precedentes verificado no século XX, o
surgimento de novas tecnologias de informação e a combinação
da informática, da
eletrónica e das
telecomunicações, quer
nas indústrias, quer nos
serviços, indicam que Disponível na Internet:
http://www.ideafixa.com/150-anos-antes-do-skype-o-
estamos hoje em plena sonho-do-videofone/
"Terceira Revolução
industrial".
Disponível na Internet: Ora é bom ter em conta que todo este processo de
http://bancadadirecta.blogspot.pt/2012/11/como-vai-
portugal-46-ja-com-um.html
transformação teve e tem repercussões diretas no modo de vida
das sociedades e na organização de um dos seus elementos
fundamentais: o trabalho. Por outro lado, é também preciso considerar que o próprio conceito de trabalho
é complexo, envolvendo múltiplas dimensões – individual, coletiva, económica, social, moral, física,
psicológica, política, etc. – e múltiplas possibilidades de abordagem. (...)
O conceito de trabalho
Ainda que aparentemente óbvio, o conceito de trabalho não pode ser encarado fora dos contextos
históricos e filosóficos que o permitem entender. Assim, nem sempre fizeram parte do senso comum as
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ideias de que o trabalho é uma atividade dignificante, de que o trabalho realiza o homem, de que o
importante é preparar os cidadãos para o
mundo do trabalho, de que o trabalho tem
um sentido e um valor positivos.
Ao longo da história, vemos o trabalho ser
desvalorizado relativamente a outras
atividades humanas, a ser exaltado como
forma de realização do homem, a ser
analisado como fenómeno de exploração e
alienação, a ser associado a fenómenos de
sublimação, a ser pensado como via de
libertação. Disponível na Internet: http://www.vertentehumana.pt/clientes/trabalho-
temporario.aspx
Independentemente das conceções
filosóficas subjacentes às diversas conotações atribuídas ao conceito de trabalho, é certo que este não pode
ser considerado fora de um contexto societal. Em algumas das atuais sociedades, o trabalho aparece
distribuído por setores produtivos (agricultura, indústria, comércio e serviços) e a classificação das profissões
é objeto de análise minuciosa. Tal demonstra que não podemos dissociar o trabalho das infraestruturas
socioeconómicas, a partir das quais se organiza a vida coletiva. Do mesmo modo, não podemos dissociar o
trabalho do valor simbólico que lhe é atribuído. O tipo de trabalho que se desempenha é sempre portador de
um status social.
Foi na época do trabalho doméstico que o trabalhador mais amplamente dominou o processo de trabalho
e o produto que fabricava. Até aí, ele era o senhor do seu tempo e do seu espaço, o qual, na maior parte das
vezes, coincidia com a sua própria habitação. Com efeito, o
artesão surge como estereótipo da relação de trabalho ideal -
uma espécie de idade de ouro do trabalho - em que não estavam
ainda dissociados elementos como a criatividade, a iniciativa, a
habilidade, o saber-fazer pessoais, o controlo da produção, etc.
No entanto, a divisão do trabalho leva a que se quebre este
sincretismo. A divisão do trabalho, que é muito antiga, só adquire
realmente o seu sentido moderno (já não de divisão social, mas
de uma divisão técnica do trabalho) na aurora da Revolução
Disponível na Internet: http://www.fisica- industrial.
interessante.com/aula-historia-e-epistemologia-da-
ciencia-11-crise-da-fisica-1.html A divisão do trabalho é um método que, partindo da
individualização de todas as tarefas a realizar, preconiza que cada indivíduo se deve especializar num
determinado segmento do processo produtivo. Visa dois objetivos fundamentais:
o de promover a competência e a eficácia do indivíduo, na medida em que este se especializa numa só
tarefa;
o de, aumentando a habilidade do operário, proporcionar uma economia de tempo. Está também
ligada à introdução das máquinas nos processos de produção, já que estas últimas consolidam e
potenciam os seus objetivos.
A divisão do trabalho conduz ao abandono dos sistemas domésticos e artesanais de produção nos quais o
artesão e os seus familiares executavam a totalidade do trabalho e leva à reunião de vários trabalhadores
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num local de trabalho e à distribuição de tarefas distintas por cada trabalhador. Este novo esquema, já ao
nível da manufatura, faz aumentar a produtividade e
proporciona um maior controlo do empregador sobre o
trabalhador, que assim passa a ver vigiado o tempo e o
ritmo do trabalho desenvolvido.
A introdução das máquinas e de automatismos no
processo de produção, derivado da fragmentação e da
simplificação das diversas operações, irá acentuar a
neutralização do saber do trabalhador e proporcionar a
gradual substituição deste pela máquina. Esta passagem
do modo de produção manual à mecanização em grande Disponível na Internet: https://prezi.com/ilsukul7bwcx/the-social-
escala e à produção em série assinala, como já se referiu impact-of-the-industrial-revolution/
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Management elaborou um sistema de organização científica do trabalho (OCT) e a sua doutrina deu origem
ao chamado taylorismo.
Organização científica do trabalho Debruçando-se sobre as razões da baixa produtividade da
mão-de-obra do seu tempo, Taylor concluiu que o problema
Designam-se por organização científica
do trabalho (O.C.T.) [em inglês, Scientific residia no conflito de interesses entre operários e
Management ou Scientific Administration] empresários. Os primeiros viam a sua segurança ameaçada ao
os esforços conduzidos a partir do fim do
constatarem que o aumento de rendimento de cada homem e
século XIX, em vários países, por diversas
personalidades (dirigentes de empresas, de cada máquina levava ao despedimento de um certo
engenheiros, por vezes sindicalistas... ), no número de trabalhadores e procuravam defender os seus
sentido de substituir o empirismo e a
postos de trabalho diminuindo deliberadamente o ritmo de
desordem no funcionamento corrente das
empresas por princípios gerais de trabalho.
fundamento científico, cuja validade possa Por outro lado, Taylor refere que esta tendência comum
mesmo estender-se a outros tipos de
para trabalhar com lentidão acentua-se quando se reúne um
organizações.
certo número de operários para efetuar um trabalho seme-
lhante, atribuindo-se a todos idêntico salário. Nesse sistema, os
operários melhores vão reduzindo gradualmente a sua
velocidade de trabalho até a adaptarem à dos operários piores Aspetos essenciais do taylorismo e
do fordismo
e menos produtivos.
Os empresários, por sua parte, pretendem uma crescente O taylorismo e o fordismo são
produtividade e o desejo de maiores lucros levam-nos a pagar o correntemente reduzidos a três princípios:
essenciais:
menos possível aos operários. Dá-se, pois, um conflito entre a
pretensão de segurança e maiores salários por parte dos - a separação rigorosa entre a conceção
das tarefas e a sua execução, com
operários e o aumento dos lucros por parte dos empresários. A simplificação das tarefas;
organização científica do trabalho (O.C.T.) – foi qualificada de - a existência de um sistema de peritagem
científica porque a sua preocupação é a de ser objetiva, isto é, independente para a definição dos tempos
não dependente de apreciações subjectivas – é a resposta e das remunerações que escape por isso
mesmo a toda a discussão;
encontrada por Taylor para sanar este conflito e atingir aquilo
que parece ser a solução ideal: proporcionar salários mais - os sistemas de remuneração ligados ao
estabelecimento de tempos e por isso
elevados aos trabalhadores e maiores lucros aos empresários. mesmo também eles indiscutíveis em
A O.C.T parte da análise detalhada, exaustiva e sistemática princípio, que estavam na base da
dos tempos de produção e dos movimentos dos operários. atribuição de prémios de produtividade.
Adaptado de: Girão, José Manuel dos Santos; Grácio, Rui Alexandre Ensino profissional – Área de Integração, Vol. I. (SD)
Porto: Texto Editora
O Fordismo
O taylorismo ajudou a revolucionar o trabalho fabril no começo do século XX. Esta forma de organização
de trabalho foi aprofundada pelo fordismo termo que se refere ao sistema de produção em massa de um
determinado produto, em linhas de produção. O Fordismo foi criado pelo norte-americano Henry Ford, em
1914, que revolucionou o mercado automobilístico e industrial da época. O objetivo de Henry Ford era criar
um método que reduzisse ao máximo os custos de
produção da sua fábrica de automóveis,
consequentemente embaratecesse o preço dos
veículos para a venda, atingindo o maior número de
consumidores.
O fordismo tinha como princípio a especialização
que cada funcionário da empresa numa determinada
tarefa da linha de produção, sendo responsável
exclusivamente por essa etapa. Assim, as empresas
não tinham de se preocupar com a contratação de
Linha de montagem de automóveis Ford. Disponível na Internet: profissionais altamente qualificados, pois cada
http://www.estudopratico.com.br/modos-de-producao-capitalista-escravista-
feudal-e-mais/ operário apenas precisava de aprender a executar as
funções inerentes a uma pequena parte dentro da
totalidade do processo de produção.
Resumindo, podemos enunciar as principais
características do fordismo: redução de custos na linha
de produção; aperfeiçoamento da linha de montagem
do produto; pouca qualificação dos operários; divisão
das funções de trabalho; repetibilidade do trabalho;
trabalho em cadeia; trabalho contínuo; especialização
técnica de cada operário de acordo com sua função;
produção de produtos em massa, ou seja, em grandes
quantidades; grandes investimentos em máquinas e
instalações nas fábricas; utilização de máquinas no
processo produtivo.
O sistema fordista trouxe grandes vantagens aos
Imagem do Filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, 1936
empresários, mas o mesmo não se poderá afirmar em Disponível na Internet: http://www.estudopratico.com.br/modos-de-
producao-capitalista-escravista-feudal-e-mais/
relação aos trabalhadores: trabalho repetitivo,
desgastante e baixos salários. No filme "Tempos Modernos" (Modern Times, 1936), Charles Chaplin dá-nos
uma visão satírica e crítica do fordismo.”
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Uma avaliação do taylorismo
De acordo com o paradigma do racionalismo científico do séc. XIX, em que nasceu e se formou o seu
pensamento, Taylor parte do princípio de que o trabalho pode ser definido a priori. Por outro lado, a
organização é vista como uma grande relógio, um sistema mecânico em que todos os movimentos, todos os
gestos, todos os comportamentos se devem combinar em função do resultado final que é a produção.
Taylor introduz o cronómetro na fábrica e, com ele, a fixação de tempos elementares para a execução do
trabalho. Passa a ser possível, pois, a medição da produtividade individual.
O taylorismo tem, por outro lado, uma conceção redutora do homem no trabalho de tal modo que o seu
perfil é fácil de traçar:
- baixo nível sociocultural;
- preguiça ou tendência para fazer cera (o célebre soldiering a que os franceses chamam flanerie);
- necessidade de um trabalho cujo ritmo e cadência o tirem da sua “apatia bovina”;
- necessidade de enquadramento e supervisão;
- premência das necessidades primárias ou de subsistência;
- reforço da motivação salarial através do trabalho ao rendimento.
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De acordo ainda com esta lógica de organização do trabalho, a direção tem o monopólio do saber, da sua
produção, codificação e difusão. A produção caracteriza-se pela impossibilidade de acesso ao saber e de
criação de conhecimento e, consequentemente, pelo não reconhecimento de competências tácitas.
Cria-se assim um fosso intransponível entre os vários tipos de saber, entre o saber-saber e o saber-fazer,
entre o conhecimento teórico e o empírico, entre o especialista e o leigo, entre o trabalho intelectual e o
manual, entre a norma e a evidência empírica. O saber torna-se fonte de poder. O taylorismo consagra, em
definitivo, a expropriação do saber do operário de ofício.
Repare-se que a substituição dos métodos empíricos (que eram tradicionalmente os métodos do operário
de ofício) por métodos ditos científicos veio dar
origem não só à separação do trabalho de
conceção (intelectual) e do trabalho de execução
(manual), como também levou à decomposição
do trabalho de execução em elementos simples.
É o trabalho em migalhas (en miettes), segundo
uma expressão do sociólogo francês George
Friedman (1956) que se tornou clássica.
Por outro lado, o taylorismo, veio criar
condições para o desenvolvimento da psicologia
industrial e das técnicas psicotécnicas, já que a
seleção, a orientação e a formação profissionais
passam a ser também uma prerrogativa da Disponível na Internet: https://en.wikipedia.org/wiki/Scientific_management
direção.
O fosso entre a direção e a produção vai ter pesadas consequências na conceção e desenho das nossas
organizações:
- A comunicação‚ unilateral, fechada, de sentido único: a informação só desce, não sobe;
- Entre o topo e a base da organização, há um conjunto de relés parasitas, porteiros ou comutadores da
comunicação, todos eles perfeitamente hierarquizados (ou seja, em diferentes ‘andares’ ou níveis
organizacionais). Instala-se o controlo em cadeia, feito de cima para baixo, em linha. E esse controlo não
é apenas o do trabalho e dos trabalhadores, mas também o controlo dos controladores pelos serviços
de controlo central.
- Há uma diferenciação sócio-espacial, de que o organograma é uma representação gráfica.
A taylorização das empresas primeiro, de produção e, depois, de serviços (banca, seguros, grandes
superfícies comerciais, etc.) –, a racionalização da sua organização do trabalho de acordo com os princípios
do Scientific Management, acabou por levar a uma enorme centralização burocrática (graças justamente à
criação de uma série de serviços funcionais a quem passa a ser atribuída a organização do trabalho: o serviço
de planeamento, o gabinete de organização e métodos, o serviço técnico, o serviço de controlo de qualidade,
etc.) e a legitimar a estrutura hierárquica como norma das relações sociais na empresa e demais
organizações, na escola e na própria família, etc..
Taylor excluiu claramente o grupo do campo da organização do trabalho e da gestão da empresa. Para
ele, o trabalho individual era, definitivamente, "superior ao trabalho em equipa". A tarefa vai instaurar a
prática individual (ou a solo) do operário, e tentar destruir ou impossibilitar o trabalho de equipa bem como
a solidariedade de grupo, um e outro fortemente enraizados na cultura do operário de ofício.
Adaptado de: Graça, Luís. As Novas Formas de Organização do Trabalho, (2002). Disponível na Internet:
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos164.html
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As novas formas de organização do trabalho
O Fordismo e Taylorismo tiveram o seu apogeu ao longo do século XX, passando a entrar em crise a partir
doa anos 70 do século passado. Mas a reação a estas formas de organização do trabalho, considerado por
muitos como desumano, surgiu por volta dos anos 40 do século XX, com a Escola das Relações Humanas, a
qual trouxe para o primeiro plano a importância do clima afetivo e das motivações do indivíduo no
trabalho. Esta tentativa no sentido de repensar a organização do trabalho, não apenas a partir da otimização
dos ganhos económicos, mas tomando também em consideração o papel das motivações psicológicas no
trabalho, prolongou-se na busca de novas formas de organização de trabalho (N.FO.T.), cujo objetivo
primordial era o de melhorar o nível de satisfação dos trabalhadores.
Foi pois a partir de 1940 que a Organização Científica do Trabalho (taylorismo e fordismo), sempre muito
praticada na indústria, mas também nos serviços, foi suplantada nos círculos intelectuais pelo Movimento
das Relações Humanas, que contestava a visão economicista do primado das precauções económicas e do
prisma individual, opondo-lhe o sentimento de pertença ao grupo e a lógica dos sentimentos. O movimento
das Relações Humanas foi buscar a sua inspiração na famosa experiência na fábrica da Western Electric,
situada no bairro de Hawthorne, Chicago, com início em 1927, coordenada por Elton Mayo e que passamos
a descrever.
“As oficinas Hawthorne da Western Electric Company ocupavam, em 1924, cerca de 29.000 pessoas nas fábricas dos
arredores de Chicago. Aí se fabricava tudo o que dizia respeito e telefones. Todos os ofícios e categorias sócio
profissionais estavam lá representados.
Apesar de boas condições materiais e vantagens sociais ele-
vadas (salários superiores à média, restaurante da empresa,
enfermarias e hospital, serviços de orientação, etc.) e embora os
assalariados se digam em geral satisfeitos com a empresa, os
sinais de descontentamento como absentismo, a travagem, a má
qualidade eram numerosos.
A direção, com a colaboração de investigadores de tipo
universitário, decidiu fazer um esforço para melhorar as condições
de trabalho, começando pela iluminação, verificando a sua
relação com a produtividade. Decidiu-se então melhorar a
Trabalhadoras na fábrica da Western Electric Company, 1924
iluminação de um grupo de operárias que trabalhavam com luz Disponível na Internet: https://hbr.org/2008/07/a-field-is-born
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A experiência da iluminação terá durado de Novembro de 1924 a Abril de 1927. Fez-se então apelo a uma equipa de
psicossociólogos que trabalhou no problema durante seis anos. Começaram pela investigação que se tornou célebre pelo
nome de “test room”; um grupo de operárias, voluntárias, aceitou ficar isoladas na oficina para continuar o mesmo
trabalho numa sala ao lado. Mudou-se sucessivamente um certo número de fatores que pareciam importantes aos olhos
dessas operárias, a saber o sistema de salário (individual, por equipa, à peça, horário, etc.), as pausas durante o
trabalho (uma ou várias, de duração diferente), os horários (redução dos horários, supressão do trabalho ao sábado,
retorno à situação inicial). Ora em cada mudança, qualquer que fosse o sentido em que se fizesse, a produtividade
aumentava ou mais raramente, estagnava. No total obteve-se, no fim da experiência que durou perto dum ano, um
aumento de produtividade de 20%.
A direção e os investigadores ficaram perplexos. Manifestamente as melhorias nas condições de trabalho primeiro,
depois nos domínios sociais objeto de reivindicações por outro, não arrastavam por si mesmos, melhoria dos
comportamentos no trabalho. A que eram devidos os aumentos de produtividade?
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Deu-se conta, com efeito, que se o "moral" do grupo era um elemento determinante destes resultados, este moral,
que dependia do acordo entre as operárias, estava igualmente ligado à sua relação com o agente de mestria. À medida
que avançava a experiência do "test room", o papel do contramestre modificava-se. Ele apagava-se diante do
observador para as funções de controlo e de organização e, finalmente, este último substituía-o praticamente. Neste
momento, não havia necessidade nenhuma de comandar e de controlar as jovens operárias: elas trabalhavam
espontaneamente melhor e mais, e declaravam não ter a sensação duma fadiga suplementar. A função de contramestre
tornava-se de aconselhamento, de proposta e sobretudo de atenção, mais do que comando propriamente dito. A
campanha de entrevistas colocou bem em
destaque esta função de atenção. Os
investigadores e a direção notaram com efeito
um meIhor "moral" nas oficinas em que os
assalariados tinham sido entrevistados. De
repente, notou-se que um bom agente de
mestria deveria ser um animador de grupo, com
uma função importante de escuta, mais do que
um "chefe" no sentido tradicional do termo. 0
seu estatuto, o facto de ser dispensável aos
olhos dos seus superiores pelo bom andamento
do grupo e de ter uma delegação de poder
(formal) para o fazer, as suas competências
técnicas, tudo isso era insuficiente para
assegurar o seu êxito. Era preciso primeiro que Trabalhadoras na fábrica da Western Electric Company, 1924
Disponível na Internet: http://lunatractor.com/2013/02/20/is-the-impact-of-agile-just-a-
ele fosse conselheiro ouvinte e conselheiro ao hawthorne-effect/
mesmo tempo.
Mesmo se elas podem ser utilizadas num espírito manipulatório, estas descobertas são importantes. Mostraram
concretamente, pela primeira vez, o efeito do grupo sobre o comportamento do indivíduo. Este resultado prolongou-se
por um conjunto de pesquisas centradas no grupo. Inspirando-se noutras escolas, em particular a psicanálise, elas
colocaram o acento sobre as relações afetivas no interior de pequenos grupos.”
In Bernoux, Fhilippe. A sociologia das organizações. (sd) Porto: Rés Editora, adaptado
“No seu sentido mais corrente, a expressão N.F.O.T. designa, na literatura da sociologia do trabalho e da
psicossociologia das organizações do trabalho, um conjunto de experiências e de outras iniciativas, em geral
de origem patronal, diversificadas no tempo e no espaço, tendo por objeto a reorganização do trabalho e a
participação dos trabalhadores na gestão da empresa.
São muito diversas essas experiências e iniciativas quanto ao seu enquadramento teórico e
metodológico. De qualquer modo, as N.F.O.T. surgiram, historicamente, num contexto que foi marcado pela
falência técnica e social dos princípios do modelo clássico de organização do trabalho, consubstanciado no
taylorismo-fordismo. Essa falência (ou simplesmente crise) tornou-se cada vez mais evidente a partir dos 60
anos, primeiro nas empresas de produção (e em especial da indústria de montagem automóvel, fortemente
taylorizada) e mais tarde nas empresas de serviços.
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Em França, por exemplo, as N.F.O.T. não se podem dissociar da preocupação, mais geral, com a melhoria
das condições de trabalho e a revalorização do trabalho manual. E mais do que os acontecimentos de Maio
de 1968, foi sobretudo o movimento grevista de 1971, na Renault, em Le Mans (a famosa greve dos ouvrier
spécialisé, de 29 de Abril a 25 de Maio de 1971), que veio fazer da questão dos OS, do operário não-
qualificado, uma verdadeira questão
nacional, suscetível de mobilizar não
só os parceiros sociais (Estado,
patronato e sindicatos) como a
própria opinião pública. Na fábrica da
Renault, a palavra de ordem em 1971
era “Não ser O.S. toda a vida!”.
A própria Organização
Internacional do Trabalho (OIT)
lançou em 1976 o seu Programa
Internacional para a Melhoria das
Condições de Trabalho, encorajando Disponível na Internet: http://blog.somostecnologia.com.br/gestao-de-ferramentas-saiba-quais-implicacoes-a-
os seus Estados-membros a uma falta-deste-tipo-de-controle-pode-estar-gerando-em-sua-empresa-4/
Adaptado de: Graça, Luís. As Novas Formas de Organização do Trabalho, (2002). Disponível na Internet:
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos164.html
Em termos simplistas, poderemos pois dizer que há duas lógicas radicalmente opostas de organização
do trabalho: o taylorismo e a abordagem sociotécnica, esta simbolizada nos grupos semi-autónomos.
Entre uma e outra situam-se formas intermédias ou híbridas como, por exemplo, o enriquecimento
individual de tarefas, uma forma de organização do trabalho neotayloriista, uma vez que não faz a rutura
com alguns dos princípios fundamentais do taylorismo.
Tanto num caso como noutro estamos perante exemplos de grupos primários ou restritos. Têm em
comum o facto de não serem naturais (como o é o caso, por exemplo, da família, da pequena comunidade
aldeã, do grupo étnico, etc.), mas artificiais. No entanto, o grupo de encontro, reunião ou discussão é um
grupo primário momentâneo ou efémero, ou seja, é caracterizado pela sua limitação no tempo,
contrariamente à equipa de trabalho, que é um grupo primário persistente ou durável.
Uma ideia-chave no conceito de trabalho de equipa é a relação igualitária, não subordinada, não
hierárquica. Não basta a ação concertada de duas ou mais pessoas, trabalhando na solução de um
problema, em conjunto e de maneira concertada, é necessário que essa relação seja estabelecida numa
base de relativa igualdade, fora portanto da relação hierárquica. Essa relação traduz-se no espírito de
equipa.
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Este é, quanto a nós, um outro aspeto fundamental, nem sempre explícito, na ideia de equipa de
trabalho, ou seja, o curto-circuito operado em relação à divisão social (ou vertical) do trabalho, graficamente
representada nos organogramas.
O grupo semi-autónomo de produção é basicamente uma equipa de trabalho.
O estudo dos pequenos grupos tem como marcos de referência, entre outros, Elton Mayo (1880-1949) e
seus associados, que nos anos 20 e 30 criaram a Escola das Relações Humanas.
Mayo mostrou, por exemplo, através de várias experiências em empresas que:
- os indivíduos, no seu local de trabalho, e em torno das suas tarefas, tendem a formar grupos
informais;
- que há uma lógica dos sentimentos, da afetividade, que seria tão importante como a lógica da
racionalidade técnica, e que se exprime nos grupos informais;
- que as atitudes e comportamentos do trabalho (a produtividade, a satisfação, etc.) não são tanto
influenciadas pela remuneração e outras condições objetivas de trabalho (iluminação, temperatura,
pausas, prémios, etc.) como sobretudo pela perceção subjetiva que o indivíduo tem desses fatores
enquanto estímulos;
- e que, finalmente, essa perceção é
largamente induzida pelas normas e pelo
clima psicossocial desses grupos
informais, donde se conclui que a
produtividade e a satisfação do indivíduo
dependem, em grande parte, do grau de
interação e de integração no grupo, de
estilo de liderança, etc.
Por influência do Tavistock Institute, em particular na Europa a abordagem socio-técnica fez evoluir a
organização do trabalho para aquilo a que se hoje se chama os sistemas antropocêntricos de produção (SAP)
que pode ser definido “como uma organização descentralizada de tecnologias avançadas e de recursos
humanos qualificados em que no nível operacional se controlam a tecnologia e a organização do trabalho”.
Nos Estados Unidos a mesma abordagem vai ter lugar com o chamado job design. No Norte da Europa,
sobretudo da Suécia e na Noruega, idêntica abordagem vai dar origem a modelo de organização do trabalho
que ficou conhecido como de democracia industrial.
Adaptado de: Graça, Luís. As Novas Formas de Organização do Trabalho, (2002). Disponível na Internet:
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos164.html
A organização do trabalho é apenas uma das variáveis (embora talvez a mais importante) que determina a
situação de trabalho. Outras igualmente importantes são a tecnologia, o próprio indivíduo, o grupo, a cultura
da empresa, o ambiente físico, etc.
A reorganização do trabalho consiste,
basicamente, em mudanças feitas tanto a
montante como a jusante da produção, no sentido
horizontal e vertical. Podemos dar alguns
exemplos da indústria transformadora, em vigor
nos anos 70 e 80, sem a pretensão da exaustão:
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2) Alargamento de tarefas por reagrupamento de operações até então atribuídas a postos de trabalho
vizinhos:
- montagem de um conjunto ou subconjunto com uma certa unidade operatória (no caso do trabalho
em linha de montagem mecanizada, tal implicaria o alongamento do ciclo operatório);
- atribuição, aos postos de vigilância/controlo, de tarefas anexas, tais como:
- regulação;
- manutenção /conservação);
- limpeza;
- microgestão, etc..
Destacaremos algumas das formas mais difundidas, com diferentes implicações para o trabalhador e
para a empresa
No modelo tradicional, o operário A fazia a tarefa a, o operário B fazia a tarefa b, o operário C fazia a
tarefa c, e por aí fora: Aa + Bb + Cc + …
A job rotation é simples: é trocar de posto e de tarefa. O operário A passa a fazer a tarefa b, o operário B
passa a fazer c, etc. : Ca + Ab + Bc + …
A mudança de posto de trabalho é vista pelo gestor como um meio de:
a) Equalizar as qualificações;
b) Dar polivalência ao operário;
c) Evitar a rotina/monotonia, proporcionando maior diversidade de tarefas;
d) Combater a desmotivação, o absentismo e o turnover.
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Alargamento de tarefas (job enlargment)
O job enlargment consiste basicamente na integração das tarefas (ou dum conjunto de tarefas) da
mesma natureza (v.g., montagem de peças de um motor de automóvel). Trata-se sobretudo de um
alargamento horizontal. Tem algumas implicações positivas, do ponto de vista da melhoria das condições de
trabalho:
a) Maior variedade e diversidade no trabalho;
b) Maior duração do ciclo de trabalho;
c) Maior flexibilidade do operador e da organização do trabalho.
Para Herzberg (1971), tanto a job rotation como o job enlargement são um mero paliativo com resultado
incerto. Em termos de rendimento psicológico, de motivação e satisfação no trabalho, o resultado é zero (0 +
0 = 0).
A rotação de tarefas e o alargamento de tarefas não são verdadeiramente novas formas de organização
do trabalho, isto é, alternativas em relação à OCT. São formas taylorianas ou neotaylorianas:
a) Continua a haver fragmentação das tarefas embora se procure fazer face à excessiva atomização a
que levou a OCT sobretudo no trabalho em cadeia, nos sistemas de produção de grande série.
b) Continua a ser pensado em termos do indivíduo e não do grupo;
c) A organização do trabalho continua a ser uma prerrogativa da direção, continuando a haver um
dicotomia entre quem pensa e quem executa, ou quem planeia, controla e avalia e quem faz.
O job enrichment consiste basicamente na adição de novas tarefas qualitativamente diferentes. Por
exemplo:
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Trata-se, no essencial, de uma alargamento horizontal e vertical de tarefas, segundo um esquema deste
tipo: Processo de trabalho = 1 (Preparação) + 2 (Produção) + 3 (Conservação/reparação) + 4 (Controlo)
Geralmente, o enriquecimento de tarefas tem implicações ao nível do controlo do tempo pelo próprio
operador, pondo em causa um dos aspetos centrais da OCT (Organização Científica do Trabalho) sem todavia
romper com o taylorismo.
O job enrichment consiste em modificar cada tarefa individual de maneira a adquirir certas características
correspondentes aos fatores de motivação como, por exemplo:
a) Suprimir determinados controlos, sem sacrificar a produtividade;
b) Aumentar o grau de iniciativa no trabalho;
c) Atribuir um conjunto significativo de tarefas e não uma parte restrita;
d) Delegar autoridade, aumentando assim o grau de liberdade e de responsabilidade do operador;
e) Proceder à avaliação periódica do trabalhador e dar-lhe feedback;
f) Introduzir novas tarefas, de maior complexidade;
g) Afetar o trabalhador a funções específicas que lhe permitam tornar-se um verdadeiro perito na sua
área.
No dizer de Ortsman, o movimento do enriquecimento de tarefas trouxe, em relação às abordagens
tecnocráticas anteriores (taylorismo, relações humanas, etc.), uma preocupação nova, a da metodologia de
implementação. Por exemplo, os postos de trabalho a enriquecer, devem obedecer a alguns critérios, tais
como:
a) A reestruturação do posto não deve implicar modificações técnicas e organizacionais muito onerosas;
b) O pessoal dos postos a reestruturar deve ser passivo e desmotivado;
c) A melhoria das condições de trabalho - os factores extrínsecos ou higiénicos - começam a ter um custo
elevado; e, finalmente,
d) É de esperar um aumento da performance (quantidade e qualidade do trabalho).
Em todo o caso:
- o papel do especialista continua a ser fundamental;
- a lógica taylorista de 1 homem/1 posto de trabalho não é posta em causa; e, por fim,
- a organização do trabalho continua a ser dicotómica.
Grupos semi-autónomos
A implementação de grupos semi-autónomos de produção pretende ser, pelo menos em teoria, uma
verdadeira rutura em relação aos seis princípios básicos da OCT.
Há, contudo, bastantes críticas sobre a natureza dos grupos semi-autónomos, incluindo o “mito” da sua
capacidade de auto-regulação. Para os sindicatos (e nomeadamente os da Europa do Sul),
sempre houve explicita ou implicitamente o receio de que os trabalhadores acabassem por perder, em
termos coletivos, no balanço do deve-e-haver destas experiências de reorganização do trabalho e de
participação do indivíduo.
Toyotismo é o modelo japonês de produção, criado pelo japonês Taiichi Ohno e implementado nas
fábricas de automóveis Toyota, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Na década de 70, no meio de uma crise internacional, o modelo Toyotista espalhou-se pelo mundo. A
ideia principal era produzir somente o necessário, reduzindo os stocks (flexibilização da produção),
produzindo em pequenos lotes, com a máxima qualidade, trocando a padronização pela diversificação e
produtividade. As relações de trabalho também foram modificadas, pois agora o trabalhador deveria ser
mais qualificado, participativo e polivalente, ou seja, deveria estar apto a trabalhar em mais do que uma
função.
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qualidade total também atinge diretamente os trabalhadores, que devem ser “qualificados” para
serem contratados. Dessa lógica nasceram os certificados de qualidade, ou ISO.
Embora possa parecer que o modelo toyotista de produção valorize mais o trabalhador do que os
modelos anteriores (fordista e taylorista), que substituiu um pouco por todo o mundo a partir da década de
1980, tal impressão é uma ilusão. Na realidade da fábrica, o que ocorre é o aumento da concorrência entre
os trabalhadores, que disputam melhores índices de produtividade entre si. Tais disputas sacrificam cada vez
mais o trabalhador, e tem como consequência, além do aumento da produtividade, o aumento do
desemprego.
A democracia industrial
Quanto ao programa da democracia industrial, desenvolvido na Noruega, nos anos 60, tem subjacente
uma crítica profunda à forma tradicional de organização do trabalho e de gestão das empresas nas
sociedades industrialmente avançadas.
Este programa nasceu dentro de um espírito de concertação social quando alguns sociólogos,
empresários e sindicalistas começaram a
refletir sobre a democracia no trabalho.
Estavam de acordo em pontos
fundamentais como:
a) A participação na empresa, a
democracia no trabalho, não se
decretava;
b) Também não se podia reduzir a uma
única variável ou dimensão;
c) A sua introdução deveria começar por
fazer-se a nível local e segundo um
dupla perspetiva (reformista e Disponível na Internet: https://en.wikipedia.org/wiki/League_for_Industrial_Democracy
experimental);
d) O papel do especialista-podo-poderoso tinha de ser posto em causa;
e) As experiências deveriam fazer parte do processo de aprendizagem da democracia na empresa
(aprender fazendo);
f) As mudanças a operar teriam de ser planeadas e seguir uma metodologia participativa.
Com fracassos e sucessos, a experiência norueguesa foi rica de ensinamentos e conhecimentos para
outros países escandinavos.
Esta experiência acabaria por alargar-se à Suécia (onde houve centenas de casos), à Dinamarca e à
Holanda (Philips, por ex.). Neste último país, os sindicatos mostraram-se críticos em relação aos grupos semi-
autónomos, chamando a atenção para o risco de sobrecarga de trabalho, de pressão do grupo sobre o
indivíduo e de supressão de postos de trabalho.
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A Suécia, nomeadamente, conheceu um notável surto de experiências, mais locais, mas mais dinâmicas,
de reorganização do trabalho (através da introdução de grupos semi-autónomos de produção) e de
participação dos trabalhadores na gestão da empresa, participação já não apenas baseada no direito à
informação, consulta ou protesto como sobretudo no direito a veto, à co-decisão e decisão em matérias de
fulcral importância para o futuro da empresa e dos trabalhadores.
Hoje, e nomeadamente na União Europeia, o termo novas formas de organização do trabalho continua
a suscitar interesse, curiosidade e expectativas. No entanto, a expressão é ainda mais difusa e abrangente.
O termo N.F.O.T. abrange um leque muito variado de inovações, introduzidas pelas empresas, em sete
grandes áreas:
1- Novas estruturas organizacionais (unidades de negócio orientadas para o processo; grupos semi-
autónomos de produção);
2- Métodos de trabalho mais flexíveis e menos hierárquicos (horários de trabalho mais flexíveis;
“multi-skilling”);
3- Novas culturas de empresa (maior atenção nas pessoas, clientes, serviço pós-venda, qualidade);
4- Novas práticas de negócio (programas de gestão da qualidade);
5- Crescente investimento em educação e formação (maior participação dos trabalhadores;
programas de desenvolvimento pessoal)
6- Novas técnicas de avaliação da
performance ou desempenho (objetivas e
indicadores não-financeiros para as
equipas e para os indivíduos);
7- Novos sistemas de remuneração
(participação nos lucros e no capital).
Mais do que formas de organização do trabalho - novas, é certo, e portanto, em rutura com um modelo
de referência ou paradigma que continua a ser o taylorismo -, as N.F.O.T. são um método, ou melhor,
devem ser vistas como parte de uma metodologia para repensar e mudar a organização do trabalho.
Se formos às origens, constatamos que a abordagem sociotécnica pretendeu sobretudo dar origem a
dinâmicas de aprendizagem e a explorar, com a participação ativa dos atores na empresa (direcção, quadros,
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trabalhadores, e seus representantes), a possibilidade de se criar e implementar novos valores e novas regras
de jogo que permitam o desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade dos colaboradores e
contribuem decididamente para a melhoria da qualidade de vida no trabalho bem como da performance
socioeconómica da empresa.
Adaptado de: Graça, Luís. As Novas Formas de Organização do Trabalho, (2002). Disponível na Internet:
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos164.html
O caso português
Em Portugal, não tem havido propriamente lugar à experimentação (generalizada) de N.F.O.T., à parte
uma ou outra intervenção de tipo não-tecnocrático em empresas de produção nos anos 80 e algumas
tentativas de introdução de círculos de qualidade ou de programas de sugestões nalguns empresas,
sobretudo de origem multinacional.
É certo que o nosso país não conheceu, em devido tempo, o movimento de racionalização do trabalho
que teve, historicamente, como referência os nomes de Taylor e Ford. A organização do trabalho das
nossas empresas foi durante muito tempo empírica e
pré-tayloriana, o que teve a ver com as
características periféricas do nosso capitalismo
industrial.
Um dos problemas que têm sido levantados pelos
sociólogos é que as potencialidades das novas
tecnologias não foram (ou não estão a ser)
devidamente exploradas no caso do nosso país, não
tendo grande impacto na produtividade,
nomeadamente devido ao facto de, no processo da
sua introdução, continuar a dominar o modelo de
determinismo tecnológico e ser baixa a participação
Trabalhadoras de fábrica de calçado Espírito Santo
dos trabalhadores e seus representantes. Disponível na Internet: http://cabresto.blogspot.pt/2013/11/exportacao-de-
calcados-produzidos-no-es.html
Além do mais, as novas tecnologias de produção (como, de resto, as N.F.O.T.) não são automaticamente
sinónimo de melhoria das condições de trabalho.
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Novas tecnologias e organização do trabalho em Portugal
Comecemos por destacar alguns aspetos referentes às novas tecnologias:
· Embora tenham vindo a aumentar significativamente nas últimas décadas, ainda é relativamente
reduzida a percentagem de empresas que utilizam sistemas informáticos associados apenas à
produção direta (máquinas-ferramentas computorizadas, manipuladores automáticos, robots, etc.);
· A maior utilização de novas tecnologias verifica-se nos serviços de produção e administrativos
(processamento de informação
relativa a vendas e compras,
salários, e ainda CAD - concepção
assistida por computador) e,
principalmente, nos serviços
administrativos.
Os objetivos que as empresas procuram
atingir com a introdução de novas
tecnologias por ordem de importância são
as seguintes:
· aumentar a produtividade
. aumentar ou manter a quota no
Disponível na Internet: http://noticias.rumonet.pt/2014/05/empreendedorismo-das-tic-em-
mercado portugal/
· melhorar a qualidade
· abrir novos mercados
. reduzir os ciclos de produção
A introdução de sistemas tecnológicos avançados, para além de uma maior produtividade, precisão e
qualidade permite igualmente a flexibilização da produção de acordo com as necessidades do mercado,
nomeadamente, devido a:
· modificação frequente de modelos
· maior diversificação dos produtos
· atendimento de exigências específicas dos clientes
· limitação em volume e em tempo de stocks
· redução de prazos de entrega
Acontece frequentemente, não apenas em Portugal, mas também nos outros países, que as novas
potencialidades das tecnologias avançadas não são exploradas, e os resultados obtidos não compensam o
elevado custo do investimento. A desilusão pode levar à conclusão que produzir com tecnologias con-
vencionais é mais rentável. Quando os resultados ficam aquém do esperado, a interrogação a colocar é a
seguinte: as pessoas e a organização do trabalho foram preparadas para funcionar de modo proveitoso com
os novos equipamentos?
O exemplo de várias empresas (portuguesas e estrangeiras) que conseguem tirar proveito das vantagens
das tecnologias avançadas indica que, para a empresa ser competitiva, não chega adquirir apenas novos
equipamentos. É também preciso introduzir formas de organização do trabalho e formação profissional
adequadas às características das novas tecnologias. Por outras palavras, o cerne da modernização das
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empresas é o desenvolvimento de uma organização de trabalho e de pessoas capazes de explorar as novas
potencialidades dos equipamentos flexíveis.
Nas empresas que introduziram novas tecnologias, existe uma certa tomada de consciência da
importância da organização do trabalho. De facto, a organização do trabalho é um dos factores
representativos das maiores dificuldades para as empresas. Os outros factores em ordem de importância
são os seguintes:
· organização existente no trabalho
· situação no mercado, concorrência
· custo de mão-de-obra e de energia
· situação financeira
· falta de empenhamento e motivações dos
trabalhadores
· política económica do Estado
· nível tecnológico da empresa
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Este tipo de organização do trabalho leva normalmente a disfuncionamentos que implicam:
· paragens excessivas
· absentismo
· dificuldades de cooperação
. baixo nível de produtividade
· produção defeituosa
. inércia à mudança, isto é, falta de capacidade de adaptação
. rigidez de funcionamento, isto é, incapacidade de flexibilizar a produção
As grandes vantagens deste tipo de organização são cruciais do ponto de vista da competitividade:
. aumento do nível de produtividade
. melhoria da qualidade
. flexibilidade de funcionamento
. adaptação rápida às mudanças
Por exemplo, a informação e formação adequadas dos trabalhadores na definição dos critérios de
qualidade e a integração do primeiro controlo de qualidade no nível operacional, ou seja, a possibilidade de
controlo sobre os fatores que influenciam a qualidade permite não apenas o aumento do interesse dos
trabalhadores pelo seu trabalho, mas igualmente a
melhoria da qualidade através de um melhor
conhecimento dos critérios de qualidade e de uma
capacidade de reacção rápida aos problemas que
possam estar na base de defeitos. (...)
Nas pequenas e médias empresas a organização do
trabalho tem frequentemente um caráter misto, isto
é, em certos aspetos é rígida, enquanto noutros
aspetos é flexível. E essa flexibilidade constitui uma
vantagem face às grandes empresas cuja organização
do trabalho é mais rígida. Se as novas tecnologias
flexíveis acentuam mais a rigidez ou a flexibilidade da Disponível na Internet:
http://www.dinheirovivo.pt/Empresas/interior.aspx?content_id=3756580
organização do trabalho nas PME, depende da opção
da própria empresa, uma vez que as novas tecnologias
por si só não mudam a organização do trabalho. A rigidificação ou taylorização da organização do trabalho
significaria escolher um caminho errado na procura da competitividade.
Se se optar pela maior flexibilização da organização do trabalho, a extensão de tarefas no nível
operacional exige uma formação profissional adequada, uma vez que são exigidas novas competências bem
diferentes das convencionais, de acordo com o quadro seguinte onde se comparam os dois modelos de
organização, o taylorista (ou tradicional), e o pás-taylorisla (ou flexível):
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EXIGÊNCIAS DE QUALIFICAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS
Existe hoje uma estreita e forte relação entre os princípios tayloristas, por um lado, e o estabelecimento e
caracterização de perfis profissionais e de profissões – de extrema importância para efeitos de certificação
profissional, por exemplo –, por outro.
Assim, a propósito do estabelecimento de perfis profissionais e das chamadas profissões-tipo, podia ler-se
numa revista o seguinte: "encontramos (...) a caracterização de dez profissões-tipo que se reportam a 55 pro-
fissões, com as suas 123 tarefas devidamente analisadas num também elevado número de operações. Por
exemplo, a profissão-tipo serralheiro de tubos abarca cinco profissões, entre as quais a de canalizador, que é
descrita à custa de cinco tarefas e 38 operações".
Contudo, apesar deste tipo de caracterização e de classificação das profissões, tem vindo a surgir uma
filosofia que advoga uma formação profissional cada vez mais ampla e adaptada às necessidades de
acompanhar as rápidas mudanças que se vão verificando.
Se vivemos ainda na era dos especialistas e da especialização, nem por isso a necessidade de uma
formação integral dos indivíduos tem emergido como um dos vetores fundamentais nas atuais filosofias de
formação profissional, facto que se encontra ligado à consideração do estatuto e do valor do conhecimento
na sociedade contemporânea.
Com efeito, constatamos que,
nos nossos dias, a formação de
base é cada vez menos duradoura;
a velocidade com que surgem novas
tecnologias e novos perfis de
formação conduz ao aparecimento
de uma nova filosofia assente em
palavras de ordem, como: formar
para o futuro, aprender a aprender,
a desaprender e a voltar a
aprender, pondo-se agora a tónica
nas competências, nas capacidades
Disponível na Internet:
e nas atitudes e não tanto na mera http://www.businessreviewbrasil.com.br/l%C3%ADderesempresariais/303/Os-perfis-mais-
procurados-pelas-empresas-brasileiras
habilidade para a execução de
tarefas. Fala-se hoje de sentido de cidadania e de responsabilidade, de valores, de capacidade de reflexão
e de diálogo, de espírito pluralista, de sentido crítico. Associa-se, desta maneira, uma dimensão ética e
filosófica - e não apenas técnica - ao desempenho do trabalho.
Parece, assim, que os modelos estáticos de formação deram lugar aos paradigmas do dinamismo, dos
processos abertos e inacabados, do pluralismo das perspetivas, da multiplicidade de pontos de vista e da
capacidade de lidar com situações diversificadas. Num mundo problemático e em constante
transformação, o importante é saber equacionar os problemas, avaliá-los, compreendê-los e saber viver
com eles, ser capaz de negociar e imaginar as eventuais soluções. E estas ideias parecem imprimir, de facto
novos rumos nos caminhos da formação profissional, conferindo ao fator "pessoa" e à capacidade relacional
uma nova e importante dimensão. Aliás, não será por acaso que, em plena era de massificação, se assiste à
necessidade de romper com o anonimato relacional que lhe é característico e se constate cada vez mais a
valorização da "personalização" das relações no mundo do trabalho.
Kovács, Ilona "Novas tecnologias e organização do trabalho", in Dirigir, n.º 14, Ago./Set./Out., 1990,
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O que é uma organização?
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O organigrama
A empresa tem características formais cujos princípios é necessário conhecer. É um método útil
começar com o organigrama, na condição de não se ficar por aí. Com mais ou menos rigor, uma empresa
deve definir as funções de cada um, as suas relações, o papel da
autoridade, etc.: quem faz o quê, quem comanda quem, quem
transmite ordens ou comunicações a quem, etc..
Em certas empresas, as funções podem ser definidas até ao seu
mais pequeno detalhe com muita minúcia. Noutras, pelo contrário,
deixa-se cada um suficientemente livre para improvisar a sua
conduta segundo as circunstâncias, ou seja pegar no trabalho que
chega ou passá-Io a outro. (Caso frequente, por exemplo, nas
jovens sociedades de serviços de informática compostos de
maneira relativamente homogénea por engenheiros ou técnicos.
Mas, paradoxalmente outras sociedades, também jovens e tendo o Disponível na Internet:
http://www.manutencaoesuprimentos.com.br/co
mesmo objeto, são muito estruturadas e formalizadas.) nteudo/4052-etica-nos-negocios-e-
A organização é uma ideologia, no sentido em que as responsabilidade-social/
representações dos responsáveis sobre o que devem ser as relações humanas dão rosto às estruturas. É
preciso poder ler, ou pelo menos explicitar, o lugar de cada um e a sua função. É o papel do organigrama.
In Bernoux, Fhilippe. A sociologia das organizações. (sd) Porto: Rés Editora, adaptado
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pesam sobre o setor. As potenciais escolhas possíveis, as que deveriam ser adotadas, as que são apoiadas
por este ou aquele ator (um decisor, o chefe, assalariados numa situação estratégica, etc.)
Assalariados: idade, sexo, antiguidade, origem, qualificação, mudanças recentes.
Sindicalismo e relações profissionais. Descrever o tipo de gestão do pessoal. Avaliar o clima social.
O mercado e a pressão da concorrência. Os elementos de variação devidos ao mercado, às tecnologias, à
mudança de organização, etc..
1. Descobrir:
- o sistema de divisão do trabalho e de repartição das tarefas. Quem faz o quê?
- a definição dos estatutos e dos papeis a desempenhar, a definição das funções: a sua precisão ou
ausência de precisão.
- o sistema hierárquico.
- as comunicações.
- o sistema de contribuição-retribuição. Em particular o sistema de sanções ou a sua ausência. Tentar
saber em que medida ele funciona.
Para descobrir estes elementos, o mais simples é de partir do organigrama. Fazê-lo para a parte da
empresa observada pelo candidato ao processo de RVCC.
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C. Descrição do funcionamento informal.
Aqui, vamos tentar compreender como é que as coisas se passam realmente, e medir a distância entre
formal e informal.
2. Um método de aproximação desse informal pode consistir em partir das relações afetivas entre os
indivíduos e principalmente entre os grupos. Tal grupo é indiferente, agressivo e hostil, simpático
relativamente a tal outro grupo? Os julgamentos de competência cobrem verdadeiras incompetências ou o
desejo de políticas diferentes? A hipótese subjacente a esta aproximação é que uma relação de competição
que não é reconhecida formalmente, origina uma tensão muito forte que se traduz por uma grande
agressividade: esta não é, então, utilizada como o indicador de uma afinidade natural mas como o indicador
de uma relação de poder.
D. Os trabalhadores e o sistema.
1. No início, fazer uma lista dos atores. Mas os atores não são, forçosamente, pessoas físicas
individualizadas. Um ator pode ser um serviço ou uma equipa ou uma secção sindical ou um grupo de
pessoas. Se queremos analisar o conjunto, é preciso fazer listagem exaustiva dos atores (mais uma vez, no
setor observado). Se queremos analisar uma ação (tal
decisão ou tal mudança), só devemos fazer a listagem dos
atores que nela participaram.
Tentar definir os seus objetivos e as suas apostas. Os
objetivos são os fins que eles se propuseram atingir e que
podem ser explicitados dentro da organização. A aposta é o
que o ator pode esperar ganhar ou perder com a ação que
desenvolve, e a importância desse lucro ou dessa perda para
ele. Por exemplo, o objetivo pode ser realizar uma
Disponível na Internet: http://www.cncursosmt.com.br/
determinada produção difícil, o objetivo pode ser realizar
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uma determinada produção difícil, num tempo recorde e com uma qualidade superior, enquanto a aposta
pode ser a valorização do serviço, de um equipamento novo do qual se quer comprovar a rentabilidade.
2. As relações entre os atores e as suas alianças constituem sistemas de ação concretos. Determiná-las.
Podemos, de novo, utilizar o organigrama, lá descrever as relações afetivas, a seguir as comunicações
concretas e, portanto, as relações. Trata-se, portanto, de mostrar o funcionamento real da empresa, quer
seja harmonioso, quer conflitual.
3. Os atores impõem-se numa estratégia de poder, quando controlam uma zona de incerteza, esta é uma
zona de decisão mal definida ou que ainda não estabilizou ou cujo funcionamento habitual é posto em
questão.
É necessário, portanto, defini-las. Pode tratar-se da introdução de uma inovação tecnológica, de uma
nova máquina, ou de pôr em causa as regras de funcionamento. Por exemplo, a introdução da utilização da
informática, ou de uma máquina com comando numérico; ou a criação de um novo setor, num serviço, etc.,
que modifica os estatutos, os papéis e consequentemente, a repartição do poder.
In Bernoux, Fhilippe. A sociologia das organizações. (sd) Porto: Rés Editora, adaptado
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aplicar é nas mensagens deixadas por alguns dos suicidas, onde o ambiente desumanizado da empresa e a
pressão colocada sobre os trabalhadores é responsabilizada diretamente.
As histórias que ficámos a saber sobre a France Telecom nos últimos dias são terríveis: trabalhadores
obrigados a mudar constantemente de posto e de funções contra sua vontade em nome da “flexibilidade”; a
quem são impostos objetivos irrealistas e que são penalizados por não os atingir; destruição sistemática de
equipas de trabalho e do espírito de
equipa em nome da “adaptabilidade”;
empregados que se vão buscar à casa
de banho porque ultrapassaram os dez
minutos da pausa-chichi; esquemas de
“autoavaliação” que apenas servem
para intimidar os trabalhadores e para
os obrigar a reconhecer que falharam e
a aceitar penalizações; total ausência
de discussão ou sequer de explicação
dos objetivos da empresa, sempre
impostos de cima; pessoas mantidas
isoladas por medidas de “mobilidade” Disponível na Internet: http://www.diarioliberdade.org/mundo/laboral-
economia/47014-nova-vaga-de-suic%C3%ADdios-na-france-telecom.html
que destroem as relações pessoais
entre trabalhadores; obrigadas a competir com os colegas para evitar a “redundância” e o despedimento;
com medo da delação dos colegas e das punições dos capatazes, desconfiadas.
As histórias falam de medo, de isolamento, de humilhação, de perda de confiança, de ausência de
solidariedade, de perda do gosto no trabalho, de perda de autoestima, de sentido e de identidade, falam de
morte. E, no entanto, repito, nada disto é novo, nada disto é diferente. Cada vez mais as empresas se
parecem mais com isto, cada vez mais este discurso da competitividade desumana ganha direito de cidade,
cada vez mais o stresse e o burnout se consideram como o preço justo a pagar pelos elos mais fracos da
cadeia, cada vez mais o discurso da “aposta no capital humano”, da “promoção da criatividade” e da
“prioridade à inovação” esconde uma prática esclavagista, desumana, repressiva, atentatória dos direitos, da
liberdade e do espírito humano.
Cada vez mais as empresas são exemplo de uma prática ditatorial, esmagadora das liberdades, da
crítica, da expressão e dos indivíduos que, se acontecesse cá fora, na rua, no espaço público, todos
julgaríamos inaceitáveis. Dentro da empresa, em nome da competitividade ou por medo do desemprego,
aceitamos o fascismo.
Malheiros, José. Publicado no jornal Público em 2 de outubro de 2009
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"emprego para a vida". Os trabalhos temporários e
A desindustrialização
precários, sem garantia de segurança social,
generalizaram-se no mundo laboral, cada vez mais A classe operária está a desaparecer rapidamente
flexível. na Grã-Bretanha, segundo um inquérito (...). Quando
questionados para se identificarem com uma classe
A sociedade pós- industrial, fortemente social, apenas 24% disseram pertencer à classe
terciarizada, assenta essencialmente na produção de operária, contra 67% no final da década de 80 (...). A
serviços e de informação, sendo frequentemente maior parte das pessoas da classe operária sente-se
cercada [...]. Sentem pouco orgulho em pertencer à
denominada de "sociedade de conhecimento". o classe operária (...). "Pertencer à classe operária
operário, no sentido herdado do século XIX, é uma costumava ser uma escolha - 0 trabalho manual, o
figura social cada vez mais rara. trabalho honesto, o ser-se despretensioso, jogar
futebol. Agora, pertencer à classe operária significa
Fortes, Alexandra e outros. Linhas da História 12.º ano. ser pobre (...). O estudo sugere que a classe operária
perdeu a sua ênfase no discurso político, nas últimas
2015. Porto: Areal Editores
décadas, pois parte-se do princípio de que todos
querem ter uma vida de classe média. (...) Os
elementos da classe operária descrevem os políticos
como "miúdos ricos da classe média". Os Trabalhistas
Declínio da militância política e do são vistos como a "esquerda caviar", os
Conservadores são "exatamente o mesmo, mas com
sindicalismo uma cor de fato diferente", e os Liberais Democratas
"dizem qualquer coisa para chegar ao poder". [...] As
mudanças no mercado de trabalho minaram toda a
A sociedade contemporânea tem sido marcada por solidariedade da classe operária [...]. "Agora já não
um afastamento cada vez maior dos cidadãos face à existem sindicatos" (...). A emigração, especialmente
política. São mú1tiplas as causas deste fenómeno. Há da Europa Central, é responsável pela redução dos
salários. "Não há sindicatos porque há muitos
quem considere que não foram os cidadãos que se estrangeiros a trabalhar no país. Eles trabalham por
afastaram da política, mas esta que se distanciou dos cêntimos. Estão a matar a força de trabalho britânica.
cidadãos. A atenuação de diferenças ideológicas entre John RentouL, "Threatened, isoLated, under siege: the UK's
partidos políticos tem contribuído para uma falta de working class today",
The Independent, 10 de janeiro, 2015 (tradução adaptada).
consciencialização ideológica e política. A lógica
eleitoralista, tendo em vista a ocupação de cargos
políticos, com pouco sentido de Estado e de serviço à Nação, mas antes em nome de interesses pessoais e
económicos, tem levado a que a opinião pública olhe com desconfiança para os políticos e, em especial os
mais jovens, revelem desinteresse pela política.
O eleitorado tem cada vez mais dificuldade em estabelecer as diferenças entre a direita e a esquerda, ou
seja, sobre as opções políticas em presença, com base em princípios ideológicos e programáticos, claros e
distintos. A ausência de definição de ideologias sólidas e o apelo ao voto útil têm contribuído para a
crescente descredibilização dos partidos e das eleições. As crises económicas resultantes das políticas
neoliberais e da globalização da economia provocaram
desigualdades sociais e dificuldades que os sistemas
político-partidários nacionais têm sido incapazes de
resolver, por inoperância, dificuldades internas ou pelo
facto de que muitas decisões são hoje, na era da
globalização, condicionadas por instituições
supranacionais. O incumprimento de promessas
eleitorais, a elaboração de programas vagos, os es-
cândalos e a corrupção que envolvem políticos, bem
como a ausência de sentido de Estado contribuem
Carlos Silva, presidente da UGT. Imagem disponível em: também para a alienação dos cidadãos face à vida
http://rr.sapo.pt/noticia/36648/ugt_demarca_se_da_opiniao_d
o_seu_lider_sobre_governo_de_esquerda política.
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O sindicalismo conheceu um forte declínio, em grande medida devido às transformações laborais
decorrentes do neoliberalismo e da globalização. A
terciarização da sociedade, a precariedade do
trabalho e os contratos temporários, a diminuição
dos contratos coletivos de trabalho, a revisão da
legislação laboral e as regras da concertação social
têm conduzido a uma perda de peso dos sindicatos
e a um decréscimo da sindicalização. Os
trabalhadores vêem os sindicatos como
instituições que não têm eficácia na defesa dos
seus interesses. De outro modo, os altos salários
Arménio Carlos, presidente da CGTP. Imagem disponível em:
de determinados trabalhadores leva-os a não se
http://www.diarioliberdade.org/portugal/laboral-economia/32175-
reverem na luta sindical como meio de melhoria marcha-contra-o-desemprego,-13-de-outubro-
interven%C3%A7%C3%A3o-de-arm%C3%A9nio-carlos,-
das suas condições de trabalho e de vida. Por tudo isto, tem-se assistido, no mundo ocidental, ao declínio da
secret%C3%A1rio-geral-da-cgtp.html
militância política e sindical.
Fortes, Alexandra e outros. Linhas da História 12.º ano. 2015. Porto: Areal Editores
Portugal tem hoje a terceira mais baixa taxa de sindicalização da Europa dos Quinze, remetendo quase
para o esquecimento os tempos em que os sindicatos chegaram a ser o elo mais forte nas lutas de poder com
os primeiros e frágeis governos do pós-25 de Abril. Fervores políticos à parte, a sua força tinha uma razão de
ser: entre 1979 e 1984 os sindicatos representavam 1,7 milhões de trabalhadores, ou seja 59% da força de
trabalho. Hoje, só representarão 1,165
milhões, de acordo com 0 observatório
europeu das relações laborais, o que quer
dizer que, em pouco mais de 20 anos,
perderam meio milhão de associados. (...)
De acordo com um estudo, de 2004 da
Comissão Europeia, a taxa de sindicalização
dos trabalhadores portugueses era de
24,3% em 1997, só acima da espanhola
(15,7%) e da francesa (9,8%). E muito abaixo
da dos países nórdicos, que oscilava entre
os 75% os 82%. As explicações para tão
drástica alteração do panorama só podem
Imagem disponível em: http://ephemerajpp.com/2014/04/08/cgtp-manifestacao-
ser encontradas nas não menos expressivas de-activistas-sindicais-lisboa-8-de-abril-de-2014/
mudanças do mundo laboral, da economia,
da política e da sociedade, que, entretanto, mergulhou na União Europeia. A força sindical tinha as suas
raízes mais fortes, para lá da administração pública - onde ainda se mantém -, nas empresas estatais e nos
setores industriais. Uma realidade que se alterou tanto com as privatizações dos anos 90, e a generalização
da lógica de gestão privada, como com o gradual declínio da indústria. E são as atividades de mão de obra
intensiva, que requerem laboração contínua, como os industriais, que dão mais margem de manobra aos
trabalhadores na hora de medir forças para atingir objetivos.
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Hoje os serviços absorvem 57,5% da população empregada, sendo que entre 1998 e 2005 os indicadores
mostram que o emprego se reduziu na indústria transformadora a uma taxa média anual de 2,3%. Na
indústria têxtil a redução foi ainda mais expressiva, da ordem dos 4,5%. E na agricultura verificou-se, na
última década, uma quebra de 20 pontos percentuais da população empregada. Se a estes indicadores
juntarmos o facto de a estrutura empresarial portuguesa ser dominada por pequenas e muito pequenas
empresas e de os contratos a prazo estarem em grande crescimento, pode concluir-se que "estas
características afetam negativamente os sistemas de representação de interesses, tanto dos trabalhadores
como dos empregadores", como sublinha o Livro Verde das Relações Laborais.
Fortes, Alexandra e outros. Linhas da Históri 12.º ano. 2015. Porto: Areal Editores
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