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Licenciamento,Avaliação

e Controle de Impactos
Ambientais
Prof. Luis Augusto Ebert

2013
Copyright © UNIASSELVI 2013

Elaboração:
Prof. Luis Augusto Ebert

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

333.714

E165l Ebert, Luis Augusto

Licenciamento, avaliação e controle de impactos ambientais /


Luis Augusto Ebert. Indaial : Uniasselvi, 2013.

187 p. : il
ISBN 978-85-7830- 673-1

Impacto ambiental.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico!

Se hoje em dia proteger a natureza é chique, há alguns anos não


era assim. Fui criado em uma família tradicional, em uma pequena cidade,
onde atirar com estilingue em passarinhos, sair para caçar, fazer trilhas em
florestas, entre outras coisas, era algo natural. Mas algo me dizia que isso não
era correto. E eu tinha razão. Mas quanto tempo foi necessário esperarmos
para haver conscientização dessas questões? Na década de 70 ou 80, estas
práticas não eram justificadas, no entanto, resultavam de uma mentalidade
que as pessoas mais antigas carregavam, e que pareciam herdar do tempo
dos exploradores, de que os recursos naturais são infinitos e passavam esta
mentalidade adiante para filhos, netos e bisnetos.

Porém, estudos mostraram que a natureza tem limites e que eles


podem estar mais próximos do que pensamos, devido ao crescimento
exponencial da nossa espécie e à manutenção de uma mentalidade humana
retrógrada. Precisamos acordar! A natureza pede socorro e vários sintomas
tornam-se cada vez mais aparentes: secas, chuvas intensas, desmatamentos,
queimadas, poluição dos recursos hídricos, entre tantos outros.

Assim, todas as questões voltadas à proteção dos nossos recursos


naturais vêm crescendo vertiginosamente. É fato que, atualmente,
quantidades significativas de projetos têm sido adotados, por inúmeras
empresas e organizações de diferentes setores, contribuindo para a redução
dos danos causados ao meio ambiente. E essa tendência não se deve somente
à imposição legal dos órgãos competentes de proteção da natureza.

No entanto, é preciso estarmos atentos ao verdadeiro significado


desse movimento a favor do popular desenvolvimento sustentável. Será
mesmo que muitos dos segmentos que adotam essas medidas estão
preocupados com a conservação dos recursos naturais, ou apenas querem
polir sua imagem? Será que no fundo ainda mantêm aquela consciência que
nossos avós nos passaram? Muitas vezes, por falta de ética, muitos se apoiam
nesse modismo para transmitir uma imagem que não condiz com a política
adotada dentro de suas corporações. E é através desse Caderno de Estudos
que você será capaz de identificar os procedimentos corretos relacionados a
vários aspectos que caminham alinhados à sustentabilidade.

No conteúdo da disciplina de Licenciamento, Avaliação e Controle de


Impactos Ambientais, nós, acadêmicos(as), tomaremos conhecimento sobre
novas regras e trataremos de ferramentas e instrumentos de gestão ambiental
voltados ao desenvolvimento sustentável, legislação ambiental e aos atores
envolvidos desde o início do processo.

III
Esperamos que este estudo traga informações preciosas para que no
futuro você possa desempenhar com excelência seu papel de gestor(a) do
meio ambiente.

Bons estudos!
Autor: Luis Augusto Ebert

UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E O LICENCIAMENTO
AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE MITIGAÇÃO E CONTROLE.... 1

TÓPICO 1 – ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO E


DO DIREITO AMBIENTAL.......................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 3
2 NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL............................................................................................ 4
3 ORIGEM DO DIREITO E DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL..................................................... 5
4 OS TIPOS DE AMBIENTES.............................................................................................................. 7
5 HIERARQUIA DOS DOCUMENTOS LEGAIS............................................................................ 10
6 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA...................... 10
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 18
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 19

TÓPICO 2 – ESTABELECIMENTO DE AÇÕES PERTINENTES À


CONSERVAÇÃO AMBIENTAL................................................................................... 21
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 21
2 ASPECTOS GERAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (PNMA)........... 23
3 RESPONSABILIDADES ROVENIENTES DE ACIDENTES AMBIENTAIS.......................... 25
4 RESPONSABILIDADE CIVIL.......................................................................................................... 27
5 RESPONSABILIDADE PENAL........................................................................................................ 28
6 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA.............................................................................................. 28
7 DEFINIÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DO DANO AMBIENTAL................................................. 29
8 SANÇÕES PENAIS E ADMINISTRATIVAS ORIUNDAS DE ATIVIDADES
LESIVAS AO AMBIENTE NATURAL............................................................................................. 30
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 32
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 33

TÓPICO 3 – LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO


DA POLÍTICA AMBIENTAL........................................................................................ 35
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 35
2 NOÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL.............................................. 35
3 O CICLO DO PROJETO..................................................................................................................... 36
4 IMPACTO AMBIENTAL.................................................................................................................... 38
5 LICENCIAMENTO AMBIENTAL.................................................................................................... 39
6 DIFERENÇA ENTRE UMA LICENÇA E O PROCESSO DE LICENCIAMENTO................. 40
7 TIPOS DE LICENÇAS AMBIENTAIS E PROCESSO DE AUTORIZAÇÃO........................... 42
8 TIPOS DE LICENÇAS AMBIENTAIS............................................................................................. 44
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 46
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 49
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 50

VII
UNIDADE 2 – AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO
DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL........................................ 51

TÓPICO 1 – ORIGENS DA ECONOMIA AMBIENTAL................................................................ 53


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 53
2 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO........................................................................................... 53
3 VULNERABILIDADE AMBIENTAL............................................................................................... 54
4 ECONOMIA AMBIENTAL................................................................................................................ 56
5 ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS................................................................................. 57
6 VALORAÇÃO DOS BENS SERVIÇOS AMBIENTAIS............................................................... 58
7 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL....................................................................................... 60
8 CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS......................................................................... 64
9 O CONCEITO DE PEGADA ECOLÓGICA................................................................................... 65
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 68
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 69

TÓPICO 2 – AVALIAÇÃO, GESTÃO E O MEIO AMBIENTE:


CONCEITOS E SISTEMAS ......................................................................................... 71
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 71
2 GESTÃO E ADMINISTRAÇÃO: PRINCIPAIS DIFERENÇAS................................................. 71
3 A GESTÃO EM UMA ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA.................................................... 76
4 TÉCNICAS DE GESTÃO................................................................................................................... 77
5 CONCEITOS DE GESTÃO AMBIENTAL...................................................................................... 82
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 84
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 85

TÓPICO 3 – CONCEITO E FUNCIONAMENTO DE UM SISTEM


DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)............................................................................... 87
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 87
2 PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DOS SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL........ 87
3 GESTÃO AMBIENTAL EM EMPRESAS........................................................................................ 88
4 O CICLO PDCA................................................................................................................................... 89
5 ESTABELECIMENTO DE UMA POLÍTICA AMBIENTAL DENTRO DA EMPRESA......... 91
6 A RESPONSABILIDADE ECOLÓGICA DENTRO DA EMPRESA......................................... 94
7 O CONCEITO DE ECOEFICIÊNCIA.............................................................................................. 96
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 100
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 101

TÓPICO 4 – GERENCIAMENTO AMBIENTAL.............................................................................. 103


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 103
2 GERENCIAMENTO DE CRISES AMBIENTAIS.......................................................................... 106
3 NORMAS DA SÉRIE ISO 14000....................................................................................................... 109
4 AUDITORIA AMBIENTAL............................................................................................................... 112
5 CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL OU ROTULAGEM AMBIENTAL........................................... 114
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 117
RESUMO DO TÓPICO 4...................................................................................................................... 123
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 124

VIII
UNIDADE 3 – AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS,
PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES...................................................................... 125

TÓPICO 1 – ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)...................... 127


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 127
2 METODOLOGIAS PARA EXECUÇÃO DE PROJETOS AMBIENTAIS.................................. 128
2.1 ALGUNS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO........................................................... 129
2.2 O CICLO DO PROJETO................................................................................................................. 131
3 ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E RELATÓRIO DE
IMPACTO AMBIENTAL (EIA/RIMA)............................................................................................. 133
3.1 ESTUDO AMBIENTAL SIMPLIFICADO (EAS)........................................................................ 135
3.2 ESTUDO DE CONFORMIDADE AMBIENTAL (ECA) ........................................................... 136
3.3 RELATÓRIO AMBIENTAL SIMPLIFICADO (RAS) ................................................................. 136
3.4 PLANO BÁSICO AMBIENTAL (PBA)......................................................................................... 137
3.5 RESULTADO DOS ESTUDOS AMBIENTAIS - PARA QUEM DIVULGAR? ...................... 143
3.6 MODELOS E DIRETRIZES DE RELATÓRIOS AMBIENTAIS
DE DESEMPENHO E IMPACTO................................................................................................. 145
3.7 AS DIRETRIZES DA NORMA ISO 14.063.................................................................................. 147
4 INSTRUÇÕES NORMATIVAS PARA CONDUÇÃO DOS
ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL........................................................................................ 147
4.1 AS MATRIZES DE IMPACTO AMBIENTAL (MATRIZ DE LEOPOLD)................................ 150
5 EXIGÊNCIAS LEGAIS DE UM ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA)...................... 154
5.1 EXIGÊNCIAS LEGAIS E MÉTODOS DE AVALIAÇÃO........................................................... 154
6 O EIA COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA........................................................ 157
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 159
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 160

TÓPICO 2 – A UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE DE RISCOS NOS ESTUDOS


DE IMPACTO AMBIENTAL......................................................................................... 161
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 161
2 GESTÃO DE RISCOS......................................................................................................................... 162
2.1 O CONCEITO DE RISCO.............................................................................................................. 163
2.2 AS PRINCIPAIS FASES DE UMA ANÁLISE DE RISCOS........................................................ 166
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 169
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 170

TÓPICO 3 – AUDITORIA AMBIENTAL PRÉVIA E PÓS-IMPLANTAÇÃO DE OBRAS....... 171


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 171
2 PROGRAMAS DE MONITORAMENTO E DOS ESTUDOS DE AUDITORIA.................... 172
2.1 MONITORAMENTOS DE IMPACTO E ESTUDOS DE AUDITORIA................................... 175
2.2 MITIGAÇÃO E MONITORIZAÇÃO DE CONFORMIDADE................................................. 176
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 177
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 181
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 182

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................ 183

IX
X
UNIDADE 1

POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E


O LICENCIAMENTO AMBIENTAL
COMO INSTRUMENTO DE
MITIGAÇÃO E CONTROLE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade você será capaz de:

• ter clareza sobre a origem do direito ambiental e sua aplicabilidade no que


tange à proteção dos recursos naturais;

• entender a hierarquia dos principais documentos legais que legitimam a


conservação ambiental, assim como um breve histórico do surgimento das
diversas leis;

• ter o entendimento sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e o que ela


preconiza;

• observar de que maneira os órgãos ambientais, que são responsáveis pela


proteção dos recursos naturais, estão estruturados;

• compreender o processo de licenciamento ambiental, assim como as


respectivas licenças de autorização.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará atividades que o auxiliarão na apropriação dos conhecimentos.

TÓPICO 1 – ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO


E DO DIREITO AMBIENTAL

TÓPICO 2 – ESTABELECIMENTO DE AÇÕES PERTINENTES


À CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

TÓPICO 3 – LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO


DE MITIGAÇÃO E CONTROLE

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO


E DO DIREITO AMBIENTAL

1 INTRODUÇÃO
Já faz algum tempo que as questões ambientais vêm sendo debatidas
com frequência e, de certa maneira, viraram “moda” em diversos segmentos da
sociedade. Desta forma, as empresas que provocam determinado impacto ao
meio ambiente, devido à competitividade ou à busca de melhor posicionamento
mercadológico, reconheceram a necessidade de reestruturar o gerenciamento
dos seus negócios. Isto ocorreu principalmente pela cobrança cada vez mais forte
da sociedade, que passou a enxergar o desrespeito com o meio ambiente, por
parte de muitos empreendimentos, e os riscos iminentes que estas imprudências
poderiam ocasionar às pessoas que estão nas proximidades das empresas. Assim,
algumas regras foram impostas para a utilização dos recursos ambientais e para
a execução de determinadas atividades. Consequentemente, empresas, marcas e
produtos que não seguem as determinações agora impostas ficam não somente
fora de normas regulatórias com apoio da legislação vigente, mas também estão
em desacordo com a sociedade, refletindo negativamente sobre a sua imagem
para a venda dos produtos comercializados.

De acordo com Araújo e Vervuurt (2005), essa percepção pública negativa


do papel da indústria na sociedade vem provocando, também, uma crescente
pressão sobre os órgãos oficiais de controle ambiental e legisladores, gerando a
regulamentação de leis de controle ambiental cada vez mais complexas para o
atendimento da legislação. Assim, as empresas têm procurado várias alternativas
que melhorem o seu desempenho ambiental, com o objetivo de gerenciar os
riscos tecnológicos ambientais e criar condições que revertam a percepção atual
da população.

De maneira geral, nesta primeira unidade abordaremos questões


relacionadas à política ambiental brasileira, além de ter noções sobre o direito
ambiental, sua origem, legislação pertinente, hierarquia dos documentos legais e
as responsabilidades provenientes dos acidentes ambientais. Estudaremos ainda
a definição de dano ambiental, sanções penais e administrativas decorrentes
das atividades lesivas ao meio ambiente, as sanções previstas na Lei de Política
Nacional do Meio Ambiente e, por fim, o licenciamento ambiental como
instrumento de verificação e controle dos impactos ambientais causados.

3
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

2 NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL


Alguns autores, como Barbieri (2007) e Araújo e Vervuurt (2005),
sustentam que o direito, de maneira geral, assim como o sistema jurídico, têm por
finalidade regular a preservação da vida, dar condições de existência do homem
em sociedade, de integridade física, psíquica e social em todos os seus aspectos.
Ou seja, a meta do direito deve ser assegurar o bem-estar do ser humano. E não
seria diferente para o denominado “Direito Ambiental”. Porém, na busca de
defesa e proteção de determinado recurso, por exemplo, podem surgir interesses
conflitantes, pois nem sempre todos os atores envolvidos seguem a mesma linha
de pensamento ou o mesmo objetivo. O que pode ser bom para um grupo pode
ser ruim para outro, e dentro deste debate de ideias, encontrar o equilíbrio de
interesses é o aspecto mais complicado.

Podemos imaginar, aqui, a exploração de um determinado recurso


ambiental, como os peixes dos quais uma população nativa depende. Quando esse
mesmo recurso passa a ser disputado com um grupo com interesses econômicos
específicos, e teoricamente, com maior poder de exploração (por exemplo, maior
capital financeiro), um conflito pode surgir. Esses peixes, que até então eram
explorados de forma sustentável, pois o nível de captura não ultrapassava os
limites de estoque natural da espécie, passam agora a ser explorados em níveis
industriais, comprometendo a sustentabilidade. Essa condição tem reflexo sobre
as pessoas que dependem deste recurso, pois este, não sendo utilizado da maneira
correta, logo comprometerá a qualidade de vida dos nativos e, consequentemente,
gerará conflitos entre as partes interessadas.

A superação do conflito, entre a atividade econômica e o dano ambiental,


deve ser orientada em uma compreensão de que o direito deve atender aos
interesses da sociedade como um todo, e não somente de um grupo em específico.
Neste sentido, o direito ampara a atividade produtiva, fundamentado numa
ordem econômica capitalista, mas, antes de tudo, deve assegurar a qualidade de
vida em sociedade com dignidade. E aqui, a discussão entre ética e justiça precisa
ser constantemente confrontada e retomada.

De fato, ética e direito se distinguem, embora juízos éticos possam ser


normativos, ou seja, possam funcionar através de regras estabelecidas. Porém, no
sistema jurídico tradicional, o ponto inicial é a constatação de que direito consiste
em um conjunto de regras a serem respeitadas e sancionadas oficialmente, mas
que seguem princípios e fundamentações teóricas e de experiências práticas.
Ou seja, de nada adianta normatizarmos como deve ocorrer a exploração de um
determinado recurso ambiental, se não soubermos como este meio funciona,
quais são suas limitações, como as espécies se reproduzem e qual esforço de
exploração pode ser aplicado.

4
TÓPICO 1 | ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO E DO DIREITO AMBIENTAL

Então, teoricamente, todos os tipos de instruções normativas (leiam-


se aqui, leis, portarias, decretos), que são a base do nosso sistema jurídico, são
fundamentados em dados e informações reais, fornecidos por profissionais
experientes e que detêm conhecimento sobre aquilo que se pretende legislar.
Assim, essas diretrizes não são definidas apenas por sanções repressivas, mas
levam em consideração as diversas estruturas que compõem o cenário a ser
explorado, onde um dos pilares é, com certeza, a economia.

Já que estamos falando que essas normas não são apenas fundamentadas
no “achismo” ou no autoritarismo, a Carta Magna, ou Constituição Federal de
1988, (BRASIL, 2012a), estabeleceu, em seu art. 225, que a defesa do meio ambiente
é de fundamental importância, “[...] o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, [...] essencial à sadia qualidade de vida [...]”.

Com o exposto acima, fica claro que a harmonização entre os pilares


econômico, social e ambiental já está prevista e regulamentada. Nas próximas
unidades do seu Caderno de Estudos veremos, mais detalhadamente, que estes
três pilares são a base do chamado desenvolvimento sustentável.

3 ORIGEM DO DIREITO E DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL


O direito ambiental pode ser entendido como uma disciplina jurídica,
que tem o objetivo de estabelecer normas e princípios que assegurem a proteção
do meio ambiente, e/ou como o conjunto de normas jurídicas que disciplinam a
exploração dos recursos naturais em todas as suas formas e com vistas à qualidade
de vida (ARAÚJO; VERVUURT, 2005).

Para que possamos entender de forma plena a origem e a evolução do


direito ambiental, é necessário que façamos a compreensão correta do termo
meio ambiente. Este deriva do latim “ambi” e “entis”, significando tudo o que
cerca ou envolve. O verbo latino ambio, ambire significa “andar em volta ou em
torno de alguma coisa”. Na verdade, meio e ambiente podem ser entendidos
como sinônimos, pois significam lugar, recinto ou espaço onde se desenvolvem
as atividades humanas e a vida dos animais e vegetais.

Essa expressão é consagrada no Brasil, na Espanha e nos demais países que


falam o castelhano (médio ambiente). Já em Portugal utiliza-se apenas a palavra
ambiente, da mesma forma que na Itália. No idioma francês e inglês utilizam-se
as palavras environnement e environment, respectivamente, ambas originadas do
francês antigo environer, que significa circunscrever, cercar ou rodear.
Assim, o que envolve os seres vivos e as coisas, ou o que está ao seu
redor, é o planeta Terra, com todos os seus elementos, tanto naturais, quanto
os construídos e alterados pelo homem. Consequentemente, o meio ambiente
significa não somente o ambiente natural (oceanos, florestas, campos e montanhas),
mas também o artificial (cidades, ambiente rural e parques industriais)

5
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

E
IMPORTANT

O meio ambiente é o conjunto, em um dado momento, dos agentes físicos,


químicos, biológicos e fatores sociais susceptíveis de terem efeito direto ou indireto e
imediato sobre os seres vivos e as atividades econômicas (ODUM, 1988).

Ainda, de acordo com normativas nacionais e com a Lei nº 6.938/81, Art.


3, I da Política Nacional do Meio Ambiente, meio ambiente é "o conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química, biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Encontra-se uma definição interessante no Sistema Internacional ISO


14001, 2004 para Gestão Ambiental, que diz: “circunvizinhança em que uma
organização opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna,
seres humanos e suas inter-relações”. E destaca: “Uma organização é responsável
pelo meio ambiente que a cerca, devendo, portanto, respeitá-lo, agir como não
poluente e cumprir as legislações e normas pertinentes”.

A Constituição Federal conferiu proteção ao meio ambiente natural de


forma mediada e imediata no seu art. 225. Neste artigo, fala em “meio ambiente
ecologicamente equilibrado”, ao mesmo tempo em que relata todos os aspectos
do ambiente natural.

Inúmeros diplomas infraconstitucionais tutelam o meio ambiente natural,


onde podem ser destacados os seguintes:

• Decreto nº 24.634/34, que dispõe sobre as águas.


• Decreto-Lei nº 1.985/40, que trata das atividades de mineração.
• Lei nº 4.771/65, que trata das florestas e demais formas de vegetação.
• Lei nº 6.902/81, que define as áreas de proteção ecológica e áreas de proteção
ambiental.
• Lei nº 6938/81, que define a Política Nacional do Meio Ambiente.
• Lei nº 7.661/88, que trata do gerenciamento costeiro.
• Lei nº 7.754/89, que trata das medidas de proteção das florestas existentes nas
nascentes dos rios ou áreas de preservação permanente, como são conhecidas.
• Lei nº 9.985/00, que define o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza (SNUC).
• Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos.

6
TÓPICO 1 | ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO E DO DIREITO AMBIENTAL

Como pode ser observado, o Brasil possui uma política de meio ambiente,
amparada legalmente, que veremos em seguida, e temos ainda inúmeras leis para
a proteção de todos os tipos e formas de ecossistemas naturais. Algumas dessas
leis são da década de 80, no entanto, a preocupação com a proteção dos recursos
naturais existe muito além deste período. O grande problema é que, no Brasil,
muitas leis não são cumpridas e pouco se faz para que essas determinações sejam
seguidas à risca.

A partir de agora, estudaremos como podemos classificar os diversos


tipos de ambientes. Como já dito, podemos compreendê-los em ambiente natural,
artificial, cultural e do trabalho, lembrando que o nosso foco de estudos será
sempre o natural. No entanto, é bom termos ciência de todos, visto que, de uma
forma ou de outra, acabam interagindo.

4 OS TIPOS DE AMBIENTES
De acordo com Odum e Sarmiento (1997), podemos distinguir basicamente
três tipos de ambientes: (1) o ambiente natural, que são, por exemplo, as matas
virgens ou outras regiões autossustentadas, acionadas apenas pela luz solar e
outras forças da natureza (como precipitações, ventos, neve, entre outros), e
que não dependem de qualquer fluxo de energia controlado diretamente pelos
humanos, como ocorre, nos outros tipos de ambientes citados; (2) o ambiente
artificial, constituído pelas cidades, parques industriais e corredores de
transportes, como ferrovias, rodovias e portos; e (3) o ambiente cultural, relativo
aos bens e costumes de uma comunidade.

O ambiente natural é o ambiente de suporte à vida. É aquela parte da


Terra que satisfaz as necessidades fisiológicas vitais, provendo alimentos e outras
fontes de energia, nutrientes, água e ar (ODUM e SARMIENTO, 1997). A vida
ocorre apenas na Biosfera, estreita faixa do planeta constituída pela interação de
três ambientes físicos: o ambiente terrestre ou litosfera, o aquático ou hidrosfera,
e o atmosférico, que envolve os outros dois tipos de ambiente. A parte terrestre
da biosfera é apenas a camada sólida superficial da litosfera; a da atmosfera é
a camada rente à crosta terrestre, denominada troposfera e que alcança até 11
km de altitude nos polos e 16 km no Equador. Assim, o meio ambiente, como
condição de existência da vida, envolve a biosfera e estende-se muito além dos
limites em que a vida é possível.

7
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

ATENCAO

Dentro da definição de ambiente natural, podem-se destacar os conceitos de


populações, comunidades e nichos ecológicos. Populações são o conjunto de indivíduos de
uma mesma espécie que sobrevive amparado por condições físicas, químicas e biológicas
específicas para sua sobrevivência. Já as comunidades podem ser entendidas como o
conjunto de diversas populações de diferentes espécies, que compartilham determinado
ambiente em uma condição específica. Por fim, os nichos são as condições (temperatura,
umidade, salinidade) que uma espécie necessita para sobreviver. Poderíamos falar ainda em
ecossistemas, que grosseiramente são o conjunto de fatores abióticos (físicos, por exemplo)
e bióticos (vivos) que atuam simultaneamente em uma determinada região, garantindo a
sobrevivência de todas as espécies.

Os organismos e o ambiente físico são interdependentes e, portanto,


influenciam-se mutuamente, funcionando como um todo, ou seja, tudo o que
afeta uma espécie (por exemplo, a quantidade de comida), acaba afetando as
demais. Aqui, podemos imaginar uma situação hipotética, em que uma espécie
vegetal é recurso alimentar para uma espécie animal (espécie X). Se esta planta
for afetada por um derrame de determinado produto químico, indiretamente,
a espécie X também será afetada devido ao desaparecimento do seu recurso
alimentar. Ainda, se considerarmos que a espécie X seja o predador de outra
espécie, por exemplo, algum inseto (espécie Y), pode-se imaginar que a redução
da população da espécie X, ocasionada pela falta do recurso vegetal, acarretará
no aumento do número de indivíduos da espécie Y, agora menos susceptível à
pressão da predação.

Este exemplo ilustra o quanto a teia da vida dos ecossistemas naturais é


interligada e frágil, e demonstra que qualquer distúrbio, por menor que seja, pode
gerar um tipo de “efeito borboleta” ou “efeito dominó”, onde direta ou indiretamente
todos acabam afetados. Vale lembrar aqui de alguns tópicos mencionados acima,
onde descrevíamos que as leis ambientais, ao serem implantadas, devem levar
em conta as particularidades desses ambientes, e que, de preferência, devem ser
formuladas a partir da experiência de profissionais gabaritados.

O ambiente artificial é o espaço físico transformado pela ação continuada


do homem, com o objetivo de estabelecer relações sociais e viver em sociedade,
sendo formado pelo meio ambiente urbano, periférico e rural.
FONTE: Disponível em: <http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/Mineracao.pdf>.
Acesso em: 5 dez. 2012.

Já o ambiente urbano é o meio ambiente constituído pelo espaço urbano, como


edificações e equipamentos públicos. O meio ambiente rural, por sua vez, é o espaço
onde se desenvolvem as relações pertencentes ao campo; os ambientes rústicos. Por

8
TÓPICO 1 | ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO E DO DIREITO AMBIENTAL

fim, o meio ambiente periférico deriva da expansão desordenada das metrópoles que
empurram as populações para regiões marginais da cidade, os subúrbios.

Dentre os dispositivos constitucionais integrantes do regime do


meio ambiente artificial, destacamos o Decreto-Lei nº 3.365/41 (que trata da
desapropriação por utilidade pública e interesse social), a Lei nº 4.504/64 (que trata
de condomínio em edificações), a Lei nº 5.108/67 (que trata da política nacional de
saneamento), a Lei nº 5.868/72 (que trata do sistema nacional de cadastro rural),
a Lei nº 6.513/77 (que trata de áreas especiais e locais de interesse turístico), a Lei
nº 6.766/79 (que trata do parcelamento do solo), o Decreto-Lei nº 1.413/75 (que
trata da poluição por atividades industriais), a Lei nº 6.803/80 (que estabelece
diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição),
a Lei nº 7.802/89 (que trata das atividades relacionadas com agrotóxicos e afins),
a Lei nº 8.171/91 (que dispõe sobre política agrícola), além de inúmeros outros
dispositivos legais correlatos.

Existe ainda o meio ambiente cultural, que é constituído por bens, valores
e tradições relevantes à comunidade, atuando diretamente na sua identidade e
formação. Poderíamos citar ainda um quarto tipo de ambiente, o do trabalho, que
pode ser definido como o lugar no qual se desenvolvem nossas atividades.

Assim, o meio ambiente laboral não se restringe ao espaço interno


da fábrica ou da empresa, mas se estende ao próprio local de moradia ou ao
ambiente urbano.

FONTE: Disponível em: <http://www.ufpel.edu.br/cic/2007/cd/pdf/SA/SA_00813.pdf>.


Acesso em: 5 dez. 2012.

De acordo com Araújo e Vervuurt (2005, p. 15), o meio ambiente de


trabalho é o “[...] complexo de bens de uma empresa e de uma sociedade, objeto
de direitos subjetivos privados e de direitos invioláveis da saúde e da integridade
física dos trabalhadores que o frequentam.” De acordo com o mesmo autor, pode
ser entendido ainda como sendo o:

Conjunto das condições de produção em que a força de trabalho e


o capital se transformam em mercadorias e em lucro. Esse conjunto,
diferente segundo os modos de produção que se sucederam na
história, de acordo com os setores produtivos, nos interessa pela sua
capacidade de provocar danos à saúde de quem trabalha. (ARAÚJO;
VERVUURT, 2005, p.15).

Os principais tipos de ambientes foram conceituados, apenas para mostrar


como o homem dividiu a sua ocupação na Terra, se é que podemos chamar assim,
e que para cada uma destas divisões há características completamente diferentes
e, portanto, a maneira como deve se gerenciar e entender cada uma delas também
deve ser diferenciada. No entanto, como o foco do nosso Caderno de Estudos são
os danos ambientais gerados a partir da exploração de um determinado recurso,
o termo meio ambiente natural será o mais amplamente utilizado.
9
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

5 HIERARQUIA DOS DOCUMENTOS LEGAIS


Agora que temos uma noção sobre a origem do direito ambiental, e também
sobre quais meios ele norteia, precisamos entender que leis, ou que tipos de
instruções normativas focando o meio ambiente vigoram mais, e em que situações.
Isso se torna necessário, principalmente, porque muitas vezes, no exercício da sua
profissão, você se deparará com leis, decretos, portarias e instruções normativas
que regulamentam algo (por exemplo, a derrubada de espécies de árvores
nativas) e precisará interpretar adequadamente os documentos. Ainda pode ser
destacado aqui que muitas dessas normativas apresentam falhas ou “brechas”
que, dependendo da situação, podem ser interpretadas equivocadamente,
causando problemas ainda maiores aos bens ou recursos naturais.

A Constituição Federal, em seu art. 59, trata apenas das normas existentes
no sistema jurídico brasileiro, não mencionando a hierarquia entre elas. A
Constituição é hierarquicamente superior às demais normas, pois o processo
de validade destas é regulado por aquela. Abaixo da Constituição encontram-
se os demais preceitos legais, cada qual com campos diversos de atuação: leis
complementares, leis ordinárias, decretos-leis (nos períodos em que existiram),
medidas provisórias, leis delegadas, decretos legislativos e resoluções.

Os decretos são hierarquicamente inferiores às leis, até porque não são


emitidos pelo Poder Legislativo, e sim pelo Poder Executivo, complementando as
disposições legais. As Normas Internas da Administração Pública, como portarias,
circulares, ordem de serviço, entre outras, são hierarquicamente inferiores aos
decretos e às leis.

Por exemplo, o IBAMA (Instituto Brasileiro de Recursos Naturais


Renováveis) publica as resoluções com as diretrizes técnicas para atendimento da
legislação. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) elabora normas
técnicas, que são hierarquicamente superiores às normas internacionais, pois
levam em consideração as especificações nacionais. Apesar do envolvimento da
sociedade, inclusive do governo, na elaboração das normas técnicas da ABNT,
as mesmas somente serão consideradas obrigatórias se forem citadas em uma lei
específica. Caso contrário, são de adoção voluntária. A seguir estão listadas as
definições de cada um destes documentos.

6 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA


AMBIENTAL BRASILEIRA

A partir de agora iremos relatar, brevemente, alguns dos principais


instrumentos, mecanismos e leis que normatizam o uso e a exploração dos
recursos naturais no Brasil e para quais situações foram criados. Iremos listar em
tópicos, pois no nosso entendimento facilita a sua compreensão:

10
TÓPICO 1 | ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO E DO DIREITO AMBIENTAL

• Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA): Para que possamos entender


como funciona o estabelecimento e o cumprimento, no que tange à tomada de
decisão para um determinado problema ambiental, precisamos observar, de
forma breve, como estão constituídos nossos órgãos ambientais. Iremos nos
aprofundar mais quando entrarmos na Política Nacional do Meio Ambiente (Lei
nº 6.938/81). Porém, é preciso entender que, acima de tudo, temos o Ministério
do Meio Ambiente (MMA), vinculado diretamente à Presidência da República,
e que, vinculados a este ministério, temos diversos órgãos. De acordo com o art.
6º da Lei nº 6.938, esses órgãos constituem o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA). O SISNAMA foi instituído em 31 de agosto de 1981, com a Lei nº
6.938, regulamentada pelo  Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, sendo
constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Municípios e pelas Fundações instituídas pelo poder público, responsáveis
pela proteção e melhoria da qualidade ambiental. Estão vinculados aqui, um
órgão superior formado por pessoas que assessoram o Presidente da República
na tomada de decisão, um órgão consultivo (para assessorar o órgão superior)
e deliberativo (que podem sugerir leis e políticas ambientais), que no Brasil é
conhecido como Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), assim como
órgãos executores, que fazem com que todas as determinações ambientais sejam
cumpridas, que no Brasil, em esfera federal, é constituído pelo Instituto Brasileiro
de Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Recentemente foi criado o ICMBio
(Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade), que realiza a
gestão e fiscalização das Unidades de Conservação. Esse breve relato serve apenas
para nos orientar em relação às atribuições de cada um desses órgãos, quando os
mesmos são mencionados.

Sabe-se ainda que a atuação do SISNAMA se dá mediante articulação


coordenada dos órgãos e entidades que o constituem, observado  o acesso
da opinião pública às informações relativas às agressões ao meio ambiente
e às ações de proteção ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA.
Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a regionalização das
medidas emanadas do SISNAMA, elaborando normas e padrões supletivos e
complementares.

FONTE: Disponível em: <http://www.direitoambiental.adv.br/ambiental.qps/Ref/PAIA-6S9TNQ>.


Acesso em: 5 dez. 2012.

Os órgãos seccionais prestam informações sobre os seus planos de ação


e programas em execução, consubstanciadas em relatórios anuais, que são
consolidados pelo Ministério do Meio Ambiente em um relatório anual sobre a
situação do meio ambiente no país, a ser publicado e submetido à consideração
do CONAMA em sua segunda reunião do ano subsequente (MMA, 2011).

11
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

• Ação Civil Pública: Promulgada pela Lei nº 7.347/85, disciplina a ação civil
pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico e dá outras providências. Como profissionais, devemos ficar
mais atentos ao primeiro e quinto artigo, que versam sobre o meio ambiente,
e quem pode propor uma ação civil pública. Como está escrito, um cidadão
comum pode acionar o Ministério Público (MP), mas fica claro aqui que uma
organização civil (pode-se pegar como exemplo uma ONG que trata de questões
ambientais) terá peso decisivo no que tange ao andamento da denúncia, caso
venha a ser feita, junto ao Ministério Público.

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as
ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

l- ao meio ambiente.
ll- ao consumidor.
III- a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
IV- a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
V- por infração da ordem econômica e da economia popular.
VI- à ordem urbanística.
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer
o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Art. 4o  Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando,
inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem
urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico.
Art. 5o  Tem legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I- o Ministério Público.
II- a Defensoria Pública.
III- a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
IV- a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista.
V- a associação que, concomitantemente:
      
a) Esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil.

b) Inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente,


ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará
obrigatoriamente como fiscal da lei.
§ 2º Fica facultado ao poder público e a outras associações legitimadas nos
termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

12
TÓPICO 1 | ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO E DO DIREITO AMBIENTAL

§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação


legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade
ativa.
§ 4° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando
haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica
do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
§ 5° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da
União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos
de que cuida esta lei.
§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7347orig.htm>.


Acesso em: 30 nov. 2012.

• Lei de Crimes Ambientais: A Lei nº 9.605, de 12/02/1998, reordena a legislação


ambiental brasileira, no que se refere às infrações e punições. A partir dela, a
pessoa jurídica, autora ou coautora da infração ambiental, pode ser penalizada,
chegando à liquidação da empresa se ela tiver sido criada ou usada para
facilitar ou ocultar um crime ambiental. Em caso de compensação por parte do
infrator, a pena pode ser retirada. Em algumas particularidades, essa lei pode
ser observada, como o caso de muros e edificações pichados, maltrato a plantas
de ornamentação, desmatamentos ilegais, entre outros.

• Exploração da Fauna Silvestre: Amparada pela Lei nº 5.197/67, classifica como


crime o uso, a perseguição, a captura, a caça e o comércio de espécies animais
da fauna silvestre, além de proibir a introdução de espécies exóticas. Acessando
o site do IBAMA, outras considerações podem ser vistas.

• Exploração de Florestas: A exploração de recursos florestais está prevista


na Lei nº 4.771/65 e determina a proteção de florestas nativas e define, como
áreas de preservação permanente, áreas do entorno de recursos hídricos, como
rios, lagos, nascentes, costa, entre outros. Nestes casos, o tamanho da área
a ser protegida depende da largura do curso da água. Locais onde recursos
florestais possam ser encontrados acima dos 1800 metros também devem estar
intocados.

• Sistema Nacional de Unidades de Conservação: O SNUC, como é conhecido,


pode ser considerado uma das leis mais recentes no que tange à proteção dos
recursos naturais no Brasil, sendo instituído pela Lei nº 9.985/00, com o objetivo
de regulamentar o que o artigo 225 da Constituição Federal já promulgava,
sobre todos os cidadãos terem direito a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado. De acordo com o primeiro artigo desta lei, foram criados “critérios
e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação”.

13
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

Mas o que são Unidades de Conservação ou UCs? Como você já viu na disciplina
específica sobre o tema, essas podem ser entendidas como espaços territoriais
e seus recursos com características relevantes, com objetivos de conservação e
limites definidos. Por exemplo, se sou proprietário de uma área de terra, onde
verifico tais condições extraordinárias, posso determinar parte desta área como
sendo de uso sustentável. Neste caso, uma RPPN, ou Reserva Particular do
Patrimônio Natural.

Indo mais além, o zoneamento fica definido como setores ou zonas, em


uma unidade de conservação, com objetivos de manejo e normas específicos,
com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os
objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz.

FONTE: Adaptado de: <http://www.fflorestal.sp.gov.br/media/uploads/planosmanejo/


PEIntervales/1.%20Volume%20Principal/cad%203_BASES%20LEGAIS_ZONEAMENTO_
PROGRAMAS_BIBLIOGR/pag%20693_758%20ZONEAMENTO.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2012.

Há ainda que se prestar atenção ao plano de manejo exigido para essa


área, agora inserido dentro das normativas do SNUC.

O plano de manejo pode ser entendido como um documento técnico


mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de
conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir
o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das
estruturas físicas necessárias à gestão da unidade.

FONTE: Adaptado de: <http://www.leandroeustaquio.com.br/materialapoio/sistema_nacional_


de_unidades_de_conservacao.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2012.

Mas, de fato, o que compõe um plano de manejo? De maneira geral,


pesquisadores e especialistas em diferentes áreas ambientais, como de solo, de
fauna, de flora, recursos minerais, entre outros, fazem pesquisas e elaboram
relatórios com dados referentes a esses recursos, e emitem pareceres para o
órgão ambiental federal (ICMBio) sobre ações que norteiam a conservação da
área. Como exemplo, o biólogo, especialista em ornitologia (aves), e que faz o
levantamento da avifauna, emitirá um parecer técnico em que constará o número
de espécies de aves registradas na região, a vulnerabilidade destas aves, quantas
delas possuem perigo iminente de extinção ou aquelas que ainda estão com
um status adequado de conservação, e assim por diante. Posteriormente, os
responsáveis pela manutenção e conservação da área terão a obrigatoriedade
de implementar as ações propostas no plano de manejo. E para o EIA/RIMA
(Estudos de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental), que precede a
construção de empreendimentos com potencial poluidor, seguem alguns passos
parecidos. Como veremos em detalhes mais adiante, faz-se um levantamento

14
TÓPICO 1 | ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO E DO DIREITO AMBIENTAL

das características naturais de determinada área, como levantamento de biota,


recursos vegetais, minerais, de água, informações socioeconômicas (EIA) e, por
fim, um relatório com base nessas informações (RIMA) dá o parecer favorável ou
não à instalação do empreendimento. Aqui, deve-se levar em consideração a ética
dos profissionais envolvidos, pois recentemente, muitos escândalos, envolvendo
a manipulação de informações relevantes, vêm se tornando cada vez mais comuns.
Assim, como principais objetivos do SNUC, podem ser destacados os de contribuir
para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território
nacional e nas águas jurisdicionais; de proteger as espécies ameaçadas de extinção
no âmbito regional e nacional; contribuir para a preservação e a restauração da
diversidade de ecossistemas naturais; promover o desenvolvimento sustentável e
a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza.

FONTE: Disponível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/pronunciamento/detTexto.


asp?t=384544>. Acesso em: 5 dez. 2012.

• Política Agrícola: Definida pela Lei nº 8.171/91, coloca a proteção do meio


ambiente como objetivo principal e define o poder público (Federação,
Estados e Municípios) como o disciplinador e fiscalizador do uso racional dos
solos, água e ar, fauna e flora, além de realizar zoneamentos agroecológicos
para ordenar a ocupação de diversas atividades produtivas (inclusive a
instalação de hidrelétricas), desenvolver programas de educação ambiental,
fomentar a produção de mudas de espécies nativas, entre outras atividades.

FONTE: Disponível em: <http://www.guiafloripa.com.br/energia/ambiente/leis_ambientais.php>.


Acesso em: 5 dez. 2012.

• Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH): A Lei nº 9.433/97 cria


o  Sistema  Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH), com
o intuito de assegurar à atual e às futuras gerações, água em qualidade e
disponibilidade suficientes, através da utilização racional e integrada, da
prevenção e da defesa dos recursos hídricos, contra eventos hidrológicos
críticos. Dentre os seus principais fundamentos e objetivos pode-se destacar:

CAPÍTULO II
DOS FUNDAMENTOS

Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos fundamentos:


I- a água é um bem de domínio público;
II- a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III- em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo
humano e a dessedentação de animais;
IV- a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo
das águas;

15
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

V- a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política


Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos;
VI- a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do poder público, dos usuários e das comunidades.

CAPÍTULO II
DOS OBJETIVOS

Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:


I- assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água,
em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
II- a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte
aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
III- a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem
natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm>.


Acesso em: 30 nov. 2012.

Prezado acadêmico! Foram listados acima alguns dos instrumentos e


leis instituídos no Brasil, com a finalidade de relembrá-lo(a) sobre o que temos
disponível e o que temos que cumprir com relação à exploração dos nossos
recursos naturais. Sabemos que muitas dessas leis já foram vistas no Caderno
de Direito Ambiental. No entanto, é de fundamental importância ter clareza
no entendimento daquilo que foi dito até agora, pois essas informações são
importantes para o processo de licenciamento ambiental, que é premissa para a o
adequado gerenciamento ambiental dos recursos.

Começamos relembrando algumas coisas relacionadas ao SISNAMA,


posteriormente, à ação civil pública, às leis de crimes ambientais, de uso da fauna,
flora, recursos hídricos e agrícolas. Muitas outras ainda existem, como políticas
para o gerenciamento costeiro, patrimônio cultural, patrimônio genético,
atividades nucleares, exploração mineral e assim por diante. Mas como o foco
deste caderno não é somente a exposição dessas políticas e leis, optou-se por
apresentar de forma simples aquelas consideradas mais úteis para o seu dia a
dia como gestor ambiental, principalmente, por serem utilizadas nas atividades
de licenciamento ambiental, como veremos mais adiante. Sempre é válida uma
visita aos principais sites governamentais, como do MMA, CONAMA, IBAMA
e ICMBio, além das fundações estaduais para consulta de novas atualizações
nos instrumentos e leis. Lembre-se de que para cada estado, distinções com base
naquilo definido na esfera federal podem ser feitas. Sabemos que cada estado
possui características naturais muito diversas, com diferentes biomas e diversas
formas de gerenciamento. Assim sendo, o que pode ser útil para a Floresta
Amazônica pode não funcionar no Cerrado ou no Pantanal, ou ainda na Floresta
Atlântica, um dos ecossistemas mais frágeis e ameaçados do mundo.

16
TÓPICO 1 | ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO E DO DIREITO AMBIENTAL

O Brasil possui dimensões territoriais gigantescas e diversas características


em termos de fauna, flora, minérios, recursos hídricos e genéticos podem ser
observadas. É um dos países mais ricos do mundo em termos de biodiversidade
e a conservação se dá ao levarmos a sério todas as proposições normativas que já
foram estabelecidas. Melhorar essas medidas conservacionistas nunca é demais.
A atualização é fundamental. No entanto, para aquilo que se tem, respeitar as
peculiaridades é de suma importância, para que a tomada de decisão em cima de
um determinado recurso seja feita da maneira correta.

A seguir, iremos aprofundar assuntos relacionados à Política Nacional do


Meio Ambiente, a mais importante lei ambiental e que foi um marco decisivo
para a proteção dos recursos naturais no nosso país. Dentre os vários aspectos
definidos nessa lei, um dos mais importantes é o que define que o poluidor é
obrigado a indenizar danos ambientais que causar, independentemente da culpa.
Assim, o Ministério Público, na figura do Promotor Público, pode propor ações
de responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, impondo ao infrator a
obrigação de recuperar e/ou indenizar prejuízos causados. Vale destacar ainda
que a Lei nº 6.938/81 criou o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), regulamentados em 1986, pela Resolução
nº 001/86 do CONAMA. Essa lei foi redefinida pelo mesmo órgão em 1997, sendo
que agora temos a Resolução nº 237/97, onde considerações positivas em relação
ao EIA foram feitas, em relação à antiga resolução e que veremos mais adiante.

17
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu:

• Aspectos sobre a origem e também a aplicabilidade do direito ambiental que


permitem assegurar a sadia qualidade de vida para toda a sociedade.

• Os diferentes tipos de meio ambiente e de que maneira devemos compreender


cada um deles, visto que possuem características específicas e, portanto,
maneiras diferenciadas de regulação.

• A hierarquia dos principais documentos legais e sua importância para a


normatização da exploração dos recursos naturais.

• Um breve histórico das leis ambientais e para quais finalidades foram criadas.

18
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões a seguir.

1 Dentre os diversos órgãos criados pelo SISNAMA, qual deles tem a


finalidade de fiscalizar o cumprimento de determinações legais, para que
seja assegurada a proteção dos recursos naturais?

( ) IBAMA.
( ) CONAMA.
( ) ICMBio.
( ) MMA.

2 Sabe-se que ao identificarmos um determinado problema ambiental, o


mesmo pode ter uma abrangência municipal, estadual e/ou nacional.
Também sabemos que o Brasil, por ter dimensões continentais, apresenta
uma série de biomas e características ambientais diversas, o que torna a
nossa tomada de decisão, relativa a determinado problema ambiental,
bastante particular. Assim sendo, o que deveríamos levar em consideração,
ou quais particularidades, para resolver um dano ambiental causado na
Floresta Amazônica e outro na floresta de cerrado?

19
20
UNIDADE 1
TÓPICO 2

ESTABELECIMENTO DE AÇÕES
PERTINENTES À CONSERVAÇÃO
AMBIENTAL
1 INTRODUÇÃO
Os problemas ambientais provocados pelos seres humanos, normalmente,
decorrem do uso dos recursos naturais para obter bens e/ou serviços, podendo
provocar, além do seu uso insustentável, o despejo de resíduos gerados durante
a produção. Mas isso nem sempre gerou degradação, simplesmente pelo fato de
que a escala de produção e exploração era completamente diferente das de hoje.

Como destaca Barbieri (2007), populações nativas, por se sentirem parte


integrante do meio ambiente, geralmente o utilizam com maior parcimônia. Desta
forma, seres humanos separados dos elementos naturais podem ser entendidos
como o fator que, atualmente, ocasiona os maiores problemas ambientais. Ainda
que a crença de que a natureza existe para servir ao ser humano contribua para o
aumento das degradações ambientais, certamente o aumento da escala, gerando
níveis insustentáveis de produção, pode ser atualmente entendido como o
principal fator dos problemas gerados ao meio ambiente.

Responsabilizar a Revolução Industrial é comum entre a maioria dos


pesquisadores da área, e realmente é um marco importante na intensificação
da degradação ambiental. Hoje, a maior parte das emissões ácidas, de gases do
efeito estufa e de substâncias tóxicas, resulta das atividades industriais. Porém,
não só o lixo gerado por indústrias vem aumentando, mas também o gerado pela
sociedade em geral, dentro de uma consciência de consumo crescente. O uso
de inseticidas, herbicidas, implementos agrícolas e transgênicos fez com que a
agricultura se tornasse uma atividade extremamente danosa ao meio ambiente.
O mesmo pode-se dizer sobre os sistemas de transportes utilizados, normalmente
baseados no uso de derivados de petróleo, como combustíveis. Políticas públicas
que visem ao aumento da utilização de meios de transporte mais ecológicos,
como metrôs, bicicletas, ou mesmo o uso de biocombustíveis, ainda estão restritas
a poucas cidades.

Ainda dentro do contexto, podemos relacionar inúmeros problemas


associados à destruição dos oceanos, principalmente em relação à poluição e à
pesca. Hoje, os estoques das principais espécies de pescado comercializados estão
à beira da extinção, visto que o esforço de captura sobre esses peixes tornou-se
cada vez mais insustentável. Para se ter ideia, os peixes são capturados antes de
atingirem a maturação, ou seja, quando ainda não são adultos e não contribuíram

21
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

efetivamente com novos indivíduos para o ambiente. Dessa forma, os estoques de


peixes, como são conhecidas as grandes populações de uma determinada espécie,
não conseguem manter-se e são extintos.

Outros exemplos ainda podem ser citados. É só olharmos para as diversas


repartições públicas, escritórios, comércios de maneira geral, entre outros, que
ainda utilizam os seus recursos de maneira pouco eficiente, gerando grande
consumo e desperdício. Em pouco tempo, todo esse panorama evoluiu para uma
Sociedade de Risco, entendida como aquela que, em função de seu contínuo
crescimento econômico, pode sofrer a qualquer tempo as consequências de uma
catástrofe ambiental (CANOTILHO e LEITE, 2007). De acordo com o Relatório
Estado do Mundo, do Instituto Akatu (2011), vivemos em um mundo em que
produzimos mais alimentos do que jamais o fizemos, e onde os famintos nunca
foram tantos. E há um motivo para isso.

Durante muitos anos, nosso foco foi no aumento da oferta de alimentos,


ao mesmo tempo em que negligenciamos tanto os impactos distributivos da
produção de alimentos, quanto seus impactos ambientais de longo prazo.
Tivemos êxito notável no aumento do rendimento, no entanto, precisamos
agora perceber que, mesmo tendo condições de produzir mais, não somos
capazes de afrontar a fome, ou que necessariamente não existe uma correlação
entre esses dois aspectos.

FONTE: Adaptado de: <http://www.worldwatch.org.br/estado_2011.pdf>.


Acesso em: 5 dez. 2012.

E que o aumento da produtividade, aliado ao crescimento populacional


exagerado, quase em ritmo exponencial, é extremamente danoso ao equilíbrio
dos nossos ecossistemas naturais. Ou seja, não resolvemos o problema da fome e
destruímos nossas fontes de recursos naturais.

Se você acha que o problema não tem nada a ver com o licenciamento
ambiental, saiba que é da viabilização deste instrumento que dependem as
indústrias de agronegócios, de pecuária, entre muitas outras, e que os resíduos
gerados por estes empreendimentos são muito poluidores. Então o problema
não é a fome? Não! Existem evidências de que precisamos atacar o problema da
fome global, não apenas como uma questão de produção, mas também como
uma questão de marginalização, que aprofunda desigualdades e injustiça social.
E tudo isto está correlacionado à proteção de recursos ambientais. Uma nação
que tem educação e não está à beira da exclusão social sabe da importância dos
bens ambientais, e não joga lata de cerveja ou refrigerante pela janela do carro,
lixo nas estradas, cigarro nas matas, produtos químicos nos mananciais e rios.

22
TÓPICO 2 | ESTABELECIMENTO DE AÇÕES

À medida que incrementamos de modo espetacular os níveis gerais de


produção, durante a segunda metade do século XX, criamos as condições para
um desastre ecológico de grandes proporções no século XXI.

FONTE: Disponível em: <http://www.worldwatch.org.br/estado_2011.pdf>.


Acesso em: 5 dez. 2012.

Vimos que inúmeros problemas ambientais nos cercam. No Brasil,


na década de 80, muitos dos problemas citados já eram visíveis, o que tornou
necessário o estabelecimento de uma política ambiental que conseguisse resolver
muitos dos problemas encontrados, sobretudo em relação à exploração dos
recursos ambientais. Assim, com o objetivo de preservar, melhorar e recuperar a
qualidade ambiental, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade
da vida humana, foi promulgada a Lei nº 6.938/81, estabelecendo a Política
Nacional do Meio Ambiente.

2 ASPECTOS GERAIS DA POLÍTICA NACIONAL


DO MEIO AMBIENTE (PNMA)
A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81) é uma ação
governamental voltada para a proteção e recuperação ambiental.

Dentre seus principais objetivos está o estabelecimento de padrões


que tornem possível o desenvolvimento sustentável, através de instrumentos
capazes de conferir ao meio ambiente maior proteção. As diretrizes desta
política são elaboradas através de normas e planos destinados a orientar
Federação, Estados e Municípios, com os princípios elencados no art. 2º desta
mesma lei, e que veremos mais adiante.

Adaptado de: <http://www.jurisambiente.com.br/ambiente/politicameioambiente.shtm>.


Acesso em: 5 dez. 2012.

Já em relação aos instrumentos para prevenir e coibir as infrações, como,


por exemplo, o EIA/RIMA, estes são apresentados no art. 9º desta lei.

Nossa intenção não é colocar a lei na íntegra, mas, sim, apresentar alguns
dos artigos que tratam especificamente do alvo maior deste Caderno de Estudos,
que é o licenciamento, a avaliação e o controle dos impactos ambientais. Você pode
acessar a lei na íntegra no site <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.
htm>. Assim, seguem trechos a seguir, com destaque para os artigos 1º, 2º, 3º, 4º e 9º.

23
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

Art 1º - Esta lei, com fundamento nos incisos VI e VII do art. 23 e no art.
225 da Constituição, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins
e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental.
Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.

FONTE: Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>.


Acesso em: 01 dez. 2012.

Assim, com vistas ao exposto nos artigos acima, dentre os principais


objetivos estão ações governamentais que permitam a manutenção do equilíbrio
ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, e tendo em vista o uso coletivo.

Além disso, objetiva a racionalização do uso do solo, do subsolo, da água


e do ar, o planejamento e a fiscalização do uso dos recursos ambientais, a proteção
dos ecossistemas, o controle das atividades com potencial poluidor, incentivos
à pesquisa ambiental, recuperação de áreas degradadas e, por fim, a educação
ambiental em todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

FONTE: Adaptado de: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>.


Acesso em 5 dez. 2012.

O art. 3º da Lei nº 6.938/81 destaca o conceito de meio ambiente, como vimos


anteriormente neste Caderno de Estudos. O mesmo artigo trata da degradação da
qualidade ambiental, da alteração adversa das características do meio ambiente,
além da poluição e da degradação da qualidade ambiental, resultante de atividades
industriais e/ou de outra natureza, que direta ou indiretamente prejudiquem
a saúde, a segurança e o bem-estar da população. Ou ainda, atividades que
prejudiquem as atividades sociais e econômicas, afetem desfavoravelmente a
biota, ou as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, ultrapassando os
padrões ambientais estabelecidos. Denomina ainda o poluidor, que representa
a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental.

Alguns dos objetivos da PNMA, previstos no art. 4º da Lei nº 6.938/81,


podem ser destacados, como, por exemplo, a compatibilização do desenvolvimento
econômico social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do
equilíbrio ecológico, a definição de áreas prioritárias de ação governamental
relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, o estabelecimento de critérios e
padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos

24
TÓPICO 2 | ESTABELECIMENTO DE AÇÕES

ambientais. Outro aspecto de grande importância é a imposição, ao poluidor


e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados.
Mais adiante, verificaremos de quem são as responsabilidades provenientes
dos acidentes ambientais, assim como tratar da responsabilidade civil, penal e
solidária.

O art. 9º trata de alguns aspectos não menos relevantes. Neste artigo ficam
definidos o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, o zoneamento
ambiental e, sobretudo, a avaliação de impactos ambientais e o licenciamento
ambiental de atividades com potencial poluidor. Estão definidos, ainda, critérios
de Mecanismos de Produção Limpa (MDLs), ou com menor desperdício e
resíduos gerados, para que empresas e indústrias se ajustem à nova realidade
ambiental, assim como a criação de áreas de proteção integral. Estão listadas
ainda as penalidades disciplinares ou compensatórias, do não cumprimento às
regras e normativas estabelecidas para a adequada preservação ambiental.

3 RESPONSABILIDADES ROVENIENTES DE ACIDENTES


AMBIENTAIS
Os acidentes ambientais podem acarretar, além de sanções nas esferas
administrativas e criminais, obrigações de reparar, indenizar e compensar os danos
causados, direta ou indiretamente, pelas empresas envolvidas. Fica, portanto,
evidente a necessidade de se manter um programa de controle frente a todos os
aspectos de uma determinada atividade econômica. Lembrando, mais uma vez,
que o art. 225 da Constituição Federal de 1988 diz que todos os cidadãos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Vale destacar aqui que o parágrafo
deste mesmo artigo faz referência às condutas e atividades consideradas lesivas ao
patrimônio natural e sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, às sanções
penais e administrativas (ARAÚJO; VERVUURT, 2005).

Essa norma constitucional iniciou as responsabilizações nas esferas


administrativa, civil e criminal, das pessoas físicas e jurídicas, pois determinadas
condutas podem configurar um crime ambiental ou mesmo uma contravenção
penal, que é uma infração penal, denominada de crime menor, punidas com pena
de prisão simples ou multa, ou ambas. Isto porque a partir da Lei nº 6.938/81,
da Política Nacional do Meio Ambiente, como estudamos anteriormente, o
meio ambiente passa a ser um bem difuso, ou seja, está inserido na sociedade,
pertencendo a uma coletividade e não apenas a um indivíduo. Basta lembrarmos
que pertencemos a um ambiente, seja lá qual for, e que interesses individuais não
podem ser mais considerados.

Assim, quando se lida com atividades com maior risco de causar danos
a terceiros, deve-se considerar a possibilidade de identificar possíveis causas
de um acidente. Como veremos na Unidade 3 deste Caderno de Estudos, fazer
previsões e mapas de risco em uma empresa deve ser rotina comum. No entanto,
se pensarmos mais a fundo, nem mesmo a fiscalização sobre determinada conduta
estabelecida por normas, deveria existir. Isso deveria ser parte intrínseca de cada

25
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

ser humano. Mais uma vez, se partirmos do princípio de que estamos inseridos
no meio ambiente, e que cada ação individual afeta o todo e não somente aos
outros, nos conscientizaríamos e, com certeza, faríamos a nossa parte.

No Brasil, para qualquer dano ambiental causado, existe a chamada


responsabilidade objetiva, que não abre exceções para os acidentes que são
considerados potencialmente poluidores ou de risco iminente. Esta responsabilidade
objetiva também estabelece que todo aquele que deu causa, ou cometeu um crime
ambiental, responde por ele, bastando apenas provar o nexo causal entre a atividade
produtiva, o dano ambiental e o envolvido. Não é mais preciso provar a culpa, e sim
o nexo causal, que nada mais é do que a existência de relação das partes envolvidas.
A ausência de culpa não é mais excludente de responsabilidade. A empresa até pode
alegar que não desejava causar determinado dano, mas o tipo de responsabilidade a
que irá responder é a “Responsabilidade Ilimitada”. Desta forma, quando atividades
desse caráter estão em funcionamento, existe a obrigatoriedade de previsão e
mitigação de possíveis acidentes. Situações clássicas, tradicionalmente aceitas pela
doutrina brasileira como excludentes de punição, não são mais admitidas nos casos
de danos ambientais.

ATENCAO

No Brasil, para qualquer dano ambiental causado, existe a chamada


responsabilidade objetiva, que não abre exceções para os acidentes que são considerados
potencialmente poluidores ou de risco iminente.

Atualmente, para efeitos de ressarcimento na área cível, não há mais dano


ambiental tolerável. Não existe mais a possibilidade de uma atividade produtiva
se excluir da responsabilidade, alegando um dano residual ou permissível. Temos
como exemplo um motorista de caminhão, que transporta produtos químicos
para uma empresa, cuja licença ambiental está ativa. Vamos imaginar que um
acidente ocorra e que boa parte do material químico seja despejada em um córrego
situado em uma área de proteção ambiental; teoricamente, o único responsável,
em caso de acidente, seria a empresa, mas agora, até mesmo o motorista poderá
ser responsabilizado.

A força maior ou o caso fortuito, de acordo com o Código Civil Brasileiro, é


um acontecimento interno, irresistível e que não emana de culpa do devedor, mas
decorre de circunstâncias ligadas à sua pessoa ou à sua empresa, e apresenta como
principal característica a imprevisibilidade. Neste caso, não teríamos como culpar o
motorista, de acordo com o exemplo acima citado. No entanto, a partir do momento
em que a nova lei abandonou o conceito de culpa para os problemas ambientais, o caso
fortuito ou de força maior também foi excluído, portanto, até mesmo um fenômeno
natural, se for a causa, não exclui a responsabilidade por um acidente ambiental.
26
TÓPICO 2 | ESTABELECIMENTO DE AÇÕES

Essa é a teoria do risco assumido, cujo fundamento se baseia na seguinte


premissa: só atua em situações com risco iminente quem tem a capacidade e a
formação para lidar com tais adversidades e assumir todos os riscos inerentes
àquela atividade. Portanto, ou assume o risco, ou não exerce a função ou atividade.

4 RESPONSABILIDADE CIVIL
Antes de definirmos a responsabilidade civil, precisamos entender quem
é a pessoa definida como poluidor ou infrator. De acordo com a Lei nº 6.938, o
poluidor é a pessoa física ou jurídica de direito público ou privado, responsável
direta ou indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental. Como
vimos anteriormente, para a nossa legislação, o caso fortuito ou de força maior
foi abandonado e, dessa forma, as pessoas ou empresas passam a assumir o risco
pelas atividades com potencial poluidor. Ou seja, só faz se tem capacidade para
tal. Devem assumir os riscos, no caso de algum problema ocorrer.

Assim, podemos definir a responsabilidade civil como a obrigação de


reparar um dano que uma pessoa causa a outra. Desta forma, para reparar o prejuízo
sofrido por alguma das partes, podendo ser pessoa física ou jurídica e reduzindo
ao máximo os efeitos causados por determinada agressão, a responsabilização na
esfera civil permite a recuperação ou mitigação. Deve ficar bem claro que existe
a obrigação e a possibilidade de contornar o dano provocado, no entanto, sabe-
se que alguns dos danos causados podem ser irrecuperáveis. Utilizemos como
exemplo uma empresa que atua no ramo de derivados de petróleo. Em caso de
derramamento, e dependendo das proporções, os danos causados não só à biota e
flora, como também à sociedade na área de influência do derramamento, podem
não ser mensuráveis, e podem levar muitos anos, às vezes séculos, para a total
recuperação do patrimônio natural.

Para se caracterizar a responsabilidade civil é necessário ocorrer um


dano, e o objetivo é a sua reparação ou indenização. Para isso são necessários
os elementos objetivo e subjetivo. O primeiro é quando existe uma relação
de causa e efeito entre o ato e o dano causado. Já o segundo ocorre quando o
dano é causado por culpa ou dolo. Podemos imaginar aqui, uma empresa que
fabrica um determinado produto químico. O evento que causa a degradação
ambiental não necessariamente precisa ocorrer na empresa, mas se esse produto
é comercializado e/ou algum problema ocorrer em decorrência do uso deste
produto, a empresa pode ser responsabilizada também. Aqui, o nexo causal não
está fortalecido, no entanto, a responsabilidade pelo dano ainda existe e pode ser
considerada solidária, pois afeta as demais pessoas.

27
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

5 RESPONSABILIDADE PENAL
Além da ação civil, as empresas podem ser multadas na esfera
administrativa pelos órgãos de controle ambiental. Vocês se lembram da
hierarquia das instituições de controle ambiental que temos no Brasil, e que
foram viabilizadas pelo SISNAMA? Nesse caso, compete aos órgãos estaduais,
quando um problema não ultrapassa os limites do Estado, ou Federais, no caso
o IBAMA, quando determinado problema acarreta em prejuízo para mais de um
estado da federação.

De acordo com a legislação nacional, a Lei nº 9.605/88 iniciou a


criminalização na área ambiental e introduziu algumas inovações, entre as quais
se destacam a responsabilização e a punição penal da pessoa jurídica. O Decreto
Federal nº 3.179/99 regulamentou a Lei nº 9.605/88 e estabeleceu as sanções
administrativas cabíveis. Desta forma, para empresas que tenham cometido dano
ambiental, por se tratarem de pessoa jurídica, quem paga pelo dano? Quem vai
para a cadeia? O contrato social da empresa? Assim, a ideia é de que todas as
atividades da empresa possam ser suspensas, a fim de comprometer futuramente
a continuidade do empreendimento.

Para a aplicação da pena, o juiz poderá observar se existem antecedentes


de crimes ambientais e, não havendo, poderá substituir a pena. Desta forma, pode-
se entender que o problema ambiental não é relevante, ou seja, não é significante,
e, portanto, a responsabilização deve ser diferente em relação à responsabilidade
civil. Ainda é um crime, definido e amparado pela Lei nº 9.605/98, mas define a
não utilização do encarceramento como norma geral para cumprimento da pena.

6 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA
Toda a responsabilidade de um determinado dano ambiental pode ser
compartilhada. De acordo com a Lei nº 6.938/81, fica estabelecido o “Princípio da
Solidariedade”, no qual o causador indireto também é responsável. Este princípio
estabelece que, em caso de acidentes que causem danos ao meio ambiente ou
às pessoas que estejam sobre a área de atuação da empresa causadora do dano
ambiental, bem como na ocorrência de passivos ambientais, tanto fabricantes
quanto destinatários ficarão responsáveis pela adoção de medidas mitigadoras
do impacto, de acordo com as exigências formuladas pelo órgão ambiental. Este
tipo de responsabilidade segue o mesmo exemplo explanado ao final do item 2.3,
que define a responsabilidade civil.

Vale salientar ainda que, no exemplo que usamos, se a empresa fabrica um


determinado produto com potencial poluidor ou mesmo de causar algum tipo de
dano às pessoas, o receptor deste produto ou aquele que o comercializa também
entra na responsabilidade solidária. Podemos imaginar agora que um caminhão
desta empresa, transportando um determinado produto químico, sofre um acidente
e causa um dano ambiental. Aqui, o responsável direto é o dono do caminhão, e o
indireto a indústria que o fabrica ou o destinatário que recebe o produto.
28
TÓPICO 2 | ESTABELECIMENTO DE AÇÕES

A lei permite que se faça isso, pois é considerado poluidor quem direta ou
indiretamente causa o dano. A empresa pode tentar se excluir da responsabilidade,
alegando que sua culpa termina quando o produto é expedido e que não se
envolve com o transporte, que é uma atividade terceirizada. No entanto, todas
essas alegações são irrelevantes, bastando apenas estabelecer o nexo causal ou a
relação da empresa com o produto fabricado. Aí é que entra um aspecto muito
importante: quanto mais uma empresa auditar, controlar, fiscalizar, medir,
treinar os funcionários, mais ela reduz a probabilidade de um acidente acontecer.
Veremos como preparar-se para possíveis acidentes e estabelecer planos de
controle, na última unidade deste caderno, que é onde abordaremos alguns dos
instrumentos que permitem o controle de impacto ambiental.

7 DEFINIÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DO DANO AMBIENTAL


De acordo com a Lei nº 6.938/81, dano ambiental pode ser considerado
como a degradação da qualidade ambiental, resultante de atividades que direta
ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população,
ou afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente. Já o poluidor é
a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou
indiretamente pela atividade que venha a causar o dano ambiental.

Dependendo de como uma empresa atua em relação a esses tipos de


problemas, ela pode desenvolver diferentes abordagens para minimizar os
impactos causados, que serão vistos em maiores detalhes na Unidade 3 do
Caderno de Estudos. Porém, de maneira geral, a estratégia de um determinado
empreendimento com potencial de degradação do ambiente gira em torno do
controle, da prevenção e da incorporação dessas questões. E mesmo assim, todos
aqueles que conduzem uma companhia em que há segmentos considerados
potencialmente danosos devem ter a consciência de que mesmo tomando todas
as precauções, danos podem ocorrer, e os envolvidos deverão ser punidos
judicialmente.

A quantificação do dano ambiental também será estudada na terceira


unidade, porém, podemos adiantar que, sem o levantamento de dados pertinentes
ao funcionamento de uma empresa, torna-se impossível gerenciar isso, quanto
mais prever comportamentos futuros. De maneira alguma se pode estabelecer um
planejamento estratégico com base no empirismo, ou seja, no achismo. Veremos
que, ao falarmos em administração e gestão, independentemente do que estamos
avaliando, precisamos ter ou iniciar a coleta de uma série de dados ou informações
que permitam realizar a previsão do comportamento de uma determinada
variável de uma atividade. Assim, poderemos estabelecer metas estratégicas
para prevenção de um acidente ambiental, por exemplo. Análises estatísticas,
correlações entre variáveis e fatores externos que permitam estabelecer relação
de causa e efeito são importantes para um gerenciamento de uma atividade de
risco mais seguro. No entanto, tudo será visto em maiores detalhes nas próximas
unidades deste caderno.

29
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

8 SANÇÕES PENAIS E ADMINISTRATIVAS ORIUNDAS DE


ATIVIDADES LESIVAS AO AMBIENTE NATURAL
Novamente, se voltarmos ao art. 225 da Constituição Federal (1988),
poderemos verificar que no parágrafo 3º, “As condutas e atividades consideradas
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados”. Isso pode ser considerado um passo importante. De acordo com Araújo
e Vervuurt (2005), a partir do momento em que foi ultrapassado o caráter pessoal
da responsabilidade penal, e alcançada a pessoa jurídica poluidora como sujeito do
crime ecológico, um grande passo foi dado. Desta forma, deve-se superar a clássica
compreensão de que a pessoa jurídica ou administrador da empresa não tem vínculo
com um dano ambiental. Como já foi apresentado, é preciso estabelecer a relação
entre as partes, acidente, empresa e administrador, para que alguma providência
possa ser tomada. E hoje a lei ampara isso.

Do ponto de vista infraconstitucional, o art. 15 da Lei nº 6.938/81 determina


que uma conduta criminosa esteja sujeita à multa e detenção do infrator causador ou
praticante de condutas ou danos ao ambiente natural. Assim, o Ministério Público da
União e o Estado têm o dever de propor uma ação de responsabilidade criminal pelos
danos causados. E aqui cabe uma ressalva: aquilo que falamos sobre a necessidade
da empresa em manter um planejamento estratégico com vistas a prevenir possíveis
impactos ambientais torna-se uma obrigação, visto que o não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção de danos causados implica multas
simples ou diárias, perda ou restrição dos incentivos fiscais concedidos pelo governo
federal, perda ou restrição de linhas de financiamento concedidas pelo poder público
e, por fim, a suspensão da atividade.

A multa é a sanção mais comum nas infrações administrativas, possuindo


natureza pecuniária, ou seja, o objetivo de punir o infrator. Já a perda de incentivos
fiscais pode ser considerada a mais árdua sanção, na medida em que origina
prejuízo de ordem econômica para o infrator. Também pode ser considerada a
suspensão da participação em linhas de crédito disponíveis para financiamento
ou licitações, e que constituem punições de ordem administrativa. Como dito, há
ainda a suspensão da atividade, que, dependendo da intensidade do dano, pode
ser temporária ou definitiva.

De qualquer forma, quando constatada a infração e descoberto o responsável,


o órgão competente não poderá deixar de aplicar uma pena. Neste caso, existem duas
fases inseridas no processo de punição. A primeira define qual é o tipo de pena a ser
utilizada, que é discricionária, cabendo ao órgão competente decidir qual aplicará, e
a segunda é a aplicação, a partir do momento em que é provada a autoria do dano
ambiental. Caso o infrator fique impune, isso acarretará em um crime de prevaricação
do administrador ambiental (órgão ambiental responsável pela aplicação da pena), se
a pessoa responsável por aplicar a sanção tiver falhado em praticar o seu ato de ofício,
atendendo a interesse ou sentimento pessoal, como, por exemplo, lucro, suborno,
amizade, entre outros.

30
TÓPICO 2 | ESTABELECIMENTO DE AÇÕES

Com todos os itens relatados acima, podemos observar vários aspectos


inerentes às políticas e leis voltadas à prevenção, controle e mitigação dos impactos
ambientais normalmente relacionados a atividades com potencial de degradação
dos recursos naturais. No entanto, existe um instrumento bastante eficaz, muito
difundido atualmente, que é o Licenciamento Ambiental, do qual fazem parte o
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental
(RIMA).

Esses documentos, como veremos, são utilizados para autorizar previamente


a viabilidade, a instalação e o funcionamento de determinado empreendimento,
assim como para reunir uma série de informações e manter atualizada a coleta de
dados sobre as atividades desta empresa, em caso de ser necessário tomar ações
emergenciais. Porém, apesar da obrigatoriedade da realização do licenciamento
ambiental por empresas com potencial poluidor, existem muitos casos em que se
observam distorções e manipulações de informações, na tentativa de mascarar o
verdadeiro impacto sobre os ecossistemas naturais. É o que veremos a seguir.

31
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu:

• Os principais problemas relacionados à degradação ambiental.

• Aspectos importantes relativos à Política Nacional do Meio Ambiente e que


visam à regulamentação da exploração de recursos naturais.

• Responsabilidades de crimes ambientais cabíveis às pessoas físicas e jurídicas,


assim como a responsabilidade objetiva, de fundamental importância para que
os envolvidos, após comprovada a ligação com o dano ambiental, possam ser
responsabilizados pelo dano ambiental, com obrigatoriedade de compensação.

• Caracterização de um dano ambiental, suas formas de quantificação, e quais


condutas infratoras ao meio ambiente possuem sanções previstas em lei.

32
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões a seguir.

1 Descreva quais instrumentos legais garantem a aplicação da


responsabilidade objetiva dos condutores de danos ambientais. Conforme
foi descrito no Tópico 2 desta unidade, descreva o que pode ser entendido
como a responsabilidade objetiva de uma pessoa responsável por um dano
ambiental.

2 A partir do momento em que identificamos um problema ambiental, o órgão


responsável é obrigado a aplicar uma penalidade. Esse processo passa por duas
fases. Quais são elas e como podem ser entendidas do ponto de vista jurídico?

33
34
UNIDADE 1
TÓPICO 3

LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO


INSTRUMENTO DA POLÍTICA AMBIENTAL

1 INTRODUÇÃO
O estudo dos impactos ambientais constitui um instrumento de gestão
ambiental, sem o qual não seria possível promover a melhoria dos sistemas
produtivos em matéria ambiental. Qualquer abordagem de gestão ambiental
de uma organização, seja ela corretiva, preventiva ou estratégica, requer a
identificação e análise de impactos ambientais para estabelecer medidas para
agir em conformidade com a legislação, ou com a sua política ambiental. Esses
estudos podem ser efetuados antes ou depois de realizadas as ações, ou seja, para
produtos, atividades e empreendimentos existentes e propostos.

2 NOÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL


Para atender aos requisitos do Sistema de Gestão Ambiental (SGA), de
acordo com a ISO 14001, uma organização deve estabelecer, implementar e manter
procedimentos que identifiquem os aspectos ambientais de suas atividades,
produtos e serviços, a fim de determinar possíveis impactos significativos sobre o
meio ambiente. A identificação dos aspectos ambientais deve ser feita mediante um
processo contínuo que determine os impactos, positivos ou negativos, passados,
presentes e potenciais das atividades da organização sobre o meio ambiente. As
normas da série ISO 14000 serão abordadas com maior ênfase na Unidade 2 deste
caderno. Sendo assim, o estudo dos impactos ambientais faz parte do processo de
implantação e operação do SGA e das auditorias ambientais pertinentes.

É importante que você saiba que há diversos instrumentos de gestão


ambiental baseados em estudos de impacto, como a avaliação do ciclo de vida
(AVC), a avaliação de riscos, as auditorias ambientais, os rótulos ambientais, a
avaliação de desempenho ambiental, entre outros. Neste tópico, entenderemos
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) como o estudo prévio de impacto ambiental,
um instrumento de planejamento de ações futuras para empreendimentos com
elevado potencial de degradação ambiental.

FONTE: Disponível em: <http://www.shs.eesc.usp.br/attachments/059_8%20-%20Estudo%20


de%20Impacto%20Ambiental.pdf>. Acesso em 6 dez. 2012.

35
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

Antes de prosseguir, vamos a alguns esclarecimentos sobre a denominação


desse instrumento. Na França usa-se a expressão étude d’impact sur l’environnement,
para denominar o instrumento de gestão que será tratado a seguir. É comum
usar o termo avaliação de impacto, ao invés de estudo de impacto, por exemplo,
valutazione d’impatto ambientale na Itália e evaluación de impacto ambiental nos países
hispânicos. Nos países de língua inglesa é usada a expressão environmental impact
assessment, na qual a palavra assessment apresenta um significado mais amplo
que avaliação. Assessment origina-se do verbo latino assidere, que significa sentar
ao lado de alguém ou assistir alguém, e da raiz da palavra assesse, do francês
antigo, da qual derivam entre outras, as palavras assess, assessment e assessor.
No Brasil, a Lei nº 6.938, de 1981, que instituiu a política nacional do meio
ambiente, relaciona a avaliação de impacto ambiental entre os instrumentos de
política pública. A Constituição Federal de 1988 usa a expressão estudo prévio de
impacto ambiental. A avaliação de impacto é uma parte do estudo que procura
identificar os impactos e estimar suas consequências, além de identificar soluções
alternativas, desenvolver medidas para prevenir, controlar e compensar os
impactos inevitáveis (BARBIERI, 2007).

3 O CICLO DO PROJETO
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA), como já foi definido, é um
instrumento de gestão ambiental aplicável a projetos de empreendimentos e
atividades, para avaliar e identificar previamente os impactos e antecipar soluções
antes de implantá-los. Podemos denominar projeto o conjunto de informações
articuladas para auxiliar na tomada de decisões sobre investimentos ou as
atividades resultantes dessas decisões.

Os projetos são compostos de diversas fases ou ciclos de desenvolvimento,


que dependem do próprio objeto, da sua duração, da complexidade, dos
processos de decisão e de outras questões administrativas e operacionais. Uma
maneira de dividir as fases de um ciclo de projeto é de acordo com o Manual de
Preparação de Estudos de Viabilidade Industrial da UNIDO (Organização para o
Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas):

1. Fase de pré-investimento:
1.1 Identificação de oportunidades de investimento (ideias de projetos).
1.2 Estágio de seleção preliminar (estudo de pré-viabilidade).
1.3 Estágio de formulação do projeto (estudo de viabilidade técnico-econômica).
1.4 Estágio de decisão e avaliação (relatório de avaliação).

2. Fase de investimento:
2.1 Estágio de negociação e contratação.
2.2 Estágio de concepção do projeto.
2.3 Estágio de construção.
2.4 Estágio de colocação em marcha.

36
TÓPICO 3 | LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DA POLÍTICA AMBIENTAL

3. Fase operacional:

O projeto pode ser pensado como um ciclo de atividades desenvolvidas


durante um tempo determinado por equipes com diferentes habilidades e
atribuições específicas. Um projeto pode ser segmentado em grandes fases, como:
(1) concepção do projeto, quando se definem objetivos, se realizam os estudos de
viabilidade técnica e econômica, e se avaliam as alternativas; (2) detalhamento
da alternativa escolhida; (3) implementação dessa alternativa; (4) início das
operações em condições normais, quando se dá por concluído o projeto.

O EIA pode ser realizado em qualquer momento do ciclo de vida de um


projeto. Também pode ser feito após a implementação do projeto, porém, nesse
caso, as medidas decorrentes desse estudo ficam limitadas às decisões já tomadas e
executadas, de modo que a localização, a escolha dos equipamentos, a capacidade
de produção e outras questões pertinentes ao empreendimento são consideradas
fatos consumados. As ações para minimizar ou eliminar os impactos indesejáveis
podem levar tempo e exigir mais recursos.

Sempre haverá a necessidade de estudar os impactos ambientais, mesmo


quando a atividade já tiver um EIA em uma das fases do projeto, pois seus
componentes e seu entorno se alteram com o passar do tempo, equipamentos
envelhecem, matérias-primas e fornecedores são substituídos, enfim, qualquer
atividade ou empreendimento muda com o tempo, assim como o entorno. Da
mesma forma, os conhecimentos sobre os impactos e o meio ambiente também
se alteram ao longo do tempo, com o desenvolvimento científico e tecnológico.

Como você pode ver, o EIA associado a um projeto é um trabalho


complexo, constituído de várias fases, cada qual com diversas atividades
envolvendo recursos específicos e a participação de grupos de pessoas com
interesses diversos.

E
IMPORTANT

O EIA contribui para o aperfeiçoamento do projeto do ponto de vista


ambiental, à medida que permite realizar escolhas que eliminem ou minimizem as fontes
dos impactos ambientais antes da sua implementação. Para isso, o EIA deve levar em
conta as características do empreendimento e da sua área de influência para: identificar e
avaliar previamente os impactos sobre o meio ambiente físico, biológico e social; estudar
alternativas para os diferentes componentes do empreendimento ou atividade; desenvolver
medidas para monitorar as operações, caso o projeto seja implantado; e desenvolver planos
para compensar e mitigar os impactos ambientais adversos.

37
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

4 IMPACTO AMBIENTAL
O que é impacto ambiental?
Entende-se por qualquer mudança no ambiente natural e social
decorrente de uma atividade ou de um empreendimento.

FONTE: Adaptado de: <http://www.shs.eesc.usp.br/attachments/059_8%20-%20Estudo%20


de%20Impacto%20Ambiental.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2012.

Mesmo que essas mudanças possam ocorrer por causas naturais, as que
interessam aqui são as resultantes de ações humanas.

A palavra impacto refere-se às alterações no meio ambiente físico, biótico


e social decorrentes de atividades humanas, em andamento ou propostas. Por
isso, o impacto pode ser real ou potencial (quando a atividade for implementada
no futuro). Ainda, os impactos podem gerar efeitos positivos e negativos.

A Resolução no 1, de 1986, do CONAMA, que estabeleceu os critérios


básicos e as diretrizes para uso e implementação do EIA, considera como impacto
ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do
meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que afetam direta ou indiretamente: a saúde, a segurança e o
bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota, as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente; e a qualidade dos recursos ambientais.

Segundo essa definição, apenas os impactos negativos são considerados.


Impacto ambiental está definido na norma ISO 14001 como qualquer modificação do
meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos
ambientais da organização. Já quanto ao meio ambiente, essa norma apresenta um
conceito restrito: o entorno em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo,
recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas interações.

Mas, como já foi comentado aqui, as questões ambientais não se restringem


apenas a um local e sua área de entorno, pois estas podem adquirir uma dimensão
regional ou até mesmo planetária. A definição da Lei nº 6.938/1981, sobre o meio
ambiente, considera apenas o conjunto de condições, leis, influências e interações
de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas. Porém, a esse conjunto de condições, leis e interações devem ser
incluídas também as de ordem socioeconômica.

38
TÓPICO 3 | LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DA POLÍTICA AMBIENTAL

5 LICENCIAMENTO AMBIENTAL
Pode-se entender como impacto ambiental o resultado da intervenção
negativa do homem sobre o ambiente natural, que de certa forma se assemelha
ao conceito de poluição, que é a degradação de qualquer tipologia, tanto das
condições ambientais como do próprio habitat ou ambiente. Não existe atividade
humana que não cause algum tipo de dano ao meio ambiente, no entanto, esses
podem e devem ser identificados para que alguma medida possa ser tomada.
Existem vários mecanismos para que de alguma forma se possa minimizar,
eliminar ou até mesmo compensar os impactos gerados.

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é um dos instrumentos mais


importantes da Política Nacional de Meio Ambiente, e é exigido para a instalação
de obra ou atividade com potencial poluidor, como pode ser conferido na Lei nº
6.938/81, art. 9º. O EIA é uma imposição constitucional, assegurado no art. 225 que
versa que, para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público
exigir na forma da lei, para a instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação ambiental, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade.

A Resolução do CONAMA 001/86 estabeleceu diretrizes gerais para o uso


e a implementação da avaliação de impacto ambiental, estabelecendo o conceito
de impacto como sendo qualquer alteração das propriedades físicas, químicas
e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente possam
afetar a saúde e a segurança da população, atividades sociais ou econômicas,
condições estéticas e sanitárias do ambiente natural e a qualidade dos recursos
ambientais. Desta forma, o EIA é caracterizado por estudos de alta complexidade
que permitam avaliar essas alterações, e posteriormente é dada a devida
publicidade deste documento através de um relatório, o Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA), que está em linguagem mais acessível, disponível inclusive
para audiências públicas abertas à população. Vale destacar que a população
que esteja inserida no entorno da obra deverá ser consultada sobre os possíveis
efeitos para a área de abrangência direta do empreendimento. Inúmeros são os
tipos de empreendimentos e atividades em que se observa a obrigatoriedade do
licenciamento ambiental, mas não cabe aqui fazermos uma listagem desses tipos
de atividades e, sim, falar sobre o que são e como funcionam os instrumentos de
mitigação dos impactos ambientais causados por essas atividades.

De acordo com Araújo e Vervuurt (2005), o Licenciamento Ambiental


apresenta-se como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei nº 6.938/81), e é regulamentado pela Resolução nº 237, de 1997, do CONAMA,
em sua versão mais recente. É um instrumento de caráter preventivo de tutela
do meio ambiente. Trata-se de um conjunto de atos administrativos encadeados,
o que lhe atribui a condição de procedimento administrativo, que tramita
perante o órgão público estadual ou, supletivamente, perante o órgão público
federal. Assim, o poder público, verificando o atendimento das exigências legais

39
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

pelo interessado, empreendedor, faculta-lhe o desempenho das atividades.


Ao contrário do licenciamento tradicional, marcado pela sua simplicidade, o
licenciamento ambiental é ato uno, de caráter complexo, em cujas etapas intervêm
vários agentes, e que deverá ser precedido de estudos técnicos que subsidiem sua
análise (MILARÉ, 2004).

DICAS

O ato de Licenciamento Ambiental é "ato uno”, ou seja, de caráter complexo, em


cujas etapas intervêm vários agentes, e que deverá ser precedido de EIA/RIMA, sempre que
constatada a significância do impacto ambiental.

FONTE: Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/2523/licenciamento-ambiental>.


Acesso em: 6 dez. 2012.

Através deste procedimento administrativo, o órgão ambiental


competente irá licenciar a localização, a instalação, a ampliação e a operação de
empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas
efetiva ou potencialmente poluidoras. Poderão ainda entrar no processo de
licenciamento aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação
ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas
técnicas aplicáveis ao caso (inciso I do art. 1º da Resolução nº 237/97).

6 DIFERENÇA ENTRE UMA LICENÇA E O PROCESSO


DE LICENCIAMENTO
As licenças ambientais são atos administrativos de controle preventivo das
atividades potencialmente poluidoras. Desta forma, a licença resulta de um direito
subjetivo do interessado, razão pela qual o órgão responsável pelo licenciamento
não pode negá-la quando o requerente satisfaz todos os requisitos legais para a sua
obtenção, e uma vez expedida, traz a presunção de definitividade.

FONTE: Disponível em: <http://www.jornaldaciencia.org.br/imprimir.jsp?id=27057>.


Acesso em: 6 dez. 2012.

Antes de qualquer explanação, é necessário alertar que o licenciamento


ambiental é um procedimento administrativo e a licença ambiental é uma das
suas fases.

Aqui é necessário entender que empreendimentos ou atividades


que de alguma forma atinjam mais do que um estado da federação estão sob

40
TÓPICO 3 | LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DA POLÍTICA AMBIENTAL

a responsabilidade do IBAMA (esfera federal), enquanto que aqueles com


atividades dentro de um estado ou município ficam sob a responsabilidade
dos órgãos estaduais. Recentemente, o Ministério do Meio Ambiente emitiu o
Parecer número 312, que discorre sobre a competência estadual e federal para o
licenciamento, tendo como fundamento a abrangência do impacto.

As principais diretrizes para a execução do licenciamento ambiental estão


expressas na Lei nº 6.938/81 e nas Resoluções do CONAMA 001/86 e 237/97.
Como dito acima, o licenciamento ambiental e sua revisão é um instrumento,
um procedimento administrativo complexo, que tramita perante o órgão público.
A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos
e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento por órgão estadual,
competente, integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, e do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA,
em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis. Portanto, o
licenciamento ambiental não é um ato administrativo único, nem um ato simples,
correspondendo a uma sucessão de atos administrativos, atribuindo-lhe, ao final,
a condição de procedimento (BARBIERI, 2007), o que o diferencia da licença
propriamente dita.

Quanto ao procedimento de licenciamento em nível federal, este é feito


exclusivamente via sistema on-line. Para tal, é necessário acessar o site do IBAMA
(www.ibama.gov.br) e selecionar o link Serviços on-line > Cadastro. Somente
após o cadastramento no CTF (Conselho Técnico Federal) do interessado é que
será possível realizar a abertura do procedimento. É importante ressaltar que é
preciso ler atentamente o Manual do Sistema, que pode ser acessado pelo seguinte
caminho: Serviços on-line > Licenciamento Ambiental Federal (ícone Manual do
Sistema).

O processo de licenciamento inicia após o preenchimento do formulário


de Abertura do Processo – FAP, onde constarão as informações sobre a atividade
a ser licenciada. Após a abertura, o acompanhamento do processo e todas as
demais etapas poderão ser acessadas e editadas pelo responsável através de
consulta ao sistema utilizando a sua senha. Maiores informações podem ser
obtidas no próprio site do IBAMA.

ATENCAO

O preenchimento da FAP é obrigatório a todos os interessados em realizar


atividades que necessitem de licença ambiental (www.ibama.gov.br).

41
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

Independente do nível do licenciamento (federal ou estadual), o


procedimento deverá cumprir as seguintes etapas:

 Definição pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, com a


participação do empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais,
necessários para o início do processo de licenciamento.
 Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos
documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida
publicidade.
 Análise do órgão ambiental dos documentos requisitados e, quando necessário,
realizar visitas técnicas.
 Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental, uma
única vez, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação
caso os esclarecimentos e complementação não tenham sido satisfatórios.
 Emissão de parecer técnico conclusivo, e, se necessário, de parecer jurídico.
 Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando a devida
publicidade.

Dependendo do porte do empreendimento, procedimentos mais


simplificados podem ser conduzidos, tais como relatório ambiental, plano e projeto
de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano
de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco,
mas de forma semelhante a um EIA/RIMA completo (Resolução CONAMA 237/97).

Concluindo, o licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia à


instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora
e possui como uma de suas mais expressivas características a participação social
na tomada de decisão, através de audiências públicas.

FONTE: Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/licenciamento/>. Acesso em: 6 dez. 2012

7 TIPOS DE LICENÇAS AMBIENTAIS E PROCESSO


DE AUTORIZAÇÃO
A licença ambiental pode ser definida pela Resolução 237/07 do
CONAMA como sendo um ato administrativo pelo qual o órgão ambiental
competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental
que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para
localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras
dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras.
Na via administrativa, a licença é um ato que pode ser negociado, vinculado e
definitivo. Administrativamente falando, é um ato unilateral vinculado, ou seja,
de interesse particular, pelo qual a administração ou órgão responsável faculta a
alguém o exercício de uma atividade material. Entende-se por licença vinculada,
pois é praticada sem liberdade subjetiva, ou seja, o agente administrativo não

42
TÓPICO 3 | LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DA POLÍTICA AMBIENTAL

possui conveniência e oportunidade quando de sua elaboração, devendo seguir


fielmente a legislação. Pode-se considerar uma licença definitiva, quando, uma
vez concedidos os direitos requisitados, estes não podem ser revogados, salvo
expressa disposição legal.

E
IMPORTANT

Vale destacar ainda uma lei complementar aos atos administrativos de


proteção aos recursos naturais. É a Lei Complementar no 140/2011. Esta lei fixa normas
para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações
administrativas decorrentes do exercício da competência comum, relativas à proteção das
paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em
qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora. Assim, considera-
se para fins desta lei que o processo de licenciamento ambiental seja um procedimento
administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos
ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, como já visto. Ainda, que exista uma atuação supletiva de ação do
ente da Federação (Estados e Municípios) que se substitui ao ente federativo, originariamente
detentor das atribuições nas hipóteses definidas nesta lei complementar, ou uma atuação
subsidiária, que significa ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho das
atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo.
Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, no exercício da competência comum a que se refere esta Lei Complementar,
proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo
gestão descentralizada, democrática e eficiente, garantir o equilíbrio do desenvolvimento
socioeconômico com a proteção do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa
humana e a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais.
Ainda, harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação
entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação
administrativa eficiente, para propiciar à uniformidade da política ambiental para todo o país,
respeitadas as peculiaridades regionais e locais.

Já na esfera ambiental, a licença equivale ao que na esfera administrativa


é uma autorização, pois é um ato administrativo discricionário. Discricionário,
porque o agente atua com liberdade de opção, embora dentro dos limites da lei.
A discricionariedade, contudo, só diz respeito à conveniência e à oportunidade.
Assim, quando o licenciamento ambiental é realizado, se a obra for capaz de causar
significativa degradação ambiental, será necessária a realização de um Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) e de um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Mesmo
sendo ele negativo, ou seja, desaconselhando a realização da obra em razão dos danos
ambientais causados, a licença ambiental, discricionariamente pode ser concedida se
o órgão ambiental entender que o benefício social da obra é maior do que o dano
ambiental por ela causado. Cumpre ressaltar, contudo, uma exceção: a licença será
vinculada, quando o EIA-RIMA for favorável, pois esse fato condiciona a autoridade
a conceder a licença ambiental diante do direito do empreendedor de desenvolver
sua atividade econômica. Dessa forma, a licença administrativa difere da licença
ambiental, por vários motivos, como, por exemplo:

43
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

 A licença administrativa é um ato vinculado, enquanto a licença ambiental


normalmente é um ato discricionário.
 A licença ambiental é obtida através do processo de licenciamento feito em três
etapas, sendo a Licença Prévia, a Licença de Instalação e a Licença de Operação.
 A licença ambiental possui um prazo de validade e está condicionada ao
cumprimento das obrigações nela impostas.

8 TIPOS DE LICENÇAS AMBIENTAIS


Do ponto de vista normativo (Decreto nº 88.351/83), as licenças podem
ser: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação
(LO). Vale lembrar que as licenças ambientais poderão ser expedidas isoladas
ou sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do
empreendimento ou atividade.

Para atender à natureza, características e peculiaridades da atividade ou


empreendimento e, ainda, a compatibilização do processo de licenciamento com
as etapas de planejamento, implantação e operação, o CONAMA pode definir,
quando necessário, licenças ambientais específicas. Como dito, são três os tipos
de licenças ambientais:

 A  Licença Prévia (LP), que se  destina à aprovação do projeto, envolvendo a


localização e viabilidade e tem prazo máximo de cinco anos. Por exemplo, um
grupo de empresários tem a intenção de viabilizar uma PCH (Pequena Central
Hidrelétrica) em uma determinada região. Assim, essas pessoas precisam, antes
de qualquer coisa, apresentar o projeto da obra, os impactos que serão causados,
a localização do empreendimento, aspectos socioeconômicos, levantamento de
fauna e flora, características meteorológicas e mais uma série de itens, todos
presentes no EIA/RIMA, indispensáveis para a liberação da obra.
 A  Licença de Instalação (LI), que autoriza a instalação do empreendimento
e eventuais edificações, nos termos do projeto previamente aprovado, tem
duração máxima de seis anos. Partindo do mesmo exemplo hipotético citado
anteriormente, para a PCH, com o EIA/RIMA aprovado, os mesmos podem
então iniciar a construção do empreendimento.
 A  Licença de Operação (LO), que  é a última a ser concedida, desde que as
condições estabelecidas nas licenças anteriores tenham sido cumpridas. Esta
licença tem prazo mínimo de quatro anos e máximo de dez anos. Ainda para
o exemplo da PCH, a partir desta licença, a obra ou empreendimento passa a
funcionar. Vale destacar aqui que muitas das ações compensatórias propostas
para diminuição dos impactos causados passam a ser cumpridas. Um exemplo
poderia ser dado através de um programa de reflorestamento das áreas que
foram desmatadas em função das obras, ou mesmo um programa de educação
ambiental para a comunidade do entorno da construção.

44
TÓPICO 3 | LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DA POLÍTICA AMBIENTAL

Para a LP é necessário apresentar um formulário ou requerimento padrão,


que pode ser retirado no órgão ambiental responsável pelo licenciamento,
devidamente preenchido pelo empreendedor, anexado ao EIA/RIMA e a uma cópia
da publicação do requerimento de LP no Diário Oficial da União (DOU) ou Diário
Oficial do Estado (DOE) e em jornal de grande circulação; o recolhimento da taxa
fixada pelo órgão de meio ambiente responsável; o relatório técnico de vistoria ao
local do empreendimento; a ata de audiência pública realizada na comunidade; o
parecer técnico do órgão ambiental sobre o pedido de LP; e o modelo padrão de
concessão da LP. Já para a LI, o empreendedor deve apresentar o requerimento
padrão preenchido; outros tipos de projetos ambientais, como projetos de
engenharia ambiental, planos de recuperação de área degradada, planos de
monitoramento ambiental, entre outros; cópia da publicação da concessão da LP
em jornal de grande circulação; cópia da publicação do requerimento da LI no
DOU ou DOE; recolhimento de taxa estipulada pelo órgão ambiental e parecer
técnico para a concessão da LI; e modelo padrão de concessão de licença de
instalação. Para a obtenção da LO, documentos semelhantes são exigidos. O que
difere é a apresentação de um Estudo Ambiental contendo projetos executivos de
minimização de impacto ambiental.

Esses estudos deverão ser elaborados por profissionais legalmente


habilitados, pagos pelo empreendedor. Lembrando que, tanto os profissionais
que os realizam quanto os empreendedores que os apresentam, são responsáveis
pelas informações apresentadas, sob as penas da Lei nº 9.605/98. Havendo violação
ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais, omissão ou falsa
descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição da licença ou,
ainda, a superveniência de graves riscos ambientais e de saúde, as condicionantes
podem ser modificadas, no sentido de corrigi-las de modo a minimizar os riscos
de danos ambientais, não provocando a nulidade do ato. As condicionantes ainda
podem ser suspensas, quando a licença fica com a validade suspensa até que a
obra ou atividade se adéque aos requerimentos ambientais exigidos.

As licenças devem ser analisadas pelo órgão ambiental no prazo máximo


de seis meses a contar do ato de protocolar o requerimento, até seu deferimento
ou indeferimento. Nos casos em que seja necessária a realização do EIA/RIMA
ou de audiência pública, o prazo será de até 12 meses. O não cumprimento
desses prazos sujeitará o licenciamento à ação do órgão que detenha competência
para atuar supletivamente. Caso haja algum incidente, como a necessidade de
realização de esclarecimentos, realização de EIA/RIMA, audiência pública ou
estudos complementares, o prazo é suspenso. Caso o órgão ambiental requeira
ao empreendedor esclarecimentos, estes devem ser prestados no prazo de
quatro meses, a contar do recebimento da respectiva notificação, sob pena de
arquivamento do pedido de licença. Todos esses prazos poderão ser prorrogados,
desde que justificado e com a concordância do empreendedor e do órgão
ambiental competente. Em observância aos Princípios Ambientais da Informação
e da Participação Popular, nosso ordenamento jurídico exige a publicidade dos
atos ambientais, sob pena de ser anulado administrativa ou judicialmente.

45
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

LEITURA COMPLEMENTAR

LICENÇA AMBIENTAL DE BELO MONTE

Hugo Penteado

Sobre o caso da usina Belo Monte, tanto Roberto Smeraldi (entrevista ao


Valor Econômico no dia 28/04/2010) quanto Rogério Cezar de Cerqueira Leite
(artigo para Folha de São Paulo no dia 19/05/2010) estão certos e errados ao
mesmo tempo. Certo Smeraldi, porque os problemas ambientais tocados por ele,
se realmente necessário for construir a usina, precisam fazer parte da equação,
sim. Certo Leite, quando ataca os ambientalistas verdolengos, porque seu extremo
é igual a seu oposto: não há diferença alguma entre ambientemaníacos (que não
enxergam o econômico ou as pessoas) dos economaníacos (que não enxergam o
meio ambiente nem as pessoas). É muito difícil discutir com ambientemaníacos
que vivem de luz – podem brigar com os ruralistas com poder de persuasão
enorme, pois não comem nenhum alimento que vem da terra – e que não possuem
nenhuma posse – vivem como São Francisco de Assis. Os extremos são idênticos
e estranhamente nenhum dos dois enxerga as pessoas, é como se a humanidade
não existisse.

É possível buscar equilíbrio nesse debate se juntarmos os argumentos de


Smeraldi e Leite (note que o mesmo vale para o tema Código Florestal trazido à
tona pelo projeto do deputado Aldo Rebelo).  Esse equilíbrio poderia levar aos
problemas centrais relacionados com a construção da usina Belo Monte. O primeiro
deles é que a economia não pode ser maior que o planeta e que uma demanda
crescente de energia é impossível de ser atendida, como muitas outras coisas. 
Por mais que os economistas - e nosso sistema - ignorem, há sim claros limites
físicos, planetários, ecológicos e acima de tudo sociais para manter o crescimento.
Aí começa toda uma sucessão de mitos que só estão acelerando ainda mais a rota
ao precipício.  O mito da energia limpa, dos empregos verdes, da economia do
baixo carbono veio em nosso socorro só para mostrar que os problemas centrais
seguem teimosamente ignorados. Não podemos ter uma demanda infinita de
energia, porque produzimos energia para construir carros, casas, construções,
movimentar  instrumentos e equipamentos  sobre  ecossistemas, cada vez mais
pressionados e dilapidados.  Temos na verdade um problema de matéria e de
energia e, de acordo com os físicos, o ser humano não produz nenhum dos dois
e, para ter mais matéria e mais energia, é preciso fazer uso de mais matéria e
de mais energia (referência encontrada em Nicholas Georgescu-Roegen (1). Uma
parte importante da matéria de que fazemos uso é o solo finito sobre o qual
tudo se instala, e a água, finita e viva, produzida por todos os seres vivos e seus
ecossistemas. Para se ter uma ideia, se todas as plantas e animais sumissem de uma
hora para outra da Terra, a água, que sequer pode ser estocada, sumiria junto. O
segundo ponto central é ser absolutamente desnecessário produção adicional de
energia nesse país, face a falta de atualização tecnológica da estrutura já existente,
o desperdício estonteante em quase todas as áreas de consumo (vale para água

46
TÓPICO 1 | ASPECTOS BÁSICOS DO LICENCIAMENTO E DO DIREITO AMBIENTAL

e outros materiais, nossa regra é o desperdício e descarte). Portanto, ao invés de


simplesmente dizer não à Belo Monte, é necessário mostrar alternativas, porque
o Brasil e nenhum país irá viver sem energia. Esses dois fatores: 1) há como
obter oferta de energia adicional com ganho de eficiência e mudança de hábitos
suficientes para se evitar umas 10 Belo Montes e 2) não há como manter um
sistema que demanda produção de energia crescente – precisam ser endereçados
antes que seja tarde demais.  Nas cidades do Brasil, no tráfego de automóveis,
cuja eficiência de energia é baixíssima, bastaria uma mudança no sistema de
transportes para economizar muitas e muitas Belo Montes. Nas construções idem.
Nas usinas existentes com turbinas antiquadas idem. Nas linhas de transmissão
desatualizadas idem. Por que a regra é sempre construir mais, mesmo quando é
claramente uma ineficiência e um desperdício que, uma vez cortados, poderiam
evitar maior impacto ambiental? O que define um veneno não é a sua substância,
mas a quantidade. Nós, seres humanos, não iremos viver de luz, sem posses ou
sem regalias ou prazeres, mas não podemos ignorar a viabilidade e a distribuição
das nossas demandas no presente e no futuro, que devem estar sempre de acordo
com as regras do planeta. Há uma passagem bíblica na qual Deus pergunta a Jó:
"Porventura foste tu que deste lei à luz da manhã?" Resposta sonora de toda a
comunidade científica: "Não". A usina de Belo Monte, nesse modelo de crescimento
eterno, seria a primeira de uma série interminável para atender à expansão
energética ad eternum de um modelo megalomaníaco que colocou a humanidade
à beira da sua própria extinção. Os economistas tradicionais acreditam piamente
que seu sistema econômico imaginário é totalmente descolado do meio ambiente
ou do planeta que o acolhe. Esses magnânimos intelectuais  não sabem e nem se
preocupam com quanto de água é preciso para atender um crescimento de 5 a 10%
do PIB.  Não há uma só variável nos seus modelos econômicos que contabilize
a contribuição importantíssima dos serviços irreproduzíveis da natureza, sem
os quais não teríamos nada. Herman Daly, seguidor de Roegen, que foi chefe
do Departamento do Meio Ambiente do Banco Mundial décadas atrás, sugeriu
aos ativistas de ONGs como o Greenpeace, atacar esse pensamento em todos os
fóruns nos quais esse debate é feito monotonicamente, como se nada de mais
interessante estivesse acontecendo com o globo terrestre, exceto crescimento
econômico, expansão de consumo, vendas e lucros.  Com isso evitaríamos a
fábula do rinoceronte de Monteiro Lobato: "Numa determinada cidade um
rinoceronte fugiu do zoológico e imediatamente foi criado um órgão para sua
recaptura; a única finalidade desse órgão era jamais achar o bicho, para continuar
existindo."  Nós precisamos capturar o rinoceronte e a única forma é atacar as
causas dos problemas sistêmicos atuais. Uma causa bem clara é o crescimento
econômico  nesse modelo de consumo  e produção  que jamais será possível de
ser disseminado para toda a população terrestre, sem antes gerar guerras e
hecatombes ambientais colossais e, no limite, a extinção da vida. Outra causa
importante é o próprio crescimento populacional ininterrupto, associado com
um explosivo materialismo humano, ou seja, é a combinação de mais pessoas
inconscientes e sempre insatisfeitas com seu nível de materialismo, que pressiona
e leva à ruína a capacidade da Terra sustentar a vida. Esse é um destino duro
que se vislumbra agora, se não mudarmos radicalmente esse modelo. Nada até
agora indica que mudará. Portanto, antes de falarmos sim ou não à Usina Belo

47
UNIDADE 1 | POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA E

Monte ou de levantar uma oposição ferrenha contra qualquer um dos lados dessa
questão, precisamos rever nossa posição: somos uma espécie animal vulnerável
e dependente dos serviços finitos da Terra e de todos os demais seres vivos (sem
a Amazônia todos nós estaríamos mortos, por exemplo); a pressão  da nossa
espécie desde há muito se tornou ameaçadora demais e pode revogar as bases
de sustentação da vida, sem tempo hábil para ser reconstituída  no ciclo atual
da vida  que conhecemos; já provocamos a maior extinção global da vida dos
últimos 65 milhões de anos e é muita ingenuidade achar que essa extinção não
irá se voltar contra os causadores; a causa dos problemas planetários globais e
locais é nosso modelo econômico e as decisões práticas derivadas dele; não existe
até agora nenhum exemplo relevante de economia ou sistema sustentável, com
o abandono da rota de colisão contra a Terra e da nossa mania de crescimento
quantitativo em detrimento de desenvolvimento qualitativo ou, ao menos, melhor
mensurado; o crescimento econômico não é nem salvação ecológica nem social,
na verdade é a razão das mazelas ambientais e é hoje um poderoso mecanismo
de diferenciação social que cristaliza a distância entre as classes sociais do mundo
todo; não existe tecnologia atualmente que possa limpar a sujeira a ponto de
substituir a necessidade urgente de reduzir globalmente nosso consumo, escala
e desperdício, além do nosso descarte imediato de bens, que transformou a Terra
numa lixeira e foco de contaminação; qualquer tecnologia que exista só pode ser
usada com a finalidade de redução, do contrário, insere-se na mesma filosofia
de "solucionar problemas que antes deveriam ser evitados" (um exemplo são os
mirabolantes esquemas de captura de carbono, cuja tragédia atmosférica possa até
torná-los necessários, mas que em nenhum momento eliminariam a necessidade
do sistema econômico parar de injetar carbono e metano na atmosfera).

O fim do paradigma econômico atual vai ocorrer. O que virá depois


depende da análise que fizermos de problemas que sempre existiram, mas que
por uma aceleração histórica e ênfase no comércio global, tornaram-se grandes
o suficiente para forçar um resultado totalmente diferente do previsto e muito
indesejável, sob qualquer prisma analisado.

FONTE: Disponível em: <http://www.oeco.com.br/es/podcast/25092-a-licenca-ambiental-de-


belo-monte>. Avesso em: 27 fev. 2012.

48
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você viu:

• A Avaliação de Impacto Ambiental (AVA) começa antes mesmo do projeto


de instalação de um empreendimento, e está inserida naquilo que chamamos
de Sistema de Gestão Ambiental (SGA), que é responsável pela melhora da
eficácia ambiental de uma empresa.

• As diferentes fases de um projeto de AVA, documentação pertinente e


estruturação de uma equipe multidisciplinar, com formação variada.

• A definição de impacto ambiental, suas consequências e que de certa forma se


assemelha com o conceito de poluição ambiental.

• Aspectos gerais do processo de licenciamento ambiental, que diferem dos tipos


de licenças expedidas para cada etapa do projeto de instalação de uma empresa
com potencial degradador dos recursos naturais.

49
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões a seguir.

1 Vamos pensar um pouco? Imagine que você é gestor ambiental, diretor


de uma grande empresa de consultoria ambiental e é contratado para
licenciar dois empreendimentos que necessitam passar pelo processo de
licenciamento ambiental. Ambas são barragens para geração de energia,
no entanto, uma delas está localizada no sul do país, cercada pela Mata
Atlântica, e a outra, no norte, em meio à Floresta Amazônica. Assim, reflita
sobre diversos aspectos que devem ser contemplados para que as licenças
ambientais sejam fornecidas aos empreendedores dentro do que preconiza
a lei. Lembre-se de que você deve destacar as peculiaridades de cada região,
a utilização de profissionais com formação interdisciplinar, os documentos
a serem preenchidos nos órgãos ambientais pertinentes, o debate com a
população local de onde serão instalados os empreendimentos, os riscos
ambientais, os benefícios, enfim, tudo aquilo pertinente ao que vimos até
agora. Por fim, deve-se chegar à conclusão de um parecer favorável ou não
à instalação das usinas, e fundamentar o mesmo.

50
UNIDADE 2

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS
AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO
DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• identificar os principais problemas associados à exploração dos recursos


naturais frente aos modelos econômicos tradicionais;
• capacitar-se para o desenvolvimento de políticas que visem à valoração dos
recursos naturais de acordo com as perspectivas dos modelos econômicos
atuais;
• compreender as definições básicas dos processos de avaliação e gestão dos
recursos naturais;
• incorporar a visão de gestor no desenvolvimento de atividades dentro de
um sistema ecológico ou ambiental;
• conhecer os principais Sistemas de Gestão Ambiental (SGA), o seu
funcionamento dentro do ambiente corporativo e a sua aplicação dentro
da avaliação de impacto ambiental;
• desenvolver planos de políticas ambientais dentro de empresas
implementando os seus respectivos SGA;
• apreciar os processos de implementação de um Sistema de Gerenciamento
Ambiental;
• inteirar-se sobre os procedimentos para certificação ambiental através das
normas técnicas promovidas pelas normas ISO 14000 da ABNT;
• habilitar-se para desenvolver planos e estratégias para que o
empreendimento gerenciado adquira maior credibilidade social através
da implantação dos respectivos SGA e das certificações.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará atividades que o auxiliarão na apropriação dos conhecimentos.

TÓPICO 1 – ORIGENS DA ECONOMIA AMBIENTAL

TÓPICO 2 – AVALIAÇÃO, GESTÃO E O MEIO AMBIENTE:


CONCEITOS E SISTEMAS

TÓPICO 3 – CONCEITO E FUNCIONAMENTO DE UM


SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL

TÓPICO 4 – GERENCIAMENTO AMBIENTAL

51
52
UNIDADE 2
TÓPICO 1

ORIGENS DA ECONOMIA AMBIENTAL

1 INTRODUÇÃO
Atualmente, uma das maneiras mais eficientes de valorizarmos os recursos
naturais é lidarmos com a degradação ambiental em termos econômicos. Quanto
custa a extinção de uma espécie ou o esgotamento de um recurso natural? Temos
que estimar isso monetariamente. Cada vez mais essa estratégia vem sendo
empregada no manejo dos ecossistemas naturais e é de grande importância. Se
relembrarmos o que vimos na unidade anterior, principalmente em relação à
minimização de desperdícios, à diminuição de resíduos e aos impactos ambientais
gerados, podemos perceber que só a partir do momento em que as empresas
começarem a pagar, e caro, por isso, é que realmente se adequarão. Talvez não
por vontade própria, mas, sim, pelo custo.

A seguir veremos alguns aspectos em relação ao desenvolvimento econômico


da humanidade e como ele influenciou a exploração dos recursos naturais.

2 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
O desenvolvimento econômico é o enriquecimento dos países, através
da produção nacional, da acumulação de capitais e da remuneração recebida
pelos que participam da atividade econômica. Começou com o aparecimento do
capitalismo e com a Revolução Industrial.

UNI

Para lembrá-lo: a Revolução Industrial ocorreu pela substituição das ferramentas


pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico
pelo sistema fabril, em função do impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de
transformação acompanhado por notável evolução tecnológica. Aconteceu na Inglaterra,
na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo
(CULTURA BRASILEIRA, 2012).

53
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

A produção de alimentos, resultante do desenvolvimento da agricultura e


da Revolução Industrial, proporcionou um ímpeto para o crescimento da população
humana, principalmente pelas melhorias na saúde pública, na medicina e no
bem-estar material (RICKLEFS, 2003). Com tais avanços tecnológicos ao longo do
tempo, parece que esquecemos que a nossa dependência da natureza continua.
Os sistemas econômicos de toda e qualquer ideologia política valorizam as coisas
feitas por seres humanos que tragam benefício primariamente para o indivíduo,
mas dão pouco valor aos produtos da natureza. Muitos de nós chegaram a pensar
que tais recursos não se esgotam e são substituíveis por inovações tecnológicas,
porém é mais do que comprovado que tal ideia não é verdadeira. A prova disso
é que os países mais desenvolvidos industrialmente, que cresceram através da
exploração de combustíveis fósseis, não renováveis, hoje sofrem na busca de
alternativas econômicas sustentáveis para manter o crescimento (ODUM, 1988).

Os ecossistemas naturais são ambientes frágeis e, muitas vezes, pouco


compreendidos. Dessa forma, não podemos admitir que a exploração dos
recursos ocorra de maneira descontrolada. A partir de agora, veremos o quanto
os ambientes naturais podem estar vulneráveis à ação do homem.

3 VULNERABILIDADE AMBIENTAL
As relações entre os vários componentes do ecossistema e os aspectos
econômicos, sociais e culturais, vêm provocando algumas questões técnicas ou
políticas estratégicas para a conservação da natureza. Com a transformação de
áreas naturais em áreas agrícolas, o ambiente tem se tornado instável, resultando
no empobrecimento biológico, diminuição da diversidade e incremento de
espécies indesejáveis. Quando observamos uma área de pastagem de gado, por
exemplo, nos deparamos com uma paisagem antrópica, onde os fragmentos de
vegetação natural encontram-se espalhados e reduzidos (ARAÚJO, 2007).

Os sistemas naturais, devido à sua estrutura e complexidade, são


ambientes altamente vulneráveis, não podendo sustentar os níveis de exploração
atual e contrastando com a meta humana de produção máxima. O reconhecimento
da base ecológica deste conflito entre seres humanos e a natureza é o primeiro
passo no desenvolvimento de políticas racionais de gerenciamento do ambiente
(ACSELRAD, 2009).

Assim, Odum (1988) destaca que o ambiente produtivo humano se


compõe de:

• Ecossistemas de início de sucessão, ou seja, em crescimento, tais como terras


agrícolas, pastagens, plantações de árvores e florestas intensamente manejadas,
que fornecem alimentos e fibras.

54
TÓPICO 1 | ORIGENS DA ECONOMIA AMBIENTAL

• Ecossistemas maduros, tais como florestas mais antigas, campos naturais


e oceanos, sendo mais protetores do que produtivos. Eles estabilizam os
substratos, tamponam os ciclos de ar e água e moderam os extremos da
temperatura e de outros fatores físicos, ao mesmo tempo em que fornecem
produtos para o homem.
• Sistemas aquáticos são outro tipo de ecossistema natural que suporta o impacto
da assimilação dos vastos resíduos produzidos pelo sistema urbano-industrial e
agrícola, e se encontram em estágios de recuperação intermediários, eutrofizados.

UNI

Para você não ter dúvidas:

Você sabe o que é eutrofização? A eutrofização é o aumento da concentração de nutrientes


(nitratos e fosfatos) em um ambiente aquático devido aos despejos industriais. Como
consequência disso há o aumento de algas que necessitam desses nutrientes que, por sua
vez, ao morrerem, provocam a deterioração da qualidade de água, justamente por aumentar
o processo de decomposição no ambiente.

E o que podemos entender por estágios sucessionais? Podem ser definidos como um
processo gradual em que as comunidades vão se alterando, devido às mudanças no
ambiente, até se estabelecer um equilíbrio dinâmico. As fases distintas da sucessão ecológica
são: comunidade pioneira, comunidade intermediária e comunidade clímax.

FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/biologia/sucessao-ecologica/>.


Acesso em: 15 jul. 2012.

A divisão da paisagem em três componentes ambientais – o natural, o


domesticado e o fabricado – é outra maneira conveniente de se considerar as
necessidades e inter-relações entre essas partes importantes da nossa “casa”.

Embora o ambiente urbanizado esteja inserido no ambiente natural, por


dele obter as suas necessidades biológicas básicas, ele cria e exporta outros recursos,
principalmente não bióticos, tais como, fertilizantes, dinheiro, energia processada
e bens, que tanto beneficiam como estressam o ambiente de manutenção da vida.
Uma das principais metas da humanidade, de agora em diante, é aumentar o
subsídio e reduzir o estresse causado pela perda de recursos naturais.

Assim surge a economia ambiental ou ecológica, que prevê a valoração


dos impactos causados ao meio ambiente, como, por exemplo, a sobre-exploração
dos recursos naturais. É o que veremos em maiores detalhes a seguir.

55
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

4 ECONOMIA AMBIENTAL
A economia moderna tem a sua origem no trabalho de Adam Smith, no
século XVIII. Smith estava preocupado em determinar como as ações de cada
indivíduo, movidas unicamente pelo próprio interesse, podiam levar ao bem
comum. Mas foi no século XIX, com os trabalhos de Thomas Malthus e David
Ricardo, dois economistas muito influentes, que houve uma clara união conceitual
entre ecologia e economia.

De acordo com Malthus (apud DOMINGOS, 2004), o crescimento


populacional seria geométrico (exponencial), enquanto o aumento dos recursos
seria aritmético. Isto indicava que a população ultrapassaria os recursos
disponíveis, levando à fome, à crise social e à economia generalizada. No entanto,
é interessante notar que somente parte dessa teoria se concretizou. A população
chegou a níveis alarmantes. No entanto, em relação à falta de alimentos, sabe-se
hoje que não é a sua escassez, e sim a distribuição irregular da comida que faz
com que haja tantos famintos atualmente em nosso planeta.

Já o cientista Ricardo (apud DOMINGOS, 2004) se preocupou com o


esgotamento dos recursos da Terra. Segundo ele, a necessidade do aumento da
produção agrícola levaria à utilização de áreas cada vez maiores. No entanto, as
áreas sucessivamente utilizadas para a produção agrícola resultariam em menor
produtividade. Esta era a época que se designava como Economia Clássica, cujas
ideias estavam em clara sintonia com o que são hoje as preocupações fundamentais
em termos ambientais.

A palavra ecologia deriva do grego, traduzindo-se como “manejo da


casa”, e, apesar de terem significados semelhantes, possuem visões divergentes
em muitos aspectos (RICKLEFS, 2003).

Dessa forma, a economia ambiental pode ser resumida como uma análise
econômica aplicada à sustentabilidade ambiental, ou seja, à realização de uma
gestão adequada dos recursos disponíveis no ambiente. A economia de um país,
ou mesmo do mundo, depende diretamente dos recursos ambientais, e, muitas
vezes, o progresso econômico desordenado resulta em degradação ambiental. O
contrário também é verdadeiro, a exaustão de recursos ambientais leva ao declínio
econômico, portanto, a economia ambiental visa analisar do ponto de vista
econômico as questões ambientais, buscando soluções para não comprometer
excessivamente os recursos existentes, como veremos a seguir.

56
TÓPICO 1 | ORIGENS DA ECONOMIA AMBIENTAL

5 ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS


Você já estudou que o capitalismo visa à produção e ao lucro, o que
demanda a exploração dos recursos naturais. Os recursos naturais são classificados
em dois grupos distintos: os recursos naturais não renováveis e os recursos
naturais renováveis. Os recursos naturais não renováveis abrangem todos os
elementos que são usados nas atividades antrópicas e que não têm capacidade de
renovação. Isso quer dizer que quanto mais se extrai, mais as reservas diminuem.
Diante desse fato, é importante adotar medidas de consumo comedido, poupando
recursos para o futuro.

Já os recursos naturais renováveis detêm a capacidade de renovação após


serem utilizados pelo homem em suas atividades produtivas. Os recursos com
tais características são: florestas, água e solo. Caso haja o uso ponderado de tais
recursos, estes certamente não se esgotarão (FREITAS, 2009).

A visão econômica, principalmente em relação à conservação sustentável


dos recursos naturais, permanece como o principal obstáculo a qualquer tipo de
planejamento da utilização ambiental. O problema é que, independentemente do
sistema político em países diversos, os bens e serviços industriais do mercado, tais
como automóveis ou eletricidade, recebem valores econômicos altos, enquanto
que os bens e serviços da natureza, tais como purificação e reciclagem de ar e água,
que são igualmente e até muitas vezes mais vitais, permanecem, na maior parte,
externos ao sistema econômico, recebendo pouco ou nenhum valor monetário.

DICAS

Leia, a seguir, a resenha de Brown (1978), para entender um pouco sobre


perspectivas econômicas globais. Os economistas não estão acostumados a pensar sobre
o papel dos sistemas biológicos na economia e muito menos sobre a condição desses
sistemas. A mesa de trabalho do economista pode estar coberta de referências que contêm os
indicadores mais recentes de saúde da economia, porém, muito raramente, ele se preocupa
com a saúde dos principais sistemas biológicos da Terra. Esta falta de consciência ecológica
tem contribuído para algumas falhas nas análises econômicas e formulações de políticas.
Este autor separa quatro sistemas biológicos como sendo a base da economia global:

• sistema oceânico de pesca;


• florestas;
• campos naturais e
• terras agrícolas.

A condição da economia e destes sistemas biológicos não pode ser separada. À medida que
a economia global se expande, aumentam as pressões sobre os sistemas biológicos. Em
grandes áreas do mundo, as demandas humanas sobre estes sistemas estão atingindo um
nível insustentável, um ponto onde a sua produtividade está sendo prejudicada. Quando isso
ocorre, as indústrias pesqueiras entram em colapso, as florestas desaparecem, os campos
naturais são convertidos em ermos estéreis e as terras agrícolas se deterioram com a
qualidade do ar, da água e de outros recursos de manutenção da vida.

57
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

Anteriormente vimos que muitos dos recursos ambientais não são


renováveis, ou seja, desaparecem, e a probabilidade de que ressurjam em um
curto período de tempo é muito pequena. Dessa forma, é preciso estabelecer
critérios de valorização destes recursos. É o que veremos a seguir.

6 VALORAÇÃO DOS BENS E SERVIÇOS AMBIENTAIS


O conceito de valor econômico é proveniente das ciências econômicas
e tem relação com as mais diversas atividades exercidas pelo homem. O valor
econômico dos recursos naturais existe na medida em que seu uso altera o nível
de produção e consumo ou o bem-estar da sociedade.

UNI

Bem ou serviço ambiental é uma classificação especial que surgiu para


incrementar e incentivar o uso e o comércio internacional de tais bens, que seriam
beneficiados por vantagens tarifárias, mas, por outro lado, sujeitos a restrições ambientais em
sua produção ou utilização (OLIVA; MIRANDA, 2009).

A ideia de valoração surge como uma alternativa para a preservação. Se


aos recursos naturais, antes vistos como bens livres e agora reconhecidos como
recursos naturais escassos, forem atribuídos preços capazes de refletir a sua
escassez, sua preservação será contemplada de maneira mais eficiente. O valor
econômico de um bem ou serviço ambiental pode ser definido como a expressão
monetária dos benefícios obtidos com o seu consumo. Desse modo, pode-se
entender que a valoração econômica dos recursos naturais é a atribuição de um
valor econômico a um recurso natural por intermédio da definição de quanto
oscilará o bem-estar das pessoas em razão da oferta desses bens e serviços
ambientais.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico define


por bens (ou serviços) ambientais aqueles que tenham por finalidade medir,
prevenir, limitar, minimizar ou corrigir danos ambientais à água, ao ar e ao solo,
bem como os problemas relacionados ao desperdício, poluição sonora e danos aos
ecossistemas. São considerados como serviços ambientais: tratamento de água e
esgoto, serviços de eliminação de lixo, limpeza e manutenção de propriedades
públicas e serviços sanitários, assim como outros vinculados ao meio ambiente,
como ecoturismo e serviços para aprimorar e racionalizar a utilização de recursos
naturais.

Para ajudar a entender o ponto de vista econômico, o quadro a seguir faz


a comparação de valores do mercado e externos ao mercado:

58
TÓPICO 1 | ORIGENS DA ECONOMIA AMBIENTAL

QUADRO 1 - ATRIBUIÇÕES DE VALORES PARA BENS E SERVIÇOS DE MERCADO E SUA


COMPARAÇÃO A BENS NATURAIS
VALORES DO MERCADO VALORES EXTERNOS AO MERCADO
Bens e serviços manufaturados (produtos de Bens e serviços da natureza, denominados
fábricas, fazendas e serviços comerciais) que públicos ou gratuitos. De modo geral, estes
são utilizados num mercado livre através valores sem preço são externos à economia
da competição, da oferta e da procura. de mercados.
Teoricamente, o preço do mercado reflete a Atribuíveis: podem receber valores
avaliação de um item pela sociedade, mas, na monetários. Exemplo: tratamento de
prática, muitas vezes se necessita de algum efluentes, substituição de um ambiente
controle governamental. natural etc.
Não atribuíveis: não podem ser tratados no
sistema econômico convencional. Exemplo:
patrimônios públicos, beleza natural, culturas
indígenas, ecossistemas naturais etc.
FONTE: O autor

NOTA

O exemplo do Mercado de Carbono

Atualmente muito se tem falado em “Mercado de Carbono”, mas afinal, o que podemos
entender sobre este assunto? Uma das principais preocupações dos atuais governos é
relativa ao aquecimento global. Não devemos confundir o aquecimento com o efeito estufa,
que é de ocorrência natural. O que acontece é que as emissões de Gases do Efeito Estufa
(GEEs) têm aumentado significativamente nas últimas décadas e um dos principais vilões é
o gás carbônico ou CO2 devido a queimadas e ao aumento do consumo dos combustíveis
derivados do petróleo. Esse gás potencializa o efeito estufa que, por sua vez, faz com que
a temperatura média do planeta Terra fique mais alta, tendo inúmeras consequências
negativas. Uma das soluções encontradas para minimizar o lançamento de CO2 na atmosfera
foi através do mercado de carbono. Esse constitui um mecanismo de “sequestro de carbono
da atmosfera” ou retirada de carbono através da adoção de tecnologias limpas, como,
por exemplo, o plantio de florestas, que fixam o CO2 através da fotossíntese, ou mesmo
mecanismos de retirada do gás carbônico dos vapores lançados pelas indústrias. De acordo
com o protocolo de Quioto (1997), a todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento
foram estipuladas cotas de emissões de GEE e estes deveriam adotar estratégias para atingir
as reduções estipuladas. Porém, o que acontece é que, muitas vezes, algumas empresas
ou países não conseguem alcançar as metas de redução. Portanto, as empresas ou países
que não conseguirem cumprir os índices estabelecidos nacional e internacionalmente
são obrigados a comprar a cota de poluição que outra empresa ou país deixou de emitir,
através da compra de créditos de carbono. Vamos a um exemplo prático! Se minha cota
de emissão é de 10 toneladas de carbono ao mês, mas, através de algum mecanismo, eu
consigo baixar minhas emissões para 8 toneladas, restam-me 2 toneladas para que possa
negociar na bolsa de valores, por exemplo, a um preço variável. Ocorre, também, de países
desenvolvidos promoverem a redução de GEE em países em desenvolvimento através do
mercado de carbono quando adquirem créditos de carbono provenientes destes países, ou
seja, pagando por esses créditos, pois normalmente os países desenvolvidos, com um grau
de desenvolvimento muito grande, dificilmente conseguem alcançar as cotas estipuladas
(C&T Brasil, 2006). De acordo com Rocha (2003), a criação de um mercado de emissões é

59
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

similar ao estabelecimento de qualquer outro mercado de commodities. O desenvolvimento


deste novo mercado começa com o governo estabelecendo a quantidade de emissão
que pode ser negociada. Um número correspondente de permissões é, então, colocado à
disposição dos agentes negociadores das empresas, pois cada permissão irá definir um limite
para a emissão de CO2. Se essa empresa, através de mecanismos de redução das emissões,
conseguir ficar abaixo do limite, pode negociar o excedente diretamente com outra empresa
ou através da bolsa de valores, como já exemplificado. Especula-se que o valor para cada
tonelada de carbono retirado da atmosfera fique entre 10 e 20 dólares. No caso do Brasil,
este pode utilizar até 1% de suas emissões totais, visto que existe uma pequena diferença
entre o emitido e aquilo que efetivamente deixamos de poluir. Mesmo assim, este 1% é muito
significativo. Pode-se dizer que o Brasil é pioneiro entre os países em desenvolvimento,
através de um processo de comercialização adequado, por meio do Mercado Brasileiro de
Reduções de Emissões – MBRE, implantado pela Bolsa de Mercadorias e Futuros – BM&F.
Esta comercialização, contudo, não é obrigatória e, como já foi falado, os créditos podem
ser vendidos diretamente ou mesmo em bolsas de outros países. Até 2007, o Brasil contava
com a participação de 217 projetos de redução de emissões, visando o 1% disponível para o
Mercado de Carbono, cenário que deve mudar devido à entrada de pequenos empresários
neste setor. Esses projetos representam a redução de 185 milhões de toneladas de CO2, 11%
do total mundial. Se negociarmos a 10 dólares a tonelada e mantivermos um crescimento de
40% do número de projetos de redução de carbono ao ano, até 2015 um acréscimo ao PIB
de R$ 53 bilhões será contabilizado, algo perto de 2,2% do PIB.

Fonte: IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/mapa_site/mapa_site.


php#economia>. Acesso em: 17 dez. 2012.

7 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Atualmente, as questões relacionadas ao futuro do planeta e à conservação
dos recursos naturais estão em alta. Podemos pensar um pouco? Como
sustentaremos a população humana em expansão exponencial e ainda assim
manter uma saudável qualidade de vida e em harmonia com o meio ambiente?
Qual será o futuro de nossa espécie? Os valores humanos são compatíveis com os
valores naturais? Com essas questões, surgem diversos programas para “limpar”
a natureza e proteger espécies ameaçadas com considerável sucesso. Muitos
países adotam legislações e acordos internacionais em questões como a poluição
do ar, o comércio de espécies ameaçadas e os direitos de propriedade para os
produtos naturais.

Muitas vezes, o desenvolvimento é relacionado apenas com o crescimento


econômico de uma cidade ou um país que depende do consumo crescente
de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser
insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos. Desses recursos depende
não só a existência humana e a diversidade biológica, como o próprio crescimento
econômico. O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de
quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da
reutilização e da reciclagem.

FONTE: Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/


desenvolvimento_sustentavel/>. Acesso em: 7 dez. 2012.

60
TÓPICO 1 | ORIGENS DA ECONOMIA AMBIENTAL

E
IMPORTANT

A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável surgiu na Comissão


Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e
propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação
ambiental. Sendo assim, é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração
atual sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. É o
desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro (WWF – BRASIL).

Dada a vulnerabilidade dos ecossistemas naturais e da sua diversidade


ecológica, dois aspectos são de fundamental importância dentro do funcionamento
dos ecossistemas: o direcionamento da energia e a reciclagem contínua de
materiais. Em outras palavras, em que prazo nós teremos a renovação de um
recurso explorado?

Nos sistemas naturais, a fonte primária de energia é a luz do Sol. A


sua reciclagem é realizada por alguns processos regenerativos, seja de origem
física, química ou biológica. Qualquer desequilíbrio que leve à acumulação ou à
depressão de algum componente de um ecossistema é normalmente corrigido por
processos dinâmicos de automanutenção do ecossistema. Só para você entender
melhor, vamos exemplificar: quando a matéria orgânica morta se acumula
num sistema, o número de organismos detritívoros aumenta para consumir o
excesso de detrito. Dos componentes da atmosfera, até plantas, animais e micro-
organismos modificam a condição dos ecossistemas terrestres e são responsáveis
pela manutenção de sua qualidade. Quando os processos naturais são rompidos,
os ecossistemas podem não ser mais capazes de manterem a si próprios. Podemos
notar isso nas mudanças que ocorrem nos solos e nas correntes de água após o
desmatamento de uma floresta.

Como ocorre com qualquer organismo dentro de um sistema, todas as


atividades humanas trazem consequências para o ambiente. Todavia, como
fazemos parte da espécie que mais interfere e ameaça os processos ecológicos,
a seguir, Ricklefs (2003) nos dá alguns exemplos de efeitos tanto diretos quando
indiretos da espécie humana nestes processos:

• Sobre-exploração – a pesca, a caça, a pastagem, a coleta de madeira para


combustível, a retirada de madeira e afins são as interações clássicas
consumidor-recurso. Na maioria dos sistemas naturais essas interações atingem
estados estacionários porque, à medida que um recurso se torna escasso, a
eficiência da exploração e também de sobrevivência cai. Onde a fertilidade
da terra for exaurida, a população humana pode perder a base dos recursos
de que necessita para se sustentar. Ainda, nos casos em que a população não
pode mais se mover para outras áreas, ou trocar suas fontes de alimentos, a

61
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

perspectiva do controle populacional pela fome e doenças associadas, além


do conflito social, pode ser uma realidade. Para resolvermos este problema,
devemos limitar a exploração das populações e recursos às produtividades
máximas sustentáveis, considerando usos sustentáveis alternativos da terra;
aumentar a intensidade da agricultura em terras capazes de sustentá-la; e
aprimorar a distribuição de alimentos entre as áreas de produção e as áreas de
consumo.

• Introdução de espécies exóticas – intencional ou não intencionalmente, os


humanos têm levado outras espécies para toda parte do mundo. Estas incluem:
plantas comestíveis, plantas para horticulturas e suas pragas, árvores de valor
comercial, animais domésticos para trabalho ou alimento, aves, mamíferos
para esporte de caça, organismos patogênicos e frequentadores de habitações
humanas como baratas e aranhas. O resultado deste movimento de espécies
entre os continentes é a distribuição global de espécies da flora e da fauna,
podendo em, alguns casos, resultar na eliminação ou expulsão das espécies
locais (nativas) devido à desvantagem competitiva destas últimas.

• Conversão de habitat – alterar a natureza básica de um habitat como a estrutura


física, muitas vezes, perturba os processos naturais de regeneração e controle.
Exemplo: derrubada de florestas de manguezal, que controlam o regime de
inundação, as migrações de peixes, o transporte de sedimentos, entre outros,
para construções humanas.

• Eutrofização – os fertilizantes aplicados na agricultura para aumentar a


produção acabam alcançando o subsolo e de lá os rios, lagos e, por fim, oceanos.
Os nitratos, fosfatos e outros fertilizantes inorgânicos presentes nas águas têm
o mesmo efeito que na produção em terras cultivadas: o aumento da produção
biológica. A sobreprodução como uma consequência dessa fertilização artificial,
frequentemente chamada eutrofização, pode originar águas turvas, acumular
material orgânico, aumentar as taxas de decomposição bacteriana e provocar a
desoxigenação da água, matando peixes e outros organismos. Problema ainda
maior para a qualidade das águas é a entrada direta de resíduos orgânicos, como
o esgoto e o escoamento diário de alimentos. Materiais orgânicos suspensos
ou dissolvidos na água criam o que é conhecido como demanda biológica
de oxigênio, significando que a decomposição desses materiais por bactérias
consome o oxigênio presente na água. Uma das alternativas para o controle
da eutrofização está em cortar as fontes externas de nutrientes orgânicos, seja
desviando as entradas para corpos de água maiores, que possam absorvê-los,
seja por tratamento de esgoto.

• Acumulação de toxinas – ocorre pela acidificação de solos e águas,


principalmente pela mineração do carvão, composto por enxofre e nitrogênio.
Estes, quando liberados na atmosfera, produzem a chuva ácida e trazem
consequências como a diminuição do pH do solo, aumento da lixiviação dos
nutrientes do solo e dificuldade de assimilação de nutrientes pelas raízes das

62
TÓPICO 1 | ORIGENS DA ECONOMIA AMBIENTAL

plantas. A liberação de metais pesados e compostos orgânicos na queima de


combustíveis e nos pesticidas de plantações também são exemplos de outras
toxinas derivadas das atividades humanas que podem se acumular em sistemas
biológicos.

• Alternativas: filtrar os gases nocivos dos efluentes das usinas de energia e dos
automóveis, encontrar alternativas energéticas para a queima de combustíveis
fósseis e reduzir a demanda total por energia. Já a biorremediação (uso de
agentes biológicos, como micro-organismos e plantas para limpar o ambiente)
é uma alternativa usada para transformar os pesticidas e outros compostos
tóxicos em subprodutos inofensivos.

• Destruição da camada de ozônio – vários poluentes aerossóis, especialmente


os clorofluorcarbonados (CFCs), reduzem as concentrações de ozônio (O3)
na atmosfera superior. Ainda, estes poluentes absorvem a radiação solar de
comprimento de onda curto, proporcionando mais radiação ultravioleta
danosa na superfície da Terra. Na Convenção de Viena (1985) e no Protocolo
de Montreal (1987), os países realizaram acordos para eliminar o uso de todos
os CFCs até o fim do século XX.

• Efeito estufa – o dióxido de carbono (CO2) ocorre naturalmente na atmosfera,


onde absorve a radiação infravermelha de comprimento longo de onda,
evitando a perda de calor ao mesmo tempo em que permite a passagem da
luz solar visível e da radiação ultravioleta (ondas curtas). Os níveis crescentes
de dióxido de carbono na atmosfera, produzidos pela queima de combustíveis
fósseis e pelo desmatamento e queima de florestas, ameaçam aumentar a
temperatura média da Terra em torno de 2o C a 6o C, com consequências
potencialmente adversas para os ecossistemas naturais e para a agricultura.
Além disso, o derretimento das calotas polares de gelo e a expansão das águas
oceânicas aquecidas ocasionarão a elevação do nível dos mares.

63
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

NOTA

O Protocolo de Quioto é o único tratado internacional que estipula reduções


obrigatórias de emissões causadoras do efeito estufa. O documento foi ratificado por 168
países, porém o processo ainda está em negociação com países como os Estados Unidos,
maiores emissores mundiais, e a Austrália.

8 CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS


Em um primeiro momento, a resolução da crise ambiental pela qual
estamos passando parece fácil. Mas será que é mesmo assim?

Uma coisa é certa: esta crise não pode ser totalmente resolvida até que o
crescimento populacional humano seja interrompido, o consumo da energia decline
e o desenvolvimento econômico leve os valores ecológicos em consideração.

Além da diminuição do consumo de recursos naturais, é de preocupação


imediata a preservação da biodiversidade (principalmente as espécies endêmicas),
que abrange toda a variedade dos seres vivos na Terra e que responde pela
manutenção do equilíbrio da natureza, que é de onde retiramos nossos produtos.

E
IMPORTANT

Saiba algumas definições importantes, de acordo com Ricklefs (2003):

• Biodiversidade - o termo biodiversidade ou diversidade biológica descreve a riqueza e a


variedade do mundo natural.

• Espécies endêmicas – espécies cujas distribuições estão limitadas a uma determinada área.
Exemplo: espécies endêmicas da floresta amazônica, só ocorrem neste ambiente.

O valor de cada espécie está baseado em considerações morais gerais, na


estética, na economia e nos seus benefícios recreacionais que nós usufruímos,
bem como, no seu papel como indicadora de qualidade ambiental (a presença
ou a ausência de certas espécies pode dizer se determinado ambiente é mais
degradado ou conservado). A diversidade de espécies em sistemas ecológicos
pode ter um valor intrínseco de estabilizar a função do ecossistema. Um número
crescente de estudos está mostrando que sistemas diversos são mais capazes de
manter a alta produtividade em face de variações ambientais.

64
TÓPICO 1 | ORIGENS DA ECONOMIA AMBIENTAL

Com esse panorama evidenciado e sabendo que hoje a conservação


ambiental é prioridade, temos que pensar em todas as metodologias possíveis
para tentarmos visualizar nossos impactos no ambiente natural e, claro, no que
podemos fazer para diminuir esse impacto. A seguir vamos conhecer o conceito
de pegada ecológica, e o que quantifica nosso impacto sobre o meio ambiente.

9 O CONCEITO DE PEGADA ECOLÓGICA


Como vimos, a conservação dos recursos naturais envolve várias questões
políticas, econômicas, culturais, entre outras. Porém, podemos nos autoanalisar e
descobrir a quantidade de recursos naturais que precisamos para sustentar nosso
estilo de vida, o que inclui a cidade e a casa onde moramos, os móveis que temos,
as roupas que usamos, o transporte que utilizamos, aquilo que comemos, o que
fazemos nas horas de lazer, os produtos que compramos e assim por diante. Essa
é a nossa pegada ecológica.

No ano de 1996, dois cientistas publicaram o livro Pegada Ecológica


– reduzindo o impacto do ser humano na Terra, apresentando ao mundo um
novo conceito no universo da sustentabilidade.

FONTE: Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/pegada_


ecologica/historico/>. Acesso em: 7 dez. 2012.

O uso excessivo de recursos naturais, o consumismo exagerado, a


degradação ambiental e a grande quantidade de resíduos gerados são rastros
deixados por uma humanidade que ainda se vê fora e distante da natureza.

FONTE: Disponível em: <http://www.alvissaras.net/index.php?option=com_


content&view=article&id=39:o-que-e-pegada-ecologica&catid=14:cotidiano&Itemid=16>.
Acesso em: 7 dez. 2012.

NOTA

A pegada ecológica de um país, de uma cidade ou de uma pessoa corresponde


ao tamanho das áreas produtivas de terra e de mar necessárias para gerar produtos, bens e
serviços que sustentem determinados estilos de vida (WWF-BRASIL).

65
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

Para calcular as pegadas foi preciso estudar os vários tipos de territórios


produtivos (agrícola, pastagens, oceanos, florestas, áreas construídas) e as
diversas  formas de consumo (alimentação, habitação, energia, bens e serviços,
transporte e outros). As tecnologias usadas, os tamanhos das populações e
outros dados também entraram na conta. Cada tipo de consumo é convertido,
por meio de tabelas específicas, em uma área medida em hectares. Além disso,
é preciso incluir as áreas usadas para receber os detritos e resíduos gerados e
reservar uma quantidade de terra e água para a própria natureza, ou seja, para
os animais, as plantas e os ecossistemas onde vivem, garantindo a manutenção
da biodiversidade.

De modo geral, sociedades altamente industrializadas, ou seus cidadãos,


“usam” mais espaços do que os membros de culturas ou sociedades menos
industrializadas. Assim, suas pegadas são maiores, pois ao utilizarem recursos
de todas as partes do mundo, afetam locais cada vez mais distantes, explorando
essas áreas ou causando impactos por conta  da geração de resíduos.

Como a produção de bens e consumo tem aumentado significativamente,


o espaço físico terrestre disponível já não é suficiente para nos sustentar no
elevado padrão atual. Para assegurar a existência das condições favoráveis à
vida precisamos viver de acordo com a “capacidade” do planeta, ou seja, de
acordo com o que a Terra pode fornecer e não com o que gostaríamos que ela
fornecesse. Avaliar até que ponto o nosso impacto já ultrapassou o limite é
essencial, pois só assim poderemos saber se vivemos de forma sustentável.

FONTE: Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/pegada_


ecologica/o_que_compoe_a_pegada/>. Acesso em: 7 dez. 2012.

DICAS

Faça o teste de sua pegada ecológica: Disponível em: <http://www.wwf.org.br>.


Acesso em: 20 fev. 2012.

Ao longo destes primeiros assuntos da Unidade 2 do nosso Caderno de


Estudos foram abordados, de maneira ampla, muitos dos aspectos relacionados
aos impactos causados pelas empresas e suas atividades, a vulnerabilidade a que
nossos recursos estão sujeitos, as origens da economia ambiental e assim por
diante. Desta forma, e como preconiza o desenvolvimento sustentável, não é mais
possível separar meio ambiente e exploração econômica. Os dois devem caminhar
juntos. E como não poderia deixar de ser, ao falarmos em avaliação de impactos
ambientais, temos que ter em mente, de maneira geral, que esta é a forma de
mensurar os impactos causados, seja por uma determinada atividade, ou mesmo
o impacto causado pela exploração de um determinado recurso natural.
66
TÓPICO 1 | ORIGENS DA ECONOMIA AMBIENTAL

Assim, termos a noção de alguns dos aspectos de administração e de gestão


empresarial facilita muito na hora de compreender como gerir um determinado
recurso natural. Como já foi dito, esta é uma disciplina multidisciplinar e ampla,
mas optou-se por evidenciar os métodos de controle ambiental nas empresas.

Estamos vivendo um período muito delicado na história, e se nada fizermos


para frear o impacto do homem sobre a natureza, talvez daqui a algum tempo poderá
ser tarde demais. Essas medidas de mitigação e prevenção devem ser adotadas, não
porque estão na moda, ou apenas para polir a imagem daqueles que usufruem dos
recursos ambientais, mas porque os ecossistemas naturais são realmente frágeis,
como vimos no início desta unidade. Avisos não estão faltando. Basta olhar para as
crises do petróleo, da água e mesmo do clima, com o aumento do efeito estufa e o
aquecimento global. Ainda podem ser evidenciadas inúmeras catástrofes ambientais,
como inundações e tempestades, resultados diretos da ação do homem sobre a
natureza. E todas essas informações servirão para que algum dia vocês possam
exercer a função de gestores do meio ambiente com dignidade e conhecimento de
causa, e multipliquem esse conhecimento, fazendo com que o despertar de uma
consciência ecológica fique cada vez mais em evidência.

67
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu:

• Um pouco da história do desenvolvimento econômico e do início da exploração


dos recursos naturais a partir da Revolução Industrial.

• A atribuição de valores monetários aos bens e recursos ambientais.

• Aspectos que tornam o meio ambiente muito vulnerável à exploração antrópica.

• O conceito de desenvolvimento sustentável.

• Aspectos conservacionistas que visam mitigar os impactos causados pela


exploração de recursos ambientais.

68
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões a seguir.

1 Relacione a segunda coluna com a primeira, de acordo com as definições:

a) Bem ou serviço ambiental.


b) Desenvolvimento sustentável.
c) Mercado de carbono.

( ) Um instrumento de mitigação de gases do efeito estufa, e que pode ser


utilizado de diferentes formas, como por exemplo, no plantio de árvores
em número suficiente que compensem o dano causado.
( ) Tem como objetivo suprir as necessidades da geração atual, sem
comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações.
( ) Tem como objetivo a prevenção, minimização ou correção de danos
ambientais, bem como problemas relacionados ao desperdício, poluição
e danos aos ecossistemas.

2 Para você refletir e pesquisar, explique a frase “À medida que a economia


global se expande, teoricamente as pressões sobre os sistemas biológicos
aumentam. Mas, na mesma direção, os sistemas de exploração tornam-se
mais eficientes e novos métodos para minimização dos efeitos da retirada
dos recursos naturais são criados. Mesmo assim, caminhamos para um
desenvolvimento “não sustentável”. Por quê? Justifique sua resposta com
base nos atuais padrões de consumo.

69
70
UNIDADE 2 TÓPICO 2

AVALIAÇÃO, GESTÃO E O MEIO


AMBIENTE: CONCEITOS E SISTEMAS

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Este tópico busca fazer o entendimento entre conceitos
utilizados dentro do ambiente corporativo e sua aplicação à avaliação e ao
gerenciamento do meio ambiente. Serão analisados os conceitos de administrar e
gerenciar um recurso, não importando se ele é um recurso financeiro ou ambiental.
Apesar da similaridade entre estes dois conceitos, podemos notar pequenas
diferenças, e que veremos ao longo da unidade. Inicialmente focaremos esses
conceitos para o ambiente empresarial, quais as diferenças entre um e o outro,
aspectos importantes para o bom funcionamento das empresas, entre outros
aspectos pertinentes. Ao final da Unidade 2 mostraremos como essas ferramentas
podem estar relacionadas com o manejo dos recursos naturais e, principalmente,
a utilização destes para a mensuração ou avaliação de impactos ambientais.

2 GESTÃO E ADMINISTRAÇÃO: PRINCIPAIS DIFERENÇAS


Atualmente, a palavra gestão é empregada com muita frequência, não importa
qual seja o ambiente onde estamos inseridos. Falamos hoje de gestão de negócios,
gestão de pessoas, gestão comercial e gestão ambiental. Seja no ambiente corporativo
ou em instituições de ensino, pode-se dizer que essa é uma palavra que está na moda.
Mas qual é o real significado do termo gestão? E qual ou quais são as principais
diferenças entre o ato de gerenciar e o ato de administrar um empreendimento?

Um conceito importante, que necessitamos ter claro, é o significado


de organização. De acordo com Hampton (2005), uma organização pode ser
entendida como uma combinação intencional de pessoas e de tecnologia para
atingir um determinado objetivo. Assim, uma escola pode ser uma organização,
bem como uma empresa, e mesmo o ambiente familiar pode ser entendido da
mesma maneira. Maximiano (2004) destaca que a sociedade é feita de organizações
e que estas fornecem os meios para o atendimento das necessidades das pessoas.
Serviços de saúde, água e energia, segurança, controle da poluição, fiscalização e
educação são apenas alguns exemplos. Tente pensar em algo que você use e que
não dependa de alguma organização. É difícil, pode apostar.

71
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

Já os recursos humanos, o capital a ser investido e toda a matéria-prima


compõem os recursos que ingressam nessa organização. Daí, podemos imaginar
que existem entradas e saídas, e que para a sobrevivência das empresas, ao
final do processo, deve existir um saldo positivo, entendido como lucro dessa
organização. O esquema a seguir ilustra bem o conceito que estamos estudando:

E
IMPORTANT

“A origem da palavra organização vem do grego – organon, que significa


instrumento ou ferramenta e considera um comportamento organizacional mecânico, cujas
ações decorrerão sob certos padrões e que irão gerar produtos dentro de alguma expectativa
ou margem”. (MAXIMIANO, 2004, p. 25).

FIGURA 1 - PRINCIPAIS COMPONENTES DAS ORGANIZAÇÕES

RECURSOS OBJETIVOS

HUMANOS
MATERIAIS PROCESSOS DE
TRANSFORMAÇÃO PRODUTOS
FINANCEIROS
INFORMAÇÃO DIVISÃO DO SERVIÇOS
ESPAÇO TRABALHO
TEMPO

FONTE: Maximiano (2004, p. 26)

Dessa maneira, podemos começar a entender que uma organização


está estruturada em diferentes partes e que, para que essas partes interajam e
funcionem, é necessário administrar esse sistema. Administrar ou gerir? A
administração, além da eficácia na direção dos recursos, envolve sua correta
utilização, para que uma organização atinja um objetivo específico. Assim, o ato
de administrar envolve planejamento, organização, direção e controle. O sucesso
do empreendimento depende da eficácia desses quatro fatores. Podemos citar,
como exemplo, uma fábrica de sorvetes, na qual o ato de fornecer as condições
ideais para aquelas pessoas que fazem o sorvete pode ser entendido como o ato
de gerenciar a organização. Isso implica trabalhar com tecnologia, pessoas e
dinheiro, num esforço para conseguir o desempenho das tarefas propostas. A
administração sugere a ação de administrar, ou seja, observar, fiscalizar e agir
sobre o que está estabelecido, mantendo o funcionamento.

72
TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO, GESTÃO E O MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E SISTEMAS

A figura a seguir nos mostra como uma organização ou empresa está


estruturada e quais setores estão subordinados à administração da empresa
(Figura 2). Repare que em cada um destes a gestão poderá atuar, como, por
exemplo, através do emprego de novas tecnologias, visando à melhora de cada
um dos segmentos em particular.

FIGURA 2 - PRINCIPAIS FUNÇÕES ORGANIZACIONAIS

ADMINISTRAÇÃO
GERAL
PESQUISA E
OPERAÇÕES DESENVOLVIMENTO

MARKETING RH

FINANÇAS

FONTE: Maximiano (2004, p. 28)

ATENCAO

Você sabia?

 Eficácia é a palavra usada para indicar que a organização realiza seus objetivos. Quanto
mais alto o grau de realização dos objetivos, mais a organização é eficaz.

 Eficiência é a palavra usada para indicar que a organização utiliza produtivamente, ou


de maneira econômica, seus recursos. Quanto mais alto o grau de produtividade ou
economia na utilização dos recursos, mais eficiente é a organização.

73
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

QUADRO 2 - COMPARAÇÃO ENTRE EFICIÊNCIA E EFICÁCIA

EFICIÊNCIA EFICÁCIA
• Ausência de desperdícios. • Capacidade de obter resultados.
• Uso econômico de recursos. • Grau de realização dos objetivos.
• Menor quantidade de recursos para • Capacidade de resolver problemas.
produzir mais resultados.
FONTE: Maximiano (2004, p. 32)

Até o momento falamos sobre a administração de uma organização. E a


gestão? Você seria capaz de diferir entre um e outro conceito?

Como foi visto na Figura 2, a gestão está em diferentes segmentos, e gerir


cada um destes pode ser definido como observar, decidir e criar, modificar ou
cancelar ações administrativas, estabelecidas dentro de um ambiente, seja lá
qual ele for. A atualização e a adaptação são requisitos essenciais para um bom
gerente. Vamos a alguns exemplos. Se desejarmos fazer escolhas mais inteligentes
sobre nossas carreiras, sobre como converter nossos talentos em desempenho,
o que fazer para ter sucesso ou fracassar, temos que aprender a gerir a nós
mesmos. Se desejarmos uma sociedade melhor e um mundo melhor para nossas
crianças, temos que compreender claramente como a gestão atua no terceiro
setor e como pode ser aplicada nos setores de educação e saúde, por exemplo.
Ou seja, sempre que nossas necessidades excedam nossos recursos, necessitamos
de gestão. Sempre que trabalhamos regularmente ou em regime voluntário, é
necessário haver gestão. Para obter ótimos resultados no mundo atual, todos
têm que aprender a pensar como gerentes, mesmo que esse não seja nosso título
(MAGRETTA, 2002).

Resumindo, Dias (2012) sugere que a administração está presente em


todos os cargos, mas o cargo não é composto apenas pela administração. Algo
mais o compõe. Funções outras o integram, como: finanças, vendas, técnicas e
contabilidade. Tempos atrás, dentro de uma organização, a administração era
algo distinto e separado do restante da empresa, parecendo ter vida própria,
porém, hoje se sabe que ela não existe por si só e em si só. Precisa das outras
funções corporativas para existir e do objeto para agir.

Já a gestão incorpora a administração e faz dela mais uma das funções


necessárias para seu desempenho. Administrar é planejar, organizar, dirigir e
controlar pessoas para atingir, de forma eficiente e eficaz, os objetivos de uma
organização. Gestão é lançar mão de todas as funções e conhecimentos necessários
para, por meio de pessoas, atingir os objetivos de uma organização de forma
eficiente e eficaz.

74
TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO, GESTÃO E O MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E SISTEMAS

E
IMPORTANT

Frederick Winslow Taylor é considerado o pai da administração moderna ou


científica, também conhecida como Taylorismo, que é caracterizada pela ênfase nas tarefas,
objetivando-se aumentar a eficiência das empresas com aumento da eficiência em nível
operacional. A seguir, a figura nos mostra como diferentes cientistas compunham a estrutura
administrativa de um ambiente corporativo.

FIGURA 3 - MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO

DIVERSOS AUTORES,
HENRY E FAYOL, 1911 DÉCADA 60 EM
DIANTE

PLANEJAMENTO PLANEJAMENTO

ORGANIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO

COMANDO LIDERANÇA

COORDENAÇÃO CONTROLE

CONTROLE

FONTE: Maximiano (2004, p. 75)

75
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

3 A GESTÃO EM UMA ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA


De acordo com Hampton (2005), as organizações e as ideias de como
dirigi-las existem desde a antiguidade. Podemos citar como exemplos alguns
documentos que relatavam extrema preocupação com a coordenação e direção
habilidosa em repartições públicas da China e da Grécia antiga. Os gregos
e os romanos também tiveram grande sucesso no gerenciamento de vários
empreendimentos cooperativos, tais como: aventuras militares, obras públicas e
sistemas judiciários.

No entanto, para que as organizações continuem evoluindo e produzindo


com eficiência, não é plausível que mantenham os mesmos mecanismos de
gerência do passado. Sabemos, porém, que a introdução de novas tecnologias,
que normalmente é uma decisão do setor produtivo, não é discutida e planejada
previamente. E que toda e qualquer mudança com metas e objetivos traçados
visando ao ganho econômico pode trazer consequências sérias para o ambiente
em que estamos inseridos, seja ele o ambiente dentro de uma organização, seja o
ambiente natural.

Na realidade, as alterações ambientais e comportamentais resultantes


da introdução contínua de inovações tecnológicas são às vezes inesperadas, e
podem surgir rapidamente, fazendo com que diferentes tipos de instituições não
consigam acompanhá-las, enfrentando, assim, sérias crises de gerenciamento.
O surgimento de uma disciplina, no nosso caso a gestão, impulsiona todos os
campos sociais, porém, é preciso estar atento aos aspectos positivos e negativos
gerados pela mudança de paradigmas.

Para que uma organização conheça o caminho do sucesso é necessário


que todas as partes desempenhem suas funções adequadamente e com real
comprometimento com as metas traçadas. Dessa forma, a gestão deve concretizar
o propósito da organização, de forma que todos possam atuar na mesma direção
e que os esforços logrem êxito (HAMPTON, 2005).

Podemos notar que, desde a Revolução Industrial dos séculos XVIII e XIX,
quando se inicia a preocupação com o entendimento da prática administrativa,
até os dias atuais, muitos dos modelos administrativos ainda empregam práticas
antigas. Porém, como dito anteriormente, a evolução é necessária e cabe aos
gestores implementar novos modelos de administração ou não.

76
TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO, GESTÃO E O MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E SISTEMAS

Todos os grupos e instituições, que evoluem e crescem, trazem consigo


formas de integrar uma organização, normas e liberdade, autoridade e confiança.
As  organizações que mais evoluem são as que reúnem pessoas abertas, que sabem
gerenciar seus conflitos pessoais, que sabem comunicar-se e aprender.

FONTE: Disponível em: <http://www.eca.usp.br/moran/organiz.htm>. Acesso em: 7 dez. 2012.

O perfil dessas instituições poderá ser considerado perene, enquanto


aquelas que não se adequarem às novas tendências estarão fadadas ao fracasso.

A partir de agora nos aproximaremos de algumas metodologias específicas


para a melhora do processo de gestão dentro das empresas, ou seja, como de fato
isto pode ocorrer. Vimos que a mudança é importante, porém, para que aconteça
além da quebra de padrões já estabelecidos há muito tempo, é preciso estarmos
atentos a todas as etapas que fazem parte do processo de gestão.

4 TÉCNICAS DE GESTÃO
É fato que nossa sociedade está estruturada em organizações e que, desta
forma, existe a necessidade de gestão para administrá-las. A crescente eficiência
da gestão fez das organizações o veículo escolhido para conduzir a maior parte
do trabalho da sociedade moderna. De museus de artes e agências de publicidade
até fábricas de zíper e zoológicos, a variedade reflete a amplitude dos interesses
humanos. A boa gestão faz com que as organizações funcionem bem. Podemos
notar que ao longo do século XX, a disciplina de gestão transformou a experiência
do trabalho e multiplicou sua produtividade (MAXIMIANO, 2004).

Inseridos no contexto da globalização, tornamo-nos cada vez mais


dependentes, e nosso trabalho é mais especializado e complexo. Assim, a gestão
desempenha um papel muito importante, na medida em que necessitamos do
nosso bom desempenho e, também, das outras pessoas que integram nossa rede
de relacionamentos, a chamada network. Ainda, precisamos ter claro que nos
tempos atuais necessitamos ser empreendedores e aprender a gerenciar nosso
próprio trabalho. A competição dentro do mercado de trabalho é muito intensa,
portanto, devemos pensar como gerentes, saber administrar nossos pontos fortes
e fracos e, dessa maneira, determinar o rumo das nossas escolhas.

Em um passado não muito distante, as pessoas concluíam um curso


superior e ingressavam em uma empresa esperando que esta cuidasse de sua
carreira. Hoje é certo que isso não acontece mais. As empresas precisam de
liderança, de pessoas proativas, que tomem decisões, enfim, que partam para a
luta, não esperando que algo aconteça. Para piorar, fora toda a competitividade
mercadológica, sabemos dos altos e baixos do setor econômico e, dessa maneira,
não podemos nos apoiar mais na chamada “estabilidade profissional”, conceito
bastante difundido. Hoje, as empresas possuem uma alta rotatividade e aquele

77
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

profissional apto a lidar com esse tipo de adversidade, ou seja, o que toma
iniciativa e é empreendedor, certamente saberá enfrentar situações contrárias
com maior facilidade. E isso ocorre em todos os campos de atuação, inclusive
para os setores que lidam com a proteção dos recursos naturais.

Anteriormente, vimos o conceito de organização e que a sociedade atual


é constituída de organizações dos mais variados tipos e com as mais diversas
finalidades, em função do amplo espectro de interesses do homem moderno.
Partindo desse ponto, teremos agora algumas ideias de como funcionam essas
organizações e quais os fundamentos que as regem, de acordo com as teorias da
gestão e administração modernas.

Em princípio, todas as organizações são sistemas de recursos que


perseguem objetivos, portanto, o desempenho de qualquer tipo de organização
pode ser avaliado pela forma como os objetivos são realizados e como os recursos
são utilizados. Já falamos muito sobre os conceitos de eficiência e eficácia e seu valor
para o bom funcionamento de uma empresa. Estes conceitos estão diretamente
ligados ao desempenho das organizações. Basta, agora, apenas reforçarmos essa
ideia e partirmos para os demais aspectos que compõem a boa gestão dentro de
qualquer área e/ou empreendimento.

De modo geral, podemos destacar o processo decisório e a resolução de


problemas, seguidos de planejamento e liderança, processos que também são de
extrema importância dentro do ambiente corporativo. Vamos apenas comentar
sobre alguns aspectos básicos desses processos e tomar consciência de que, ao fim
do primeiro capítulo, todas as partes caminham de maneira equitativa e integrada.

Estudar o processo de tomar decisões ajuda a compreender o trabalho


gerencial e a desenvolver as habilidades de administrador. De acordo com
Maximiano (2004), decisão é uma escolha entre alternativas ou possibilidades.
As decisões são tomadas para resolver problemas ou aproveitar oportunidades.

Fonte: Disponível em: <http://www.soartigos.com/artigo/6668/PROCESSO-DECISORIO/>.


Acesso em: 7 dez. 2012.

O processo decisório (tomar decisões) é a sequência de etapas que vai


da identificação de uma situação que oferece um problema ou oportunidade até
a escolha e colocação em prática de uma ação ou solução. Quando a decisão é
colocada em prática, o ciclo se fecha. Uma decisão que se coloca em prática cria uma
situação nova, que pode gerar outras decisões ou processos de resolver problemas.

FONTE: Adaptado de: <http://www.fsm.com.br/web/enade/revisao/Material_TGA_Enade_III_


Processo_Decisorio-Prof_Veronica.pdf>. Acesso em: 7 dez. 2012.

78
TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO, GESTÃO E O MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E SISTEMAS

Para ajudar os gerentes em sua tarefa de tomar decisões, diversas técnicas


foram desenvolvidas. Algumas delas a partir de problemas específicos, porém
outras são gerais e se aplicam à solução de uma grande variedade de problemas.
Ainda assim, sabemos que o processo decisório é humano e, portanto, passível
de erros. O interessante é notar que podemos trabalhar com foco e determinação
para que a margem de segurança aumente, fazendo com que as chances de falha
sejam quase nulas.

Um processo estruturado de resolução de problemas procura assegurar


uma decisão lógica, que seja coerente com o problema e que diminua a
probabilidade de erros.

A etapa seguinte, após a identificação do problema e do diagnóstico,


consiste em gerar alternativas para solução. Muitas vezes, as alternativas já
vêm com o problema ou oportunidade. Em outros casos, não há alternativas
prévias e é preciso ter ideias.

FONTE: Adaptado de: <http://www.fsm.com.br/web/enade/revisao/Material_TGA_Enade_III_


Processo_Decisorio-Prof_Veronica.pdf>. Acesso em: 7 dez. 2012.

Surgem aqui os conceitos de Brainstorming, ou tempestade de ideias, e


Brainwriting, ou tempestade de ideias escritas, comumente utilizadas. Estes dois
procedimentos de estímulo à criatividade são muito utilizados em processos
sistemáticos de tomada de decisões. No primeiro conceito cada pessoa fala,
dando sugestões para resolver o problema, sem que essas sugestões sejam
criticadas pelos companheiros. Já no segundo processo, e a partir do momento
em que houver um número significativo de ideias, faz-se o seu agrupamento em
categorias que, finalmente, são avaliadas e criticadas.

Posteriormente à geração de ideias para a resolução dos problemas,


surgem as etapas de escolha das alternativas que, por meio de critérios bem
definidos, ou seja, um indicador de importância, são identificadas as mais
adequadas. Normalmente, as escolhas se tornam mais racionais quando analisadas
de maneira objetiva. Dentre as várias técnicas para a escolha das ideias para a
resolução dos problemas, a árvore de decisões, a análise do campo de forças e
a análise do ponto de equilíbrio são as propostas interessantes. Porém, como as
demais ferramentas, seu objetivo é apenas gerar informações sobre os diferentes
caminhos que os gerentes podem tomar. Cabe, ainda, falarmos da racionalidade e
da intuição. A primeira, baseada totalmente em informação e, a segunda, a partir
de percepção e aprendizagem ao longo da experiência profissional de cada um. A
Figura 4, a seguir, nos mostra um exemplo de como podemos priorizar as etapas
para a tomada de decisão.

79
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

FIGURA 4 - MODELO PARA A TOMADA DE DECISÃO

AÇÃO

DECISÃO

CONHECIMENTO
CURIOSIDADE

INFORMAÇÃO

DADOS

FONTE: Disponível em: <http://www.evidencias.com/decisao/img/triangulo.jpg>.


Acesso em: 20 jun. 2009.

Por ser apenas um modelo, não funciona como uma regra e certamente
não funciona em todos os tipos de organizações, mas nos fornece uma ideia
simples de como podemos hierarquizar essas etapas. Mais uma vez destacamos
que estamos falando de conceitos utilizados dentro do ambiente empresarial. No
nosso dia a dia, é basicamente desta forma que funciona.

Se houvesse um desastre industrial em uma área de proteção ambiental,


de que forma poderíamos atuar? Muito daquilo que estamos vendo nos ajuda
a agir com segurança para que a decisão correta seja tomada. Em uma situação
real, replicarmos as ideias que estamos vendo até o momento pode ser de grande
importância para uma boa avaliação de impacto ambiental.

Por exemplo, se fizermos um EIA-RIMA, de nada adianta ter um relatório


sem uma base de informações segura, e pareceres que permitam aos tomadores
de decisão saber o que fazer e quando fazer.

Você deve ter reparado que o funcionamento do processo de tomada


de decisão pode ocorrer no formato de pirâmide, ou seja, existe uma base
que dá sustentação às etapas seguintes. Como é possível observar, essa base é
constituída por um banco de dados com informações valiosas que irão subsidiar
a futura tomada de decisão. Esses dados, por sua vez, levam à construção da
informação e, consequentemente, tornam evidente o problema e quais podem
ser suas fontes. É necessário notar, ainda, que essas três etapas estão agregadas
a outra fase, denominada aqui de “curiosidade” ou, como vimos anteriormente,
de brainstorming, ou seja, todos os envolvidos no processo necessitam trabalhar

80
TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO, GESTÃO E O MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E SISTEMAS

em conjunto, trazendo à tona todos os fatores possíveis que possam alimentar a


tomada de decisão, não somente no quesito de alimentação do banco de dados,
mas também na melhor estratégia para decidir qualquer coisa.

Mas quem deve tomar a decisão? Falamos até agora, e muito rapidamente,
sobre alguns dos aspectos que fazem parte da rotina de um administrador ou
gerente. Analisamos o processo sem focalizar sua principal figura, o tomador de
decisões. Muitos diriam que esta tarefa pertence ao gerente, mas isso não pode
significar que ele tome todas as decisões. Normalmente, em uma organização
estruturada e dinâmica, as decisões dizem respeito ao grau de comprometimento
e participação de toda a equipe no processo decisório. E é essa integração que
normalmente configura nos melhores resultados para a corporação como um todo.

Após a tomada de decisões, conheceremos uma das mais importantes


etapas de gerenciamento de uma organização e, por que não dizer, de um
determinado evento que venha a prejudicar a qualidade ambiental, que é o
planejamento. De acordo com Maximiano (2004), o planejamento constitui
um processo de habilidade e atitude. Assim, como o contrário de eficiência é o
desperdício, o contrário de planejamento é a improvisação. Podemos dizer que
planejamento é a mais importante das funções gerenciais.

Mas o que é planejar?

• Planejar é pensar e agir em relação ao futuro. Essa é a essência do processo


de planejamento.

FONTE: Disponível em: <http://www.viannajr.edu.br/site/menu/publicacoes/publicacao_%20


adm/pdf/edicao3/processos_planejamentos.pdf>. Acesso em: 7 dez. 2012.

• Uma das razões para planejar é lidar com as incertezas sobre o futuro, incertezas
provocadas pela falta de controle sobre todos os tipos de variáveis e que possam
influenciar no resultado final do nosso objetivo. É claro que muitas coisas podem
ser consideradas previsíveis, porém é preciso estar atento a todas as circunstâncias.

E
IMPORTANT

Falamos sobre a implicação da falta de planejamento, que pode afetar


significativamente o desempenho de uma empresa, sobre a improvisação, que acusa a falta de
planejamento. Porém, se atentarmos para o fato de que lidamos com pouquíssima previsibilidade
diante de eventos futuros, nessas situações a ferramenta de improvisação pode ser uma aliada,
visto que irá ajudar-nos a resolver problemas que podem ocorrer de última hora.

81
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

Outro aspecto que pode ser levado em consideração dentro do ambiente


corporativo é a atitude proativa, que permite à organização alterar dinamicamente
seus sistemas internos e suas relações com o ambiente externo. Assim, a
improvisação pode ser um instrumento para assegurarmos a proatividade,
onde o administrador possa se moldar em função de novas situações dentro da
empresa. No entanto, deve ficar claro que o planejamento ainda é a melhor forma
de melhorarmos o desempenho das empresas.

Grande parte dos aspectos referentes à administração e gestão dentro


de uma organização ou ambiente corporativo foi contemplada até o presente
momento. Apresentamos conceitos básicos, porém pertinentes, sobre as boas
práticas da administração e que podem ajudá-lo a gerir de maneira eficiente
os problemas relacionados à gestão e avaliação dos nossos recursos naturais. A
próxima seção nos oferece um maior detalhamento sobre este assunto.

5 CONCEITOS DE GESTÃO AMBIENTAL


Vamos, agora, rever um pouco da história dos fatos que marcaram o início
das preocupações voltadas à conservação dos ecossistemas. De maneira geral, é
a partir da Conferência sobre a Biosfera, em Paris, no ano de 1968, que há o início
do despertar de uma “consciência ecológica”. Posteriormente, a Conferência do
Meio Ambiente, realizada em 1972, na cidade de Estocolmo, colocou a questão
ambiental na agenda de vários países de maneira oficial. Foi a primeira vez que
representantes de vários países discutiram de maneira efetiva todos os fatores
que poderiam colocar em risco o equilíbrio de nosso planeta.

Com o histórico relatório de 1987 da Comissão Mundial do Ambiente,


nomeado “O Nosso Futuro Comum”, ficou evidente a grande importância de
proteger nossos recursos naturais em busca do aclamado desenvolvimento
sustentável. Dessa maneira, um acordo denominado “Carta Empresarial para o
Desenvolvimento Sustentável” foi criado com 16 princípios relativos à gestão do
meio ambiente (ANDRADE; TACHIZAWA; CARVALHO, 2002).

Após esse período, muitas coisas mudaram. Houve o surgimento de novas


tendências e também a incorporação de novas metodologias para serem utilizadas
de maneira efetiva na proteção dos nossos recursos naturais. Muitas empresas
começaram a se preocupar com as questões ambientais e principalmente com a
sua imagem.

Como veremos adiante, aliar o conceito de sustentabilidade às organizações


começa a se tornar fundamental para que as empresas continuem competitivas.
Muitos empreendedores começam a enxergar que as soluções devem partir das
próprias empresas e incorporam em suas rotinas o gerenciamento ambiental, que
induz à adoção de uma nova visão, incluindo o aproveitamento e racionamento da
matéria-prima, o controle e tratamento dos efluentes, boas práticas de segurança
no trabalho, enfim, medidas que aperfeiçoam todo o processo de produção da

82
TÓPICO 2 | AVALIAÇÃO, GESTÃO E O MEIO AMBIENTE: CONCEITOS E SISTEMAS

empresa, visando a práticas ambientalmente corretas. O ato de instalação de uma


empresa, que está subsidiado pelo Estudo de Impacto Ambiental (EIA), também
vai servir durante toda a vida deste empreendimento. Todas as ações, impactos,
resíduos, enfim, tudo aquilo que degrada o ambiente no qual esta organização está
inserida, deve ser levado em consideração. Jamais podemos apoiar a instalação
de um empreendimento que agrega mais pontos negativos do que positivos.

De acordo com Andrade (2008), podemos definir o termo Gestão


Ambiental como o conjunto de políticas, programas e práticas administrativas e
operacionais que levam em conta a saúde, a segurança das pessoas e a proteção
do meio ambiente, através da eliminação ou minimização de impactos ambientais
decorrentes do planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação ou
desativação de empreendimentos ou atividades, incluindo-se todas as fases do
ciclo de um produto. Ou seja, a Gestão Ambiental deve, ou deveria ser prevista
antes mesmo da instalação de um determinado empreendimento. Podemos
imaginar aqui, que se o processo de licenciamento ambiental, pelo qual todas
as empresas devem passar, for gerenciado de maneira incorreta, no futuro
poderá trazer consequências irreparáveis para o meio ambiente. Mais adiante
aprofundaremos nossos estudos sobre a incorporação dos Sistemas de Gestão
Ambiental ou SGA e, também, sobre o funcionamento dessas novas metodologias.

DICAS

Podemos adiantar aqui que os modelos de Gestão Ambiental mais utilizados


são aqueles baseados na norma ISO 14000, que veremos mais adiante.

Vimos até o momento alguns tópicos relacionados às organizações e


como estas podem ser administradas e gerenciadas. Ao final, definimos o termo
Gestão Ambiental e como os aspectos administrativos de um empreendimento
estão relacionados com a conservação ambiental. Somente as organizações
que estiverem dispostas a mudanças obterão êxito em um período delicado de
exploração e sustentação dos recursos naturais.

No próximo capítulo veremos o funcionamento de um Sistema de Gestão


Ambiental, e como este pode ajudar os administradores a alcançarem metas
ambientais caso uma empresa queira adequar-se às questões ambientais.

83
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu:

• As principais diferenças entre os conceitos de administração e gestão.

• Os aspectos da gestão no mundo contemporâneo e sua aplicação para proteção


dos recursos naturais.

• Os instrumentos do ambiente corporativo que podem ser utilizados para a


avaliação e a gestão ambiental.

• Os procedimentos para tomada de decisão frente a um problema ambiental,


tendo como base o levantamento de informações.

• O conceito de Gestão Ambiental.

84
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões a seguir.

1 Elabore um pequeno texto sobre o bom funcionamento de uma empresa.


Não importa qual é o setor de atividade que ela desempenha. Você deve
escolher qualquer uma e imaginar todas as situações possíveis, desde
a entrada de matéria-prima até a confecção do produto final, listar as
principais deficiências (por exemplo, desperdícios de matéria-prima e falta
de reaproveitamento de materiais), os impactos causados no meio ambiente
e, por fim, listar quais sugestões, em sua opinião, poderiam tornar essa
mesma organização mais eficiente e eficaz, além de mais sustentável.

2 Liste cinco fatores que poderíamos considerar indispensáveis para o bom


gerenciamento de uma organização.

85
86
UNIDADE 2 TÓPICO 3

CONCEITO E FUNCIONAMENTO DE UM
SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)

1 INTRODUÇÃO
Anteriormente vimos as principais diferenças entre os conceitos de
administração e gestão de empreendimentos e como eles podem ser aplicados
no manejo dos recursos naturais, e no nosso caso em específico, na avaliação
de impactos ambientais. A partir deste tópico serão mostrados os princípios de
funcionamento de um Sistema de Gestão Ambiental ou SGA, que nada mais é
do que uma série de instruções normatizadas internacionalmente, e que, dentro
do ambiente corporativo, servem para direcionar o empreendedor na tomada
de decisões. Também é utilizado para melhorar o desempenho ambiental da
empresa, bem como sua adaptação junto à legislação ambiental. Como veremos,
um SGA pode ser composto por inúmeras ações, como, por exemplo, a redução
do consumo de matérias-primas, a diminuição dos resíduos sólidos e a reciclagem
de materiais.

Como parte da adequação ambiental da empresa, a adoção de uma


política ambiental interna e que vise à conscientização dos colaboradores de uma
indústria também é um importante instrumento de gestão.

2 PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DOS SISTEMAS


DE GESTÃO AMBIENTAL
Temos falado no aumento da preocupação com a proteção dos recursos
naturais e que, a partir do relatório “O nosso futuro comum”, grande importância
foi concedida às questões ambientais. Também é a partir desse processo que surge
a Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável. Segundo Andrade,
Tachizawa e Carvalho (2002), essa carta é vital para as organizações, pois considera
que grupos e/ou empresas versáteis, dinâmicas, ágeis e lucrativas devem ser a
força impulsora do desenvolvimento econômico sustentável, assim como a fonte
de capacitação de gestão e dos recursos técnicos e financeiros indispensáveis à
resolução dos desafios ambientais.

87
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

DICAS

Vamos pesquisar? Tente encontrar na internet maiores informações sobre


o relatório “O nosso futuro comum” e também sobre a “Carta empresarial” e como esses
documentos influenciaram o desenvolvimento econômico atual.

É necessário destacar ainda que, atualmente, qualquer tipo de


empreendimento, seja ele de pequeno, médio ou grande porte, não sobrevive
frente à quebra do paradigma da ligação da imagem da empresa junto à proteção
dos recursos naturais. Atente para o fato de que quando falamos em organizações,
nos referimos a qualquer tipo, como uma Organização não Governamental
(ONG), empresas públicas ou privadas, associações etc. Claro, muitas vezes,
parece que estamos nos referindo somente a empresas de grande porte. O caso é
que essas nos oferecem bons exemplos e também grande potencial poluidor, uma
vez que a sua imagem frente à sociedade é agravada se não prestarem atenção aos
problemas relacionados ao meio ambiente.

Voltando à Carta Empresarial, as organizações devem e necessitam


partilhar de um objetivo comum, que é o desenvolvimento econômico, aliado
à maior equidade social e, claro, à proteção ambiental, bases do aclamado
desenvolvimento sustentável. Agindo dessa forma, asseguram seu posicionamento
diante de um mercado cada vez mais competitivo e exigente.

A seguir veremos os Sistemas de Gestão Ambiental baseados nas normas


ISO 14000, sistema baseado em normativas internacionais e que no Brasil são
adaptadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Outro aspecto
importante a ser compreendido é que diferentes empresas produzem diferentes
impactos ao meio ambiente e que cada uma destas organizações deve implementar
um modelo de Sistema de Gestão Ambiental baseado nestas características.

3 GESTÃO AMBIENTAL EM EMPRESAS


Em um primeiro momento é preciso estar atento aos diferentes tipos de
organizações e seus diferentes impactos ambientais. Quer um exemplo? Então,
vamos a ele!

Considerando o setor de serviços públicos, há órgãos denominados de


“administração direta” ou de nível federal, estadual e municipal, ou, ainda,
órgãos de “administração indireta”, como empresas públicas, autarquias e
fundações, existindo uma variada gama de serviços e produtos gerados. Essas
empresas podem atuar no setor de exploração de recursos energéticos e minerais,
na metalurgia, derivados de petróleo, indústria química, indústria têxtil e
agricultura. Isso para citar apenas alguns exemplos.

88
TÓPICO 3 | CONCEITO E FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)

E qual é a importância disto? Simples! Para cada tipo de organização, a


ideia é que em função do setor econômico e dependendo do tipo de produto
gerado, do tipo de insumos/matérias-primas e outros, devem-se associar
estratégias empresariais adequadas e, o mais importante, estratégias ambientais
pertinentes a cada tipo de organização. Na prática, isso quer dizer que o Sistema
de Gestão Ambiental (SGA) a ser implementado em uma empresa que opera no
ramo da metalurgia, por exemplo, possivelmente será muito diferente daquele
desenvolvido em uma empresa que atue no ramo têxtil.

No entanto, apesar dos modelos serem bastante distintos de uma empresa


para outra e independentemente de se basearem na norma ISO 14000, essas
possuem em comum a utilização de um ciclo de melhoria contínua, chamado de
Ciclo PDCA. A origem dessa sigla deriva do inglês nas palavras planejar ou plan
(P), o fazer ou do (D), o checar ou check (C) e a ação ou Action (A). Um aspecto
importante para a implementação de um SGA e o gerenciamento desse sistema
dentro do ambiente corporativo é o estabelecimento de uma política ambiental
dentro da empresa. Veremos a seguir maiores detalhes sobre o ciclo PDCA.

4 O CICLO PDCA
Como foi dito anteriormente, existe um instrumento comum para a
implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) dentro das empresas,
denominado Ciclo PDCA. Este pode ser entendido como uma ferramenta de
gestão e administração de todos os processos e etapas envolvidos para o bom
funcionamento do SGA.

Algo muito importante a ser observado é que o ciclo PDCA pode ser
aplicado em todas as normas de sistemas de gestão e deve ser utilizado (pelo
menos na teoria) em qualquer empresa, de forma a garantir o sucesso nos
negócios, independentemente da área ou departamento.

FONTE: Adaptado de: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAjXsAC/aplicacao-das-


ferramentas-qualidade-ciclo-pdca>. Acesso em: 7 dez. 2012.

E isso não inclui apenas o meio ambiente, mas também a área de vendas,
compras, engenharia e outras. A figura a seguir mostra de forma clara as quatro
etapas de funcionamento do ciclo PDCA, a maneira como as informações permitem
avaliar se os objetivos estão sendo alcançados e o que deve ser consertado para
as etapas seguintes, de forma a permitir a melhoria contínua no sistema, quando
o ciclo reinicia.

89
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

FIGURA 5 - MODELO DE FUNCIONAMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL NO CICLO PDCA


"Act" "Plan"
tome as Planeje a
ações melhoria
adequadas Incorpore o que Determine os
deu certo ao objetivos com
sistema e base em dados
retome e ciclo

Determine
métodos para
Revisar o que atingir os
deu errado? objetivos

Proporcione
educação e
Por que? treinamento

O que deu
certo?
Implemente o
"Check" O que deu trabalho "Do"
Verifique os errado? Execute o
resultados plano
alcançados
FONTE: Disponível em: <http://www.lugli.com.br/2008/02/pdca/>. Acesso em: 20 abr. 2012.

UNI

O ciclo PDCA, ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming, foi introduzido no


Japão por Shewhart na década de 20 e divulgado por Deming, em 1950, que foi quem o
efetivamente aplicou. O ciclo de Deming tem por princípio tornar mais claros e ágeis os
processos envolvidos na execução da gestão, como, por exemplo, na gestão ambiental,
dividindo-a em quatro principais passos, como já vimos.

FONTE: Disponível em: <http://www.datalyzer.com.br/site/suporte/administrador/info/


arquivos/info80/80.html>. Acesso em: 20 fev. 2012.

90
TÓPICO 3 | CONCEITO E FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)

De maneira geral, podemos caracterizar o ciclo PDCA através das


seguintes ações:

• Planejar (plan):
Definir as metas a serem alcançadas.
Definir o método para alcançar as metas propostas.

• Executar (do):
Executar as tarefas exatamente como foi previsto na etapa de planejamento.
Coletar dados que serão utilizados na próxima etapa de verificação do
processo.
Nesta etapa são essenciais a educação e o treinamento no trabalho.

• Verificar, checar (check):


Verificar se o executado está conforme o planejado, ou seja, se a meta foi
alcançada dentro do método definido.
Identificar os desvios na meta ou no método.

• Agir corretivamente (action):


Caso sejam identificados desvios, é necessário definir e implementar soluções
que eliminem as suas causas.
Caso não sejam identificados desvios, é possível realizar um trabalho
preventivo, identificando quais os desvios são passíveis de ocorrer no futuro,
suas causas, soluções etc.

FONTE: Disponível em: <http://www.qualinter.com.br/portal/index.php?option=com_


content&task=view&id=356&Itemid=113>. Acesso em: 7 dez. 2012.

5 ESTABELECIMENTO DE UMA POLÍTICA AMBIENTAL


DENTRO DA EMPRESA
Antes de pensarmos na introdução de um SGA dentro de uma empresa, é
necessário entendermos que muitas dessas corporações seguem modelos tradicionais
de administração e, aos poucos, estão adotando uma conscientização ambiental
por pressão mercadológica. Andrade (2008) descreve basicamente dois modelos de
administração, o tradicional e o de mundo real. As empresas que seguem o modelo
de empresa tradicional são resistentes à aceitação da responsabilidade em relação
ao meio ambiente. A razão desta incapacidade é que esses modelos se baseiam
essencialmente na filosofia de que uma empresa é um conjunto coerente de indivíduos
e grupos com uma única identidade – a da empresa, e um único objetivo - o lucro da
empresa, não importando o que seja necessário para atingir esse objetivo. Já o modelo
do mundo real é aquele que deverá ser realidade para que o nosso presente e futuro
estejam aliados à sustentabilidade.

91
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

Assim sendo, o aparecimento do fator ambiental na vida da empresa


obriga o administrador a considerar a sua competência e os seus objetivos como
uma arbitragem permanente entre os interesses e os objetivos de um grupo
amplo de indivíduos, além daqueles com ligação direta à empresa. São eles: a
comunidade, os fornecedores, os clientes e outras partes interessadas que estão
em constante relacionamento com a empresa.

Esses também são conhecidos como stakeholders, termo inglês que


designa uma pessoa, um grupo ou uma entidade com legítimos interesses nas
ações e no desempenho de uma organização.

FONTE: Disponível em: <http://www.knoow.net/cienceconempr/gestao/stakeholder.htm>.


Acesso em: 7 dez. 2012.

Em relação às dificuldades encontradas para o estabelecimento de uma


política ambiental dentro das empresas, principalmente naquelas que seguem
modelos ultrapassados de administração, Andrade et al. (2002) destacam outros
grandes problemas que podem prejudicar o comprometimento das empresas com
as questões ambientais. O fato é que a visão dessas empresas é extremamente
segmentada e isso leva a conflitos e divergências operacionais que minimizam o
resultado obtido pela implementação de Sistema de Gestão Ambiental.

Os mesmos autores destacam, ainda, um questionamento saudável


que você certamente está fazendo neste momento. O que leva as organizações
a adotarem estratégias empresariais que consideram a questão ambiental e
ecológica? Não seria um mero surto de preocupações passageiras que demandam
medidas com pesado ônus para as empresas que as adotam?

Dados recentes evidenciam que a tendência de preservação ambiental e


ecológica, por parte das organizações, deve continuar de forma permanente e
definitiva e os resultados econômicos passarão a depender, cada vez mais, de
decisões empresariais, evidenciando que:

• Não há conflito entre lucratividade e a questão ambiental.


• O movimento ambientalista cresce em escala mundial.
• Clientes e comunidades em geral passam a valorizar cada vez mais o meio
ambiente.
• A demanda e, portanto, o faturamento das empresas passa a sofrer cada
vez mais pressões e a depender diretamente do comportamento de
consumidores que enfatizarão suas preferências por produtos e organizações
ecologicamente corretos.
FONTE: Disponível em: <http://www.consultores.com.br/artigos.asp?cod_artigo=59>.
Acesso em: 7 dez. 2012.

92
TÓPICO 3 | CONCEITO E FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)

Devemos salientar que a empresa é a única responsável pela adoção


de um SGA e, por conseguinte, de uma política ambiental. Só depois de sua
adoção, o cumprimento e a conformidade devem ser seguidos integralmente,
pois eles adquirem configuração de “sagrados”. No entanto, é preciso dizer
que nenhuma empresa é obrigada a adotar um SGA e/ou Política Ambiental,
porém, se implementado, o que foi estabelecido deve ser cumprido, sob pena
de a organização cair em descrédito no que se refere às questões ambientais.

Em resumo, o SGA pode servir como um instrumento de gestão com


vistas a obter ou assegurar a economia e o uso racional de matérias-primas e
insumos, destacando-se a responsabilidade ambiental da empresa em:

• Orientar consumidores quanto à compatibilidade ambiental dos processos


produtivos e dos seus produtos ou serviços.
• Subsidiar campanhas institucionais da empresa com destaque para a
conservação e a preservação da natureza.
• Servir de material informativo a acionistas, fornecedores e consumidores
para demonstrar o desempenho empresarial na área ambiental.
• Orientar novos investimentos, privilegiando setores com oportunidades em
áreas correlatas.
• Subsidiar procedimentos para a obtenção da certificação ambiental nos
moldes da série de normas ISO 14000.
• Subsidiar a obtenção da rotulagem ambiental de produtos.

Os objetivos e as finalidades inerentes a um gerenciamento ambiental


nas empresas, evidentemente, devem estar em consonância com o conjunto das
atividades empresariais. Portanto, eles não podem e nem devem ser vistos como
elementos isolados, por mais importantes que possam parecer num primeiro
momento. Vale aqui relembrar o trinômio das responsabilidades empresariais:

• Responsabilidade ambiental.
• Responsabilidade econômica.
• Responsabilidade social.

FONTE: Adaptado de: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/sistema_de_gestao_


ambiental/necessidade_e_importancia_da_gestao_ambiental_para_a_empresa.html>.
Acesso em: 7 dez. 2012.

93
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

Ao considerar a gestão ambiental no contexto empresarial, percebemos


de imediato que ela geralmente tem uma importância muito grande, inclusive
estratégica. Isso ocorre porque, dependendo do grau de sensibilidade com o
meio ambiente demonstrado e adotado pela alta administração, já se pode
perceber e antever o potencial que existe para que uma gestão ambiental
possa ser efetivamente implantada. De qualquer modo, estando pouco ou
nada vinculadas às questões ambientais, as empresas que estão praticando
a gestão ambiental ou aquelas que estão em fase de definição de diretrizes e
políticas para iniciarem o seu gerenciamento ambiental devem ter em mente os
princípios e os elementos de um SGA e as principais tarefas e atribuições que
normalmente são exigidas para que seja possível levar a cabo esse processo.

FONTE: Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/artigos07/1359_gestao%20ambiental.pdf>.


Acesso em: 7 dez. 2012.

6 A RESPONSABILIDADE ECOLÓGICA DENTRO DA EMPRESA


Partindo da atual situação de conservação dos nossos recursos naturais e
do fato de que existe a necessidade de implementação, por parte do empresariado,
na configuração de Sistemas de Gestão Ambiental, através da adoção de Políticas
Ambientais internas e externas, devemos nos dar conta de que maneira podemos
atingir todos esses objetivos. No Tópico 2 definimos a estratégia corporativa como
um importante elemento dentro do processo de gestão, de forma que podemos
agora pensar em como esquematizar um plano de ação para alcançarmos os
objetivos em busca da sustentabilidade.

Nenhuma estratégia tem sentido se não for adaptada ao campo de batalha.


De acordo com Andrade (2008), ao fixar as fronteiras da ação da empresa, além
do perímetro econômico-social, a estratégia ecológica obriga o administrador a
estabelecer um mapa do campo em que a ação irá se desenvolver. Neste sentido,
ainda que tenha o lucro como foco, de acordo com os modelos de administração
tradicionais, o sucesso ou não de um novo modelo de administração, voltado mais às
questões ambientais, depende única e exclusivamente das forças internas da empresa.

Levando-se em consideração os setores da empresa, o quadro sinóptico


da estratégia ecológica da empresa apresenta tarefas de gestão ambiental que os
responsáveis terão que assumir. Isso vale, também, para o processo de programar
aos poucos uma Política Ambiental interna, mesmo que no começo tenha razoável
aderência por parte dos colaboradores. Como já vimos, lidamos com modelos de
administração ultrapassados e é através da adoção de um compromisso para com
a questão ambiental que, aos poucos, a empresa passa a vislumbrar resultados
positivos.

94
TÓPICO 3 | CONCEITO E FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)

Poder-se-ia, então, afirmar que a criação de uma estratégia ambiental tem


quatro fases:

• Identificação das prioridades.


• Diagnóstico.
• Planos de ação.
• Síntese.

Na fase de identificação de prioridades, mesmo o empresário bem


intencionado com o ambiente, quando herda uma situação existente ou quando
está imerso em problemas de criação de uma nova atividade, nem sempre é capaz
de dar toda a atenção e tomar decisões em todas as frentes, ao mesmo tempo. Isso
faz com que se faça um levantamento das prioridades e também uma análise dos
pontos fortes e fracos da empresa e a identificação dos campos nos quais devem
ser feitos os maiores esforços para se alcançar êxito. Esta fase deve permitir, ainda,
a criação de um calendário e um orçamento, bem como a relação de assistentes ou
consultores que ficarão encarregados dos planos setoriais.

E
IMPORTANT

O diagnóstico é fundamental para ter-se um raio-x do departamento, do setor


industrial e da empresa.

A partir disso, serão elaborados planos de ação pelos diferentes setores das
empresas e que deverão se complementar, pois em um primeiro momento poderão
parecer contraditórios ou mesmo desconexos, mas com uma administração correta
poderão ser implementados em uma ordem cronológica que os torne coesos.
Como exemplo de propostas a serem executadas, podemos citar o cumprimento
de toda a legislação ambiental pertinente ao setor, a adoção de tecnologias limpas
e a adoção de políticas ambientais que levem em consideração todas as atividades
individuais e coletivas da empresa.

Por fim, a síntese é a concretização das estratégias adotadas. Esta poderá


ser formalizada através de um manual, cartilha ou mesmo um livro, contendo
a estratégia de política ambiental utilizada. O importante é que os objetivos,
problemas e sucessos da empresa, ou seja, os assuntos pertinentes à administração
ambiental, devem ser descritos de forma clara e simples. Com o prosseguimento
dos trabalhos, devem-se gerar relatórios de desempenho a serem apresentados
aos comitês da alta administração, à comunidade, tornando as conquistas
públicas. Essas, por sua vez, não servem para fazer marketing empresarial, e sim
para conquistar maior credibilidade no mercado.

95
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

A seguir conheceremos o conceito de ecoeficiência, que de maneira


simples retrata como uma empresa deve atuar na minimização de desperdícios e
melhor aproveitamento de matérias-primas, assim como na redução de resíduos,
questões estas importantes para a melhora do seu desempenho ambiental.

7 O CONCEITO DE ECOEFICIÊNCIA
O termo ecoeficiência foi introduzido em 1992 pelo WBCSD (World
Business Council  for Sustainable Development), através da publicação de seu livro
Changing Course, sendo endossado pela Conferência do Rio (ECO 92) como
uma forma das organizações implementarem a Agenda 21 no setor privado.
Desde então, tem se tornado um sinônimo da filosofia de gerenciamento que
leva à sustentabilidade, e como foi um conceito definido pelo próprio mundo
dos negócios, está se popularizando muito rapidamente entre os executivos de
todo o mundo.

FONTE: Disponível em: <http://www.agenda21empresarial.com.br/?pg=textos_gerais&id=19>.


Acesso em: 7 dez. 2012.

De forma clara e objetiva, o conceito de ecoeficiência pode ser entendido


como um instrumento que procura aperfeiçoar os processos industriais no sentido
de reduzir o consumo de energia e de insumos e minimizar a geração de resíduos.
Isto inclui a proposição de ações para a disposição final de seus efluentes e
resíduos, reaproveitamento de recursos e identificação de oportunidades dentro
de seus processos, através de um SGA.

E
IMPORTANT

O WBCSD - World Business Council  for Sustainable Development é uma coalizão


de mais de 100 companhias multinacionais que compartilham valores de comprometimento
com o ambiente, princípios de crescimento econômico e desenvolvimento sustentável.
Seus membros representam 34 países e mais de 20 setores industriais e, através de sua rede,
compartilham suas experiências em aplicar o conceito de ecoeficiência, bem como suas
ideias com a comunidade dos negócios no mundo todo.

FONTE: Disponível em: <http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/


C203297.pdf>. Acesso em 8 dez. 2012.

96
TÓPICO 3 | CONCEITO E FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)

NOTA

De acordo com o WBCSD (1992), a ecoeficiência é obtida pela: entrega de bens


e serviços com preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam
qualidade de vida, progressivamente reduzindo impactos ambientais dos bens e serviços
através de todo o ciclo de vida para um nível, no mínimo, em linha com a capacidade
estimada da Terra em suportar.

FONTE: Disponível em: <http://www.agenda21empresarial.com.br/?pg=textos_


gerais&id=19>. Acesso em: 7 dez. 2012

Este conceito descreve uma visão para a produção de bens e serviços


que possuam valor econômico enquanto reduzem os impactos ecológicos da
produção. Em outras palavras, "ecoeficiência significa produzir mais com menos".

FONTE: Disponível em: <http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/C203297.


pdf>. Acesso em: 8 dez. 2012.

Conforme o WBCSD, os sete elementos básicos nas práticas das


companhias que operam de forma ecoeficiente são:

• Redução da intensidade de material utilizado nos bens e serviços.


• Redução da intensidade de energia utilizada nos bens e serviços.
• Redução da dispersão de qualquer tipo de material tóxico.
• Apoio à reciclagem.
• Maximização do uso sustentável dos recursos naturais.
• Extensão da durabilidade dos produtos.
• Aumento do nível de bens e serviços.

97
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

A diminuição dos impactos ambientais, através da redução da entrada


de materiais (recursos naturais, água, ar e energia) por unidade de produção,
transforma-se em um aumento da produtividade. O uso mais produtivo dos
recursos faz as companhias mais competitivas, criando, na prática, uma ligação
entre a liderança ambiental e a viabilidade econômica. Hoje, já existe um esforço
de ampliar a aplicação do conceito da área industrial para as áreas financeira
e florestal.

A ecoeficiência engloba ferramentas, tais como: prevenção da poluição,


redução na fonte, redução de resíduos, minimização de resíduos e produção limpa,
traduzindo a ideia de redução da poluição através de mudanças no processo. Além
disso, a ecoeficiência compartilha algumas características com o emergente conceito
de DFE (Design for Environment), incluindo o projeto do produto entre as opções
tecnológicas existentes para reduzir a intensidade de uso de matéria e energia
na produção e facilitando a reutilização através da refabricação e reciclagem. Ela
também atua a partir de uma perspectiva de ciclo de vida, incluindo, assim, a vida
útil do produto desde a matéria-prima até o descarte.

A ecoeficiência significa que as companhias podem melhorar o seu


desempenho ambiental e economizar dinheiro através da redução do uso de
vários insumos no seu processo produtivo. Algumas organizações já estão
adotando princípios e práticas da ecoeficiência, integrando a excelência
ambiental em sua filosofia corporativa. Assim, têm definido metas para
melhorar o desempenho, ao mesmo tempo em que introduzem sistemas para
auditá-las e medi-las, assumido responsabilidade pelos seus produtos no seu
ciclo de vida completo de um produto; inovando no desenvolvimento de novos
processos e produtos; e dando ênfase na prevenção da poluição, ao invés de
pagar para limpar.

São quatro os fatores de sucesso para as companhias que buscam a


ecoeficiência:

• Ênfase no serviço ao consumidor: focando que tipo de serviços oferecer e


não somente quais produtos oferecer. Assim, as companhias criam novas
oportunidades de entregar aplicações que agregam mais valor (Dow Chemical,
Interface).
• Ênfase na qualidade de vida: o sucesso das companhias no futuro estará cada
vez mais focado nos produtos e serviços que atendam a necessidades reais, e
não aquelas criadas.
• Uma Análise do Ciclo de Vida (ACV): as companhias agregam valor ao seu
negócio, monitorando e avaliando o seu impacto a cada estágio do ciclo de
vida de um produto que é produzido dentro de uma empresa. Uma visão deste
tipo pode levar a desenhar ou redesenhar produtos e processos para minimizar
o impacto ambiental, enquanto se maximiza a eficiência. Podemos encontrar
todos os passos para o seu funcionamento dentro das normas da série ISO
14000, em específico a ISO 14040.

98
TÓPICO 3 | CONCEITO E FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)

• Ecocapacidade: em última instância, a ecoeficiência ajuda as companhias


a fazerem negócios de forma a  adicionar cada vez mais valor, levando em
consideração o que o planeta pode suportar, ou seja, a capacidade da Terra em
receber resíduos e detritos.

FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/2zxULiP>. Acesso em: 8 dez. 2012.

Prezado acadêmico! Vimos nesta unidade de que maneira um Sistema de


Gestão Ambiental pode funcionar e a importância da conscientização de todas as
pessoas envolvidas através da adoção de uma política ambiental adequada. Pode-
se dizer até que esta é a base para que estratégias que assegurem a qualidade
ambiental funcionem.

Posteriormente, tratamos da ecoeficiência, conceito este que permite,


em conjunto com a conscientização ambiental dos funcionários, a redução dos
desperdícios, a otimização do uso das matérias-primas e a minimização dos
resíduos gerados pelas empresas.

99
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você viu:

• Principais conceitos sobre os Sistemas de Gestão Ambiental (SGAs).

• A aplicação de um SGA dentro do ambiente corporativo.

• O SGA como instrumento de avaliação de impacto ambiental.

• O ciclo PDCA como ciclo avaliativo de ações de gerenciamento e avaliação


ambiental.

• A introdução de uma política ambiental nas empresas.

• Conceito de ecoeficiência.

100
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva a questão a seguir.

1 Classifique as afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F):

( ) Definir as metas a serem alcançadas dentro de um ciclo PDCA faz parte da


etapa de planejamento.
( ) Caso sejam encontrados erros de execução, ou mesmo de planejamento,
dentro da etapa de checagem, não será mais possível modificar o ciclo
PDCA, fazendo com que todo o trabalho tenha sido em vão.
( ) Um trabalho de levantamento de informações e dados, que possam
subsidiar a implementação de um Sistema de Gestão, não se faz necessário
para o controle da eficácia desse sistema.
( ) Fazer um trabalho de prevenção através de auditorias é fundamental para
garantir não só o sucesso de funcionamento do Sistema de Gestão, mas
também a segurança das atividades do empreendimento.

101
102
UNIDADE 2
TÓPICO 4

GERENCIAMENTO AMBIENTAL

1 INTRODUÇÃO
Vimos anteriormente os primeiros passos para o início de um maior
comprometimento das empresas com as causas ambientais. A partir de agora,
veremos como um sistema de gestão ambiental pode ser estruturado através das
normas ISO 14000, e que outros aspectos também podem ser contemplados após a
estruturação de um SGA, como a certificação ambiental e a rotulagem ambiental.

Discutiremos também a importância da análise de riscos para evitar que


acidentes ocorrentes em uma empresa gerem considerável impacto negativo para
o meio ambiente e, ainda, que todos esses instrumentos utilizados para controle
ambiental devem ser auditados por instituições credenciadas, de forma a existir a
garantia dos resultados ambientais esperados.

Muito se tem falado sobre os conceitos, o modo de funcionamento através


do ciclo do PDCA e, também, do estabelecimento de uma política ambiental
interna, importantíssima para que a empresa mantenha um controle de todas
as práticas voltadas à conservação do meio ambiente. Vamos, a partir de agora,
tentar entender o funcionamento de um SGA na prática, a partir de um estudo de
caso, que veremos mais adiante.

Começaremos com uma visão geral sobre a implementação do SGA. Uma vez
fixada a noção conceitual preliminar do modelo de gestão ambiental proposto, que
é a compreensão do meio ambiente, sua fragilidade e complexidade, suas variáveis
controláveis e não controláveis, procuram-se estabelecer os conceitos e pressupostos
deste modelo de gestão (ANDRADE, TACHIZAWA; CARVALHO, 2002).

Basicamente, a compreensão inicial da adoção de um determinado modelo


de gestão ambiental (adaptado às características da organização) possibilita o
delineamento das estratégias genéricas a serem aplicadas. Dada a permanente
interação com o meio ambiente e com as decisões da organização, isso subsidia
a formação do modelo de gestão ambiental, do geral para o particular e de fora
para dentro da organização, refletindo os efeitos das alterações ambientais.

103
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

Desta forma pode-se alcançar um modelo de gestão ambiental que


estabelece os elos entre a missão e o efetivo atendimento das expectativas da
empresa que está em processo de implantação do modelo de gestão ambiental.
Esse modelo de gestão ambiental deve incorporar em seus princípios de qualidade
os requisitos determinados pelas normas NBR série ISO 14000, instituídas pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Essas normas serão discutidas
e comentadas com maior profundidade ainda nesta unidade.

Esses instrumentos legais se baseiam em normas internacionais de gestão


ambiental que têm por objetivo prover as organizações com elementos de um
SGA eficaz, passível de integração com outros requisitos de gestão, de forma a
auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos.

FONTE: Adaptado de : < http://www.ebah.com.br/content/ABAAAenr0AE/gestao-ambiental-


apostila-completa>. Acesso em: 8 dez. 2012.

Dessa forma, podemos entender que o processo típico de gestão de uma


organização pode ser entendido aqui, como um conjunto de decisões assumidas,
a fim de obter um equilíbrio dinâmico entre missão, objetivos, meios e atividades,
em um ciclo de começo, meio e fim, podendo ser ajustado continuamente.

Aqui cabe a ressalva de que o EIA e respectivo RIMA já deveriam fazer parte
do processo. Ou seja, a empresa que se preocupa em assumir sua responsabilidade
ambiental, desde o projeto de viabilidade do empreendimento até o início de suas
atividades, já deveria levar em consideração as variáveis ambientais. Desta forma, a
introdução de um SGA seria consequência e não obrigação.

104
TÓPICO 4 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL

FIGURA 6 - SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL, BASEADO NA NORMA ISO 14000,


MAIS ESPECIFICAMENTE A 14001
Melhoria
Contínua
Revisão
Inicial

Revisão Geral
Política
pela Alta
Ambiental
Administração

Verificação e Planejamento
Ações Implementação Ambiental
Corretivas e Operação

• Manutenção e • Estrutura e • Aspectos Ambientais


medição responsabilidade • Requisitos legais
• Não- conformidades, • Treinamento, • Objetivos e metas
ações corretivas e conscientização e • Programa de
preventivas competência gerenciamento
• Registros • Comunicação ambiental
• Aditorias • Documentação
• Controle Operacional
• Preparação para uma
emergência
FONTE: Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br/disserta98/bogo/figura/11.gif>.
Acesso em: 20 fev. 2012.

Já estudamos que um dos principais problemas na adoção de programas


relacionados às questões ambientais é o fato das empresas serem moldadas a
partir de um enfoque tradicional de administração que, muitas vezes, não permite
a adoção de uma política ambiental, ou mesmo, a implementação de um SGA. No
entanto, avanços significativos nesta área vêm sendo alcançados. Para Andrade,
Tachizawa e Carvalho (2002), o que se deve procurar adotar em uma organização
é a visão sistêmica, global e holística, que possibilita visualizar as relações de
causa e efeito, o início, o meio e o fim, ou seja, as inter-relações entre os recursos
captados e os valores por ela obtidos.

105
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

A adoção do enfoque sistêmico permite que a organização analise o


meio ambiente, inserindo-o no campo de ações da empresa, definindo, assim,
o melhor cenário, para que, em longo prazo, os objetivos institucionais e
respectivas estratégias para atingi-los sejam delineados. Com tais processos-
chave identificados, criam-se condições para estabelecer e revisar a configuração
organizacional, os recursos humanos e os demais recursos necessários para o
cumprimento dos objetivos da empresa. Assim, a empresa passa a ser visualizada
como um conjunto de partes em constante interação, independente e funcionando
como um macrossistema aberto que interage com o meio ambiente.

FIGURA 7 - VISÃO SISTÊMICA DE UMA ORGANIZAÇÃO EM FORMATO SIMPLIFICADO

Missão

Modelo de Gestão

Estratégias e Regras de Gestão

Insumos Organização Produtos


FONTE: Andrade, Tachizawa e Carvalho (2002, p. 99)

Precisamos entender que existem estratégias e instrumentos de gestão


que são comuns a todas as instituições. No entanto, algumas dessas estratégias
e outros instrumentos de gestão levam em consideração muito mais do que,
simplesmente, os aspectos técnicos e metodológicos de funcionamento. Muitas
empresas incorporam crenças, valores e estilos de gestão diferenciados,
características particulares de cada organização. Dessa forma, a implementação
do modelo de gestão ambiental em cada empresa deve levar em conta os fatores
subjetivos de cada empreendimento, tais como: cultura, intuição dos gestores,
estilo de gestão do principal dirigente, crenças e valores, entre outros.

Deve-se dar muita importância à atuação dos profissionais ligados à área


de meio ambiente dentro das empresas e ao gerenciamento de crises ambientais.
Sabe-se que muitos problemas e acidentes podem ocorrer nas indústrias e que
atuar preventivamente nessas questões é um ponto fundamental para o sucesso
do controle dos riscos que existem. É o que veremos a seguir.

2 GERENCIAMENTO DE CRISES AMBIENTAIS


Ao iniciar este tópico, precisamos nos dar conta de algumas coisas. Será
que a implementação de um SGA garante a uma empresa controlar todos os
aspectos que, de alguma maneira, estão interligados ao meio ambiente?

106
TÓPICO 4 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL

A resposta é não! Por que não? Vamos imaginar uma empresa com políticas
ambientais corretas e funcionando, com Sistemas de Gestão Ambiental com
resultados expressivos e, ainda, uma empresa certificada por normas técnicas.
Seria fácil pensarmos de que todos os problemas poderiam estar resolvidos.
Porém, precisamos nos dar conta de que podem ocorrer acidentes, não importa
qual o tipo e origem, e que estes são de natureza imprevisível, ou seja, não temos
como controlá-los. Assim, devemos estar preparados para contornar os problemas
dessa categoria.

Para Partidário e Jesus (1999), a análise de riscos consiste em um


instrumento para verificar as possíveis consequências negativas para a sociedade
ocasionadas por atividades humanas ou, ainda, forças da natureza. Para que
uma catástrofe ou problema aconteça, existe uma determinada probabilidade de
ocorrência, que, mesmo sendo muito pequena, não vale a pena correr o risco, não
é mesmo? O mais coerente é atuarmos na prevenção.

DICAS

Atuar preventivamente na ocorrência de problemas, não importando a natureza


deles, é a chave para obtermos sucesso em uma análise de riscos. Veremos, a seguir, como
devemos proceder.

A gestão de riscos é o processo de avaliação e tomada de decisão com base


nas informações obtidas a partir da análise de riscos. Preocupa-se, também, com
a manutenção de medidas preventivas, de modo a manter quase nulas as chances
de ocorrência de algum tipo de acidente.

Além disso, pertencem igualmente ao campo da gestão de riscos o


planejamento de situações de emergência e a manutenção de um esquema
de prontidão para reagir nas situações de perigo. Para tomar suas decisões, o
gestor de riscos, seja um responsável político ou um presidente de uma empresa
qualquer, deve utilizar todas as informações disponíveis, resultantes dos Estudos
de Impacto Ambiental (EIA) e, também, das análises de risco propriamente ditas,
que devem ser feitas pela empresa.

107
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

E
IMPORTANT

Apenas para lembrar! Os Estudos de Impacto Ambiental (EIA), mencionados


anteriormente, são etapas que devem ser cumpridas antes mesmo da fase de instalação de
uma empresa. Esses estudos técnicos possuem valiosas informações sobre a potencialidade de
riscos ao meio ambiente, entre tantas outras, que devem ser utilizadas nas tomadas de decisão
em caso de acidentes, na elaboração de SGAs e planos de prevenção e mitigação. As auditorias,
que veremos a seguir, também podem ser beneficiadas com o uso dessas informações.

De maneira informal, a palavra “risco” exprime algo desagradável que


pode acontecer. Não é certo que venha a acontecer, mas existe uma probabilidade.
Estes dois aspectos devem ser formalizados para que o conceito se torne
operacional, para efeitos analíticos e para os processos de tomada de decisões.
É necessário encontrar uma forma de exprimir as consequências negativas e a
incerteza ou acaso associados a essas consequências negativas.

Não é objetivo deste Caderno de Estudos nos aprofundarmos na análise de


riscos, pois se trata de algo muito complexo e necessitaríamos de uma disciplina
específica para o assunto. Porém, ainda podemos fazer alguns comentários para
que você tenha noção de que não se trata de algo tão simples.

O primeiro é sobre a simplificação dos eventos iniciadores, ou seja,


aqueles responsáveis por iniciar um acidente. Na vida real, esses eventos são mais
complexos. Na verdade, na operação de uma instalação industrial pode haver, e
normalmente há, uma grande variedade de eventos catastróficos. Podemos ter,
para uma única instalação, diversas “árvores” de eventos, uma para cada um dos
eventos iniciadores. O risco desse processo será a soma de somas, isto é, depois
de somarem-se os riscos de todas as consequências de cada árvore, somam-
se os subtotais de todas as árvores. Essa soma final resultará no risco imposto
pela instalação aos trabalhadores, público e ambiente na área de influência do
empreendimento.

UNI

Uma árvore de eventos pode ser entendida basicamente como uma ramificação
em que podemos mapear a chance de um evento qualquer acontecer, assim como todas
suas etapas, ou seja, do início ao fim.

108
TÓPICO 4 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL

Mas risco de quê? Os impactos acidentais podem atingir diretamente a


biota (fauna – incluindo humanos e flora), assim como os elementos artificiais
(construções humanas) e naturais (água, terra, ar e nutrientes no meio) sob sua
influência. Estes impactos podem ser, por exemplo: queimadas (provenientes
da emissão de substâncias inflamáveis); destruições físicas provenientes de
explosões; contaminação por substâncias tóxicas; entre outras.

Também devemos referir-nos à qualificação e à quantificação do risco. O


risco de dano não é apenas um, mas vários. Existem os riscos de extinção de espécies,
perdas populacionais, perda de diversidade genética, degradação dos recursos
naturais, entre outros, que precisam ser categorizados para estudo e avaliação.

Por último, é importante ressaltar uma diferença, em termos de


consequências ambientais, entre os acidentes e a operação normal. De uma
forma geral, os acidentes impõem uma dose aguda, ou seja, um efeito pontual
no tempo, enquanto a operação normal de uma atividade econômica impõe uma
dose crônica, ou seja, uma carga tóxica ou fisicamente danosa de caráter contínuo.

Em geral, um sistema natural pode suportar uma dose aguda (um


evento singular) muito mais alta do que uma crônica (evento do
cotidiano), porque, no primeiro caso, o ambiente terá tempo para se
recuperar dos efeitos, regenerar suas funções e reciclar o tóxico, se
for o caso. Isso ocorrerá se os efeitos acidentais não ultrapassarem
os limites da capacidade de suporte do ecossistema atingido, ou não
consumirem recursos não renováveis. Em se tratando de impacto
ambiental, cada caso é um caso (CUNHA; GUERRA, 2000, p. 248).

Vimos até agora as etapas que compõem um SGA e de que maneira


ele pode ser colocado em prática, através de ciclos contínuos de melhora e
também normas internacionais. Vimos ainda que apesar de um Sistema de
Gestão Ambiental estar funcionando em conformidade com todas as diretrizes
estabelecidas, as operações industriais, de alguma maneira, não são infalíveis, e
que para isso existe a necessidade de lidar com o acaso e que a possibilidade de
acidentes existe. No próximo tópico iremos nos aprofundar mais na ISO 14000,
e vermos os outros instrumentos que podem ser implantados nas empresas
visando à gestão ambiental

3 NORMAS DA SÉRIE ISO 14000


A qualidade nas organizações deve ser entendida como uma filosofia que
embasa o modelo de gestão ambiental proposto aqui, entendido como o conjunto
de decisões exercidas sob os princípios de qualidade ambiental e ecológica
preestabelecidos, com a finalidade de atingir e preservar um equilíbrio dinâmico
entre objetivos, meios e atividades no âmbito das organizações (ANDRADE;
TACHIZAWA; CARVALHO, 2002).

109
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

A filosofia da qualidade ambiental, portanto, não deve ser encarada


como uma mudança com data de início e fim, porém, como um processo
contínuo com intensa participação de todos os níveis da organização, de cima
para baixo, e partindo da cúpula diretiva da empresa, ou seja, da diretoria. A
filosofia, para ser instrumentalizada na prática, deve contar com ferramentas
para dar suporte ao processo de gestão, a partir da definição de missões,
estratégias corporativas, configuração organizacional, recursos humanos,
processos e sistemas.

Assim, como fator para reforçar a importância do emprego desses


elementos, destaca-se o advento da filosofia da qualidade total e certificação
ISO 14000 no âmbito das organizações, fato que provoca, atualmente, um
verdadeiro movimento a caminho da melhoria dos processos e, principalmente,
dos produtos finais gerados, que, por sua vez, buscam selos de qualidade.

As normas da série ISO 14000 que tratam dos Sistemas de Gestão Ambiental
compartilham de princípios comuns estabelecidos em outras normas, como a de
sistemas de qualidade, da série ISO 9000. Enquanto esses sistemas de qualidade
tratam das necessidades dos clientes, os SGAs atendem às necessidades de um
vasto conjunto de partes interessadas e às crescentes demandas da sociedade
sobre as questões relativas à proteção dos recursos naturais.

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009), na ISO 14000,


tais normas especificam os requisitos relativos a um Sistema de Gestão Ambiental
(SGA), permitindo a uma organização formular políticas e objetivos que levem
em conta os requisitos legais e as informações referentes aos impactos ambientais
significativos. Elas se aplicam aos aspectos ambientais que possam ser controlados
pela organização e sobre os quais se presume que elas tenham influência. Em si
elas não prescrevem critérios específicos ao desempenho ambiental.

De maneira geral, as normas da ABNT ISO 14000 se aplicam a qualquer


organização que deseja:

• Implementar, manter e aprimorar um SGA.


• Assegurar sua conformidade com a política ambiental definida.
• Demonstrar tal conformidade a terceiros (clientes).
• Buscar certificação/registro do seu SGA por uma organização externa.
• Realizar uma autoavaliação e emitir autodeclaração de conformidade com as
normas ISO 14000.

O grau de aplicação dessas normas dependerá de inúmeros fatores,


entre eles, o bom funcionamento da política ambiental previamente inserida
no cotidiano e filosofia da empresa, planejamento, implementação e operação,
verificação e ação corretiva e, finalmente, a análise crítica pela administração.

110
TÓPICO 4 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL

Podem, ainda, estar incluídas a natureza das atividades desenvolvidas pela


empresa e as condições em que essa empresa opera. De forma simplificada, a ISO
14000 é organizada em dois blocos, um direcionado para a organização (Sistema
de Gestão Ambiental, avaliação do desempenho ambiental e auditoria ambiental)
e outro para o processo (avaliação do ciclo de vida, rotulagem ambiental e aspectos
ambientais em normas de produtos).

Diversas normas fazem parte da ISO 14000, entre elas a ISO 14001 e 14004.
A primeira tem a finalidade de fornecer às organizações os requisitos básicos
de um sistema de gestão ambiental eficaz. Esta norma é relativamente simples e
caso as empresas já tiverem implementado bons sistemas gerenciais, já estarão
a caminho da conformidade com os requisitos desta norma. Esse SGA deve
incluir todos os requisitos mostrados na norma ISO 14001 e está no documento
de orientação, descrito na norma ISO 14004 como um processo de cinco etapas:

• Compromisso e política - nesta fase, a organização define uma política


ambiental e assegura seu comprometimento com ela.
• Planejamento - a organização formula um plano que satisfaça às políticas.
• Implementação - a organização coloca um plano em ação, fornecendo os
recursos e mecanismos de apoio.
• Medição e avaliação - a organização mede, monitora e avalia seu desempenho
ambiental em relação a objetivos e alvos.
• Análise crítica e melhoria - a organização realiza uma análise crítica e
implementa continuamente melhorias em seu SGAs para alcançar êxito no
desempenho ambiental total.

E
IMPORTANT

As normas da série ISO 14000 constituem várias instruções normativas


referentes à certificação, no que tange aos aspectos ambientais, e cada qual é responsável
por normatizar os diferentes setores e aspectos de uma corporação. Em sua versão
nacional, publicadas através da ABNT, costumam trazer o NBR, seguido do ISO e a sua
respectiva numeração, porém, pouco diferem das adotadas em âmbito internacional. As
mais conhecidas são ISO 14001 e 14004 (implementação e funcionamento dos Sistemas
de Gestão Ambiental, respectivamente), mas devemos ficar atentos às demais, como,
por exemplo, a ISO 14010, 14011 e 14012 (atualmente ISO 19011 e que traz as diretrizes
para auditorias de qualidade de produtos e qualidade ambiental), as ISO 14020, 14021 e
14024 (referentes ao processo de rotulagem ambiental), a ISO 14031 e 14032 (referentes ao
processo de avaliação de desempenho ambiental), as NBR ISO 14040, 14041, 14042, 14043
e 14048, que fazem referência à análise do ciclo de vida de um produto, as ISO TR 14062
(relatório técnico que instrui a normatização de produtos envolvendo o ecodesign), a 14063
(referente à comunicação ambiental) e, por fim, a 14064 (referente aos padrões de controle
do ar e mudanças climáticas (ABNT, 2009)).

111
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

Você deve se perguntar: mas o que é necessário para a implantação de um


Sistema de Gestão Ambiental baseado na ISO 14001? Da mesma forma que na
gestão pela qualidade, é necessário haver uma quebra de paradigma, ou seja, um
processo de mudança comportamental e gerencial na organização, envolvendo
os seguintes itens:

• Comprometimento da alta direção.


• Integração ao planejamento estratégico da empresa.
• Envolvimento de todos os setores e pessoas responsáveis pela sua implementação.
• Reflexão sobre a política ambiental.
• Garantir uma mudança de comportamento.
• Consideração dos recursos humanos, físicos e financeiros necessários.
• Dinamismo e
• Sofrer revisão periódica.

Assim, fica claro que um Sistema de Gestão Ambiental exige uma nova
forma de gerenciar uma empresa, independente do porte e da atividade que
exerça. Como vimos anteriormente, os padrões tradicionais de administração não
são coerentes com o comportamento e estruturas necessários para o sucesso de um
SGA, na realidade do nosso mundo atual. Novas tecnologias de gerenciamento
estão surgindo exatamente para suprir a necessidade de uma gestão mais
inteligente, compatível com as exigências mundiais.

Resumindo, a administração define a política ambiental da organização,


pois esta deve assegurar que seja apropriada à natureza, escala e impactos
ambientais de suas atividades. Também deve ser feita a melhoria contínua do
processo, o cumprimento da legislação, a documentação das atividades e a
divulgação dos resultados, inclusive para os colaboradores. A organização deve,
ainda, estabelecer e manter procedimentos para identificar o potencial e atender
a acidentes e situações de emergência, bem como, para prevenir e mitigar os
impactos negativos que possam estar associados a eles. Deve analisar e revisar,
onde necessário, seus procedimentos de preparação e atendimento a emergências,
em particular, após a ocorrência de acidentes ou situações de emergência. Dentre
as normas estabelecidas pela ISO 14000, a seguir será abordada a auditoria
ambiental, que é a verificação do funcionamento das estratégias ambientais
adotadas dentro de uma corporação.

4 AUDITORIA AMBIENTAL
No âmbito das ciências do ambiente, o termo “auditoria” tem sido
utilizado para referir a quantificação das consequências ambientais dos projetos
de desenvolvimento (por exemplo, a construção de empreendimentos de qualquer
natureza), acompanhada por uma avaliação da eficácia das medidas de gestão
adotadas, a fim de prevenir ou minimizar os efeitos negativos desses projetos
(PARTIDÁRIO; JESUS, 1999). Vale destacar que no Tópico 4 estamos falando de
auditorias internas, aquelas pertinentes à verificação de procedimentos internos

112
TÓPICO 4 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL

de uma empresa que esteja buscando adaptar-se a Sistemas de Gestão Ambiental.


Mais adiante, na Unidade 3, estaremos também falando de auditorias, mas dentro
do contexto de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Ao mesmo tempo em que
o conceito é o mesmo para os diferentes casos, detalhes devem ser ajustados, ou
seja, ambos se complementam.

As auditorias ambientais podem ser consideradas instrumentos recentes


em nosso processo de ordenamento jurídico. Elas constituem uma ferramenta
de controle do Sistema de Gestão Ambiental e, portanto, ocorrem com o
empreendimento em operação. Essas auditorias devem avaliar se as orientações
contidas no SGA estão sendo observadas e se o controle ambiental está sendo
eficiente. (ARAÚJO; VERVUURT, 2005).

Assim, a realização de auditorias pode ser fundamental, principalmente


para empreendimentos potencialmente poluidores. Deve-se, ainda, levar em
consideração, em relatórios desse caráter, os aspectos das condições ambientais
e de saúde dos trabalhadores. Outro ponto fundamental é a periodicidade do
processo de auditoria, que deve estar de acordo com o órgão ambiental local,
responsável pela fiscalização dos empreendimentos que tenham potencial
poluidor e/ou de acordo com as normas da empresa, caso esta tenha implantado
um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), ou, ainda, caso o empreendedor esteja
buscando algum selo de qualidade ou mesmo as certificações do âmbito ISO
14001/004, por exemplo. Isso permitirá, a todos os atores envolvidos, melhor
acompanhamento das questões ambientais nas suas mais variadas formas.

Um dos aspectos mais importantes é a garantia de acesso aos documentos


de auditoria ambiental realizados para as pessoas da sociedade civil. Isso permite,
por exemplo, conhecer os aspectos ambientais dos locais de moradia, segurança
e condições de trabalho. A não realização de auditoria ambiental obrigatória, ou
seja, nos locais onde este instrumento esteja amparado por lei e a negação de
acesso aos documentos, enseja a propositura de ação civil pública ambiental.

O monitoramento de impacto tem uma série de vantagens, como, por


exemplo, levantar variáveis ambientais e sociais relevantes que podem identificar
tendências nocivas, antes de ser tarde demais para minimizar ou prevenir. Assim,
o monitoramento de impacto permite um “alarme preventivo” para eventos
inesperados, não planejados ou indesejados, ou seja, os acidentes. Acidentes são muito
ruins, porém, funcionam como uma força motriz em direção a uma maior segurança
pública e cuidados com o meio ambiente. Assim, os gestores ambientais podem ser
alertados antes que o “estrago” seja feito. Outra vantagem do monitoramento de
impacto é nos fornecer ideias ou somar conhecimento sobre situações semelhantes
em diferentes projetos para que possam ser feitas comparações futuras, em novos
estudos de empreendimentos (CUNHA; GUERRA, 2000).

113
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

DICAS

O monitoramento de todas as variáveis que possam ser consideradas de risco


para um ambiente natural é um componente muito importante das auditorias, pois funciona
através da prevenção.

Podemos dizer que, apesar de todos os programas voltados ao


gerenciamento ambiental dentro de uma organização, ainda assim corremos
riscos e muitas das informações levantadas hoje talvez não sirvam amanhã para
tomarmos alguma decisão. Já vimos que os SGAs funcionam em sistemas cíclicos,
de contínuo melhoramento, e é devido ao fato de existir uma probabilidade
de falha, seja lá qual for, que um grande número de programas de mitigação
e monitoramento são realizados, em uma tentativa de evitar impactos nocivos.
Esses programas são custosos e demandam tempo elevado. Dessa forma,
através de auditorias é possível concluir que alguns dos impactos, previstos em
outros momentos, não ocorreram e que as decisões futuras relativas a projetos
semelhantes talvez não necessitem de medidas de mitigação e/ou programas de
monitoramento já realizados no passado. Maiores detalhes sobre a análise de
riscos em Estudos de Impactos Ambientais, assim como o processo de auditoria,
serão vistos na próxima unidade.

Além da auditoria ambiental, a certificação ambiental ou rotulagem


também está descrita na ISO 14000 e pode ser entendida como instrumentos de
controle ambiental, principalmente no que diz respeito à origem da matéria-
prima, e se esta está de acordo com os princípios de sustentabilidade. É o que
veremos a seguir.

5 CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL OU ROTULAGEM AMBIENTAL


Atualmente, os produtos de mercado tendem a receber maior valoração
se apresentarem estampados em suas embalagens selos com alguma conotação
ecológica. Significa que durante a fabricação deste produto, do início ao fim do
processo, tudo ocorreu dentro de normas ecologicamente corretas. Atualmente,
o fabricante precisa atestar que a exploração da matéria-prima, o processo de
manufatura, a distribuição e, finalmente, a comercialização, tudo esteja alinhado
ao conceito de sustentabilidade. Por sua vez, a certificação ou rotulagem ambiental
é um conjunto de atividades desenvolvidas por um organismo independente da
relação comercial com o fabricante e tem o objetivo de atestar publicamente, por
escrito, que determinado produto, processo ou serviço está em conformidade
com os requisitos especificados, ou seja, com as leis ambientais. Esses requisitos
podem ser nacionais ou internacionais. As atividades de certificação podem
envolver: análise de documentação, auditorias e inspeções na empresa, coleta
e ensaios de produtos no mercado e/ou fábrica com o objetivo de avaliar sua
manutenção. (ARAÚJO; VERVUURT, 2005).
114
TÓPICO 4 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL

Assim, a rotulagem ambiental surge como uma das facetas do processo


pelo qual a proteção do meio ambiente se converte em valor social. Inicialmente
e, principalmente, nos países desenvolvidos, à medida que as empresas
perceberam que as preocupações ambientais podiam se converter em vantagens
mercadológicas para alguns produtos, esta demandou a definição de normas e
diretrizes para a rotulagem ambiental.
FONTE: Adaptado de: < www.paot.org.mx/centro/internacional/comercioeambiente.doc>.
Acesso em: 8 dez. 20012.

Da mesma maneira que nos SGAs, a Organização Internacional de


Normalização (ISO) desenvolveu normas para rotulagem ambiental (MMA,
2002). Rapidamente podemos comentar a respeito de cada uma delas. A do Tipo
I se refere aos clássicos selos verdes; a do Tipo II diz respeito às declarações
efetuadas pelos próprios fornecedores, normalmente os próprios fabricantes, e
o Tipo III consiste no estabelecimento de categorias de parâmetros, a partir de
uma avaliação do ciclo de vida e na divulgação dos dados quantitativos relativos
a esses parâmetros para cada produto.

O processo de certificação não funciona como uma ação isolada e


pontual, mas sim como um processo que se inicia com a conscientização da
necessidade da qualidade para a manutenção da competitividade e consequente
permanência no mercado, passando pela utilização de normas técnicas e pela
difusão de conceito de qualidade por todos os setores da empresa, abrangendo
todos os aspectos operacionais internos e o relacionamento com a sociedade e
o meio ambiente.
FONTE: Disponível em: < http://www.faep.com.br/comissoes/frutas/reuniao06.asp.
Acesso em: 8 dez. 2012.

Um exemplo pode ser mostrado através da utilização de madeira


certificada, ou seja, aquela proveniente de manejo florestal. Outro exemplo é a
empresa de pescados que atesta que os peixes são capturados sem a morte de
outras espécies sem interesse econômico, através do selo Dolphin Safe.

Além disso, é bom que fique claro que, embora a certificação possa
melhorar a imagem da empresa, orientando a decisão de escolha dos clientes e
consumidores, as organizações devem estar conscientes de que essas certificações
representam um patamar intermediário para alcançar a excelência em qualquer
sistema de gestão. A certificação representa o atendimento aos requisitos mínimos
presentes nas normas, porém o fato de uma empresa ser certificada não significa
que o desempenho ambiental dessa empresa esteja acima de outra não certificada.

Como exemplo, podemos citar casos de empresas que estão sendo


investigadas pelo Ministério Público, depois de causarem impactos ambientais
significativos, mesmo tendo seus produtos certificados.

115
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

De acordo com o MMA (2002), existem três objetivos da rotulagem ambiental:

• Proteger o meio ambiente: os programas de rótulos ambientais pretendem


influenciar as decisões dos consumidores, de modo a encorajar a fabricação e o
consumo de produtos menos agressivos ao meio ambiente.
• Encorajar a inovação ambientalmente saudável na indústria: os programas
podem proporcionar o incentivo mercadológico para as empresas introduzirem
tecnologias inovadoras e saudáveis do ponto de vista ambiental.
• Desenvolver a consciência ambiental dos consumidores: por se tratar de um
meio idôneo e confiável para dar visibilidade no mercado aos produtos ou
serviços do ponto de vista ambiental.

Podemos destacar, ainda, que os programas de rotulagem ambiental são,


por definição, voluntários e, na sua maioria, conduzidos por organizações não
governamentais ou ONGs. A generalidade dos programas no mundo conta com
a participação ativa dos governos como seus promotores ou incentivadores. De
fato, proporcionar um instrumento para demonstrar qualidade ambiental para
os mercados de exportação tem sido um dos objetivos enunciados pelos rótulos
ambientais em implantação em diversos países em desenvolvimento. Assim,
esses selos podem ser considerados importantes ferramentas para promover uma
mudança nos padrões de produção, indispensável para os dias de hoje, quando
buscamos o desenvolvimento sustentável (MMA, 2002).

Nesta unidade vimos alguns dos aspectos a serem considerados dentro do


gerenciamento ambiental nas empresas. Claro que todos esses aspectos tornam-se
importantes a partir do momento em que uma empresa manifesta o interesse em
se adequar aos conceitos da sustentabilidade. Tratamos desde a implementação e
o funcionamento de um SGA, o risco de acidentes e suas consequências ao meio
ambiente, a forma de mensurar as informações para que as decisões corretas
possam ser tomadas, além das normas da ISO 14000, a auditoria ambiental e, por
fim, a certificação ambiental.

Deve ficar claro que esses são apenas alguns dos aspectos a serem
contemplados, porém, pode-se dizer que atualmente são os que estão em maior
evidência e, por isso, a necessidade de tentarmos entender um pouco de cada um
desses. Mais uma vez, quando falamos em avaliação de impactos ambientais, a
maior amplitude possível de variáveis deve ser levada em consideração, e todos
esses tópicos citados anteriormente estão incluídos. De maneira simplificada,
vimos que o processo se dá no início, desde a implementação do empreendimento,
passando pelo seu funcionamento e, por fim, a análise do ciclo do produto fabricado.

116
TÓPICO 4 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL

LEITURA COMPLEMENTAR

GESTÃO AMBIENTAL: UMA ESTRATÉGIA PARA A


PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

Neres de Lourdes da Rosa Bitencourt


Eduardo Juan Soriano-Sierra
João Ernesto Escosteguy Castro

1 INTRODUÇÃO

Na atualidade, sabe-se que a forma de uso dos bens públicos, em geral,


e dos recursos hídricos, em particular, em muitas regiões não é adequada.
Como prova concreta desta afirmação basta observar que, em todo o planeta, o
grande volume de água doce existente em lagos e reservatórios está diminuindo
a cada ano. É difícil reverter esse processo, pois o que ocorre na maioria das
vezes é descaso ou investimentos mal direcionados, como se tem observado
pela quantidade de rios que continuam sendo poluídos indiscriminadamente.
Não é raro observar o aumento de ecossistemas desertificados, das secas e da
erosão dos solos, causados pela exploração indiscriminada dos recursos naturais,
com procedimentos predatórios. A busca por uma gestão que leve em conta a
educação ambiental, num processo de mudança de paradigmas, como proposta
para a criação de soluções sustentáveis, deveria ser um dos maiores desafios
a ser enfrentados pelas empresas de economia mista, privadas ou públicas. A
compreensão de que o atual modelo de gestão ambiental não está atendendo aos
objetivos sociais, econômicos e ecológicos, por não proporcionar um envolvimento
harmônico do ser humano com o meio ambiente, consequentemente prolifera
para a inexistência de qualidade de vida.

Daí a importância de um gerenciamento que leve em conta a educação


ambiental para desenvolver uma mudança radical para a conscientização de
todos os atores na esfera das gestões organizadas, públicas ou privadas para
a preservação dos recursos hídricos, pois este deve ser visto como algo finito.
Através da educação ambiental, a sociedade pode ser despertada para preocupar-
se com a má administração do recurso água, tão importante para a vida. Observa-
se que, num sentido global, há uma crença de que a melhor maneira de preservar
o meio ambiente é através da educação ambiental, pois por meio da informação
pode-se garantir uma consciência mais ampla, que pensa de forma global e que
age, também, em cada setor local.

2 RECURSOS HÍDRICOS: A IMPORTÂNCIA DE SUA PRESERVAÇÃO

A água é um recurso fundamental para a sobrevivência do homem e demais


seres que habitam o planeta. “A água doce é elemento essencial ao abastecimento
do consumo humano, ao desenvolvimento de suas atividades industriais e
agrícolas, e de importância vital aos ecossistemas – tanto vegetal como animal

117
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

– das terras emersas.” (REBOUÇAS, 1999, p. 1). Observa-se, então, que por ser
um recurso de grande importância para a sobrevivência de todos os seres vivos,
o homem sempre demonstrou interesse em manter o domínio sobre a água. Para
isso, basta observar as origens de poder sobre seu uso. Desde os primórdios das
civilizações antigas, a posse da água representava um instrumento político de
poder, por exemplo, o controle dos rios, como forma de dominação dos povos, foi
praticado pelas civilizações da Mesopotâmia, aproximadamente quatro mil anos
antes de Cristo. (op. cit., p. 17). No entanto, o homem vem utilizando as reservas
hídricas de forma desordenada, polui com práticas agrícolas perniciosas com o uso
de insumos químicos que alteram a composição da água, como os “neurotóxicos,
carcinogênicos, mutagênicos e teratogênicos” os projetos de irrigação, atividades
extrativistas agressivas, desmatamentos, queimadas, lançamentos de esgotos e
outros resíduos industriais e domésticos que, se não forem tomadas medidas para
atuações de uso da água de forma harmônica com a natureza, a qualidade deste
recurso poderá ficar cada vez mais escassa, podendo afetar a saúde do próprio
ser humano. (op. cit., p. 26). Entre as ações que podem melhorar a qualidade
e a quantidade dos recursos hídricos e também observá-lo como um fator
limitante, segundo Salati et al. (1999, p. 40-41), destacam-se: estudos científicos e
tecnológicos; amplo programa de educação ambiental; aprimoramento contínuo
e constante da legislação (gestão da demanda e da oferta); aprimorar a estrutura
institucional no manejo, utilização e fiscalização dos recursos hídricos; projetos
que envolvam o manejo de recursos hídricos, como: construção de represas,
saneamento básico, fornecimento de água e navegação fluvial, levem em conta as
influências e interações com o meio ambiente e sociedade; evitar a contaminação
das águas; formar recursos humanos; aumentar a cooperação internacional.

Ainda, segundo Tundisi et al. (1999, p. 208), para haver a exploração dos
recursos hídricos deve “haver articulação entre a base de pesquisa e conhecimento
científico acumulado”, bem como, também, as ações de gerenciamento, levando
em conta, além dos recursos hídricos, a “unidade-bacia-hidrográfica-rio-
lago ou reservatório”, Pois segundo o autor, somente assim poderá haver um
gerenciamento efetivo sobre a questão dos recursos hídricos.

3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A consciência ambiental é fundamentalmente importante para todo


e qualquer tipo de desenvolvimento que se queira alcançar, pois ela poderá
significar um mundo melhor, por ser uma das formas mais amplas da relação
harmônica do homem com o seu meio. Neste sentido, a educação ambiental pode
ser vista como um compromisso com todas as esferas da sociedade de forma
geral. Poderá significar a construção de um futuro mais humano, mais igualitário
pelas decisões tomadas no presente, dada a sua importância na transformação das
questões mundiais. Por meio da educação ambiental pode acontecer a legitimação
dos valores éticos, bem como a mudança dos padrões de comportamento na
sociedade, pois se acredita que somente com a mudança de mentalidade surgirá a
transformação da consciência (DIAS, 1994). Dessa forma, a relação ética do homem
com o ambiente é realizada por meio da interação e harmonia, proporcionando,

118
TÓPICO 4 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL

assim, o seu próprio bem-estar. Nesse sentido, diante da necessidade de ensinar,


na busca por um futuro melhor, lembra-se a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), onde foram destacadas
várias recomendações para a Educação Ambiental. Eis algumas questões que
necessitam ser mais exploradas, (op. cit., p. XV): reorientar a educação para o
desenvolvimento sustentável; aumentar/incrementar a conscientização popular;
considerar o analfabetismo ambiental; promover treinamento.

Dias (1994) chama a atenção para a importância do treinamento sobre a


questão ambiental e argumenta que em todos os encontros promovidos em prol da
educação ambiental, esse assunto deve ser sempre enfocado nas discussões em busca
de melhorias. Ainda, sobre as formulações feitas no Fórum Global, está o tratado de
“Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”.
Entre as formulações são destacadas algumas, segundo o autor (op. cit.), em que a
educação ambiental deve: ser direito de todos; ter como base o pensamento crítico,
fomentando a transformação e a construção da sociedade; ter o propósito de formar
cidadãos com consciência local e planetária; ser considerada como um ato político,
baseado em valores para a transformação social; envolver uma perspectiva holística;
desenvolver a solidariedade com estratégias democráticas; abordar as questões
globais críticas, como: população, saúde, paz, direitos humanos, democracia, fome,
e degradação da flora e fauna, numa perspectiva sistêmica; facilitar a cooperação
mútua e equitativa nos processos de decisão; capacitar as pessoas a trabalharem
conflitos de maneira justa e humana; promover a cooperação e o diálogo entre
indivíduos e instituições; e ajudar a desenvolver uma consciência ética sobre todas
as formas de vida.

Pode-se perceber a importância da Educação Ambiental para lidar com as


questões e problemas do ambiente. Sendo que essa deve ser utilizada como um
instrumento para alcançar a sustentabilidade no futuro. Por outro lado, Morim
(2000) chama a atenção na questão do desenvolvimento, pois esse entra em
conflitos com as complexidades existentes no mundo de hoje, já que os atores que
compõem a sociedade são “biológicos, psíquicos, sociais, afetivos e racionais”.
Expõe ainda que “[...] a educação deve promover a ‘inteligência geral’ apta a referir-
se ao complexo, ao contexto, de modo multidimensional e dentro da concepção
global”. O conhecimento não deve permear somente uma esfera do conhecimento
isolado, mas deve atingir as diversas partes que compõem a sociedade dentro
da estrutura global. A educação do futuro deve propor o conhecimento de cada
estrutura, suas partes, mas deve sempre procurar observar o todo. Deve reconhecer
de forma consciente a importância da condição humana situada no universo (op.
cit.). Deve proporcionar o desenvolvimento da compreensão para que realmente
seja manifestada a mudança de consciência em todas as sociedades. Dessa forma,
é necessário concordar que, através da educação ambiental pode-se desenvolver,
por meio da compreensão, mudança de atividades, valores e mentalidades em
prol de soluções sustentáveis em todos os níveis, locais e globais. Acredita-se
que, através da disseminação da educação ambiental, o enfoque de planejamento
participativo e ações que sejam adaptadas a contextos socioculturais e ambientais
específicos podem levar uma gestão ambiental adequada que tenha como meta

119
UNIDADE 2 | AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PARTINDO DO PRINCÍPIO DA EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL

atingir os problemas ambientais numa busca de soluções sustentáveis. Ainda, para


Vieira (1995, p. 72), um dos desafios mais importantes que devem ser abordados
pelas comunidades científicas é a “criação de sistemas de planejamento melhor
articulados ao mundo acadêmico”, bem como promover a criação de meios
adequados às mudanças comportamentais. São questões de “regulação política
que possam introduzir mudanças de percepção, atitudes e comportamento” de
acordo com a compreensão dos fatores que levam o ser humano à degradação
ambiental e através de atitudes que os levem a uma vida harmônica com o meio
ambiente. Com isso, surge o aprendizado de uma nova relação com o meio
ambiente. Nesse aprendizado, por meio de atitudes concretas, os atores podem,
com hábitos, políticas e comportamentos, proporcionar uma melhor qualidade
de vida para todos.

4 SÍNTESE DA SITUAÇÃO ATUAL: COMUNIDADE


& BACIA HIDROGRÁFICA

O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, uma das maiores unidades de


conservação do sul do Brasil, é de grande importância para a manutenção da
biodiversidade. Foi criado em novembro de 1975, com 87.405 hectares de área,
representando quase 1% da área total do Estado de Santa Catarina. Abrange nove
municípios: Águas Mornas, Florianópolis, Garopaba, Imaruí, Palhoça, Paulo
Lopes, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio e São Martinho. Fazendo parte
desta Unidade de Conservação, a bacia hidrográfica do Rio Vargem do Braço (que
é objeto de estudo) encontra-se localizada na comunidade de mesmo nome no
município de Santo Amaro da Imperatriz, na região da Grande Florianópolis. A
região é um ponto estratégico, pela riqueza de fontes de água potável que formam
a bacia. Conforme estudo de caso realizado em 2000, na região de Vargem do
Braço, onde está localizada a bacia hidrográfica, constatou-se que existe a prática
agrícola e, assim, vários tipos de proprietários. Ainda segundo dados fornecidos
pelo IBGE, todo o vale, do qual a comunidade faz parte, consta de 220 domicílios,
com uma população de 839 pessoas.

Apenas uma pequena parte dos agricultores trabalha com agricultura


orgânica, os que têm como meio de subsistência a produção de hortifrutigranjeiros,
correspondendo a um percentual de 30% do total de agricultores da região. Os
demais agricultores fazem uso de agrotóxicos em suas plantações. Enquanto
que os sitiantes de finais de semana são pessoas que moram em outras regiões
e possuem uma propriedade pequena que utilizam nos finais de semana, como
forma de lazer. Segundo a pesquisa de campo, constatou-se que o local, onde a
comunidade vive e organiza suas lavouras, fica localizado na Bacia do rio Vargem
do Braço. Além disso, as lavouras também são realizadas nas proximidades do
rio. Logo, com as chuvas, são levados detritos e agrotóxicos aos cursos de água
da bacia hidrográfica do rio que abastece a população da capital do Estado de
Santa Catarina. Com isso, observa-se que há urgência em se tomar medidas para
a preservação do manancial hidrográfico, no sentido de alertar a população da
comunidade local e também os consumidores da Grande Florianópolis, através
do processo de educação ambiental para a preservação do recurso “água”, que é
tão importante para a vida.

120
TÓPICO 4 | GERENCIAMENTO AMBIENTAL

5 A NECESSIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO DE


GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

Após o conhecimento dos tipos de proprietários da região de Vargem do


Braço, busca-se fornecer subsídios, como, por exemplo, a formação de oficinas na
região com a população local, buscando trabalhar com atores que estão envolvidos
diretamente no processo. Uma das alternativas será a formação de minicursos
capacitando a população local para trabalhar com produtos artesanais, com cultivos
de flores, ou, que todos os agricultores aderem ao cultivo orgânico de produção.
Dessa forma, objetivando trabalhar como paradigma educacional a comunidade
de Vargem do Braço, as questões da agricultura sustentável, na preservação dos
recursos hídricos, através da conscientização dos atores que, no momento atual,
utilizam diretamente os mananciais e dos atores que utilizam este recurso de forma
indireta (a Grande Florianópolis). Estes últimos serão orientados e incentivados para
a compra dos produtos oferecidos em feiras, com folhetos educativos destacando
a região, a importância de sua preservação para toda a população. Buscando
promover a preservação e o uso dos recursos hídricos desde o manancial até o seu
destino final, levando os atores a adquirirem as habilidades necessárias para o seu
uso de forma racional. Dessa forma, será implementada como prioridade na região a
consciência ambiental, levando os cidadãos a comprometerem-se e participarem de
forma ativa na proteção ambiental. Buscar-se-á também estimular a sensibilização
na relação homem-natureza, como proposta para a mudança de comportamento
frente à preservação de ecossistemas com mananciais hídricos. Mediante a análise
em profundidade e detalhamento de todos os aspectos existentes na região, objeto
de estudo, visando à importância da sensibilização das pessoas, integrando-as ao
ecossistema e para que este se recupere. Dessa forma, por meio da educação, poderá
haver contribuição para o planejamento, gestão e gerenciamento ambiental da
bacia hidrográfica do rio Vargem do Braço, o qual também abastece a população da
Grande Florianópolis.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação ambiental pode ser um dos meios mais eficazes para que haja
gestão das questões ambientais de forma adequada. A maioria dos sistemas de
gerenciamento ambiental sobre os recursos hídricos é ineficaz, pois não garante
a preservação desse recurso tão necessário. Há consideráveis inadequações das
práticas de gestão ambiental, como, por exemplo, a falta de consciência dos
cidadãos sobre as questões ambientais, por não haver uma gestão que considera
a educação ambiental como prioritária. Sendo esta capaz não só de informar, mas
também de mudar o estilo de vida. Sendo assim, o presente texto vem contribuir
para a sociedade, no sentido de levar a comunidade de Vargem do Braço a permear
uma reflexão sobre a importância da educação ambiental para melhorar o estilo
de vida atual e preservar os recursos hídricos. O processo a ser implantado levará
as pessoas a uma melhor qualidade de vida, pois a conscientização através da
educação para um ambiente sadio é uma das atitudes que pode proporcionar um
futuro com perspectivas para um desenvolvimento sustentável.

FONTE: Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2001_TR101_0639.pdf>.


Acesso em: 4 dez. 2012.

121
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você viu:

• Gerenciamento de crises ambientais tendo como base a avaliação de dados


referentes às atividades de funcionamento e exploração de um determinado
tipo de empreendimento.

• Conceito de risco ambiental.

• Sistemas de Gestão Ambiental baseados nas Normas ISO 14000 da ABNT.

• Conceitos básicos de auditoria ambiental e sua aplicação para checagem do


funcionamento das atividades das empresas.

• Certificação ambiental.

122
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva a questão a seguir.

1 Situações inesperadas, como acidentes de qualquer natureza, podem


colocar qualquer empreendimento em situações muito delicadas, havendo,
portanto, necessidade de prevenção e controle. Como vimos, é através
de auditorias e da análise de riscos que podemos pensar em quase todas
as possibilidades de problemas. O fato é que, em situações como estas, é
preciso tomar decisões. Com base naquilo que foi visto até agora e com
pesquisa em outras fontes e, também, na internet, destaque cinco fatores
que você considera indispensáveis para um bom tomador de decisões.

123
124
UNIDADE 3

AVALIAÇÃO DE IMPACTO
AMBIENTAL: CONCEITOS,
PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade o acadêmico estará apto:

• fazer uma Avaliação de Impacto Ambiental;

• diagnosticar as principais fases dentro do ciclo do projeto de AIA;

• executar um projeto de meio ambiente;

• descrever os diferentes instrumentos de análise de impactos ambientais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos desenvolvidos.

TÓPICO 1 – AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

TÓPICO 2 – UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE DE RISCOS


NOS ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL

TÓPICO 3 – AUDITORIA AMBIENTAL PRÉVIA E


PÓS-IMPLANTAÇÃO DE OBRAS

125
126
UNIDADE 3
TÓPICO 1

ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS


AMBIENTAIS (AIA)

1 INTRODUÇÃO
Em um contexto atual, sabemos que com o nível de desenvolvimento que
encontramos na sociedade moderna, se não colocarmos e estabelecermos medidas
para um ordenamento e gestão dos nossos ambientes, estaremos comprometendo
a existência de nossa própria espécie. Fala-se em desenvolvimento sustentável,
exploração dos recursos naturais com moderação, aproveitamento de resíduos
e tantos outros termos que muitas vezes nos perguntamos, até onde vamos
chegar se não frearmos ou ao menos controlarmos de maneira eficiente nossos
sistemas de exploração. Para que isso ocorra é necessária uma mudança brusca
de paradigmas que aos poucos se torne padrão em uma sociedade acostumada a
manter níveis insustentáveis de exploração e incapaz de enxergar as consequências
de tal comportamento.

Tanto tem sido discutido e, ao que tudo indica, os conceitos de


“desenvolvimento sustentável” e “ecologicamente correto” estão entrando aos
poucos para o cotidiano de algumas pessoas. É claro que as pessoas sem acesso à
informação devido aos recursos de instrução, ou aquelas que continuam achando
que nossos recursos naturais são infinitos (fruto de uma cultura enraizada há anos),
infelizmente, ainda são a maioria. Assim, espera-se aos poucos que esse cenário se
torne pouco comum, permitindo assim o desenvolvimento adequado para que as
próximas gerações ainda possam desfrutar de condições dignas de existência.

UNI

Prezado acadêmico! A partir de agora você compreenderá a importância da


execução de projetos voltados para a conservação do meio ambiente. Saiba que estes são de
fundamental importância para a utilização racional dos nossos recursos naturais.

127
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

2 METODOLOGIAS PARA EXECUÇÃO DE PROJETOS


AMBIENTAIS
Com pouco mais de 30 anos de existência, a Avaliação de Impactos
Ambientais (AIA) pode ser considerada uma disciplina emergente. No Brasil é um
instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, o que demonstra a crescente
preocupação com a preservação dos recursos e patrimônio naturais. Sendo assim,
levando-se em consideração a importância para o licenciamento ambiental, a Lei
nº 6.938/81, em seu artigo 9º, inciso III, instituiu a Avaliação de Impacto Ambiental
(AIA). Foi constatada a necessidade de que esses estudos fossem sintetizados em
um documento especial denominado de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), como será visto mais adiante (CUNHA;
GUERRA, 2000).

Deve sempre ficar claro que o EIA e o RIMA são estudos prévios, ou seja, são
um instrumento de planejamento de ações futuras para uma empresa que apresenta
elevado potencial poluidor. Eles estão inseridos dentro de um Sistema de Gestão
Ambiental, afinal de contas, este é um dos instrumentos que permite isso. Porém,
agora, em específico, estamos tratando de um estudo que permite a viabilização de
dados, para tomada de decisão, que é a construção ou não de um empreendimento.

Em virtude da maior sensibilização ambiental, novas práticas e


metodologias para a realização e monitoramento do meio ambiente vêm sendo
desenvolvidas. De acordo com Partidário & Jesus (1999), tentativas iniciais de
avaliação de projetos, e que incluíssem algum tipo de comprometimento para
com o meio ambiente, eram frequentemente imperfeitas e limitadas à elaboração
de estudos de viabilidade técnica e também de análises de custo-benefício ou
ACBs. Essas análises, por exemplo, surgiram com o intuito de exprimir todos
os impactos dos custos dos recursos, avaliados em termos monetários. Assim,
projetos de grande porte começaram a causar preocupação. Ou seja, a partir do
momento em que se começou a avaliar o real impacto de um empreendimento
qualquer sobre o meio ambiente, e transformar isso em moeda, é que as pessoas
começaram a perceber o real valor dos nossos recursos naturais.

A partir desse momento, uma nova abordagem de avaliação, que se


tornou conhecida como Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), começou a ser
implementada. É importante notar que atualmente se tenta estabelecer uma
ligação entre a AIA, a ACB e também a avaliação de riscos, a fim de alcançar
todos os objetivos dentro do conceito de desenvolvimento sustentado. Assim, a
AIA passou a ser considerado um importante instrumento de gestão e evoluiu
como um instrumento de avaliação global, através do qual é dado o devido valor
às considerações tanto ambientais, como econômicas e técnicas no processo de
tomada de decisão.

128
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

A AIA consiste em fornecer às pessoas que tomam decisões sobre


determinado processo, um levantamento de implicações das ações propostas
antes que a decisão seja tomada. Os resultados dessa avaliação são incorporados
em um documento que chamamos de Estudo de Impacto Ambiental (EIA),
implementado pela Política Nacional do Meio Ambiente, como já visto.

É importante ressaltar que há diversos instrumentos de gestão ambiental,


e que esses podem ser baseados nos resultados dos estudos de impacto que uma
determinada empresa gera. Podem ser citados aqui, a fim de conhecimento, a
Análise do Ciclo de Vida de um Produto (AVC), avaliação de riscos, auditorias
ambientais, rótulos ambientais, avaliação de desempenho ambiental, entre outros.
Já vimos parte desses instrumentos ao longo dos nossos estudos neste caderno,
ou mesmo em outras disciplinas, mas a ideia aqui é de que o EIA/RIMA não seja
visto como um instrumento isolado dos SGAs, mas, sim, parte do processo.

2.1 ALGUNS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO


A AIA é o ponto central de um EIA, para a qual diversos métodos foram
e continuam sendo desenvolvidos. Um dos métodos mais simples consiste
em listas de verificação ou checklists para avaliar e interpretar os impactos que
poderão ocorrer, caso o projeto de um empreendimento ou obra seja efetivamente
colocado em prática. De acordo com Barbieri (2007), a elaboração da lista consiste
na identificação de características ou indicadores de qualidade ambiental, que
podem ser impactados pelas ações futuras previstas na instalação da empresa.
Aqui se pode imaginar o uso dos recursos naturais; da área de influência; alterações
de paisagem; do regime hídrico; erosão; assoreamento de córregos e mananciais;
ruídos; gerações de efluentes sólidos, líquidos e gasosos; intensificação do tráfego
de veículos na área de influência; valorização ou desvalorização imobiliária;
modificação do estilo de vida da população local, entre outras características.

129
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

FIGURA 8 - A AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PODE SEGUIR POR DOIS CAMINHOS


DISTINTOS, O DO LICENCIAMENTO, COMO VISTO NA UNIDADE I, OU O DA AUDITORIA,
COMO VISTO NA UNIDADE II.

AIA

Legal - Certificação -
Licenciamento ISO 14.000

FONTE: O autor

Há diversos tipos de listas de verificação, sendo que alguns apenas


verificam aspectos relacionados à qualidade ambiental em específico, enquanto
outras, mais completas, além das informações sobre as condições ambientais,
orientam sobre como obter dados, selecionar amostras, repetição de amostragens,
testes estatísticos, bem como medir e interpretar resultados. Algumas empresas
de consultoria ambiental que fazem estudos de impacto, ou mesmo órgãos
ambientais, utilizam essas listas como termos de referência, que fornecem as
diretrizes a serem seguidas.

A facilidade operacional é a principal vantagem desse método. Para


projetos de atividades de caráter repetitivo, podem ser elaboradas listas que
facilitam ainda mais sua aplicação.

Como desvantagem pode-se fornecer uma visão segmentada dos


impactos, já que os itens de verificação da lista são avaliados isoladamente,
dificultando a identificação e a interpretação das interações entre os impactos
decorrentes das ações previstas.

FONTE: Disponível em: <http://cee.uma.pt/hlima/Doc%20Hidraulica/0777HrArtigo_


ImpactesCosteiros.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2012.

Essas listas de verificação, resumidamente, funcionam da seguinte


maneira. Para cada parâmetro mensurado (por exemplo, uma variável que indique
poluição de água, como a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), que indica a
quantidade de matéria orgânica no ambiente aquático), é necessário estimar o seu
impacto ambiental com o projeto e sem o projeto. Assim, para cada parâmetro, no
nosso caso a DBO, atribui-se um valor correspondente ao seu impacto ambiental,
de acordo com a unidade de medida típica do parâmetro em análise.

130
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

Se pegarmos a DBO com medida em miligramas por litro de material


particulado (matéria orgânica), transforma-se esse valor em um número
adimensional em uma escala de 0 a 1 e, posteriormente, multiplica-se esse
número pelo coeficiente de ponderação (peso) desse número, correspondente ao
parâmetro. Assim, o impacto total do projeto será dado pela diferença entre a
soma dos valores ponderados dos parâmetros com e sem o projeto. Essa diferença
é o impacto ambiental líquido resultante do projeto de empreendimento.

Resumindo, uma AIA pode ter dois objetivos distintos, sendo o primeiro
a Análise Ambiental, que objetiva tomar medidas das condições base, ou seja,
caracterizar as alterações no ambiente natural, ou a Avaliação Ambiental, que
visa determinar prioridades, piores impactos, valoração ecológica da área e assim
por diante. Assim, a partir do momento em que se verifica que um determinado
impacto ambiental vai ocorrer, ele precisa ser mitigado ou compensado.

2.2 O CICLO DO PROJETO


Partindo do pressuposto de que o EIA é um instrumento de gestão
ambiental aplicável a projetos de empreendimentos e atividades, para identificar,
avaliar previamente os impactos e antecipar soluções antes da implementação de
uma obra ou empresa, se faz necessário conhecer quais etapas de um projeto de
EIA são as mais importantes.

Projeto é uma palavra de ampla utilização nos ambientes de negócio,


podendo significar qualquer conjunto de atividades com objetivos específicos.
Vale aqui lembrar alguns tópicos estudados neste caderno, mais precisamente na
Unidade 2, que destaca a importância da estratégia para alcançar um determinado
objetivo. É como iremos fazer acontecer algo, o caminho ou metodologia que
iremos aplicar. Pode-se entender o termo como um conjunto de informações
articuladas para auxiliar a tomada de decisão, ou ainda, pode significar o projeto
do próprio empreendimento a ser implantado, com um tempo para ser construído
e um montante financeiro que irá viabilizar a sua construção, por exemplo. Pode
ser ainda um projeto de um determinado produto, serviço ou atividade específica,
como o caso do EIA.

Os projetos são compostos de diversas fases ou ciclos de desenvolvimento,


que dependem do objeto (empreendimento, serviço, atividade específica),
duração, complexidade, processos de decisão e outras questões administrativas e
operacionais. Basicamente podemos encontrar três fases. São elas:

1) Fase de pré-investimento: nesta primeira etapa é feita a identificação de


oportunidades de investimentos e ideias de projetos a serem viabilizados,
assim como um estudo de viabilidade ou seleção preliminar para verificar se é
possível fazer aquilo que está proposto. Existem ainda as etapas de formulação
do projeto, que inclui um estudo de viabilidade técnica, e também o estágio de
decisão e avaliação, em que, com base nas informações preliminares tomadas,
selecionam-se as melhores opções de ideias de projetos disponíveis.
131
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

2) Fase de investimento: esta fase está em consonância com a negociação e contratação


de pessoas, a concepção do projeto final, o estágio de andamento e a construção,
onde de fato se colocam em prática as ideias até então vistas em papel.
3) Fase operacional: nesta etapa desenvolvem-se as diferentes atividades
pensadas por equipes multidisciplinares, cada qual com atribuições específicas.
Importante notar que quanto mais avançamos em determinada ideia que foi
proposta inicialmente, mais difícil torna-se o seu ajuste. Mas sempre precisamos
ter em mente o Ciclo PDCA, um ciclo de avaliação e melhora contínua, como já
foi discutido na Unidade 2. Por isso, mais importante do que o projeto em si, é
a estratégia de como alcançar o objetivo.

Assim, devemos ter uma concepção de projeto ajustável a diferentes


realidades, ou seja, adaptável a qualquer eventualidade. Desta forma, quanto
mais cedo o EIA for realizado, mais fácil será a introdução de modificações que
reduzam ou eliminem os impactos ambientais negativos previamente estudados.
Desse modo, o EIA (projeto do EIA) é um instrumento para prever e avaliar os
impactos negativos de um projeto (construção de um empreendimento) sobre o
ambiente físico, biótico e social e identificar meios e alternativas para evitá-los antes
de implementar a construção ou empreendimento. Ao mesmo tempo em que o
EIA pode ser realizado em qualquer etapa do projeto de implementação de um
determinado empreendimento, até mesmo depois de sua conclusão, deve-se notar
que as medidas decorrentes do Estudo de Impacto Ambiental ficam condicionadas
às decisões já tomadas e executadas, de modo que a localização, a escolha de
equipamentos, os impactos gerados, entre outros aspectos, passam a ser fatos
consumados. Nestes casos, qualquer modificação proposta será muito mais custosa
do que se tivesse sido proposta na fase introdutória do projeto de instalação da
empresa. Mais uma vez, ressaltamos a importância de termos mais de um plano
estratégico para o caso de alguma coisa vir a falhar ao longo do caminho.

Em resumo, o EIA pode ser aplicado em empreendimentos e atividades


existentes e nas diversas fases de um projeto para implantá-los. Esse instrumento dá
a sua melhor contribuição, quando aperfeiçoa o projeto do ponto de vista ambiental,
na medida em que permite realizar escolhas que minimizem as fontes dos impactos
ambientais, antes da sua implementação. E por isso é tão importante que esse estudo
leve em consideração as características do empreendimento ou atividade e também a
sua área de influência direta. A seguir, veremos o EIA em maiores detalhes.

132
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

3 ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E RELATÓRIO DE


IMPACTO AMBIENTAL (EIA/RIMA)
Como já foi visto, é a Lei nº 6.938/81, que institui diversos mecanismos que
visam assegurar a proteção dos nossos recursos naturais. Posteriormente, a Política
Nacional de Meio Ambiente implementou a obrigatoriedade de uma Avaliação
de Impacto Ambiental (AIA), tendo como principal instrumento os Estudos de
Impactos Ambientais (EIA) e os respectivos Relatórios de Impacto Ambiental
(RIMA), regulamentados em 1986 pela Resolução 001/86 e sendo revisada em 1997
pela Resolução 237, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

A AIA pode ser definida como um instrumento de política ambiental,


formado por um conjunto de procedimentos capazes de assegurar que se faça
um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto
de construção de empreendimento, programa, plano ou política de manejo de
recursos naturais), e que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao
público e aos responsáveis pela tomada da decisão, e por eles considerados. Além
disso, os procedimentos devem garantir a adoção das medidas de proteção do meio
ambiente, determinada no caso de decisão da implantação do projeto. De maneira
simplificada, é todo o ciclo de um projeto de Estudo de Impacto Ambiental (EIA).

Dentro da AIA está o EIA/RIMA, que discute impactos benéficos e adversos


considerados relevantes e é um componente da informação total levantada,
servindo para proceder a uma escolha. Este necessita ser executado antes da
implantação de qualquer atividade econômica que afete significativamente o
meio ambiente, como estradas, aterros sanitários ou indústrias, devendo detalhar
os impactos negativos e positivos que possam ocorrer por causa das obras ou
após a instalação do empreendimento, mostrando ainda como evitar os impactos
negativos. Se não for aprovado, o empreendimento não pode ser implantado,
visto que não possui a Licença Ambiental Prévia (LAP).

A participação popular é um dos aspectos mais importantes do EIA. As


pessoas comuns, ou vinculadas a sindicatos, associações, ONGs, universidades,
partidos políticos, Ministério Público etc. têm agora a oportunidade de tomar
conhecimento do conteúdo do EIA e também propor alterações, podendo o órgão
licenciador (IBAMA, por exemplo) levar em consideração os aspectos levantados
e emitir a aprovação ou não do trabalho.

É importante que se compreenda que o EIA se integra ao processo de


licenciamento ambiental. O Estudo Prévio, para ser formalmente válido, necessita
preencher determinados requisitos. A Resolução nº 001/86, do CONAMA, estabelece
que o Estudo de Impacto Ambiental deverá obedecer às seguintes diretrizes gerais:

133
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

I- Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto,


confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto.
II- Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas
fases de implantação e operação das atividades.
III- Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada
pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando,
em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza.
IV- Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em
implantação na área de influência do projeto e sua compatibilidade.

FONTE: Disponível em: < http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html>.


Acesso em: 4 dez. 2012.

Outro ponto que pode ser destacado e que é considerado requisito formal,
é a presença de uma equipe multidisciplinar habilitada, que não dependa direta
ou indiretamente do proponente do projeto e que será responsável tecnicamente
pelos resultados do projeto do EIA (Res. CONAMA 001/86, Art. 7°).

E
IMPORTANT

Uma equipe multidisciplinar é aquela onde encontramos profissionais das mais


diversas áreas de formação, como química, física, biologia, engenharia e meio ambiente,
tendo como objetivo agregar conhecimento sobre um assunto de forma geral e consistente.
Essa característica é muito importante para o desenvolvimento de projetos ambientais.

De acordo com Partidário & Jesus (1999), no EIA devem constar ainda:

I- O impacto ambiental provável da ação proposta.


II- Quaisquer efeitos ambientais adversos que não possam ser evitados, caso a
proposta de empreendimento seja realizada.
III- As alternativas da ação proposta.
IV- Uma descrição da relação entre os usos do ambiente em curto prazo e a
manutenção e aumento da sua produtividade em longo prazo.
V- Quaisquer compromissos irreversíveis e irrecuperáveis relativos aos recursos
necessários para a realização da ação proposta.

134
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

NOTA

Prezado acadêmico! Sugerimos que para aprofundar mais o conteúdo sobre


os assuntos vistos até agora, faça uma pesquisa sobre o tema: “Aumento da consciência
ambiental versus implementação de instrumentos de avaliação de impactos ambientais”.

Voltando à AIA (Análise de Impacto Ambiental), podemos destacar uma


série de instrumentos legais, que visam a sua complementação. Estes estudos ou
planos de gerenciamento e controle podem ser exigidos antes da emissão da LAP
junto ao EIA, e que autoriza a construção do empreendimento, ou posterior a
esta, durante a LAI e LAO como instrumentos compensatórios. São elas:

3.1 ESTUDO AMBIENTAL SIMPLIFICADO (EAS)


O Estudo Ambiental Simplificado (EAS) é um estudo técnico elaborado
por equipe multidisciplinar que oferece elementos para a análise da viabilidade
ambiental de empreendimentos ou atividades consideradas potenciais ou
causadoras de degradação ambiental, porém em um grau menos significativo.

FONTE: Adaptado de: <http://www.trsambiental.com.br/area-de-atuacao.php>.


Acesso em: 8 dez. 2012.

O objetivo de sua apresentação é a obtenção da Licença Ambiental Prévia


– LAP.

O EAS deve abordar estudos da integração dos meios físico, biológico e


socioeconômico, buscando a elaboração de um diagnóstico integrado da área de
influência do empreendimento.

Deve possibilitar a avaliação dos impactos resultantes da implantação


do empreendimento/atividade e a definição das medidas mitigadoras, de
controle ambiental e compensatório, quando couber. De acordo com o porte
do empreendimento, da área de inserção e da capacidade de suporte do meio,
outros estudos deverão ser apresentados, como já foi comentado.

FONTE: Disponível em: <http://creaweb.crea-pr.org.br/IAP/arquivos/PLANO_CONTROLE_


AMBIENTAL_PADRAO.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2012.

135
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

Dependendo da complexidade do empreendimento, poderão ser


solicitadas informações complementares. Caso o EAS não seja suficiente para
avaliar a viabilidade ambiental do objeto do licenciamento, será exigida a
apresentação do Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório de
Impacto Ambiental – EIA e RIMA.

FONTE: Disponível em: <http://www.mqsdobrasil.com.br/novo_site/servicos.php?cd_


submenu=3&nome_submenu=Meio%20Ambiente>. Acesso em: 8 dez. 2012.

DICAS

Veja no link a seguir um modelo de EAS:


<http://www.cetesb.sp.gov.br/licenciamentoo/daia/doc/eas/ficha_cadastral.doc>.

3.2 ESTUDO DE CONFORMIDADE AMBIENTAL (ECA)


O Estudo de Conformidade Ambiental (ECA) é realizado para emissão de licença
ambiental, para fins de regularização compatível com o porte e o potencial
poluidor da atividade/empreendimento, compreendendo, no mínimo:

a) diagnóstico atualizado do ambiente;


b) avaliação dos impactos gerados pela implantação e operação
do empreendimento, incluindo os riscos;
c) medidas de controle, mitigação, compensação e de readequação.

FONTE: Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_


leitura&artigo_id=11375&revista_caderno=5>. Acesso em: 8 dez. 2012.

O nível de abrangência dos estudos constituintes do ECA é proporcional


aos estudos necessários para fins de licenciamento ambiental da atividade no
âmbito da Licença Ambiental Prévia (LAP), Estudo Ambiental Simplificado (EAS),
Relatório Ambiental Simplificado (RAS) e Estudo de Impacto Ambiental (EIA).

3.3 RELATÓRIO AMBIENTAL SIMPLIFICADO (RAS)


Em Plenária Extraordinária ocorrida em 27 jun. 2001, o CONAMA
aprovou resolução que regulamenta o licenciamento simplificado de
empreendimentos do setor elétrico de "baixo impacto ambiental".

136
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

O RAS é aplicável às hipóteses de empreendimentos em que não se


exigirá o Estudo de Impacto Ambiental, tendo o órgão ambiental competente
prazo de 60 dias para emitir a licença prévia. Este instrumento regulamenta o §
3º do artigo 8º da Medida Provisória nº 2.152-2, de 1º de junho de 2001.

De acordo com a resolução, o RAS deverá conter a descrição do projeto, o


diagnóstico ambiental da região afetada, o prognóstico dos impactos ambientais
e sociais, a caracterização ambiental futura da área de influência, medidas
mitigadoras e compensatórias. O RAS servirá de subsídio para que o órgão
competente determine o grau de significância do impacto ambiental, podendo,
durante a análise, exigir estudos complementares ou até mesmo a realização
de Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental,
hipótese em que os estudos já apresentados poderão ser aproveitados.

FONTE: Disponível em: < http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=1124>.


Acesso em: 4 dez. 2012.

3.4 PLANO BÁSICO AMBIENTAL (PBA)


Muitas vezes, durante o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), podem ser
exigidas medidas mitigadoras e/ou compensatórias. Normalmente é composto
pelo detalhamento de programas socioambientais e que podem ser propostos
no Estudo Ambiental Prévio e pelo atendimento das demais exigências do
órgão ambiental responsável e fixado na Licença Ambiental Prévia (LAP).
Sua elaboração deve considerar os princípios da Política Ambiental Nacional,
Estadual e Municipal, além dos procedimentos gerais de um Sistema de
Gestão Ambiental (SGA). É considerado parte integrante do documento
necessário à solicitação da Licença Ambiental de Instalação (LAI) de qualquer
empreendimento.

De maneira geral, podemos destacar dois grandes objetivos dos PBAs:

• detalhar a implementação das medidas mitigadoras e compensatórias


definidas nos estudos ambientais, demais exigências da Licença Ambiental
Prévia - LP, organizando-as em programas socioambientais;
• organizar ações internas para a adequada gestão ambiental da implantação
do empreendimento, estabelecendo procedimentos técnicos e de boas
práticas a serem adotadas para atendimento à legislação ambiental.

Estes podem ser:

• Programa Socioambiental: é um instrumento de planejamento destinado a


organizar a implementação das ações preventivas, corretivas, mitigadoras
e compensatórias de impactos sociais e ambientais; agrega ações relativas a
aspectos ambientais de mesma natureza e às quais se atribua responsabilidades
de execução e fiscalização.

137
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

• Programa de implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA):


organiza a gestão das atividades necessárias a garantir o pleno cumprimento
da legislação ambiental e implementação dos programas socioambientais e
das demais exigências do licenciamento ambiental do empreendimento, até
sua completa implantação. Esse pode permitir ao empreendedor a obtenção
das certificações ISO 14.001 e 14.004.
• Programa de Controle Ambiental da Construção (PCA): programa que
organiza a implementação das ações preventivas, corretivas, mitigadoras e
compensatórias a serem adotadas na execução de serviços de construção; além
de especificações ambientais de caráter geral, estabelece os procedimentos
específicos contemplando as peculiaridades dos componentes do
empreendimento e da região afetada. É elaborado com base no Projeto de
Engenharia e/ou Vistoria Técnica, na legislação ambiental e nas exigências e
recomendações do órgão ambiental.
• Programa de Indenização e Reassentamento de População de Baixa Renda:
programa que organiza as ações destinadas a assegurar a compensação
justa pelo deslocamento compulsório e reabilitação social e econômica de
população afetada diretamente pela implantação do empreendimento de
baixa renda.
• Programa de Compensação Ambiental e Plantio Compensatório: este
programa reúne as ações destinadas a compensar impactos gerais sobre
o ambiente natural, como flora, fauna e demais recursos ambientais e,
em particular, da supressão de vegetação e/ou as intervenções em Áreas
de Preservação Permanente (APP), necessárias para a implantação de
empreendimentos.
• Programa de Interação e Comunicação Social: programa que reúne
atividades destinadas a desenvolver uma adequada interação com a
comunidade diretamente afetada pelo empreendimento, visando evitar e
mitigar impactos sociais, transmitir informações sobre o empreendimento
nas fases de planejamento, construção e operação, assim como receber e
encaminhar reclamações e sugestões sobre o desenvolvimento das atividades
sob a responsabilidade do empreendedor.
• Programa de Investigação e Resgate do Patrimônio Histórico, Cultural e
Arqueológico: programa destinado ao atendimento da legislação referente
à proteção do patrimônio em obras de infraestrutura, que reúne ações de
investigação, proteção e resgate.

O PBA apresentará os seguintes conteúdos condicionados na LAP:

• listagem das exigências, recomendações e condicionantes e um quadro


demonstrativo do atendimento das exigências, apresentando documentos
técnicos que comprovem seu atendimento e indicando os programas
socioambientais com os objetivos e resultados que levarão ao seu atendimento;
• detalhamento dos Programas Socioambientais.

138
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

Dessa forma o PBA abrangerá os programas estabelecidos nos estudos


ambientais prévios conforme a natureza dos impactos socioambientais
identificados, além daqueles que venham a ser exigidos pelo órgão ambiental
responsável.

FONTE: Adaptado de: <ftp://ftp.sp.gov.br/ftpder/normas/gestao_ambiental/IP-DE-S00-004_


Plano_Basico_Ambiental_Licenca_Instalacao.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2012.

A fim de se obter maior agilidade na fase de obtenção da Licença Ambiental


de Instalação (LAI), os procedimentos para a elaboração dos programas ambientais
indicados no EIA devem ser iniciados tão logo o EIA for concluído.

Durante o desenvolvimento dos programas, em alguns casos pode ser


necessário realizar estudos complementares ou novos diagnósticos, visando
suprir ou atualizar as informações disponíveis no EIA. Os resultados obtidos
nesses levantamentos devem ser organizados e arquivados como base de dados do
programa. Alguns exemplos de programas ambientais que podem complementar
um PBA são apresentados a seguir:

1. Controle de Processos Erosivos.


2. Recuperação de Áreas Degradadas.
3. Paisagismo.
4. Recuperação de Passivos Ambientais.
5. Melhoria das Travessias Urbanas.
6. Redução do Desconforto e Acidentes na Fase de Obras.
7. Controle de Material Particulado, Gases e Ruídos.
8. Segurança e Saúde da Mão de Obra.
9. Desapropriação.
10. Reassentamento da População de Baixa Renda.
11. Apoio às Comunidades Indígenas.
12. Proteção ao Patrimônio Artístico, Cultural e Arqueológico.
13. Proteção à Fauna e à Flora.
14. Monitoramento dos Corpos Hídricos.
15. Transporte de Produtos Perigosos.
16. Ordenamento Territorial.
17. Compensação para Unidades de Conservação.
19. Educação Ambiental.
20. Monitoramento Ambiental.
21. Gestão Ambiental.

Dentro dos programas e planos de compensação, alguns órgãos de meio


ambiente incluíram em seus sistemas de licenciamento outros tipos de licenças,
com vistas a adequar esse processo às suas necessidades específicas. No IBAMA,
por exemplo, foi criada a Licença de Pré-Operação para a fase de teste dos
equipamentos de controle de poluição, de curto prazo, concedida de acordo com
as características do projeto.

139
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

DICAS

Acesse os sites dos vários órgãos de meio ambiente, os federais, como


Ministério do Meio Ambiente (MMA), CONAMA e IBAMA, e também as secretarias do seu
Estado e Município. Nesses sites você poderá encontrar preciosas informações.

Quanto a outros documentos técnicos exigidos para obtenção de licença


ambiental, pode-se enumerar:

I. PRAD (Plano de Recuperação de Áreas Degradadas):

Os Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) – NBR 13030,


da Associação Brasileira de Normas Técnicas, são necessários em situações
onde foram constatados graves danos ao meio ambiente, como, por exemplo,
atividades de mineração. Os locais que precisam de remediação podem ter sido
contaminados em virtude de disposição irregular de resíduos, extração mineral
em desacordo com os planos de mineração, desmatamento ilícito, contaminação
de solo e também de lençol freático, assim como outras situações de agravamento
ambiental.

É muito importante saber que o PRAD, na maioria das vezes, será o


projeto que integrará um termo de ajustamento ou ajuste, dentro de um Plano
Básico Ambiental (PBA), sendo esta uma exigência para emissão das licenças
ambientais. Estes projetos são elaborados por uma equipe multidisciplinar de
profissionais habilitados e contêm diagnóstico técnico do problema e da área,
proposta de remediação, orçamento e cronograma de implantação. O PRAD pode
ainda ser feito em zonas de áreas de preservação permanente (APP).

De acordo com a legislação, a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,


regulamentada pelo Decreto nº 99.274/90, que dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, no art. 4º, afirma que a Política Nacional do Meio Ambiente
visará: “[...] obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário
da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”.

Já o Decreto nº 97.632, de 10 de abril de 1989, que dispõe sobre a


regulamentação do art. 2º, inciso VIII, da Lei nº 6.938, determina:

Art. 1º - Os empreendimentos que se destinem à exploração de


recursos minerais deverão, quando da apresentação do Estudo de
Impacto Ambiental - EIA e do Relatório de Impacto Ambiental - RIMA,
submeter à aprovação do órgão ambiental competente um plano de
recuperação de área degradada.

140
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

Em seu art. 2º, o mesmo decreto define o conceito de degradação: “[...]


são considerados como degradação os processos resultantes dos danos ao meio
ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades,
tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais”.

Por fim, em seu art. 3º, o decreto estabelece a finalidade dos PRAD: “A
recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma forma de
utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando
à obtenção de uma estabilidade do meio ambiente”.

Na prática, este e outros instrumentos, também formulados legalmente


(Plano de Controle Ambiental - PCA e respectivo Relatório de Controle Ambiental
- RCA), têm sido mais aplicados no setor de extração mineral. Até porque esse
PCA e RCA são específicos para essa modalidade de exploração (Resolução
CONAMA 09/90 e Resolução CONAMA 10/90).

Todavia, os Planos de Recuperação de Áreas Degradadas também são


importantes instrumentos da gestão ambiental para outros tipos de atividades
antrópicas, sobretudo aquelas que envolvem desmatamentos, terraplanagem,
exploração de jazidas e bota-foras, para lixões e entulhos.

Os levantamentos de passivo ambiental podem ser os instrumentos


que antecedem um PRAD. Um EIA também pode demandar um PRAD na
qualidade de medida mitigadora. O mesmo é válido para um Plano de
Zoneamento Ambiental (PZA) e para um Sistema de Gestão Ambiental (SGA).

FONTE: Disponível em: <http://www.pge.ac.gov.br/siteposgraduacao/gestaoambiental/


materialdeapoio.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2012.

Em qualquer dos casos, os PRAD são muito mais voltados para aspectos
do solo e da vegetação, muito embora possam contemplar também, direta e
indiretamente, a reabilitação ambiental da água, do ar, da fauna e do ser humano.

FONTE: Disponível em: <http://www.natureambiental.com.br/site/prad-plano-de-recuperacao-


de-area-degradada/>. Acesso em: 10 dez. 2012.

A seguir, alguns exemplos de atividades que envolvem um PRAD, de


acordo com a EMBRAPA (2002, apud BRASIL et. al., 2009):

141
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

• inspeção ambiental da área a ser reabilitada;


• documentação fotográfica dos itens de passivo identificados;
• identificação dos processos de transformação ambiental que deram origem
aos itens de passivo identificados;
• caracterização ambiental dos itens de passivo e de seus processos causadores;
• hierarquização dos itens de passivo, em termos de sua representatividade,
assim como de seus processos causadores;
• estabelecimento de medidas corretivas e preventivas para cumprir com as
necessidades de reabilitação ambiental da área;
• orçamentação das medidas.

II. PCA (Plano de Controle Ambiental):

O Plano de Controle Ambiental (Resolução CONAMA 009/90 e 010/90)


trata da exigência da apresentação do Plano de Controle Ambiental (PCA) para
obtenção da Licença Ambiental de Instalação (LAI), para atividades de extração
mineral das classes de I a IX (Decreto-Lei nº 227/67), que conterá os projetos de
minimização dos impactos ambientais avaliados durante a etapa de Licença
Ambiental Prévia (LAP).

Basicamente, reúne, em programas específicos, todas as ações e medidas


minimizadoras, compensatórias e potencializadoras aos impactos ambientais
prognosticados pelo Estudo de Impacto Ambiental – EIA. A sua efetivação se
dá por equipe multidisciplinar composta por profissionais das diferentes áreas
de abrangência, conforme as medidas a serem implementadas.
FONTE: Disponível em: <http://www.jorgeamaro.com.br/impactos.htm>.Acesso em: 10 dez. 2012.

III. PGRS (Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos):

A legislação exige que os grandes geradores, como indústrias,


supermercados e shoppings, façam seu PGRS – Plano de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos, que são procedimentos e técnicas utilizados visando garantir
que os resíduos sejam adequadamente coletados, manuseados, armazenados,
transportados e dispostos, com o mínimo de riscos para os seres humanos e para
o meio ambiente. O desenvolvimento de um Programa de Coleta Seletiva com
ênfase no treinamento de seus funcionários, para garantir a efetiva segregação e
reciclagem dos materiais, é um dos objetivos do Plano de Gerenciamento. Uma
imagem positiva diante de seus clientes, parceiros, funcionários e comunidade
local, com a garantia do cumprimento dos requisitos legais, minimizando os
riscos de multas e punições, são benefícios conquistados através da eficácia do
Gerenciamento de Resíduos Sólidos.
FONTE: Disponível em: <http://www.bbbambiental.com.br/index.php?option=com_
content&view=article&id=41&Itemid=44>. Acesso em: 10 dez. 2012.

142
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

3.5 RESULTADOS DOS ESTUDOS AMBIENTAIS


– PARA QUEM DIVULGAR?
De acordo com Barbieri (2007), denominam-se relatórios ambientais
as comunicações veiculadas por qualquer meio, impresso ou eletrônico, para
divulgar os aspectos ambientais de uma organização ou mesmo de um projeto de
construção de um empreendimento. Como vimos na Unidade 2 deste Caderno
de Estudos, podem ser os resultados da implementação de um Sistema de
Gestão Ambiental, ou mesmo os resultados do EIA, que devem ser expostos a
toda a comunidade da área de abrangência direta do empreendimento. Nesta
fase de divulgação dos resultados é preciso estabelecer para qual finalidade
serão utilizados os resultados obtidos. Deve-se optar pelo aprofundamento dos
estudos? Será que os dados apresentados já podem ser considerados conclusivos
para tomada de decisão?

A figura a seguir nos mostra um resumo esquemático das principais


questões a respeito dos relatórios ambientais, enquanto instrumentos específicos
de gestão ambiental. Na figura, a primeira parte refere-se à origem da demanda
desses relatórios. Será que são demandas obrigatórias por parte dos órgãos
ambientais e leis vigentes ou apenas atos proativos por parte dos colaboradores
e/ou empreendedores? A segunda parte nos mostra para quem divulgar, ou quais
são os destinatários. Em terceiro, quais deveriam ser as questões relatadas, se de
ordem exclusivamente ambientais ou ainda sociais, econômicas, políticas, entre
outras. E por fim, qual é o modelo de relatório a ser apresentado, se deve ser de
um modelo próprio ou um modelo padrão disponibilizado por órgão competente.

QUADRO 3 - PRINCIPAIS QUESTÕES QUE DEVEM SER VERIFICADAS DENTRO DE UMA


ANÁLISE DE IMPACTO AMBIENTAL

Relatórios Ambientais - Resumo


a) obrigação legal
1) Origem da demanda
b) ato voluntário
a) grupos de usuários específicos
2) Destinatários
b) público em geral
a) exclusivamente ambiental
3) Questões Relatadas
b) ambientais, sociais, econômicas
a) próprio
4) Modelo do Relatório b) padronizado
c) combinação dos dois modelos

FONTE: O autor

143
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

A Constituição Federal estabelece que todos têm direito de receber dos


órgãos públicos informações do seu interesse particular ou de interesse coletivo.
Assim, a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas referentes
a um processo de licenciamento ambiental por exemplo, deve tornar-se pública.
Um dos instrumentos da política pública ambiental e que foram instituídos pela
Lei nº 6.938/81 é referente à garantia da prestação de informações relativas ao
meio ambiente por parte das entidades do poder público. Assim, todos os órgãos
do SISNAMA ficam obrigados a permitir o acesso público aos documentos,
expedientes e processos administrativos que tratem da matéria ambiental
e a fornecer todas as informações ambientais que estejam sob a sua guarda,
especialmente sobre:

 qualidade do meio ambiente;


 políticas, planos e programas que dizem respeito a resultados de Estudos
de Impactos Ambientais, monitoramentos feitos em empresas com potencial
poluidor e/ou resultados de auditorias;
 acidentes, situações de riscos ou de emergências ambientais;
 emissões de poluentes, líquidos ou gasosos, assim como a produção de resíduos
sólidos;
 substâncias tóxicas e perigosas;
 diversidade biológica;
 organismos geneticamente modificados.

Outros relatórios ambientais resultam de atos voluntários determinados


por uma postura proativa da empresa em relação ao meio ambiente,
constituindo-se, desse modo, em instrumentos de prestação de contas dos
acordos voluntários privados, unilateral ou bilateral.

FONTE: Disponível em: <http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/N204751.pdf>.


Acesso em: 10 dez. 2012.

Como exemplo, podemos citar aqui acordos previstos na Agenda 21, que
tratam do papel do comércio e da indústria para a promoção do desenvolvimento
sustentável. Assim, essas organizações são estimuladas a informar anualmente
seus resultados ambientais, bem como o uso de energia e recursos naturais.

Obviamente, todas as empresas podem decidir de que forma farão a


divulgação desses resultados. Como visto anteriormente, das normas da ISO
14.000, em especial a 14.001, que define os Sistemas de Gestão Ambiental, todos
os documentos relativos aos significativos impactos causados ao meio ambiente,
assim como as medidas de mitigação, devem ficar arquivados, podendo manter
procedimentos para responder formalmente em caso de solicitação de partes
interessadas e externas ao âmbito dessas empresas, como, por exemplo, um órgão
ambiental de fiscalização ou uma ONG com foco em questões ambientais.

144
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

Deve-se prestar atenção que cada grupo de usuários dessas informações


irá dar atenção a conteúdos mais específicos de acordo com seus interesses. De
maneira geral, os relatórios devem apresentar objetivos bem definidos, assim
como conteúdo claro e de linguagem específica, seguindo o esquema apresentado
na Figura 1. No entanto, o tipo de informação que um órgão ambiental irá utilizar
é diferente daquela de interesse de uma ONG que, por exemplo, pode estar
interessada em questões relativas à capacidade de suporte da Terra.

Por fim, devemos entender que a divulgação voluntária do desempenho


ambiental de uma dada empresa depende de como seus dirigentes vão entender
a responsabilidade social da empresa. Responsabilidade social? Sim, aqui deve
estar claro que dentro do tripé de sustentação do desenvolvimento sustentável,
a face econômica, social e ambiental caminham juntas. Só assim os empresários
poderão entender a grande importância que a AIA tem, não somente pelo viés do
controle ambiental, mas como parte integrante de um todo, ou seja, um enfoque
sistêmico e que faz parte da gestão moderna e integrada.

A concepção de responsabilidade social baseada no atendimento


exclusivo dos interesses dos proprietários ou acionistas da empresa, embora
ainda amplamente praticada, é incompatível com as expectativas da sociedade
de um modo geral e injustificada perante os graves problemas sociais, ambientais
e econômicos do planeta (BARBIERI, 2007).

3.6 MODELOS E DIRETRIZES DE RELATÓRIOS AMBIENTAIS


DE DESEMPENHO E IMPACTO
Falamos na possibilidade de divulgação dos resultados para diferentes tipos
de públicos, e também da estrutura básica necessária a um relatório de desempenho
ambiental ou mesmo de um relatório de impacto ambiental. Mas quais aspectos
devem ser contemplados, ou de maneira esquemática, quais seriam as informações
mais pertinentes? No quadro a seguir são mostrados, de maneira resumida, quais
são os aspectos mais importantes a serem contemplados nesses relatórios:

145
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

QUADRO 4 - PRINCIPAIS INFORMAÇÕES QUE UM RELATÓRIO DE DESEMPENHO OU


DE IMPACTO AMBIENTAL DEVE CONTER, CASO ESSAS INFORMAÇÕES PRECISEM SER
DIVULGADAS A ENTIDADES INTERESSADAS

Perfil da Organização  tamanho da organização;


 número de estabelecimentos;
 países onde opera;
 principais linhas de atividades;
 a natureza dos impactos ambientais
decorrentes das operações da organização.
Política Ambiental  informações sobre a política ambiental
da organização, escopo, aplicabilidade,
objetivos e metas, datas da sua introdução e
ajustes.
Gestão Ambiental  informações sobre os níveis organizacionais
responsáveis pelas políticas e programas
ambientais;
 informar como as políticas ambientais são
implementadas, ressaltando objetivos e
metas.
Liberações Ambientais  emissões atmosféricas, hídricas e resíduos
sólidos;
 objetivos, metas e programas relacionados
com essas emissões;
 informações sobre a utilização de práticas
voluntárias recomendadas por outras
organizações, como por ex. a ISO.
Conservação dos Recursos  conservação dos materiais, tais como
práticas de reuso, reciclagem e compra de
produtos certificados;
 práticas de conservação de energia;
 práticas de conservação de água;
 descrição de ações pertinentes para a
conservação ambiental.
Administração dos Riscos Ambientais  programas de auditorias ambientais e sua
frequência;
 programas de remediação implantados
na fase do planejamento de instalação do
empreendimento;
 programas de emergência, incluindo aqui os
de treinamento, métodos de comunicação,
envolvimento da comunidade local;
 informações sobre os locais onde são
depositados os resíduos perigosos,
indicando as providências para minimizar
os riscos.

FONTE: O autor

146
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

Vale destacar que essa estrutura refere-se ao conteúdo básico que um


relatório deve apresentar e que se aplica a empresas de qualquer tipo e tamanho.
Depois da qualidade das informações e como essas foram registradas, o mais
importante aqui é a transparência. E isso deve ser o objetivo de todas as empresas
que buscam alinhar-se com os princípios da sustentabilidade. Desta forma, uma
empresa que assume suas responsabilidades e divulga seus resultados, não
somente dos impactos causados, mas também das soluções, passa a ser enxergada
com mais credibilidade por todos os envolvidos, ou seja, pela sociedade em geral.

3.7 AS DIRETRIZES DA NORMA ISO 14.063


Esta norma internacional faz parte da família de normas ISO 14.000 e se
destina a auxiliar as organizações a realizar comunicações ambientais internas e
externas por meio de um conjunto de princípios, políticas, diretrizes estratégicas,
atividades relacionadas e exemplos. Não é uma norma para efeito de certificação.
Serve apenas como um guia para empresas de qualquer tamanho e área de
atuação, podendo ter ou não um SGA implantado.

Como descrito nesta normativa, a comunicação ambiental é um processo


de partilhamento das informações, que visa construir confiança, credibilidade e
parcerias, ampliar a consciência ambiental e também como base de dados para
a tomada de decisão. Assim, isso permite uma comunicação direta, contínua e
rápida entre todas as partes interessadas, contribuindo significativamente para a
gestão ambiental como um todo.

4 INSTRUÇÕES NORMATIVAS PARA CONDUÇÃO DOS


ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL
De acordo com Cunha & Guerra (2000), para a elaboração destes estudos,
os respectivos órgãos licenciadores estaduais e/ou o IBAMA estabelecem em
um roteiro, que geralmente é denominado de termo de referência, o conteúdo
necessário ao atendimento do disposto na Resolução CONAMA 001/86 para fins
de licenciamento de projetos.

O Termo de Referência é o instrumento orientador para a elaboração de


qualquer tipo de Estudo Ambiental (EIA/RIMA, PCA, RCA, PRAD, Plano de
Monitoramento e outros).

147
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

Em alguns casos, devido às deficiências infraestruturais e ao reduzido


número de pessoal especializado, o órgão de meio ambiente solicita ao
empreendedor que elabore o Termo de Referência, reservando-se apenas o papel
de julgá-lo e aprová-lo. Em outros casos, com a finalidade de agilizar o processo
de licenciamento ambiental, o empreendedor adianta-se, apresentando já na
solicitação do licenciamento a proposta do Termo de Referência.

O Termo de Referência bem elaborado é um dos passos fundamentais


para que um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) alcance a qualidade esperada.

FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAxpkAF/avaliacao-impacto-


ambiental>. Acesso em: 10 dez. 2012.

Para que se possa atender aos respectivos Termos de Referência, o


empreendedor deverá:

• mediante observância destes documentos, utilizar quaisquer metodologias


de abordagem, desde que de acordo com a literatura nacional e/ou
internacional sobre o assunto;
• submeter à apreciação do órgão licenciador as metodologias gerais e
específicas de trabalho, e a serem aplicadas pela equipe responsável, em
prazo a ser estipulado pelo referido órgão. Além das metodologias, deverão
estar bem claras, também, as interações entre as diversas atividades e o
cronograma físico de execução dos trabalhos;
• apresentar o estudo em duas versões básicas: Integral (EIA – destinada ao
órgão licenciador) e Síntese (RIMA – destinada para consulta popular).

A condução dos estudos deverá ser feita através da abordagem de


conteúdo a ser apresentado a seguir. Este poderá ser acrescido de itens
considerados necessários pelo órgão ambiental, em função de necessidades
específicas do projeto do empreendimento. Apenas para relembrar, os estudos
aqui relacionados compreendem aqueles citados anteriormente, como EIA,
EAS, ECA e PBAs.

FONTE: Disponível em: <http://www.geociencias.ufpb.br/~paulorosa/ARIE_CaboBranco.pdf>.


Acesso em: 10dez. 2012.

Os referidos estudos deverão conter:

148
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

• Dimensionamento do problema a ser estudado: refere-se ao conhecimento


da atividade a ser implantada, em função de suas características locacionais e
tecnológicas, dos recursos financeiros disponíveis para controlar seus efeitos,
do contexto socioeconômico, dos objetivos da política de uso e ocupação do
solo e da legislação em vigor.
• Descrição geral do empreendimento: identificação, objetivos e justificativas
do empreendimento.
• Descrição técnica do empreendimento: detalhamento das tecnologias de
implementação do empreendimento.
• Planos governamentais localizados: deverá ser apresentada uma relação
geral dos planos e programas governamentais que se desenvolvem ou estão
propostos para a região, identificando a ação proposta pelo empreendedor
com os mesmos.
• Áreas de estudo: basicamente as áreas de influência direta e indireta do
empreendimento.
• Diagnóstico ambiental dos meios físico, biótico e socioeconômico:
caracterização detalhada e atualizada da situação ambiental dos sistemas
físico, biológico e socioeconômico das áreas de influência, previamente
delimitadas, antes da implantação do projeto.
• Identificação e avaliação dos impactos ambientais decorrentes da
implantação e operação do projeto: os impactos deverão ser identificados e
avaliados de acordo com as metodologias propostas pela literatura nacional
e internacional, adotadas pela equipe responsável pelos estudos.
• Programas e planos ambientais: deverão constar os programas e planos de
gerenciamento/monitoramento (PBAs e/ou PGRS) voltados para proteção
ambiental e de minimização dos impactos durante todas as etapas de
construção do empreendimento até sua operação.
• Referências bibliográficas: deverá constar toda a bibliografia utilizada na
elaboração dos estudos.
• RIMA: deverá conter todas as informações do EIA, porém de forma sintética
e em linguagem acessível para o acesso popular.

FONTE: Adaptado de: <http://www.geociencias.ufpb.br/~paulorosa/ARIE_CaboBranco.pdf>.


Acesso em: 10 dez. 2012.

ATENCAO

Caro acadêmico, você deve ficar muito atento a todos os detalhes da elaboração
de um projeto na área ambiental. Um trabalho mal planejado é garantia de fracasso e dinheiro
jogado fora.

149
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

Após tomarmos conhecimento sobre praticamente todos os aspectos do


licenciamento de um empreendimento, podemos resumir como se dá o primeiro
contato com o órgão ambiental licenciador. Isso porque, anteriormente, falamos
apenas de termos técnicos e atividades a serem realizadas, mas também é muito
importante que você tenha uma noção básica de como funciona todo o processo.
Em primeiro lugar, o empreendedor fornece ao órgão de meio ambiente todas as
informações sobre o empreendimento e natureza das atividades a serem implantadas,
e preenche, caso ainda não o tenha feito, a ficha do Cadastro Técnico Federal de
Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais.

O órgão ambiental examina a documentação apresentada, consulta a


legislação e os dados disponíveis sobre o local do empreendimento e avalia
a necessidade de elaboração do EIA ou documento semelhante. Se julgar
necessário, realiza vistoria para avaliar a situação ambiental no local proposto
para o empreendimento, decidindo quanto à necessidade de apresentação
de EIA/RIMA e/ou de outros documentos técnicos semelhantes (PCA, RCA,
PRAD). Pode também fazer outras exigências, tais como a apresentação de
projetos, pareceres e relatórios específicos. O pedido de licenciamento pode ser
negado, e se permanecer o interesse do empreendedor, este deverá apresentar
as alterações necessárias no projeto inicial para, então, entrar com novo pedido.

FONTE: Adaptado de: <http://www.hidro.ufcg.edu.br/twiki/pub/Disciplinas/SistemasAmb/AIA.pdf>.


Aceso em: 10 dez. 2012.

4.1 AS MATRIZES DE IMPACTO AMBIENTAL


(MATRIZ DE LEOPOLD)
Falamos em Termos de Referência (TR), que são o nosso norte ou
direcionamento para a condução do EIA, e já é do conhecimento de todos que
quanto mais completo for o nosso TR, melhor será a AIA. Esses termos derivam
dos checklits, que nada mais são do que a listagem dos possíveis impactos gerados
com vistas na tipologia de obra ou empreendimento que se pretende fazer. Mas,
somente colocar em um relatório descritivo quais serão os impactos ambientais
não nos fornece uma ideia da dimensão dos danos. Podemos imaginar uma
série de dados estatísticos fazendo referência a algumas variáveis, no entanto,
se não visualizarmos essas informações em um gráfico ou figura, pouco será
compreendido. E assim funciona a nossa matriz de impactos.

Nada mais é do que colocar o maior número possível de impactos ambientais


gerados pelo empreendimento dentro de cada um dos componentes ambientais
(físico, biológico e socioeconômico). A esses impactos serão atribuídos pesos, de
acordo com a importância que a alteração de uma dessas condições terá sobre o
ambiente. Desta forma, é possível mensurar qual a magnitude do impacto e o que
deverá ser feito para minimizá-lo. Por exemplo, em uma escala de 1 a 10, a extinção de
uma espécie poderia ser considerada algo extremamente danoso, ou seja, valeria 10.

150
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

cuenca-rio-abujao/impacto-ambiental-mineria-cuenca-rio-abujao2.shtml>. Acesso em: 17 dez. 2012.


FONTE: Disponível em: <http://www.monografias.com/trabajos89/impacto-ambiental-mineria-
RESULTADOS
CONSTRUCCION OPERACIÓN AMBIENTALES
ACCIONES
Construccion de pozas de extraccioony

Preparacion de los equipos y materiales

Llenado de las pozas de amacenamiento

arenoso

Deposicion del material de arena y

Chispeado del material utilizando agua

Tamizado del material obteniendo

Fundicion del mineral para liberar el


Amalgamacion utilizando Mercurio
Transporte equipos, materiales

Eliminacion de residuos defunicion


COMPONENTE AMBIENTAL

insumos e utilizar en la extraccion

Descarga de los efluentes líquidos


Requerimienton de mano de obra

Construccion del campamento

Transporte del oro al mercado


particulas finas de arna y ono
de almanecimiento de aguas

material

mercurio en retortas (gases)


CATEGORIA

utilizando agua a presion


Preparacion de caminos
QUADRO 5 - EXEMPLO DE UMA MATRIZ DE LEOPOLD

Roza de lavegetacion

Lavado del material


de

Valores Negativos

Total de impactos
Valores Positivos
Extraccion
e insumos

a presion
de agua

grava

Impacto
PARAMENTROS
Rel A B C D E F G H I J K L M N O P Q R
Calidad del aire a -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -9 -9 9
Aire

Ruidos y Vibraciones b -1 -1 -1 -1 -1 -1 -6 -6 6
Fisiografia/Geomorfologia c -1 -1 -1 -1 -4 -4 4
Suelo
FISICO

Calidad del suelo d -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -12 -12 12


Calidad de uso e -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -10 -10 10
Calidad del agua superficial f -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -11 -11 11
Água

151
Calidad del agua Subterranea g -1 -1 -1 -1 -1 -5 -5 5
Disminucion del recurso Hidrico h -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -9 -9 9
Diversidad y abundancia de especies i -1 -1 -1 -1 -1 -1 -6 -6 6
Flora
BIOLOGICO

A iteracion del habitat j -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -9 -9 9


Especies protegidas y en peligro k -1 -1 -1 -1 -1 -5 -5 5
Diversidad y abundancia de especie l -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -7 -7 7
Fauna

Especies terrestres, acuaticas y aves m -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -8 -8 8


Especies protegidas y en peligro n -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -8 -8 8
Generacion de empleo o 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 18 18 18
Economi
SOCIOECONOMICO

Cambio en el valor de la tierra p -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -8 -8 8


co

Incremento de impuesto q 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 12 12 12
Incremento del indice demografico r 1 1 1 1
Educación s -1 -1 -1 -1 -4 -4 4
Social

Salud t -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -10 -10 10


Modo de vida v -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -8 -8 8
Estetico / Paisajistico w -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -8 -8 8
Impacto 2 -4 -13 -10 -7 1 1 -2 -14 -3 -4 -5 -1 -14 -15 -14 -15 1 -116
RESULTADOS DE Valores Positivos 3 1 2 2 2 2 1 1 2 2 1 1 1 2 2 2 2 2 31
ACCIONES Valores Negativos -1 -5 -15 -12 -9 -1 0 -3 -16 -5 -5 -6 -2 -16 -17 -16 -17 -1 -147
Total de Impactos 4 6 17 14 11 3 1 4 18 7 6 7 3 18 19 18 19 3 178
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

Existe ainda a necessidade de se avaliar o impacto ambiental, dentro


dos componentes ambientais, de acordo com o andamento das obras e após o
empreendimento entrar em fase de funcionamento. Neste sentido é preciso
saber qual a origem, o desencadeamento, a frequência, a reversibilidade,
duração, importância e perdas ou benefícios gerados. Pode-se gerar uma tabela,
como no exemplo a seguir, e listar essas características. Posteriormente, esses
parâmetros podem ser utilizados para compor a matriz de impactos de Leopold,
principalmente na hora de atribuirmos o peso dos impactos. Naturalmente, os
pesos atribuídos podem ser subjetivos, no entanto, com a compreensão dessas
informações, pode ser mensurada a real magnitude do impacto.

152
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

QUADRO 6 - EXEMPLO DE TABELA PARA MAGNIFICAÇÃO DOS IMPACTOS GERADOS PARA PONDERAÇÃO DOS PESOS
ATRIBUÍDOS DENTRO DA MATRIZ DE LEOPOLD
FREQUÊNCIA OU EXTENSÃO MAGNITUDE BÔNUS/
IMPACTOS SENTIDO ORIGEM DESENCADEAMENTO REVERSIBILIDADE DURAÇÃO IMPORTÂNCIA
TEMPORARIDADE ESPACIAL (ESCALA) BENEFÍCIOS
Retirada do
Mangue
perda da
_ direta imediata contínua extensiva irreversível 9 importante socializado
biodiversidade
perda de
_ direta imediata contínua pontual irreversível 9 importante socializado
hábitat

153
perda de
10 a 50
matéria _ direta imediata descontínua pontual reversível 4 importante socializado
anos
organica
perda de
_ direta imediata contínua extensiva irreversível 10 importante socializado
berçários
alterações no
ciclo de _ indireta diferenciada descontínua extensiva reversível 1 a 10 anos 5 importante socializado
energia
alterações no
ciclo _ indireta diferenciada descontínua extensiva reversível 1 a 10 anos 5 importante socializado
biogeoquímico
FONTE: Disponível em: <http://www.monografias.com/trabajos89/impacto-ambiental-mineria-cuenca-rio-abujao/impacto-ambiental-mineria-cuenca-rio-
abujao2.shtml>. Acesso em: 17 dez. 2012.
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

5 EXIGÊNCIAS LEGAIS DE UM ESTUDO


DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA)
O Estudo de Impacto Ambiental – EIA é uma espécie de estudo ambiental
exigido sempre que a atividade ou empreendimento for capaz de causar
significativo impacto ambiental. Contendo as conclusões do EIA, ter-se-á o
Relatório de Impacto Ambiental – RIMA.

5.1 EXIGÊNCIAS LEGAIS E MÉTODOS DE AVALIAÇÃO


O EIA será exigido, nos termos da Resolução 237/97 do CONAMA, quando a
atividade ou empreendimento for capaz de causar significativo impacto ambiental:

Art. 3º - A licença ambiental para empreendimentos e atividades


consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação
do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório
de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade,
garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com
a regulamentação.

Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a


atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa
degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao
respectivo processo de licenciamento.

FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html>.


Acesso em: 4 dez. 2012.

Seu conceito legal está na Resolução nº 001/86 do CONAMA:

Art. 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental


qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I- a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


II- as atividades sociais e econômicas;
III- a biota;
IV- as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V- a qualidade dos recursos ambientais.

FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html>.


Acesso em: 4 dez. 2012.

154
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

Além das atividades que deverão ser licenciadas pelo órgão federal, as
seguintes atividades modificadoras do meio ambiente deverão ter o licenciamento
precedido de EIA/RIMA:

I- estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;


II- ferrovias;
III- portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
IV- aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº
32, de 18.11.66;
V- oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de
esgotos sanitários;
VI- linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;
VII- obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem
para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação,
abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de
cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias,
diques;
VIII- extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
IX- extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de
Mineração;
X- aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou
perigosos;
XI- usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia
primária, acima de 10MW;
XII- complexo e unidades industriais e agroindustriais (petroquímicos,
siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo
de recursos hídricos);
XIII- distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;
XIV- exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100
hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos
percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;
XV- projetos urbanísticos, acima de 100 ha. ou em áreas consideradas de
relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais
e estaduais competentes;
XVI- qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a
dez toneladas por dia.

FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html >.


Acesso em: 4 dez. 2012.

Canotilho & Leite (2007, p. 33) comentam sobre o EIA: “Cabe ao poder
público exigi-lo, na forma da lei, com o objetivo de avaliar a dimensão das possíveis
alterações que determinado empreendimento poderá causar ao meio ambiente.”

O EIA, em sua confecção, deve obedecer algumas diretrizes (Res.


CONAMA 001/86, Art. 5º):

155
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

I- Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto,


confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto.
II- Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas
fases de implantação e operação da atividade.
III- Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada
pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando,
em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza.
IV- Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em
implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.
FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html >.
Acesso em: 4 dez. 2012.

Conforme Res. CONAMA 001/86, Art. 6º e 7°, ainda deverá ele desenvolver
algumas atividades técnicas básicas, como:

I- um diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, completa


descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como
existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da
implantação do projeto, considerando:
a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos
minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o
regime hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando as
espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico,
raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente;
c) o meio socioeconômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a
socioeconomia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos
e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade
local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.
II- análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através
de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos
prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos
(benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos,
temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades
cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais;
III- definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os
equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando
a eficiência de cada uma delas e;
IV- de acompanhamento e monitoramento (os impactos positivos e negativos,
indicando os fatores e parâmetros a serem considerados).

Ele deve ser realizado por uma equipe habilitada e multidisciplinar,


arcando com os custos o interessado no projeto, respondendo pelo resultado
do EIA/RIMA.
FONTE: Disponível em: < http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html >.
Acesso em: 4 dez. 2012.

156
TÓPICO 1 | ORIGEM DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA)

O RIMA conterá as conclusões do EIA e deverá apresentar como elementos


básicos (Res. CONAMA 001/86, art. 9º):

I- os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com


as políticas setoriais, planos e programas governamentais;
II- a descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,
especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação, a
área de influência, as matérias-primas e mão de obra, as fontes de energia,
os processos e técnicas operacionais, os prováveis efluentes, emissões,
resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados;
III- a síntese dos resultados dos estudos de diagnóstico ambiental da área de
influência do projeto;
IV- a descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação
da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de
tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e
critérios adotados para sua identificação, quantificação e interpretação;
V- a caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,
comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas
alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização;
VI- a descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em
relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam
ser evitados, e o grau de alteração esperado;
VII- o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
VIII- recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e
comentários de ordem geral).

Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e


adequada à sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem
acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de
comunicação visual, de modo que se possa entender as vantagens e desvantagens
do projeto, bem como todas as consequências ambientais de sua implementação.

FONTE: Disponível em: < http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html >.


Acesso em: 4 dez. 2012.

6 O EIA COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA


Nos Estados Unidos, a Lei National Environnmental Policy Act, do ano de
1969, pode ser considerada a primeira lei no mundo que instituiu a obrigatoriedade
dos Estudos de Impactos Ambientais (EIA), enquanto instrumento de política
pública. Esta passou a exigir que toda proposta legislativa ou qualquer ação
federal importante que possa afetar a qualidade do meio ambiente inclua uma
declaração de impacto ambiental, informando, entre outros aspectos, quais são
os impactos decorrentes das ações propostas.

157
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

A partir dessa medida, países em desenvolvimento passaram a ter que


se ajustar, seguindo esse modelo. Bancos e outros órgãos de financiamento
passaram a exigir o EIA para a concessão dos empréstimos para a construção de
portos, ferrovias, rodovias e assim por diante. Assim, o EIA deveria ser entendido
como um processo formal, tanto para quem o faz, o empreendedor, quanto para o
poder público que o exige e toma as decisões baseadas em seus resultados. Como
instrumento de gestão ambiental, o EIA é importante não só para o país, a região
e o município, mas também para o próprio proponente do projeto, que pode ser,
inclusive, uma entidade do próprio poder público.

Desta forma, o EIA passa a orientar as decisões quanto à aprovação ou


não de um projeto de construção, por exemplo, enquanto que para o proponente
permite alterações que possam minimizar os impactos causados e também
alterações diversas, como a proposição de medidas de mitigação. Como já
visto, no Brasil o EIA é condição necessária para a continuidade do processo de
licenciamento ambiental.

158
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico você viu que:

• A Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) é o principal instrumento de gestão


ambiental da Política Nacional do Meio Ambiente.

• Um componente muito importante de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA)


é a participação de uma equipe multidisciplinar.

• A principal característica do RIMA é a linguagem acessível para a efetiva


participação popular.

• Os órgãos ambientais no Brasil estão estruturados na seguinte ordem


hierárquica (órgão superior, órgão consultivo e deliberativo, central, executor,
seccionais e locais), cada qual com atribuições específicas.

• O EIA pode ser dispensado apenas quando for diagnosticado que o tamanho e
potencial poluidor de um empreendimento seja pequeno. Neste caso, pode ser
exigido apenas um Estudo Ambiental Simplificado (EAS).

• Outras atividades complementam o EIA, como os Planos Básicos Ambientais


(PBA).

• O EIA é exigido sempre que a atividade ou empreendimento for capaz de


causar significativo impacto ambiental.

• O EIA não pode ser realizado de qualquer forma, possuindo diretrizes a serem
seguidas, e deve desenvolver algumas atividades técnicas básicas.

159
AUTOATIVIDADE

Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões que


seguem:

1 Defina estudo de impacto ambiental (EIA).

2 Diga quando é exigido.

3 O EIA é o único tipo de estudo ambiental a ser realizado no licenciamento


ambiental?

4 Quais as atividades técnicas básicas que devem ser desenvolvidas?

5 Com base no que foi estudado anteriormente, você é capaz de fazer um


esboço de um projeto de Estudo Ambiental Simplificado (EAS). Avalie na
sua cidade ou região um empreendimento que tenha potencial poluidor e
escreva quais avaliações e estudos deveriam ser feitos para a aquisição de
informação necessária na elaboração de um EAS. Ou seja, você deverá chegar
até os TRs, ou Termos de Referência específicos para uma determinada
empresa, e definir, em teoria, uma equipe multidisciplinar que conseguiria
executar o projeto. Mãos à obra!

160
UNIDADE 3
TÓPICO 2

A UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE DE RISCOS


NOS ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL

1 INTRODUÇÃO
Para Partidário & Jesus (1999), a análise de riscos consiste em uma
metodologia para analisar as possíveis consequências negativas para a sociedade
que podem ser provocadas por atividades humanas ou, ainda, forças da
natureza. Para que uma catástrofe ou problema ocorra, existe uma determinada
probabilidade de ocorrência. A probabilidade de ocorrência de acidentes em
larga escala é, em certas atividades, muito reduzida. No entanto, somente pelo
fato dessa probabilidade ser reduzida, será que devemos realmente correr o
risco? O mais coerente é atuar na prevenção. E, claro, muitas vezes, não podemos
abster-nos de certas atividades industriais que trazem muitos benefícios sociais
e econômicos para a sociedade, somente porque essas indústrias podem causar
algum impacto negativo.

Embora a análise de riscos possa ser aplicada às consequências negativas


resultantes da ação de forças da natureza (enchentes, furacões, terremotos e
outros), neste tópico iremos abordar somente alguns dos riscos provenientes das
atividades humanas.

E
IMPORTANT

Atuar preventivamente na ocorrência de problemas, não importando a natureza


deste, é a chave para obtermos sucesso em uma análise de riscos. Veremos a seguir como
devemos proceder!

161
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

2 GESTÃO DE RISCOS
A gestão de riscos é processo de avaliação e tomada de decisão com base
nas informações obtidas a partir da análise de riscos. Preocupa-se também com a
manutenção de medidas preventivas, de modo a manter as chances de ocorrência
de algum tipo de acidente quase nulas. Além disso, pertencem igualmente ao
campo da gestão de riscos o planejamento de situações de emergências e a
manutenção de um esquema de prontidão para reagir nas situações de perigo.
Para tomar suas decisões, o gestor de riscos, seja um responsável político, ou
um presidente de uma empresa qualquer, deve utilizar todas as informações
disponíveis resultantes dos Estudos de Impactos Ambientais (EIAs) e também
das análises de risco propriamente ditas.

A Análise de Risco, como suporte ao licenciamento ambiental, é aplicada


às empresas que produzem, operam, armazenam, consomem, geram ou
transportam, em quantidade expressiva, substâncias perigosas, especialmente
as tóxicas e as inflamáveis, provenientes das seguintes atividades:

• químicas e farmacêuticas;
• do petróleo e petroquímicas;
• do gás;
• dotadas de sistemas de refrigeração (alimentícias, de bebidas, frigoríficos etc.);
• de produção de água tratada;
• de transporte por oleodutos e gasodutos;
• usinas termelétricas a gás.

FONTE: Disponível em: <http://www.inea.rj.gov.br/fma/analise-risco.asp>.


Acesso em: 10 dez. 2012.

NOTA

Prezado acadêmico! Vamos pensar um pouco? Até agora relatamos sobre


a grande importância de uma análise de riscos. Você acha que esse mecanismo é um
componente tão importante dentro de um EIA? O que poderia ser previsto em termos de
danos ao meio ambiente?

162
TÓPICO 2 | A UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE DE RISCOS

Dependendo dos impactos que essas atividades podem causar à


população e ao meio ambiente, há dois tipos de planos: Plano de Contingência
e Plano de Ação para Emergência. O primeiro detalha a ação conjunta dos
órgãos públicos e empresas privadas em caso de emergência de grande porte.
O segundo é exigido das atividades cujo nível de risco, definido pela Análise
de Risco, seja igual a 3 ou 4, e nesse é detalhada a ação interna de uma empresa
em caso de emergência.

FONTE: Disponível em: <http://www.inea.rj.gov.br/fma/analise-risco.asp>.


Acesso em: 10 dez. 2012.

2.1 O CONCEITO DE RISCO


De maneira informal, a palavra “risco” exprime algo de desagradável que
pode acontecer. Não é certo que venha a acontecer, mas existe uma probabilidade
de tal se verificar. Estes dois aspectos devem ser formalizados para que o conceito
se torne operacional para efeitos analíticos e para os processos de tomada de
decisões. É necessário encontrar uma forma de exprimir as consequências
negativas e a incerteza ou acaso associados a essas consequências negativas.

No domínio da segurança industrial, o conceito de risco é geralmente tornado


operacional sob a forma de uma combinação de uma medida de consequências de
certos acidentes e das probabilidades associadas a tais consequências.

E
IMPORTANT

A história da teoria das probabilidades teve início com os jogos de cartas, dados
e de roleta. Esse é o motivo da grande existência de exemplos de jogos de azar no estudo
da probabilidade. A teoria da probabilidade permite que se calcule a chance de ocorrência
de um número ou evento em um experimento aleatório, que é aquele que, quando repetido
em iguais condições, pode fornecer resultados diferentes, ou seja, são resultados explicados
ao acaso. Um exemplo: no lançamento de um dado, um número par pode ocorrer de 3
maneiras diferentes dentre 6 igualmente prováveis, portanto, P = 3/6= 1/2 = 50%.

FONTE: Disponível em: <http://www.somatematica.com.br/emedio/probabilidade.php>.


Acesso em: 26 maio 2009.

163
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

Uma definição possível consiste em considerar o risco R como o produto


de uma probabilidade p e de uma consequência c:

(a) R = p X c

Esta definição é adequada para calcular os riscos em jogos de carta,


por exemplo. Porém, não é adequada para situações reais, nas quais podemos
exprimir o risco não sob a forma de um único número, mas como um conjunto de
números, quantificando consequências e probabilidades:

(b) R (i) = probabilidade p(i) da consequência c(i)

(c) R = {(p(i)),c(i))}

Essas definições, nas fórmulas propostas, representam apenas índices que


servem para enumerar diferentes cenários de acidentes. Por exemplo, em (b), o
risco é expresso como a probabilidade da consequência i. Por exemplo, a definição
de risco individual baseia-se nesta fórmula: é a probabilidade de um indivíduo
morrer em um acidente no âmbito da atividade que está sendo estudada. Já em
(c), o risco é expresso sob a forma do conjunto total de possíveis consequências,
com as probabilidades associadas.

As definições de risco individual e de risco de grupo comportam outras


questões de ordem técnica. Um aspecto importante é o período de tempo durante
o qual tem lugar a atividade a que se refere a probabilidade calculada. Geralmente,
as probabilidades são calculadas para um período de um ano de atividade. Assim,
é possível calcular, por exemplo, o risco individual em diferentes locais próximos
de uma fábrica de produtos químicos, relativamente a um ano de operação dessa
instalação. Se para um determinado local o risco individual calculado é de 10-6/ano,
isso significa que durante um ano de operação da instalação do empreendimento
existe a probabilidade de 10-6, ou seja, de uma vez em um milhão, de que um
indivíduo vivendo nesse local seja morto por um acidente na instalação.

Vamos a outro exemplo hipotético. Uma pequena instalação trabalha


com um gás altamente inflamável, presente em tanques e tubulações metálicas.
O escapamento deste fluido formará uma nuvem de gás que, transportada pelo
vento, pode ter quatro consequências: (1) incendiar-se, queimando materiais,
vidas, equipamentos ou casas; (2) explodir, destruindo tudo; (3) continuar
espalhando-se sem riscos; (4) explodir ou incinerar-se em uma área que não
tenha vidas ou materiais de valor relevante.

Definido o evento iniciador, associa-lhe uma frequência esperada de


ocorrência. Por exemplo, no caso do vazamento, descobre-se, através de um
banco de informações da empresa e diagnósticos anteriores, que ele pode ocorrer
a cada 30 anos. Através de uma árvore de eventos utilizada em Análise de Riscos
Acidentais, deve-se multiplicar a frequência esperada inicial, ou seja, 1 a cada 30
anos, pelas probabilidades encontradas ao longo dessa árvore ou caminho.

164
TÓPICO 2 | A UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE DE RISCOS

Por exemplo, em determinado local da empresa, a probabilidade de


acidente é de 70% ou 0,7. Depois, para a nuvem de gás incendiar-se temos com
ignição e sem ignição, ou seja, 50% para cada ou 0,5. Por fim, temos uma área
em que temos pessoas, aonde o risco de morte é de 40% ou 0,4. Assim:

(1/30) X 0,7 X 0,5 X (0,4) = cerca de 5/1.000

Pode-se estimar a frequência do dano multiplicando-se a frequência


ponderada deste ramo pelas suas consequências. Se a consequência deste ramo
fosse a morte de 10 pessoas, então teríamos:

(5/1.000) X (morte de 10 pessoas) = 5 mortes a cada 100 anos, ou


ainda, 0,05 mortes/ano. Associando cada consequência (neste caso a morte de
uma pessoa) a um valor monetário, digamos 10 milhões de US$, facilmente
chegaríamos ao custo anual dos acidentes gerados por este tipo de evento:

Risco (anual) X custo da consequência = custo anual


(0,05 mortes/ano) X (custo da morte, 10 milhões) = 500 mil/ano

Observe que o alto valor obtido neste resultado provém de duas


hipóteses básicas: a de que um único evento provoque a morte de 10 pessoas a
cada 30 anos, e que cada morte corresponda ao custo de 10 milhões.
FONTE: Adaptado de: <http://www.fag.edu.br/professores/solange/PERICIA_AMBIENTAL/
ApostilaEstudos_PericiaAmbiental_2012.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2012.

Aqui não estão sendo levados em consideração todos os fatores e varáveis que
poderiam atuar em uma determinada região industrial, que fariam estes números
aumentarem muito. Quanto ao valor usado para a vida humana, este varia, segundo
as avaliações de risco de todo o mundo, entre 100 mil US$ e 10 milhões de US$.

Ainda podemos fazer mais alguns comentários, para que você tenha noção
de que não se trata de algo tão simples. O primeiro é sobre a simplificação dos eventos
iniciadores. Na vida real, esses eventos são algo mais complexo, e, além disso, o
exemplo nos mostra as consequências de um único evento iniciador. Na verdade,
a operação de uma instalação industrial pode conter, e normalmente contém, uma
grande variedade de eventos catastróficos. Podemos ter, para uma única instalação,
diversas árvores de eventos, uma para cada um dos eventos iniciadores selecionados.
O risco desse processo será a soma de somas, isto é, depois de somarem-se os riscos
de todas as consequências de cada árvore, somam-se os subtotais de todas as árvores.
Essa soma final resultará no risco imposto pela instalação aos trabalhadores, público
e ambiente na área de influência do empreendimento.

Mas risco de quê? Os impactos acidentais podem atingir diretamente a


biota (fauna – incluindo humanos e flora), assim como os elementos artificiais
(construções humanas) e naturais (água, terra, ar e nutrientes no meio) sob sua
influência. Estes impactos podem ser, por exemplo: queima, proveniente da
emissão de substâncias inflamáveis; destruições físicas provenientes de explosões;
contaminação por substâncias tóxicas, entre outras.
165
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

Também devemos referir-nos à qualificação e quantificação do risco. O


risco de dano não é apenas um, mas diversos. Existem os riscos de extinção de
espécies, perdas populacionais, perda de diversidade genética, degradação dos
recursos naturais, entre outros, que precisam ser categorizados para estudo e
avaliação.

Por último, é importante ressaltar uma diferença, em termos de


consequências ambientais, entre os acidentes e a operação normal. De uma
forma geral, os acidentes impõem uma dose aguda, ou seja, um efeito pontual
no tempo, enquanto a operação normal de uma atividade econômica impõe uma
dose crônica, ou seja, uma carga tóxica ou fisicamente danosa de caráter contínuo.

Em geral, um sistema natural pode suportar uma dose aguda (um


evento singular) muito mais alta do que uma crônica (evento do
cotidiano), porque no primeiro caso o ambiente terá tempo para se
recuperar dos efeitos, regenerar suas funções e reciclar o tóxico, se
for o caso. Isso ocorrerá se os efeitos acidentais não ultrapassarem
os limites da capacidade de suporte do ecossistema atingido, ou não
consumirem recursos não renováveis. Em se tratando de impacto
ambiental, cada caso é um caso (CUNHA; GUERRA, 2000, p. 248).

2.2 AS PRINCIPAIS FASES DE UMA ANÁLISE DE RISCOS


A partir de agora, iniciaremos uma breve descrição das principais fases
de uma análise de riscos para acidentes. O exemplo aqui é dado para uma fábrica
de produtos químicos. Dessa forma, quando for realizado um Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) de um empreendimento que utiliza grandes quantidades de
substâncias perigosas, deverá ser feita uma análise de riscos dos acidentes que possam
afetar a população que vive nas áreas circundantes (PARTIDÁRIO; JESUS,1999).

ATENCAO

Prezado acadêmico, a partir de agora é preciso prestar muita atenção! As etapas


descritas a seguir são de fundamental importância para a compreensão de um sistema de
análise de riscos.

Na primeira fase de uma análise de riscos faz-se uma descrição dos


diferentes sistemas que irão influenciar os resultados da análise. Deverão ser
incluídos, por exemplo, os seguintes aspectos: diagrama geral de instalação (lay
out), dados geográficos e demográficos, descrição pormenorizada da fábrica e
dos seus componentes principais, principais sistemas de controle e segurança
etc. Para as fases seguintes é importante obter os Diagramas de Processos
e Instrumentação, bem como os dados sobre massas, fluxos, conteúdos e
capacidades de reservatórios, diâmetro das tubulações, pressões, temperaturas e
propriedades das substâncias.
166
TÓPICO 2 | A UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE DE RISCOS

A segunda fase consiste na identificação de cenários de ocorrência de falhas


ou de acontecimentos ditos “detonadores” ou aqueles que iniciam o processo. É
a fase mais crucial de toda a análise. Assim sendo, é necessário estabelecer uma
lista de todas as ocorrências possíveis que possam resultar em uma liberação não
controlada de gases e substâncias perigosas, devendo-se, na medida do possível,
indicar as possíveis causas iniciadoras desses eventos. As situações de perigo
que não forem diagnosticadas nesta fase não surgirão mais tarde no processo de
análise. A Árvore de Acontecimentos é apenas um exemplo dos muitos para esse
tipo de trabalho.

A terceira fase da análise de riscos consiste no cálculo dos efeitos físicos


da libertação dos gases e substâncias perigosas e inclui modelos matemáticos
complexos para determinarmos a dispersão dos gases, evaporação, propagação etc.

A quarta fase diz respeito ao cálculo das consequências dos efeitos físicos
calculados na fase anterior. O interesse reside, sobretudo, nas consequências
nocivas resultantes para as pessoas da área de abrangência do empreendimento.
Em alguns casos, as consequências para o meio ambiente deverão ser consideradas
como parte importante da análise.

A quinta fase consiste na agregação dos resultados numéricos em uma


forma apresentável. Existem duas formas básicas de apresentação dos riscos,
devendo ser ambas consideradas. A primeira consiste em um conjunto de curvas
indicando os níveis de risco individual em um mapa da área em questão. A
segunda é a curva F-N, ou curva do grupo de risco, indicando a probabilidade
de um certo número de pessoas da população que vive nas imediações da fábrica
serem mortas simultaneamente devido a um acidente nas instalações.

Por vezes uma sexta fase, a apreciação dos riscos, é também considerada
parte integrante do processo de avaliação dos riscos.

Abaixo segue um modelo similar ao descrito acima e que tenta mostrar


em forma de diagrama as diferentes etapas de uma análise de riscos.

E
IMPORTANT

Para saber mais sobre as principais técnicas da realização de análise de riscos,


você pode acessar os seguintes documentos pelos links a seguir:<http://www.fepam.rs.gov.
br/central/formularios/arq/manual_risco.pdf>.
<http://www.saneamento.poli.ufrj.br/documentos/Josimar/APP_e_HAZOP.pdf>.

167
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

FIGURA 9: ESQUEMA DE UM ORGANOGRAMA PARA A IMPLEMENTAÇÃO


 DE UMA ANÁLISE DE RISCOS

Definição do Processo

Caracterização das Instalações Análise Histórica de Acidentes (AHA)

Estudos de Perigo ou
Análise Preliminar de Risco - APR
(APP, HAZOP, FMEA, AAF, What If etc)

Avaliação Preliminar de Risco


(Qualitativa) (*)

Estimativa de Frequências Avaliação de Consequências


ou Probabilidades (Efeitos Físicos & Vulnerabilidade)

Avaliação de Risco
(Quantitativa) (*)

Medidas de Controle:
Recomendações para Redução do Risco

Medidas de Controle:
Recomendações para Mitigação

FONTE: Disponível em: <www.risktech.eng.br/.../Figura2%20risktech.jpg>.


Acesso em: 28/09/2012.

168
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você viu que:

• Na técnica de Análise de Riscos você deve atuar preventivamente, tendo em


vista as probabilidades de ocorrência de alguma tragédia.

• A gestão de riscos se faz com base nas informações obtidas a partir da análise
de riscos e preocupa-se em manter medidas preventivas.

• O risco de um acidente está baseado em probabilidades, ou seja, pode ser que


não aconteça, mas existem chances para acontecer, mesmo com a adoção de
medidas preventivas.

• O risco individual baseia-se na ocorrência de um acidente no âmbito da


atividade que está ocorrendo; o risco coletivo ocorre associado a uma série de
eventos possíveis de ocorrer, e não uma somente.

• A fase mais crucial de uma análise de riscos é a identificação dos acontecimentos


ditos “detonadores”, que dão início ao processo.

169
AUTOATIVIDADE

Exercite seus conhecimentos resolvendo a questão a seguir.

1 Os estudos de Análise de Riscos podem ser utilizados para complementar


um EIA. A partir dessa informação, imagine o seguinte cenário. Uma
população de um determinado organismo, por mais estranho que isso
possa parecer, passa a se beneficiar em função do aumento de um efluente
lançado por uma indústria em um rio próximo. Por mais tratado que esse
efluente esteja, algumas das substâncias funcionam como nutrientes para
esses organismos. Para piorar a situação, a espécie que aumenta em número
de indivíduos é predadora de uma espécie rara, ou seja, existe o sério risco
desta espécie extinguir-se. Você, como gestor de uma empresa de consultoria
ambiental, e que foi responsável pelo EIA do empreendimento, como avalia
essa situação? Quais são os pontos falhos e quais medidas emergenciais
poderiam ser tomadas?

170
UNIDADE 3
TÓPICO 3

AUDITORIA AMBIENTAL PRÉVIA E


PÓS-IMPLANTAÇÃO DE OBRAS

1 INTRODUÇÃO
No âmbito das ciências do ambiente, o termo “Auditoria” tem sido
utilizado para se referir à quantificação das consequências ambientais dos
projetos de desenvolvimento (ex.: construção de empreendimentos de qualquer
natureza), acompanhada por uma avaliação da eficácia das medidas de gestão
adotadas, a fim de prevenir ou minimizar os efeitos negativos desses projetos
(PARTIDÁRIO; JESUS, 1999).

As auditorias ambientais podem ser consideradas como instrumentos


recentes em nosso processo de ordenamento jurídico. Essas constituem estudo
posterior ao EIA, e devem avaliar se as orientações contidas no Estudo Prévio
estão sendo observadas e se o controle ambiental está sendo eficiente (ARAÚJO;
VERVUURT, 2005).

Assim sendo, a realização de auditorias pode ser de fundamental


importância, principalmente para empreendimentos potencialmente poluidores.
Deve-se ainda levar em consideração, em relatórios desse caráter, os aspectos das
condições ambientais e de saúde dos trabalhadores.

Outro ponto fundamental é a periodicidade do processo de auditoria, que


deve estar de acordo com o órgão ambiental local, responsável pela fiscalização dos
empreendimentos que tenham potencial poluidor e/ou de acordo com as normas da
empresa, caso esta tenha implantado um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), ou
ainda, caso o empreendedor esteja buscando algum selo de qualidade ou mesmo as
certificações do âmbito ISO 14.001/004, por exemplo. Isso irá permitir a todos os atores
envolvidos melhor acompanhamento das questões ambientais nas suas mais variadas
formas. Alguns estados, como o Rio de Janeiro, através da sua Constituição (Art.
258°) e a Lei Estadual RJ 1.898/91, garantem ao poder público determinar a realização
de auditorias ambientais periódicas nas instalações e atividades potencialmente
poluidoras. Da mesma forma, os estados de SP e ES instituíram a obrigatoriedade de
se realizar auditorias ambientais para determinadas atividades.

Vale ressaltar ainda que a licença ambiental é apenas um dos mecanismos


necessários para o cumprimento da legislação ambiental. As auditorias são estudos
complementares, de modo a avaliar se as orientações contidas no Estudo Prévio

171
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

estão sendo observadas e se o controle ambiental está sendo eficiente. As auditorias


devem ser compreendidas como estudos, avaliações ou exames periciais.

Outro aspecto importante é a disponibilidade dos documentos de auditoria


ambiental realizados para o acesso das pessoas da sociedade civil. Isso permite,
por exemplo, conhecer os aspectos ambientais dos locais de moradias, segurança
e condições de trabalho. A não realização de auditoria ambiental obrigatória, ou
seja, nos locais onde esse instrumento esteja amparado por lei e a negação de
acesso aos documentos, enseja a propositura de ação civil pública ambiental.

DICAS

Acesse o site da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Este site


contém uma série de informações relevantes aos processos de auditoria e normalização
realizados no Brasil.
<http://www.abnt.org.br/default.asp?resolucao=1280X720>.

2 PROGRAMAS DE MONITORAMENTO E DOS ESTUDOS


DE AUDITORIA
Inicialmente, na década de setenta, pioneiros como a British Petroleum
(1978) conduziram estudos de auditoria em muitos de seus projetos para
exploração do petróleo. Essencialmente pretendia-se verificar se os processos
de predição de impactos ao meio ambiente tinham sido satisfatoriamente
conduzidos. Na ocasião foram constatados deficiências de informação e casos
em que os programas de monitoramento das atividades do empreendimento não
forneceram a informação pretendida.

O exemplo acima demonstrou que não adianta termos um programa de


auditoria sem o adequado levantamento de informações sobre as atividades de
determinada empresa. Tendo em mente a real importância de um programa de
monitoramento para a realização da auditoria, vamos agora ao estudo de um
caso hipotético, e que retrata claramente o que pode configurar-se em uma
situação verdadeira para os dias atuais. O nosso exemplo será o de uma refinaria
de petróleo. Em um primeiro instante essa empresa deverá ser submetida à
AIA e um relatório deverá ser apresentado para que a tomada de decisão sobre
a autorização ou não da construção do empreendimento seja feita. E em caso
afirmativo, quais são as medidas de proteção ao meio ambiente que devem ser
adotadas. Dessa forma, os responsáveis pelo EIA deparam-se com o problema da
identificação dos potenciais impactos sociais e ambientais.

Para o nosso caso hipotético da refinaria, após reuniões com vários atores e
segmentos da sociedade e após a determinação dos graus de importância de cada
problema, decidiu-se considerar impactos esperados para um período de 30 anos
e atribuir à área de entorno afetada pelo empreendimento um raio de até 30 km.

172
TÓPICO 3 | AUDITORIA AMBIENTAL PRÉVIA E PÓS-IMPLANTAÇÃO DE OBRAS

Com estas etapas definidas, vamos aos instrumentos de “coleta das


informações”, que podemos então chamar de monitoramento e que podemos
classificar em três tipos básicos. São eles: o monitoramento da situação atual (baseline
monitoring), o monitoramento de impactos e o monitoramento de emissões.

No monitoramento da situação atual, a qual corresponde à fase preliminar,


é necessário efetuar estudos de base. Estes estudos têm dois objetivos principais. O
primeiro deles corresponde ao levantamento e identificação das espécies animais e
vegetais que se encontram na área de abrangência do projeto do empreendimento. Já
o segundo objetivo é que esse banco de dados forneça posteriormente informações
relevantes para tomadas de decisão e também para auditorias.

Dentro do primeiro objetivo, será feita a obtenção das informações sobre


a variabilidade natural e sobre as tendências existentes e que caracterizam
os componentes dos sistemas em questão. Essas informações são úteis para
a predição dos impactos e também para comparação da situação antes e pós-
instalação do empreendimento. Ainda dentro desta fase inicial, o levantamento
de informações relativo a valores e/ou a tendências de evolução de variáveis
ambientais e sociais é parte importante. Essa deve auxiliar peritos ambientais e
tomador de decisão, tanto qualitativa quanto quantitativamente, com o objetivo
de predizer o comportamento dessas variáveis em um futuro próximo.

Voltemos ao exemplo hipotético da refinaria. Suponhamos, por exemplo,


que uma determinada espécie de peixe, de elevado valor comercial para as
comunidades vizinhas, tenha sua área de desova e criação dentro da área de
abrangência de construção do empreendimento. Esse é um caso particular,
mas que, se desprezado, pode posteriormente afetar inúmeras famílias. Nesta
situação, a nossa “espécie-alvo”, para posterior monitoramento, é essa espécie de
peixe. Caso a construção do empreendimento afete negativamente a reprodução
deste peixe, providências urgentes deverão ser tomadas.

Em casos onde não haja uma espécie específica, mas, por exigência dos
órgãos ambientais, as condições ambientais devem ser mantidas, podemos
utilizar uma espécie qualquer, registrada no levantamento biótico e utilizá-
la como “variável-controle” de indicação da qualidade ambiental da área de
influência direta da empresa. Se a população da espécie declinar em abundância,
por exemplo, isso pode ser um indício de que as atividades do empreendimento
podem afetar o organismo e também o ambiente natural. No que diz respeito à
comunidade local, podemos proceder através do monitoramento de uma série de
variáveis, tais como, os níveis de ruído dentro e fora das habitações, as taxas de
atividade masculina e a empregabilidade nas indústrias tradicionais.

Para o denominado monitoramento de impacto, existe um objetivo


simples, que consiste em identificar os impactos das atividades humanas sobre o
ambiente. Voltando ao nosso caso hipotético da refinaria de petróleo, o objetivo
deste tipo de monitoramento é determinar a natureza do impacto efetivo deste
empreendimento sobre as características ambientais e sociais consideradas
relevantes. A identificação dos prováveis impactos irá determinar quais os
parâmetros devem ser monitorados em função das alterações possivelmente

173
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

causadas pela operação da refinaria. Veja que isso irá depender dos pontos
levantados durante o monitoramento da situação atual, ou primeira fase.

Atualmente, o levantamento das condições ambientais existentes é


frequentemente conduzido, independentemente, de outras atividades da
Avaliação de Impactos Ambientais (AIA). Já muitos EIAs, parte complementar
da AIA, como vimos no início desta unidade, nos fornecem apenas listagens de
informações, como número de espécies, que posteriormente serão aprofundadas
no transcorrer da fase de predição de impactos. No entanto, o recolhimento
dessas informações deve estar vinculado a protocolos definidos e específicos,
com vistas nos requisitos necessários à predição e monitoramento dos impactos
em potencial. Assim sendo, a tomada de informação, sobre as condições atuais de
uma determinada área, terá real valor para as tomadas de decisão.

Sabe-se que a obtenção dessa informação, esteja ela vinculada a protocolos


específicos ou não, é de difícil execução. Na prática, à medida que potenciais
impactos vão sendo identificados, é que são ajustados os procedimentos de
obtenção das informações. Alguns autores sugerem que essa tomada de informação
deveria ser protocolada de acordo com a natureza do empreendimento. Isso
permitiria relacionar o impacto em potencial ao projeto do empreendimento e
não a outro fator independente ou à variação natural dos elementos monitorados.

Dada a variabilidade revelada pelos sistemas naturais, a fase experimental


deve permitir fazer a distinção entre as alterações provocadas pela ação efetiva do
empreendimento, daquelas ocorridas em consequência de fatores naturais, ou seja,
na ausência do projeto de construção do empreendimento. Por exemplo, se a área de
abrangência da construção for berçário de uma espécie importante de peixe, como
mencionado anteriormente, a fase experimental de um programa de monitoramento
de impacto deverá permitir atribuir culpa à refinaria por quaisquer alterações na
população de peixes e não a flutuações derivadas de causas naturais. Para assegurar
que as oscilações ambientais correspondam com a realidade, é necessário recorrer a
“controles” ou “referências” nas quais seja possível comparar as informações obtidas
de uma região fora da área de abrangência da refinaria, com as informações de dentro
da área afetada. Essa comparação nos permitiria saber se as variações no ambiente
que por ventura ocorressem foram decorrência de causas naturais ou foram afetadas
diretamente pela operação do empreendimento.

E
IMPORTANT

Caro acadêmico! Os sistemas naturais possuem alta complexidade. Tentar prever o


seu comportamento diante de novas situações, como, por exemplo, o derramamento de alguma
substância tóxica em um ecossistema qualquer, pode se tornar uma tarefa muito complicada.

174
TÓPICO 3 | AUDITORIA AMBIENTAL PRÉVIA E PÓS-IMPLANTAÇÃO DE OBRAS

No entanto, a experiência de campo nos mostra que a atenção no


recolhimento dos dados não substitui a necessidade de objetivos bem definidos,
que devem ser claramente formulados, a fim de assegurar o integral cumprimento
dos programas de monitoramento estabelecidos. A consistência da equipe do
projeto de monitoramento também é importante, visto que existe a necessidade
de manutenção dos procedimentos e protocolos de amostragem.

2.1 MONITORAMENTOS DE IMPACTO E ESTUDOS


DE AUDITORIA
O monitoramento de impacto tem uma série de vantagens, como, por
exemplo, levantar variáveis ambientais e sociais relevantes que podem identificar
tendências nocivas, antes de ser tarde demais para minimizá-las ou preveni-las. E
essa é uma vantagem muito importante para os tomadores de decisão. Retornando
ao caso da população de peixes, se essa começasse a declinar em função das
emissões de efluentes, ainda teríamos tempo de adotar medidas preventivas, com
a finalidade de interromper esse processo. Assim, o monitoramento de impacto
permite um “alarme preventivo” para que os gestores do meio ambiente possam
ser alertados antes que o “estrago” seja feito. Outra vantagem do monitoramento
de impacto é nos fornecer ideias ou somar conhecimento sobre situações
semelhantes em diferentes projetos, para que se possa fazer comparações futuras
em novos estudos de empreendimentos. Esse conhecimento também pode ser
utilizado para melhorar futuros EIAs e contribuiria para reduzir o tempo e o
esforço, e consequente gasto, despendidos na elaboração de um EIA.

E
IMPORTANT

O monitoramento de todas as variáveis que possam ser consideradas de risco


para um ambiente natural é um componente muito importante das auditorias, pois funciona
através da prevenção.

Atualmente, as decisões relativas a projetos de construção de qualquer tipo


de empreendimento são tomadas com grande incerteza. Todas as AIAs incluem
predições sobre acontecimentos futuros e, como tais, revelam vários graus de
incerteza, o que é comum a qualquer tipo de predição. E é devido ao fato dessa
probabilidade de erro que um grande número de programas de mitigação e
monitoramento é realizado, em uma tentativa de evitar impactos nocivos. Esses
programas são custosos e demandam tempo elevado. Dessa forma, é possível que,
através de auditorias, se possa concluir que alguns dos impactos previstos não
ocorreram e que as decisões futuras relativas a projetos semelhantes não necessitam
de medidas de mitigação e programas de monitoramento realizados no passado.

175
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

Dado que os estudos de auditoria assentam sobre casos reais, há fortes


razões para a realização de programas de monitoramento aleatórios que incidam
sobre variáveis selecionadas. Estas poderiam ser componentes ambientais e
sociais diretamente afetados, mas que consideram não estar em perigo em uma
dada situação. Podemos concluir que, dessa forma, a auditoria de programas
em termos de realização dos seus objetivos seria útil na perspectiva de decisões
futuras, e que os conhecimentos adquiridos contribuiriam para a economia de
recursos e para o futuro sucesso destes programas.

2.2 MITIGAÇÃO E MONITORIZAÇÃO DE CONFORMIDADE


Além de caracterizar as condições da situação atual, de contribuir para
a predição de impactos e também para a realização de estudos de auditoria,
o monitoramento permite alcançar outros objetivos. Por exemplo, um AIA
pode requerer certas ações de minimização ou compensação que eliminem ou
reduzam os impactos negativos esperados. Esse tipo de monitoramento pode
incluir inspeções aleatórias e deve ser efetuado por pessoal especializado, capaz
de identificar um equipamento ou as ações necessárias para cumprir os requisitos
constantes de programas de mitigação (PARTIDÁRIO; JESUS, 1999).

Quer as medidas de mitigação sejam efetuadas quer não, os projetos deverão


respeitar as normas relativas a efluentes e também a outros critérios. Uma empresa
não pode simplesmente lançar seus efluentes no ambiente natural. Em muitos países
existem severas restrições e controles para essas indústrias, cabendo a elas estar em
dia com os órgãos de meio ambiente que regulam tais atividades.

Para concluirmos, podemos refletir um pouco sobre a importância daquilo


que vimos até agora, ao tratarmos das AIAs no início desta unidade. Esses
mecanismos, apesar de recentes, começaram a ser implementados há pouco mais
de 30 anos, porém cada vez mais são solicitados, em parte pela obrigatoriedade
dos órgãos de fiscalização, mas também pelo aumento da consciência ecológica
atual. Apesar de constituírem instrumentos para a gestão dos recursos naturais
e muitas vezes nos fornecer previsões incertas, a aplicação de novas técnicas de
avaliação, aliada aos princípios científicos, tende a melhorar os atuais sistemas
para que, em um futuro próximo, tenhamos melhorias significativas na realização
das AIAs e de seus componentes (EIAs, RIMAs, Auditorias etc.).

Para garantirmos o sucesso das auditorias, sabe-se da necessidade de


realizar monitoramentos de impacto e também das situações atuais, como foi visto.
Essas são a base de uma AIA adequada e na verdade ambos se complementam.
É somente através da integração de ambos que poderemos chegar aos melhores
objetivos em termos de predição de eventos potencializadores de impactos
naturais, seja na construção de um novo empreendimento, ou na manutenção de
qualidade de uma empresa já em funcionamento.

176
TÓPICO 3 | AUDITORIA AMBIENTAL PRÉVIA E PÓS-IMPLANTAÇÃO DE OBRAS

LEITURA COMPLEMENTAR

Avaliação ambiental estratégica (AAE): limitações dos estudos de


impacto ambiental (EIA)

Cristiane Mansur de Moraes Souza

As transformações pelas quais vem passando a economia brasileira,


decorrentes tanto da sua inserção na reestruturação produtiva mundial, quanto do
novo papel que o Estado brasileiro vem desempenhando nesse processo, têm deixado
evidentes lacunas nas formas usuais de regulação do espaço construído. Do ponto
de vista das políticas ambientais, observa-se a fragilidade dos órgãos de controle
e fiscalização, e em especial, dos instrumentos de gestão ambiental em face das
mudanças estruturais no padrão, ritmo e natureza dos investimentos privados. Este
artigo tem por objetivo estudar o estado da arte da Avaliação Ambiental Estratégica -
AAE no Brasil e ainda mostrar em que termos o Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257, de
10 de julho de 2001, promove um avanço da legislação brasileira contra a centralidade
dos critérios institucionais das Avaliações ou Estudo de Impacto Ambiental (EIA).

Os impactos ambientais, associados ao processo de urbanização,


ampliaram-se perigosamente no início do século XXI. A expansão periférica
das cidades brasileiras e a forma precária como foram implantados os novos
assentamentos criaram um quadro de grave degradação. Trouxeram também um
desafio ao poder público e à sociedade em geral: a prevenção de novos impactos.
Um instrumento utilizado universalmente na prevenção de novos impactos é a
avaliação de impacto. Esta pode ser considerada um processo e uma ferramenta
de avaliação que pode auxiliar no sentido da busca de um desenvolvimento
sustentável. É usada nos países do primeiro mundo para avaliar se as ações
ambientais são economicamente viáveis, de equidade social e sustentáveis
ambientalmente. Avaliação de impacto é um termo genérico que inclui “avaliação
de impacto ambiental” e “avaliação ambiental estratégica”. O uso da avaliação de
impacto ambiental é um dos princípios-chave da declaração do Rio sobre Meio
ambiente e Desenvolvimento (1992). Cinco anos antes, a Comissão Brundtland
identificou a integração de considerações ambientais nas políticas públicas,
como uma das chaves dos desafios institucionais deste século. Os documentos
preparatórios para a Conferência Mundial de Johannesburg tornam claro que
esse desafio ainda não foi abordado.

Durante a década passada, importantes inovações aconteceram nos métodos
e abrangência das avaliações de impacto. Muitos países em desenvolvimento e
de transição aprimoraram sua legislação ambiental, ou colocaram mais rigor nos
procedimentos de sua avaliação de impacto ambiental, em resposta às exigências de
agências financiadoras internacionais, sobretudo como reflexo positivo do avanço da
democracia nestes países. Novos aspectos e questões continuam a ser adicionados às
Avaliações de Impacto Ambiental e em outras áreas de avaliação de impacto. Estes
aspectos incluem considerações de biodiversidade, questões de mudança de clima,
e uma crescente aplicação em questões de planejamento urbano ambiental, como
resposta à presente necessidade de combater a degradação ambiental, vista como
degradação da qualidade de vida urbana.

177
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

A aplicação da ‘Avaliação de Impacto’ internacionalmente é muito


abrangente, podendo envolver, segundo a Associação Internacional de Avaliação
de Impacto (IAIA, 2002), desenvolvimento de projetos de sustentabilidade,
avaliação tecnológica, avaliação de impacto na saúde, avaliação de impacto
ecológico e de biodiversidade, sistemas de gerenciamento ambiental, avaliação
de impacto fiscal econômico, avaliação de impacto demográfico, avaliação de
impacto de gênero, avaliação de impacto social, auditoria ambiental, avaliação
de risco, avaliação ambiental estratégica, avaliação de políticas de venda e
planejamento de desastres naturais.

Assim, a ‘Avaliação Ambiental Estratégica’ (AAE), conhecida
internacionalmente como SEA – Strategic Environmental Assessment – é a face da
‘avaliação de impacto ambiental’ que pode, no caso da realidade institucional
brasileira, exercer importante papel no processo de desenvolvimento na maneira
de se fazer avaliação de impacto ambiental, e, sobretudo, no uso da avaliação de
impacto ambiental como instrumento de direcionamento do planejamento urbano.
A Avaliação Ambiental Estratégica já é aplicada internacionalmente como avaliação
ambiental de planejamento regional, sendo que a teoria da “SEA” – Strategic
Environmental Assessment (Avaliação Ambiental Estratégica) – foi amplamente
discutida na conferência da IAIA (International Association for Impact Assessment) em
junho de 2002. Dos 32 workshops em temas diferentes relacionados com avaliação de
impacto ambiental, avaliação de desenvolvimento de projetos de sustentabilidade,
avaliação tecnológica, avaliação de impacto na saúde, avaliação de impacto ecológico
e de biodiversidade, sistemas de gerenciamento ambiental, avaliação de impacto
fiscal econômico, avaliação de impacto demográfico, avaliação de impacto de
gênero, avaliação de impacto social, auditoria ambiental, avaliação de risco, avaliação
ambiental estratégica, avaliação de políticas de venda e planejamento de desastres
naturais, o que mais teve artigos inscritos e número de participantes foi o workshop
que tratava do tema da Avaliação Ambiental Estratégica – AAE.

A complexidade associada com a ideia, e a necessidade de se reforçar


a AAE como instrumento proativo e de natureza integradora nos leva a uma
nova definição: AAE é um processo sistemático e contínuo para analisar a
qualidade do meio ambiente, as consequências e visões alternativas, intenções de
desenvolvimento de política, no planejamento, ou em programas, se certificando
de completa integração de relevantes considerações biofísicas, econômicas,
sociais e políticas. A AAE pode ainda ser definida como um processo formalizado
sistematicamente para avaliar ou descobrir o impacto ambiental de uma política,
plano ou programa, que inclui a preparação do relatório sobre os resultados da
avaliação e uso dos resultados para todas as decisões políticas.

Na Conferência IAIA de 2002, sobre AAE, um dos primeiros workshops


mostrou que, de fato, em muitas partes do mundo existem considerações
ambientais nas políticas, no planejamento ou em programas de desenvolvimento.
Alguns autores demonstraram que a legislação sobre AAE tem sido estabelecida
em países como EUA, na Holanda, na Nova Zelândia, e no Oeste da Austrália.
A AAE tem sido regulamentada através de ordens administrativas e decisões de
gabinete no Canadá, Dinamarca e Hong Kong, diretrizes sobre AAE têm sido
publicadas no Reino Unido, nos países da Comunidade Europeia e pelo World
Bank. Vários outros países estabeleceram um sistema parcial de AAE, ou estão
pesquisando ativamente a viabilidade deste sistema, incluindo-se aí a Austrália,
Áustria, Bélgica, Alemanha e a Finlândia.

178
TÓPICO 3 | AUDITORIA AMBIENTAL PRÉVIA E PÓS-IMPLANTAÇÃO DE OBRAS

Buscando chamar a atenção para o uso da AAE no Brasil, até então


realizada apenas em estudos da comunidade científica ou por exigência de
agentes financiadores internacionais e não em função da legislação de análise ou
avaliação de impacto ambiental brasileira, o Ministério do Meio Ambiente (MMA)
criou um grupo de estudos e publicou, em 2002, um manual contendo grande
parte da informação internacional disponível sobre o assunto. Desde novembro
2005, o Brasil está desenvolvendo um programa de capacitação em AAE, que
pretende atingir quadros técnicos governamentais, a partir de casos pilotos reais.
Capacitar para a AAE leva muito tempo, anos. A Inglaterra, por exemplo, está
se capacitando desde 1990, e já mudou de abordagem quatro vezes, ao mesmo
tempo em que realiza casos pilotos. Portanto, segundo Partidário (2006), quando
de uma entrevista realizada por Mansur (2006) na 48º reunião extraordinária do
CONAMA, pretende-se ver consolidar um modelo de AAE para o Brasil e depois
publicar a legislação. Mansur questionou o autor Partidário sobre a sua opinião:
na regulamentação da AAE, o Brasil deve ou não seguir a diretiva da União
Europeia de 21 de junho 2002 (que regulamenta a legislação de AAE)? Partidário
afirma que: o Brasil deve encontrar seu próprio caminho em AAE, e é o que está
se fazendo no atual programa de capacitação.

Desta forma, o caminho para a AAE no Brasil deve considerar os fatores


econômicos, culturais, políticos ambientais e organizacionais brasileiros. Numa
pergunta que considera quais as limitações dos EIA no Brasil, ao olhar de
Partidário, que levariam à necessidade da regulamentação pelo CONAMA da
AAE, Partidário diz que, em primeiro lugar, a AAE não vem para substituir os
EIA. O EIA não está cumprindo a sua função de, por exemplo, analisar os projetos
em relação às suas alternativas e verificar qual a alternativa de menor impacto.
O EIA é para projetos, a lógica é diferente. Há uma grande confusão entre o que
é EIA e o que é AAE. A urgência, de acordo com Partidário, não é regulamentar
a AAE pelo CONAMA, mas sim testar o instrumento, ver como ele funciona
no Brasil. Para que ele possa ser eficaz é preciso que se teste, para se encontrar
sua própria metodologia e adaptações para cada caso. Ainda Partidário cita um
caso de boa prática de AAE a ser seguido no Brasil, o caso em curso da Costa
Norte do Brasil. Esse está sendo realizado pelo Ministério do Turismo dentro dos
programas de desenvolvimento do turismo.

Os avanços recentes na legislação urbana brasileira, como o caso da


aprovação do Estatuto da Cidade, refletem uma preocupação com a necessidade
da participação pública nas decisões, mas ainda não apresenta suficiente
detalhamento para contribuir, como promete, para a viabilização de um
futuro desenvolvimento sustentável. O estatuto da cidade precisaria ser mais
específico com relação às questões ambientais, para efetivamente contribuir para
as mudanças de rumo dos impactos socioambientais observados nas cidades
brasileiras. O Estatuto avança em relação ao EIA, porque dá voz à participação
pública. Dessa maneira, pode-se dizer que contribui na democratização do
processo do EIA. Resumidamente, o Estatuto da Cidade contribui efetivamente
para a questão social e contempla assim aspectos da Constituição Federal Brasileira
de 1988, por muito tempo relegados a segundo plano. Depois de históricas
reivindicações articuladas pelos movimentos populares, tendo por objetivo uma
cidade mais justa, e considerando que a Constituição Federal Brasileira (1988) já
previa a participação popular nas decisões de interesse público, só no início do
século XXI, com a aprovação do Estatuto da Cidade – Lei 10. 257/2001 em 10 de
julho de 2001, é que pela primeira vez a cidade poderá passar a ser tratada de

179
UNIDADE 3 | AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, PROCEDIMENTOS E APLICAÇÕES

acordo com os artigos 182 e 183, que compõem o capítulo da política urbana da
Constituição Federal Brasileira. O artigo 182 da Constituição Federal Brasileira
versa que a política de desenvolvimento urbano tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade. Já o artigo 183
institui a usucapião urbana, possibilitando a regularização de extensas áreas
ocupadas por favelas, vilas, alagados, invasões e loteamentos clandestinos.

O Estatuto da Cidade instrumentaliza o município para garantir o pleno


desenvolvimento das funções da cidade e da propriedade urbana. No entanto,
precisamos considerar que os mecanismos de “parcelamento, edificação ou
utilização compulsórios, imposto predial e territorial urbano progressivo no
tempo, desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública” podem
fazer com que a propriedade urbana cumpra sua função social. Com a aplicação
do parcelamento compulsório, por exemplo, procura-se otimizar os investimentos
públicos realizados e penalizar o uso inadequado. Além disso, poderá ser ampliada
a oferta de imóveis no mercado imobiliário e promovido o uso e a ocupação de
imóveis em situação de abandono, especialmente aqueles localizados na área
central das grandes cidades, que poderão abrigar, por exemplo, o uso habitacional
como forma de revitalização do centro urbano. Além dos problemas técnicos e da
grande complexidade analítica em função da escala abrangente a que as AAE se
referem, encontramos a necessidade de participação pública.

Quanto a esta participação, dentre os problemas de procedimento encontramos


o fato de, muitas vezes, as Políticas, Planos e Programas (PPPs) se desenvolverem de
uma forma pouco compreensível para o grande público, até por que: "[...] a natureza
dinâmica do processo das políticas significa que as questões podem ser redefinidas
durante o processo”, o fazer de políticas é um processo complexo. Tomadores de
decisão irão decidir sobre as implementações e consequentemente sobre os impactos
ambientais das PPPs, os quais irão depender de seus próprios interesses. Aí está uma
das importantes tarefas da participação pública: a reversão desse processo, centrado
nos tomadores de decisão. Ainda encontramos outro problema de ordem técnica
na adoção da AAE, a necessidade de uma metodologia mais integrativa, quando
analisamos o trabalho de Ramos e Costa (2002).

A vantagem do estudo de vulnerabilidade à ocupação urbana numa AAE


é que ele nos proporciona a oportunidade de antecipar ou prognosticar efeitos
negativos de um plano, para, se for o caso, modificar as ações, ou atenuar as
consequências destas ações, podendo ser usado para defender ou argumentar
contra uma proposta de zoneamento urbano. Através da análise das classes de
vulnerabilidade à ocupação urbana é possível localizar pontualmente onde se
deveriam aplicar restrições à ocupação urbana, o que pode orientar a construção
da legislação em planejamento urbano, revisão de planos diretores, e ainda ser
uma ferramenta para a AAE, que visa verificar se um plano cobre considerações
ambientais. A AAE pode se constituir em poderoso argumento em audiências
públicas na defesa ou combate de propostas de uso e ocupação do solo, ou seja,
nas propostas de Planos Diretores. Conclui-se que essa etapa da AAE pode ser
muito útil para tarefas de revisão de zoneamento, determinação de áreas propícias
para urbanização, tomada de decisões quanto à ampliação ou diminuição de
perímetros urbanos e avaliação de suas possíveis consequências.

FONTE: Disponível em: <http://www.abrh.org.br/novo/xvii_simp_bras_rec_hidric_sao_paulo_041.


pdf>. Acesso em: 5 nov. 2012.

180
RESUMO DO TÓPICO 3

Ao final deste tópico você viu que:

• As auditorias são definidas como a quantificação das consequências que um


projeto pode gerar ao meio ambiente, acompanhada por uma avaliação que
visa melhorias ao sistema de gestão ambiental implantado.

• Um ponto de grande relevância para que o processo de auditoria funcione


adequadamente é a regularidade da frequência com que esse ocorre.

• O monitoramento de impacto e a avaliação das condições atuais são componentes


importantes para que o processo de auditoria atue na prevenção de acidentes.

• Muitas vezes são necessárias ações compensatórias para mitigar impactos não
previstos na auditoria.

• Todo EIA inicia por um checklist. Quanto mais específico for esse checklist,
maiores são as chances de um Estudo Ambiental levantar todas as informações
pertinentes para o desenvolvimento sustentável.

• A Matriz de Leopold é um instrumento que permite visualizar e quantificar


o impacto causado pela instalação de um empreendimento, levando em
consideração as componentes abióticas e bióticas do sistema natural.

• Juntos, órgão ambiental, consultoria ambiental e empreendedor devem ter bom


senso para que as melhores medidas sejam tomadas e os menores impactos
aconteçam.

181
AUTOATIVIDADE

1 Com base no que foi dito até agora, como autoatividade, sugerimos que você
esquematize um checklist, que servirá para nortear um EIA/RIMA de uma
PCH, ou pequena central hidrelétrica. Não esqueça que essa “listagem” não
foi fornecida pelo órgão licenciador, como procedimento padrão, e você,
como gestor ambiental, não quer colocar a credibilidade da sua competência
em risco, participando de um EIA de má qualidade. Lembre-se ainda de que
as componentes físicas, biológicas e socioeconômicas deverão ser avaliadas.
Posteriormente, se quiser mensurar os impactos do empreendimento, pode
simular uma matriz de Leopold. Mãos à obra!

182
REFERÊNCIAS
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ANOTAÇÕES

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