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PARA CONHECER A TEOSOFIA

INTRODUÇÃO
Estou relendo o livro O BABUÍNO DE MADAME BLAVASTKY do autor britânico Peter
Washington, interessante narrativa que descreve a história de místicos e médiuns, a origem
da teosofia e a popularização do Guru ocidental. Ao tratar das origens da teosofia, o autor
tenta explicar como o século 19 juntou o pensamento oriental com inúmeras vertentes
ocidentais resultando na “salada mista” de segmentos esotéricos da atualidade. Peter
Washington mostra os bastidores do desenvolvimento das correntes místicas originadas nos
Estados Unidos e na Europa em meados do século 19, denunciando tramas relacionadas a
sexo, dinheiro e fraude entre gurus que pregavam castidade, desapego e integridade. Mas
também consegue penetrar com profundidade no universo conceitual de diversas correntes
do pensamento místico do Ocidente, com um surpreendente talento para lidar com as
ambiguidades humanas. Se esse mergulho traz uma desconfortável transparência para
muitas dessas instituições, comprova também, sem apelos irracionais ou místicos, que os
homens têm profundas necessidades interiores a serem supridas.
Mas o que a insatisfação espiritual dessa época pedia, segundo Washington, “não era
exatamente novas doutrinas, mas sacerdotes carismáticos, que poderiam muitas vezes ser
substituídos por escritores e até por líderes políticos”. A busca de uma "chave para tudo",
mesmo que na forma de uma doutrina, teria de passar, necessariamente, por carismáticos
mestres espirituais. Sobre isso, o autor de O Babuíno de Madame Blavatsky faz uma citação
interessante: "Talvez esta seja a definição de carisma: que cada pessoa pode tão facilmente
revestir seu objeto com seus próprios sonhos". Estava aberto, assim, o caminho para o
surgimento do guru ocidental.
Nas minhas pesquisas e investigações de movimentos políticos, religiosos e científicos,
sempre considerei importante situar determinado dogma ou teoria na história. Uma
máxima recorrente é que sempre há um ambiente propício para que isso aconteça. Assim,
ao estudarmos a Teosofia e seu mundo de origem precisamos entender o tempo e porque
ela vingou como sociedade esotérica. Assim, precisamos entender o século 19.

A SOCIEDADE

A Sociedade Teosófica foi fundada em 1875 em Nova York, numa época em que
parecia que se havia chegado ao auge do enfraquecimento das instituições religiosas. Os
abusos de poder eclesiástico e as maquinações entre Igreja e Estado trouxeram para essas
instituições uma grande vulnerabilidade, com revoltas internas e dissidências explícitas,
expondo-as às críticas de ateus, liberais e radicais. Afirma Washington, "ia se tornando claro
que existia no Ocidente um enorme e duradouro apetite público por formas novas e exóticas
de crença religiosa, para suplementar e até mesmo substituir formas ortodoxas de
cristianismo".
O surgimento da Sociedade Teosófica fundada por Helena Petrovna Blavatsky, Coronel
Henry Olcott, William Quan Judge e outros trouxe o hinduísmo para o Ocidente ideias e
conceitos que pretendiam unificar ciência, religião e filosofia - mostrando propósitos
espirituais por trás dos fatos da ciência, além de dar uma profundidade espiritual à religião e
à filosofia. O místico Emmanuel Swedenborg (1688-1772) já havia tentado, na Suécia, um
caminho que fundia ciência e religião, com direito a visões de Jesus Cristo e a sonhos
reveladores. Outro antecessor da Teosofia, o suíço Franz Anton Mesmer (1735-1815), havia

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proposto que todos os corpos são envolvidos por uma espécie de fluido magnético, cujo
fluxo poderia ser detectado e dirigido por indivíduos sensitivos com fins terapêuticos.
A Sociedade Teosófica foi inspirada nas culturas hinduísta, xivaísta, egípcia e outras da
Antiguidade. Seu objetivo era pesquisar e divulgar "as leis que governam o Universo". Havia,
para eles, o pressuposto da existência de uma doutrina universal secreta e o de que todas
as religiões são essencialmente uma mesma religião. A descoberta dessas leis universais se
dava, segundo eles, por revelações feitas por espíritos que se manifestavam por cartas
(precipitação das cartas) dirigidas a Blavatsky e a Olcott. Apesar dos fracassos iniciais, a
Sociedade Teosófica logo conseguiu atrair nobres e outros milionários e famosos que
custearam a expansão da entidade e de suas filiais, além de viagens e hospedagens da sua
dupla de fundadores para vários países.
A palavra teosofia deriva da palavra grega Theo, que significa Deus, e sophos significa
sábio, e pode ser traduzida como "sabedoria divina" ou "ensino divino". A teosofia é
chamada de esotérica porque lida com o que está oculto e não é óbvio. O Manual da
teosofia é o livro A Doutrina Secreta de Blavatsky editado em 1888. Nesse livro, a autora
propõe os princípios e dogmas da Teosofia e cita profusamente Platão, Confúcio, Jesus,
Buda bem como textos completos dos Upanishads (comentários antigos sobre os Vedas,
livros sagrados do hinduísmo).
Com fortes semelhanças com o misticismo e a espiritualidade orientais, a Teosofia
tem uma relação entrelaçada com o hinduísmo - especialmente os Upanishads e Advaita
Vedanta (filosofia hindu) - e também com o budismo. Os estudiosos do hinduísmo
reconhecem a cópia de textos sagrados presentes na Obra de Blavatsky. Mas os teosofistas
mais fanáticos alegam que na verdade a teosofia não copiou nada de nenhuma religião, mas
tem algo em comum com muitas religiões, especialmente Hinduísmo e Budismo.
Na tentativa de popularizar suas doutrinas, a Sociedade Teosófica realizou atividades
e palestras com swamis da Índia que deram demonstrações de ioga e levitação ao público
em geral, despertando o interesse das pessoas pelas ciências espirituais do Oriente. O
misticismo teve um papel importante na Teosofia. Os membros devotos desenvolveram e
incentivaram práticas como ler a aura das pessoas, canalizar lembranças de vidas passadas
etc. Tais manifestações despertaram o interesse das pessoas pelos aspectos místicos do
hinduísmo. Sobre isso, Gurudeva Sivaya Subramuniyaswami (místico hinduísta nascido nos
Estados Unidos como Robert Hansen) comentou: "O conhecimento sobre a indestrutibilidade
da alma, a alma individual como sendo a única com a realidade última, e a consciência do
corpo astral deram às pessoas uma nova autoimagem deram ao indivíduo uma imagem feliz
e confiante, uma nova maneira de olhar para si mesmo”.
Blavatsky trabalhou para introduzir no Ocidente as ideias filosóficas e religiosas do
Oriente, com o objetivo de mostrar seus valores mútuos e interdependentes. Ela e seus
colegas encontraram muita oposição, acusados de fraudes e plágios, mas também atraíram
muito interesse por meio de seus escritos, palestras e contatos pessoais. Elitista, a Teosofia
desde o início foi voltada para as classes sociais elevadas, nobres e ricos.
Madame Blavatsky, HPB, como era conhecida, era uma mulher culta e amplamente
viajada. Brilhante, ardente e espirituosa. Carismática, ela atraia a atenção das mentes mais
brilhantes e estava sempre na companhia de cientistas, filósofos e estudiosos. HPB
escreveu muitos livros - Isis Sem Véu, A Voz do Silêncio e Chave para a Teosofia. Mas
sua obra capital é A Doutrina Secreta, seu livro mais profundo e base dos dogmas da
Teosofia.
Helena Petrovna Blavatsky nasceu em 1831, na Rússia, de família nobre. Criança
talentosa, linguista, pianista e artista, sentiram ainda menina seus poderes espirituais em

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desenvolvimento e que os usaria a serviço da humanidade. Ela se casou aos dezoito anos,
mas logo abandonou o casamento e viajou pelo mundo. Aos 20 anos de idade, em 1851,
afirmou ter conhecido o Mestre Morya, que, segundo ela, foi o ponto de virada em sua vida
espiritual.
HPB viajou para a Índia e entrou no Tibete via Caxemira e Ladakh. Lá, ela passou três
anos treinando com seu mestre espiritual, depois partiu do Oriente por volta de 1857. Viajou
pela Europa e por outros lugares e voltou ao Tibete, onde ficou de 1867 a 1870, e completou
seu controle dos poderes ocultos. Seu segundo mestre foi Koot Homi.
Blavatsky era uma clarividente e mística prática. Seu livro A Doutrina Secreta contém
citações de Upanishads e de outros livros hindus, embora se diga que ela não possuía
esses livros. Segundo John Algeo, presidente da Sociedade Teosófica nos Estados Unidos,
“grande parte do aprendizado de Blavatsky foi intuitivo. Sua filosofia é altruísta, ditada pelo
princípio de unidade do Vedântico, que é o mesmo da Teosofia, e que deve ser usada para
o bem da humanidade”.
Depois de viajar para o Egito, Síria e Constantinopla, ela foi convidada a ir para aos
Estados Unidos e desembarcou em Nova York em 1873, aos 42 anos; estava no auge de
seus excepcionais poderes espirituais, mentais e psíquicos. Para explicar a recém-
descoberta sabedoria oriental da Teosofia para o Ocidente, ela enfrentou o desafio das
crenças e dogmas do cristianismo, por um lado, e por outro, a visão igualmente dogmática
da ciência de seus dias.
Foi também na Índia que outra líder teosófica, irlandesa de origem britânica, Annie
Besant, figura fundamental na sistematização da teosofia surgiu no cenário místico do
ocultismo incipiente. Jornalista, escritora e editora prolífica esteve envolvida em muitos
movimentos partidários políticos. Besant conheceu a Teosofia pela primeira vez em 1889 na
Inglaterra, quando revisou o livro A Doutrina Secreta e foi atraída pela Sociedade Teosófica.
Ela foi à Índia pela primeira vez em 1893 em conexão com o trabalho teosófico.
Besant se envolveu nas questões políticas indianas então sob tutela do Império
Britânico. Já estudiosa do hinduísmo e inflamada pela Teosofia, fazia discursos políticos
sobre o hinduísmo e a condição da Índia sob o domínio britânico. Ela traduziu vários
Upanishads com comentários em inglês, contribuindo muito e significativamente para a
causa do hinduísmo, bem como da teosofia. Na Índia, Annie Besant viu que, sob a influência
do pensamento ocidental, da educação e dos missionários cristãos, os jovens indianos
instruídos começaram a perder o orgulho de seus ideais, cultura e religião do passado.
Segundo Besant, “a civilização antiga e superior da Índia no mundo estava sendo roubado
econômica e intelectualmente pelos britânicos”. Mas as pessoas que eram atraídas pela
Teosofia, acreditavam em sua doutrina, no Vedanta e em muitos aspectos da filosofia hindu.
Assim, durante o governo britânico da Índia quando o ambiente político não era propício ao
hinduísmo, tanto Besant quanto o movimento teosófico mantiveram vivo e florescente o
interesse das pessoas pelo hinduísmo.
Besant influenciou diretamente Mahatma Gandhi, Jawaharlal Nehru, Sarojini Naidu, C.P.
Ramaswami Aiyer e muito mais. Militante pela independência da India foi presa pelos
britânicos em 1916. Houve uma reação inesperada e mundial contra sua prisão, o que
resultou em despertar os indianos a lutar pela independência da Índia. As diferenças com
Gandhi e outras complicações eventualmente a fizeram abandonar a política e se concentrar
no trabalho religioso. Besant tornou-se presidente internacional da Sociedade Teosófica em
1907 após a morte do coronel Olcott, que se tornara presidente após a morte de Blavatsky.
Charles Webster Leadbeater, um colega teosofista de Annie Besant, era um grande
místico que se tornou proeminente na Sociedade Teosófica na década de 1890. Dotado de

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um corpo robusto e uma personalidade dinâmica, entre seus poderes místicos estava a
capacidade de rastrear vidas passadas das pessoas. Homossexual, Leadbeater foi acusado
inúmeras vezes de assediar homens jovens em diversos países. Ele é creditado por ter
"descoberto" Krishnamurti em 1908, quando o garoto tinha 13 anos. Sendo clarividente,
Leadbeater viu uma aura luminosa, sem um traço de egoísmo em torno de Krishnamurti. Ele
o declarou uma encarnação do Senhor Maitreya e futuro Messias. Assim, o indiano Jiddu
Krishnamurti foi preparado por Besant e Leadbeater para ser um novo Cristo. Krishnamurthi
se desligou da Sociedade Teosófica, após vários desentendimentos, em 1929. Como místico
e “guru” ele deixou uma marca e um legado no pensamento místico do mundo. Muitos outros
deixaram a Teosofia como os russos George Gurdjieff e Peter Ouspensky, o austríaco
Rudolf Steiner, fundador da Antroposofia, e vários outros.
Teosofia e o Hinduísmo estavam entrelaçados. Embora a Teosofia tenha copiado textos
completos do Hindu Sanatana Dharma e o Vedanta fica claro que as raízes da teosofia
estão na filosofia Hindu. Mas os teosofistas sustentam que sua doutrina não está enraizada
em nenhuma religião, mas apenas compartilha uma semelhança com os outros.
O que fez e continua a tornar a Teosofia influente é que ela abre os olhos das pessoas
para as grandes verdades internas da onipresença de Deus, a unicidade de Deus e da alma
e a bondade de todos. As religiões dualistas ocidentais haviam sido confrontadas com a
revolução científica no final do século 19. Numa época em que muitos estavam preparados
para aceitar a visão ateísta dos cientistas, a Teosofia proporcionou uma substituição
plausível, verificável e completamente satisfatória, especialmente entre os mais instruídos. A
Teosofia nunca foi popular entre a classe média ou entre os mais pobres.
Hoje, existem cerca de mais de 5.000 membros entre os 150 ramos da Sociedade
Teosófica em várias cidades dos Estados Unidos. A Sociedade possui filiais em 50 países. A
influência da Sociedade Teosófica, segundo a Enciclopédia Britânica, "tem sido bastante
significativa, apesar de seus poucos seguidores. O movimento tem sido uma força catalítica
no renascimento asiático do budismo e hinduísmo no século 20 e uma agência pioneira na
promoção. maior conhecimento ocidental do pensamento oriental”.
Algumas das pessoas mais influentes de sua época foram atraídas pela Teosofia como
o escritor Oscar Wilde, o poeta W.B. Yeats, George Bernard Shaw, Frank Lloyd Wright,
Thomas Edison e o General Abner Doubleday.
Algumas organizações surgiram vinculadas aos primeiros teosofistas: Movimento Eu
Sou, Rosacrucianismo, Igreja Católica Liberal, Psychiana, Ciência Cristã e Movimento
Novo Pensamento - todos influentes nos estratos mais altos da sociedade. Surgiram
também as escolas alternativas Waldorf (EUA e Reino Unido); a Igreja Universal
Triunfante do casal esóterico Elizabeth e Mark Prophet; a Human Service Alliance,
sediada nos EUA; a London School of Economics e a St. James School; e o canalizador
da Nova Era J. Knight, dentre outros. O famoso Jardim Findhorn, na Escócia, foi inspirado
na Teosofia.
As traduções dos Upanishads e Bhagavad Gita de Swami Prabhavananda pelo
teosofista Christopher Isherwood tiveram sucesso singular em transmitir claramente o
pensamento hindu ao Ocidente. Os livros de Leadbeater sobre ciências ocultas, como
chakras e auras, reforçaram os Aforismos de Yoga de Patanjali. O livro de Aldous Huxley,
Doors of Perception (As Portas da Percepção), promoveu experiência mística e também
drogas psicodélicas, levando diretamente à explosão de interesse no Oriente nos anos 60.
Muitos dos conceitos e influência teosófica foram basilares para organizações do meio
ambiente, direitos dos animais e movimentos vegetarianos. Nenhum empreendimento
místico e esotérico no Ocidente é isento da influência desse período áureo da teosofia e do

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ocultismo, seja ioga, meditação, canalização, experiências de quase morte, cura natural,
pesquisa de vidas passadas, OVNIs, MT etc. Até o Hinduísmo hoje não está isento - o
ashram (comunidade reclusa para desenvolver a espiritualidade) do Havaí foi construído em
1929 por uma poetisa havaiana que tentou ensinar Teosofia aos nativos e moradores da
Ilha.

A DOUTRINA

Alguém que conheça um pouco de Vedanta ficará impressionado com a semelhança


dele com princípios básicos da Teosofia, conforme estabelecido por M. Blavatsky. Segundo
a Teosofia, a causa raiz de todo o universo, inclusive toda a sua criação animada e
inanimada, é uma entidade que é "onipotente, sem limites e um princípio imutável",
que, diz Blavatsky, é "a única realidade absoluta que antecede tudo manifestado, ser
condicionado". Essa entidade existia antes do início de toda a criação e estará
presente após a dissolução do conhecimento do universo. Blavatsky teria concluído
tudo isso por intuição.
Ela descreve ainda os três aspectos dessa realidade última como Movimento Abstrato
Absoluto, Espaço Abstrato Absoluto e Duração. O Movimento Abstrato Absoluto é uma
concepção pré-cósmica. É a raiz dessa qualidade que possibilita a criatividade, e também é
a causa raiz da consciência individual. Através de infinitas graduações e "abaixamentos" (um
pouco como um transformador abaixa o poderoso poder da eletricidade para que se torne
útil e não destrutivo), ele se manifesta à medida que nossa consciência, nossa mente e
nossos pensamentos.
O Espaço Abstrato Absoluto é aquele aspecto que dá formas ou formas às diferentes
coisas do universo. A duração é a base do tempo, a partir da qual o princípio se manifesta.
Esse aspecto torna possível a "ação". Assim, a Teosofia afirma que, a partir desta realidade
última, derivamos nossa consciência, nossa mente, nosso poder de pensamento e nosso
poder de criar. É o único princípio que não é apenas a causa, mas a força unificadora e um
fator comum em toda a criação.
Este conceito teosófico da realidade última é semelhante ao princípio de Brahman
(segundo a mitologia hindu, a força criadora), proposto pelo Advaita Vedanta. A única
diferença sutil é que, enquanto os sábios upanishadicos e os comentaristas de
Brahmasutras como Shankaracharya descreviam a natureza de Brahman como Sat, Chit e
Ananda, ou existência, consciência e bem-aventurança, a Teosofia delineia seus aspectos
de uma maneira diferente.
Depois de estabelecer o único fio comum em todo o universo, o próximo resultado lógico
é a doutrina da Vida Única, fraternidade universal, não apenas um ideal que esperamos
alcançar um dia em um futuro distante.
A primeira proposição da teosofia considera a irmandade uma lei inevitável, tão
inevitável quanto à lei da gravidade, ou qualquer outra lei natural pela qual a vida se
manifeste. Conota um respeito implícito por todos os seres humanos, bem como por todo o
reino dos seres vivos. Não podemos violar essa lei, mas podemos nos quebrar contra ela. O
conceito de uma realidade última por trás de tudo é uma declaração benevolente com
aplicações na vida prática diária.
A segunda proposição da Teosofia afirma a universalidade absoluta da lei da
periodicidade através da qual a Vida Única opera o fluxo e o refluxo da atividade. Blavatsky
afirma que as alternâncias de dia e noite, vida e morte, sono e vigília são tão comuns que é
fácil perceber que a regra da periodicidade é uma das leis fundamentais da natureza. O
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sexto capítulo do Bhagavad Gita fala da mesma forma sobre os pares de opostos, como
prazer e dor, luz e escuridão, noite e dia que se seguem.
Blavatsky refere-se ao próprio universo como a manifestação periódica da realidade
última. O universo é Maya (termo hindu para a ilusão do mundo real), ela nos diz no sentido
de que é temporário. Haverá muitas fases da criação através de milênios e milênios. As
criações mudam, o único fator constante é a realidade última da qual a criação brota. Maya,
em sua opinião, não é ilusão, mas é um poder, o poder da criação. O significado da raiz da
palavra maya significa "uma criação ou exibição mágica".
A terceira proposição básica da Teosofia afirma a identidade fundamental de toda alma
com a Superalma universal e a "peregrinação obrigatória de toda alma através do ciclo de
encarnação ou necessidade", como Blavatsky comenta sobre o ciclo de nascimentos e
mortes que cada alma sofre. Cada alma é responsável por suas próprias ações, mas deve
viajar na companhia de outros peregrinos com carinho e ajuda mútua.
Por causa de nossa identidade com a Superalma, somos dotados de poderes físicos,
como andar e falar, e poderes mentais de pensar e sentir. Nós, como seres humanos,
fazemos parte da mesma grande inteligência que projetou e mantém o universo complexo
dentro de seu conjunto de leis naturais, que o mantém em perfeito equilíbrio.
A Teosofia acredita em sete raças humanas que foram criadas na Terra em sequência,
com milênios quando essas raças se sobrepuseram. A teoria está em forte divergência com
a teoria da evolução de Charles Darwin. Enquanto ele postula uma sequência ininterrupta de
desenvolvimento linear, de formas de vida mais simples a mais complexas ou mais
elevadas, a Teosofia vê a evolução como o impulso da vida consciente de assumir formas
que atendam às suas necessidades internas.
A Teosofia acredita que a primeira Raça Raiz apareceu na Terra em uma época em que
o planeta ainda estava em um estágio formativo. Chamada raça etérica, compreendia seres
com corpos mais sutis, mais fluidos e menos densos. A segunda raça chamada
Hyporborean, tinha corpos soltos, meio humanos e aquosos.
Diz-se que a terceira raça-raiz, conhecida como lemuriana, habitou um continente no
que são hoje os oceanos Pacífico Sul e Índico. Esta raça é ancestral dos povos que mais
tarde ocuparam o continente africano e partes da Australásia, áreas onde foram encontrados
os primeiros restos humanos ou humanoides.
A Teosofia também acredita que certos grandes seres desceram à Terra e deram um
impulso espiritual ao aprofundamento da consciência humana. A quarta raça foi chamada de
Atlante, um nome derivado do célebre continente perdido da Atlântida a que Platão se
referia. A quinta raça raiz é a ariana, e, embora geralmente se refira às tribos indo-europeias
que invadiram a Índia, o termo ariano significa literalmente nobre e, na Teosofia, a palavra
se refere a todos os povos diversificados da quinta raça.
As sextas e sétimas raças ainda estão por vir, e seus papéis e culturas nesta terra ainda
são desconhecidos. Diz-se que cada uma das sete raças-raiz tem três representantes: 1.)
homem-progenitor ou homem arquetípico; 2.) um Bodhisattva-Buda para ser ou um futuro
iluminado; e 3.) um Mahachohan - o título tradicionalmente dado à cabeça ou ápice do
desenvolvimento cultural e espiritual interno de uma raça.
A Sociedade Teosófica é organizada em seções nacionais e estas, por sua vez,
compõem-se em Lojas e Grupos de Estudos. A maioria das lojas e grupos de estudo realiza
reuniões públicas com palestras, cursos, debates e outros eventos desse tipo. Existem
outras atividades de confraternização entre membros e simpatizantes. No Brasil, há dois
ramos distintos: a Sociedade Teosófica no Brasil, filiada à Sociedade Teosófica fundada por
Helena Blavatsky e a Sociedade Teosófica Brasileira, fundada por Henrique José de Souza.

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A Teosofia enfrentou sérios problemas desde sua fundação. Além da guerra de “egos”
aliada aos problemas políticos da época (Domínio Britânico da India), HPB foi acusada de
plágio, fraude e charlatanismo. Temperamental e autoritária era pessoa de difícil
relacionamento. Entre seus opositores indianos, muitos deles não aceitavam suas cópias e
plágio de livros sagrados da Índia. Ela insistia que esteve sob orientação e discipulados de
mestres hindus, mas como mulher, era algo muito improvável.
HPB criou termos como médium passivo (que para nada servia, mero canal receptor)
numa visível crítica aos analfabetos e pouco instruídos que diziam psicografar mensagens
de espíritos evoluídos e cultos e médium ativo (que, como ela,podia controlar os espíritos).
Uma carta aberta escrita em abril de 1890 pela fundadora do movimento teosófico expõe o
clima hostil e desagregador dos bastidores da Sociedade Teosófica. O título original é:
“Why I Do Not Return to India” (Por que eu não volto à Índia). O documento como carta
aberta e pública, deveria ser distribuído a todos os teosofistas indianos. No entanto, a Carta
foi ocultada e permaneceu em segredo durante 32 anos, fato que também aumenta a
gravidade do seu conteúdo. Depois de ser escondido durante décadas, o texto foi publicado
em “The Theosophist” (O Teosofista), em Adyar, Índia, em janeiro de 1922 e está incluído na
coletânea “Theosophical Articles” (Artigos Teosóficos), de Helena Blavatsky.

CONCLUSÃO

Em seu livro A Doutrina Secreta, Helena Blavatsky afirma que "não há nenhum bem ou
mal em si, como não há nem "elixir da vida" nem "elixir da morte", nem veneno em si. Tudo
está contido na única e mesma essência universal, dependendo os resultados do grau de
sua diferenciação e de suas várias correlações. O seu lado de luz produz vida, saúde, bem-
aventurança, paz divina, etc.; o lado de trevas traz morte, doenças, tristezas e conflitos.”.
Curiosamente, ela foi doente fisicamente durante quase toda a sua vida, fato agravado
nos seus últimos anos. Obesa, fumante inveterada e usuária de haxixe, HPB faleceu em
1891, aos 59 anos de idade vítima de uma grave epidemia de gripe.

O objetivo dessa breve resenha não é desqualificar os propósitos ou os fundamentos da


Teosofia e de outras correntes místicas. Assim como outros momentos da história da
religiosidade e misticismo humanos, é visível como os principais mentores dessas seitas que
enfatizavam a busca da autodisciplina física e mental, a fraternidade e o desapego dos
valores materialistas, eram apenas seres humanos idênticos aos muitos mentirosos,
megalomaníacos e trapaceiros presentes na política, nos negócios e na própria religião.

Dionildo Dantas

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