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1º MÓDULO – O AUTISMO E A SELETIVIDADE ALIMENTAR

O termo Seletividade Alimentar carrega uma variedade de significados que


incluem a recusa alimentar, repertório restrito de alimentos e até mesmo a ingestão
frequente de único tipo de alimento.

Foto: reprodução

A seletividade alimentar não é um problema exclusivo das crianças com


diagnóstico de Transtorno do Espectro Autismo (TEA). Aproximadamente um quarto
de todas as crianças têm problemas alimentares nos primeiros anos de vida, porém a
taxa é de 80% em crianças com algum atraso de desenvolvimento.

Embora esta restrição alimentar não seja incomum entre crianças pequenas
com desenvolvimento típico, ela pode ser ainda mais restritiva em crianças com TEA
podendo se estender além do período da primeira infância.

Seletividade Alimentar e Autismo, qual a relação?

Uma das características diagnósticas do TEA está relacionada a problemas de


modulação sensorial da audição, visão, olfato, paladar e toque. Esse processamento
sensorial anormal é considerado um dos fatores que contribuem para a Seletividade

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Alimentar. Nesses casos, os padrões são regidos pela aversão a alguns fatores, que
podem envolver textura, cor, sabor, forma, temperatura e cheiro do alimento.

Por outro lado, quando não há fatores orgânicos identificáveis, a questão


alimentar pode ser considerada como manifestação de interesses restritos e
comportamento de rigidez, que também são características do autismo. A rigidez é
caracterizada como a relutância em experimentar novos alimentos, ter um pequeno
repertório de alimentos aceitos, não realizar as refeições em horários e locais
diferentes, e até mesmo a resistência a apresentação de pratos e tipos de utensílios
novos.

É importante a colaboração entre nutricionistas, nutrólogos e psicólogos


analistas do comportamento para aumentar a eficácia da intervenção dietética.

O suporte nutricional é necessário sob a forma de preparação de cardápio e


possível suplementação de vitaminas e minerais. A avaliação de nutrólogo
especializado também é fundamental para avaliar possíveis comprometimentos
orgânicos e orientar na suplementação alimentar de acordo com as necessidades do
organismo em questão.

O analista do comportamento provê a quebra de rigidez comportamental


referente à seletividade alimentar, dessensibilização e aceitação de variedade de
alimentos. contingências também variadas.

Desta forma, a identificação de alimentos adequados, a modificação das


características sensoriais (exemplo: a textura) dos alimentos, o fornecimento de
utensílios alimentares adequados, a modificação do meio ambiente (estímulos) e a
incorporação de intervenções comportamentais de suporte podem ajudar a facilitar
uma nutrição adequada, reduzir o estresse familiar nas horas das refeições e melhorar
a saúde da criança.

Referências Bibliográficas:

Cermak, S. A., Curtin, C., & Bandini, L. G. (2010). Food selectivity and sensory sensitivity in children with
autism spectrum disorders. Journal of the American Dietetic Association, 110(2), 238–246.
http://doi.org/10.1016/j.jada.2009.10.032.

Marí-Bauset, S., Zazpe, I., Marí-Sanchis, A., Llopis-González, A., & Morales-Suárez-Varela, M.M. (2014).
Food selectivity in autism spectrum disorders: a systematic review. Journal of child neurology, 29 11,
1554-61.

Fonte:
https://www.grupoconduzir.com.br/o-autismo-e-seletividade-alimentar/

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SELETIVIDADE ALIMENTAR NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é descrito como uma síndrome


neurológica e comportamental, caracterizada principalmente pelo prejuízo persistente
na comunicação social recíproca e na interação social, bem como a presença de
padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Tais sinais
tornam-se evidentes nos primeiros anos de vida da criança, e podem afetar
diretamente seus hábitos alimentares.

As crianças com o transtorno do espectro autista frequentemente apresentam


seletividade alimentar, visto que o comportamento repetitivo e o interesse restrito
podem ter papel importante na recusa e resistência ao novo.

Além disso, a baixa aceitabilidade de alimentos pode estar associada também


aos distúrbios sensoriais comumente presentes no autismo, conhecido como
transtorno de processamento sensorial.

Transtorno do Processamento Sensorial no Autismo

O transtorno do processamento sensorial consiste na resposta desproporcional


a um determinado estímulo sensorial, que pode provocar o aumento ou diminuição do
nível de excitabilidade ou até mesmo flutuações entre estes dois extremos. Sabe-se
que cerca de 78 a 90% das crianças com autismo podem apresentar alterações do
processamento sensorial, levando a um impacto importante na alimentação, porém
normalmente não é percebida devido às dificuldades de comunicação desses
pacientes, principalmente na primeira infância.

As crianças autistas com transtorno de processamento sensorial podem ser


hiper-responsivas, reagindo de forma exagerada ao um determinado estímulo, que se
manifesta através da ansiedade, medo ou comportamento de oposição, ou serem
hiporesponsivas, reagindo de forma apática e sem demonstração de interesse.

Por isso, quando estas alterações ocorrem no momento da refeição, dado toda
experiência sensorial presente (odores, texturas, sabores e cores), favorece a recusa
de certos tipos de alimentos pela criança.

Em função disso, é comum que crianças hiper-responsivas tenham o consumo


restrito de alimentos de uma determinada cor ou textura, ou preparações com pouco
tempero por causa do sabor e do cheiro, o que torna a alimentação da criança autista
seletiva e pouco diversificada. Além disso, essa criança pode até mesmo apresentar

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dificuldades em permanecer na mesa durante a refeição, por se sentir desconfortável
com os inúmeros estímulos. Já as crianças hiporesponsivas podem levar horas para
terminar a refeição, sendo um grande desafio para a família.

Foto: reprodução

Embora as crianças com autismo possam apresentar um paladar restrito, a


seletividade alimentar deve ser trabalhada desde cedo, pois sem intervenção
nutricional, corre o risco da alimentação permanecer durante um longo tempo restrita,
o que compromete o estado nutricional, assim como, o desenvolvimento e
crescimento adequado da criança.

Dessa forma, é de suma importância que o Nutricionista faça a orientação


adequada aos pais ou responsáveis, no intuito de tornar a alimentação da criança com
autismo cada vez mais diversificada e nutritiva.

Bibliografia Consultada

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-
5®). American Psychiatric Pub, 2013.

CDC (2014) Prevalence of autism spectrum disorders among children aged 8 years: autism and
developmental disabilities monitoring network, 11 sites, United States, 2010. MMWR Surveillance
Summaries 63(2): 1–22.

DE CARVALHO, Jair Antonio et al. Nutrição e autismo: considerações sobre a alimentação do autista.
2012.

LEAL, Mariana et al. Terapia nutricional em crianças com transtorno do espectro autista. Cadernos da
Escola de Saúde, v. 1, n. 13, 2017.

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Fonte:
Publicado por Equipe Nutmed.
Nutricionista: Clara Machado.
https://nutmed.com.br/blog/nutricao-clinica/seletividade-alimentar-no-transtorno-do-espectro-autista

COMPORTAMENTOS ALIMENTARES ATÍPICOS NA INFÂNCIA PODEM SER


SINAIS DE AUTISMO, DIZ ESTUDO

Tá aí algo que os pais costumam conhecer bem em seus filhos: hábitos


alimentares. Algumas crianças comem todo e qualquer alimento. Já outras, são
seletivas e a hora da refeição é uma verdadeira batalha. No entanto, um novo estudo
da Penn State College of Medicine, nos Estados Unidos, afirma que a forma como as
crianças se comportam diante da comida pode revelar muito sobre elas, inclusive ser
um sinal de alerta em relação ao autismo.

Os pesquisadores avaliaram os comportamentos alimentares em entrevistas


com pais de mais de 2 mil crianças. Eles investigaram a diferença na frequência de
comportamentos alimentares incomuns entre crianças típicas e aquelas com autismo,
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e outras desordens. O estudo
descobriu, portanto, que comportamentos alimentares atípicos estavam presentes em
70% das crianças com autismo — o que é 15 vezes mais comum do que em crianças
neurotípicas.

De acordo com a professora de psiquiatria Susan Mayes, esses


comportamentos são frequentes, principalmente, em bebês de 1 ano e incluem: ter
uma alimentação muito limitada, ou seja, preferência por pouquíssimos alimentos,
hipersensibilidade às texturas ou temperaturas e manter os alimentos na boca, sem
engolir. "Se um provedor de cuidados primários ouvir sobre esses comportamentos
dos pais, eles devem considerar encaminhar a criança para uma triagem de autismo",
alerta a pesquisadora.

RESISTÊNCIA A NOVOS ALIMENTOS

"Uma vez eu tratei uma criança que não comeu nada além de bacon e bebeu
apenas chá gelado. Dietas incomuns como estas não sustentam crianças", afirma Keith
Williams, diretora do Programa de Alimentação do Penn State Children's Hospital. Para

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ela, identificar e corrigir esses comportamentos pode ajudar a garantir que as crianças
estejam fazendo uma dieta adequada.

No entanto, Keith chama atenção para uma diferença marcante: a maioria das
crianças sem necessidades especiais irá lentamente adicionar alimentos às suas dietas
durante o desenvolvimento, mas as crianças com transtornos do espectro do autismo,
sem intervenção, geralmente permanecerão comedores seletivos. "Nós vemos
crianças que continuam a comer comida para bebês ou que não experimentam
texturas diferentes. Até vemos crianças que não conseguem fazer a transição da
mamadeira", pontua.

Susan complementa, explicando que como as crianças com autismo têm


hipersensibilidades sensoriais e não gostam de mudanças, elas podem não querer
experimentar novos alimentos e serão sensíveis a certas texturas. Frequentemente
comem apenas alimentos de determinada marca, cor ou forma.

Foto: reprodução

Para Susan, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais rápidamente a
criança pode começar o tratamento com um analista do comportamento. Estudos
anteriores mostraram que a análise comportamental aplicada é mais eficaz se
implementada durante os anos pré-escolares, já que são utilizadas uma série de
intervenções, incluindo recompensas, para fazer mudanças positivas no
comportamento e ensinar habilidades necessárias. "Este estudo forneceu mais
evidências de que esses comportamentos alimentares incomuns são a regra e não a
exceção para crianças com autismo", finaliza Keith.

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Fonte: https://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/noticia/2019/07/comportamentos-
alimentares-incomuns-podem-ser-um-novo-indicador-para-o-autismo-diz-estudo.html

NEOFOBIA ALIMENTAR

Já ouviu falar em neofobia alimentar? Trata-se de uma resistência a algum


alimento, motivado pelo cheiro, cor ou mesmo textura. Muitos pais reclamam que
seus filhos são resistentes na hora da alimentação, mas você sabia que existe até um
nome para isso? Trata-se da neofobia alimentar, ou o medo do ingerir alimentos
desconhecidos, que afeta principalmente crianças até 7 anos de idade. Entretanto, em
crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), essa fase pode demorar mais
tempo para passar.

É o caso do pequeno Matheus, de 11 anos, filho da bancária Camila Marzo.


“Cada prato novo incluído no cardápio é uma vitória!”, conta a mãe. A mais recente
delas foi a aventura para provar um pastel de carne, que o menino acabou gostando.
“Nem sempre são as opções mais saudáveis ou as que gostaríamos que fossem, mas a
gente tem que comemorar cada avanço”, explica Camila.

“Crianças com autismo podem apresentar hipersensibilidade, e a recusa em


experimentar novos alimentos pode se dar por vários fatores, inclusive o cheiro, a
textura ou até mesmo o sabor. Os sentidos sensoriais podem estar mais sensíveis,
fazendo com que a criança perceba o alimento de maneira diferente dos demais”,
detalhe a psicóloga Gabriella Pimpão Policeni.

O autismo se manifesta de diferentes maneiras: em crianças hiposensíveis, os


estímulos mais fortes, como corantes, texturas e sabores, não incomodam. Porém,
aquelas com hipersensibilidade podem apresentar diferentes reações ao toque, ao
cheiro, à visão e à audição – ambientes muito coloridos ou barulhentos podem
incomodar, por exemplo.

E é por conta da hipersensibilidade que algumas acabam desenvolvendo a


neofobia alimentar. “Pode ser por conta do cheiro para um, para outro pode ser só
pela cor, ou até mesmo tudo isso combinado”, detalha a psicóloga infantil Carolina
Celli Cadena, que possui especialização em inclusão de crianças. No caso do Matheus,
trata-se dessa combinação de fatores. “Às vezes ele reclama da cor, em outras do
cheiro; não existe um padrão”, detalha Camila.

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Efeitos da neofobia alimentar

A neofobia alimentar precisa ser tratada já que, em casos mais graves, pode
levar à desnutrição da criança. “[Às vezes] a recusa é tão grave que o mínimo que ela
aceita de alimentos não é suficiente para suprir o gasto calórico necessário no dia a
dia”, explica a psicóloga Gabriella. Nesses casos, pode ser necessário o uso de sondas e
suplementos nutricionais.

Outro problema de saúde que a criança pode desenvolver diz respeito à própria
musculatura facial. “Crianças que preferem alimentos pastosos podem desenvolver
problemas de mastigação, pois não utilizam os músculos da face na intensidade e
frequência necessárias para fortalecê-los”, detalha Gabriella.

É por isso que a neofobia deve ser tratada o quanto antes. “Dependendo da
idade que se começa o tratamento, perde-se muita coisa. Não que a gente não consiga
recuperar, mas quanto menor a criança, mais facilidade a gente tem para estimulá-la a
ter autonomia”, incentiva Carolina.

Segundo a psicóloga, a alimentação deve ser tratada a partir da


dessensibilização das crianças autistas que sofrem com a neofobia.

Esse trabalho precisa ser feito de maneira gradual e orientado por especialistas.
Os pais devem incentivar os mesmo alimentos em diferentes ocasiões, momentos e
receitas, mas jamais devem forçar os filhos.

“A criança precisa se sentir segura para entrar em contato com os alimentos,


seja cheirando, tocando ou colocando na boca sem necessidade de engolir”, ensina
Gabriella.

Outra tática inclui transformar a alimentação em algo mais lúdico, através da


inclusão de brincadeiras e formatos inusitados para a comida. A psicóloga Gabriella
incentiva o jogo da memória com bolachas desenhadas ou a construção de colares de
macarrão.

Também se deve criar uma rotina em casa para que a alimentação se


transforme em um momento familiar. “Se cada membro da família come em um
horário e em diferentes cômodos da casa (quarto, sala, cozinha) a criança terá
dificuldades em entender que a refeição faz parte do dia a dia”, detalha.

Escolas por dentro da rotina

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Por fim, é importante que as escolas e os colégios entendam as condições de
cada aluno, inclusive daqueles que estão passando por um processo de neofobia
alimentar.

“Hoje as escolas estão muito cientes dessa parte de inclusão de crianças com
autismo e também com outras síndromes e transtornos, então é sempre muito
importante que a escola esteja ciente para não se perder nenhum processo
conquistado pelos pais e psicólogos”, explica Carolina.

Na questão da alimentação, isso pode ser um processo mútuo: alguns pais


preferem mandar os alimentos que seus filhos comem, mas algumas escolas já estão
preparadas para ter um cardápio mais seletivo e específico. “No começo eu mandava,
mas, como agora o Matheus come bolacha, eu deixo que a escolinha tente a merenda
do dia ou forneça os biscoitos que meu filho gosta”, explica a mamãe Camila.

Fonte:
Por Diego Denck, especial para a Gazeta do Povo.
https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/saude-e-bem-estar/neofobia-alimentar-por-que-
criancas-com-autismo-resistem-certos-alimentos/

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