Você está na página 1de 29

DIREITO ADMINISTRATIVO

Professor Tiago Vidal Vieira

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO ADMINISTRATIVO


1

1. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO

• O Direito é dividido em 2 grandes ramos:

PÚBLICO
DIREITO
PRIVADO

• O Direito Administrativo é ramo do Direito Público e tem por objeto a regulação dos interesses da
sociedade. É a área responsável por disciplinar a relação entre esta e o Estado. Sendo ramo do Direito
Público, possui uma relação verticalizada frente ao administrado (particular).

• Em decorrência desta relação, detém uma série de prerrogativas e sujeições especiais que extrapolam
as relações entre particulares. E justamente o conjunto das prerrogativas e sujeições especiais é
conhecido como regime jurídico-administrativo.

• Dois princípios que, embora não sejam expressamente previstos não CF/88, são de fundamental
importância para sustentarem este regime, quais sejam: princípio da supremacia do interesse público
e princípios da indisponibilidade do interesse público.

 SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO: indica a prevalência do interesse coletivo sobre o


interesse individual.

 INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO: os interesses da coletividade não se encontram


à disposição de quem quer que seja, inclusive da própria Administração Pública.

OBS: O regime jurídico-administrativo é baseado em vários outros princípios, que também possuem
grande relevância dentro do Direito Administrativo.
 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

01. Ano: 2019 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado

Luciana, imbuída de má-fé, falsificou documentos com a finalidade de se passar por filha de Astolfo (recentemente
falecido, com quem ela não tinha qualquer parentesco), movida pela intenção de obter pensão por morte do pretenso
pai, que era servidor público federal. Para tanto, apresentou os aludidos documentos forjados e logrou a concessão do 2
benefício junto ao órgão de origem, em março de 2011, com registro no Tribunal de Contas da União, em julho de 2014.
Contudo, em setembro de 2018, a administração verificou a fraude, por meio de processo administrativo em que ficou
comprovada a má-fé de Luciana, após o devido processo legal. Sobre essa situação hipotética, no que concerne ao
exercício da autotutela, assinale a afirmativa correta.

a) A administração tem o poder-dever de anular a concessão do benefício diante da má-fé de Luciana, pois não ocorreu
a decadência.
b) O transcurso do prazo de mais de cinco anos da concessão da pensão junto ao órgão de origem importa na decadência
do poder-dever da administração de anular a concessão do benefício.
c) O controle realizado pelo Tribunal de Contas por meio do registro sana o vício do ato administrativo, de modo que a
administração não mais pode exercer a autotutela.
d) Ocorreu a prescrição do poder-dever da administração de anular a concessão do benefício, na medida em que
transcorrido o prazo de três anos do registro perante o Tribunal de Contas.

02. Ano: 2010 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado

Em determinado procedimento administrativo disciplinar, a Administração federal impôs, ao servidor, a pena de


advertência, tendo em vista a comprovação de ato de improbidade. Inconformado, o servidor recorre, vindo a
Administração, após lhe conferir o direito de manifestação, a lhe impor a pena de demissão, nos termos da Lei nº 8112/90
e da Lei 9784/98.

a) agiu em desrespeito aos princípios da eficiência e da instrumentalidade, autorizativos da reforma em prejuízo do


recorrente, desde que não imponha pena grave.
b) agiu em respeito aos princípios da legalidade e autotutela, autorizativos da reforma em prejuízo do recorrente.
c) não observou o princípio da dignidade da pessoa humana, trazendo equivocada reforma em prejuízo do recorrente.
d) não observou o princípio do devido processo legal, trazendo equivocada reforma em prejuízo do recorrente.

03. Ano: 2010 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado
Determinada empresa apresenta impugnação ao edital de concessão do serviço público metroviário em determinado
Estado, sob a alegação de que a estipulação do retorno ao poder concedente de todos os bens reversíveis já amortizados,
quando do advento do termo final do contrato, ensejaria enriquecimento sem causa do Estado. Assinale a opção que
indica o princípio que justifica tal previsão editalícia.

a) Desconcentração.
b) Imperatividade.
c) Continuidade do serviço público.
d) Subsidiariedade.

 GABARITO:

01- A / 02- B / 03- C


PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• Princípios são estruturas mestras do ordenamento. Ou seja, são valores fundamentais que sustentam 3
o sistema normativo, determinando o alcance e o sentido das regras.

• O artigo 37, caput, da Constituição Federal, traz cinco princípios que devem ser seguidos pela
Administração Pública: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência. São também
chamados de princípios mínimos do Direito Administrativo.

Art. 37, CF - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (…)

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE  No tocante à legalidade, para o particular tudo poderá ser feito desde que não
contrarie a lei. O particular deverá obedecer ao CRITÉRIO DE NÃO CONTRADIÇÃO À LEI.

Mas, para o administrador a situação é diferente junto ao princípio da legalidade. Ele somente poderá fazer o
que está previsto, expresso ou autorizado em lei. Para o administrador, para o direito público, há o CRITÉRIO
DE SUBORDINAÇÃO À LEI.

CRITÉRIO DE NÃO • Quanto à legalidade é o critério


CONTRADIÇÃO À LEI dado para o particular.

CRITÉRIO DA • Quanto à legalidade é o critério


SUBORDINAÇÃO À LEI utilizado pelo administrador.

PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE  É a ausência de interesse pessoal na conduta do administrador. É a


ausência da subjetividade. Os atos administrativos devem ser impessoais, não são atos da pessoa do agente,
são na verdade atos da pessoa jurídica. O agente apenas é o condutor para a realização do ato. Ele age
impessoalmente.

Exemplos: LICITAÇÃO e CONCURSO PÚBLICO são duas situações em que o princípio pode ser visualizado, haja
vista o administrador escolherá a melhor proposta ou o melhor candidato para a administração, não
importando quem é a pessoa beneficiada.

OBS: existem alguns doutrinadores que tratam o princípio da impessoalidade como sinônimo de princípio
da isonomia, ou ainda, como sinônimo de princípio da finalidade.
PRINCÍPIO DE MORALIDADE  Tem como base a ideia de “honestidade”. Também está ligado à ideia de
“lealdade” e também da “boa-fé” do administrador. O administrador agindo com moralidade, age com
correção de atitudes.

MORALIDADE PARA A MORALIDADE PARA A


ADMINISTRAÇÃO SOCIEDADE
4
• A moralidade administrativa é • A moralidade comum é o certo
mais rigorosa. O administrador e o errado do mundo em que
tem OBRIGAÇÃO DE vivemos.
DESEMPENHAR BOA
ADMINISTRAÇÃO.

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE  Significa dar conhecimento dos atos, da atividade administrativa ao titular do
direito (povo), que é o dono do interesse público (que dá fundamentação à atividade da Administração).

A partir do momento em que se distribui a ciência dos atos, haverá o início da produção de seus efeitos; início
da contagem de prazos; e ainda serve como mecanismo de controle e fiscalização destes atos e atividades.

Efeitos da
Publicidade
sobre os atos

Início da Possibilidade
Condição de
Contagem de de fiscalização
Eficácia
Prazos e controle

Exemplo: o artigo 61, parágrafo único, da Lei 8.666 /93, exige a publicação do contrato público, como condição
de eficácia.

Art. 61, lei 8666/1993


(…)
Parágrafo único. A publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na imprensa
oficial, que é condição indispensável para sua eficácia, será providenciada pela Administração até o quinto
dia útil do mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo de vinte dias daquela data, qualquer que
seja o seu valor, ainda que sem ônus, ressalvado o disposto no art. 26 desta Lei.
PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA  Foi introduzido na Constituição Federal através da EC 19/98. Tem por objetivo
evitar desperdícios, incrementar a produtividade, conferir agilidade e presteza no desenvolvimento das
atividades e serviços públicos, bem como racionalizar custos.

5
Efeitos da
Eficiência
sobre os atos

Agilidade,
Ausência de Economia
Produtividade Prestreza no
Desperdícios junto aos atos
Serviço

Exemplo: o servidor público estável passou a ser submetido a uma avaliação de desempenho para atestar suas
capacidades, sob pena de perda do cargo, conforme disposto no artigo 41, inciso III, da CF/88.

Art. 41, CF - São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento
efetivo em virtude de concurso público.

III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada
ampla defesa.

O princípio da eficiência tem muita preocupação com os MEIOS e os FINS. É preciso que se gaste o menor valor
possível, obtendo o melhor resultado possível.

Melhor resultado possível.


Princípio da
Eficiência Menor quantia de recurso
utilizado.

PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE/PROPORCIONALIDADE  Tanto o princípio da razoabilidade quanto o princípio


da proporcionalidade estão implícitos dentro da lei Constitucional. Mas, são princípios expressos da lei
ordinária, que trata dos processos administrativos:

Art. 2 o , lei 9784/1999 - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade são limitadores da atividade discricionária do


administrador. Por isso têm se dado muita importância para estes dois princípios.
Embora a aplicação dos princípios ocorra, na maioria das vezes, de forma conjunta, é possível fazer distinção
entre ambos: a razoabilidade é uma diretriz de senso comum, ou seja, consiste na atuação da Administração
Pública pautada na prudência, moderação e coerência.

Já a proporcionalidade seria uma vertente da razoabilidade, visando impedir que a Administração restrinja os
direitos dos particulares além do cabível, buscando o equilíbrio entre os meios utilizados e os fins que deseja
alcançar.
6
PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA  A Administração Pública possui capacidade de exercer o controle dos seus
próprios atos praticados. Ou seja, ela possui capacidade de anulá-los ou revogá-los, independentemente de
autorização do Poder Judiciário.

Se o ato for • Poderá a administração


ILEGAL anular seus atos.

Se o ato for • Poderá a administração


INCONVENIENTE revogar seus atos.

Duas súmulas editadas pelo Supremo Tribunal Federal tratam do referido princípio:

Súmula 346 – “A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.”

Súmula 473 – “A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO  Determina que a Administração Pública deve justificar seus atos, apresentando
as razões de fato e de direito que a levaram a adotar determinada decisão ou praticar determinado ato.

Muito importante não confundir motivo, que é elemento do ato administrativo, com motivação. Esta última,
de acordo com Maria Sylvia Zanella di Pietro “que motivo é o pressuposto de fato e de direito que serve de
fundamento ao ato administrativo e que a motivação é a exposição dos motivos, ou seja, é a demonstração,
por escrito, de que os pressupostos de fato realmente existiram.”

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

04. Ano: 2008 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem

Sobre os princípios da Administração Pública, é correto afirmar que


a) o principio da supremacia do interesse público prevalece, como regra, sobre direitos individuais, e isso porque leva em
consideração os interesses da coletividade.
b) o tratamento isonômico por parte dos administradores púbicos, a que fazem jus os indivíduos, decorre basicamente
dos princípios da impessoalidade e da moralidade.
c) o principio da razoabilidade visa impedir que administradores públicos se conduzam com abuso de poder, sobretudo
nas atividades discricionárias.
d) constitui fundamento do princípio da eficiência o sentimento de probidade que deve nortear a conduta dos
administradores públicos.

05. Ano: 2013 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: XII Exame de Ordem Unificado

Paula, com intenção de matar Maria, desfere contra ela quinze facadas, todas na região do tórax. Cerca de duas horas
após a ação de Paula, Maria vem a falecer. Todavia, a causa mortis determinada pelo auto de exame cadavérico foi 7
envenenamento. Posteriormente, soube-se que Maria nutria intenções suicidas e que, na manhã dos fatos, havia ingerido
veneno. Com base na situação descrita, assinale a afirmativa correta.

a) Paula responderá por homicídio doloso consumado.


b) Paula responderá por tentativa de homicídio.
c) O veneno, em relação às facadas, configura concausa relativamente independente superveniente que por si só gerou
o resultado.
d) O veneno, em relação às facadas, configura concausa absolutamente independente concomitante.

06. Ano: 2005 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem

Com relação aos princípios constitucionais da Administracao Pública, é correto afirmar que

a) o princípio da legalidade comporta exceção, no caso do ato discricionário.


b) são aplicáveis aos três níveis de governo da federação.
c) o desvio de finalidade implica ofensa ao princípio da publicidade.
d) são aplicáveis apenas ao poder executivo da União.

 GABARITO:

04-D / 05- B / 06- B

ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA

A atividade administrativa do Estado pode ser realizada pelo núcleo da administração (prestação centralizada),
mas também poderá ser transferida para outras pessoas (prestação descentralizada).

A criação de novas pessoas jurídicas é chamada de DESCENTRALIZAÇÃO!

•Quando a atividade é prestada pelo


PRESTAÇÃO núcleo, pelo centro da administração.
CENTRALIZADA

•Estado retira do centro a prestação e


PRESTAÇÃO transfere para outros entes, buscando a
DESCENTRALIZADA eficiência do serviço.
Este núcleo da administração é formado pelos ENTES POLÍTICOS: União, Estados, Distrito Federal e
Municípios. São dotados de personalidade jurídica e integram a chamada ADMINISTRAÇÃO DIREITA!

Para o melhor desempenho de suas atividades, cada ente político pode organizar sua estrutura em ÓRGÃOS
PÚBLICOS. São núcleos especializados de competência que não possuem personalidade jurídica e que
integram a mesma pessoa jurídica (ente político).
8
A criação de órgãos públicos é chamada de DESCONCENTRAÇÃO!!

UNIÃO

MINISTÉRIO
MINISTÉRIO MINISTÉRIO MINISTÉRIO
DA
DA EDUCAÇÃO DA SAÚDE DA JUSTIÇA
AGRICULTURA

4. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA

A administração indireta composta por:

 Autarquias;
 Fundações públicas;
 Empresas públicas;
 Sociedades de economia mista.

AUTARQUIA

FUNDAÇÃO
PÚBLICA
ADMINISTRAÇÃO
INDIRETA
EMPRESA PÚBLICA

SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA

Possuem personalidade jurídica própria, (podendo ser sujeito de direitos e podendo contrair obrigações),
possuindo capacidade para responder por seus próprios atos. São conhecidas como ENTIDADES
ADMINISTRATIVAS.

Para que as pessoas jurídicas da administração indireta respondam por seus atos, é necessário que possuam
patrimônio próprio, não importa a origem destes recursos.
São detentoras de autonomia TÉCNICA, ADMINISTRATIVA e FINANCEIRA.

AUTARQUIAS/FUNDAÇÕES PÚBLICAS

São entidades administrativas autônomas, criadas através de lei específica, com personalidade jurídica de
direito público, patrimônio próprio e atribuições determinadas (atividades típicas – prestação de serviços).
9
Exemplos: INSS, IBAMA, INCRA, BACEN, FUNAI, Conselhos de Classe (CREA, COREN, etc.).

Obs: As fundações públicas podem ser consideradas espécies de autarquias. Dessa forma, também são
chamadas de autarquias fundacionais ou fundações autárquicas.

Obs2: O STF, no julgamento da ADI 3.026/DF definiu que a OAB seria uma entidade sui generis.

Agências executivas – são autarquias/fundações especiais que, por iniciativa da administração direta,
celebram contrato de gestão (art. 37, §8º da CF), adquirindo o status de agência.

Através deste contrato, são estipuladas metas as quais visam a reestruturação da entidade administrativa,
tornando-as mais eficientes. Em contrapartida, recebem maior autonomia gerencial, orçamentária e
financeira.

Agências reguladoras – também são autarquias em regime especial. Sua função é regular a prestação de
serviços públicos, organizar e fiscalizar esses serviços, que são prestados por concessionárias ou
permissionárias, com o objetivo de garantir um bom serviço ao usuário.

Dentre as suas principais características, podemos destacar:

• Dirigentes possuem mandatos fixos;


• Dirigentes se submetem a um período de quarentena, após deixarem os quadros da entidade.

EMPRESAS PÚBLICAS

Pessoa jurídica de direito privado, integrante da administração indireta, instituída pelo poder público,
mediante autorização em lei específica, sob qualquer forma jurídica, e com capital exclusivamente público,
para exploração de atividades econômicas ou prestação de serviços públicos.

Exemplos: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT), Caixa Econômica Federal (CEF), Empresa
Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMPRAPA).

SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA

Pessoa jurídica de direito privado, integrantes da administração indireta, instituídas pelo poder público,
mediante autorização em lei específica, sob a forma de sociedade anônima, com participação obrigatória de
capital privado e público, sendo do ente político instituidor o controle acionário.

Exemplos: Banco do Brasil (BB), Petrobras, Eletrobras.


CRITÉRIOS EMPRESA PÚBLICA SOCIEDADE DE ECONOMIA
MISTA
Capital exclusivamente público. Capital misto, do Poder Público e
CAPITAL da Iniciativa Privada.

Poderá a empresa pública ser Constituição da sociedade de


CONSTITUIÇÃO constituída sob qualquer economia mista será apenas em
modalidade de sociedade sociedade anônima.
empresarial. 10
A sociedade de economia mista,
Quando for uma empresa pública seja ela estadual, seja ela federal,
estadual, será a Justiça Estadual. por não haver disposição no art.
COMPETÊNCIA PARA Se for uma empresa pública 109, CF, serão de competência da
JULGAMENTO federal, será julgada na Justiça Justiça Estadual somente.
(parâmetro do art.109, CF) Federal. Atenção: A ação somente irá para
a Justiça Federal se a União
estiver interessada no processo.

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

07. Ano: 2011 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado

A estruturação da Administração traz a presença, necessária, de centros de competências denominados Órgãos Públicos
ou, simplesmente, Órgãos. Quanto a estes, é correto afirmar que

a) possuem personalidade jurídica própria, respondendo diretamente por seus atos.


b) suas atuações são imputadas às pessoas jurídicas a que pertencem.
c) não possuem cargos, apenas funções, e estas são criadas por atos normativos do ocupante do respectivo órgão.
d) não possuem cargos nem funções.

08. Ano: 2018 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: XII Exame de Ordem Unificado

No ano corrente, a União decidiu criar uma nova empresa pública, para a realização de atividades de relevante interesse
econômico. Para tanto, fez editar a respectiva lei autorizativa e promoveu a inscrição dos respectivos atos constitutivos
no registro competente. Após a devida estruturação, tal entidade administrativa está em vias de iniciar suas atividades.
Acerca dessa situação hipotética, na qualidade de advogado(a), assinale a afirmativa correta.

a) A participação de outras pessoas de direito público interno, na constituição do capital social da entidade
administrativa, é permitida, desde que a maioria do capital votante permaneça em propriedade da União.
b) A União não poderia ter promovido a inscrição dos atos constitutivos no registro competente, na medida em que a
criação de tal entidade administrativa decorre diretamente da lei.
c) A entidade administrativa em análise constitui uma pessoa jurídica de direito público, que não poderá contar com
privilégios fiscais e trabalhistas.
d) Os contratos com terceiros destinados à prestação de serviços para a entidade administrativa, em regra, não precisam
ser precedidos de licitação.

09. Ano: 2015 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado

O Estado XYZ pretende criar uma nova universidade estadual sob a forma de fundação pública. Considerando que é
intenção do Estado atribuir personalidade jurídica de direito público a tal fundação, assinale a afirmativa correta.
a) Tal fundação há de ser criada com o registro de seus atos constitutivos, após a edição de lei ordinária autorizando sua
instituição.
b) Tal fundação há de ser criada por lei ordinária específica.
c) Não é possível a criação de uma fundação pública com personalidade jurídica de direito público.
d) Tal fundação há de ser criada por lei complementar específica.

 GABARITO: 11

07-B / 08- A / 09- B

ATOS ADMINISTRATIVOS
5. CONCEITO DE ATOS ADMINISTRATIVOS

Primeiramente, importante compreender alguns conceitos ligados à matéria. Para tanto, se faz necessária a
distinção de algumas expressões bastante recorrentes sobre o tema ato administrativo.

Fatos são acontecimentos cotidianos que acontecem no mundo em que vivemos. Exemplo: nascimento de
uma pessoa. Mas, quando este acontecimento atinge a órbita jurídica ele ganha o status de fato jurídico.
Exemplo: do nascimento surge uma nova personalidade, que terá filiação, possuirá direitos, se submeterá a
deveres.

Dentro da órbita do direito, se o acontecimento atingir mais especificamente a seara do direito administrativo,
se estará diante do fato administrativo. Exemplo: falecimento de um servidor público é um fato
administrativo. Extingue-se a relação do servidor com o Estado, abre-se a vaga do cargo, e em consequência
um concurso público deverá ser realizado para o preenchimento dele.

Diferentemente do fato, o ato é essencialmente uma manifestação de vontade. Exemplo: duas pessoas
voluntariamente se casam. E, se esta exposição da vontade atingir a órbita do direito, esta manifestação de
vontade será chamada de ato jurídico. Exemplo: pessoa quer adquirir uma casa e celebra um contrato de
compra e venda.

FATO ATO
MANIFESTAÇÃO
ACONTECIMENTO
DE VONTADE
Se quem pratica o ato é a administração, então este ato é chamado de ato da administração. É ela quem
manifesta a vontade na edição destes atos. Pode ser um ato regido pelo direito público ou pelo direito privado.

Nas hipóteses que o ato da administração é regido pelo direito público, a doutrina confere uma
nomenclatura especial: ATO ADMINISTRATIVO!

ATO ADMINISTRATIVO é a manifestação de vontade do Estado ou de quem o represente (concessionárias e


permissionárias) que tem o condão de criar, modificar ou extinguir direitos, sempre perseguindo o interesse 12
público.

Exemplo: se o Estado manifesta a vontade de adquirir uma casa, deverá produzir este ente o ato da
desapropriação. Neste caso, o ato de vontade atinge mais especialmente a seara do direito administrativo,
sendo caracterizado como um ato administrativo.

Atos
administrativo
Atos
Os atos da administrativos
administração, Atos da
administração
FORA DA
ADMINISTRAÇÃO
regidos pelo direito regidos pelo (seguem regime
DIREITO PÚBLICO de direito público)
público são
chamados de Atos da
ATOS administração
ADMINISTRATIVOS Atos da administração
regidos pelo DIREITO
PRIVADO

RESUMINDO: todo ato praticado pela administração é ATO DA ADMINISTRAÇÃO, seja sob regime de direito
público ou direito privado. Quando o ato é praticado sob regime de direito público, ganha uma “roupagem
especial” e passa a ser chamado de ATO ADMINISTRATIVO.

Obs: a manifestação de vontade do particular que presta serviços em nome da administração também é
chamado de ATO ADMINISTRATIVO, pois sempre será regido pelas regras de direito público.

ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO

Os atos administrativos são dotados de certas características especiais, que decorrem do regime de direito
público. São os atributos do ato administrativo.
PRESUNÇÃO DE
LEGITIMIDADE

AUTOEXECUTORIEDADAE

ATRIBUTOS

TIPICIDADE

13

IMPERATIVIDADE

Presunção de legitimidade/veracidade - corresponde ao preenchimento da legalidade e da veracidade. Desta


forma, o ato obedece à moral, à lei e à verdade. Até que se prove o contrário, o ato está compatível com a
moralidade, com a legalidade e com a verdade.

Trata-se de presunção relativa (iuris tantum), vez que admite prova em contrário! O ônus da prova cabe ao
administrado.

Exemplo: agente de trânsito lavra o auto de infração, relatando que o motorista estava dirigindo e segurando
o celular em uma das mãos. Presume-se que praticou o ato em conformidade com a lei e que os fatos descritos
são verdadeiros.

Autoexecutoriedade - é a possibilidade que tem a administração de, com seus próprios meios, executar suas
decisões, sem precisar de autorização prévia do Poder Judiciário.

Exemplo: o estabelecimento comercial que vende produtos impróprios para o consumo pode sofrer uma
interdição da administração.

Tipicidade - cada ato administrativo corresponde a uma situação concreta, a uma aplicação determinada, uma
utilização específica.

Exemplo: não se pode impor uma advertência para o servidor para o caso do cometimento de uma infração
grave.

Imperatividade – é a obrigatoriedade, a coercibilidade do ato administrativo. Ou seja, é a qualidade normativa


de impor-se a terceiros independentemente da vontade deles.

Exemplo: preenchidos os requisitos legais, a administração desapropria um imóvel independentemente da


vontade do administrado.

ELEMENTOS/ REQUISITOS DE VALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO

A doutrina utiliza a lei da ação popular (art. 2º, lei 4717/1965), que enumera as condições de validade do ato
administrativo, para elencar os requisitos de validade.

Art. 2º, lei 4717/1965 - São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior,
nos casos de:

a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.

COMPETÊNCIA

14

FORMA

ELEMENTOS DO
ATO MOTIVO
ADMINISTRATIVO

OBJETO

FINALIDADE

A) COMPETÊNCIA (sujeito)

O administrador só poderá fazer o que a lei o autoriza ou determina. Deste modo, a fonte da competência
para todo sujeito que editar um ato administrativo será a lei ou a Constituição.

Exemplo: compete ao prefeito do município cuidar dos bens municipais. É ele o competente para esta função.
Há obrigação para o prefeito em agir deste modo.

A competência possui algumas características:

 Obrigatoriedade: Há, junto à competência, a obrigação de exercício do ato administrativo pelo agente
público.

 Irrenunciabilidade: como há previsão de lei da regra de sua competência, sendo ele um agente que
visa sempre o interesse público, deverá seguir as suas regras de competência, sem possibilidade de
renunciar delas.

 Imodificável: a competência é imodificável pela vontade do administrador. Não pode ele modificar
qualquer regra de competência e consequentemente o seu exercício.

 Não admite transação: como não é esta competência ligada ao seu próprio interesse, mas ao interesse
da sociedade (interesse público) não poderá o administrador transacionar sobre as regras de
competência.

 Imprescritível: não se pode pensar na configuração da prescrição em virtude do não exercício da


competência para a edição do ato administrativo.
 Improrrogável: não se admite a prorrogação da competência administrativa em virtude do princípio
da legalidade. Se a autoridade não agir do determinado modo que a lei diz editando o ato
administrativo, não poderá outra autoridade angariar esta competência não exercida.

Serão permitidas a delegação e a avocação da competência administrativa. A delegação da competência


administrativa é feita apenas de modo excepcional, e desde que seja justificada. A avocação também é
possível, mas do mesmo modo que a delegação deverá ser realizada de modo excepcional e também sempre
que justificada. 15

Art. 11, lei 9784/1999 - A competência é irrenunciável (regra) e se exerce pelos órgãos
administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação
legalmente admitidos (exceções).

Obs: existem algumas exceções quanto a possibilidade de delegação, estampadas no artigo 13 da referida lei!

ATOS
NORMATIVOS

DECISÃO DE
ATOS NÃO
RECURSO
DELEGÁVEIS
ADMINISTRATIVO

MATÉRIAS DE
COMPETÊNCIA
EXCLUSIVA

B) FORMA

O ato, como manifestação de vontade, deverá ser exteriorizado. A exteriorização da vontade de um ato
administrativo tem de obedecer a algumas formalidades específicas.

Para os atos administrativos, em consequência deste elemento, valerá o princípio da solenidade das formas.
Nada mais é que o cumprimento das formalidades específicas pelo ato administrativo. Via de regra, o ato se
reveste sob a forma escrita.

Contudo, existem exceções! Como exemplo, temos a possibilidade de um contrato administrativo ser
celebrado verbalmente.

Art. 60, lei 8666/1993 -


Parágrafo único. É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração (regra),
salvo o de pequenas compras de pronto pagamento (pronta entrega), assim entendidas aquelas
de valor não superior a 5% (cinco por cento) do limite estabelecido no art. 23, inciso II, alínea
"a" desta Lei, feitas em regime de adiantamento.

C) MOTIVO (causa) 16

Motivo é uma situação de fato e de direito que ensejou a prática do ato administrativo. Nada mais é do que a
causa do ato. Ou seja, ocorrido um fato que encontre subsunção em uma norma, o ato administrativo deverá
ser praticado.

Obs: não confundir motivo com motivação! Esta última significa a justificação do ato – declaração escrita do
motivo que determinou a prática do ato.

Exemplo: servidor público é demitido por ter praticado infração. O motivo é a infração praticada. A motivação
é a caracterização, por escrito, da infração cometida.

D) OBJETO (conteúdo)

Objeto é o resultado prático do ato administrativo. É o que o ato faz em si mesmo. Deve ser lícito, possível e
determinado.

Também é chamado pela doutrina de efeito jurídico imediato.

Exemplo: o ato administrativo que concede férias ao servidor público, tem por objeto a concessão das férias
em si.

E) FINALIDADE (objetivo)

Corresponde ao ato de proteção, isto é, ao ato que culminará na satisfação de interesse do poder público.
Sempre se quer proteger com a edição de um ato administrativo uma razão de interesse público. Todo ato
administrativo possui uma finalidade de interesse público.

Também é chamado pela doutrina de efeito jurídico mediato.

FORMAS DE EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO

Conforme expõe a doutrina, existem diferentes formas para se extinguir um ato administrativo.
CUMPRIMENTO
DOS EFEITOS

PERDA DO
SUJEITO

PERDA DO
EXTINÇÃO
OBJETO

17
RENÚNCIA DO
DESTINATÁRIO

RETIRADA

A) CUMPRIMENTO DOS EFEITOS

É a forma natural de extinção do ato administrativo. Uma vez alcançados os seus efeitos, não há mais motivos
para sua existência.

Exemplo: a prefeitura municipal autoriza, mediante ato administrativo, a utilização da rua para a realização
de evento religioso durante o fim de semana. Utilizado o espaço pelo período estipulado, a autorização é
extinta.

B) PERDA DO SUJEITO

É o sujeito criado pela relação jurídica que decorre do ato administrativo.

Exemplo: pessoa aprovada em concurso, é nomeada e antes de assumir falece.

C) PERDA DO OBJETO

Quando há perda do objeto da relação jurídica constituída pelo ato administrativo.

Exemplo: sócios de posto de gasolina a adulteram os combustíveis comercializados. A administração fecha e


lacra o posto. Os sócios extinguem a pessoa jurídica, deixando de existir o posto de gasolina.

D) RENÚNCIA

O beneficiário abre mão de um direito que o ato administrativo criava.

Exemplo: indivíduo tem permissão de uso de bem público e não a quer mais.

E) RETIRADA

Ocorre quando a administração pratica um novo ato administrativo, retirando o primeiro ato. Existem algumas
espécies de retirada, segundo a doutrina.
CASSAÇÃO

CADUCIDADE

RETIRADA CONTRAPOSIÇÃO

18
REVOGAÇÃO

ANULAÇÃO

É A RETIRADA DEVIDA AO DESCUMPRIMENTO DE


CASSAÇÃO
REQUISITOS LEGAIS PELO SEU DESTINATÁRIO.

Exemplo: concedida autorização para o funcionamento de hotel, o proprietário transforma o estabelecimento


em prostíbulo.

É A RETIRADA DO ATO ADM EM VIRTUDE DE NORMA


CADUCIDADE
SUPERVENIENTE INCOMPATÍVEL COM A ANTERIOR.

Exemplo: dada permissão para exploração de parque de diversões em determinada área da cidade, face a
nova lei de zoneamento, o terreno tornou-se incompatível com aquele uso.

É A RETIRADA DO ATO ADM PQ EXISTEM 2 ATOS DIFERENTES,


CONTRAPOSIÇÃO FUNDADOS EM COMPETENCIAS DIVERSAS, SENDO SEUS EFEITOS
CONTRAPOSTOS.

Exemplo: é o caso da exoneração de funcionário, que tem efeitos contrapostos ao da nomeação.

ANULAÇÃO E REVOGAÇÃO

São as duas espécies de retirada do ato administrativo mais comuns. Tem fundamentos distintos, assim como
a competência, efeitos e limites.
ANULAÇÃO REVOGAÇÃO

FUNDAMENTO ILEGALIDADE OPORTUNIDADE E CONVENIÊNCIA

COMPETÊNCIA ADMINISTRAÇÃO E JUDICIÁRIO SOMENTE ADMINISTRAÇÃO


19

EFEITOS EX TUNC EX NUNC

LIMITES TEMPORAL – 5 ANOS MATERIAL -

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

10. Ano: 2012 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado

Autarquia competente para a fiscalização de estabelecimentos comerciais que vendam gêneros alimentícios verifica que
o maior supermercado do município estava com o funcionamento irregular, bem como vendia produtos com o prazo de
validade vencido. Além de todas as outras sanções cabíveis na espécie, a Autarquia aplicou multa ao estabelecimento.
Com o objetivo de assegurar que a multa fosse paga, a Autarquia apreendeu produtos (dentro do prazo de validade) cujo
valor somasse exatamente o valor da multa, e que tivessem proveito para a autarquia, como água mineral, café e açúcar.
Com base na situação descrita, assinale a afirmativa correta.

a) A apreensão de bens com o objetivo de quitação de multa regularmente aplicada pela fiscalização é manifestação da
autoexecutoriedade do poder de polícia, sendo legitimamente exercida pela Autarquia.
b) Não é cabível a apreensão de bens, neste caso, pois ela somente seria viável se a Administração tivesse feito pesquisa
e constatado que os preços correspondem à média de mercado.
c) A Administração goza da prerrogativa da autoexecutoriedade, mas a cobrança das multas aplicadas não pode se dar
de maneira forçada, manu militari, devendo ser feita por meio de processo judicial, caso não ocorra o pagamento
administrativamente.
d) A apreensão de bens para quitação de multa pode se dar sobre produtos cuja validade está vencida ou, como no caso,
sobre produtos bons para consumo, e não pode ser questionada por se inserir no mérito do ato administrativo.

11. Ano: 2012 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: XII Exame de Ordem Unificado

Determinada área de proteção ambiental, situada em encosta de morro, vinha sendo ocupada, há muitos anos, sem
qualquer ato de autorização pelo Poder Público, por alguns particulares, que lá construíram suas residências. José, que
desde jovem sofre de problemas respiratórios, agravados pela poluição dos grandes centros urbanos, postula, junto à
Administração, licença para construir sua casa nessa área protegida, cercada de verde, na esperança de uma melhor
qualidade de vida. A licença não é concedida. Sobre o caso concreto, assinale a afirmativa correta.

a) A administração não pode ter comportamentos contraditórios, devendo conceder a licença a José, em nome da
segurança jurídica e da confiança legítima, uma vez que há anos tolera ocupação na mesma área por outros particulares.
b) Ainda que não caiba falar em proibição de comportamento contraditório, o caso apresenta uma ponderação de
valores, devendo ser priorizada a proteção a condições dignas de vida em detrimento da proteção ambiental.
c) O indeferimento por parte do Poder Público foi correto, considerando que a mera tolerância de condutas ilegais por
parte da Administração não assegura que outro particular, invocando a isonomia, cometa as mesmas ilegalidades.
d) Os particulares que já tiverem construído suas casas na encosta protegida possuem direito subjetivo à obtenção de
licença para a legalização de suas construções, já que a inação da Administração gerou legítima expectativa de habitação
na localidade.
12. Ano: 2016 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado

A associação de moradores do Município F solicitou ao Poder Público municipal autorização para o fechamento da “rua
de trás”, por uma noite, para a realização de uma festa junina aberta ao público. O Município, entretanto, negou o pedido,
ao fundamento de que aquela rua seria utilizada para sediar o encontro anual dos produtores de abóbora, a ser realizado
no mesmo dia. Considerando que tal fundamentação não está correta, pois, antes da negativa do pedido da associação
de moradores, o encontro dos produtores de abóbora havia sido transferido para o mês seguinte, conforme publicado
na imprensa oficial, assinale a afirmativa correta.
20
a) Mesmo diante do erro na fundamentação, o ato é válido, pois a autorização pleiteada é ato discricionário da
Administração.
b) Independentemente do erro na fundamentação, o ato é inválido, pois a autorização pleiteada é ato vinculado, não
podendo a Administração indeferi-lo.
c) Diante do erro na fundamentação, o ato é inválido, uma vez que, pela teoria dos motivos determinantes, a validade
do ato está ligada aos motivos indicados como seu fundamento.
d) A despeito do erro na fundamentação, o ato é válido, pois a autorização pleiteada é ato vinculado, não tendo a
associação de moradores demonstrado o preenchimento dos requisitos.

 GABARITO:

10-C / 11- C / 12- C

PODERES DA ADMINISTRAÇÃO

6. CONCEITO
São instrumentos, prerrogativas que possuem o Estado para a busca do interesse público. Devem ser
compreendidos como poderes instrumentais, diferentemente da ideia de poderes estruturais – executivo,
legislativo e judiciário.

PODER VINCULADO  Preenchidos os requisitos legais de certa situação, o administrador é obrigado exercer
o poder ou praticar determinado ato. Não há verificação de conveniência, oportunidade, juízo de valor ou
qualquer margem de liberdade para o exercente da atividade pública.

PODER DISCRICIONÁRIO  Seu exercício passa por um juízo de oportunidade e conveniência da


Administração. Normalmente é exercido quando a lei da liberdade ao administrador ou ainda quando
emprega conceitos jurídicos indeterminados.

Ex: a lei permite aplicação de várias espécies de sanção ao agente público que pratica infração funcional, como
advertência, suspensão, demissão.

PODER HIERÁRQUICO  É o poder de distribuir e ordenar as funções de seus órgãos, estabelecendo a relação
de subordinação entre os servidores. Ele estabelece relações de coordenação e subordinação, sempre dentro
de uma mesma pessoa jurídica!!

Seu exercício implica em algumas consequências dentro da Administração Pública, como:


• Capacidade do superior hierárquico de dar ordens – desde que não manifestamente ilegais;
• Capacidade de fiscalização, mantendo atos válidos, convalidando atos sanáveis e anulando ou
revogando aqueles eivados de vícios;
• Capacidade de delegar e avocar a prática de atos.

Obs: o art. 13, da Lei 9.784/99 traz vedações à capacidade de delegar! Fica vedada a delegação nos casos de
edição de atos normativos, decisão de recursos administrativos e também em relação a matérias de 21
competência exclusiva.

PODER DISCIPLINAR  Permite/exige que a Administração Pública aplique punições aos agentes públicos que
cometam infrações funcionais. Decorre diretamente do poder hierárquico quando a punição se dá aos agentes
públicos ou particulares com algum vínculo com a Administração.

Ex: a Lei 8.112/90 prevê quais são as sanções aplicáveis aos servidores públicos federais – art. 127.

PODER NORMATIVO/REGULAMENTAR  é o poder que possui a Administração em editar atos que visam
complementar à lei, sempre buscando a sua fiel execução.

Seu exercício pode ser realizado através de duas formas:

• Decreto regulamentar – ato normativo secundário, previsto no art. 84, IV da CF;


• Decreto autônomo – ato normativo primário, previsto no art. 84, VI da CF;

Obs: os chamados decretos autônomos foram introduzidos pela EC n. 32/01. Embora previstos na CF, grande
parcela da doutrina critica sua existência, pois independem de lei para que sejam expedidos.

PODER DE POLÍCIA  seu conceito é trazido pelo artigo 78, do Código Tributário Nacional:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando
direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao
exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

Em suma, é o poder que dispõe a Administração Pública para condicionar ou restringir o uso de bens e o
exercício de direitos ou atividades pelo particular, em prol do bem-estar da coletividade!

Possui como atributos a discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade.

De acordo com José dos Santos Carvalho Filho, pode ser classificado em originário e delegado. O primeiro, é
exercido pelos entes da administração direta (U, E, DF e M). Já o segundo, é exercido pelas entidades
administrativas de direito público (autarquias e fundações públicas).

Obs: prevalece o entendimento que o poder de polícia é indelegável à particulares!


Quanto aos meios de atuação, a doutrina também classifica o poder de polícia em:

Regularmente faz-se a
prevenção, o controle
PREVENTIVO
prévio dos modos de
exercício dos direitos. 22

Poder de Polícia
Aplicado após o
REPRESSIVO cometimento de
alguma irregularidade.

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

13. Ano: 2019 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: XXX Exame de Ordem Unificado

Após comprar um terreno, Roberto iniciou a construção de sua casa, sem prévia licença, avançando para além dos limites
de sua propriedade e ocupando parcialmente a via pública, inclusive com possibilidade de desabamento de parte da obra
e risco à integridade dos pedestres. No regular exercício da fiscalização da ocupação do solo urbano, o poder público
municipal, observadas as formalidades legais, valendo-se da prerrogativa de direito público que, calcada na lei, autoriza-
o a restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade privada em favor do interesse da coletividade, determinou
que Roberto demolisse a parte irregular da obra. O poder administrativo que fundamentou a determinação do Município
é o poder

a) de hierarquia, e, pelo seu atributo da coercibilidade, o particular é obrigado a obedecer às ordens emanadas pelos
agentes públicos, que estão em nível de superioridade hierárquica e podem usar meios indiretos de coerção para fazer
valer a supremacia do interesse público sobre o privado.
b) disciplinar, e o particular está sujeito às sanções impostas pela Administração Pública, em razão do atributo da
imperatividade, desde que haja a prévia e imprescindível chancela por parte do Poder Judiciário.
c) regulamentar, e os agentes públicos estão autorizados a realizar atos concretos para aplicar a lei, ainda que tenham
que se valer do atributo da autoexecutoriedade, a fim de concretizar suas determinações, independentemente de prévia
ordem judicial.
d) de polícia, e a fiscalização apresenta duplo aspecto: um preventivo, por meio do qual os agentes públicos procuram
impedir um dano social, e um repressivo, que, face à transgressão da norma de polícia, redunda na aplicação de uma
sanção.

14. Ano: 2018 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: XXVI Exame de Ordem Unificado

Maria solicitou ao Município Alfa licença de localização e funcionamento para exercer determinada atividade
empresarial, apresentando todos os documentos necessários para tanto. Contudo, transcorrido mais de ano do
mencionado pedido, não houve qualquer manifestação por parte da autoridade competente para sua apreciação.
Diante dessa situação, na qualidade de advogado, assinale a afirmativa que indica o procedimento correto.

a) Não se pode adotar qualquer medida contra a inércia da autoridade competente, considerando que o princípio da
razoável duração do processo não se aplica à via administrativa.
b) Deve-se ajuizar uma ação popular contra a omissão da autoridade competente, diante do preenchimento dos
respectivos requisitos e da violação ao princípio da impessoalidade.
c) Deve-se impetrar mandado de segurança, uma vez que a omissão da autoridade competente para a expedição do ato
de licença constitui abuso de poder.
d) Deve-se impetrar habeas data diante da inércia administrativa, considerando que a omissão da autoridade
competente viola o direito à informação.

 GABARITO:

13-D / 14- C
23

LICITAÇÕES
7. LEI 8.666/93

Possui previsão constitucional  artigo 37, inciso XXI.

Está prevista e regulamentada pela Lei 8.666/93; Lei 10.520/02 e ainda pela Lei 13.303/16.

CONCEITO

Licitação é um procedimento administrativo. A licitação fundamenta, isto é, legitima a celebração de um


contrato administrativo. Na licitação, os requisitos, os elementos que são exigidos, são todos voltados para a
elaboração de um contrato administrativo.

OBJETO

O processo licitatório destina-se a garantir a observância do princípio da isonomia, a selecionar a proposta


mais vantajosa e ainda visa o desenvolvimento sustentável da administração.

LICITAÇÃO

PROPOSTA MAIS ISONOMIA NA DESENVOLVIMENTO


VANTAJOSA ESCOLHA SUSTENTÁVEL

PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DA LICITAÇÃO

Ao processo licitatório são aplicáveis alguns princípios específicos, aliados aos princípios gerais já abordados
anteriormente.
LEGALIDADE

IMPESSOALIDADE

"LIMPI" MORALIDADE

24
PROBIDADE
PUBLICIDADE
ADMINISTRATIVA

VINCULAÇÃO AO
PRINCÍPIOS INSTRUMENTO IGUALDADE
CONVOCATÓRIO

JULGAMENTO
OBJETIVO

SIGILO DAS
PROPOSTAS

ATENÇÃO: ao invés de citar o princípio da eficiência – assim como o artigo 37 da Constituição – a lei de
licitações trouxe o princípio da IGUALDADE.

PROBIDADE ADMINISTRATIVA

Significa que o processo de licitação deverá seguir as regras da boa administração, impondo ao gestor um
comportamento ético, honesto e com a lisura eu convém a condução dos bens públicos.

VINCULAÇÃO AO INSTRUMENTO CONVOCATÓRIO

As licitações públicas devem seguir, estritamente, todas as normas e exigências estipuladas no edital, tendo
como termo de validade e eficácia, a data da sua publicação.

O edital é considerado a LEI do certame público!

JULGAMENTO OBJETIVO

O critério de seleção/de julgamento deve estar previsto de forma clara e precisa no edital. Ou seja, os
julgamentos ocorridos durante os certames devem ter como parâmetros apenas as normas contidas no edital.

SIGILO DAS PROPOSTAS

Via de regra, as propostas são sigilosas, visando preservar concorrência entre os participantes da licitação. Sua
violação é grave, acarretando responsabilidade criminal – artigo 94, da Lei 8.666/93.

Obs: na modalidade leilão, admite-se a apresentação de propostas abertas.


MODALIDADES DE LICITAÇÃO

Conforme expõe o artigo 22, da Lei 8.666/93, são modalidades de licitação:

25
CONCORRÊNCIA

LEILÃO TOMADA DE PREÇOS

MODALIDADES

CONCURSO CONVITE

Obs: o pregão também é modalidade de licitação, previsto na lei 10.520/02

MACETE: COTOCO PRECOLE

COncorrência
TOmada de preços
COnvite

PREgão
COncurso
LEilão

Se a questão versar sobre o critério valor da licitação neste parâmetro existem três alternativas para o
administrador, sobre a escolha da modalidade:

 Concorrência;
 Tomada de preços;
 Convite.

Quando não há na questão de concurso a menção sobre o valor, mas ela começa a descrever, a adjetivar ou a
qualificar o objeto da licitação, não importando o valor a ser veiculado, será utilizado o critério da natureza do
objeto. Também neste critério o administrador possui três modalidades a serem escolhidas:

 Leilão;
 Concurso;
 Pregão.

Cuidado para não confundir modalidade de licitação com tipos de licitação!!

TIPOS DE LICITAÇÃO

TIPOS DE LICITAÇÃO 26

MENOR PREÇO

MELHOR TÉCNICA

TÉCNICA E PREÇO

MAIOR LANCE OU
OFERTA

CONTRATAÇÃO DIRETA

A contratação direta ocorre sem que seja realizada a licitação. Para que esta contratação direta aconteça,
deverá ser observado um procedimento administrativo, chamado de procedimento de justificação, tomando
lugar do procedimento licitatório, previsto no artigo 26 da lei 8666/1993.

Existem algumas situações que, mesmo sendo viável a realização do certame público, o administrador pode
realizar a contratação direta – são os casos de licitação dispensada e licitação dispensável

Na primeira hipótese, há possibilidade de licitar. Porém, a lei obriga a administração a realizar contratação
direta! Estas situações estão elencadas, de forma taxativa, no artigo 17, da Lei 8.666/93. É conhecida como
LICITAÇÃO DISPENSADA.

Na segunda hipótese, também existe possibilidade de licitar. Contudo, cabe ao administrador fazer a opção
em realizar ou não o certame. Ou seja, é uma faculdade a realização da licitação, nas hipóteses
exemplificativas previstas no artigo 24 da referida lei. É chamada de LICITAÇÃO DISPENSÁVEL.

Em algumas situações bastante peculiares, a administração fica impossibilitada de licitar. Nestas hipóteses,
fala-se em LICITAÇÃO INEXIGÍVEL. São aquelas descritas pelo artigo 25, da Lei 8.666/93,em um rol
exemplificativo.

Será inexigível a licitação nos casos de:


PROFISSIONAL/ PROFISSIONAL
FORNECEDOR
EMPRESA COM NOTÓRIA ARTÍSTICO
EXCLUSIVO
ESPECIALIZAÇÃO CONSAGRADO
27

Obs1: no caso de fornecedores/produtores exclusivos, é vedada a preferência por marca!

Obs2: o profissional/empresa com notória especialização não podem ser da área de serviços de publicidade e
propaganda!

Obs3: profissional artístico pode ser consagrado pela crítica especializada ou opinião pública.

 COMO JÁ APARECEU NO EXAME DE ORDEM:

15. Ano: 2011 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado

A licitação tem como um de seus princípios específicos o do julgamento objetivo, que significa

a) a vedação de cláusulas ou condições que comprometam a ideia de proposta mais vantajosa à Administração.
b) a vedação ao sigilo das propostas, de forma a permitir a todos, antes do início da licitação, o conhecimento objetivo
das ofertas dos licitantes.
c) ser vedada a utilização, no julgamento das propostas, de elemento, critério ou fator sigiloso, secreto, subjetivo ou
reservado.
d) ser impositivo o julgamento célere e oral das propostas, a acarretar a imediata contratação do licitante vencedor.

16. Ano: 2015 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado

Após celebrar contrato de gestão com uma organização social, a União pretende celebrar, com a mesma organização,
contrato de prestação de serviços para a realização de atividades contempladas no contrato de gestão. Com base na
hipótese apresentada, assinale a afirmativa correta.

a) É obrigatória a realização de licitação para a celebração do contrato de prestação de serviços.


b) É dispensável a realização de licitação para a celebração do contrato de prestação de serviços.
c) É inexigível a realização de licitação para a celebração do contrato de prestação de serviços.
d) Não é possível celebrar contrato de prestação de serviços com entidade qualificada como organização social.

17. Ano: 2013 / Banca: FGV / Órgão: OAB / Prova: Exame de Ordem Unificado
A Administração Pública estadual pretende realizar uma licitação em modalidade não prevista na legislação federal.
Nesse caso, é correto afirmar que
a) a intenção é viável, pois o Estado tem ampla competência para legislar sobre licitações.
b) a intenção somente é viável caso seja realizada a combinação de modalidades de licitação já previstas na Lei n.
8.666/93.
c) a intenção não é viável por expressa vedação da Lei n. 8.666/93.
d) a intenção é viável por expressa autorização da Lei n. 8.666/93.

 GABARITO:

15 - C / 16- B / 17- C 28
ANEXO C
DIREITO ADMINISTRATIVO
Professor Tiago Vidal Vieira
29

 SUGESTÕES DE LEITURA COMPLEMENTAR – SARAIVA JUR

TEMA: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


LIVRO: Improbidade Administrativa
AUTOR: Emerson Garcia/ Rogério P. Alves
EDIÇÃO: 8ª

TEMA: ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO (CAPÍTULO XIV)


LIVRO: Lei do Processo Administrativo Federal
AUTOR: Edson Pereira Nobre Jr. e outros
EDIÇÃO: 1ª

Você também pode gostar