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TRANSTORNOS ALIMENTARES: AS POSSIBILIDADES DA

NEUROPSICOLOGIA E PSICOTERAPIA
Adrielly Alice Soledade Paiva1
Farisa Andréa Santos Velozo2
Leilane Soledade Silva3
Simone Gomes dos Santos4
Prof.ª Ms. Ana Katarina Leimig Saraiva de Melo5

Resumo: O presente artigo tem como objetivo conhecer os aspectos relacionados aos transtornos alimentares,
como foco na anorexia nervosa e bulimia nervosa. Assim, foi realizada uma busca sistematizada das
informações sobre como esses transtornos podem comprometer o desenvolvimento biopsicosocial do indivíduo.
Diante disso, o estudo trabalhou as possibilidades de tratamento tanto na neuropsicologia como na
psicoterapia, os quais são extremamente necessários ao desenvolvimento da prática da psicologia, assim, ao
tratamento dos transtornos mencionados além de apoio familiar, salienta-se uma atuação em equipe de
profissionais interdisciplinares, Esses podem contribuir com um completo entendimento do comportamento
alimentar, favorecendo a prevenção, bem como o tratamento de transtornos alimentares.

Palavras-Chave: transtornos alimentares, anorexia nervosa, bulemia nervosa, neuropsicologia e tratamento


psicológico.

INTRODUÇÃO

A insatisfação com auto-imagem corporal tem sido consideradamente impulsionada


pelo cultuado socialmente, assim, a modernidade estabelece como padrão de beleza
características físicas e comportamentais as quais são cotidianamente introjetadas nos sujeitos
através da cultura, sendo expressas pelas mídias e redes sociais, muitas vezes de maneira
impositiva; atualmente o considerado belo fisicamente é o magro, alto e jovem, um sujeito
que se guie pela ditadura da moda, o perfil simboliza status e sucesso. Dentre as característica
da sociedade atual são as suas múltiplas contradições, assim, para o caso reflete-se sobre o
dilema: alimentação saudável x industria do fast food, que também conta com uma infinidade
de guloseimas, essas de regra apelam para o estímulo de um publico composto por crianças e
adolescentes.
Grosso modo, as pessoas são compelidas pelo discurso em prol de um padrão estético,
o mesmo é vendido à massa através da indústria da beleza - modelos, artistas, cantores,
blogueiros representam o deve ser copiado, sugerindo o consumo de dietas, remédios,
cirurgias plásticas, exercícios físicos e o que for necessário ao corpo idealizado. A situação é
1
Aluna de Psicologia na Faculdade de Ciência Humanas de Olinda. E-mail: adriellysoledade@gmail.com;
2
Aluna de Psicologia na Faculdade de Ciência Humanas de Olinda. E-mail: farisa1@hotmail.com;
3
Aluna de Psicologia na Faculdade de Ciência Humanas de Olinda. E-mail:leilanysoledade@gmail.com;
4
Aluna de Psicologia na Faculdade de Ciência Humanas de Olinda. E-mail: simonegpsic@gmail.com;
5
Professora de Psicologia na Faculdade de Ciência Humanas de Olinda. E-mail:anakatarinasaraiva@gmail.com.
um fator de risco para eclosão de transtornos alimentares, a problemática atinge parcela da
população mundial, a qual se obstina no modelo de corpo perfeito, entretanto, o ideal
perseguido muitas vezes não é alcançado, seja pelo fato do próprio biótipo do sujeito ou por
uma dismorfia corporal, dessa forma, tais transtornos podem ocasionar prejuízos físicos, além
de emocionais.
Nesse sentido, o presente artigo se propôs estudar os transtornos alimentares, grupo de
diagnósticos mentais relacionados ao comportamento alimentar que dentre as suas
especificidades tem-se preponderância quantitativa para a anorexia e bulemia nervosa,
geralmente seus primeiros aparecimentos sintomatológicos acontecem na infância ou na
adolescência, especialmente no ocidente, vem ocorrendo cada vez mais cedo.
Assim sendo, muitos jovens pela própria fase da vida são inferidos aos transtornos
alimentares, seja pelo desejo de obter a aparência do seu ídolo, pela necessidade de aceitação,
por que querem ser atratividade sexual, ou mesmo por um anseio originado da própria
subjetividade. Possivelmente as adolescentes são mais facilmente influenciadas a esses
transtornos, devido à pressão social ser maior, tanto que globalmente existem sites e
comunidades pró-ana e pró-mia, favoráveis a anorexia e a bulemia respectivamente, os quais
ensinam radicais métodos para o emagrecimento e ainda laçam desafios coletivos de restrição
alimentar para os seus seguidores, são via de regra escritos por meninas para um público na
maior parte do gênero feminino, todavia, a população masculina com transtornos alimentares
tem crescido, esses preferem definição muscular.
Importante ressaltar que como sua incidência é prevalente na adolescência, os
transtornos alimentares podem comprometer o desenvolvimento biopsicosocial do indivíduo
uma vez que é de uma fase crucial da vida. O fenômeno circunscrito no âmbito
psicopatológico pode provocar significativas modificações cognitivas, emocionais e
comportamentais.
Diante disso, o estudo tem como objetivo compreender os transtornos alimentares,
particularmente o da anorexia nervosa e bulemia nervosa, discursando sobre a necessidade de
um trabalho interdisciplinar entre os profissionais de saúde, onde a neuropsicologia converge
como possibilidade na reabilitação dos transtornos alimentares, aliada a um tratamento
psicoterápico.
TRANSTORNOS ALIMENTARES, ANOREXIA NERVOSA E BULEMIA
NERVOSA

São caracterizados transtornos alimentares perturbações na alimentação ou no


comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou na absorção inadequada
de alimentos, comprometendo significativamente a saúde física e/ou mental do indivíduo
(DSM 5, 2016). Efeito direto dessa forma de se alimentar é o emagrecimento ou a obesidade,
o que em muitos casos leva a mortalidade, inclusive por suicídio, logo, os transtornos
alimentares são consideradas as doenças mentais que mais mata atualmente, de tal maneira
que para a Organização Mundial de Saúde é uma doença prioritária (PSIQUE, 2017).
Assim, os transtornos alimentares constituem-se em patologias graves e complexas,
quer pela própria configuração do quadro clínico, como também pelas suas conseqüências,
(OLIVEIRA E HUTZ, 2010).
Tanto que para o seu tratamento é necessário além de intenso apoio familiar, o
trabalho com uma equipe de profissionais interdisciplinares, capacitados nas suas
competências (médico, psicólogo, nutricionista, entre outros especialistas), a situação se dá
devido à ampla possibilidade de comprometimento biopsicosocial do indivíduo, “pois,
produzem importante prejuízo psicossocial, e uma série de complicações clinicas:
odontológicas, dermatológicas, gástricas, distúrbios endocrinológicos e cardiopatias”
(PSIQUE, 2017, p. 58), nesse entendimento a sintomatologia e prognostico diferem
concomitantemente conforme o tipo do transtorno alimentar e especialidade profissional.
O fator cultural de valorização da magreza influencia significativamente o índice de
crescimento desses transtornos, o papel dos aspectos históricos, estéticos, midiáticos,
transculturais, socioeconômicos, raciais e de gênero são favoráveis a expansão dos números,
com predominância para o gênero feminino em idade cada vez mais precoce (OLIVEIRA E
HUTZ, 2010).
Fato é que apesar de ser algo recursivo da sociedade pós-moderna; por conta da
“evolução” dos padrões estéticos, que desde a década de 1960 institucionalizou-se uma
imagem de beleza esquálida, materializada em modelos, os transtornos alimentares e suas
conseqüências não são essencialmente novos. Visto que, existem diversos registros datados de
séculos passados os quais mencionam práticas extremas de jejum religioso, a idade média
surge com diversos relatos, onde esse comportamento era comum e significava um ato de
penitência e/ou punição.
Porém, só a partir do final do século XIX que Willian Gull e Ernest Charles Lasegue
notificam como um transtorno descrito com o seguinte quadro clínico: emagrecimento,
amenorreia, baixa temperatura corporal, entre outros aspectos fisiológicos. Assim, justamente
entre o período de 1960 e 1970 é que Brunch menciona o sintoma da distorção da imagem
corporal como um distúrbio do paciente com anorexia na percepção do seu corpo (ABREU E
FILHO, 2004).
Em 1979 a bulemia foi proposta como uma síndrome por Gerald Russel, a partir das
narrações de pacientes com peso relativamente normal ou acima do esperado, inicialmente a
bulimia seria uma sequela da anorexia, todavia, o próprio Russel, como outros autores
caracterizaram a bulimia como um quadro autônomo (ABREU E FILHO, 2004).
A premissa ainda é ratificada (DSM-5, 2016, p.329) “A justificativa para tal conduta é
que, apesar de uma série de aspectos psicológicos comuns, os transtornos diferem
substancialmente em termos de curso clínico, desfecho e necessidade de tratamento”; sendo
mutuamente excludentes, ou seja, apenas um diagnóstico de transtorno alimentar pode ser
atribuído ao sujeito.
Em literatura, o DSM 5 (2016) reconhece alguns tipos de transtornos alimentares,
segue-os concomitantemente com sua devida síntese explicativa: ruminação (regugitação,
remastigação e deglutição repetida de alimentos durante um período mínimo de 30 dias);
anorexia nervosa (restrição de alimentos calóricos, objetivando perda de peso, sem enxergar
seu atual peso); bulemia nervosa (episódios de compulsão alimentar, seguidos por sentimento
de culpa e vômitos); compulsão alimentar (episódios de compulsão alimentar acompanhado
de práticas compensatórias, provavelmente esta associados a obesidade, por ora esclarece-se
que obesidade não é um transtorno alimentar, pois, essa não faz parte do grupo de transtornos
psiquiatricos); evitativo restritivo (esquiva de alimentos baseados nas características e
percepções sensoriais do alimento) e o transtorno não especificado (sintomas característicos
dos transtornos alimentares gerais, com comprometimento físico e mental ligado a
alimentação, entretanto, não satisfazem parte dos critérios diagnósticos já classificados).
Assim sendo, presente artigo situar-se-á nos transtornos alimentares da anorexia
nervosa e bulemia nervosa, uma vez que há preponderância para tais transtornos têm
preocupado as autoridades de saúde.
Anorexia nervosa

A anorexia nervosa é um tipo de transtorno alimentar onde existe uma preocupação


excessiva com o controle do peso, levando as pessoas que as possuem a um peso
significativamente baixo no contexto de idade, gênero, trajetória de desenvolvimento e saúde
física DSM 5(2016), desse modo, as pessoas possuem medo de engordar, utilizando de
métodos extremos para o emagrecimento, “quando gravemente abaixo do peso, indivíduos
com anorexia nervosa apresentam sinais e sintomas depressivos, como humor deprimido,
isolamento social, irritabilidade, insônia e diminuição da libido” (DSM 5, 2016, p. 341),
também tendem ao uso do álcool para camuflar a fome, salienta-se ainda que algumas pessoas
mesmo quando já se percebem magras, se preocupam com algumas partes do corpo, como
cintura, busto, glúteos, braços, pernas e outros, também apresentam visão distorcida da
imagem corporal.
A anorexia nervosa possui duas formas apresentação: restritivo - ligada a uma dieta
extrema e a purgativo – associada a episódios de compulsão alimentar, seguidos de vômitos
autoinduzidos, com uso de laxantes e diuréticos indevidamente.
Tendem a esconder de familiares a problemática, camuflando os reais motivos para ao
emagrecimento, a prevalência se dá entre jovens do sexo feminino numa proporção de 10:1
comparando com o sexo masculino DSM 5(2016) o que possivelmente se dá devido as
pressões sociais com o publico feminino, também o risco de suicídio é elevado com taxa de
12 por 100.000 por ano DSM 5(2016), a mortalidade também é alta também por conta dos
sintomas fisiológicos.

Bulemia nervosa

A bulemia nervosa para o DSM 5 (2016) é definida como episódios recorrentes de


compulsão alimentar, desse modo, a pessoa ingeri uma quantidade de alimentos maior que a
maioria dos indivíduos conseguiria comer, na ocasião tem-se a sensação de falta de controle
em parar de comer, durantes esses episódios de compulsão alimentar os indivíduos tendem a
consumir alimentos que evitariam em outras circunstâncias; os episódios são seguidos
comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso,
como: vômitos autoinduzidos, uso indevido de laxantes e diuréticos, xaropes, jejum e prática
de exercícios físicos em excesso.
Na maioria das vezes os a frequência dos episódios ocorrem várias vezes durante o dia
ou por semana; como o peso dessas pessoas geralmente esta na faixa normal ou um pouco
acima, pessoas bulímicas tem maior facilidade para esconder a situação de familiares, também
não é incomum em sujeitos obesos. A manifestação da bulemia ocorre entre a adolescência e
os 40 anos de idade, a etnia branca é o público mais incidente. E, se não tratada a bulemia
nervosa persiste durante anos acarretando sofrimento emocional: baixa autoestima, depressão,
ansiedade social, perturbações de humor; assim como na anorexia nervosa há uso de
substâncias estimulantes como o álcool DSM 5(2016).
A prevalência normalmente é no sexo feminino, relacionando com o sexo masculino a
proporção fica em torno 1:10, e, pouco se sabe sobre como a bulemia afeta o sexo masculino;
as taxas de suicídio são altas DSM 5 (2016).

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA JUNTO AOS


TRANSTORNOS ALIMENTARES

O instrumentos para a avaliação dos transtornos alimentares surgiu a partir da


necessidade de sistematizar os estudos destes transtornos a partir do estabelecimento e
aprimoramento de seus critérios diagnósticos nas várias edições do Manual Diagnóstico e
Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM)1-3 e da Classificação Internacional de Doenças –
CID (FREITAS, GORENSTEIN E APOLINÁRIO, 2002) .
No Brasil atualmente segundo o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos
Desenvolvido pelo Conselho Federal de Psicologia não existe um teste que seja favorável, ou
seja, autorizado a inferir diretamente sobre a anorexia nervosa e a bulemia nervosa. A
situação não restringe o olhar do profissional, pois, o feeling do psicólogo é preponderante a
problemática, o mesmo pode utilizar-se de um teste rastreio, a fim de levantar informações,
para os casos de suspeita de anorexia nervosas e a bulemia nervosa é sugerido então o EAT-
26 (Teste de Atitudes Alimentares) utilizado para saber sobre a suscetibilidade tanto a
anorexia quanto a bulemia nervosa, logo, o profissional pode desenvolver o seu próprio
protocolo de trabalho, acrescentando ainda outros testes, estes favoráveis a investigação
proposta de maneira, tais como: o IFP- II (Inventário Fatorial de Personalidade, 2012,
objetiva traçar o perfil de personalidade do indivíduo), EFN (Escala Fatorial de Ajustamento
Emocional/Neuroticismo, 2001, verifica sobre a vulnerabilidade, desajustamento psicossocial,
ansiedade e depressão do indivíduo), Neupsilin (Instrumento de Avaliação Neuropsicológica
Breve, 2011, descreve o desenvolvimento neuropsicológico durante o ciclo vital da
adolescência ao envelhecimento de pessoas neurologicamente saudáveis e de portadoras de
quadros neurológicos (ou neuropsiquiátricos) adquiridos ou de desenvolvimento. Assim,
verifica sobre: Orientação Têmporo-Espacial, Atenção Concentrada, Percepção Visual,
Habilidades Aritméticas, Linguagem Oral e Escrita, Memória Verbal e Visual, Praxias e
Funções Executivas); WAIS III (Escala de Inteligência Wechsler para Adultos, 2004, que
investiga os deficts de memória na função executiva), entre outros testes que corroboram na
investigação dos transtornos alimentares cada um a sua maneira, com respeito a idade de
aplicação para cada teste.

A NEUROPSICOLOGIA E OS TRANSTORNOS ALIMENTARES

A neuropsicologia é uma das áreas da psicologia, que tem como intuito “examinar a
relação do comportamento e o funcionamento mental nas áreas cognitiva, motora, sensorial e
emocional, através da utilização de testes psicométricos ou exames qualitativos”
(DUCHESNE et al, 2004, p.108,). Trata-se da especialidade psicológica que analisa os
comportamentos das lesões do sistema nervoso central, verificando as disfunções cerebrais
em suas diferentes manifestações, objetiva investigar as funções corticais superiores, como a
atenção, memória, linguagem, entre outras (COSTA et al, 2004).
A neuropsicologia observa sobre a participação do cérebro no desenvolvimento do
sujeito e a partir dessa compreensão verifica a relação das alterações cerebrais como
disfunções cognitivas e do comportamento através de lesões, doenças ou desenvolvimento
anormal do cérebro e como podem afetar significativamente a vida do sujeito.
Utiliza-se da compreensão que as funções do cérebro e de cada estrutura cerebral está
relacionada com o desenvolvimento do sujeito, parte do entendimento que o córtex cerebral é
a maior parte do cérebro humano e que possivelmente está ligado as funções cerebrais
superiores como o pensamento e a ação, onde as suas divisões chamadas de lóbulos estão
dividias em quadros, sendo elas, lóbulo frontal, responsável pela função da fala, raciocínio,
planejamento e as emoções, o lóbulo temporal, responsável pela função da percepção e o
reconhecimento dos estímulos auditivos, da memória e da linguagem, lóbulo parietal,
responsável pelo movimento, o reconhecimento, a orientação e a percepção de estímulos e o
lóbulo occipital, responsável pelo processamento visual (SANTOS, 2002).
Assim a neuropsicologia auxilia no diagnóstico, sendo também utilizada na avaliação
de efeitos clínicos como intervenções terapêuticas, visando o prognóstico do sujeito
diagnosticado com algum quadro psiquiátrico. Logo, as pessoas diagnosticadas com
transtornos alimentares também poderão utilizar esse campo da psicologia como possibilidade
ao tratamento, pois, como a neuropsicologia busca compreender a ligação das funções
cerebrais junto às disfunções cerebrais, observa-se que em pessoas com esses
comportamentos possivelmente há uma uma diminuição nas funções executivas, memórias
entre outras no seu quadro clínico (DUCHESNE et al, 2004).
Em diferentes estudos existem variados tipos de causas que indicam o diagnóstico para
transtornos alimentares como os fenômenos resultantes da interação de fatores pessoais,
familiares e socioculturais, com foco na preocupação excessiva com a alimentação e o peso
do corpo, a situação soma-se que provavelmente existe uma relação dos transtornos
alimentares com alguma disfunção no sistema nervoso central, tais estudos discutem a
temática a partir de testes neuropsicológicos (DUCHESNE et al, 2004), o autor também relata
que pacientes diagnosticados com transtornos alimentares possuem possíveis déficits
cognitivos, sendo os mesmos avaliados através de exames; cita-se a Tomografia por emissão
de pósitrons (TEP) e Tomografia computadorizada por emissão de fótons isolados ou únicos
(SPECT).
Nos estudos direcionados aos transtornos alimentares tem sido observado à relação
entre mecanismos do processamento cognitivo e alguns comportamentos alimentares.
Entretanto, ainda há muitos para se descobrir sobre os transtornos alimentares a partir da
neuropsicologia, sendo os testes neuropsicológicos favoráveis a esta situação, principalmente
se aliado aos avanços tecnológicos no campo da saúde.

A neuropsicologia e a anorexia nervosa

Como anteriormente mencionado, anorexia nervosa é caracterizada quando o sujeito


perde peso de forma significativa, através de dietas rígidas, dietas essas realizadas e
planejadas pelo próprio sujeito sem nenhuma orientação nutricional, buscando a magreza
extrema a qualquer custo, outra característica a distorção da sua própria imagem corporal,
tendo o medo de engordar um das características psicopatológica desse diagnostico (ABREU
e FILHO, 2004).
Nesse tipo de diagnóstico é observado que a pessoa também adquirem algumas
disfunções cognitivas como na área atentiva e memória a exemplo da retenção e seletividade
de informações e viso-construção, outra situação é que a velocidade psicomotora nesses
indivíduos apresentam um menor desempenho.
Assim a preocupação exacerbada com a alimentação e o seu corpo sugerem ser uma
distorção do raciocínio, fato que desempenha um papel fundamental na manutenção dos
comportamentos disfuncionais associados ao transtorno alimentar, onde os esquemas
cognitivos desses sujeitos não obteriam a organização das informações, dados esses obtidos
através das experiências vividas (DUCHESNE et al, 2004).
As memórias de curto e longo prazo também são afetadas nos sujeitos com anorexia
nervosa, sendo assim, o córtex pré-frontal encontraria com alguma disfunção, pois, essa área
também é responsável pela memória operacional, a qual mantém e organiza informações
(ANDRADE, SANTOS e BUENO, 2004),
Salienta-se que área mais trabalhada nos estudos é a viso-construção, e,
frequentemente apresenta uma disfunção no lobo parietal direito, responsável pela
interpretação da posição do corpo, gerando uma disfunção na imagem corporal. Portanto,
possivelmente assim se explica por que esses sujeitos encontram dificuldades em processar
informações visuais (DUCHESNE et al, 2004).

A neuropsicologia e a bulemia nervosa

Ratificando que os sujeitos caracterizados com bulimia nervosa possuem compulsão


alimentar, e que seguido a compulsão existe uma necessidade de autopunição, simbolizando
muitas vezes pelo vômito induzido como uma das buscas para solucionar a problemática
(APOLINÁRIO e CLAUDINO, 2002).
Desse modo, ao observar as disfunções cognitivas desses indivíduos observa-se que a
atenção e as funções executivas sofrem algumas alterações, justamente no córtex pré-frontal
(ANDRADE, SANTOS e BUENO, 2004).
De tal modo que compreendendo quais alterações um indivíduo diagnosticado com
bulimia nervosa apresenta, é verificado que o córtex pré-frontal é parte do cérebro que
relaciona as habilidades, para diferenciar pensamentos conflitantes, consequências futuras de
atividades correntes, trabalho em relação a uma meta definida, atenção, tomada de decisão e
memória de trabalho, tendo também grande implicação no comportamento social do sujeito,
logo, os sujeitos caracterizados com esse transtorno apresentam uma redução na perfusão do
córtex pré-frontal esquerdo. Também foi identificado que os sujeitos com bulimia nervosa
apresentam uma redução sanguínea do lobo temporal esquerdo, onde afeta a ansiedade e a
memória.
Duchesne (2004) relata que os indivíduos caracterizados com bulimia apresentam
significativamente baixo desempenho quanto à velocidade psicomotora, onde é definida como
a velocidade de conclusão de uma tarefa com precisão considerável, ainda foi observado que
os sujeitos com bulimia nervosa apresentavam significativamente uma maior lentidão na
nomeação de palavras associadas ao formato corporal, apresentando um viés atentivo para
palavras associadas ao peso e formato corporal e déficits na velocidade de processamento de
informações. Quanto as funções executivas Duchesne (2004) menciona que esses indivíduos
possuem comportamentos mais impulsivos, onde provavelmente a capacidade de controlar
impulsos podem ser mediadas por déficits das funções executivas.

APORTES DA NEUROPSICOLOGIA NA ANOREXIA NERVORSA E


BULIMIA NERVORSA

Sabendo de toda complexidade causado tanto pela anorexia como pela bulimia
nervosa, a neuropsicologia irá atuar no reflexo de que cada disfunção ocorrida no cérebro
acarretara no comportamento do sujeito, sabendo que a neuropsicologia é uma ciência voltada
para a expressão do comportamento por meio das disfunções cerebrais (ANDRADE,
SANTOS e BUENO, 2004), assim, no tratamento e nesse tipo de diagnostico não seria
diferente - visando quais as disfunções que tanto a anorexia nervosa quanto a bulimia nervosa
acarretaram e o que essas disfunções influenciaram no comportamento do sujeito.
A reabilitação neuropsicológica tem papel fundamental na adaptação do indivíduo no
seu ambiente, onde para Andrade et al (2004) relata que essa atuação tem caráter “artesanal”,
pois, cada sujeito terá seus prejuízos cognitivos específicos e demandas ambientais próprias,
sendo assim, cada sujeito irá refletir essas disfunções de acordo com as suas especificidades.
Prontamente, a atuação dos profissionais envolvidos é caracterizada por um processo
interdisciplinar.
POSIBILIDADES DE TRATAMENTO NOS QUADROS DE ANOEXIA
NERVOSA E BULIMIA NERVOSA

Primeiramente para o sucesso do tratamento dos transtornos alimentares é necessário


um diagnóstico que identifique devidamente a anorexia nervosa ou a bulemia nervosa,
preferencialmente através de trabalho em uma equipe interdisciplinar composta por médicos
em diferentes especialidades (psiquiatras, gastroenterologista, neurologista entre outras
formações), nutricionista, odontologista, e psicólogo onde cada profissional terá um papel
determinante nos cuidados do indivíduo com esses tipos de transtornos.
O profissional psicólogo terá um papel fundamental na evolução desse sujeito, onde o
mesmo irá auxiliar no quadro de ansiedade, tristeza e outros sentimentos trazidos por tal
transtorno, onde este profissional ira acolher, ouvir e identificar as angustias trazidas pelo
indivíduo, criando um ambiente propicio para que o mesmo possa refletir sobre suas atitudes e
seus posicionamentos a enfrentar por tal problemática (SILVA e ALVES, 2011).
Além de toda atenção realizada por essa equipe é fundamental a participação ativa da
família, pois essa terá papel fundamental no quadro de melhora desse sujeito (SILVA e
ALVES, 2011).

METODOLOGIA

O artigo se consistiu a partir do método bibliográfico, para tal foram feitas consultas
em diferentes publicações; trata-se de uma revisão da literatura sobre o tema transtornos
alimentares com foco na anorexia nervosa e bulimia nervosa com ênfase sobre as alternativas
de tratamento. Assim foi orientado por uma reflexão a qual perpassa pelo aspecto
biopsicossocial do sujeito, e, nesse sentido, o método bibliográfico foi utilizado para uma
compreensão da temática proposta em todos os seus aspectos.Dessa maneira essa pesquisa
descreveu sobre o enfoque vivido tanto pelo sujeito anoréxico e bulímico, e as possibilidades
na atualidade para prognóstico de tais transtornos, a partir do olhar da neuropsicologia.

CONCLUSÃO

A compreensão sobre os transtornos alimentares e as suas ramificações nos encaminha


um melhor entendimento quanto às disfunções neuropsicológicas e as suas associações quanto
ao comportamento desse indivíduo, tanto como a anorexia como a bulimia, ambos abordados
nesse artigo, assim, entendendo que os sujeitos diagnosticados com tais transtornos
alimentares sofrem algumas disfunções e que tais complexidades afetam diretamente ou
indiretamente no desenvolvimento tanto cognitivo quanto social desse indivíduo.

Sabendo da importância do trabalho interdisciplinar quanto ao envolvimento desse


sujeito e o entendimento do mesmo da sua realidade vivida, observa-se o quanto se faz
necessário o devido acompanhamento e uma aplicabilidade mais eficaz dos instrumentos
utilizados nesse tipo de diagnostico, pois, os sujeitos caracterizados com tal transtorno tendem
a enfrentar diversas consequências acarretadas ao quadro em diferentes âmbitos da vida.

REFERÊNCIAS:

ABREU, Cristiano Nabuco de, FILHO, Raphael Cangelli, Anorexia nervosa e bulimia
nervosa – abordagem cognitivo-construtivista de psicoterapia, São Paulo, 2004

ANDRADE, Vivian Maria; SANTOS, Flavia Heloísa dos; Bueno, Orlando F. A.,
Neuropsicologia Hoje, 1°edição, Editora Artes Médicas LTDA, São Paulo, 2004.

APOLINÁRIO, José Carlos, CLAUDINO, Angélica M, Transtornos Alimentares, Rio de


Janeiro, 2002.

DSM – 5, Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, Porto Alegre, 2016.

DUCHESNE, Monica et al, Neuropsicologia dos transtornos alimentares: revisão


sistemática da literatura, Rio de Janeiro, 2004.

OLIVEIRA, Leticia Langlois, HUTZ, Claúdio Simon, Transtornos alimentares: o papel dos
aspectos culturais no Mundo contemporâneo, Maringá, v. 15, n. 3, p. 575-582, jul./set.
2010.

SANTOS, Rocilene Otaviano dos, Estrutura e Funções do Córtex Cerebral, Brasília, 2002.

SILVA, Blenda Lúcia e ALVES, Cintia Marques, Anorexia nervosa e bulimia nervosa:
diagnóstico e tratamento em uma visão multiprofissional, Minas Gerais, 2011.

REVISTA PSIQUE, São Paulo, Editora Escala, março/2017.

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