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Doutora pelo programa de Pós-Graduação em História Social da FFLCH/USP, sob orientação do professor
Dr. Norberto Luiz Guarinello e projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/FAPESP.
Professora Titular da Universidade Federal de Goás - UFG. lu_omena30@yahoo.com.br
Resumo Abstract
A temática do presente artigo perpassa a investigação The aim of the present study goes through the discussion
sobre o uso inconsistente do conceito panis et circenses about the concept panis et circenses on the contemporary
no mundo contemporâneo e a crítica a construção world, and through the review of the classic
historiográfica clássica que prioriza, em alguns casos, a historiography construction that privilege, in some cases,
afirmação de que a plebs romana seria ociosa. the affirmation of the roman plebs as being idleness.
Palavras-chave: Ociosidade. Poder. Roma. Keywords: Idleness. Power. Rome.
Que falta nesta cidade? .................. Verdade na arena. Esta construção sugere, e aqui faço uso das
Que mais por sua desonra?................ Honra palavras de Renata Senna Garraffoni, “uma imagem
Falta mais que se lhe ponha.......... Vergonha. muito forte de decadência, perversão e violência presente
na mídia em geral e que acaba por formar um quadro
Gregório de Matos negativo da sociedade romana”.1 Interpretações, como
Que falta nesta. a de Scott, constituem um ponto de vista dema-
siadamente preconceituoso, reduzindo a sociedade
A historiografia contemporânea, desde o século XIX, romana como aquela que copiava e deturpava a
como é o caso do autor alemão L. Friedländer interpretou elaborada cultura grega e que tentava sufocar a nascente
a sociedade romana a partir de grupos privilegiados que comunidade dos cristãos através de massacres
controlariam o acesso aos benefícios concedidos pelo sistemáticos.
poder político, excluindo, dessa forma, setores populares Essa imagem negativa da cultura romana pode ser
denominados plebs. Nesta ótica, a plebe, de uma manei- lida ainda hoje em nossos contextos políticos. Análises
ra geral, nada teria a oferecer. Então, como manobra críticas à atual política brasileira atacam a noção do panis
política, para a manutenção da ordem e afastá-la das et circenses, traduzida no chavão: “pão e circo”, carac-
decisões políticas, as autoridades davam-lhe o pão e o terística da corruptibilidade do poder político e que
circo, instaurando assim uma política do panis et estende suas raízes até mesmo em organizações, como
circenses. Esta concepção se enraizou no senso comum as esportivas, que com seus campeonatos de futebol
de tal forma que presenciamos hoje, no público não “idiotizam” a massa em comemorações. O colunista
especializado, formulações de que a plebe era san- Marcelo Maroldi (2006), por exemplo, considera que em
guinária, despolitizada, ociosa e desinteressada pelo ambos os campos, o que se tem é uma versão moderna
trabalho. da política do pão e circo. Para o jurista Edison Vicentini
Um exemplo disso é o filme intitulado Gladiador Barroso (2006), o Brasil não foge à regra, pois em sua
(2000), uma produção hollywoodiana dirigida por Ridley análise, vê os mais “humildes” como uma multitudo de
Scott, em que a plebe é representada como sanguinária manobra nas mãos dos “saltimbancos” de plantão, a
e contagiosa diante da morte de gladiadores e animais ridicularizá-los, com ares de sabedoria e superioridade.
1
GARRAFFONI, R. S. Gladiadores na Roma Antiga: dos combates às paixões cotidianas. São Paulo: Annablume, 2005. p. 65.
2
BARROSO, Edison Vicentini. Pão da indigestão. Consultor Jurídico, www.conjur.com.br, julho, 2006.
3
idem.
4
DAMATTA, Roberto. Conta de Mentiroso. Sete ensaios de Antropologia Brasileira. Rio de Janeiro: Rocco, 1993, p. 141-2.
5
cf. p. 135.
6
cf. p. 141-2.
7
DAMATTA. Op. cit., p. 160.
8
Ibid., p. 162.
9
Ibid., p. 163.
O segundo equívoco se refere à pressuposição de que Assim também a sociedade romana não era apenas
a massa é homogênea e passiva, desconsiderando, assim, formada por elites dependentes da posição central ou
o pluralismo cultural e as tensões sociais. Esta ho- periférica das províncias, mas até mesmo os escravos
mogeneização não corresponde à realidade contem- eram hierarquizados pelo tipo de ofício e a constituição
porânea e, nem mesmo, à romana, em relação à aris- de elites entre os pobres. Encontraremos, dessa forma,
tocracia. Considerar a formação social a partir de uma dimensão variada de organização e de poder com
binômios elite e massa, superior e inferior ou mesmo relação a cada agente ou grupo social no mundo romano.
elite e subalterno é inconsistente por três motivos: Uma proposição dominante hoje em dia é a forjada
primeiro, restringe a posição social dos agentes na por Géza Alföldy, isto é, as camadas superiores se pro-
sociedade; segundo, ignora as dimensões dos micro- tegiam por pertencerem a “uma organização cor-
poderes e; terceiro, não leva em consideração o modo porativa, de tal modo que era possível o controle da
como se organizam os agentes sociais. admissão e da qualidade de membro dessas ordens,
Esses conceitos utilizados pela historiografia para mantendo-se assim rigorosamente a hierarquia da
compreender as formações sociais não abrangem em sua organização social”.15 Por um lado, a homogeneidade da
10
cf. DAMATTA . Op. cit. p. 164.
11
DAMATA. O que é o Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 2004. p. 51.
12
cf. DAMATTA . Op. cit., p. 134
13
Um exemplo de seleção e investimento simbólico da tradição brasileira, utilizado por DaMatta, seria o fato de representarmos nossa
identidade nacional por meio de um código racial que é para o antropólogo uma autêntica invenção da fábula das três raças
(D AMATTA . Op.cit. 2004, Apud FARES, Cláudia. Alguma coisa está fora da nova ordem mundial: a construção de uma identidade. In:
MENDES, Cândido (org.). Pluralismo Cultural, Identidade e globalização. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 190). Segundo o autor,
“em sociedades hierarquizadas e pessoalizadas como o Brasil, a gradação e o clientelismo diluem o preconceito que sempre pode ser
visto como dirigido contra aquela pessoa e não contra toda uma etnia. Daí nossa crença em que não temos preconceito racial, mas
social, o que, tecnicamente, é a mesma coisa. Numa sociedade onde somente agora se admite não existir igualdade entre as pessoas,
o preconceito velado é uma forma muito mais eficiente de discriminar, desde que essas pessoas ‘saibam’ e fiquem no seu lugar”
(DAMATA, Op. cit. 2004).
14
Idem, p. 08.
15
ALFÖLDY, GÉZA. História Social de Roma. Lisboa: Presença, 1989. p. 126.
16
DAMATTA. 2001. Op. cit. p. 169, questiona a utilização do conceito de globalização levando-se em consideração a experiência
brasileira, para a partir daí, compreender a formação da identidade global e local. Damos voz ao autor: “pergunto-me se não é pre-
cisamente nessas situações de irresistível globalização que ficamos conscientes de nossa singularidade e da nossa identidade. Quer
dizer, é justamente na incômoda desorientação e impessoalidade do espaço de um aeroporto que tenho a inquietante sensação de ser
brasileiro. E de ser brasileiro carente precisamente de “gente”, de “calor humano”, “de pessoas com quem conversar” (p. 177).
17
Idem, p. 174.
18
Na tese de doutoramento trabalhamos com as seguintes obras de Sêneca: Diui Claudii Apocolocyntoses, De Prouidentia, De Constantia
Sapientis, De Ira, De Vita Beata, De Otio, De Tranquilitate Animi, De Brevitate Vitae, Consolatio ad Marciam, Consolatione ad Polybium,
Consolatione ad Helviam Matrem, Epistulae Morales e De Beneficiis. (OMENA, Luciane Munhoz de. Pequenos Poderes na Roma
Imperial: o povo miúdo sob a ótica de Sêneca/Luciane Munhoz de Omena; orientador Norberto Luiz Guarinello. São Paulo, SP:
2007. 225f).
19
GUARINELLO, Norberto Luis. Uma morfologia da História: as formas da História Antiga. Politéia, Vitória da Conquista, v. 3, n. 1,
2003. p. 53/4.
20
MACHADO, Roberto. Por uma genealogia do poder. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto
Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1986. p. XIV.
21
cf. F OUCAULT , 1986.
22
DABDAB TRABULSI, J. A. Ensaio sobre a mobilização política na Grécia antiga. Belo Horizonte: UFMG, 2001. p. 77.
23
FRIEDLAENDER, L. La sociedad romana. Historia de las costumbres en Roma, desde Augusto basta los Antoninos. México: Fundo de
Cultura econômica, 1947. p. 38.
24
Friedländer influenciou análises contemporâneas como as de Wallace-Hadrill, Richard Saller, Peter Garnsey e Duncan Cloud que
privilegiam as relações pessoais com o imperador, cuja função estaria na obtenção de privilégios, benefícios e poder. Duncan Cloud
(1990) afirma existir “evidências suficientes para mostrar que Roma não era diferente de muitas outras sociedades ao excluir os
que eram muito pobres das relações cliente-patrono; ainda que a relação fosse assimétrica, o cliente tinha que estar apto a contribuir
com algo e, sob o Império, os cidadãos muito pobres não tinham nem o voto a oferecer” (p. 210).
25
FRIEDLAENDER, L. Op. cit. p. 51.
26
cf. p. 108.
27
cf. p. 164.
28
cf. p. 497-8. Garraffoni (2005) em um estudo atual sobre os gladiadores na Roma Antiga faz críticas à construção da violência nos
jogos na arena. Utilizando fontes literárias e arqueológicas a autora afirma que a violência foi enfatizada em fontes literárias como
Sêneca e Tácito. De acordo com suas palavras, Tácito acentua: “tanto na maneira como organiza seu discurso, escolhendo termos
que intensificam e dramatizam as mortes, assim como nas atitudes dos que participaram da rixa, pois estes carregavam pedras e
espadas, postura que muitos estudiosos afirmam não ser comum entre os espectadores. Se por um lado há uma ênfase na violência,
por outro, a punição também aparece com força em seu relato (p. 138).
29
FRIEDLÄNDER. Op.cit., p. 498.
30
GARRAFFONI, 2005. Op. cit. p. 72.
31
Temos inúmeros exemplos: J. Carcopino (1942), Gagé (1964), Rostovtzeff (1967), Veyne (1976), Alföldy (1989), Grimal (1995)
entre outros.
32
CARCOPINO, J. Roma no apogeu do império. Prefácio de Raymond Bloch e tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das
Letras, 1990. p. 329.
esforços em perceber, um dia de cada mês, os víveres Esta proposta é inicialmente interessante e instigadora.
que gozariam até a morte”.33 No entanto, o caminho trilhado pelo autor o leva a
reproduzir alguns conceitos da bibliografia mais antiga.
Percebemos nos traços desenhados por Carcopino o Vejamos:
cotidiano de uma plebe excêntrica e sem atividade, 1. O texto revela apreciações morais identificadas por
vivendo das diversões sangrentas oferecidas nos palavras pejorativas como “povinho” ou inter-pretações
combates gladiatoriais. Como sustentou Garraffoni, a que marginalizam os setores “ditos populares”,
inovação de Carcopino, em relação aos seus colegas considerando-os devassos, ociosos, preguiçosos e por
precedentes, “está no argumento que segue o desen- preferirem os jogos suntuosos a trabalhar.37 Bairros como
volvimento de seu texto, isto é, este quadro caótico e a Suburra são descritos como locais onde perambulam,
sanguinolento só viria a melhorar no final do Império por toda a parte, “marginais, escravos em fuga, mal-
com a chegada do cristianismo, religião que salvaria o feitores de todos os tipos coabitavam com pequenos
povo desta vida profana, nefasta e violenta”. 34
comerciantes na miséria, sapateiros, ferreiros, tecelões e
Na década de 80, Jean-Noël Robert publica Les cabeleireiros”.38 Nestes bairros povoam, dessa forma, por
plaisirs à Rome, enfocando, assim como os autores uma infinidade de “prazeres suspeitos, superpopulação,
anteriores, a política do pão e circo como instrumento miséria, violência, ruelas da Roma dos pobres são palcos
de dominação dos aristocratas. Em um trecho, o autor de uma luta incessante contra a morte, opressão e
comenta que doença”.39
Segundo a leitura de Robert, a cidade de Roma, no
os jogos e as redistribuições frumentárias são dois período imperial, tornara-se “parasitária, livre para se
alicerces da política imperial. Diverte-se a multidão que entregar aos prazeres mais voluptuosos”40, diferen-
exige o sensacional. Paradas, encenações de grandes temente da Roma Arcaica que se fundamentava na
espetáculos, a morte de homens ou de animais são os pobreza e na virtude. O historiador apresenta uma
lotes cotidianos de um público que pede para ser perspectiva tradicional em que o campo é o espaço de
enfeitiçado. Os próprios monumentos das cidades, sabedoria e a urbs é o campo de luxúria e devassidão.
termas, teatros, anfiteatros, circos contribuem para o Apresenta-nos quase uma visão apocalíptica, em que o
que Sêneca chama ‘servidão ociosa das cidades’. 35
cristianismo aparece como doutrina para moralizar
aquela sociedade decadente.41
Essa pressuposição de que a multitudo exigia e 2. A segunda linha interpretativa do autor se baseia
necessitava ser “enfeitiçada” nos grandes espetáculos na simples oposição entre rico e pobre, perdendo-se,
estaria presente, segundo o autor, em fontes literárias dessa forma, o caráter heterogêneo da sociedade romana
como as de Sêneca, Juvenal, Horácio, Cícero, entre e como afirmamos anteriormente, a capacidade de
outros e nas fontes arqueológicas como as pinturas compreensão dos micropoderes e a maneira com que os
parietais de Pompéia. Em termos gerais, Robert analisa grupos ou indivíduos se organizam e se estruturam nas
os prazeres cotidianos da sociedade romana que são esferas sociopolíticas.42
33
Idem, p. 270.
34
GARRAFFONI, R. S. Op. cit., p. 73.
35
ROBERT, Jean-Noël. Os prazeres em Roma. Tradução de Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 38.
36
cf. p. 15.
37
ROBERT, Op. cit., p. 40.
38
Ibid, p. 47.
39
Ibidem.
40
Ibid. p. 38.
41
Ibid., p. 41.
42
Tanto Grimal quanto Carcopino e Robert apresentam sob o rótulo de povo todos os segmentos populares como bandidos, gladiadores,
escravos, libertos, pobres. Os competidores dos jogos gladiatoriais eram bandidos e escravos, que divertiam o povo ocioso e predisposto
aos espetáculos sangrentos. Os espetáculos que exigiam mais inteligência eram menos apreciados, preferiam espetáculos sangrentos
à incumbência de pensar com as peças teatrais (GRIMAL. A civilização romana. Lisboa: Edições 70, 2001, p. 216). Autores como DU-
orgulho e honradez, obedecendo apenas seu semelhante, A conseqüência política dessa postura gerou o
e à plebe restaria a obediência. De acordo com suas conceito de despolitização. Bastaria à plebe ter “a
palavras: “Um plebeu se sentiria ultrajado por ver um satisfação de saber que o rei os ama eternamente, que o
dos seus semelhantes na miséria e pretender dar-lhes seu chefe é genial ou que o povo é soberano. Pouco
ordens, aceitará de bom grado obedecer a um mestre importa que a bondade de um rei não se traduza em
cuja superioridade, provada através de sinais exteriores, nada, nem sequer em uma redução de impostos”. 48
é flagrante”.44 Segundo a concepção de Veyne (1976), a plebe romana
Trata-se da subjetivação da obediência. Vistos como simplesmente não se interessava por política. O circo era
humildes, absorvem a subjetividade dos notáveis, dos a única paixão que seduzia o povo, falava-se pouco de
ditos superiores por serem incapazes de absorverem seus política e muito sobre a continuidade ou não dos
valores. Na sua humildade, um plebeu prestaria a espetáculos.49 Citemos in extenso:
obediência a um senhor, como único recurso, “cujos
valores se revelem superiores àqueles de que a plebe a juventude e o bom povo dividiam-se em facções
dispõe; não é humilhante submeter-se a um homem que rivais que apoiavam determinado ator, uma equipe de
não pertence ao vulgo. O humilde orgulho do plebeu cocheiros, tal categoria de gladiadores, e seu zelo ia
exige a desigualdade, a dissimetria”45. desde graves perturbações públicas, sem nenhum fundo
Manteriam-se nessa subordinação, em especial, por político-social e nenhuma distinção de classe. 50
sua condição natural. De acordo com Veyne, “a existência
dos primeiros [notáveis] era tão natural como a dos A multitudo estaria destinada a obedecer e receber
segundos e, digamos, permutáveis; reciprocamente, eles benefícios de notáveis e do imperator, não por exigirem
aprovavam o saber estar no seu lugar e se alguém faltasse seus direitos e sim por corresponder em uma troca: suas
às suas obrigações seria desprezado”46. Esta formulação riquezas por prestígio ou autoridade.51 Essa prática faria
sobre a condição natural tem por contributo a constru- a sociedade funcionar como uma estrutura, assegurando
ção de uma sociedade sem conflitos. Eram, na concepção sua coesão e determinando a ruptura de uma ordem
de Veyne, situações impensáveis, pois a natureza social natural52. Na obra Como se escreve a História (1983),
PONT (DUPONT, Florence. L’acteur-roi: le theater dans la Rome antique. Paris: Les Belles Lettres, 2003), discordam desse tipo de aná-
lise de que o romano não apreciava o teatro. Citemos in extenso: “O público romano não é inculto e grosseiro sob o pretexto de que não
se interessa por literatura, sua cultura é diferente daquela dos espectadores atenienses dos séculos V e IV. Esta diferença se resume
em uma fórmula: Atenas era a cultura da palavra e do julgamento, Roma a cultura da música e da percepção imediata” (p. 114).
43
VEYNE. Indivíduo e poder. Lisboa: Ed. 70, 1987. p. 13.
44
Ibid., p. 14.
45
Ibid., p. 14.
46
Ibid., p. 40.
47
Ibid., p. 41.
48
Ibid., p. 18.
49
VEYNE, P. Le pain et le cirque: sociologie historique d’um pluralisme politique. Paris: Seuil, 1976. p. 86.
50
VEYNE. O Império Romano. In: DUBY, G. & ARIÈS, P. História da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 195.
51
Esta interpretação recebeu várias críticas, tais como, considerar como políticas somente as doações obrigatórias, seria uma concepção
estritamente institucional. A função pública momentânea de um indivíduo não seria suficiente para definir a natureza das
doações; não se podia afirmar que a ambição político-social estava ausente nos atos do oferecimento. Uma grande doação podia
auxiliar uma carreira política de modo marcante (JACQUES, F. & SCHEID, J. Roma e il suo Impero: istituzioni, economia, religione.
Roma: Laterza, 1992); além de que as representações cênicas se prestavam a reivindicações de caráter coletivo (DUPONT, Florence.
L’acteur-roi: le theater dans la Rome antique. Paris: Les Belles Lettres, 2003).
52
cf. VEYNE, Op. cit., 1976.
os superiores hierárquicos da sociedade. De acordo com constituída, ajusta-se de imediato às exigências ima-
nentes do jogo, e que eles podem assim afirmar sua
sua reflexão é mais razoável aos agentes subalternos
diferença sem necessidade de querer fazê-lo, ou seja,
investirem no fortalecimento de um superior com a naturalidade que é marca da chamada ‘distinção
53
cf. Idem; VEYNE. Sobre el individuo. Barcelona: Paidos, 1990.
54
FUNARI. Política e Riso em Pompéia: ensaio sobre a crítica social popular. In: FUNARI, P. P. A.; BENOIT, H. Ética e política no mundo
antigo. São Paulo: Unicamp, 2001. p. 117/132; JOLY, F. D. A escravidão na Roma Antiga. Política, economia e cultura. São Paulo:
Alameda, 2005; GUARINELLO, Norberto Luis; JOLY, Fábio Duarte. Ética e ambigüidade no principado romano. In: BENOIT,
Héctor; FUNARI, Pedro Paulo A. Ética e política no mundo antigo. Campinas: Unicamp, 2001. p. 133/152; FAVERSANI, Fábio.
Cultura popular e classicismo. LPH: Revista de Historia, Mariana, v. 4, 1994. p. 14-25; ______. A sociedade em Sêneca. São Paulo:
USP/FFLCH, 2000.
55
FAVERSANI, Fábio, 1994. Op. cit. p. 89.
56
Idem, p. 44.
57
A teoria do individualismo metodológico inspira vários teóricos, tais como: Pierre Bourdieu (teoria da prática), Erving Goffman (no
campo do sociointeracionismo), Raymond Boudon (teoria da metodologia da ação) e Jon Elster (no campo do marxismo analítico).
Citemos algumas obras: GOFFMAM, E. La presentación de la pesona em la vita quotidiana. Buenos Aires: Amorrortu, 1971; BOUDON,
Raymond (Org.). Tratado de Sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
58
BOURDIEU, Pierre. Esboço de uma teoria da prática. In: ORTIZ, Renato. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p. 76.
59
BOURDIEU. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 23/4.
60
FAVERSANI. Op. cit., p. 49.
61
Ibid., p. 70.
62
Ibid., p. 70/1.
63
Ibid., p. 71.
64
Ibid., p. 74.
65
cf. p. 103. Além das discussões sobre as inter-relações na sociedade romana, temos autores como Pedro Funari discutindo temáticas
que enfocam a cultura popular a partir de grafites de Pompéia. Como sugeriu Funari (1989), “a cultura popular não deixa de ser
caracterizada pelas contradições originadas no seio das camadas subalternas. Suas cosmovisões refletem, a um só tempo, a aceitação
e a recusa das condições de exploração material e espiritual no interior da sociedade (...) Aquilo que o povo não frui não é aceito ou
imitado” (p. 15).
Essas camadas populares da sociedade romana estavam presentes nas tabernas, nos anfiteatros, teatros e templos; assistindo peças
de tragédia, recitais e musicais poéticos, comédias, jogos gladiatoriais; participando e exprimindo opiniões tais como: “Marítimo
pratica a cunilíngua por quatro asses, mas só aceita virgens: batamos, então, em outra porta” (CIL IV, 7384 Apud F UNARI, 1989. Op.
cit., p. 18). Este riso implícito sugere como as “relações humorísticas podem ser encaradas como produtos de reações de poder e de
sua contestação, atuando como verdadeira chave para abrir os significados guardados pelos grupos sociais” (FUNARI, 2001, Op.
cit., p. 131).
Essa categoria popular foi criticada por Faversani (1994), em uma resenha sobre o livro Cultura Popular na Antigüidade Clássica,
pelo fato de o conceito classe ou popular não “agregar todos os agentes subalternos passíveis de serem vistos como pertencentes à
classe popular em uma única classe, conceitualmente falando” (p. 33). Funari (1989), diferentemente do que interpreta Faversani,
utiliza o conceito de classe como uma ferramenta analítica, mas não cai nos subterfúgios das generalizações. A classe não é abstrata
e sim representada por categorias sociais como as de: agricultores, artesãos, comerciários, criadores, domésticos, escravos e feirantes.
Entre cada uma das categorias o autor constata subdivisões como artesão de couro, esteira, marfim, criadores de bestas de carga,
escravos de aves e assim por diante (p. 29). Esse posicionamento deve-se ao fato de Faversani (2000) caracterizar a sociedade ro-
mana pelos laços de solidariedades, desenvolvida de forma detalhada, tempos depois, em sua tese de doutoramento.
66
(cf. F RIEDLÄNDER , 1947. Op. cit.; C ARCOPINO . Op. cit.; GAGÉ, J. Les milieux populares: des plèbes indigènes aux affranchis. In: Les
classes sociales dans l’empire romain. Paris: Payot, 1964. p. 123/154 ; ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Tradução de Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1967; V EYNE , 1976. Op. cit.; ALFÖLDY, GÉZA. Op. cit..; ROBERT, 1995. Op. cit.; GRIMAL , 1995. Op. cit.)
67
cf. p. 103.
68
ZEILINGER, 2005, p. 249.
69
Ibid., p. 252/3.
FAVERSANI, Fábio. Cultura popular e classicismo. LPH: MACHADO, Roberto. Por uma genealogia do poder. In:
Revista de Historia, Mariana, v. 4, 1994. p. 14-25. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e
tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1986,
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