Você está na página 1de 13

A criação de uma tradição:

a ociosidade da plebs romana

Luciane Munhoz de Omena

Doutora pelo programa de Pós-Graduação em História Social da FFLCH/USP, sob orientação do professor
Dr. Norberto Luiz Guarinello e projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/FAPESP.
Professora Titular da Universidade Federal de Goás - UFG. lu_omena30@yahoo.com.br

Resumo Abstract
A temática do presente artigo perpassa a investigação The aim of the present study goes through the discussion
sobre o uso inconsistente do conceito panis et circenses about the concept panis et circenses on the contemporary
no mundo contemporâneo e a crítica a construção world, and through the review of the classic
historiográfica clássica que prioriza, em alguns casos, a historiography construction that privilege, in some cases,
afirmação de que a plebs romana seria ociosa. the affirmation of the roman plebs as being idleness.
Palavras-chave: Ociosidade. Poder. Roma. Keywords: Idleness. Power. Rome.

Que falta nesta cidade? .................. Verdade na arena. Esta construção sugere, e aqui faço uso das
Que mais por sua desonra?................ Honra palavras de Renata Senna Garraffoni, “uma imagem
Falta mais que se lhe ponha.......... Vergonha. muito forte de decadência, perversão e violência presente
na mídia em geral e que acaba por formar um quadro
Gregório de Matos negativo da sociedade romana”.1 Interpretações, como
Que falta nesta. a de Scott, constituem um ponto de vista dema-
siadamente preconceituoso, reduzindo a sociedade
A historiografia contemporânea, desde o século XIX, romana como aquela que copiava e deturpava a
como é o caso do autor alemão L. Friedländer interpretou elaborada cultura grega e que tentava sufocar a nascente
a sociedade romana a partir de grupos privilegiados que comunidade dos cristãos através de massacres
controlariam o acesso aos benefícios concedidos pelo sistemáticos.
poder político, excluindo, dessa forma, setores populares Essa imagem negativa da cultura romana pode ser
denominados plebs. Nesta ótica, a plebe, de uma manei- lida ainda hoje em nossos contextos políticos. Análises
ra geral, nada teria a oferecer. Então, como manobra críticas à atual política brasileira atacam a noção do panis
política, para a manutenção da ordem e afastá-la das et circenses, traduzida no chavão: “pão e circo”, carac-
decisões políticas, as autoridades davam-lhe o pão e o terística da corruptibilidade do poder político e que
circo, instaurando assim uma política do panis et estende suas raízes até mesmo em organizações, como
circenses. Esta concepção se enraizou no senso comum as esportivas, que com seus campeonatos de futebol
de tal forma que presenciamos hoje, no público não “idiotizam” a massa em comemorações. O colunista
especializado, formulações de que a plebe era san- Marcelo Maroldi (2006), por exemplo, considera que em
guinária, despolitizada, ociosa e desinteressada pelo ambos os campos, o que se tem é uma versão moderna
trabalho. da política do pão e circo. Para o jurista Edison Vicentini
Um exemplo disso é o filme intitulado Gladiador Barroso (2006), o Brasil não foge à regra, pois em sua
(2000), uma produção hollywoodiana dirigida por Ridley análise, vê os mais “humildes” como uma multitudo de
Scott, em que a plebe é representada como sanguinária manobra nas mãos dos “saltimbancos” de plantão, a
e contagiosa diante da morte de gladiadores e animais ridicularizá-los, com ares de sabedoria e superioridade.

1
GARRAFFONI, R. S. Gladiadores na Roma Antiga: dos combates às paixões cotidianas. São Paulo: Annablume, 2005. p. 65.

Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008 9


Em sua concepção eleito, sou universalista e demando leis e instituições con-
fiáveis. É como se o universalismo moderno fosse de-
Os festins licenciosos, em que imperam a total mandado em público, mas o particularismo continuasse
ausência de moral, acenam com aquela antiga pers- a funcionar nos planos pessoal e privado. Daí as nossas
pectiva (histórica mesmo) de que tudo ficará bem, oscilações entre universalismo e particularismo, iguali-
apesar do malfeito, desde que se mate a fome física e se tarismo e hierarquia, individualismo e holismo, que pa-
realizem espetáculos circenses, pantomimas para iludir recem estar no centro dos paradoxos que enfrentamos. 7
a população, tida e vista, pelos “comandantes”, como
palhaços a lhes atender às conveniências.2 O que parece notável no Brasil, parafraseando
DaMatta, é a atitude social do cidadão ter uma vigência
Esse questionamento sobre a falta de comprometi- contextual negativa e igualmente relativa. Há dois níveis
mento de políticos com a população brasileira é, segundo em que o cidadão existe: o primeiro, teórico, em que ele
Barroso, “para que fujam ao letargo e comecem a agir, pode ser valorizado na letra impessoal e universal da lei
para que, no grande circo da vida, se convide a população e do discurso político mais acadêmico ou eleitoreiro;
a algo mais que palhaçadas em meio ao pão da indi- enquanto o outro se vincula à prática social que não o
gestão”. Estas discussões conduzem autores como
3
enquadra com o mesmo valor na dimensão plena de
Barroso e Maroldi a pelo menos três equívocos: investimentos políticos, sociais e emocionais. Isto é,
sentimos orgulho em sermos cidadãos em uma reunião
O primeiro equívoco seria, como aponta Roberto pública, contudo, no momento que somos abordados pelo
DaMatta, o sentimento de indignação pelo estado de guarda de trânsito, quando necessitamos de serviços
corrupção, o descaso com as políticas públicas, as públicos de saúde ou quando somos assaltados nas ruas
relações pessoais no sistema social brasileiro e seu das grandes cidades não nos sentimos cidadãos. Temos
descompasso em relação a tudo o que as “leis consti- a impressão de “que o Estado deseja sempre nos punir,
tucionais” apresentam e exigem do sistema, a luta entre humilhar ou, o que é pior, nos assaltar”.8
o nível formal e o informal conduz autores contem- Essa desvalorização do cidadão produz papéis
porâneos a um limite de compreensão sociológica do individualizados e localizados, não como cidadão
Brasil. Como ele sugere, a chave do problema é saber brasileiro com direitos e deveres e sim como o filho, o
até que ponto as regras formais nascidas com o mundo primo, o amigo, o compadre conferindo poder imediato
burguês — que estão na base do que denominamos e personalizado. O que garante acesso, como afirma
Estado Nacional — podem englobar as regras que DaMatta, “à ‘consideração’, ao ‘empenho’, ao ‘pistolão’,
comandam a sociedade. 4 ao ‘favor’ e ao ‘jeitinho’”.9
O resultado disso é que em muitas situações concretas
Pode-se afirmar que as relações pessoais e as regras não desejamos o título de cidadão brasileiro, pois nos
impessoais regem o liberalismo brasileiro e correm lado deparamos com a pessoalidade. Digamos que um agente
a lado em esferas sociais mutuamente exclusivas, embora qualquer prestará um concurso público no qual o mérito
complementares. Há uma combinação entre idéias
5
será a impessoalidade medida pela comparação e
liberais e o favor do sistema, quer dizer, somos liberais competição entre os candidatos, contexto em que será
para certas coisas e paternalistas para outras . DaMatta
6
julgado como cidadão. Essa situação seria corriqueira
ainda afirma o seguinte: se não vivêssemos em um sistema com aspectos in-
dividualistas e práticas baseadas no parentesco.
quando se trata de comprar, vender, eleger ou ser Essa duplicidade ética fará com que o agente fique

2
BARROSO, Edison Vicentini. Pão da indigestão. Consultor Jurídico, www.conjur.com.br, julho, 2006.
3
idem.
4
DAMATTA, Roberto. Conta de Mentiroso. Sete ensaios de Antropologia Brasileira. Rio de Janeiro: Rocco, 1993, p. 141-2.
5
cf. p. 135.
6
cf. p. 141-2.
7
DAMATTA. Op. cit., p. 160.
8
Ibid., p. 162.
9
Ibid., p. 163.

10 Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008


preocupado e desconfie que o concurso público será feito diversidade todos os agentes de uma dada sociedade. As
com cartas marcadas e já se conheceriam de antemão variedades regionais, econômicas, sociais e culturais no
os aprovados.10 Como sugeriu DaMatta: Brasil são responsáveis, por exemplo, pela determina-
ção de elites com maior ou menor poder político ou
O “jeito” tem muito de “cantada” e de harmonização de econômico. Assim como a cotidianidade de um operário
interesses aparentemente opostos. O “você sabe com quem em Santa Catarina, se comparado com um outro no Acre,
está falando?”, por seu lado, reafirma a autoridade, será diversa. Se pensarmos no espaço geográfico, um tipo
indicando como as relações pessoais (e as práticas de trabalho como o de carvoeiro ou seringueiro, ou ainda
hierárquicas) podem, a qualquer momento, superar a a música, a dança, o predomínio de determinadas
lei. Pois como não saber com quem se fala numa religiões, os hábitos alimentares conduzem os indivíduos
sociedade de pessoas, onde todos se ligam com todos? 11 a diferentes experiências no cotidiano, embora tenham
a mesma língua e o mesmo sistema político. Há infin-
Considerar, então, essa combinação que estrutura dáveis brasilidades entre o chimarrão e o tacacá. Trata-
profundamente o Brasil como um escândalo social e se de compreender o Brasil pelas
político, significa renunciar muito cedo à empresa de
compreender sociologicamente o país, pois todo mundo instituições formais como o Estado, a constituição,
já sabe que no Brasil tudo está fora da ordem.12 o mercado, o dinheiro, quanto ao país do jeitinho, da
O interessante seria, não propor descobrir que as coi- comida, das relações étnicas, da mulher, da religião.
sas estão fora do lugar, mas compreender o lugar das coi- Dos jogos espertos e vivos da malandragem e do car-
sas. Compreender a ordem de legitimidades pelas quais a naval, onde podemos vadiar sem sermos criminosos,
sociedade brasileira articula as práticas e os valores, sem- experimentando a sublime marginalidade que tem hora
pre contraditórios, que estão em jogo. Em suma, compre- de começar e de terminar.14
ender o que o nosso investimento simbólico privilegia. 13

O segundo equívoco se refere à pressuposição de que Assim também a sociedade romana não era apenas
a massa é homogênea e passiva, desconsiderando, assim, formada por elites dependentes da posição central ou
o pluralismo cultural e as tensões sociais. Esta ho- periférica das províncias, mas até mesmo os escravos
mogeneização não corresponde à realidade contem- eram hierarquizados pelo tipo de ofício e a constituição
porânea e, nem mesmo, à romana, em relação à aris- de elites entre os pobres. Encontraremos, dessa forma,
tocracia. Considerar a formação social a partir de uma dimensão variada de organização e de poder com
binômios elite e massa, superior e inferior ou mesmo relação a cada agente ou grupo social no mundo romano.
elite e subalterno é inconsistente por três motivos: Uma proposição dominante hoje em dia é a forjada
primeiro, restringe a posição social dos agentes na por Géza Alföldy, isto é, as camadas superiores se pro-
sociedade; segundo, ignora as dimensões dos micro- tegiam por pertencerem a “uma organização cor-
poderes e; terceiro, não leva em consideração o modo porativa, de tal modo que era possível o controle da
como se organizam os agentes sociais. admissão e da qualidade de membro dessas ordens,
Esses conceitos utilizados pela historiografia para mantendo-se assim rigorosamente a hierarquia da
compreender as formações sociais não abrangem em sua organização social”.15 Por um lado, a homogeneidade da

10
cf. DAMATTA . Op. cit. p. 164.
11
DAMATA. O que é o Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 2004. p. 51.
12
cf. DAMATTA . Op. cit., p. 134
13
Um exemplo de seleção e investimento simbólico da tradição brasileira, utilizado por DaMatta, seria o fato de representarmos nossa
identidade nacional por meio de um código racial que é para o antropólogo uma autêntica invenção da fábula das três raças
(D AMATTA . Op.cit. 2004, Apud FARES, Cláudia. Alguma coisa está fora da nova ordem mundial: a construção de uma identidade. In:
MENDES, Cândido (org.). Pluralismo Cultural, Identidade e globalização. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 190). Segundo o autor,
“em sociedades hierarquizadas e pessoalizadas como o Brasil, a gradação e o clientelismo diluem o preconceito que sempre pode ser
visto como dirigido contra aquela pessoa e não contra toda uma etnia. Daí nossa crença em que não temos preconceito racial, mas
social, o que, tecnicamente, é a mesma coisa. Numa sociedade onde somente agora se admite não existir igualdade entre as pessoas,
o preconceito velado é uma forma muito mais eficiente de discriminar, desde que essas pessoas ‘saibam’ e fiquem no seu lugar”
(DAMATA, Op. cit. 2004).
14
Idem, p. 08.
15
ALFÖLDY, GÉZA. História Social de Roma. Lisboa: Presença, 1989. p. 126.

Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008 11


elite romana representaria um sistema fechado, com de Roma. Damos voz ao autor:
raríssima mobilidade social. Por outro lado, a sedi-
mentação da plebe seria uma categoria produzida a Império? E as outras cidades, porque permanecem
partir de uma diversificação de grupos, sem grande fora da História? Nada acontecia nelas enquanto Roma,
expressão social. voluntaristicamente, acumulava poder? Ora, a História de
Essa perspectiva de que a homogeneidade garantiria Roma, como cidade, só faz sentido se pensarmos que exis-
uma maior estabilidade social e, portanto, um maior tia um mundo de cidades e que sua expansão se deveu, não
conhecimento sobre a estrutura social dos agentes é um tanto a força de uma vontade peculiar, mas as fraquezas
engano. Se pensássemos nessa dimensão, como com- e necessidades estruturais desse mesmo mundo. 19
preenderíamos o universo romano e brasileiro? Como
compreenderíamos a formação das identidades regional O terceiro equívoco cometido por autores contem-
e global? Estas são, de acordo com DaMatta, categorias porâneos é reproduzir a imagem do poder político no
exclusivas e possuem dimensões sociais que remetem a império romano sob o estigma do pão e circo. Interpretar
duas humanidades distintas, “cada uma das quais tendo a prática do poder romano a partir de um grupo so-
suas vantagens e os seus inconvenientes particulares, os cialmente privilegiado que conduzia como bem queria
bens e os males que lhes são próprios”. Deve-se, então,
16
uma massa amorfa e apática que se reproduzia em seu
investigar “os pontos de encontro — ou relações — entre continum histórico, podendo, assim, ser também iden-
as representações dos fenômenos globais e a constituição tificada a sociedade brasileira, é uma postura, pelo menos
dos valores locais.17 do ponto de vista empírico, equivocada. Se analisarmos
Essa dimensão local e global, discutida por DaMatta, a visão senequiana sobre os agentes da sociedade ro-
é aplicável igualmente à História do Império Romano. mana, veremos que, mesmo aqueles que estavam em
Levando-se em consideração a constituição do Império condição subalterna e que não tinham supostamente
como um pluralismo cultural, podemos questionar qual poder se relacionavam e negociavam a seu modo com
era a plebe pensada por Sêneca, provincial ou de Roma? os de posição superior. Tinham, portanto, seus âmbitos
De acordo com o corpus documental, veremos que o e poderes.
filósofo ora se referia à cidade de Roma, ora, às provín- Assim é com a ação de indivíduos ou grupos sociais
cias.18 Julgamos este questionamento imprescindível, no Brasil, considerados marginais ou não, a exemplo do
pois tendemos a nos referir historicamente à cidade de tráfico organizado, que transformam o cotidiano das
Roma como se nos referíssemos à História Romana, isto pessoas nos centros urbanos. A ação concatenada de
é, utilizamos aspectos específicos de uma determinada presidiários com indivíduos do tráfico contra as auto-
região como se falássemos do todo. As regiões no Império ridades estatais, ocorrida em maio de 2006, em especial
abrangiam experiências em tipos e níveis diferenciados em São Paulo, demonstra, muito claramente, que o poder
como a cultura e a língua. Altera-se, então, a maneira se constitui por diferentes ramificações, que não partem
com que os agentes sociais se interagiam em cada necessariamente nem do centro, nem da periferia. Pode-
localidade. Consideramos crucial o questionamento de se dizer que o “poder é algo que se exerce, que se efetua,
Norberto Luiz Guarinello sobre os estudos da História que funciona”20. Funciona como uma máquina social

16
DAMATTA. 2001. Op. cit. p. 169, questiona a utilização do conceito de globalização levando-se em consideração a experiência
brasileira, para a partir daí, compreender a formação da identidade global e local. Damos voz ao autor: “pergunto-me se não é pre-
cisamente nessas situações de irresistível globalização que ficamos conscientes de nossa singularidade e da nossa identidade. Quer
dizer, é justamente na incômoda desorientação e impessoalidade do espaço de um aeroporto que tenho a inquietante sensação de ser
brasileiro. E de ser brasileiro carente precisamente de “gente”, de “calor humano”, “de pessoas com quem conversar” (p. 177).
17
Idem, p. 174.
18
Na tese de doutoramento trabalhamos com as seguintes obras de Sêneca: Diui Claudii Apocolocyntoses, De Prouidentia, De Constantia
Sapientis, De Ira, De Vita Beata, De Otio, De Tranquilitate Animi, De Brevitate Vitae, Consolatio ad Marciam, Consolatione ad Polybium,
Consolatione ad Helviam Matrem, Epistulae Morales e De Beneficiis. (OMENA, Luciane Munhoz de. Pequenos Poderes na Roma
Imperial: o povo miúdo sob a ótica de Sêneca/Luciane Munhoz de Omena; orientador Norberto Luiz Guarinello. São Paulo, SP:
2007. 225f).
19
GUARINELLO, Norberto Luis. Uma morfologia da História: as formas da História Antiga. Politéia, Vitória da Conquista, v. 3, n. 1,
2003. p. 53/4.
20
MACHADO, Roberto. Por uma genealogia do poder. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto
Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1986. p. XIV.

12 Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008


que não está situada em lugar privilegiado ou exclusi- Historiografia Clássica:
vo, mas se dissemina por toda a estrutura social. O poder um balanço sobre o panis et circenses
é uma prática e se estabelece por um mecanismo de
atuação em que todos os agentes sentem seus efeitos, Dada a relevância do tema para as discussões con-
suas relações, seus variados dispositivos que se articulam temporâneas e o estudo em Antigüidade Clássica,
e se exercem em níveis diferenciados da sociedade, em analisaremos as abordagens do panis et circenses.
domínios e em variadas extensões.21 Trataremos, primeiramente, das pressuposições do
Concluiremos a discussão, ressaltando dois elemen- historiador Friedländer (1947). Este, em meados de 1862,
tos: em primeiro lugar, o uso inconsistente do conceito escreveu uma obra de grande fôlego — La sociedad
panis et circenses no mundo contemporâneo por retratar roman. Historia de las costumbres en Roma, desde
a sociedade, tanto brasileira quanto romana, pela passi- Augusto basta los Antoninos — sobre o Império Romano,
vidade. Interpretá-las pelo viés da harmonia é descon- enfocando diversos aspectos da vida econômica, social,
siderar o caráter conflitivo e a formação multicultural política e cultural da sociedade romana.
da dinâmica social. Não pretendemos, com isso, de- Friedländer interpretou a sociedade enfocando três
senvolver comparações entre as sociedades brasileira e elementos estruturais: a corte, as três classes e o terceiro
romana, embora seja possível. Como sugeriu J. A. Tra- estado. A primeira composta pelos amigos do princeps,
bulsi Dabdab podemos realizar uma homologia, um os funcionários e os servidores, ocupou, de forma grada-
parentesco “entre duas épocas que não têm relação de tiva, um espaço relevante em quase todo o primeiro sé-
influência uma sobre a outra, que não têm sucessão culo. O princeps utilizava libertos e escravos em serviços
cronológica, nem sucessão lógica e direta e nem mesmo pessoais ou funções administrativas em seus negócios
indireta”.22 ou instituições, não havendo uma distinção muito clara
Em segundo lugar, enfatizamos a utilização equivo- entre administração imperial e casa imperial.
cada do chavão pão e circo, para compreender sociolo- Para ele, a existência de indivíduos de extratos su-
gicamente os estados de corrupção no poder político e balternos na casa e na administração imperial ocorria
de agentes privados. As trocas de favores, manipulação pelo fato de o princeps resistir à aristocracia, demons-
de resultados em campeonatos de futebol, nepotismo, trando sua capacidade por caprichosa que fosse, de
quebra de decoro parlamentar, clientelismo que enca- converter homens humildes em homens poderosos.23 O
minham o estado brasileiro à falência, situação que se autor pressupõe que o acesso ao poder de libertos ou
reflete na educação, saúde, falta de moradia, trabalho e escravos dependia de suas relações pessoais com o
é intensificada com a má distribuição de renda. imperator e não da capacidade destes articularem e
Terminada essa seção, discutiremos a visão histo- negociarem sua posição na estrutura social (cf. p. 45).24
riográfica contemporânea clássica sobre os setores Assim como nas três classes, senadores e cavaleiros
subalternos da sociedade romana imperial. Dividiremos que possuíam status social elevado na sociedade romana
a argumentação da seguinte maneira: em primeiro deveriam possuir riquezas e boas relações para al-
lugar, examinaremos de forma minuciosa como a histo- cançarem postos superiores e ostentarem a dignidade no
riografia tradicional aplicou o conceito de pão e circo Estado. Os libertos marcavam sua ostentação pelo
aos setores populares, delegando-os um papel secundário adorno nas ruas de Roma e em outras cidades e pela
na História Romana; em segundo, analisaremos a opção construção de suntuosos edifícios. De acordo com
de interpretar a sociedade pelas relações interpessoais, Friedländer, “descobriram-se, em distintos lugares,
enfocando seus avanços e limitações. inscrições com nomes de libertos imperiais como cons-

21
cf. F OUCAULT , 1986.
22
DABDAB TRABULSI, J. A. Ensaio sobre a mobilização política na Grécia antiga. Belo Horizonte: UFMG, 2001. p. 77.
23
FRIEDLAENDER, L. La sociedad romana. Historia de las costumbres en Roma, desde Augusto basta los Antoninos. México: Fundo de
Cultura econômica, 1947. p. 38.
24
Friedländer influenciou análises contemporâneas como as de Wallace-Hadrill, Richard Saller, Peter Garnsey e Duncan Cloud que
privilegiam as relações pessoais com o imperador, cuja função estaria na obtenção de privilégios, benefícios e poder. Duncan Cloud
(1990) afirma existir “evidências suficientes para mostrar que Roma não era diferente de muitas outras sociedades ao excluir os
que eram muito pobres das relações cliente-patrono; ainda que a relação fosse assimétrica, o cliente tinha que estar apto a contribuir
com algo e, sob o Império, os cidadãos muito pobres não tinham nem o voto a oferecer” (p. 210).

Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008 13


trutores de templos, termas e outros grandes edifícios”.25 suas análises históricas, valores morais incutidos em
Ainda que pudessem ostentar sua uirtus que consistia conceitos como “gentalha”, adjetivados por “massa
na riqueza e no poder, os libertos viviam sob o estigma brutal”, “corrompida” e “desocupada”. Como propôs
da escravidão; eram expostos a diferenciações entre Garraffoni, o historiador imprimiu tais valores à socie-
ingenui e libertos, por direito ou amizade.26 dade romana, em especial, vendo os setores populares
Ainda segundo Friedländer, a condição dos proletários dentro de um contexto capitalista que valorizava o
era ainda mais desoladora, pertenciam ao terceiro estado trabalho e via o otium como uma ameaça à ordem es-
e exerciam ofícios de comerciantes, barbeiros, professo- tabelecida.
res, artesãos entre outros, vivendo em torno do pão e do
circo, que ocorria mediante uma emigração incessante A própria maneira como o pesquisador alemão
atraída das províncias à capital pelos benefícios concedi- compara os marginalizados romanos com os modernos
dos.27 Para Friedländer, os benefícios eram oferecidos aos e considera os primeiros mais perigosos por consti-
indivíduos masculinos e cidadãos por viverem em estado tuírem uma maior quantidade de pessoas ociosas.
de pobreza e miséria, embora as distribuições públicas Assim, embora empregue a mesma palavra latina, seu
de trigo fizessem parte de um sustento elementar. significado é outro, uma vez que indica mais uma
A distribuição ocorria juntamente com os espetáculos preocupação moderna com o desemprego e as revol-
e os jogos gladiatoriais que eram, segundo a concepção tas que acometiam as cidades deste momento que o
de Friedländer, inicialmente, religiosos na República, conceito em si.30
enquanto, no Império, passam a ter uma conotação
política. Os espetáculos serviam, essencialmente, para Essas considerações sobre a despolitização, ociosidade
ganhar o favor do público e aplacar a sede de violência, e violência da plebe foram reproduzidas pela histo-
predominante da multitudo.28 Prevaleciam, segundo riografia do século XX.31
Friedländer, na população da cidade de Roma: A obra Roma no apogeu do Império, escrita por
Carcopino, contém reflexões sobre a vida na urbs, seu
massas despossuídas, uma gentalha brutal, gros- esplendor expresso em edifícios públicos e casas aris-
seira e corrompida, se comparada às capitais modernas, tocráticas, as ruas expondo suas misérias, a atuação da
pois em nenhuma parte, nem em nenhuma época do mulher frente à sociedade, ofícios, educação, espetáculos
mundo, chegou a concentrar a luz de todas as nações gladiatoriais entre outros aspectos. Carcopino apresen-
como na Roma de então, uma vez que era, duplamente tou, no entanto, a dinâmica social baseada em uma po-
perigoso, pois estava formada, em grande medida, por sição binária: elite e plebe. Para ele, a elite representava
pessoas ociosas. O governo cuidava de seu sustento sabedoria, riqueza e poder, simbolizados pelas grandes
mediante as grandes distribuições periódicas de trigo construções públicas e pela domus. A plebe, pelo con-
e, como conseqüência, via-se obrigado a cuidar de seu trário, empobrecida, desocupada e propensa a revolta era
tempo livre, oferecendo distrações para entreter a sua apaziguada pelos césares romanos que não a deixavam
ociosidade. 29 sentir fome e tédio. Os espetáculos tornavam-se diversões
para a ociosidade dos súditos e um instrumento seguro
Como podemos observar, Friedländer expressa, em de seu absolutismo.32 De acordo com suas palavras:

25
FRIEDLAENDER, L. Op. cit. p. 51.
26
cf. p. 108.
27
cf. p. 164.
28
cf. p. 497-8. Garraffoni (2005) em um estudo atual sobre os gladiadores na Roma Antiga faz críticas à construção da violência nos
jogos na arena. Utilizando fontes literárias e arqueológicas a autora afirma que a violência foi enfatizada em fontes literárias como
Sêneca e Tácito. De acordo com suas palavras, Tácito acentua: “tanto na maneira como organiza seu discurso, escolhendo termos
que intensificam e dramatizam as mortes, assim como nas atitudes dos que participaram da rixa, pois estes carregavam pedras e
espadas, postura que muitos estudiosos afirmam não ser comum entre os espectadores. Se por um lado há uma ênfase na violência,
por outro, a punição também aparece com força em seu relato (p. 138).
29
FRIEDLÄNDER. Op.cit., p. 498.
30
GARRAFFONI, 2005. Op. cit. p. 72.
31
Temos inúmeros exemplos: J. Carcopino (1942), Gagé (1964), Rostovtzeff (1967), Veyne (1976), Alföldy (1989), Grimal (1995)
entre outros.
32
CARCOPINO, J. Roma no apogeu do império. Prefácio de Raymond Bloch e tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das
Letras, 1990. p. 329.

14 Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008


“150.000 proletários alimentados pela Anona às caracterizados e diferenciados pelas seguintes oposições:
expensas do Estado: desocupados e eternamente sem “povo” e rico, coletivo e particular, cotidiano e ocasional,
trabalho, satisfeitos com esta situação, reduziam seus cidade e campo e, por último, homens e mulheres. 36

esforços em perceber, um dia de cada mês, os víveres Esta proposta é inicialmente interessante e instigadora.
que gozariam até a morte”.33 No entanto, o caminho trilhado pelo autor o leva a
reproduzir alguns conceitos da bibliografia mais antiga.
Percebemos nos traços desenhados por Carcopino o Vejamos:
cotidiano de uma plebe excêntrica e sem atividade, 1. O texto revela apreciações morais identificadas por
vivendo das diversões sangrentas oferecidas nos palavras pejorativas como “povinho” ou inter-pretações
combates gladiatoriais. Como sustentou Garraffoni, a que marginalizam os setores “ditos populares”,
inovação de Carcopino, em relação aos seus colegas considerando-os devassos, ociosos, preguiçosos e por
precedentes, “está no argumento que segue o desen- preferirem os jogos suntuosos a trabalhar.37 Bairros como
volvimento de seu texto, isto é, este quadro caótico e a Suburra são descritos como locais onde perambulam,
sanguinolento só viria a melhorar no final do Império por toda a parte, “marginais, escravos em fuga, mal-
com a chegada do cristianismo, religião que salvaria o feitores de todos os tipos coabitavam com pequenos
povo desta vida profana, nefasta e violenta”. 34
comerciantes na miséria, sapateiros, ferreiros, tecelões e
Na década de 80, Jean-Noël Robert publica Les cabeleireiros”.38 Nestes bairros povoam, dessa forma, por
plaisirs à Rome, enfocando, assim como os autores uma infinidade de “prazeres suspeitos, superpopulação,
anteriores, a política do pão e circo como instrumento miséria, violência, ruelas da Roma dos pobres são palcos
de dominação dos aristocratas. Em um trecho, o autor de uma luta incessante contra a morte, opressão e
comenta que doença”.39
Segundo a leitura de Robert, a cidade de Roma, no
os jogos e as redistribuições frumentárias são dois período imperial, tornara-se “parasitária, livre para se
alicerces da política imperial. Diverte-se a multidão que entregar aos prazeres mais voluptuosos”40, diferen-
exige o sensacional. Paradas, encenações de grandes temente da Roma Arcaica que se fundamentava na
espetáculos, a morte de homens ou de animais são os pobreza e na virtude. O historiador apresenta uma
lotes cotidianos de um público que pede para ser perspectiva tradicional em que o campo é o espaço de
enfeitiçado. Os próprios monumentos das cidades, sabedoria e a urbs é o campo de luxúria e devassidão.
termas, teatros, anfiteatros, circos contribuem para o Apresenta-nos quase uma visão apocalíptica, em que o
que Sêneca chama ‘servidão ociosa das cidades’. 35
cristianismo aparece como doutrina para moralizar
aquela sociedade decadente.41
Essa pressuposição de que a multitudo exigia e 2. A segunda linha interpretativa do autor se baseia
necessitava ser “enfeitiçada” nos grandes espetáculos na simples oposição entre rico e pobre, perdendo-se,
estaria presente, segundo o autor, em fontes literárias dessa forma, o caráter heterogêneo da sociedade romana
como as de Sêneca, Juvenal, Horácio, Cícero, entre e como afirmamos anteriormente, a capacidade de
outros e nas fontes arqueológicas como as pinturas compreensão dos micropoderes e a maneira com que os
parietais de Pompéia. Em termos gerais, Robert analisa grupos ou indivíduos se organizam e se estruturam nas
os prazeres cotidianos da sociedade romana que são esferas sociopolíticas.42

33
Idem, p. 270.
34
GARRAFFONI, R. S. Op. cit., p. 73.
35
ROBERT, Jean-Noël. Os prazeres em Roma. Tradução de Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 38.
36
cf. p. 15.
37
ROBERT, Op. cit., p. 40.
38
Ibid, p. 47.
39
Ibidem.
40
Ibid. p. 38.
41
Ibid., p. 41.
42
Tanto Grimal quanto Carcopino e Robert apresentam sob o rótulo de povo todos os segmentos populares como bandidos, gladiadores,
escravos, libertos, pobres. Os competidores dos jogos gladiatoriais eram bandidos e escravos, que divertiam o povo ocioso e predisposto
aos espetáculos sangrentos. Os espetáculos que exigiam mais inteligência eram menos apreciados, preferiam espetáculos sangrentos
à incumbência de pensar com as peças teatrais (GRIMAL. A civilização romana. Lisboa: Edições 70, 2001, p. 216). Autores como DU-

Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008 15


Como podemos perceber, a historiografia contem- teria criado
porânea, fundamentada nas abordagens do século XIX,
posiciona os setores não aristocráticos da sociedade à uma série de papéis mais ou menos invejáveis e a
obscuridade, a meros espectadores da História. São mais sorte individual designou o homem destinado a assumir
sensíveis ao regulamento do que às regularidades. Um cada um deles; nada se podia fazer nem contra esta nem
outro exemplo disso são abordagens como as de Paul contra aquela. Assim, cada qual se aceitava e admitia
Veyne na qual propõe que cada classe social teria sua candidamente a sua condição, para depois se gabar do
própria subjetivação, embora o orgulho continue sendo modo como representara o seu papel. 47
privilégio das classes aristocráticas. Esta manteria seu
43

orgulho e honradez, obedecendo apenas seu semelhante, A conseqüência política dessa postura gerou o
e à plebe restaria a obediência. De acordo com suas conceito de despolitização. Bastaria à plebe ter “a
palavras: “Um plebeu se sentiria ultrajado por ver um satisfação de saber que o rei os ama eternamente, que o
dos seus semelhantes na miséria e pretender dar-lhes seu chefe é genial ou que o povo é soberano. Pouco
ordens, aceitará de bom grado obedecer a um mestre importa que a bondade de um rei não se traduza em
cuja superioridade, provada através de sinais exteriores, nada, nem sequer em uma redução de impostos”. 48
é flagrante”.44 Segundo a concepção de Veyne (1976), a plebe romana
Trata-se da subjetivação da obediência. Vistos como simplesmente não se interessava por política. O circo era
humildes, absorvem a subjetividade dos notáveis, dos a única paixão que seduzia o povo, falava-se pouco de
ditos superiores por serem incapazes de absorverem seus política e muito sobre a continuidade ou não dos
valores. Na sua humildade, um plebeu prestaria a espetáculos.49 Citemos in extenso:
obediência a um senhor, como único recurso, “cujos
valores se revelem superiores àqueles de que a plebe a juventude e o bom povo dividiam-se em facções
dispõe; não é humilhante submeter-se a um homem que rivais que apoiavam determinado ator, uma equipe de
não pertence ao vulgo. O humilde orgulho do plebeu cocheiros, tal categoria de gladiadores, e seu zelo ia
exige a desigualdade, a dissimetria”45. desde graves perturbações públicas, sem nenhum fundo
Manteriam-se nessa subordinação, em especial, por político-social e nenhuma distinção de classe. 50
sua condição natural. De acordo com Veyne, “a existência
dos primeiros [notáveis] era tão natural como a dos A multitudo estaria destinada a obedecer e receber
segundos e, digamos, permutáveis; reciprocamente, eles benefícios de notáveis e do imperator, não por exigirem
aprovavam o saber estar no seu lugar e se alguém faltasse seus direitos e sim por corresponder em uma troca: suas
às suas obrigações seria desprezado”46. Esta formulação riquezas por prestígio ou autoridade.51 Essa prática faria
sobre a condição natural tem por contributo a constru- a sociedade funcionar como uma estrutura, assegurando
ção de uma sociedade sem conflitos. Eram, na concepção sua coesão e determinando a ruptura de uma ordem
de Veyne, situações impensáveis, pois a natureza social natural52. Na obra Como se escreve a História (1983),

PONT (DUPONT, Florence. L’acteur-roi: le theater dans la Rome antique. Paris: Les Belles Lettres, 2003), discordam desse tipo de aná-
lise de que o romano não apreciava o teatro. Citemos in extenso: “O público romano não é inculto e grosseiro sob o pretexto de que não
se interessa por literatura, sua cultura é diferente daquela dos espectadores atenienses dos séculos V e IV. Esta diferença se resume
em uma fórmula: Atenas era a cultura da palavra e do julgamento, Roma a cultura da música e da percepção imediata” (p. 114).
43
VEYNE. Indivíduo e poder. Lisboa: Ed. 70, 1987. p. 13.
44
Ibid., p. 14.
45
Ibid., p. 14.
46
Ibid., p. 40.
47
Ibid., p. 41.
48
Ibid., p. 18.
49
VEYNE, P. Le pain et le cirque: sociologie historique d’um pluralisme politique. Paris: Seuil, 1976. p. 86.
50
VEYNE. O Império Romano. In: DUBY, G. & ARIÈS, P. História da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 195.
51
Esta interpretação recebeu várias críticas, tais como, considerar como políticas somente as doações obrigatórias, seria uma concepção
estritamente institucional. A função pública momentânea de um indivíduo não seria suficiente para definir a natureza das
doações; não se podia afirmar que a ambição político-social estava ausente nos atos do oferecimento. Uma grande doação podia
auxiliar uma carreira política de modo marcante (JACQUES, F. & SCHEID, J. Roma e il suo Impero: istituzioni, economia, religione.
Roma: Laterza, 1992); além de que as representações cênicas se prestavam a reivindicações de caráter coletivo (DUPONT, Florence.
L’acteur-roi: le theater dans la Rome antique. Paris: Les Belles Lettres, 2003).
52
cf. VEYNE, Op. cit., 1976.

16 Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008


Veyne deixa claro que na sociedade romana, as doações hierárquico que se capacitasse para a apropriação
tinham um lugar de destaque, apesar das motivações crescente de recursos escassos, contando com as
diversas: arrivismo, paternalismo, generosidade ou riva- vantagens redistribuitivas no interior do seu grupo, do
lidade. Os pagãos declaravam agir assim por genero- que intentar a construção de ações que levassem a
sidade de espírito cívico em relação à cidade. reformas distributivas no interior do seu grupo, do que
A doação seria explicada pelo conceito de evergetismo. intentar a construção de ações que levassem a reformas
Na obra Le pain et le cirque, Veyne (1976) afirma que o sociais que favorecessem sua condição classista ou
evergeta era o gesto de alguém que ajudava a sua estamental.55
coletividade, um mecenato da vida pública. Se as doações
não eram destinadas à cidade, não havia evergetismo. Essa situação não eliminaria a contestação à ordem
Em outras palavras, o evergetismo seria um ato de social, pois os agentes dos setores subalternos conti-
uma minoria que realizava ofertas para se afirmar como nuariam exigindo seus benefícios. Haveria, sim, uma
superior diante do conjunto da sociedade. Os doadores diminuição das contestações. De acordo com o autor,
eram notáveis, chefes naturais da população. As doações “fazem-no de forma individual, por excelência, pressio-
não seriam uma causa do poder político dos notáveis, nando por concessões. Isso, por efeito de composição,
nem uma conseqüência direta deste poder, pois o sistema acaba por gerar uma pressão social que embora dispersa
político não exigia o ato ou a doação. A distância social, e não-orgânica, é relevante”.56
outra invariante, era o que obrigava a se expressar atra- Essa base teórica fundamentada no individualismo
vés das doações53. Veyne, portanto, classificava a socie- metodológico aproxima autores como Faversani, Walla-
dade romana por doações sem interesses, à condição ce-Hadrill e Saller57. O ponto de afastamento estaria,
social de pertencer ou não a elite seria um elemento segundo o próprio Faversani, na proximidade destes
natural, por isso, o uulgus saberia posicionar-se em seu autores com a teoria prática de Pierre Bourdieu. Para
devido lugar, restava-lhes obedecer e viver a ilusão do este sociólogo, os agentes sociais estariam dispostos dentro
pão e circo. de um habitus que é um conjunto de disposições ao qual
Ora, é possível ir além dessa exclusão e até mesmo cada indivíduo adere e incorpora. Cada sociedade possuía
negá-la, se olharmos as fontes do período imperial sem uma série de habitus que são frutos das estruturas sociais
os pressupostos dessa historiografia. É, assim, que alguns e é, nesta, que se dá à ação social. Bourdieu afirma que
representantes da historiografia brasileira como Funari 54
“as condições para o cálculo racional praticamente nunca
discordam destes pressupostos e trazem à luz novas são dadas na prática: o tempo é contado, a informação é
interpretações sobre a sociedade romana. limitada”.58 Para ele,
Faversani faz uma reconstrução dos setores subal-
ternos pela criação de laços de solidariedade orientados Os dominantes só aparecem como distintos porque
tendo de alguma forma nascido numa posição social-
por interesse individual e imediato. A ordenação social
se daria pelas solidariedades verticais estabelecidas com mente distinta, seu habitus, a natureza socialmente

os superiores hierárquicos da sociedade. De acordo com constituída, ajusta-se de imediato às exigências ima-
nentes do jogo, e que eles podem assim afirmar sua
sua reflexão é mais razoável aos agentes subalternos
diferença sem necessidade de querer fazê-lo, ou seja,
investirem no fortalecimento de um superior com a naturalidade que é marca da chamada ‘distinção

53
cf. Idem; VEYNE. Sobre el individuo. Barcelona: Paidos, 1990.
54
FUNARI. Política e Riso em Pompéia: ensaio sobre a crítica social popular. In: FUNARI, P. P. A.; BENOIT, H. Ética e política no mundo
antigo. São Paulo: Unicamp, 2001. p. 117/132; JOLY, F. D. A escravidão na Roma Antiga. Política, economia e cultura. São Paulo:
Alameda, 2005; GUARINELLO, Norberto Luis; JOLY, Fábio Duarte. Ética e ambigüidade no principado romano. In: BENOIT,
Héctor; FUNARI, Pedro Paulo A. Ética e política no mundo antigo. Campinas: Unicamp, 2001. p. 133/152; FAVERSANI, Fábio.
Cultura popular e classicismo. LPH: Revista de Historia, Mariana, v. 4, 1994. p. 14-25; ______. A sociedade em Sêneca. São Paulo:
USP/FFLCH, 2000.
55
FAVERSANI, Fábio, 1994. Op. cit. p. 89.
56
Idem, p. 44.
57
A teoria do individualismo metodológico inspira vários teóricos, tais como: Pierre Bourdieu (teoria da prática), Erving Goffman (no
campo do sociointeracionismo), Raymond Boudon (teoria da metodologia da ação) e Jon Elster (no campo do marxismo analítico).
Citemos algumas obras: GOFFMAM, E. La presentación de la pesona em la vita quotidiana. Buenos Aires: Amorrortu, 1971; BOUDON,
Raymond (Org.). Tratado de Sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
58
BOURDIEU, Pierre. Esboço de uma teoria da prática. In: ORTIZ, Renato. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983. p. 76.

Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008 17


natural’: basta-lhes ser o que são para ser o que é preciso aferida com a produção realizada por esses”.62 São si-
ser, i.e., naturalmente distintos daqueles que não podem tuações sociais distintas, embora inter-relacionadas.
fazer economia da busca de distinção.59 3. Relações sociais interpessoais (sociedade civil) que
seriam relações não econômicas e não institucionais que
De acordo com Faversani, o interacionismo de Bour- servem como meio de otimização de benefícios. “O lugar
dieu assume um conjunto de práticas e crenças realizadas de intermediação desse nível é por excelência e em última
de forma irrefletida e sem qualquer pretensão estratégica. instância a sociedade civil. São exemplos desse tipo de
Tal opção metodológica é “claramente elitista do ponto interação social: as relações de patronato, proteção e
de vista político e equivocado empiricamente, ao menos amizade”.63
no que se refere à nossa fonte. Sêneca mostra claramente Com base nesses três tipos de interações, Faversani
que uma posição social elevada é produto de hercúleo constrói a sociedade em Sêneca contendo posições na
sacrifício e um sem número de temores quanto a sua estrutura econômica e social, i.e., a hierarquização
manutenção”.60 geraria posições determinadas; conteria, igualmente,
Sua proposta seria, então, a ordenação social a partir benefícios institucionais, ordem e posições sociais. A
de três níveis de interação, que se dariam a partir das: condição social de classe e a condição social estamental
1. Relações sociais Institucionais (superestrutura) que não produziriam em si uma posição social do agente. A
seriam as “relações sociais reguladas por formulações alternativa seria levar em conta que “a posição social de
socialmente reconhecidas, [correspondentes] a um nível cada indivíduo só é construída a partir da interação entre
das relações sociais em que a igualdade e a desigualdade os agentes. A posição social é uma situação do agente
entre os agentes [eram] preestabelecidas e normalizadas no meio social. Ela não existe em si”.64 Dessa forma,
por concessão de direitos e atribuição de deveres insti- Sêneca não se preocuparia em apresentar grupos sociais
tucionais”. Em outras palavras, seriam as chamadas
61
que compunham a sociedade. A divisão social se daria
relações senhor-escravo e cidadão-não cidadão. por três binômios: liberdade/escravo, riqueza/pobreza e
2. Relações sociais de produção (estruturais) que prestígio/iniqüidade.65
seriam relações que geram bens ou meios para a sua Como podemos observar, Faversani avança nos es-
produção. Um exemplo seria a posição de um “grande tudos sobre as relações sociais na sociedade romana
proprietário de terras, com capacidade de investimento, imperial por discordar da pressuposição de que a plebe
tendo muitos trabalhando para si e vivendo da renda seria uma multitudo ociosa, despolitizada e violenta66; e

59
BOURDIEU. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 23/4.
60
FAVERSANI. Op. cit., p. 49.
61
Ibid., p. 70.
62
Ibid., p. 70/1.
63
Ibid., p. 71.
64
Ibid., p. 74.
65
cf. p. 103. Além das discussões sobre as inter-relações na sociedade romana, temos autores como Pedro Funari discutindo temáticas
que enfocam a cultura popular a partir de grafites de Pompéia. Como sugeriu Funari (1989), “a cultura popular não deixa de ser
caracterizada pelas contradições originadas no seio das camadas subalternas. Suas cosmovisões refletem, a um só tempo, a aceitação
e a recusa das condições de exploração material e espiritual no interior da sociedade (...) Aquilo que o povo não frui não é aceito ou
imitado” (p. 15).
Essas camadas populares da sociedade romana estavam presentes nas tabernas, nos anfiteatros, teatros e templos; assistindo peças
de tragédia, recitais e musicais poéticos, comédias, jogos gladiatoriais; participando e exprimindo opiniões tais como: “Marítimo
pratica a cunilíngua por quatro asses, mas só aceita virgens: batamos, então, em outra porta” (CIL IV, 7384 Apud F UNARI, 1989. Op.
cit., p. 18). Este riso implícito sugere como as “relações humorísticas podem ser encaradas como produtos de reações de poder e de
sua contestação, atuando como verdadeira chave para abrir os significados guardados pelos grupos sociais” (FUNARI, 2001, Op.
cit., p. 131).
Essa categoria popular foi criticada por Faversani (1994), em uma resenha sobre o livro Cultura Popular na Antigüidade Clássica,
pelo fato de o conceito classe ou popular não “agregar todos os agentes subalternos passíveis de serem vistos como pertencentes à
classe popular em uma única classe, conceitualmente falando” (p. 33). Funari (1989), diferentemente do que interpreta Faversani,
utiliza o conceito de classe como uma ferramenta analítica, mas não cai nos subterfúgios das generalizações. A classe não é abstrata
e sim representada por categorias sociais como as de: agricultores, artesãos, comerciários, criadores, domésticos, escravos e feirantes.
Entre cada uma das categorias o autor constata subdivisões como artesão de couro, esteira, marfim, criadores de bestas de carga,
escravos de aves e assim por diante (p. 29). Esse posicionamento deve-se ao fato de Faversani (2000) caracterizar a sociedade ro-
mana pelos laços de solidariedades, desenvolvida de forma detalhada, tempos depois, em sua tese de doutoramento.
66
(cf. F RIEDLÄNDER , 1947. Op. cit.; C ARCOPINO . Op. cit.; GAGÉ, J. Les milieux populares: des plèbes indigènes aux affranchis. In: Les
classes sociales dans l’empire romain. Paris: Payot, 1964. p. 123/154 ; ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Tradução de Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1967; V EYNE , 1976. Op. cit.; ALFÖLDY, GÉZA. Op. cit..; ROBERT, 1995. Op. cit.; GRIMAL , 1995. Op. cit.)

18 Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008


progride nas análises sobre as relações interpessoais, Podemos afirmar que só temos acesso à realidade de
enfatizando a importância dos setores subalternos, forma indireta. “Ela é sempre alguma coisa — uma ima-
contrariamente aos autores como Saller ou Wallace- gem, uma representação, um pensamento — que cons-
Hadrill, que privilegiam apenas as relações pessoais mais truímos com base em nossas representações e experiên-
próximas do centro de poder. Quer dizer, os indivíduos cias”. 68 Isto não significa que a realidade não seja
próximos do soberano conseguiriam obter vantagens acessível diretamente, mas podemos supor que tudo o
sociais e econômicas, enquanto, setores subalternos que possuímos são nossas impressões sensoriais, isto é,
estariam afastados por não poderem contribuir, levando- respostas às questões que colocamos. A realidade vem
se em consideração a inacessibilidade de recursos. depois e depende da informação recebida.69
Embora Faversani tenha obtido um grande êxito nas Supomos, nesse sentido, que a dinâmica social era
análises interpessoais da sociedade romana, utilizando muito mais conflitiva do que pretendia a historiografia
como fonte documental obras de Sêneca, deixa de tradicional, o exercício de poder caracterizava-se não
enfatizar dois elementos essenciais retratados nelas: somente por revoltas explícitas, mas em ações que um
1. De acordo com Faversani, Sêneca não se preocu- agente podia realizar com um superior. Devemos, então,
paria em apresentar os grupos sociais que compunham atentar ao modo como são criadas e como afetam nossas
a sociedade , pelo contrário, o estatuto jurídico era
67
visões da História. Aos olhos de Guarinello, compreender
relevante na visão senequiana. Se assim não fosse, por os limites das reconstruções ou interpretações é uma
qual razão encontraríamos diferenciações entre cate- forma de possibilitar a produção histórica, por meio de
gorias sociais como plebs, libertos, escravos, senadores e visões alternativas que criam e escrevem outros passados.
cavaleiros?
2. Além de enfatizar as relações pessoais que co- Referências
mandam a rede de favores e as redistribuições, é ne-
cessário compreender, igualmente, os processos de ALFÖLDY, GÉZA. História Social de Roma. Lisboa: Presença,
constituição dos “setores subalternos” que se articulavam 1989.
e se exerciam na esfera pública e privada. A primeira
desencadeava movimentos de cunho coletivo, uma BARROSO, Edison Vicentini. Pão da indigestão. Consultor
identidade de grupo, reagindo contra ou a favor das Jurídico, www.conjur.com.br, julho, 2006.
autoridades. Na esfera privada detectamos, de forma
contrária, o privilégio das relações interpessoais entre BOURDIEU, Pierre. Esboço de uma teoria da prática. In:
agentes sociais de posição inferior e superior. ORTIZ, Renato. Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983.
Além desses dois aspectos, a interpretação de Fa-
versani parece ainda uma estrutura analítica meca- ______. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990.
nizada. Esta visão mecanicista de que os indivíduos
agiriam por cálculos racionais, propiciando, assim, ações BOUDON, Raymond (Org.). Tratado de Sociologia. Rio de
concatenadas na vida cotidiana não pode, de forma Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
alguma, ser generalizante. Assim como a proposta de
Bourdieu em eliminar, por completo, os cálculos racio- CARCOPINO, J. Roma no apogeu do império. Prefácio de
nais na prática social é uma falácia. Sabemos que os Raymond Bloch e tradução de Hildegard Feist. São Paulo:
comportamentos de agentes são variáveis, dependem da Companhia das Letras, 1990.
situação em que se encontram, podendo ou não agir
racionalmente (e.g. por escolhas), dos códigos e símbolos CLOUD, Duncan. The client-patron relationship: emblem and
socioculturais, das identidades produzidas historica- reality in Juvenal1s first book. In: WALLACE-HADRIL,
mente e do grau de incerteza entre informação e rea- Andrew. Patronage in Ancient Society. London: Routledge,
lidade. 1990. p. 205-218.

67
cf. p. 103.
68
ZEILINGER, 2005, p. 249.
69
Ibid., p. 252/3.

Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008 19


DABDAB TRABULSI, J. A. Ensaio sobre a mobilização GUARINELLO, Norberto Luis. Uma morfologia da História:
política na Grécia antiga. Belo Horizonte: UFMG, 2001. as formas da História Antiga. Politéia, Vitória da Conquista,
v. 3, nº 1, 2003. p. 41-62.
DAMATTA, Roberto. Conta de Mentiroso. Sete ensaios de
Antropologia Brasileira. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. GUARINELLO, Norberto Luis; JOLY, Fábio Duarte. Ética e
ambigüidade no principado romano. In: BENOIT, Héctor;
______. Globalização e identidade nacional: considerações FUNARI, Pedro Paulo A. Ética e política no mundo antigo.
a partir da experiência brasileira. In: MENDES, Cândido Campinas: Unicamp, 2001. p. 133/152.
(org.). Pluralismo Cultural, Identidade e globalização. Rio
de Janeiro: Record, 2001. p. 168/199. GRIMAL, P. A vida em Roma na Antigüidade. Mira-Sintra:
Europa-America, 1995.
______. O que é o Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 2004. _______. A civilização romana. Lisboa: Edições 70, 2001.
GOFFMAM, E. La presentación de la pesona em la vita
DUPONT, Florence. L’acteur-roi: le theater dans la Rome quotidiana. Buenos Aires: Amorrortu, 1971.
antique. Paris: Les Belles Lettres, 2003.
JACQUES, F. & SCHEID, J. Roma e il suo Impero: istituzioni,
FARES, Cláudia. Alguma coisa está fora da nova ordem economia, religione. Roma: Laterza, 1992.
mundial: a construção de uma identidade. In: MENDES,
Cândido (org.). Pluralismo Cultural, Identidade e JOLY, F. D. A escravidão na Roma Antiga. Política, econo-
globalização. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 182/1999. mia e cultura. São Paulo: Alameda, 2005.

FAVERSANI, Fábio. Cultura popular e classicismo. LPH: MACHADO, Roberto. Por uma genealogia do poder. In:
Revista de Historia, Mariana, v. 4, 1994. p. 14-25. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e
tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1986,
______. A sociedade em Sêneca. São Paulo: USP/FFLCH, p. VII/XXIII.
2000.
MAROLDI, Marcelo. Mentiras diplomáticas: a Copa do Mundo
FRIEDLAENDER, L. La sociedad romana. Historia de las é nossa. Digestivo Cultural, www.digestivocultural.com,
costumbres en Roma, desde Augusto basta los Antoninos. julho, 2006.
México: Fundo de Cultura econômica, 1947.
MATOS, Gregório. O que falta nesta cidade. In: Satírica (vol. IV).
FOUCAULT, Michel. A microfísica do poder. Organização e Rio de Janeiro: Oficina Industrial Graphica, 1930. p. 261.
tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
OMENA, Luciane Munhoz de. Pequenos Poderes na Roma
FUNARI, Pedro Paulo de Abreu. Cultura popular en la Imperial: o povo miúdo sob a ótica de Sêneca. 2007. 225f.
Antigüedad Clásica. Madrid: Sol, 1989. (Mestrado em História – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências) Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
______. Política e Riso em Pompéia: ensaio sobre a crítica so-
cial popular. In: FUNARI, P. P. A.; BENOIT, H. Ética e política ROBERT, Jean-Noël. Os prazeres em Roma. Tradução de
no mundo antigo. São Paulo: Unicamp, 2001. p. 117/132. Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

GAGÉ, J.. Les milieux populares: des plèbes indigènes aux ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Tradução de Waltensir
affranchis. In: Les classes sociales dans l’empire romain. Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.
Paris: Payot, 1964. p. 123/154.
SALLER , Richard. Patronage and friendship in early imperial
GARRAFFONI, R. S. Gladiadores na Roma Antiga: dos Rome: drawing the distinction. In: WALLACE-HADRILL, A.
combates às paixões cotidianas. São Paulo: Annablume, Patronage in ancient society. London and New York:
2005. Routledge, 1990. p. 49/62.

20 Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008


VEYNE, P. Le pain et le cirque: sociologie historique d’um
pluralisme politique. Paris: Seuil, 1976.

______. Indivíduo e poder. Lisboa: Ed. 70, 1987.

_______. O império Romano. In: DUBY, G. & ARIÈS, P.


História da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras,
1989, p. 19/223.

______. Sobre el individuo. Barcelona: Paidos, 1990.

______. La vita privata nell’impero romano. Roma: Laterza,


1992.

______. Sociedade romana. Lisboa: Ed. 70, 1993.

ZEILINGER, Anton. A face oculta da natureza. O novo


mundo da física quântica. São Paulo: Globo, 2005.

Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 38 — ano 21 — p. 9-21 — 1º sem. 2008 21

Você também pode gostar