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UNIDADE - 1

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃO, HISTÓRIA E SOCIEDADE

1 Educação, história e sociedade


Quando realizamos qualquer estudo de caráter humano e social, é muito
importante compreender os fenômenos frente ao momento histórico em
que este se apresenta. A educação se encontra a partir desse olhar e para
compreender sua trajetória com seus sucessos e fracassos, é
imprescindível inserir cada passo no seu contexto histórico.
1.1   História da educação no Brasil: da
Colônia à República
Mesmo antes do descobrimento do Brasil, a educação sempre esteve
voltada para atender a elite e assim não foi diferente no nosso país. Desde
quando os portugueses chegaram ao Brasil, nunca houve escolha por uma
política de implantação de um sistema educacional. Somente em 1549 o
primeiro grupo de padres jesuítas, a Companhia de Jesus, chefiados por
Manuel de Nóbrega, e o primeiro governador geral, Tomé de Souza,
chegaram ao Brasil, fundando a primeira escola no Brasil.
A criação da escola teve como desígnio catequizar os índios e educar os
filhos dos colonos portugueses, a elite colonial, mas o real ideal era, acima
de tudo, a propagação da fé.
Esse interesse teve em sua essência uma tentativa de controle por conta da
insubordinação dos indígenas para que estes servissem como mão de obra
para a exploração do pau-brasil.
A Companhia de Jesus utilizava o método de ensino Ratio Studioru, já
balizado na Europa, e a formação para os índios era o elementar à
catequese. Já para os filhos de colonos e a elite colonial era no nível
elementar e médio, que repete o perfil da educação para os mais
abastados.
Os jesuítas permaneceram como mentores da educação brasileira de 1549
até 1759, quando foram expulsos de todas as colônias portuguesas.
Durante esse período, José de Anchieta se destacou por sua quantidade
de obras, incluindo sua preocupação com uma gramática em Tupi, língua
dos índios, e a fundação do colégio de São Paulo, em 1554. Tal expulsão foi
consequência das mudanças que estavam acontecendo em Portugal e esse
período é conhecido historicamente como Era Pombalina.
Marquês de Pombal, ministro de D. José I, na época, tinha como foco a
recuperação da economia portuguesa para fortalecer a realeza. Tal atuação
não obteve bons resultados no Brasil, que vivenciou uma grande ruptura
histórica numa ação já implantada e consolidada como um bom modelo
educacional. A Companhia de Jesus já tinha instalado 17 colégios e “escola
de primeiras letras” jesuíticas, e com essa expulsão, o Brasil ficou
praticamente sem nenhuma educação elementar e média.
Dessa feita, entramos no século XIX com o Brasil passando a ser a Sede do
Vice-Reino de Portugal com a vinda da família Real.
Ainda em 1808, para atender a elite que se encontrava no Brasil após a
abertura dos portos, criaram-se os cursos de cirurgia, na Bahia, e o de
cirurgia e anatomia, no Rio de Janeiro, assim como a Academia Real de
Marinha.
Outras construções para fomentar a educação da elite foram criadas, como
a Biblioteca Pública (1810) e o Museu Nacional (1818) e inauguram-se os
jornais “A Gazeta do Rio de Janeiro” (1808) e “A idade de Ouro no Brasil”
(1811), da Bahia.
Esses cursos equivaleriam ao início do Nível Superior no Brasil, mas, na
verdade, eram apenas aulas com um nível mais alto do que havia
anteriormente e com propósito profissionalizante, diferente da proposta
jesuítica. Nesse período, o ensino imperial organizou-se em três segmentos:
Primário: Curso para ensinar a ler e a escrever

Secundário: Mantinha as aulas régias (aulas de disciplinas isoladas). 

Superior: Cursos com propósito profissionalizante.

Enquanto o Brasil avançava, a metrópole – Portugal – iniciou um movimento de


questionamento e descontentamento, visto que a nação se encontrava a serviço
da Inglaterra. Esse movimento levou à Revolução Constitucionalista e a Família
Real então decidiu retornar e acelerar o processo de emancipação política do
Brasil.

 1822
Com o enfraquecimento do colonialismo e as pressões, Dom Pedro I
decide proclamar a independência do Brasil em sete de setembro de
1822. Após a independência, foi promulgada a primeira constituição,
em 1824, surgindo a ideia de Sistema Nacional de Educação. No
artigo 179 dessa Lei Magna, podia-se ler: “Instrução primária e
gratuita para todos os cidadãos”. No entanto, apesar de serem
propostas escolas e distribuídas por todo o território nacional, elas
desapareceram.
 1827
Ainda no império, em 1827, surge a primeira lei sobre educação, que
permitia que mulheres frequentassem as escolas elementares,
todavia, as instituições de ensino mais adiantadas ainda eram
proibidas a elas. Contudo, o que houve mesmo foi apenas a
distribuição racional do ensino elementar, que teve sua ampliação
comprometida pela base escravocrata e que apenas a elite estudava.
Devido à manutenção da mão de obra escrava, a escolaridade não
era, de fato, uma prioridade.
 1834
Como se pode notar, as questões históricas influenciam diretamente
na criação dos sistemas educacionais desde aquela época. Mais
tarde, com o Ato Adicional à Constituição, em 1834, a educação foi
descentralizada, ficando a cargo das províncias a responsabilidade de
organizar seus próprios sistemas de ensino primário e secundário e
somente as que tinham recursos implementariam essa instrução.
Somente ficaria a cargo do poder central o Ensino Superior. Essa
diversidade de províncias trazia ao país graves deficiências
quantitativas e qualitativas no sistema educacional.
 1835
Como a educação era limitada, haviam pouquíssimas pessoas
preparadas para o magistério e nenhum amparo para a carreira
docente. Os funcionários das poucas instituições de ensino não
tinham formação pedagógica e daí iniciou-se a discussão sobre a
necessidade de criação das Escolas Normais para a formação de
professores qualificados. Somente em 1835 surge a primeira Escola
Normal Brasileira em Niteroi, com duração de dois anos e a nível
secundário. As outras categorias de nível secundário continuavam
com as aulas avulsas, particulares e para meninos.
 1879
Em 1879 houve a reforma de Leôncio de Carvalho, que ampliou o
acesso à escolaridade, entretanto continuava seguindo princípios
adotados pelo regime: centralização, formalização e autoritarismo.
 1889
Muitas intempéries ocorreram no país, como a Guerra do Paraguai
(1865-1870), a Lei do Ventre Livre (1871), Lei Áurea (1888) etc.,
ocasionando a desarticulação entre o apoio político da oligarquia
escravista à monarquia. O movimento crescente por uma ideologia
liberal e adepta às ideias positivistas determinou a Proclamação da
República (1889). Nesse momento, temos o que chamamos de
Primeira República ou República Velha.

Por fim, a sociedade brasileira ainda permanecia sem nenhuma


organização educacional de fato e a maioria da sua população sem
escolaridade.
1.1   Da República Velha aos dias atuais
A primeira constituição republicana brasileira chegou em 1891 e seguiu o
sistema federativo de governo. Já no campo educacional, tivemos um
processo que permanece até hoje de alguma forma, em que houve uma
descentralização de responsabilidades, cabendo à União a incumbência
do Ensino Superior e Secundário e aos Estados o Ensino Elementar e
Profissional. Tal estrutura demonstrava a separação clara que existia entre
a educação dos formados para o trabalho intelectual e o comando
daqueles que eram formados para o trabalho manual.
De acordo com Romanelli (1982, p. 41), essa política educacional gerou o
seguinte sistema:
“À União cabia criar e controlar a instrução superior em toda a Nação, bem como
criar e controlar o ensino secundário acadêmico e a instrução em todos os níveis
do Distrito Federal, e aos Estados cabia criar e controlar o ensino primário e o
ensino profissional, que, na época, compreendia escolas técnicas para rapazes. “

Durante a Primeira República, de 1889 a 1930 foram feitas cinco reformas: a


Reforma Benjamim Constant, Reforma Epitácio Pessoa, Reforma Rivadávia,
Reforma Carlos Maximiliano e Reforma João Luiz Alves. Todas de âmbito nacional
do ensino secundário, com o intuito de implantar um currículo unificado para todo
o país.

Entre 1911 e 1915, surgiu o conceito de Grupo Escolar (reunião de escolas


isoladas de uma região comum) e as classes passaram a distribuir os alunos
em séries, o chamado Ensino Seriado.
Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a industrialização, o perfil
demográfico da sociedade brasileira mudou e a imigração tornou-se a
opção, face ao cenário pós abolição da escravatura.
Muitos imigrantes, já letrados, vieram para o Brasil e conheciam seus
direitos, apresentando engajamento político, o que trouxe vários
movimentos de contestação, como o Movimento Tenentista. De acordo
com alguns autores, esse movimento representava, na verdade, os
interesses da classe média urbana. 
 1920
No cenário da década de 1920, reformas educacionais foram
realizadas e, assim, fundada a Associação Brasileira de Educação
(ABE), em 1924. Também com muita representatividade nasce um
dos movimentos mais importantes da época, conhecido como Escola
Nova. Isso porque defendia uma escola pública, universal e gratuita.
 1930
E em 1930 (início da Era Vargas), com mais uma grande revolução,
temos a entrada definitiva do Brasil no mundo capitalista de
produção, surgindo uma geração de grandes educadores: Anísio
Teixeira, Fernando de Azevedo, entre outros. Esse segmento de
intelectuais, com base nas ideias da Escola Nova, tinha como alvo a
melhoria das condições didáticas e pedagógicas da rede escolar, e
com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, no ano de 1930, a
universalização do acesso de todos à escola ganhou força. Esse
documento versava sobre a desorganização do ensino brasileiro e a
defesa por uma escola laica, pública, obrigatória e gratuita para
atender toda a população.
 1931
Na Reforma Francisco Campos de 1931, o governo procurou atender
alguns anseios dos escolanovistas, mas, principalmente, atendeu a
proposta dos educadores católicos com a volta do ensino religioso às
escolas públicas. Ainda criou o Conselho Nacional de Educação e,
mais uma vez, buscou organizar o Ensino Superior, Ensino
Secundário e Ensino Comercial.
 1934
As mudanças econômicas e demográficas do período provocaram a
necessidade de uma nova constituição federal que aconteceu em
1934, sendo a primeira a incluir um capítulo especial sobre a
educação. Teve pouca duração e foi substituída pela de 1937,
imposta por Getúlio Vargas.

No discurso, em 1937, o Ministro da Educação da época, Gustavo Capanema,


expressa claramente o papel da Educação:

“Ela era um dos instrumentos do Estado, seu papel será ficar a serviço da Nação
(...). Assim, a Educação (...) longe de ser neutra, deve adotar uma filosofia e seguir
uma tábua de valores, deve reger-se pelo sistema de diretrizes morais, políticas e
econômicas que formam a base ideológica da nação e que, por isto, estão sob a
guarda, o controle ou a defesa do Estado. (CAPANEMA, 1937, p. 21)”

Em 1942, ainda ministro, Gustavo Capanema incentivou novas leis de


reforma do Ensino, que ficaram conhecidas como “Reforma Capanema”.
Nesse ano surgiram a Lei Orgânica do Ensino Industrial e a Lei Orgânica do
Ensino Secundário, além de ter sido fundado o Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai). Com a lei orgânica, o Ensino Secundário
foi dividido em três modalidades: Clássico, Científico e Normal (ensino
profissionalizante, porém considerado dentro do ensino secundário).
Com o fim do Estado Novo, surgiu a nossa terceira Constituição Federal, em
1946, que trouxe normas dirigidas à educação, como a gratuidade para o
Ensino Primário. Muitas ideias surgiram e a discussão versava sobre o que
seria uma educação popular. Com tantos questionamentos, surgem novos
movimentos, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Teatro de
Arena, a Teoria Educacional de Paulo Freire e outros.
Campanhas para a alfabetização e o uso da Teoria de Paulo Freire, a política
educacional brasileira, na década de 1950, apresentou outro aspecto
importante, as discussões sobre a nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases
de Educação (LDB).
Foi quando houve a implementação da Lei de Diretrizes e Bases de
Educação (LDB) – Lei 4.024/1961 pelo governo João Goulart. Novos debates
surgiram, como a defesa dos interesses dos proprietários de escolas
privadas. Nesse período, o movimento estudantil cresceu e as agremiações,
como da União Nacional dos Estudantes (UNE) estavam presentes como
fieis participantes em busca de transformações.
Na lei, preponderava o modelo de política educacional já em vigência, em
que o Estado custeava parte das despesas das escolas particulares e,
paralelamente, não criava novas oportunidades escolares fora dos grandes
centros urbanos.
1 - Após o golpe, em 1964, e a implantação da Ditadura Militar, o aumento do
autoritarismo deixa sua marca na educação com a eliminação da UNE e outras,
sendo consideradas “subversivas”.

2 - Em 1969, torna-se mandatório o ensino da disciplina de Moral e Cívica em


todos os graus de ensino e em 1971 o “Vestibular Classificatório” foi criado, o
qual garantia a vaga nas universidades, porém apenas até o preenchimento das
vagas disponíveis.

3 - Continuando na trajetória histórica, no governo Médici, com a Lei nº 5.692/1971


aconteceu a reforma da estrutura dos ensinos fundamental e médio e, em 1982,
foi retirada a obrigatoriedade do Ensino Profissionalizante nas Escolas de Ensino
Médio.  O que marca nessa época são as lutas contra a censura por parte dos
estudantes e intelectuais, que atuavam de forma clandestina e sutil contra o
processo da Ditadura Militar.

4 - No final da década de 80, na retomada da democracia, mais uma vez exigia-se


uma nova constituição que assistisse as novas necessidades do país. Assim, foi
promulgada a Constituição Brasileira de 1988, que dentro de seu teor transitório
previa o prazo de dez anos para a universalização do ensino e a erradicação do
analfabetismo.

5 - Em 1996 surgiu a nova LDB, que instituiu a estrutura da Política Educacional


Brasileira e a criação do Conselho Nacional de Educação. Nesse mesmo ano foi
instituído o Fundeb (Fundo de Manutenção do Ensino Fundamental), que após dez
anos foi substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), que obriga os Estados e
Municípios a aplicarem anualmente um percentual mínimo de suas receitas.
Com todas as mudanças sofridas durante a história, vivemos uma grande
era da educação. Nunca no país foi feito tanto como hoje em dia. No
entanto, é visível a falta de gestão desses financiamentos.
Atualmente, temos mais vagas nas escolas públicas e essas cada vez mais
próxima dos alunos, o que nos leva a menos crianças fora da escola. Com
essa iniciativa, muitos jovens e adultos estão retornando à escola e
conseguindo ampliar suas capacidades intelectuais e profissionais.
Sendo assim, cabe a reflexão baseada nas palavras de Paschoal Lemme:
“Há sempre uma forma de educação que poderemos chamar de fundamental: é
aquela que faz com que o indivíduo passe a compreender a própria estrutura da
sociedade em que vive o sentido das transformações que estão se processando
nela e, assim, de mero protagonista inconsciente do processo social, passe a ser
um membro atuante da sociedade, no sentido de favorecer sua transformação ou,
ao contrário, a ela se opor, porque ela se dará em detrimento de seus interesses.
(LEMME, 1988, p. 73)”

2 Relação escola-sociedade
Dentro de um pensamento da Sociologia, as relações entre o processo
educacional acadêmico e a sociedade de classes é estudada por várias
perspectivas.
2.1 Abordagem teórica de alguns pensadores
Começando por John Dewey, é através da educação que a vida humana se
perpetua por meio da comunicação permanente das experiências
adquiridas pelo grupo social às novas gerações para que esta se desenvolva
incessantemente.
Dewey aborda a importância de uma educação integral, ajustando o
crescimento natural do ser humano com uma eficiência social. Tal ajuste
chegaria ao alcance de uma sociedade ideal, uma sociedade
verdadeiramente democrática.
Esse pensamento de Dewey percebe a educação como algo positivo para o
progresso da sociedade como um todo. Por outro lado, alguns teóricos
compreendem a educação como ferramenta de transmissão de ideologias
que comprometem as ideias sociais, contaminando os pensamentos dos
educandos, pois estariam a serviço do monopólio do poder econômico,
social, político e cultural.
A base desses entendimentos tão antagônicos pode ser amparada pelas
ideias de dois grandes representantes do pensamento sociológico: 
Durkheim: Com seu princípio de integração.

Marx: Com seu princípio da contradição.

Durkheim compreende que caberia à educação a função de constituir um


ser social solidário em cada novo indivíduo. Por outro lado, a
heterogeneidade educacional permite a formação de indivíduos diferentes
para o exercício de funções diferentes.
No seu pensamento, que apresenta um modelo orgânico, Durkheim expõe
que a escolha por esta ou aquela educação seria suas aptidões individuais,
e não sua origem social.
Abrangendo o liberalismo junto às ideias de Durkheim, é então viável fazer
brotar uma sociedade que permite a livre escolha dos indivíduos rumo à
sua posição social desejada, o que promoveria a democracia.
Esse movimento vem a partir da educação que, por meio de projetos de
instrução pública, podemos chegar à igualdade de oportunidades. A
educação, desse modo, teria o grande ensejo de mesmas possibilidades
aos homens, ou melhor, seria o fator neutralizador das desigualdades
sociais e com a viabilização do Estado.
Quanto à ascensão social, esta dependeria única e exclusivamente das
capacidades singulares do indivíduo e para os liberalistas as desigualdades
têm origem nas desigualdades individuais naturais. O desejo
de igualdade por meio da educação encontra-se impregnada em vários
discursos e doutrinas que se perpetuam até hoje.
Já para Marx, a sociedade se fundamenta na contradição:
Proletariado versus Capitalistas, os que produzem versus os que consomem.
Por esse motivo, não haveria como conciliar interesses tão diferentes.
Marx apresenta um pensamento materialista em que a consciência é o
produto da existência e da infraestrutura econômica, determinando a
dimensão cultural. Nesse pensamento, ideias e ação caminham juntas. O
homem produz os objetos e, ao mesmo tempo, ele também cria relações
sociais, produzindo conceitos que justificam essas relações.
A classe que dispõe dos meios de produção de objetos, dispõe igualmente
dos meios de produção intelectual. Por Marx, não há como chegar à
democracia devido às próprias condições estruturais do sistema capitalista.
Nesse contexto, qualquer atitude de “desobediência” e de conflitos são
expressões da contradição inerente ao sistema, e não sintomas de anomia.
O Aparelho do Estado é, conforme análise de Althusser (1983), constituído
pelo Aparelho Repressivo (governo, polícia, exército etc.) e
pelos Aparelhos Ideológicos (igreja, escola, a família etc.), mas apesar da
diversidade, ambos funcionam por uma ideologia dominante e que cumpre
a função de assegurar as relações de produção.
A transmissão da ideologia dominante como uma verdade divide e
classifica os indivíduos: Fracasso/Sucesso, Normal/Anormal etc. e a escola
acaba reproduzindo esse modelo sob disfarces sutis de transmitir
semelhanças e união.
2.2 Escola: instrumento do pensamento
dominante
A escola é um instrumento de muita importância na formação
dos Aparelhos Ideológicos de Estado. Sua característica de poder atuar
cotidianamente nos indivíduos, em especial as crianças, proporciona a elas
um lugar de extrema importância e responsabilidade.
Ao mesmo tempo que instrui com técnicas e conhecimentos com base na
doutrina dominante, ensina também as regras do bom relacionamento
social ou, conforme Althusser (1983), transmite a ideologia dominante em
seu estado puro.
Em cumprimento à formação profissionalizante, a escola prepara, a partir
de atitudes, crenças e valores, os autores da mão de obra para respeitar a
divisão social-técnica do trabalho e as regras estabelecidas pela dominação
de classe.
Esses resultados são alcançados por dissimulações e estratégias de uma
ideologia dominante, como se fosse uma instituição neutra e desprovida de
qualquer ideologia. Aspectos sutis, como alguns rituais escolares: avaliação,
“dar notas”, são mecanismos de inclusão ideológica.
Encontramo-nos frente à ruptura da teoria com a prática, do trabalho
manual com o intelectual. Seja qual for o conteúdo transmitido, pois não
são os conteúdos que são contaminados pela ideologia, e sim a própria
forma de ensino que fortalece a sua natureza ideologizante.
Após analisar a escola sob o ponto de vista ideológico, torna-se fatal chegar
à conclusão de que o sistema educacional, a escola, é um lugar de
contradição.

3 Sistema educacional brasileiro:


noções de estrutura e
funcionamento
Após apresentarmos o Sistema Educacional propriamente dito, cabe mais
um espaço para que nós, educadores, sejamos instigados à construção de
seu olhar crítico sobre as leis e sua aplicabilidade de cada segmento
escolar, seja este privado ou público.
3.1 Estrutura do sistema educacional
brasileiro
Antes de iniciar, vamos lembrar um pouco sobre nossa história para realçar
que a atual Constituição Federal Brasileira (CFB) não foi a primeira e que
uma constituição sempre será a carta magna para garantir a soberania do
país.
Nossa CFB atual é de 1988, com novas ementas posteriores, daremos início
por ela para apresentar o embrião para posteriores projetos de lei que
abordem o sistema de ensino nacional, visto que nada pode ser divergente
dela.
#PraCegoVer: A imagem mostra a capa da Constituição Federal do Brasil.
No início, no Capítulo II da Constituição Federal de 1988, temos a questão
dos Direitos Sociais e já encontramos a educação fazendo parte desse
bloco: “Art. 6 São direitos sociais a EDUCAÇÃO, a saúde, o trabalho, o lazer,
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (grifo nosso).
Dando continuidade, o Capítulo III da CF (1988) é dedicado à educação, à
cultura e aos desportos. A primeira seção é destinada apenas à educação e
inicia afirmando que a educação é um direto de todos, mas compartilha
com a família o dever de educar e com a sociedade (Art.  205).
Analisando vários artigos da CFB referentes à educação, pode-se notar um
registro de assistência à toda população, independente de classe social,
raça ou sexo. A proposta é de uma educação igualitária, de qualidade e
democrática.
Ainda no artigo 207 e 208, a CFB molda a estrutura educacional e, para
garantia da qualidade do sistema educacional, define quais são os
segmentos para a assistência educativa do cidadão através do poder
público: creche e pré-escolar, ensino fundamental, ensino médio,
universidade e atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência.
Mesmo apresentando a obrigatoriedade do governo em promover as
políticas educacionais com gratuidade a todos, a CFB também aborda a
permissão de iniciativa privada para realizar os processos educacionais,
desde que sejam autorizadas pelo poder público e atendam todas as
diretrizes da educação, sempre com qualidade.
Acompanhando esse passo a passo, fica mais compreensível a razão de ser
para normas, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
o Plano Nacional de Educação (PNE), os referenciais Curriculares Nacionais
da Educação Infantil (RECNEI) e outros, pois a sua existência vem para
atender as exigências da CFB.
 
A CFB exige conteúdos mínimos para o ensino fundamental para garantir
uma formação básica comum a todos os brasileiros, daí identificarmos a
existência do Programa Nacional da Educação. Ainda determina que os
municípios sejam responsáveis pelo ensino fundamental e pré-escola e os
Estados e o Distrito Federal atuarão no ensino fundamental e médio
(Capítulo III, Artigo 211, § 2º e §3º).
Dentro desse capítulo referente à educação, a CFB engloba a organização, o
financiamento e os recursos para que o sistema educacional, com essas
exigências, seja alcançado, sendo a União a responsável por esses
processos.
Dando prosseguimento aos nossos estudos e já compreendendo que toda
e qualquer legislação deve seguir a constituição do país, vamos conhecer
pilares importantes da Lei nº 9.393/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB). Assim como a CFB, a LDB também sofreu ajustes
após sua homologação e para estarmos sempre atualizados, é importante
buscar as leis atualizadas, sejam quais forem.
A criação da LDB vem para atender a uma normatização das instituições de
ensino, oferecendo condições de igualdade para todos os cidadãos desde
cedo e garantindo que onde o estudante esteja, respeitando cada cultura
regional, todos terão as grades curriculares em comum.
Com a criação dessa lei, a educação se torna mais empoderada, pois
alavanca mudanças bastante significativas que determinarão uma
formação igualitária e com a cidadania em plena atividade.
A LDB distribui os segmentos, tal qual previsto na CFB, entre Município,
Estado e União e, juntamente, quais suportes deverão ser proporcionados
para a escolarização efetiva dos seus estudantes,
como: transporte e material.
A lei não vincula apenas o governo público no processo. A família, os
docentes, as instituições de ensino em si e a sociedade precisam cumprir
suas partes elucidadas pela legislação.
Como padronização da Estrutura do Sistema de Ensino, a LDB assim define
os segmentos da educação acadêmica sistematizada em Educação básica e
Ensino Superior.
 Educação básica: Etapas infantil, fundamental e médio e tem
como intuito proporcionar ao educando sua formação para o
pleno exercício enquanto cidadão e a progressão para o
trabalho e estudos futuros:

 Educação infantil
A educação infantil é a primeira etapa da educação básica ofertada
às crianças de 0 a 3 anos de idade em creches e as de 4 a 5 anos nas
pré-escolas. Essa etapa representa o alicerce da educação, visto que
objetiva o desenvolvimento nos aspectos físico, intelectual e social da
criança, complementando as ações da família e da comunidade (Art.
29 da LDB).
 Ensino fundamental
A segunda etapa é o ensino fundamental, que se subdivide em duas
etapas: anos iniciais, do 1º ao 5º ano, e anos finais, do 6º ao 9º Ano.
Com duração de nove anos. No ciclo normal, essa fase busca a
formação essencial do cidadão, a partir do pleno domínio da leitura,
da escrita e do cálculo.

 Ensino médio
O ensino médio é a terceira e última etapa da Educação Básica,
finalizando o ciclo com a consolidação e o aprofundamento dos
conhecimentos adquiridos no ensino fundamental. Além de
possibilitar a preparação básica para o trabalho, para o exercício da
cidadania e o aperfeiçoamento na formação ética, no
desenvolvimento intelectual e principalmente no posicionamento
crítico diante a realidade.

 Ensino superior: Sua finalidade é formar o estudante em áreas


diferentes de conhecimento e, inclusive, estimular para o
aprimoramento da cultura, do espírito científico e do pensamento
crítico e reflexivo.
Como mais uma estratégia de garantia de excelência, a LDB formaliza a
carga horária anual mínima para a Educação Básica, 800 horas, distribuídas
por 200 dias de efetivo trabalho escolar. Seu cumprimento é essencial
para a evolução do indivíduo e para a aquisição dos conhecimentos básicos
necessários ao avanço.
De tudo, o que é necessário compreender é que desde a colonização várias
leis foram promulgadas para a melhoria da Educação e a LDB vem cumprir
este papel. Seu cumprimento de forma virtuosa tende a reduzir a alienação
política dos brasileiros, desmascarando a intenção manipuladora de
qualquer consciência dominante.
Quanto à outra legislação de porte a ser seguida para a garantia da
educação para todos, em vários momentos citada, existe o Programa
Nacional de Educação de 2014 (PNE), como um planejamento para dez
anos e que chega para agregar mais possibilidades de melhorias no sistema
educacional.
Existem metas a serem atingidas durante essa década e os relatórios de
acompanhamento sempre envolvem diagnóstico, diretrizes, objetivos e o
andamento das metas:
 Expansão do ensino básico, garantindo uma expansão do ensino
obrigatório e de qualidade;
 Valorização da diversidade presente no país, além da diminuição
da disparidade da educação, visando sempre aumentar a
equidade educacional;
 Melhor preparação e valorização dos profissionais da educação;
 Expansão do ensino superior.
Como pudemos identificar, vários mecanismos têm sido criados para a
melhoria da nossa educação. O cumprimento de cada um destes,
identificando a parte que cabe a cada cidadão e o nosso compromisso com
a aplicação deles, favorecerá o alcance com mais magnitude para a
formação de uma sociedade mais igualitária e democrática.

3.2 Reflexões acerca da evolução da


legislação educacional
As leis sempre estiveram presentes para a consolidação do processo
educativo no Brasil e todas com a intenção de trazer um conjunto de
medidas que trouxessem melhorias para atender a população em todo o
território nacional ou para uma ideologia do governo.
É fato que, a cada período histórico, muitas conquistas foram alcançadas
com transformações educacionais expressivas. Por outro lado, ainda nos
deparamos com grandes problemas da educação, como o índice de
analfabetismo. Ao pensarmos nessa deficiência, fica claro que ainda temos
muito a caminhar.
Para Saviani (1987), “a compreensão do sistema educacional brasileiro exige
que não se perca de vista a totalidade social da qual ela faz parte”. Esse
pensamento traz em sua essência que a educação avance além de uma
Pedagogia e que seus passos se dirijam para a verdadeira cidadania.
Essa construção se concretizará no momento em que os projetos de
educação saiam do papel, da teoria e sejam aplicados na prática, sem
economia de nenhum esforço de natureza física, intelectual ou econômica.
Aí teremos a real intenção de ascensão do incremento cultural do seu povo.
Igualmente, apostar na democratização e na universalização de uma
educação qualitativa que esteja alerta não só para o desenvolvimento
intelectual, mas também emocional, físico, social e moral.
Atualmente, vivemos uma era da educação de forma nunca vista
anteriormente. Começa pelos investimentos financeiros estruturados por
programas como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), o
Programa Universidade para todos (Prouni) e outros. Contudo, temos um
antagonismo entre as metas e a falta de efetivação delas. Apesar dos
recursos injetados na educação, falta uma política de
monitoramento desses gastos e de fiscalização das instituições escolares
em todos os segmentos.
O cenário que tínhamos antigamente, por exemplo, era a
grande dificuldade de acesso à educação por parte de famílias menos
privilegiadas, que dependiam do sistema público de ensino. Filas enormes
existiam para realizar a matrícula de seus filhos. Já, nos dias atuais, o
número de vagas para o ensino básico aumentou consideravelmente e as
escolas também estão mais próximas dos alunos em geral.
Outra questão a ser analisada é a desvalorização dos profissionais de
educação, que nos remete a falhas que não garantem uma educação
qualitativa e nem a oferta de um desenvolvimento real, seja intelectual,
moral, emocional ou social ao sujeito.
Uma polêmica bastante atual e que compromete a qualidade da educação,
é a chamada “Mercantilização da Educação” com a abertura de novas
faculdades particulares que facilitam a entrada no nível superior, a abertura
de escolas particulares de ensino básico sem a devida fiscalização que
transformam a educação num produto e não um serviço como deve ser.
Ainda abordando os projetos governamentais de acesso à educação, temos
a Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. É a chamada Lei das Cotas, que
reserva 50% das vagas das universidades públicas aos estudantes de escola
pública, que por um lado traz em si um dinamismo no acesso ao nível
superior, por outro revela a falta de qualidade do ensino público.
Com tantos avanços, mas sem a efetivação total, o que fica evidente é uma
preocupação com as estatísticas para apresentação no exterior (para a
Unesco, por exemplo), que apresenta um quantitativo substancial dentro
de instituições de ensino, mas com uma qualidade duvidosa. À parte,
incluímos a grande desigualdade de distribuição de renda que
desfavorece uma boa estrutura social para um melhor desempenho dos
discentes.
Cabe incluir na nossa ponderação o momento atual de globalização em que
as trocas de informações ocorrem cada vez mais rápidas, além da incursão
de novas tecnologias dentro das salas de aula.
Apesar das dificuldades, a sociedade, em geral, está mais exigente por uma
educação de qualidade e para Moran (2000, p. 14) esse aprimoramento é
viável a partir do cumprimento de três instâncias:
Instância 1
Uma organização inovadora, aberta, dinâmica, com um projeto pedagógico
coerente, alerto, participativo.

Instância 2
Uma infraestrutura adequada, atualizada, confortável; com tecnologias
acessíveis, rápidas e renovadas.
Instância 3
Uma organização que congregue docentes bem preparados intelectual,
emocional, comunicacional e eticamente bem remunerados, motivados e
com boas condições profissionais, em que haja circunstâncias favoráveis a
uma relação efetiva com alunos, que facilite conhecê-los, acompanhá-los e
orientá-los.

Como conclusão, é perceptível que o nosso sistema de ensino não funciona


plenamente para atender as expectativas da sociedade, visto que se trata a
educação a partir de ideais políticos e capitalistas.
Os recursos são mal geridos, a formação dos professores é deficitária e
estes não são valorizados como deveriam, além da falta de adequação dos
currículos às necessidades dos alunos. Toda essa desvalia reforça a esquiva
dos pais quanto às suas obrigações para a escolarização dos seus filhos,
refletindo o pensamento dominante de que educação não é uma
prioridade.
Como consequência, por meio das estatísticas, percebe-se a defasagem
escolar, crianças fora da escola, estudantes com idades não compatíveis ao
ano escolar, analfabetismo etc. Esses são vestígios de um histórico de falta
de planejamento com compromisso para os avanços educacionais.
Nosso país tem muito pela frente para alcançar o desenvolvimento
científico, cultural e social, mas, para que isso ocorra, a confiança no
sistema educacional como o verdadeiro trampolim do incremento da
sociedade precisa estar sempre presente. O Estado precisa ponderar e
perceber que o progresso de um país depende de uma sociedade culta,
qualificada e capaz de contribuir para o crescimento do país. 

4 Educação, política e sociedade


Veremos agora a educação atrelada a quadros econômicos e políticos. Isso
para que tenhamos elementos para um olhar e pensamento crítico para
avaliar o que nos chega como informação acerca do trabalho pedagógico.
4.1 Conceito de política e seus
desdobramentos
Muito se ouve falar de política, mas que tal saber seu real significado?
O significado de política é muito amplo, mas encontra-se atrelado com
aquilo que diz respeito ao espaço público e ao bem dos cidadãos.
Por definição, política tem sua origem na Grécia Antiga, a palavra politiká é
uma derivação de polis  (aquilo que é público)  e tikós  (bem comum de todas
as pessoas). A necessidade veio da concepção de regras de funcionamento
e de organização das cidades gregas, e o primeiro registro desse tipo de
organização política ocorreu em Atenas – “Democracia Ateniense”.
Dentro da proposta política da Grécia, foram abordados o direito ao voto,
garantido aos homens a partir dos 18 anos, e o direito de participação nas
decisões ligadas às cidades. De acordo com Aristóteles, um dos pensadores
da Grécia Antiga, a função essencial da política era atender aos interesses
dos cidadãos, fazendo com que estes fossem a prioridade nas decisões
tomadas pelo governo.
Trazendo para a atualidade, podemos afirmar que a política é a ciência
da governança de um Estado ou uma Nação e uma arte de negociação
para ajustar interesses, e o sistema político é a forma de governo –
Monarquia e República, sendo os mais clássicos. Seu objeto de estudo é a
relação entre os dirigentes que estão no poder (governo) e os cidadãos em
várias instâncias sociais e econômicas de interesse público.
No início da construção de uma ciência política, suas abordagens partiam
de perspectivas da Filosofia por meio de pensadores como Maquiavel,
Montesquieu e outros. No entanto, na atualidade, a pesquisa e os estudos
nessa área são ampliados dando espaço a outras áreas, como História,
Economia e Direito.
Dessa forma, todos os governos, para atender as necessidades de sua
nação, promovem políticas públicas destinadas aos diversos segmentos das
relações com a sociedade.
4.2 Política e educação
Durante toda a trajetória histórica do Brasil, as formas de governo
influenciaram diretamente no avanço ou atraso do sistema educacional
brasileiro. Adotamos várias formas de governo e independente de qualquer
uma, a influência sempre foi determinante na direção que a educação
seguiria.
Nos dias de hoje, em função de muita luta em busca da redução da
alienação da sociedade, o governo apresenta várias políticas públicas para
o sistema de ensino, sejam distributivas, redistributivas ou regulatórias.
As atuais políticas públicas de educação são projetos criados pelo poder
público para que garantam o acesso à educação para todos os cidadãos por
meio da aplicação de suas normas. Para completar esse processo, existem
dispositivos para a avaliação e fiscalização para transformar “a teoria na
prática”.
É de responsabilidade do poder público criar leis para amparar as políticas
públicas que têm sua apresentação e votação no Poder Legislativo de todas
as esferas do executivo: deputados federais e estaduais, senadores e
vereadores.
Acrescentando, outras instâncias podem apresentar projetos para a
aprovação no legislativo, como os representantes do Poder Executivo,
também das três esferas: federal, estadual e municipal.
Após tanto tempo, nos dias atuais, a população também pode participar da
formação das políticas públicas de educação fazendo parte dos Conselhos
de Políticas Públicas, por exemplo. Esses conselhos são constituídos por
representantes do governo e por cidadãos e são organizados pelos
municípios. Sendo este um direito previsto pela Constituição Federal do
Brasil, a sociedade como um todo deve exigir a instalação dessas políticas
para a melhoria permanente das condições do ensino.
Será que você saberia dizer algumas das políticas públicas em vigência em
nosso país?
Vamos conhecer algumas:

 Educação de Jovens e Adultos (EJA)


Programa destinado à educação de jovens e adultos que não
terminaram os estudos e encontram-se fora da idade indicada,
atende desde o ensino fundamental até o ensino médio.

 Programa Nacional de Acesso ao Ensino


Técnico e Emprego (Pronatec)
O Pronatec vem contribuir para o aumento da oferta de cursos de
educação tecnológica e profissionalizante. Nesse caso, os
participantes destinados para este programa são estudantes da rede
pública, trabalhadores e beneficiários de outros programas sociais
do governo.

 Programa Universidade para Todos (Prouni)


Este programa foi instituído para ofertar bolsas de estudo em
instituições privadas de ensino superior e são reservadas aos
estudantes de baixa renda que ainda não possuem ensino
universitário.

 Programa Escola Acessível


Como o próprio nome diz, é um programa criado para aumentar a
acessibilidade no ambiente escolar da rede pública de ensino.
Contribui disseminando informações e recursos de ensino
necessários para melhorar o aprendizado de estudantes com
necessidades especiais.

 Apoio à Formação Superior e Licenciaturas


Interculturais Indígenas (Prolind)
Programa criado para apoiar financeiramente os cursos de
licenciaturas indígenas ou interculturais que formam os professores
de escolas indígenas.

 Programa Caminho da Escola


Foca na melhoria e no aumento da frota de veículos que faz o
transporte escolar nas redes de ensino estaduais e municipais.

 Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da


Educação Básica (Fundeb)
Visando o aumento do investimento financeiro em projetos de
educação nos Estados, o governo federal reserva um fundo
destinado à educação.
E aí? Conhecia essas políticas públicas? Temos várias dessas para a melhoria do
nosso sistema educacional. A criação desses projetos caminha junto com as
propostas da nossa LDB, para que ela não seja mais uma lei que “ficou no papel”. 

UNIDADE – 2

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃO, PRÁTICAS E TEORIAS

1.1   Filosofia e história
A filosofia a que temos acesso originou-se na Grécia Antiga. A palavra
filosofia é de origem grega e significa literalmente amor (philos)  à
sabedoria (sophia).
Tal movimento acontece como uma tentativa de elucidar a realidade fora
do âmbito das explicações religiosa e mitológica. Como não havia uma
aceitação dessas explicações, os filósofos gregos começaram a especular
sobre princípios naturais para explicar a origem do mundo. Desde então, a
filosofia não interrompe sua continuidade em busca de conhecimento.
Várias escolas de pensadores existiram no decorrer da história grega e
quase todos se preocupavam com a educação do ser humano; uma
inquietude para tornar o ser humano melhor. Mais uma vez temos na
Grécia a origem da palavra Educação: Educare, que significa trazer à tona.
Continuando a busca pela essência do ser humano, novas ideias vieram e Santo
Agostinho defendia que cada ser humano é uma pessoa e cada uma tem sua
consciência, que é dotada de vontade, imaginação, memória e inteligência.

Na Idade Média, a verdade é passível de ser conhecida desde que não contradiga
a fé. 
Na Idade Moderna, os filósofos conseguem separar a fé da razão. 

Assim, a teoria do conhecimento retorna para a relação do pensamento


com as coisas, a consciência e a realidade, em suma, o sujeito e o objeto do
conhecimento, tal qual como tudo começou na Grécia.
O filósofo Descartes, da famosa frase: “Penso, logo existo”, elaborou um
procedimento, a dúvida no método. Neste, o sujeito do conhecimento
analisa cada um de seus saberes, identifica e avalia as fontes e as causas de
cada um, suas verdades ou mentiras e, assim, encontra meios para livrar-se
de tudo quanto seja duvidoso perante o pensamento.
Com essa proposição, embarcamos em duas grandes orientações da teoria
do conhecimento da época moderna conhecidas
como racionalismo e empirismo.
Racionalismo: Descartes, o principal representante do racionalismo, acredita que
a fonte do conhecimento verdadeiro é a razão atuando por si mesma, sem o
auxílio da experiência sensível e dominando a própria experiência sensível. Parte
do conhecimento geral para o particular: método dedutivo.

Empirismo: Em oposição à grande parte da Europa, John Locke, principal


representante do empirismo, afirma que a fonte de todo e qualquer conhecimento
é a experiência sensível, sendo responsável pelas ideias da razão e controlando o
trabalho da própria razão (CHAUÍ, 2002). Ao contrário de Descartes, parte do
individual para o geral: método indutivo.

O termo “empirismo” vem do grego έμπειρία, cuja tradução para o latim


é experientia,  que significa experiência.
Ainda temos outros filósofos da modernidade. Por exemplo, Kant, fazendo
uma síntese entre as duas orientações anteriores, alegando que o
conhecimento é possível porque o homem possui faculdades que o tornam
possível. Com esse posicionamento, Kant investiga a razão e seus limites, e
não como deve ser o mundo para que se possa conhecê-lo. Ele é conhecido
por seu “criticismo” acerca do homem.
Com toda essa agitação filosófica, chegamos ao momento
da fenomenologia do final do século XIX, que tinha como tese a
intencionalidade da consciência humana, buscando descrever,
compreender e interpretar os fenômenos que se apresentam à nossa
percepção. Como representantes, temos Heidgger, Edmund Husserl, Sartre
e outros.
Ainda no século XIX, temos dois nomes que realizaram seus trabalhos de
forma independente: Nietzsche e Kierkegard.
Podemos abordar Nietzsche em quatro pilares:
 Pilar 1
Em suas teorias, pregava basicamente sobre uma visão cristã sobre o
bem e o mal que limita e nega a humanidade. Atacava a moral cristã,
pois seus devotos não são bons ou procuram ser porque se
preocupam com o semelhante. Eles são “bons” porque têm medo de
queimar no inferno. Em seu livro “O Anticristo”, Nietzsche afirma:
“Deus está morto”.
 Pilar 2
O Eterno Retorno, conceito do seu livro “A Gaia Ciência”, relata o
momento que se avalia as escolhas da vida. Questiona se essas são
reais ou decorrentes de exigências externas, econômicas etc.
 Pilar 3
O Niilismo de Nietzsche, de modo básico, é a falta total de
confiança nos valores impostos pela sociedade. Segundo suas ideias,
a vida não deve ser vivida a partir de nenhum padrão.
 Pilar 4
O Super Homem pode ser representado por aquele que encara a
vida sem as “muletas” para poder suportar a existência, apoiando-se
na religião ou na moral. Segundo Nietzsche, essas muletas equivalem
a uma negação da morte, que faz o ser humano acreditar em
mentiras, como o paraíso. Dessa feita, o Super Homem seria um Ser
Superior, uma ideia melhorada de nós mesmos: não na força, mas no
psicológico.
Há muitos outros filósofos e outras escolas encontrados em toda a história
da humanidade. Aprenda mais sobre eles.

1.2 Filosofia: necessidade da educação


Chauí (2002) apoia que uma atitude filosófica emerge de demandas do dia
a dia e estas devem ser abordadas de uma forma diferente daquela
encontrada no senso e, assim, adotar uma perspectiva crítica. Para a
autora, há dois atributos da atitude filosófica: 
O primeiro atributo da atitude filosófica traz uma sensação negativa, ou melhor
dizendo, é necessário abandonar o senso comum, os pré-conceitos, os pré-
julgamentos, os fatos da experiência cotidiana, o que “todo mundo diz e pensa”,
levando a uma sensação de afastamento da sociedade.

O segundo atributo da atitude filosófica é positivo. Consiste numa dúvida


construtiva que também é uma interrogação sobre o porquê de tudo e do próprio
ser humano. Questiona-se sobre o porquê de tudo ser assim e não de outro
modo.
Sendo a educação parte integrante desses fatos do cotidiano, a filosofia se
coloca como forma de conhecimento e a educação como um problema
filosófico. Assim, a Filosofia da Educação chega para unir essas partes e
consiste em acompanhar criticamente a atividade educacional,
especificando seus fundamentos, esclarecendo a função e a contribuição
das diversas disciplinas pedagógicas e avaliando o significado das soluções
escolhidas.
Compreendendo a importância da Filosofia como ordenadora da prática,
quando se fala de Educação também não é diferente. A Filosofia da
Educação é imprescindível embora não seja reconhecida por muitos
pedagogos para os quais a pedagogia é uma ciência puramente
experimental e, por isso, independe de qualquer fundamentação
filosófica.
Essa característica decorre do preconceito naturalista que inspira
a Pedagogia. De acordo com Bello (1969), a filosofia naturalista reduziu
toda a ciência às ciências que pudessem ser experimentais, reprovando
como anticientíficas todas as que não pudessem ser comprovadas pela
experimentação dos laboratórios.
Para se tornar científica, segundo esse conceito, a Pedagogia acabou por
reduzir os seus fundamentos filosóficos, fazendo uma Pedagogia
puramente experimental, teoricamente descaracterizada. Essa postura
apresentou uma crise generalizada que até hoje se estende sobre o
domínio da Educação.
A pedagogia é uma ciência e seus princípios devem ser submetidos à
reflexão filosófica, uma vez que esta não se limita ao domínio do que pode
ser percebido pelos sentidos, orienta-se também em direção ao
conhecimento dos princípios que escapam à percepção.
É de suma importância compreender o pensamento filosófico como
reflexão, ou melhor, é uma busca de algo por si mesmo, por meio da
especulação, mas com análise crítica. Ao definir a filosofia como reflexão,
ela se funda como um conhecimento do conhecimento, atuando sobre
este, interrogando-o e problematizando-o.
Sem o exercício da filosofia, o desenvolvimento de teorias educativas torna-
se incapaz de gerar resultados profundos e com durabilidade, até mesmo
porque se não há reflexão, também não se sabe aonde se quer chegar. Se
não existe uma filosofia de formação com um ideal e com concepção de
cultura, a inviabilização de uma ciência educativa é a pior consequência
com certeza.
Eucken (apud BELLO, 1969) também acresce que é no cenário da educação
e do ensino que a lacuna da orientação filosófica acarreta as consequências
mais lamentáveis. O sistema educativo só pode melhorar e realizar
mudanças reais quando inclui uma verdadeira Filosofia da Educação, na
qual possam realizar um acordo acerca da finalidade, das possibilidades e
das condições da educação.
A Filosofia apresenta como função: explicar e justificar os princípios em que
as ciências se fundamentam. Dessa forma, o elo entre a filosofia e o
universo da educação se fortalece considerando que a justificativa das
ações educativas precisa de substratos filosóficos. Não se trata de dotar a
Filosofia como a cura de todos os males, mas ela possui a audácia de
auxiliar os questionamentos sobre a vida escolar e educacional.
Reescrevendo Chauí (2000), não aceitar a vida e o mundo como já
apresentados, pode ser uma árdua tarefa, mas igualmente necessária. A
Filosofia da Educação, por conseguinte, se torna imperativa para a
Pedagogia e a formação de qualquer pessoa envolvida com o mundo, em
especial, com o mundo escolar.

2 Educação, escola e práticas


pedagógicas
Conforme a história avança, a educação precisa acompanhar os diferentes
cenários e sua metodologia também. Por exemplo, nas sociedades
primitivas, a educação era transmitida de pai para filho a partir da prática e
de vivências diárias. Caminhando mais um pouco, temos a elitização da
transmissão dos conhecimentos.  Assim, a todo instante há
um pensamento político que se encontra submerso à educação e,
consequentemente, à sua prática.
Mas o que seriam essas práticas pedagógicas?
2.1 Prática pedagógica e historicidade
A prática pedagógica é uma prática social e política, pois não se pode
idealizar a educação sem uma conexão sócio-histórica. Segundo Aranha
(1996), a educação não pode ser compreendida fora de um contexto
histórico-social concreto, sendo a prática social o ponto de partida e o
ponto de chegada da ação pedagógica. Enquanto prática pedagógica, a
educação tem, historicamente, o desafio de atender às demandas que os
cenários históricos lhes colocam.
“(...) Não somos apenas objeto da História, mas seus sujeitos igualmente. A partir
deste saber fundamental: mudar é difícil, mas é possível que vamos programar
nossa ação político-pedagógica. (FREIRE, 1997, p. 89)”

O que podemos observar é que as práticas pedagógicas se desenvolvem


com e na historicidade, marcada por decisões e contradições
permanentemente. O princípio basal dos pressupostos da própria
racionalidade pedagógica crítico- emancipatória é a historicidade. É
através desse movimento que o conhecimento se desenvolve na interação
sujeito e objeto.
No que se refere às metas de uma ação pedagógica, o ponto dirigido à
Pedagogia abarca a formação de indivíduos "na e para a práxis". Precisam
ser conscientes de sua importância na transformação da realidade sócio-
histórica, a partir de uma ação coletiva em que todos estão cientes do que é
possível e necessário para essa mudança. É a tarefa crítico-
emancipatória da base da pedagogia e não apenas da educação.
Assim, sujeito e objeto estão em contínua e dialética formação, evoluindo
pela contradição interna, mas não de forma determinante, e sim através da
intervenção dos homens mediante a práxis. Esta apresenta realização de
ações concretas, objetivando uma transformação do social.
A educação apresenta seu caráter dialético das práticas pedagógicas, visto
ser da competência da subjetividade construir a realidade e, ao mesmo
tempo, modificá-la mediante a interpretação coletiva.
O que se deve estar alerto é para a paralisia de tais práticas como reféns
lineares da história e do pensamento dominante. Isso porque estas
acontecem nas interações entre os sujeitos e suas intencionalidades.
Enquanto prática social, a educação transforma-se com a ação dos homens
e produz mutações naqueles que dela participam.
Caminhando nas contradições, as práticas pedagógicas expressarão o
momento, as circunstâncias e as sínteses transitórias em que se organizam
no processo de ensino. Sendo assim, as conjunturas educacionais estão
sempre sujeitas às circunstâncias súbitas e não planejadas. Essa
característica ocasiona um redirecionamento dos processos, facilitando
uma reconfiguração da situação educativa. Para tanto, o trabalho
pedagógico necessita espaço de ação e de análise ao não planejado,
pressupondo como sujeitos dialógicos os alunos e os professores.
Por conseguinte, as práticas pedagógicas requerem do professor um
mergulho profundo na dinâmica e no significado da práxis, para garantir
a compreensão das teorias implícitas que permeiam as ações do coletivo de
alunos.
O exercício da docência é uma ação transformadora que se renova tanto
na base teórica quanto na prática, exigindo necessariamente o incentivo a
uma consciência crítica. Nessa concepção, o exercício da ação docente
requer preparo além da teoria. Segundo Freire, “Saber que ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção
ou a sua construção” (FREIRE, 1997, p. 21).
Como fechamento e alerta, enquanto as diretrizes de políticas públicas
considerarem a prática pedagógica como um mero instrumento de
reprodução de “fazeres” e atuações externas para os indivíduos, esta não
mais tem valor e, por si só, não tem como se perpetuar.
2.2 Prática pedagógica e teoria
As práticas pedagógicas tendem a se organizar em torno
de intencionalidades previamente estabelecidas que contaminarão o
processo didático, suas formas e estratégias. Por essa razão, para não
sermos repetitivos, a prática pedagógica aqui apresentada sempre será a
que tem como base sua função social emancipatória e conscientizadora da
realidade em que se vive.
A docência não é formada apenas de práticas, seu fundamento teórico é
imprescindível e de enorme valia e ao analisarmos nos inquietamos com
essa dicotomia da teoria e prática.
Pimenta (2005, p. 26) defende que a fundamentação teórica traz grandes
benefícios numa tomada de decisão dentro de uma proposta
contextualizada, capaz de ampliar perspectivas para compreender os
diversos contextos do estudante. Facilita também a descoberta de novas
práticas de ensino sempre com rumo à aprendizagem do aluno.
Sob essa aptidão a ser continuamente aprimorada, o educador somente
poderá ensinar quando aprender. Ele deve adquirir conhecimento a partir
do diálogo, da troca com o outro e da pesquisa científica.
Mesmo com esses princípios, há de se lembrar que mesmo as grandes
escolas teóricas que baseiam as práticas, trazem seu "tempo de validade". A
todo momento a reflexão sobre a dinâmica social que se transforma e
que os processos não são lineares, torna-se importante mais uma
habilidade do professor, que é a flexibilidade para incorporar novas
concepções teóricas mais próximas da realidade em que vivemos.
Para tanto, como dizer que se tem conhecimento total de qualquer
assunto? É importante ter humildade para diferenciar na prática ações
negativas e/ou positivas para a construção da autonomia do aluno. Não
somos o dono do saber. Tal como Sócrates (filósofo grego), a extensa
magnitude das mudanças nos leva à conclusão: “Quanto mais eu sei, mais
sei que nada sei!”.
Não existe um planejamento de ensino que dê conta da imensidão dos
desdobramentos possíveis acerca da aprendizagem de um estudante.
A prática educativa é algo mais do que expressão do ofício dos professores, é algo
que não lhes pertencem por inteiro, mas um traço cultural compartilhado, assim
como o médico não possui o domínio de todas as ações para favorecer a saúde,
mas as compartilha com outros agentes, algumas vezes em relação de
complementariedade e de colaboração, e, em outras, em relação de atribuições. A
prática educativa tem sua gênese em outras práticas que interagem com o sistema
escolar e, além disso, é devedora de si mesma, de seu passado. São características
que podem ajudar-nos a entender as razões das transformações que são
produzidas e não chegam a acontecer. (SACRISTÁN, 1999, p. 91)

Independente da teoria que sustenta a prática pedagógica e da escolha,


esta deve ser coerente com as ações promovidas pelo professor para
a libertação e a autonomia do seu estudante.
O educador não pode desistir do seu discente, é preciso refletir e buscar
novas estratégias para acompanhar a lógica de seu estudante e
compreender as relações que este faz com o conhecimento. Mas como
conseguir? Através do diálogo, sempre com diálogo.

3 Concepções de aprendizagem nas


teorias psicológicas
Sendo a aprendizagem um processo que envolve o indivíduo e o mundo,
a Psicologia na sua trajetória, apresenta várias contribuições para o melhor
conhecimento desse processo e, consequentemente, a escolha da que mais
se aproxima das diversidades que nos deparamos no mundo escolar.
Conhecê-las nos traz a compreensão e o desenvolvimento do papel da
docência em seu campo de atuação, assim como um olhar diferenciado por
parte da Psicologia no desenvolvimento do ser humano.
Cabe lembrar que a aprendizagem não é um processo próprio da escola. O
ser humano aprende desde o momento de seu nascimento até sua morte.
Por essa razão, estuda-se de que forma as capacidades cognitivas se
organizam para alcançar o aprendizado no sentido “lato” e “strictu” da
palavra.
Desta feita, iremos abordar as teorias conforme uma classificação que as
divide em: Teorias maturacionais, Teorias comportamentalistas, Teorias de
campo, Teorias psicanalíticas e neopsicanalíticas, Teorias fenomenológicas
e humanistas e, por fim, Teorias psicogenéticas.
3.1 Teorias maturacionais
As contribuições desse grupo de teóricos, como Arnold Gesell Francis
Galton, Cattell, Stanley Hall e Alfred Binet, ocorrem por volta dos anos 30,
40 e 50.
Eles defendiam que as características de qualquer organismo vivo já
estariam programadas na própria constituição genética, nos seus processos
biológicos propriamente ditos, ou melhor, tanto o desenvolvimento quanto
a aprendizagem são frutos de determinantes genéticos e
maturacionais. Por conta de sua característica, seu maior legado foram
seus estudos normativos, apresentando o ritmo e a previsibilidade das
ações do desenvolvimento infantil.
Gesell, psicólogo, filósofo e pediatra americano, mostra-se um pioneiro
dessa teoria e seu interesse no desenvolvimento infantil iniciou com o
tratamento de crianças com deficiências e, para compreendê-las, precisava
estudar a evolução de crianças normais.
Para ele, existe uma continuidade de etapas que estão relacionadas à idade
e com comportamentos típicos de cada faixa etária. Defendia que as fases
da infância são reproduções de todo o desenvolvimento da espécie
humana. Sua teoria foi muito influenciada pelas teorias
evolucionistas, muito populares na época, e um debate, no início do
século XX, sobre a dualidade Aprendido versus Inato.
Por conta de seus princípios, o processo de maturação poderia ser
aprimorado dentro de um ambiente cuidadosamente delineado. Estimulava
os pais a deixarem as crianças desenvolverem-se sozinhas, sem ajuda. Isso
porque tinha a crença de que ações como falar, brincar e raciocinar
surgiriam com a maturidade da idade.
Gesell é responsável pela produção de escalas de desenvolvimento e estas
dividiam-se em quatro dimensões: motora, verbal, adaptativa e social,
todas relacionadas à teoria da maturação. Ele utilizava muitos recursos
tecnológicos (câmeras, vídeos etc.) nos seus estudos e seu principal
instrumento foi o espelho unidirecional, que se tornou uma câmara de
observação. Eram duas salas separadas por um espelho unidirecional. As
pessoas de uma das salas são refletidas no espelho enquanto as outras
pessoas na outra sala podem ver o que está acontecendo sem serem vistas.
Assim, os comportamentos podem surgir de forma espontânea e natural.
Essa câmera ainda é empregada como um método de pesquisa e estudo e
é conhecida como Câmera Gesell. Sua influência, de que há um tipo de
programação no desenvolvimento infantil, continua presente em várias
rodas de debate.
3.2 Teorias comportamentalistas
Tendo o empirismo como base epistemológica, as teorias
comportamentalistas defendem que todo conhecimento provém da
experiência, propondo um ideal de objetividade, que rompe com conceitos
tradicionais da Psicologia, como a consciência e a alma.
Essa corrente baseia-se na crença de que o ser humano é uma “tabula
rasa” e desde ao nascer o homem aprende tudo, desde as capacidades
mais elementares aos comportamentos mais complexos. As ideias são
registradas a partir de percepções e a inteligência é idealizada como uma
faculdade capaz apenas de armazenar e acumular conhecimento.
Como principais teóricos, temos John Watson, Thorndike, Skinner e outros
que tinham como objeto de estudo o comportamento, que é observável,
interpretado como um produto do ambiente, significando um conjunto de
reações a estímulos que, por conseguinte, podem ser medidos, previstos e
controlados.
As primeiras sistematizações do controle do comportamento foram
desempenhadas por Watson, que se apoia nos trabalhos de Pavlov acerca
do processo de condicionamento.
Para Thorndike, o padrão básico da aprendizagem seria uma resposta
mecanicista às forças externas, estímulos externos: Resposta
recompensada = aprendizagem realizada.
Paralelo a essa teoria, temos Skinner que enfatizava o controle do
comportamento através de reforços que ocorrem com a resposta dada ou
após a mesma com o propósito de atingir metas específicas ou definir
comportamentos manifestos. Ele enfatiza sua ênfase no estímulo posterior
ao estímulo inicial. Ou seja, o posterior seria o reforço usado como recurso
para a manutenção ou extinção de determinado comportamento.
Skinner defendia um sistema empírico com conhecimentos adquiridos de
experiências cotidianas provenientes de tentativas, erros e acertos e não a
partir de uma estrutura teórica para conduzir uma pesquisa. Para ele não
havia um modelo pré-concebido de comportamento, seja fisiológico, mental
ou conceitual.
Uma grande contribuição dessa escola é que ao possibilitar medições,
avaliações quantitativas dos fenômenos do ser humano (o
comportamento), a “porta” da cientificidade foi aberta para a Psicologia,
possibilitando que se firmasse como ciência.
Muitas semelhanças ainda se encontram presentes na educação formal ou
informal com o uso do reforço para se alcançar resultados desejados. O
aprofundamento dessa linha de análise oferece um modelo de
aprendizagem que facilitaria a resolução de vários problemas.
3.3. Teorias de campo
Essa escola apresenta um fundamento racionalista e idealista e tem como
principais representantes Wertheimer (1880-1943), Köhler (1887-1967),
Koffka (1886-1941) e Kurt Lewin (1890-1947) que desenvolvem a Psicologia
da Gestalt ou Psicologia da Forma.
A proposição surge com o objetivo inicial de questionar a Psicologia
Americana como reação a uma psicologia que fraciona o comportamento
em estímulo e resposta. Para eles, os comportamentos e as experiências
não podem ser divididos e, na verdade, o “todo é maior que a soma das
partes”, sendo este um dos seus maiores pressupostos.
Não acreditavam em um processo de adição e sim em uma “síntese
integradora” que não corresponde a apenas às partes constituintes. As
pesquisas iniciam pela percepção e pela sensação do movimento.
Encontravam-se envolvidos na compreensão de processos que partiam de
um estímulo físico, mas traziam informações diversas; a ilusão de ótica, por
exemplo.
A idiossincrasia era evitada no momento que buscavam descrever os
fenômenos a partir da observação do sujeito. Procuravam alcançar Leis
Gerais Explicativas sem ter que utilizar o reducionismo das partes e é
exatamente através dessa universalidade que o discurso positivista
considera como um estudo científico verdadeiro. O ser humano é dotado
de estruturas pré-formadas que determinam e condicionam todas as
suas experiências perceptuais em uma totalidade do ser.
Outro teórico importante é Kurt Lewin, um dos primeiros psicólogos a
estudar as organizações, que também acreditava que os comportamentos
ocorrem no intercâmbio do indivíduo com o meio. Isso traz que cada
sujeito sintetiza suas experiências de formas diferentes, pois cada ser tem
sua dinâmica interna particular.
O comportamento é o efeito de um conjunto de eventos que coexistem em
uma determinada situação e essa inter-relação cria um campo dinâmico.
Concluindo, a principal contribuição desse agrupamento teórico reside no
fato de atribuir importância à percepção no processo de conhecimento,
enfatizando as diferenças individuais, sejam a nível de maturação de
funções cognitivas, sejam pela própria importância da significação de
conteúdos e experiências
3.4 Teorias psicanalítícas e neopsicanalíticas
Tal qual as teorias vistas anteriormente, essa nova visão também possui
uma base epistemológica que é a dialética, fazendo uma composição entre
o racionalismo e o empirismo. No entanto, uma grande diferença é que a
Psicanálise surge na clínica e não no academicismo. Seu fundador é
Sigmund Freud, médico psiquiatra que foi seguido por outros teóricos
(Erikson, Spitz etc.), formando então as teorias neopsicanalíticas.
Freud, discordando da visão organicista da psiquiatria, almeja uma
abordagem psicológica para as doenças mentais e mesmo usando o
modelo cartesiano da ciência se opunha aos racionalistas.
Na visão freudiana, o homem é extremamente comandado pelo
inconsciente, a racionalidade (consciente) e irracionalidade (inconsciente)
não se opõem. São as bases dialéticas de um único processo: o
da formação da personalidade.
A estrutura teórica de Freud tem como grande relevância o resgate da
subjetividade enquanto objeto de estudo da Psicologia. Ocorre, então, a
possibilidade de estudar a subjetividade (dimensão humana
essencial). Sua abordagem enfatiza os impulsos inconscientes e os seus
efeitos sobre o nosso comportamento.
Em relação ao desenvolvimento humano, Freud considera que o
desenvolvimento se baseia em uma criança que precisa satisfazer uma
série de necessidades em cada estágio evolutivo. Dessa feita, classifica o
desenvolvimento em uma série de etapas de acordo com a forma como a
satisfação dessa série de necessidades é estabelecida e, em todas, enfatiza
a importância da sexualidade.
Sua contribuição direta para a aprendizagem encontra-se no papel da
escola, que é auxiliar o aluno a equilibrar suas exigências instintivas
(Id), proibitivas (Superego) e da realidade (Ego)
Assim, educar é procurar fazer com que as pessoas atuem e pensem de
modo mais racional e mais prazeroso.
3.5 Teorias fenomenológicas e humanistas
A composição das teorias fenomenológicas e humanistas não é precisa
temporalmente, mas está vinculada ao criticismo de Kant. Seus
postulados preveem uma consciência a priori intencional, uma consciência
estabelecida na relação sujeito-objeto, em que o sujeito individual é a
própria origem e fim do conhecimento. É um sujeito que avança a partir de
suas vivências e seus valores, os quais darão a possibilidade de seu bem-
estar e realização pessoal.
Para essas teorias, o indivíduo vive conforme sua apreensão da realidade
do momento e não a partir de suas questões biológicas ou de seu passado.
Eles defendem uma aprendizagem significativa, raiz das teorias atuais de
Ausubell. Como representantes dessas teorias, citamos: Maslow (1972),
Rogers (1975) e Comb (1975).
Para Maslow, por exemplo, havia uma hierarquia de necessidades, muito
conhecida. Como teve a oportunidade de conhecer pesquisas realizadas
com filhotes de macacos para estudar seus comportamentos, aproximou-se
da Psicologia. Assim, começou a se dedicar aos estudos da motivação do
ser humano e suas necessidades.
Dentro desse ponto de vista, a contribuição para a educação concentra-se
numa aprendizagem significativa, não reduzida a apenas um acúmulo de
informações. Assim, o estudante a partir das informações poderá
reorganizá-las com mudanças expressivas de valores e atitudes em todos
os aspectos particulares da vida humana.
Para que isso aconteça, a aprendizagem deve partir do estudante dentro de
seus interesses e o professor é um facilitador desse processo. Sendo assim,
a aprendizagem é a possibilidade de o ser humano visualizar seus
fenômenos e a si mesmo, trazendo suas próprias estratégias de avanço.
3.6 Teorias psicogenéticas
Dando continuidade, as teorias psicogenéticas apresentam também uma
base dialética, mas de forma diferente das teorias psicanalíticas e neo-
psicanalíticas.
A dialética encontra-se no interacionismo, entendem que sujeito e objeto
interagem em um processo que constrói e reconstrói estruturas cognitivas.
Seus principais teóricos são Jean Piaget (1896-1980), Vygotsky (1896-1934),
Leontiev (1903-1979), Luria (1902-1977) e Wallon (1879-1962).

 Piaget
Para Piaget, a aprendizagem é construída passo a passo na proporção da
organização das estruturas mentais e cognitivas, de acordo com o
desenvolvimento da inteligência, que para ele significava adaptação. A
organização seria um equilíbrio entre o ser e o meio ambiente, cuja
interação resultaria nos processos de assimilação e acomodação. A
aquisição do conhecimento (assimilação) e sua interiorização (acomodação)
teria como resultado uma renovação interna. Esse mecanismo proporciona
que não haja uma ruptura entre o velho e o novo. O que surge é uma
adaptação intelectual e o progresso das estruturas cognitivas que ele
nomeia como equilibração, que é comum a todos os estágios de
desenvolvimento criados por ele.
 Vygotsky 
Vygotsky, também interacionista, aborda essa interação como uma
experiência social mediada por instrumentos e signos compatíveis com os
conceitos do próprio sujeito. Para ele, a interação baseia-se na linguagem e
na ação em que “desafios” da vida surgem, estimulando o progresso
constante da cognição e estruturas emocionais. Alerta sobre a dificuldade
dos desafios enfrentados, que para terem um resultado de sucesso deve
ser passível de superar e lança os conceitos de zona distal e zona
proximal. Ele defende que para haver crescimento, a periodicidade, a
própria irregularidade no desenvolvimento, as metamorfoses ou mudanças
é o que entrelaça os fatores internos e externos e os processos
adaptativos. Em tempo, cabe mencionar que Alexander Romanovich Luria
realizou muitos trabalhos junto com Vygotsky.

 Wallon
Já na abordagem interacionista de Wallon, a inteligência é genética e
organicamente social, ou melhor, "o ser humano é organicamente social e
sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar"
(WALLON apud CRUZ, 2014, p. 33). Dentro desse ponto de vista, o
desenvolvimento cognitivo é centrado na psicogênese da pessoa
completa. Para Wallon, as fases do desenvolvimento são descontínuas,
com rupturas e retrocessos que modificam as estruturas anteriores de
forma significativa. Não há um desenvolvimento linear, mas sim uma
reformulação de uma etapa a outra subsequente e que é nesse momento
que ocorrem as “crises” que afetam a conduta da criança. Ele fundamentou
suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo:
a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do “eu” como
pessoa.
Outras teorias, como Montessori, Ausubel, Emilia Ferrero, Edgar Morin,
Rubem Alves, Mario Sérgio Cortella, continuam os estudos como uma
demonstração de que a aprendizagem é um processo dinâmico com
modificações necessárias conforme o momento histórico e suas
necessidades.
E, então, com qual delas você se identificou?
4 Articulações na compreensão do
processo ensino-aprendizagem
É notório que ocorram as mudanças da sociedade conforme o período
histórico e, por conseguinte, o perfil dos estudantes também se transforma.
Com o olhar claro e crítico, como articular permanentemente a teoria e a
prática no trabalho docente? Compreendendo a importância
desse exercício contínuo, seu início precisa ser instigado desde a
formação dos educadores.
4.1 Formação docente
Ao pensarmos na formação docente, devemos rever a vereda para essa
formação que começa nas Escolas Normalistas, no nível da Educação
Básica. Cabe ressaltar as ofertas do Nível Superior, levando em
consideração também as dos diversos cursos, em geral, e o curso de
licenciatura como proposta formativa do profissional de Educação.
Dentre as qualificações gerais, temos desde profissionais liberais até
bacharéis caminhando para o campo da Educação, ocupando um papel de
educador e, muitos, sem nem a licenciatura. O que sabemos é que esses
profissionais têm como experiência educacional, até então, apenas
a qualidade de aluno.
Tal atuação reflete como papel do professor aquele que apenas concebe e
repassa conteúdos, uma prática tecnicista da relação ensino-
aprendizagem. Daí não ser incomum ouvir falas dos alunos que “este ou
aquele professor é um excelente intelectual, porém não sabe dar aulas, não
tem didática”.
Na condição dos avanços alcançados pelo desenvolvimento teórico da
Educação, nesse cenário da realidade, ou seja, na prática educativa, não há
mais como se reduzir a profissão de professor a apenas a transmissão de
seus conteúdos e técnicas. Há necessidade da retomada do significado do
saber escolar no diálogo com o saber dos alunos, com a realidade material
em que as práticas sociais se produzem.
Segundo Mizukami et al. (2002), aprender a ser professor não é uma tarefa
que seja concluída após estudos de um conjunto de conteúdos e técnicas
para transferência deles a outrem. Atualmente, esse modelo de
racionalidade técnica não corresponde e não dá conta à formação docente.
Há de se investir numa racionalidade prática, em que a aprendizagem
aconteça ao redor de situações reais que, de fato, são complexas e
detentoras de problemáticas particulares.
#PraCegoVer: A imagem mostra um professor e dois alunos em uma
bancada com um notebook aberto. O professor está ensinando algo para
os alunos e eles prestam atenção.

Ainda na questão da formação docente, estreitar o relacionamento


do ensino com a pesquisa é uma condição extraordinária para superar a
dicotomia teoria/prática. Seriam os professores pesquisadores se
preocupando em fazer ligações entre a pesquisa que realizam e os
conteúdos das disciplinas que ministram na graduação. No entanto, ter
clareza sobre as particularidades de cada atividade proporciona a
identificação do que é desenvolver um projeto de pesquisa adequado para
orientar projetos de alunos de graduação e de pós-graduação. A pesquisa
do aluno na sua formação não deve ser confundida com a pesquisa de
docente.
Sendo sustentada pelo referencial teórico do paradigma científico
emergente, as experiências inovadoras adotadas no processo de formação
dos profissionais propõem a busca da investigação, da problematização das
informações, tendo o ensino com pesquisa como principal indicador para
balizar essas inovações.
4.2 Articulações e cenários atuais
No século XX, mudanças apressadas e decisivas levaram a humanidade a
viver um processo de importantes mutações nos mais diferentes setores.
Nessas primeiras décadas do século XXI, as transformações continuam
conduzindo os processos culturais, econômicos, tecnológicos ao que
denominamos globalização.
Retomando que a função primeira da instituição escolar é garantir que os
alunos se apropriem dos conhecimentos produzidos pela humanidade, eles
deverão estar traduzidos em conteúdos escolares. No que se refere à
natureza e especificidade da educação, Saviani (2010) salienta que esta é
um fenômeno específico dos seres humanos. Ainda sobre essa
especificidade da Educação, o autor afirma: 
(...) dizer que a educação é um fenômeno próprio dos seres humanos significa
afirmar que ela é, ao mesmo tempo, uma exigência de e para o processo de
trabalho, bem como é, ela própria, um processo de trabalho. (SAVIANI, 2010, p. 11)
Assim, sendo um processo do ser humano e de sua filogênese, acompanhar
as mudanças é uma condição indispensável para o processo educativo. O
papel da escola precisa ser repensado atendendo às questões relativas
ao ensino-aprendizagem. O ensino reunido de forma fragmentada, que
reforça a importância da memorização, bem como padrões de normas, não
atenderá de forma satisfatória às exigências desse novo paradigma.
Antes de tudo, é forçoso lembrar que quando as instituições educacionais
foram criadas, o contexto era bastante diferente do que temos atualmente.
Essa nova era requer uma nova forma de pensar e agir para lidar com a
velocidade e a abrangência de informações, assim como o dinamismo do
próprio conhecimento. A organização do tempo e espaço e a diversidade de
possibilidades exige um novo posicionamento crítico e reflexivo do sujeito
ao realizar suas ações com novas prioridades de escolha.
Com tanta concorrência digital, o desenvolvimento de estratégias criativas e
de novas aprendizagens caminha para alcançar a melhor forma de ensinar.
Como propiciar aos alunos o desenvolvimento de competências para lidar
com as características da sociedade atual? Como enfatizar a autonomia e a
disciplina do aluno para buscar novas compreensões através da produção
de ideias e ações criativas e colaborativas?
Com uma tarefa tão inusitada, mais uma vez o envolvimento do aluno no
processo de aprendizagem é fundamental e para obter os resultados
exitosos, a escola deve propiciar ao
aluno sentido e funcionalidade naquilo que compõe o foco dos estudos
na sala de aula.
Em suma, a profissão docente não é apenas um saber isolado e um fazer
desconectado de ações de naturezas distintas organizadas em momentos
separados, mas sim um “know-how” (saber-fazer), cujo embasamento
seja um conhecimento e seu ponto forte seja a performance educativa.

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