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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 10ª VARA CIVEL

DA COMARCA DE SÃO LUÍS


Maria Zenóbia Sousa dos Santos, brasileira, solteira, aposentada, inscrita sob cpf
nº 409.402.093-49, portadora do RG nº 051948562014-5, residente e domiciliada na
Rua Valencia S/N Residencial Juriti, bloco 09, apt 303, Turu, cep 65066-335, São Luís-
Ma , representada por sua advogada Laurenita Costa Leite Bezerra OAB/MA 19870,
brasileira, casada, com endereço profissional na Avenida Vitorino Freire nº1958,
Edifício Buness Center (antigo Távola Center), sala 206, bairro Areinha, vem à
presença de Vossa Excelência propor a presente

AÇÃO DE INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA COM PEDIDO DE LIMINAR

em face do Fábio Henrique Sousa dos Santos, brasileiro, solteiro, desempregado,


inscrito sob cpf nº 011.624.103-96, portador do RG nº 000119491699-3 residente e
domiciliado na Rua Valencia S/N Residencial Juriti, bloco 09, apt 303, Turu, cep
65066-335, São Luís -Ma , pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

I DA GRATUIDADE DA JUSTICA
A requerente é aposentada com um salário mínimo não possuindo condições
financeiras para arcar com custas processuais sem prejuízo do seu sustento e da sua
família. Nesse sentido junta-se a declaração de hipossuficiência (doc. 1)
Por tal razão, pleiteia-se o benefício da Justiça Gratuita, assegurada pela Constituição
Federal, artigo 5º, inciso LXXIV e o pela Lei 13.105/15 (CPC), artigo 98 e seguintes.

II DA TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA
A requerente é pessoa idosa, 71 (setenta e um) anos, razão pela qual requesta a
prioridade de tramitação da presente demanda, nos termos do Estatuto do Idoso – Lei
10.741/2013 e nos termos do artigo 1.048, inciso I, do CPC/2015.

III DOS FATOS


A requerente é mãe do requerido que está com trinta e seis anos, Fábio Henrique
Sousa dos Santos, é “dependente químico”, possuindo dependência em estado grave,
conforme internações anteriores. Atualmente se recusa a fazer algum tipo de tratamento
e está vivendo como um “zumbi”.
O requerido tem reações agressivas contra os moradores de onde reside, passa o
dia todo fazendo uso de cocaína, está constantemente depreciando o portão de entrada
do condomínio (em anexo advertência dada pelo condomínio), ameaça quebrar os carros
dos condôminos, não trabalha e não está querendo mais saber de nada.
Devido ao grau que se encontra o vício do requerido, bem como a gravidade dos
efeitos à sua saúde, a vida de sua mãe e dos moradores do condomínio Juriti, a
requerente é tomada pelo medo de uma tragédia maior com o requerido, consigo mesma
ou até com os moradores (em anexo consta um B.O registrado pelo porteiro do
condomínio, que foi ameaçado pelo Fábio). Quando o seu único filho aparenta está
sóbrio, a mãe sofrida, pede para que este aceite a internação, porém o requerido se
recusa.
Na verdade, apesar deste quadro grave para sua saúde física e mental, bem como
para seu convívio em família e na própria sociedade, o requerido constantemente se
envolve em brigas de rua e é espancado, ficando desfigurado e levando sua mãe ao
desespero.
De fato, não somente o requerente, como toda a família e vizinhos do requerido,
vem sofrendo com os efeitos de seu vício, e seu consequente desequilíbrio psicológico.
O estado de saúde do requerido é grave, a ponto de sua vida estar
constantemente em risco, em virtude das mazelas que seu vício acarreta. As pessoas que
estão ao seu redor, principalmente sua mãe, também sofrem diante da patente
degeneração do requerido, o que comprova a necessidade do deferimento do pedido de
internação, para que, em estabelecimento adequado, possa receber os tratamentos
necessários.
Pelos documentos em anexo percebe-se que o requerido apresenta alto grau de
dependência química, já foi internado voluntariamente outras vezes e em razão de seu
vício não possui o discernimento necessário para entender a necessidade de um
tratamento médico para sua melhora.
Assim, sendo tal internação em entidade de desintoxicação uma medida de alto
custo, e não tendo a família do requerido condições financeiras de arcar com o
pagamento, deve o Estado custear o tratamento, ou disponibilizar tratamento
equivalente e igualmente eficaz, em clínica pública especializada.
Assim, a intervenção do Judiciário é imprescindível para que se determine ao
Poder Público que custeie a internação e o tratamento do requerido em estabelecimento
de custódia e recuperação de “dependentes químicos”.

IV DA NECESSIDADE DE INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA

Conforme esclarecido, o requerido Fábio Henrique Sousa dos Santos é um


“dependente químico” em estágio avançado, e já tem sua capacidade de discernimento
comprometida. Ele não aceita se submeter de forma espontânea a tratamento.
Por não ter a autora condição financeira de arcar com os custos do tratamento, o
Estado é parte legítima para figurar no polo passivo da presente ação, vez que a ele cabe
as providências necessárias para disponibilização de tal tratamento.
Desse modo, tanto é possível a internação compulsória involuntária do
requerido, como incumbe ao Estado figurar no polo passivo da ação para que seja
reconhecida sua responsabilidade e dever de providenciar ao paciente o tratamento que
necessita.
Consagrando o que aqui se expõe, citamos a seguinte tese firmada:

 Tema 793 do STF – tese firmada: "O tratamento médico adequado aos
necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, sendo
responsabilidade solidária dos entes federados, podendo figurar no polo
passivo qualquer um deles em conjunto ou isoladamente."

Assim, visando a consagração do direito magno à saúde, é razoável a


intervenção do Poder Judiciário a fim de determinar, de um lado, a internação
compulsória do requerido e sua submissão ao tratamento de desintoxicação e
recuperação, e, de outro, que o Estado tome as providências que se fizerem necessárias
para disponibilização de um tratamento adequado e eficaz.

V DO DIREITO AO TRATAMENTO
O dever dos entes estatais de disponibilizar adequado tratamento de saúde vem
expresso no artigo 23 da Constituição Federal, e é compartilhado pela União, pelos
Estados e pelos Municípios, sendo todos solidariamente responsáveis. Vejamos o texto
legal:
“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
(...)
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas
portadoras de deficiência;
(...)”
Não se deve perder de foco que a questão ventilada nesta ação está diretamente
relacionada com o direito à saúde, bem de todos e dever do Estado, que por
mandamento constitucional está compelido a assegurá-lo em caráter de universalidade.
O direito à saúde, em discussão no caso vertente, é daqueles que integram o
mínimo existencial garantidor da dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos da
República (artigo 1º, III, da Constituição da República), e previsto em diversos outros
dispositivos:
“(...)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes
[...]”.
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição”.
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação”. (grifos nossos).
(...)
A Lei 13.840/2109 dispõe sobre O sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas e as condições de atenção aos usuários ou dependentes de drogas e para tratar do
financiamento das políticas sobre drogas. Vejamos o texto legal:

(...)

“Art. 23-A. O tratamento do usuário ou dependente de drogas deverá ser ordenado em


uma rede de atenção à saúde, com prioridade para as modalidades de tratamento
ambulatorial, incluindo excepcionalmente formas de internação em unidades de saúde
e hospitais gerais nos termos de normas dispostas pela União e articuladas com os
serviços de assistência social e em etapas que permitam:

(...)

§ 3º São considerados 2 (dois) tipos de internação:


(...)
II - internação involuntária: aquela que se dá, sem o consentimento do dependente, a
pedido de familiar ou do responsável legal ou, na absoluta falta deste, de servidor
público da área de saúde, da assistência social ou dos órgãos públicos integrantes do
Sisnad, com exceção de servidores da área de segurança pública, que constate a
existência de motivos que justifiquem a medida.
(...)”
E além de todos estes preceitos constitucionais e legais invocados, constantes em
nosso ordenamento jurídico, é de se ressaltar também a previsão do direito à saúde na
esfera internacional, em tratado internacional sobre Direitos Humanos incorporado ao
direito pátrio.
Com efeito, o Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos
Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – Protocolo de San
Salvador, adotado em São Salador, El Salvador, em 17 de novembro de 1988, ratificado
pela República Federativa do Brasil em 21 de agosto de 1996, dispõe em seu artigo 10
sobre o Direito à Sáude, destacando o seguinte:
“Toda pessoa tem direito à saúde, entendida como o gozo do mais alto bem-estar
físico, mental e social.”
Assim sendo, o descumprimento do dever estatal em propiciar ao paciente
condições adequadas ao exercício do direito à saúde constitui infração a disposição de
direito internacional contida em Tratado de Direitos Humanos.
Além disso, a dispositivo invocado é claro ao expor que direito à saúde constitui
direito ao gozo de bem-estar físico, mental e social.
A permanecer nas condições em que se encontra o requerido não está em
condições de gozar de bem-estar físico, visto que seu vício provoca indiscutíveis
prejuízos ao seu corpo; de bem-estar mental, visto que sua dependência está a lhe
acarretar até mesmo a incapacidade civil; e tampouco de bem-estar social, visto que nas
condições em que se encontra ele além de estar incapacitado de ter vida social também
está a provocar riscos em prejuízo do corpo social que o cerca.
Incontestável, pois, a obrigação estatal em propiciar ao requerido o tratamento
médico adequado à sua desintoxicação e libertação do vício, em consagração ao direito
fundamental à vida digna e saudável.
VI DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
Justifica-se a concessão da tutela, antecipadamente, nos termos do artigo 273 do
Código de Processo Civil, eis que a obrigação legal do Estado, somada à gravidade do
estado de saúde e do perigo constante a que está submetida a vida do requerido,
circunstâncias estas aliadas a condição financeira da requerente, autorizam a medida.
Assim, a plausibilidade do direito ameaçado de lesão — fumus boni iuris — está
demonstrada pelo reconhecimento do direito à saúde como direito público subjetivo de
todos e pela correlata obrigação estatal de garantir e efetivar esse direito; e o periculum
in mora manifesta-se na necessidade de se prover, urgentemente, o tratamento
especializado de que carece o requerido Fábio Henrique, que é imprescindível à
manutenção de sua vida e de sua saúde.
Autorizando a antecipação dos efeitos da tutela, a fim de, liminarmente, realizar-
se a internação do dependente químico que necessita de tratamento, seguem os
seguintes julgados:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO.
INTERNAÇÃO HOSPITALAR. DEPENDÊNCIA QUÍMICA. ANTECIPAÇÃO DE
TUTELA. Presentes os requisitos autorizadores para a concessão da antecipação de
tutela, deve ser reformada a decisão que indeferiu o pedido de internação em hospital
especializado para dependentes químicos. RECURSO PROVIDO. UNÂNIME. (Agravo
de Instrumento Nº 70011541109, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Roque Joaquim Volkweiss, Julgado em 06/07/2005). (grifo nosso).
AGRAVO. DIREITO À SAÚDE. PEDIDO DE AVALIAÇÃO E ENCAMINHAMENTO A
TRATAMENTO CONTRA DROGADIÇÃO SOB PENADE BLOQUEIO DE VALORES
NAS CONTAS DO MUNICÍPIO. 1. Consagrando o direito à saúde, de matriz
constitucional, não somente é admissível como é recomendável a antecipação de
tutela, diante da omissão de poder público em providenciar avaliação e - se
necessário - tratamento adequado a drogadito na rede conveniada ao SUS ou, na
falta desta, em nosocômio particular. 2. O bloqueio de valores é medida legalmente
prevista que visa a assegurar a tutela específica da obrigação quando o obrigado
permanece inerte diante da determinação judicial. NEGARAM PROVIMENTO.
UNÂNIME. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Agravo de Instrumento Nº 70014040356,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos,
Julgado em 12/04/2006). (grifo nosso).
O fato é que no presente caso, a necessidade de concessão da tutela antecipada é
medida extremamente necessária, visto que a cada dia as condições de saúde do
requerido pioram, apesar dos constantes esforços da família.
Necessário, pois, o deferimento imediato da tutela antecipada, em decisão
liminar (inaudita altera parte), para que o Estado seja compelido a recolher o paciente
em Instituição clínica de tratamento, pois, de outra forma, o requerido prosseguirá
fazendo uso de cocaína, agravando seu já delicado estado de saúde, fato que acarretará
dano irreparável ou de difícil reparação.
Assim, espera a autora a antecipação dos efeitos da tutela, nos moldes do já
exposto, a fim de que seja determinada a internação compulsória do requerido em
clínica especializada no tratamento de dependentes químicos, clínica essa a São
Francisco de Neuropsiquiatria Ltda, localizada na Estrada da Mata, Jardim Lisboa, nº08,
Cidade Operária, CEP 65058-432, nesta capital. O requerido já teve anteriormente
internado nessa clínica e foi positivo o seu tratamento.

VII DOS PEDIDOS


Fortes em tais fundamentos, requer:
a) Seja concedida a gratuidade da justiça;
b) Seja a presente ação recebida e autuada de forma da lei, deferindo-se
liminarmente o pedido de internação compulsória;
c) Ao final, requer seja confirmada a liminar deferida, internando-se o requerido
Fábio Henrique Sousa dos Santos, na Clínica São Francisco de Neuropsiquiatria,
localizada na da Mata, Jardim Lisboa, nº08, Cidade Operária, CEP 65058-432
nesta Capital, pelo tempo necessário para seu reingresso na sociedade.
d) Seja o requerido encaminhado para o tratamento de drogas
e) Protesta em provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas,
em especial a prova documental, testemunhal e pericial

Atribui à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais).

Termos em que,
Pede deferimento.
São Luís, 19 de Agosto de 2020.

Laurenita Costa Leite Bezerra


OAB/MA nº 19870

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