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DE MÃE PARA MÃE -

CAMINHOS PARA EDUCAR NO LAR

VISÃO

ANTROPO-

LOGICA

FABIANA CAMARGO

@bia_maternidade_familia
A Criação de Adão é um fresco de 280 cm x 570 cm,[1] pintado por
Michelangelo Buonarotti por volta de 1511, que fica no teto da Capela
Sistina. A cena representa um episódio do Livro do Gênesis no qual
Deus cria o primeiro homem: Adão.

A visão antropológica que passam para as crianças é aquela em que


Nietzsche rompe com os valores morais que nos foram dados e chega
a declarar a “morte de Deus”, na espera de que um “novo homem”
surja. Marx, por sua vez, declara que o homem real é aquele que
satisfaz as suas necessidades econômicas, e assim a sociedade, que
recusa Deus, fica confusa, são inúmeras as teorias mas vamos àquela
que nos importa aqui:

A visão antropológica correta sobre o que é o homem diz:

O homem é uma criatura racional composta de uma alma e um corpo.


No livro Catecismo ilustrado temos:

"A alma é um espírito criado à imagem de Deus para ser unido a um


corpo, e que jamais morrerá. A nossa alma é capaz de conhecer, amar
e agir livremente.

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É certo que a nossa alma é imortal , e esta verdade não pode ser
negligenciada na educação dos filhos. Pois aqui está uma verdade
eterna. Não se educa com uma mentira.

Para você trabalhar com seus filhos,


indico o livro:

The Doré Bible ilustrations, o catecismo


ilustrado, e livros de arte sacra.

Apresente o belo da Criação com livros


de artes de boa qualidade, exemplo no
vídeo - a capela Sistina
-

A abóbada da capela sistina. Miguel Ângelo, em 1.508, No centro da


abóbada estão os episódios de Gênesis. A presença dos profetas com
o sentido histórico do Antigo Testamento. O dom da profecia
permite ler, com uma nova luz, a da redenção, as cenas do antigo
testamento: a embriaguez de Noé torna-se assim a figura de Cristo
escarnecido: o dilúvio, figura do batismo, enfim... Os antepassados
de Cristo representados nas velas e nas lunetas segundo a sequência
indicada no início do evangelho de São Mateus e assim por diante...

Foi assim que, um dia, depois do Miguel não estar mais indo para a
escola, sim! Porque eu tirei ele sem saber o quê ia fazer e então dei
férias de uma semana para eu ruminar!

Enfim, foi assim que um dia eu o chamei e disse:

- Filho, hoje será o seu primeiro dia de educação domiciliar, vem


aqui, nós vamos começar do começo, vamos começar em Gênesis.

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Eu não tinha uma biblioteca em casa, mas eu tinha o principal: Eu
tinha a Bíblia e o catecismo!

Foi assim que começamos no homeschoolling aqui! Depois adquiri o


livro: "Isto ou aquilo" de Cecília Meireles, poemas de Olavo Bilac,
livros de fábulas e etc.

E nunca será demais repetir:

As famílias educadoras têm diferentes


modos de começar e
está aí a beleza da liberdade!

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TÍTULO: "PORQUE, além das Escrituras, você deve ler
POESIA PARA SEUS FILHOS DESDE PEQUENOS?"

SEGUE ARTIGO DO PROFESSOR RAFAEL FALCÓN:

O que é poesia

Fim, limites, natureza e função da arte poética

Para que haja uma teoria da poesia, é necessário saber qual é o fim
dessa arte e que meios lhe são convenientes. Mas primeiro deve-se
perguntar o que é poesia; e diremos que hoje se entende por essa
palavra certa modulação do discurso, isto é, uma maneira de falar,
que tende a valorizar o ato mesmo da fala, transformando-o em
objeto de contemplação e deleite. Assim, poesia é o discurso em
função do deleite.

A relação entre discurso e deleite tem desenvolvimentos


importantes. Todo discurso, como diz a gramática, é composto de
significante e significado, e o deleite poético, portanto, é produzido
em relação com esses elementos. Ora, como a função da língua é
comunicar, na linguagem corrente o significado é priorizado sobre o
significante; já na poesia, como seu fim é o deleite, surge uma
competição entre a função de significar e a de comprazer.

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É claro que o poema nem pode deixar de ser linguagem, nem pode
deixar de ser poema; mas ora será mais poema que linguagem, ora
mais linguagem que poema — caso em que diremos ser “prosaico”. À
medida que a função propriamente poética prevalece sobre as
outras, o poema se torna mais perfeito, e em lugar de “contar uma
história” ou “expressar um sentimento”, transforma-se num artefato
ou opus, convertendo a linguagem humana em instrumento a serviço
da beleza.

Não obstante, a beleza é obtida mediante a linguagem, de forma que


o poema é comunicação, e é por comunicar, e conforme comunica, que
se torna belo. Não corresponde à realidade, portanto, a idéia hoje
vulgar de que o assunto do poema seja indiferente, importando
apenas a “forma”; pois o assunto é parte da forma, e dele depende,
em grande parte, a beleza do artefato, como a qualidade do mármore
contribui para a perfeição da estátua.

Além disso, nada impede que a poesia seja usada para fins outros,
como favorecer um partido político ou despertar interesse por uma
disciplina acadêmica; pois como sua função é produzir deleite, ela
extrairá do partido ou da disciplina, que tomou como seu objeto,
tudo o que ali houver de mais agradável, para atingir seu próprio fim.
Contudo, o poema em si não pode ser escrito pensando em persuadir,
ou se tornaria um discurso retórico, mesmo que em versos; nem em
excitar a inteligência, ou seria uma palestra acadêmica, ainda que
metrificada. O poeta trabalha como artífice, visando à beleza de seu
artefato, e não à exaltação do material utilizado. Daí que um homem
letrado possa, por exemplo, detestar a Igreja Católica, e mesmo
assim ler Dante com grande gosto; ele reconhece a beleza do poema,
e talvez até a da fé católica, mas tal não basta para persuadi-lo a
converter-se, pois o fim da poesia não é persuadir.

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Utilidade da poesia

É bem verdade que, uma vez transmutado em poema, o assunto entra


em simbiose com a forma poética: por um lado, é dele que o poema
extrai parte de sua beleza; por outro, o opus resultante contribui
para exaltar e favorecer os valores incorporados em sua matéria.
Este não é o fim imediato da poesia, mas sua função social, a qual
está como que embutida no objetivo de deleitar.

Em outras palavras, não se trata aqui do fim da arte poética, mas de


sua justificativa perante a comunidade humana; e como o poeta não é
apenas poeta, mas também e principalmente homem, este é um tópico
importante para a sua formação. Não há artífice que um dia não se
pergunte para que serve a sua arte, e que não se sinta diminuído ou
perdido ao perceber que não sabe a resposta: por melhores que
sejam os sapatos que faz o sapateiro, se ele tiver dúvidas sobre o
valor de sua função social, não poderá permanecer contente.

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Ora, como a poesia é o discurso em função do deleite, convém
perguntar qual seria a utilidade de deleitar pelo discurso. E sendo
todo discurso comunicação, o que investigamos é para que serviria
tornar bela a comunicação. Mas “comunicar” é transmitir a outrem
alguma idéia, seja ela simples ou complexa, e embelezar a
comunicação é, portanto, embelezar a própria idéia comunicada. A
idéia, por sua vez, atinge a inteligência e permanece na memória; se é
bela, permanece como valor. Portanto, o valor é uma idéia bela; e a
utilidade da poesia é formar valores. Assim, como atividade social, a
poesia é parte da cultura (no sentido clássico da palavra, de cultura
animi ou “cultivo do espírito”), tendo como irmãs a pedagogia, a
legislação, a oratória epidíctica e demais instrumentos formativos
que a sociedade dispõe para o aperfeiçoamento dos homens.

Por aí se entende que a poesia, em seus primórdios, estivesse tão


unida ao culto religioso, às leis, à filosofia e, de modo geral, aos
valores dos povos: não há modo mais eficiente de preservar uma
cultura do que tornando-a bela, pois a beleza inflama o coração do
homem e mantém viva a memória das coisas. Se o poema de Dante
não persuade, diretamente, a uma conversão, ele aumenta e
intensifica, no entanto, a comunhão de valores; de forma que, apesar
de não aderir à Igreja como fiel, creio nas mesmas coisas que ela crê
— ou, se não creio, ao menos gostaria de crer, pois vejo sua beleza, e
como que as idealizo e desejo amá-las. Não obstante, pode muito
bem ser que não tenha forças para transformar esse desejo em ato:
Nondum amabam, et amare amabam. Assim, a poesia não pode
converter ninguém a uma religião, mas ajuda a sustentar uma cultura
religiosa.

Por que meios a poesia atinge seu fim

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É característico da poesia que o seu prazer se dê por meios
discursivos: o acompanhamento musical, a presença de dançarinos, o
uso de imagens ou animações não parecem fazer parte do conceito
de poesia. Uma associação impactante de imagens, que por si mesma
produza deleite, não é chamada de “poética”; mas se as imagens são
evocadas por palavras, o impacto se torna poético de todo direito.
Isto mostra que a palavra “poesia” designa um tipo específico de
prazer que se obtém apenas pela linguagem.

Por isso, os recursos de um dado poema serão os recursos do idioma


em que o poema foi escrito. Dentre os elementos mais óbvios que
podem ser manipulados pelos poetas, consta a construção musical da
fala, segundo as regras de cada idioma: daí vem o uso da rima, que
em tantos idiomas modernos se consagrou como marca da poesia. Daí
também os aspectos menos conhecidos do grande público, mas
igualmente importantes em nossa tradição, como o metro fixo, os
tipos de estrofe, etc.

Contudo, apesar de os elementos musicais serem mais palpáveis, não


são os únicos nem os mais importantes da linguagem poética; há um
imenso rol de figuras de linguagem, desde a manipulação de
expressões e provérbios populares até os jogos conceituais mais
intricados, que ficam à disposição dos poetas para criar o seu
artefato linguístico.

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Veja-se o exemplo abaixo:

Sete anos de pastor Jacó servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
Luis de Camões

Os dois primeiros versos, quanto ao conteúdo conceitual, compõem


uma narrativa prosaica; entretanto, ainda que não pudéssemos
perceber a divisão do texto em versos, haveria o metro fixo, o
ritmo, a construção algo concisa e elegante demais, que denunciam
tratar-se de poesia. Na segunda metade da estrofe, saltam aos olhos
as figuras de linguagem: primeiro, a contradição paradoxal que força
uma releitura do verso anterior (até então quase prosaico),
transformando retroativamente um mero adjunto adnominal no
objeto mesmo do verbo; segundo, a repetição retórica de servia;
terceiro, a repetição do objeto a ela com mudança do verbo, a ponto
de gerar efeito de zeugma. A profusão de figuras de linguagem
parece patentear mais a natureza poética desses dois versos, por
causa de seu impacto sobre a sensibilidade.

O papel dos elementos fixos

A percepção visual do verso, isto é, de um rompimento demasiado


frequente na estrutura da frase, é hoje o principal indício usado
para identificar um poema. Quer isto dizer que, se não tiver acesso
ao texto escrito, o leitor moderno não sabe julgar se está diante
dum poema ou não. Essa dificuldade pode causar a falsa impressão de
que a poesia não tenha uma natureza objetivamente diferente da
prosa. Trata-se, porém, apenas de falta de treinamento adequado
para perceber o que as distingue.

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As crianças, por sua vez, costumam identificar um poema pela
presença de rimas, ou por um metro fixo, que são elementos mais
robustos do que a disposição visual do verso, pois permitem a
identificação por via auditiva; contudo, nem a rima nem o metro fixo
são essenciais à poesia. Ambos estabelecem certo padrão por detrás
das variações sonoras necessárias à comunicação, isto é, contrastam
um fundo permanente e uma superfície variável, o que causa prazer
e, por causa da repetição, facilita que o poema seja memorizado.
Como a finalidade da poesia é deleitar pelo discurso, um poema que
não causasse deleite na dimensão sonora estaria deixando de
cumprir sua finalidade no elemento mais palpável da linguagem. Daí
que o metro e a rima sejam tão característicos da poesia e, em
muitas épocas e lugares, uma necessidade praticamente
incontornável.

Ademais, se metro e rima não são essenciais à poesia, o mesmo não


se pode dizer das figuras de sonoridade; o texto que não seja
significativamente dotado de prazer sonoro se exclui ipso facto da
poética, já que, como dissemos, recusa-se a cumprir sua finalidade.
Podemos reconhecer elementos poéticos num texto prosaico, mas
não o chamaremos de poema se não satisfizer os requisitos mínimos;
assim também reconhecemos que um utensílio doméstico muito
bonito é “praticamente uma obra de arte”, mas como a forma do
utensílio não tende completamente à beleza, uma vez que sofre
coerções de natureza utilitária, não pensaremos que seja de fato
uma obra de arte.

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Prosa poética e poema em prosa

Para iluminar as fronteiras de poesia e prosa, é útil examinar aqueles


gêneros intermediários que hoje se classificam como “prosa poética”
e “poema em prosa”. Embora haja alguma confusão entre os termos,
que para alguns podem até ser intercambiáveis, tentaremos
estabelecer limites claros entre um e outro.

Veja-se um exemplo clássico de prosa poética:

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha
recendia no bosque como seu hálito perfumado.

José de Alencar

O ritmo hipnótico, a escolha da palavra indígena jati, que designa


uma espécie de abelha, as comparações com bichos e plantas não
descrevem simplesmente Iracema, “a virgem dos lábios de mel”, mas
antes criam uma atmosfera deleitosa, em que não se lê apenas para
“saber o que se passou”, como se leria um jornal, nem sequer para
imaginar uma história excitante, como se leria um romance comum,
mas pelo ato mesmo de ler — e é preciso ler em voz alta, ou ao menos
imaginar vivamente que o faz, para experimentar o prazer da leitura.
Assim, a prosa de Alencar é muito próxima da poesia, por tender
quase tanto ao deleite pelo discurso quanto tende à comunicação de
sua narrativa. Daí podermos chamá-la de “prosa poética”; mas não
pareceria razoável considerá-la um “poema em prosa”, a não ser que a
função poética ali estivesse sensivelmente acima da função de
comunicar.

Observemos agora, em comparação, o verso a seguir:

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Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que
são doces.

Vinicius de Moraes

Se quiséssemos contar, nele acharíamos vinte e uma sílabas poéticas.


Tomado na superfície, poderia ser uma prosa curta, como certos
bilhetes de amor; mas uma leitura mais cuidadosa exclui
completamente tal possibilidade. O sinal mais evidente talvez seja o
modo de expressão vago, etéreo; como na subordinada que são doces,
tão questionável do ponto de vista lógico, tão estranha ao uso
corriqueiro da língua. Contudo, é sem dúvida o ritmo que comprova o
caráter poético do período: é demasiado firme para a prosa.

O “verso” em questão parece um composto de três versos menores,


sendo o primeiro um octossílabo com peônios de quarta: eu deixarei
que morra em mim; o segundo, um eneassílabo em ritmo anapéstico: o
desejo de amar os teus olhos; o terceiro, enfim, um trissílabo que
mantém o ritmo do anterior: que são doces. O eneassílabo anapéstico
é clássico, e foi celebrizado por Gonçalves Dias: não descende o
cobarde do forte; e a presença do jambo em ritmo anapéstico é
orgânica e inclusive tradicional, como se vê no “martelo agalopado”
dos cordelistas. Um período dotado de tanta musicalidade tem de
ser poesia: bem poderíamos chamá-lo de “verso prosaico”, e com
outros semelhantes comporíamos um “poema em prosa”.

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Unidade e forma

Explicamos por que a estrutura melódica é fator definitivo na


formação de um poema. Seria, porém, um erro pensar que basta uma
sonoridade agradável para fazer um bom poema. Satisfazer às
exigências mínimas é apenas o começo: põe o texto dentro das
fronteiras do gênero, mas não lhe confere por si só o
desenvolvimento conveniente. Para tanto, é necessário não apenas
produzir algum deleite, mas o maior possível com os meios que lhe
são próprios, e com perfeita harmonia entre seus elementos
constituintes. Nesse sentido é que os grandes autores censuram a
presença de partes desnecessárias, ou a incoerência entre elas, ou
alguma impropriedade para com o assunto escolhido. Isto é o que se
chama unidade ou forma poética.

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Todo instrumento deve ter exatamente as partes necessárias para
cumprir sua função, e em perfeita ordem: um garfo com apenas uma
ponta seria tão defeituoso como seria se tivesse dez, ou como se as
tivesse espalhadas em círculo em vez de alinhadas. Ora, também na
obra que visa ao deleite, tudo deve contribuir para esse fim. A
música, quando repete demais as mesmas notas, provoca tédio; e se
nunca repete estrutura nenhuma, ou rejeita toda e qualquer
semelhança entre elas, irrita o espírito.

Horácio evoca satiricamente uma pintura que unisse cabeça de


mulher, pescoço de cavalo, um corpo coberto de penas e rabo de
peixe, observando que, como na pintura, também na poesia é
necessário haver coesão entre as partes. Contudo, como sugere a
construção mesma do monstrum horaciano, o poema —
diferentemente da pintura — é dinâmico, e sua coesão se constrói
dinamicamente durante a leitura, de modo que tanto produzir como
captar sua unidade é obra de intelectos treinados. E o que é mais:
esta exigência de unidade é tão grande, que não diz respeito só ao
nível das estrofes, ou dos versos, mas atinge o interior mesmo das
palavras, seus diversos níveis de sentido, sua sonoridade interna,
pedindo que tudo, desde a menor parte, tenda à forma maior e
última.

Ora, uma vez que o papel específico da poesia, dentre os demais


gêneros de discurso, é o de produzir deleite, e que para isso gera um
artefato uno e estruturado, visando à contemplação, torna-se claro
que é ela o gênero mais propriamente artístico de todos. Assim,
pode-se também dizer que é o gênero mais habilitado a expressar a
forma das coisas reais — em outros termos, é o modo de linguagem
verbal mais próximo da realidade. É claro que esta proximidade é
analógica e, como dizia Platão, a sombra de uma sombra, mas ainda
assim, na comparação com os demais gêneros, é a poesia o mais apto
a representar as coisas com integridade. De fato, ela está para a
escultura como a oratória está para a carpintaria, e algo parecido
pode ser dito dos gêneros restantes.

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Fundamentos da gramática

Considerações preliminares ao estudo racional da linguagem humana


A estrutura da inteligência humana é dual: sempre há uma superfície
e um fundo, a coisa que se entende e o conceito ou idéia que dela
extraímos. Se não houvesse um ente a que chamamos “mãe”, nunca
poderíamos formar uma idéia de mãe. Essa estrutura dual, em que há
uma “matéria” e uma “forma”, algo por meio do que se entende, e algo
que se entende, aparece de vários modos segundo os gêneros de
objetos da inteligência; as características desses diversos modos
distinguem as ciências e, além delas, também as artes liberais, cuja
natureza é próxima das ciências.

Em especial quanto às artes liberais, é igualmente pela relação entre


esses dois elementos que elas se distinguem entre si, e que se
estabelece sua hierarquia e ordem; é, portanto, daí que surge a
estrutura da pedagogia clássica e medieval. E como todos os autores
concordam que a primeira arte, origem e fundamento das outras, é a
gramática, supõe-se que os objetos gramaticais sejam os que
apresentam maior facilidade para a aplicação da inteligência.
E é assim, porque aquela dualidade se manifesta, na linguagem, de
modo especialmente simples e conveniente à inteligência ainda
destreinada. Enquanto que a maioria das artes e ciências busca
compreender a realidade externa, a gramática trabalha em primeiro
lugar sobre objetos mentais, como doravante mostraremos.

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Os níveis de significação

A estrutura da inteligência se reflete na estrutura da palavra, que é


composta de um elemento perceptível e um inteligível, isto é, daquilo
que ouvimos e daquilo que entendemos; ao primeiro chamamos
significante, e ao segundo, significado. Quando dizemos “gato”, há o
que se diz e se ouve, e há uma idéia ou conceito de gato, que estava
na mente de quem disse, e se evoca na mente de quem ouve; um é o
significante, e o outro, o significado.

Mas não é apenas no nível da palavra que aparecem esses elementos:


também ao dizermos algo como tem um homem te chamando no
portão, a frase inteira corresponde a uma idéia inteira, cuja unidade
e harmonia é mais que a soma das palavras que a compõem, e
portanto a frase, enquanto frase, também tem significante e
significado. O mesmo se pode dizer de um parágrafo, e de um texto,
e de um livro. Além disso, mesmo dentro das palavras há elementos
menores com significante e significado: a terminação de cheguei e
chegaste se repete, respectivamente, em falei e falaste,
significando em ambos os casos a mesma coisa.

O esquema desses níveis de significação, começando pelos morfemas,


daí passando à sintaxe, à interpretação de textos e, por fim, à
crítica de obras completas, é a chave de estudo da arte gramática;
de forma que, assim como a relação dual dos objetos da inteligência
se manifestava de vários modos, e a hierarquia desses modos é que
dava a ordem da pedagogia clássica, começando pelo trivium e
passando ao quadrivium, também dentro da mesma arte gramática há
vários níveis de significação, e é deles que mana a ordem interna do
estudo gramatical.

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A natureza do significante

Antes, porém, de estudar a estrutura da significação gramatical, da


qual falamos acima, é necessário examinar o significante e o
significado em si mesmos, e determinar sua natureza. E nesse
esforço convém principiar pelo significante, por ser aquele elemento
que parece mais palpável e, portanto, mais acessível.

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O significante, seja no âmbito da frase, palavra ou morfema, é
composto de unidades mínimas, ou átomos, a que chamamos fonemas,
em referência ao grego phónos (“som”). Contudo, há grande
diferença entre som e fonema. Som é uma categoria física
mensurável e, portanto, exata. Se as línguas humanas fossem
baseadas em sons, isto é, na emissão de certas ondas sonoras
específicas e exatas, não seria possível pronunciar a mesma palavra
de muitos modos. No entanto, ocorre precisamente o contrário: é
difícil que duas pessoas, falantes do mesmo idioma, pronunciem a
mesma palavra exatamente da mesma maneira.

Além disso, dentro do mesmo país há regiões em que a mesma


palavra se pronuncia de forma claramente diversa daquela que se usa
em outras, sendo ambas as formas percebidas como distintas, e seus
falantes não raro publicamente expostos pela peculiaridade, e até
ridicularizados uns pelos outros; e esses mesmos sons são
paradoxalmente aceitos como variantes legítimas do mesmo fonema.
Isto prova que a disparidade fonética, ainda que percebida, e
portanto consciente, não destrói a integridade da língua. Ora, se a
unidade mínima do significante fosse destruída pela variação dos
sons, a língua inteira o seria juntamente. Fonema, portanto, não é a
mesma coisa que som, e há certa medida de independência entre sons
e fonemas.

A incapacidade de reconhecer fonemas é o que impede os cães de


obedecer a comandos verbais de pessoas estranhas. Sua intolerância
não se restringe a sotaques e peculiaridades linguísticas; até o
timbre de voz do novo dono pode bastar para confundir o cão. O fato
de os seres humanos conseguirem criar categorias abstratas, dentro
das quais diversos sons são classificados como um só, parece
essencial para que um único idioma possa ser falado em grandes
extensões territoriais. Se fôssemos tão rígidos na audição das
línguas humanas como são os cães, não reconheceríamos a mesma
palavra quando falada por duas pessoas muito diferentes, e a
comunicação verbal seria incomparavelmente mais difícil.

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É claro que, via de regra, o agrupamento de vários sons em um único
fonema é limitado por semelhanças materiais, sobretudo quanto ao
modo de produzir cada som no aparelho fonador: no Brasil, o fonema
[s] aceita a variante sibilante (“paulista”) e chiada (“carioca”), mas
ambos os sons são produzidos de forma parecida. Contudo, o que
explica que, em outras línguas, o chiado corresponda a um fonema
[sh] e o sibilo, a outro fonema distinto [s]? É que o agrupamento
fonético, apesar de influenciado pelas características do aparelho
fonador, é determinado de forma convencional pela comunidade
falante de cada idioma.

Pode-se, então, dizer que o fonema é uma categoria essencialmente


mental e convencional — isto é, independente das características
físicas dos sons, e determinada por convenções sociais — e que,
portanto, o elemento significante, considerado em si mesmo, tem
natureza mental e convencional. Assim, estaria errado quem
afirmasse que o significante é feito de sons, ou que é de natureza
física, material ou sensorial. Isso não é negar que haja alguma
relação entre o mundo físico e o estudo da linguagem, mas observar
que o objeto da gramática, desde o seu princípio, é sobretudo uma
estrutura interna da inteligência humana, a qual sofre grande
influência das convenções sociais.

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A natureza do significado

Quanto ao significante, para o fim de esclarecer os fundamentos da


arte gramática, basta o já dito, e os detalhes, deixemo-los para um
artigo cujo assunto exclusivo seja o fonema. Falta, porém, oferecer
abordagem semelhante ao significado, que é aquela sua contraparte
inteligível ou conceitual.

Em primeiro lugar, não se deve confundir o significado, nem com as


imagens da fantasia, nem com sensações e emoções que, por reflexo,
estejam associadas a algum som. Esses elementos não pertencem
exclusivamente à linguagem humana; compartilhamo-los com os
bichos, que podem até ser adestrados para responder a comandos
que, para nós, são verbais, sem no entanto compreendê-los de forma
verbal. O cão responde intensamente à palavra “passear”, mas não
sabe escutá-la como palavra: ouve os sons, mas não reconhece
fonemas; reage às sensações que o som lhe desperta, mas não possui
conceito, nem do infinitivo em -ar, nem do que possa ser um passeio,
para além das sensações corporais em sua memória.

Se adestrarmos um cão na cozinha, ele só obedecerá na cozinha; é


preciso readestrá-lo continuamente em diversos lugares para
garantir que o comando seja eficaz. Assim também, ele reagirá à
palavra “passear”, mas não à forma conjugada “passearás”, porque
não tem conceito de pessoa ou tempo gramatical; e jamais poderá
conceber que o verbo “passear” se aplique a outros indivíduos, ou em
circunstâncias diferentes, ou em sentido figurado. Sua reação será
idêntica e restrita, porque é automática e puramente sensível.
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As crianças humanas, por outro lado, não apenas conseguem
responder a verbos conjugados em vários tempos e pessoas, como
sabem perfeitamente que a palavra “passear” pode aplicar-se a
outros sujeitos, e não reagem como se sua simples menção
significasse que o passeio será delas. É verdade que não raro
compensam as vantagens da inteligência humana com uma reação
emocional pior que a canina; sed de hoc alias.

O significado está, pois, intimamente unido à natureza racional do


homem: se não fôssemos capazes de abstrair conceitos da realidade,
não nos seria possível formar algum significado. Ora, não havendo
significado, não poderíamos ligá-lo ao significante; e assim não se
formaria palavra alguma. Seríamos como cães, relacionando sons a
meras reações fisiológicas, e como tais reações não possuem unidade
ou estabilidade, não poderíamos combiná-las para formar frases;
sem frases, não haveria diálogo. Assim, é fundamental que o homem
seja capaz de formar conceitos dos entes materiais, para que possa
falar deles.

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Contudo, esses conceitos não são reflexos integralmente fiéis da
realidade; tal como ocorria com o significante, que era limitado, mas
não determinado pelo som, também os conceitos da língua refletem
as coisas do mundo de forma parcial e seletiva, e não se pode prever
ao certo que aspectos do ente serão reconhecidos e expressos pela
linguagem. Na formação de vocábulos, alguns idiomas privilegiam
diferenças acidentais, como tamanho, cor e formato, ou até o
contexto específico em que o referente aparece; outros são mais
abstratos e quase filosóficos; e essa flexibilidade dá a cada idioma
um temperamento ou espírito.

E assim como, quanto ao significante, havia divergências na


pronúncia, também as haverá no pensamento individual; e como os
fonemas subsumiam as diferenças de som, também os conceitos da
língua serão relativamente independentes das idéias pessoais. Posso
considerar o homem um animal naturalmente político ou achar que a
política lhe é contrária por natureza, contanto que minha idéia de
homem corresponda ao conceito mínimo da língua. Se eu acreditasse,
por exemplo, que homens são animais de oito patas, irracionais, que
vivem no fundo do mar, provavelmente seria difícil falar português
comigo. Pode-se, também, duvidar da existência de Deus e continuar
falando o mesmo idioma, contanto que, nas conversas sobre religião,
o uso da palavra corresponda ao seu conceito vulgar; caso contrário,
não haveria compreensão mínima entre as partes.

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Nota-se, até aqui, o surpreendente paralelismo entre as estruturas
de significante e significado: como havia divergências de pronúncia,
as há de pensamento, e como o fonema resolvia aquelas diferenças,
sem necessariamente eliminá-las da percepção, para que nos
pudéssemos comunicar, assim também o conceito linguístico exige
apenas uma concordância mínima, permitindo que diversas
impressões intelectuais e até visões de mundo bem diferentes
convivam e se comuniquem. Se a Torre de Babel provocou a divisão e
multiplicação dos idiomas, o castigo divino não foi tão grande que
destruísse completamente o diálogo entre os homens; bem ao
contrário, restou possível um retorno à unidade mediante as sutis
estruturas da linguagem.

@bia_maternidade_familia
Minhas anotações!!!
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@bia_maternidade_familia
Minhas anotações!!!
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