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Título: Amos Wilson: da PNL à epigenética


___________________________________________________________
Organização: Abibiman Shaka Touré
Arte: Zeni Frasão | O R U N

Obs.:

Material complementar versão pdf

Povo Preto, Pan-Africanismo e Poder Preto


Editora Poder Afrikano, 2021
“Nós somos história. Não podemos viver no futuro
– o futuro está sempre à nossa frente. E o presente é
essencialmente a vanguarda do passado. Você não deixa
seu passado para trás. O passado vive em seu cérebro;
no seu comportamento; a maneira como você vê a vida e
a maneira como se vê. Tudo o que acontece com você
no presente é filtrado pelas experiências passadas presentes
em sua mente. Isso significa que o passado está presente
operacionalmente a todo momento.”

Amos Wilson
“(...) Não importa se você pode delinear eruditamente as sutilezas e
nuances do racismo e discriminação racial
Se você pode dissecar delicadamente com a habilidade de um
cirurgião mestre
a anatomia da raça e do corpo político
Se você pode provocar o menor fio
Se você pode pintar o sonho mais bonito sobre a tela
E escrever a visão dos grandes em pergaminho
Ou viajar em sua máquina do tempo e visitar antigos
reinos, cidades e impérios Afrikanos
Ou sentir a dor e a degradação da escravidão
Ou celebrar tudo o que demos ao mundo
Ou apontar com grande exclamação o branco Demônio

Ainda assim, o desafio deve ser aceito


O fogo deve combater o fogo
Instituições, tradições, hábitos, esperanças devem ser arrancadas,
arrasadas e colocadas na tocha
Nenhuma pedra deixada sobre pedra
E instituições, tradições, hábitos, esperanças devem ser
restauradas,
reacendidas ou construídas novamente
Tijolos empilhados no lugar (...)”

Amos Wilson
Amos Wilson: da PNL à epigenética...
(...)

 Wilson (1991a, 1991b, 1981, 1978) contribui para os projetos


de definição das tarefas e parâmetros da psicologia Preta,

»Argumenta Wilson (1981:8), assim como Nobles e outros, que


uma compreensão da psicologia de Pretos, adultos e crianças, exige
que o estudo dos Pretos comece na África, não na escravidão.
Além disso, ele (1981:10) afirma que a psicologia Preta deve ser
extremamente cuidadosa com a aplicação da psicologia baseada na
Europa e o uso de seus modelos. De fato, ele sugere que a
psicologia branca nem sequer explica adequadamente os brancos
que “parecem empenhados em se destruir, assim como o resto do
mundo.”« Gostaríamos de enfatizar apenas mais dois pontos:

 Wilson afirma que o estudo da melanina é importante no


estudo do povo Preto.

»Argumentando que a história dos Pretos está em seus genes, ele


sugere superioridade Preta nas áreas de desenvolvimento mental,
funcionamento neurológico e desenvolvimento psicomotor da
criança Preta, todos relacionados à posse de um alto nível de
melanina. Melanina, ele afirma, não é simplesmente um agente
corante, mas “uma parte integrante do próprio sistema do corpo em
si operando no cérebro”. De fato, a capacidade da criança Preta de
sobreviver e a longa vida, em comparativo, dos Pretos estão
relacionadas à sua Pretitude.« Se isso é verdade, por outro lado...
A observação é a seguinte: quando falamos em epigenética,
pense em termos de memória celular. Existe toda uma literatura
que discute o assunto, mas vamos parar só em 2 conceitos-chave:
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) (tematizados em

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Apocalypse Now e no filme do Platoon...) e PTSS (sigla em inglês
para Síndrome Pós-Traumática do Escravo). O que interessa aqui é
o último (cf. Dra. Joy DeGruy – o livro que Gil Nobles elogiou e
Ana Maria Gonçalves se baseou...). McIntosh1 põe um slide com
os conterrâneos de Amos Wilson, alguns dos quais citamos
[citamos no livro], e pontua que a única mais nova ali é justo ela: a
Dra. Joy DeGruy, que se debruça sobre essa herança da dor...
McIntosh fala: “A primeira pessoa ou o primeiro lugar que eu vi
associar à PTSS, adivinha?”...
E o que parece ser uma dissertação de doutorado sobre a PTSS
(por Shari Renée Hicks) – destaca a seguinte passagem (estará no
nosso próximo livro): “A criança Preta, neste exato momento,
ainda é afetada e sofre com a experiência do escravo, quer ela saiba
ou não.” Por algum motivo, o candidato acaba omitindo a citação
que Amos Wilson faz de Russell Jacoby, de quem ele empresta, e
reformula, o conceito de amnésia social – passemos à citação:

Exatamente porque o passado é esquecido, ele governa sem


ser contestado. Para se transcender, é preciso primeiro se
lembrar. Amnésia social é a repressão da lembrança da
sociedade.

Agora sim, retomando a exposição do/a aspirante a/à “Doutor/a”...


– respeitando a divisão em parágrafos, como na edição original:

Simplesmente porque escolhemos esquecer um evento


traumático, simplesmente porque escolhemos não aprender
uma história traumática e uma história que pode nos fazer
sentir vergonha, não significa que essa história não esteja
controlando nosso comportamento.
Simplesmente porque não conhecemos nossa história, e
talvez não a tenhamos ouvido, não significa que a história não
controla nosso comportamento. Uma das coisas mais
profundas que aprendemos em psicologia é que as forças mais
poderosas que moldam o comportamento humano são aqueles
fatores que conscientemente não são lembrados pelos seres

1
James C. McIntosh, Amos N. Wilson: The Ultimate Garveyite (YouTube, 2017).

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humanos, que são desconhecidos pela pessoa, são aquelas
experiências que o indivíduo pode jurar que ele nunca teve.
Esse é um dos paradoxos do comportamento humano, que as
mesmas coisas que nos moldam e nos fazem se comportar da
maneira que nos comportamos, vermos o mundo da maneira
que o vemos e nos relacionar com as pessoas da maneira
como nos relacionamos, são coisas que ocorreram em nossas
vidas em momentos que não podemos lembrar ou recordar.

Tamanha não foi a nossa surpresa ao nos depararmos, usando as


palavras certas (epigenética, Amos Wilson...), o Irmão citado em
matéria de Kenia Maria ironicamente escrita pra uma revista
racista... A irmã começa bem, dizendo: “Dr. Amos Wilson
(psicólogo, sociólogo, autor e pensador dos Estudos Africanos)
mostrou que a chave para perpetuação e indução de qualquer tipo
de comportamento é um meio ambiente selecionado. Seres
humanos são parecidos com os animais. Sobrevivemos e agimos de
acordo com o que nos é apresentado pelo ecossistema e
sociedade.” A matéria (assinada com Matheus Dias) segue assim:
»O ambiente e o comportamento social têm a capacidade de ditar
sua expressão genética através de gerações. O Dr. Bruce Lipton
diz: “os genes são a planta para a construção de uma casa, fazendo
relação ao corpo e sua expressão”. Isso se chama epigenética.«
Dor a gente não supera, a gente “aprende a lidar”, como se diz:
traumas só serão superados em gerações, é uma coisa geracional –
daí a epigenética. Marcus Garvey/Amos Wilson reconheceu que
não podemos viver em negação, mas devemos nos confrontar
emocionalmente com nossas experiências históricas traumáticas,
nosso ego e orgulho ferido, jurar nunca mais, e seguir em frente!
Não pro seu bem-estar e conforto, apenas aprenda a lidar e conviva
com isso: expulsar, exorcizar nossos demônios! Caso você prefira
trabalhar com eufemismos, vamos chamar esses demônios de
“metaprogramas”, e assim falar a linguagem da chamada
Programação Neurolinguística (ou PNL). Sim, Dr. Amos Wilson
permite isso; o que nos leva à nossa última observação:

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 Wilson (1981:12) também está preocupado com o fato de
os Pretos terem sido reduzidos a usar apenas um lado do
cérebro.

»No lado direito, ele afirma “processa a informação...lida com o


mundo de maneira holística e (também) processa a música e a
arte.” O esquerdo é o lado analítico que desenvolve tecnologia,
matemática e assim por diante. Mas “o lado do cérebro que um
indivíduo usa é determinado pela experiência”, portanto, se nós
olharmos para a história e a experiência dos Pretos na América, nós
vemos essencialmente que o Europeu recompensou os Pretos por
usar o cérebro direito”, i.e., cantando, dançando, música e esportes.
Por outro lado, porque os brancos “têm medo de pessoas Pretas
intelectualmente assertivas”, Pretos são discriminados e
desencorajados a usar o lado esquerdo do cérebro, ou seja, o
linguístico e analítico. A necessidade é, portanto, de um equilíbrio,
pois “o ser humano supremo é aquele que pode equilibrar o uso de
ambos os lados do cérebro.”« O conceito-chave aqui sugerido seria
(com algumas limitações) a Programação Neurolinguística – PNL:
metodologia que trabalha com modelos; cérebro como hardware e
a mente como software. (Sua máxima: o mapa não é o território...)
Nossa segunda observação parte do conceito de menticídio
tomado de empréstimo por Amos Wilson de Bobby Wright: trata
do objetivo final do comportamento psicopata branco. Novamente
em nosso próximo livro, ‘A Falsificação da Consciência Afrikana’,
ele usa essa ideia-arma pra formular outras – como a psicohistória:
o resultado psicológico em curso de experimentar determinadas
experiências históricas. Logo, quando sugerimos a PNL e a
epigenética é porque, se por um lado temos esse “gênio natural” de
que nos fala Amos Wilson – e podemos usar as técnicas da PNL
para treiná-lo, capacitá-lo –, por outro lado, pensando em termos
de epigenética, nós devemos ter em mente uma coisa: os mesmos
genes que carregam em si teu passado glorioso, traz também
informações de dor e sofrimento, que no atual contexto gera
personalidades esquizoides (outra ideia-arma)! Lélia Gonzalez diz:
consciência exclui o que memória inclui... Amos dirá que há uma
consistência entre a consciência, a história e a memória que se tem

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– e sobre como o que você vai fazer afetará as gerações futuras... –
que, “quando você se comporta de uma maneira específica, precisa
pensar em sete gerações, a partir do seu comportamento”.

A longa epígrafe – que mantivemos na formatação original, tal


qual este material, como você pode notar – você ganhou logo que
consta no seu livro. Agora você também já sabe que este livro, a
gente procurou organizar para ser a síntese do BPP – se já o era
antes, com os documentos que acrescentamos, mais nosso texto de
apresentação/introdução, certamente isso enriqueceu o material.
Que este material sirva como um: modelo. E sem mais delongas...
Em nossa primeira publicação, antes até de adentrarmos em
nossa exposição propriamente dita – a apresentação de Marcus
Garvey e introdução a Amos Wilson –, já apontávamos que nosso
estudo se tratava de um que fosse etiológico; em outros termos –
atente pros grifo: »daí às várias causas disso na personalidade, que
reflete a consciência do sujeito; no caso, à escravidão, colonização,
racismo e supremacia branca.« A saber,vamos descomplicar o que
é etiológico – o estudo das causas. Para dar um exemplo proveitoso
vamos citar a Dra. Frances Cress Welsing em seu ensaio ‘A Teoria
Cress do Confronto das Cores e Racismo (Supremacia Braca) –
Uma Teoria Psico-Genética em uma Perspectiva Mundial’:

Me impressionou que o conceito de um “sistema” de


dominação branca sobre os povos “não-brancos” do mundo
pudesse explicar a situação aparente e o dilema da realidade
social dos “não-brancos”, eu estava inclinada a concentrar-
me, como uma psiquiatra, sobre qual seria a possível força
motivacional, operativa, tanto a nível individual como de
grupo, que poderia explicar a evolução dos padrões destas
práticas sociais e comportamentais, que, aparentemente,
funcionavam em todas as áreas da atividade humana
(economia, educação, entretenimento, trabalho, lei, política,
religião, sexo e guerra). Enquanto Fuller sugeria claramente
que este “sistema” consistia em padrões de pensamento, fala
e ação, praticados em vários graus pela maioria das pessoas

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brancas do mundo, o único comentário sobre etiologia que
ele fez foi o seguinte:

A maioria das pessoas brancas odeiam as pessoas


pretas. A razão pela qual a maioria das pessoas
brancas odeiam as pessoas pretas é porque as pessoas
brancas não são pretas. Se você tem este
entendimento sobre as pessoas brancas, então você
deve saber um pouco mais. Se você não tem este
entendimento sobre as pessoas brancas, virtualmente
todos os outros entendimentos que você tem sobre
elas servirão mais para confundi-lo.

Do comentário de seu mentor, Dr. Neely Fuller Jr., a Dra. Welsing


parte para formular sua própria teoria: “A teoria do confronto das
cores afirma que os europeus brancos ou deficientes na cor
responderam psicologicamente e com um profundo sentimento de
inadequação numérica e inferioridade de cor em seus confrontos
com a maioria dos povos [“não-brancos”] do mundo” – e feito os
comentários etiológicos – também voltaremos a falar da melanina.

***

Se no ‘...Garveyismo na Era do Globalismo” (GEG, por uma sigla)


sobretudo a segunda palestra pode ser lida junta à PNL – nosso
segundo livro, ‘A Falsificação da Conciência Afrikana...’ (FCA),
pode muito bem ser lido à luz da epigenética: é o que vamos tentar.
Antes precisamo definir PNL e epigenética, e por aproximação
– por tanto, de forma imprecisa –, diremos que a primeira está para
o cérebro; na medida em que a segunda área de investigação está
para os genes: um está para a consciência, o outro para a memória.
A PNL procura olhar para o cérebro como (o que não significa
dizer que é...) um “computador” – de fato, um supercomputador...
Nosso computador possui um hardware – cérebro/fatores internos
(genéticos) – e um software – mente/fatores externos (ambientais).
Nosso primeiro livro referência aqui é Ascensão de Prometeu,
de Robert Anton Wilson – RAW. Na medida em que avançarmos,
esperamos que o leitor entenda essa escolha.. E passando à citação:

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(...) a mente humana comporta-se como se fosse dividida em
duas partes, o Pensador e o Demonstrador.
O Pensador pode pensar em praticamente qualquer coisa.
A História mostra que ele pode pensar (...) que a Terra seja
plana, ou que a Terra esteja flutuando no espaço; a religião e
a filosofia comparativas mostram que o Pensador pode
considerar-se mortal, imortal, mortal e imortal ao mesmo
tempo (o modelo da reencarnação) ou até mesmo não
existente (Budismo). Ele pode pensar estar vivendo em um
universo cristão, em um universo marxista, em um universo
científico-relativista ou em um universo nazista – dentre
muitas possibilidades.
Tal como os psiquiatras e os psicólogos já observaram
(para o grande desgosto de seus colegas médicos), o Pensador
pode pensar-se doente e até mesmo pensar-se sadio
novamente.
O Demonstrador é um mecanismo muito mais simples.
Ele opera baseado em apenas uma lei: tudo que o Pensador
pensa, o Demonstrador comprova.

Duas observações preliminares: dizer que essa divisão é da mente –


ainda não corresponde à divisão do cérebro. A segunda observação
a se fazer, é que RAW em momento algum afirma que seu livro é
um livro sobre PNL; nós estamos lendo ele como um livro de PNL.
O mesmo é válido para Amos Wilson, que não usa a expressão
PNL – para “programação neuro-linguística”; tampouco cunha a
terminologia “epigenética”. E prosseguindo sobre esse mecanismo,
“O Demonstrador”, vamos trazer outras citação – de AW. Da nossa
primeira publicação (e depois reinicie a leitura, da última citação):

Quando você valoriza algo e esse valor é implantado em seu


cérebro, o cérebro evoca todos os seus recursos (...) organiza
essas coisas e as relaciona entre si de tal maneira que o valor
possa ser alcançado. (Pág. 202) [ênfase adicionada]

Portanto, nossos sentidos devem transmitir ao cérebro um


conhecimento preciso da realidade. Este é o único
conhecimento, em última análise, que o cérebro obtém do
mundo exterior. (Pág. 142) [ênfase adicionada]

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Antes de seguir, pros emoção, contra os afetado a gente se antecipa
e já vai logo dizendo que, por motivos óbvios, esse estudo é
introdutório. Seria impensável esgotar esses temas – e impossível.
Visão que é visão – visão de Heru, não de pombo... que só olha
pros dois lado, sem panorâmica... – os (que) “cria”, que tão
buscando o aprimoramento, os visão 3D pegou a visão. Isto posto.
Na nossa leitura, aquelas duas citação aproxima Amos Wilson
da PNL; é o suficiente: isso nos permite tomar de empréstimo as
técnicas desta pra desenvolver “as habilidades comportamentais, as
habilidades cognitivas, as habilidades de pensamento” (pág. 202) –
o cérebro tão somente “usando suas capacidades inatas, como
capacidades de raciocínio, capacidades comparativas,
conhecimento básico, memória e experiência (...)” (pág. 142).
Essa nossa capacidade de aprender, de criar mais do que reagir
de forma passiva aos estímulos (uma vez consciente) – retenha isso
em mente. Também dessa forma, memorize as duas últimas
palavras grifadas – memória e experiência; na melhor veremos a
importância da primeira – ligada à epigenética – pra criatividade;
na medida em que a segunda parece estar ligada ao ambiente – e a
linguagem: inata ou adquirida? Da consciência ao comportamento,
qual a função do pensamento? Por aqui faremos como aconselha o
coaching Dr. Amos N. Wilson: “devemos olhar para a função.”

Proposição 1 – o cérebro (hardware) está para o “Demonstrador”


como a mente (software) para o “Pensador” (e vice-versa!)

É como se o cérebro fosse a ponta do iceberg, a parte em oculto, a


“deep web”, o inconsciente... Pois o cérebro é composto de células,
e estas, por sua vez, dependem da informação contidas nos gene...
Amos Wilson argumenta que nossa história está no genes. Diz
(1) que na mente humana não existe passado: “Na mente humana,
o passado está sempre presente.” (2) E que nossos cérebros são
próprios, únicos: »Melanina, ele afirma, não é simplesmente um
agente corante, mas “uma parte integrante do próprio sistema do
corpo em si operanto no cérebro.”« Em outro momento – em nossa
introdução à vida e obra do homem –, citamos novamente Karenga
– que cita Amos Wilson, falando sobre as crianças pretas:

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Seus corpos representam essa história total, então elas não são
duplicatas de crianças brancas. Geralmente nascem com
maiores avanços sensórios, motores e intelectuais do que as
crianças brancas. Elas fazem coisas nos primeiros dias de vida
que, em média, levam seis meses ou mais para as crianças
brancas. Seus cérebros, quando testados com EEG
(eletroencefalograma) e outros métodos, demonstram muito
claramente que elas são, em geral, mais avançados
intelectualmente do que crianças brancas. Você deve entender
que a história não é algo que apenas acontece às pessoas, mas
se torna uma parte total de seu corpo e existência.

Agora parafeaseando o tio Amos: o passado vive em seu hardware;


no seu comportamento; a maneira como você vê a vida e a maneira
como se vê. Tudo o que acontece com você no presente é filtrado
pelas experiências passadas presentes em seu software...
Agora reinicie – a leitura, é lógico... e do início!
...antes, é importante frisar: dessa vez entenda o corpo como
uma extensão do cérebro, não caia na armadilha cartesiana –
portanto, quando falarmos de consciência, isso envolve também
consciência corporal, Espiritualidade Científica Africana – ECA,
daqui pra frente. Ao evocarmos tais palavras, símbolos, signos,
queremos por fim apresentar, especificamente sobre esse último
campo, seu desenvolvimento atual, com o foco de atenção voltado
à contribuição de Ra Un Nefer Amen da Ausar Auset Society.

***

Neste ponto queremos nos valer de outra definição de PNL,


conecte ao que foi dito até aqui: »A ideia central por trás da PNL é
a de que cada um de nós funciona com base em representações
internas do mundo (os “mapas”) e não no próprio mundo (o
“território”). A maior parte dos “mapas” que criamos são
distorcidos ou limitados. A tarefa do terapeuta é compreender o
“mapa” que o cliente faz do “território” « Atente para os grifos –
“distorcidos”, “limitados” – em momento oportuno, lidaremos com
as “representações”. Por hora vejamos mais estes dois pontos em
que Amos Wilson dialoga com o que está sendo dito aqui:

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O cérebro, usando suas capacidades inatas (...) usa as
informações que lhe são fornecidas pelos sentidos para
determinar como (...) o indivíduo vai moldar a realidade para
seus próprios propósitos. Portanto, se essa informação é
distorcida, o cérebro determina o comportamento dessa
informação distorcida e o indivíduo é desajustado. (Pág. 142)
[ênfase adicionada]

Como suas capacidades de pensamento devem ser limitadas,


ou se elas não são limitadas, o quanto elas são restritas, em
seu escopo, para que uma raça possa permanecer no poder e a
outra fora do poder? (Pág. 86) [ênfase adicionada]

Vimos Amos Wilson partir de uma tese aparentemente controversa


para basear sua Teoria da Complementariedade Racial – TCR. A saber
– o homem branco não pode ser o que é, a menos que nós sejamos o
que somos: “sua própria cultura e a base de seu sistema econômico,
político e social é baseada na subordinação do povo preto” (pág. 147).
Então o que acontece se essas distorções e limitações se tornam
a base da sua realidade? E por isso é dito: o mapa não é o território.
Voltemos a falar do cérebro como um computador, modelado
por um computador... talvez faça bem citar RAW mais uma vez,
ele vai dizer o seguinte – e por isso dizemos, de Amos Wilson, que
ele é um modelo para o povo preto – e sua obra, para o poder preto:

A ideia aristotélica, de que para entender alguma coisa você


deve saber o que ela é, foi abandonada por uma ciência após
outra, pela razão pragmática de que a simples palavra “é”
introduz tantas hipóteses metafísicas que podemos
argumentar infinitamente a seu respeito. Nas ciências mais
avançadas, como a física matemática, ninguém fala sobre o
que alguma coisa é. Fala-se sobre qual modelo (ou mapa)
pode ser usado para entender melhor o que quer que seja
investigado.
Em geral, esse hábito científico de evitar o “é” pode ser
proveitosamente estendido a todas as áreas do pensamento.
Assim, quando você lê em algum lugar que A é B, as coisas
ficarão mais claras se você traduzir isso como “A pode ser
considerado como, ou modelado por, B”.

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Quando dizemos que A é B, estamos dizendo que A é
apenas o que aparece dentro de nosso campo de estudo ou
nossa área de especialização. Isso é dizer demais. Quando
dizemos que A pode ser considerado como B, ou modelado
por B, estamos dizendo exatamente tanto quanto temos o
direito de dizer, não mais do que isso.
Portanto, nós dizemos que o cérebro pode ser considerado
como um computador; mas não dizemos que ele é um
computador.

O leitor já percebeu que todas essas citações, essas definições


colocadas em outras palavras são dadas pelo próprio Amos Wilson,
na nossa primeira publicação – e nisso consiste esse material, partir
do que Amos Wilson fala na segunda palestra para abordar a PNL,
e durante toda a segunda publicação, ir lincando com a epigenética.
Sim, já dissemos isso, então pra não ser redundante, acrescentamos
dizendo que, ao olhar pra epigenética, estamos preocupados com o
ambiente – com a mesma atenção que a PNL dá para a experiência:

Toda experiência é uma confusão, até que elaboremos um


modelo para explica-la. O modelo pode esclarecer a confusão,
mas o modelo nunca é a própria confusão. “O mapa não é o
território”; o cardápio não tem o sabor da refeição. (RAW)

Ou como se diz: focinho de porco não é tomada! O que dizemos lá


na página 30 do GEG, sobre Amos Wilson? Que »por isso ele toma
cuidado, e fala da nossa “relativa impotência”, “até certo ponto”,
“em certa medida/sentido”, e assim por diante.« E a nota de fim 76,
ela também pode jogar luz sobre esse ponto – noutros termos,
quando trouxemos aqueles comentários “etiológicos” queríamos
enfatizar que nosso estudo deve se voltar para as causas (GEG);
mas como a ideia aqui é trabalhar os dois lados da moeda, diremos
que nosso estudo também se preocupa com os efeitos (FCA) –
sobre o comportamento, o pensamento... Mas voltemos nosso foco
pro cérebro – às causa... Ao introduzirmos a PNL e fazermos essas
últimas citações, é apenas para alertar o leitor: não fiquemos
obcecados em determinar o que os brancos são, porque, como diz
Amos Wilson, “em grande medida”... eles são criações nossas!

17 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Em suma, não estamos tão preocupados em definir o que o
branco é (ou deixa de ser), seria querer demais... mais proveitoso
seria estudarmos o jeito, a forma, o modo como eles conquistaram
e dominaram, subjulgaram e subordinaram os povos melaninados
do planeta – é aquilo, “devemos olhar para a função” – então
chegaremos à conclusão que eles nunca venceram sem colaboração
de suas vítimas e subordinados, criando o que se chama
identificação com o opressor/agressor/carrasco: os “reaças”... Sim!
Amos Wilson fala nesses termos – sobre formação de reação: “(...)
quando você ingressar em certas organizações nacionalistas
(“revolucionárias”), tenha cuidado porque algumas pessoas estão
nessas organizações pelas razões erradas.”

Muitas pessoas entraram nelas por razões reacionárias. Se


gente branca tivesse sido “boa” para eles (deixasse entrar em
seu sistema), eles não estariam nessas organizações hoje.
Eles ficaram bravos com gente branca, e disseram: “Você
vai ver.” Mas o amor e o coração deles ainda estão lá, com a
gente branca que deixaram para trás. Eles estão bravos porque
foram rejeitados (Pág. 227n)

Na mesma nota de fim, agora falando sobre o ponto final do


racismo – sua internalização – ou auto-ódio:

Não é o que os brancos disseram (ou nós dizemos) para e


sobre nós, não é o escândalo deles de nossas formas,
características e personalidades Africanas; não são todas as
coisas miseráveis que eles fizeram (fazem) conosco por si só.
O principal problema é a maneira como reagimos a essas
coisas, contraprodutivamente. Não são as mentiras que eles
contaram (contam), é nossa crença em mentiras, consciência
falsificada. (Pág. 228n)

Não vamos precisar definir consciência, servem as definições de


Amos Wilson nas páginas 175-177 e 188-195. Já sobre o cérebro –
AW fala nas páginas 142, 194-195, 202, 194. E do efeito à causa,
voltemos à nossa “relativa impotência”: basta ler a nota de fim 59.

18 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Lidamos com dois problemas aqui: contra o individualismo,
Amos Wilson parte da psicologia social, a psicologia de grupos; e,
como efeito da ideologia do individualismo, falamos de auto-ódio,
reação, impotência... Pra fechar, vamos fazer uma citação do FCA
– convenhamos, citar Amos Wilon nunca é cansativo. Perceba que
a diferença entre um adulto e uma criança aqui se faz nula:

Vejo crianças e vejo pessoas loucas culpando suas mães: “Ela


não me amava; ela me rejeitou; ela nunca me abraçou; ela
nunca me beijou. Eu era a mais escura e ela gostava da mais
clara”. E temos história após história, e justificativa após
justificativa, e a pessoa permanece louca, esperando que a
outra pessoa, mamãe, mude. E o mais surpreendente é que –
se a mãe mudou, você ainda estaria louco como antes –
porque a energia dissipada, esperando e tentando mudar a
mãe, foi desviada, e a energia necessária para a automudança
se atrofiou e, portanto, mesmo quando a oportunidade se
apresenta, a personalidade é incapaz de aproveitá-la. A
comunidade Preta deve se examinar e ver até que ponto
contribuiu para sua própria loucura, morte, opressão e
impotência.
Uma parte do problema da doença mental não é o que as
pessoas fazem umas com as outras, e não o que mamãe, papai
ou outra pessoa fazem com uma criança. Parte disso também
é como a criança reage ao que a mãe faz. Não é tanto pelo
europeu dizer que somos inferiores, e que somos isso e
aquilo, e que o europeu prejudique nosso caráter, etc.: É a
nossa crença de que o que ele diz é verdadeiro que nos deixa
loucos. É uma reação louca ao que ele diz, um tipo de
abordagem insana e impensada para lidar com o que ele diz
sobre nós, que mantém a loucura. É a reação de raiva, como
aponta Cobbs e Price, “a reação de raiva”. Sim, vamos
encontrar raiva nos adolescentes e raiva nas pessoas que
destroem e atacam a comunidade: e é essa reação que distorce
a realidade, distorce a criatividade do indivíduo, distorce a
unidade necessária e distorce o próprio mecanismo que pode
tirar o indivíduo de seu comportamento. [ênfase adicionada]

(Proposição 2 – supremacia branca é a causa, racismo o efeito...)

19 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


***

Então nós “devemos olhar para a função.” Parece que esse é o


melhor momento para aprofundarmos questões sobre a memória –
ligada à epigenética – e criatividade; e a experiência, que parece
estar ligada ao ambiente. Em paralelo, falaremos da linguagem,
isso que nos distingue dos demais animais – a linguagem verbal e
sua conexão com a fala, o comportamento, a mente e a consciência.
Mas sua função levando-se em conta intencionalidade – então,
na sequência, será o momento oportuno pra falar dessa capacidade,
representar. Para tentar responder essas questões, vamos dividir
metodologicamente o cérebro – um lado holístico e um analítico.
Agora vai começar seu estudo propriamente dito. Na segunda vez
que você ler, do início até aqui, estará treinado, aí é dar sequência.

***

Em sua primeira publicação, ainda pela sua primeira editora


(Africana Research Publications, 1978) – ‘A Psicologia do
Desenvolvimento da Criança Preta’ –, o Dr. Amos N. Wilson diz:

O “Cérebro Dividido.” É do conhecimento comum que o


cérebro consiste em duas partes aparentemente simétricas.
Estas são chamadas de hemisférios esquerdo e direito.
Embora ambos os hemisférios possuam uma aparente
semelhança anatômica, cada um sendo praticamente do
mesmo tamanho e exibindo a mesma aparência geral aos
olhos, pesquisas recentes mostraram que existem algumas
intrigantes e vastas diferenças psicológicas entre eles.
Alguns anos atrás, em um esforço para aliviar o
sofrimento de alguns pacientes que tinham tendência a
ataques epilépticos graves, foi desenvolvida uma técnica que
envolvia o corte ao meio de uma larga faixa de fibras
nervosas conectando os dois hemisférios cerebrais chamado
de corpo caloso. Os problemas que afligiam os pacientes
epilépticos foram significativamente aliviados e eles
continuaram a funcionar em suas vidas diárias tão
normalmente quanto as pessoas que ainda estavam

20 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


conectadas. Mas ficou claro, após cuidadosa experimentação
e teste de pacientes com “cérebro dividido”, que os dois
hemisférios operavam de acordo com planos muito diferentes
e lidavam com o mundo de maneiras muito diferentes.
Tornou-se dramaticamente aparente que os dois hemisférios
não eram imagens espelhadas um do outro. Infelizmente, o
escopo de nosso presente estudo não nos permite detalhar os
fatos emocionantes revelados como resultado dos testes de
pacientes com “cérebro dividido”. Portanto, devemos nos
contentar em listar apenas algumas das funções de cada
hemisfério.
Geralmente, descobriu-se que o hemisfério esquerdo se
especializa em funções que fundamentam o uso da
matemática, da linguagem, dos conceitos científicos, da
escrita e da lógica. Lida com o mundo de maneira racional,
verbal, analítica e bem ordenada, sequencial. É literalmente
aquela parte da mente que analisa o mundo em muitas partes e
se preocupa com as relações legais entre essas partes
[hardware?...]. Ele gera conceitos mentais, classes e estratos.
As funções do hemisfério direito são geralmente opostas
às do esquerdo. É especialista nas funções subjacentes à
apreciação da música, arte e dança. Preocupa-se em perceber
as coisas como um todo, tende a ignorar as partes, a se
preocupar com a fantasia, a sensualidade e utiliza a intuição
como seu principal modo de conhecimento. Ele lida com
objetos concretos no espaço físico em vez de objetos
conceituais no espaço mental, como faz o hemisfério
esquerdo. Ao contrário do hemisfério esquerdo, ele tende a
ser receptivo e, portanto, está mais sujeito à influência da
sugestão.
Normalmente usamos os dois hemisférios do cérebro de
uma forma mais ou menos complementar. No entanto, parece
que no início da vida os indivíduos começam a usar um
hemisfério mais do que o outro. Assim, parece que as pessoas
podem ser geralmente classificadas em termos de qual
hemisfério domina seu comportamento, portanto, temos
“tipos de hemisfério esquerdo” e “tipos de hemisfério
direito”. Esses tipos são caracterizados pela orientação
funcional de seu hemisfério predominante.

21 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


O tipo de hemisfério em que o indivíduo se torna parece ser
determinado por sua experiência pessoal, social e cultural. Em
algum ponto no início da vida do indivíduo, as funções de um
hemisfério tornam-se inibidas, reprimidas ou suprimidas em
relação ao outro. Nesse momento, o indivíduo passa a se
comportar como se seus hemisférios estivessem
desconectados cirurgicamente ou não em comunicação plena
e igual entre si. O indivíduo que se torna muito unilateral no
uso de seus hemisférios pode desenvolver uma personalidade
e um ponto de vista estreitos. Qual hemisfério se torna
dominante na vida do indivíduo parece depender de qual deles
teve mais sucesso em obter recompensas positivas individuais
ou aquele que o ajuda a evitar experiências negativas. É
possível, e acontece, que os dois hemisférios, com suas duas
abordagens diferentes do mundo, frequentemente entrem em
conflito um com o outro.
Parece que o que se aplica a indivíduos aqui também se
aplica a grupos de pessoas. Ou seja, assim como se pode
classificar os indivíduos como tipos hemisféricos direito ou
esquerdo, os grupos também podem ser classificados. A
experiência social, cultural e histórica de um povo pode
aparentemente levá-lo a utilizar predominantemente as
funções de um hemisfério em deferência ao outro.
O fato de que a história do homem preto na América foi
aquela em que ele é punido, ignorado ou não recompensado
pela sociedade branca dominante por exibir aquelas coisas
que caracterizam a predominância do hemisfério esquerdo,
como assertividade, intelectualidade, pensamento
independente e analítico, etc., e sua recompensa e incentivo às
coisas que caracterizam a predominância do hemisfério
direito, como passividade, anti-intelectualidade, sensualidade,
dança, canto, entretenimento etc. (...)

“A maioria das pessoas é dominada por um modo ou


outro”, observa o Dr. Ornstein. “Eles têm dificuldade
em lidar com artesanato e movimentos corporais, ou
dificuldade com a linguagem.” A cultura
aparentemente tem muito a ver com isso. Crianças de
bairros pretos pobres geralmente aprendem a usar o

22 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


hemisfério direito muito mais do que o esquerdo e,
mais tarde, se saem mal em tarefas verbais. Outras
crianças, que aprenderam a verbalizar tudo,
consideram essa abordagem uma dança atrasada
quando se trata de copiar um saque de tênis ou
aprender um passo de dança. Analisar esses
movimentos verbalmente apenas os desacelera e
interfere no aprendizado direto por meio do
hemisfério direito. (Ênfase do autor).

Embora as ideias e implicações desenvolvidas acima possam


ser rotuladas como provisórias e tenazes, é inegável que a
experiência histórica dos pretos na América foi tal que eles
são literalmente forçados a funcionar com apenas “meio
cérebro”. É claro que os brancos na América também
funcionam com apenas metade do cérebro – a metade oposta
àquela usada pelos pretos. Somente a recompensa de seus
filhos por pais pretos e pela comunidade preta por realizações
intelectuais, o incentivo sincero ao pensamento conceitual
desde os primeiros anos de suas vidas, pode tornar a
realização intelectual parte integrante de seu modo de vida.

(»Amos Wilson fala duma teoria da complementariedade racial:


“eles não podem ser o que são, a menos que sejamos o que somos.”
A partir do momento que buscamos o ser Afrikano, mudando a nós
mesmos, automaticamente alteramos a natureza da nossa relação
com os outros e assim transformamos o mundo ao nosso redor!«)
Por essas e por outras, em nosso texto de introdução ao
pensamento de Amos Wilson, a fim de argumentar que, sem
entender isso, não poderíamos entender a TCR, nós citamos
Andrea D. Lewis, que fala do “Locus de Controle”...
Ignorando o “Locus de Controle”, não entenderemos a Teoria
da Complementariedade Racial... Como diz o Dr. Amos N. Wilson,
mais de uma vez – em algum ponto da nossa segunda e primeira
publicação, em dois parágrafos, respectivamente – e portanto,

devemos assumir a responsabilidade por essa parte da nossa


personalidade, por parte da nossa comunidade e por parte de
nós mesmos sobre a qual temos controle, e mudar essa parte.

23 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


E se mudarmos essas partes de nós mesmos e de nossa
comunidade, mudaremos esse homem. Quem se importa em
mudá-lo afinal? Isso não importa! Um dos nossos principais
problemas é que a liderança negra se envolveu na conversão
de brancos. Isso nos induz ao erro de novo e de novo. Desista
disso! Um dos passos mais importantes na reabilitação do
Homem Preto é desistir do homem branco e esquecê-lo!

A esperança e o sonho de estar de mãos dadas com meninos e


meninas brancos; que o homem branco vai alimentar teus
filhos antes de alimentar os seus próprios; que ele vai vestir
você antes que ele se vista; que ele vai desistir de seus ganhos
e riquezas ilícitas em nome de algum tipo de irmandade falsa
ou sociedade sem classes, é uma esperança vã. Desista! Solte-
a! Quando você a soltar, você verá um crescimento e
desenvolvimento de si mesmo. Significaria então uma
aceitação de si mesmo. Nós vemos isso em Marcus Garvey,
como ele nos fez aceitar, e tentou nos fazer aceitar a realidade
de nós mesmos, e a realidade de nossa Afrikanicidade.

Devemos nos ocupar de reprogramar somente à nós mesmos,


chegamos ao ponto de ter que lembrar que não é sobre consciência
branca, é sobre consciência preta, Afrikana! Nossa tarefa é definir
por nós mesmos os termos da nossa libertação... que deve começar
dentro de cada um de nós, em primeiro – equacione as proposições:

MATE/EXORCISE O BRANCO/DEMÔNIO QUE OPERA EM TI!

***

Estamos numa luta para pensarmos por nós mesmos: é importante


entender o que queremos alcançar aqui; não sancionar teorias que
reduzem o pensamento, tampouco as que ignoram comportamento;
uma vez que as condições que geraram nosso atual comportamento
foram criadas por nossos inimigos mortais, em primeiro lugar: leia
a primeira frase do parágrafo, em segundo lugar.
Mas que teoria é essa? Trata-se do behaviorismo... de Skinner...
De quem tamo falando? Seu principal crítico: tal de Chomsky...

24 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Antes do comportamento, portanto, vamos falar da linguagem:
“Uma vez que a linguagem passa a ser entendida como uma
capacidade cognitiva da espécie, suas bases psico e
neurobiológicas se tornam um importante objeto de estudo e
passam a ser investigadas nas interfaces entre estas disciplinas”
(Psicolinguística e Neurociência da Linguagem) – artigo da nossa
pesquisa, e citaremos outros. Leve este aparte para fins de estudo...
“Psicolinguística e a Neurociência da Linguagem fazem
pesquisa linguística centrada no cérebro (...) é preciso analisar os
neurônios em concomitância seu funcionamento durante o
processamento da linguagem para que essa relação faça sentido.
Por isso, a Neurociência da Linguagem busca relacionar o
processamento cognitivo da linguagem ao funcionamento
fisiológico do cérebro. Por intermédio de tecnologias de
monitoramento online como a eletroencefalografia (EEG) e
magnetoencefalografia (MEG) é possível monitorar online – em
tempo real – a atividade cerebral (...).” (Fonte: Wikipédia)
Nosso foco de atenção estará voltado à linguagem na medida
em que esta serve de base ao pensamento (Vygotsky, L., 1962 –
apud Wilson, Amos N....) – e este, por fim e sua vez, para a
consciência – e dentro desta, se der tempo, falar de personalidade...
Retomando daquela citação: desde então linguistas reinvidicam
sua posição na psicologia – enquanto isso, behaviorista
(comportamentista) radical chega ao ridículo de tentar sustentar
que o pensamento não passa de um problema linguístico – e
cognitivista defender que o pensamento é tão essencial à psicologia
que o estudo do pensamento seria o seu próprio campo de estudo, e
o que o pensador pensa, o demonstrador comprova... Há na física
hoje tanto experimentos que “comfirmam” quanto que refutam o
dualismo: como se tem a teoria pitagórica, a geometria euclidiana,
a álgebra booleana, temos aqui o caso do teorema “de” Bell...
“Cognitivismo”: pensamento, processamento de informações e
resoluções de problemas é seu foco. Amos Wilson, nosso treinador,
fala justamente nesses termos, contra a busca por sucesso pessoal.
Porque muitas vezes alguns “gurus” da PNL prometem milagres...
de fato, o cérebro humano é capaz de operar verdadeiros milagres,
se bem treinado; mas o que eles prometem, foge ao nosso escopo...

25 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


E tem outro lado obscuro dos estudos nesse campo – sim, talvez
por sua própria natureza positivista, e falamos do cognitivismo à
ciência da computação, e daí à inteligência artificial – sempre teve
uma tara (nas enrustida, eugenista até) pelo “super-humano”,
demasiado humano... E não se pode dizer felizmente – quer dizer,
infelizmente pra nós – esses doença não conseguiram: a tecnologia
ultrapassou-os, e eles foram superados pelos nerds da IA “forte”...
Como se humanos tivessem deixado de ser cobaias: o ciborgue
com o smarthphone na mão, o humano transgênico produzido pelas
vacinas que “editam” a estrutura do RNA – a assim batizada (por
você sabe quem) Quarta Revolução Industrial anuncia a que veio...
Imagina você: eles descobrirem que o cérebro humano pode
criar a realidade ou desenvolverem um robô “consciente”, o que
vem primeiro? (Para aguçar a curiosidade, compare os experimento
da Sala Chinesa de Searle e do Quarto Luminoso de Churchland...)
Devemos pensar por nós mesmos. Pensar: avaliar o peso.
Cognição por sua vez, em sua raiz etimológica, é sobre conhecer.
Se “todo avanço no conhecimento para eles, é um avanço no
conhecimento da destruição”, devemos fazer as perguntas corretas,
pensa com a gente – em outro de seus livros, Wilson faz algumas:

O homem Branco bombardeará esse planeta existente, mas se


ele puder carregar uma ou duas sementes para o próximo
planeta, seu povo sobreviverá. Mas os nossos serão deixados
aqui. A América já plantou sua bandeira na lua. Onde está a
bandeira da África? Onde estará o refúgio para o nosso povo
quando essa terra for poluída, destruída e transbordada por
radiação? O que acontecerá quando a guerra nuclear, que está
por vir, emitir raios nocivos e transformar nossas crianças em
mutantes?
Então quando falamos de educação, não estamos falando
apenas de empregos. Estamos falando de continuar a viver e
sobreviver no mundo do futuro. Poderíamos defender a nós
mesmos se as armas da guerra vierem como chuva a milhares
de milhas do espaço? Poderíamos nós, como um Povo
Africano, defender suas crianças da re-escravidão hoje
melhor do que seus antepassados defenderam eles mesmos
contra a escravidão? (Tradução por Priscila Argolo)

26 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Garvey dizia: “As batalhas do futuro, sejam elas batalhas físicas ou
mentais, serão travadas em princípios científicos e a raça capaz de
produzir o maior desenvolvimento científico, é a raça que
finalmente governará.” Em outras palavras, nós devemos dar uma
atenção para o lado esquerdo do cérebro – é neste ponto que
afirmamos que contamos com uma “vantagem natural”: melanina!
Não vamos percorrer o histórico do problema mente-
cérebro/corpo, tão complicado quanto o ocidente. Mas sempre teve
essa dicotomia? “Um lado nega o externo e o outro o interno...”
Resolução de problemas como, quando você não tem nem as
informações necessárias nem as condições para cuidar... do seu...
próprio cérebro?! E nem se trata de alimentar com informações,
mas com alimento! Comida! Como falar de intencionalidade, a
capacidade de representar ou estar orientado a um fim específico,
se nosso foco está na sobrevivência! Se nosso foco está nela, nós
só podemos reagir a ela, de um jeito ou de outro – com a nossa
metade do cérebro que nos resta... Portanto, nós vivemos um
dilema, nós não somos como os brancos que podem se dar ao luxo
de escolher entre a mente ou o cérebro. Os brancos podem: a PNL
casou-se com o cérebro, os behavioristas sumiram com a mente –
e os linguistas ficaram com a palavra...
Pode-se afirmar que a PNL é uma filha da psicologia
cognitivista – que é, como vimos, uma reação ao behaviorismo –
com seus desdobramentos até a teoria computacional da mente, e
agora a ideia é que o pensamento seria uma forma de computação...
A partir da PNL, surgiu nos anos 80 do século passado a PtNL –
Psicoterapia Neuro-Linguística. Vejamos esta outra definição:
“Com base na ideia desta terapia, há uma conexão entre nossos
cérebros (neuro), linguagem (linguística) e padrões
comportamentais aprendidos (programação).”
No entando, um dos fundadores de “uma atitude, mais do que
uma técnica”, o próprio Richard Bandler fala: »mesmo que muitos
psicólogos e assistentes sociais utilizem a PNL para fazer o que
chamam “terapia”, acho mais apropriado descrevê-la como sendo
um processo educacional. Estamos, essencialmente, desenvolvendo
formas de ensinar às pessoas a usarem o seu cérebro”. Aqui nós
temos não a principal, mas uma boa justificativa pro nosso estudo.

27 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Teria o estudo do cérebro valor por si? Se pensamento for uma
forma de comportamento, respondemos que não; mas se existir a
possibilidade de pensarmos por nós mesmos, a fim de atingir fins
específicos, nós vamos ter em mente Malcolm X: “Assim que você
muda sua filosofia, você muda seu padrão de pensamento. Assim
que você muda seu padrão de pensamento, você muda sua atitude.
Assim que você muda sua atitude, ela muda seu padrão de
comportamento, e então você parte para alguma ação.”
Nesse ponto, vamos trazer um debate à tona, só pra ilustrar.
Trata-se de um debate entre Noam Chomsky e Michel Foucault.
Pra não ficar parecendo que Foucault caiu de paraquedas, diremos
que ele assume uma posição contrária: enquanto Chomsky está
ocupado com a ciência da linguagem – a língua em seu uso diário –
Foucault se volta pra história da linguagem científica. Por analogia,
vai: assim como Alexander Luria (estes dois últimos, citados pelo
próprio Amos Wilson) e sua psicologia cultural-histórica fundada
na noção de causalidade, Foucault reage com a descontinuidade
dentro da perspectiva da história cultural e a relação saber-poder.
Assim, leremos o poder em Foucault como o controle em Skinner.
Nesse debate nature vs nurture Chomsky valoriza a criatividade
enquanto Foucault enfatiza a estrutura anterior ao indivíduo. Em
Foucault não existe uma psicologia autonoma, o que é conferido ao
indivíduo na real é produto das relação de poder. Como bom
francês, ele também aposta que saber (ou conhecimento) é poder –
e a história, uma mentira acordada pelos homens que o mantém,
parafraseando aquele outro francês lá...
Por um lado, a ideia é que nós (na cabeça do Chomsky será que
“nós” reconhece o “outro”?...) – temos inscritos no código genético
uma capacidade que nos permite adquirir e desenvolver linguagem
– o prestigiado linguista sai em defesa de uma “natureza humana”.
Por outro, acreditando escapar de uma armadilha inerente à sua
cultura – o aclamado filósofo sai em defesa de uma “biopolítica”,
para denunciar os regimes de verdade vigentes no século passado,
agora modificados, que antes visavam governar indivíduos, e agora
grupos. Do GEG ao FCA, Amos Wilson examinará ora instituições
(educação, estabelecimento de saúde), ora disciplinas (história,
ciência da computação, medicina) como regimes de verdade...

28 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


E o que seriam esses “regimes de verdade”? Amos Wilson vai
falar sobre nomearmos a nós mesmos, da questão da identidade, e
que a premissa do poder é que os outros atendam à nossa definição
– a começar pela nossa definição de nós mesmos, como Afrikanos
– a começar pelo poder de nomear, categorizar, classificar, rotular,
demarcar – queremos citá-lo: “Em Gênesis, vemos Adão receber o
poder de nomear as coisas. Ao receber o poder de nomear as
coisas, ele recebe domínio. Existe uma conexão entre nomear e
domínio, entre nomear e tornar realidade.” (FCA) Noutros termos,
Amos Wilson fala do poder das ideias. (GEG, pág. 256n)
Batemo muito nessa tecla em nossa introdução a Amos Wilson,
papo de que não existe uma ciência “neutra” ou “apolítica”, e que
tanto o “normal” quanto o “anormal” (dentro da TCR) serão
definidos nos termos que funcionem apenas pra um fim específico:
a manutenção do poder branco. Assim como a normalidade e
anormalidade da consciência branca levam ao auto-engano, como
na “ética retórica” de que nos fala Marimba Ani em sua análise
antropológica do pensamento e comportamento europeu (GEG,
pág. 220n) – com suas próprias ferramentas (as ferramentas da
psicologia teórica geral e social), Amos Wilson chegará a uma
conclusão semelhante: da ordem ou domínio do discurso de que
tanto fala Foucault, parte pra falar da consciência preta falsificada.
Durante a leitura desses livros, você vai ver que Amos Wilson
parece não se comprometer com nenhuma “corrente”,
eufemisticamente falando “escola” de pensamento. Ele não precisa
se comprometer inteiramente com o racionalismo ou o empirismo,
a priori ou a posteriori... Amos Wilson fala tanto contra a
racionalização (como ideologia política) como contra princípios
“empiricamente validados da ciência psicológica e médica” e como
práticas “objetivas” psicoterapêuticas e psiquiátricas.
Então Amos Wilson analisa, “em termos técnicos”, a psicologia
da auto-derrota, do auto-engano que falamos a pouco. Motivadas
pela ansiedade e pela ignorância (“amnésia histórica”, pra usar uma
expressão técnica...), fundamentadas na negação e distorção
(outras duas expressões) da realidade: “Esse auto-engano coletivo,
que é a referência da consciência preta oprimida, é o principal
produto das relações de poder social entre brancos e pretos.”

29 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Por outro lado, como citado também em nossa introdução ao
homem, por sua própria dinâmica interna e pelo próprio ímpeto
inercial: “para a opressão operar com máxima eficiência, é
necessário que ela se torne e se mantenha como uma condição
psicológica, alcançando um movimento autoperpetuante” – no
contexto de vastos diferenciais de poder, vimos Amos Wilson
argumentar que esses mecanismos de defesa do ego branco
também se tornam instrumentos de criação. Se racismo é sinônimo
a supremacia branca, racismo internalizado é o quê? Proposição 2
ao “reverso”: efeito pela causa, e tem-se instrumentos de reação...
É aqui que a leitura se aproxima de Chomsky; senão melhor:
do Dr. Neely Fuller, Dra. Frances Welsing, Dr. Bobby Wright...
Retomando o debate, pense na estrutura do DNA: pra Foucault,
é como se cada degrau dessa escada representasse uma
descontinuidade, rompendo assim com a lógica da causalidade...
Em outras palavras, eles trabalham em campos diferentes – o
apresentador faz outra metáfora: eles escalam a mesma montanha,
de lados opostos, cada um com suas próprias ferramentas, sem
saber que têm o mesmo objetivo: Foucault refuta o conceito de
“natureza humana” adotado por Chomsky pra explicar algo que,
para este autor, seria inato – como para o primeiro, a linguagem
estaria para as coisas: Amos o faz nas duas vias – ele tanto analisa
efeito quanto comenta causa; leia-se racismo e supremacia branca.
Se na segunda palestra do GEG, olhando para os efeitos
(racismo internalizado), sua análise do auto-ódio como mecanismo
de defesa branco lhe aproxima de Chomsky, no FCA ele está mais
pra Foucault, ao falar do diagnóstico, “rotulagem e classificação
politicamente funcionais” e seus regimes de tratamento correlatos.
Em suas próprias palavras, em Amos Wilson a “normalidade”
(e a anormalidade) é tanto um conceito político-econômico quanto
um conceito psicológico-social, por fim reduzindo a termo –
citação longa, mas demorou tanto para que a obra de Amos Wilson
fosse publicada por aqui, é um evento tão tardio – sim, o que
estamos fazendo aqui é história! – que vamo esticar; lembra-se que
pensar é gratuito... avalie o peso dessas palavras – dissemos que ele
afirma que a normalidade é tanto um conceito político-econômico
quanto um conceito psicológicosocial:

30 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Como construto político/econômico, é o resultado, em grande
parte, da interação de práticas e relações de poder
socioeconômico entre grupos, intragrupos e grupos primários,
exercidas sobre os corpos das pessoas. A normalidade é
gerada por métodos bastante sistêmicos de comportamento
recompensador e punitivo, práticas rituais e doutrinação,
treinamento, correção, supervisão e restrição. À medida que
as sociedades mudam, também mudam seus campos de
relações de poder, métodos de socialização e conceitos de
normalidade. Para parafraseear Foucault, a “normalidade” que
habita uma pessoa e a traz à existência é, ela própria, um fator
no domínio que aqueles que têm poder exercem sobre a
consciência e o comportamento dessa pessoa. A normalidade
como um estado funcional do ser, como um conjunto
circunscrito de estados de consciência e suas tendências
comportamentais correlatas, é o efeito e o instrumento de
relações políticas e econômicas dinâmicas. A “norma” é em
essência um princípio de coerção; uma restrição no
comportamento; uma regra a ser seguida. Envolve o
estabelecimento de um conjunto de valores ou padrões, uma
série de comportamentos a serem respeitados que devem ser
alcançados por meio da conformidade, reforçada por sanções
sociais, recompensas e punições. Normalização, o processo
de usar os valores da norma para comparar, diferenciar,
hierarquizar, homogeneizar; determinar o nível e o valor das
habilidades e a “natureza” de pessoas e grupos; excluir;
marcar a fronteira do anormal – e, portanto, racionar poder,
privilégio e favor – é um dos grandes instrumentos de poder
exercidos por aqueles que governam e dominam os outros.
Portanto, sob o supremacismo branco, a “normalidade” dos
Pretos é, em grande parte, tanto o efeito quanto o instrumento
do poder Branco. Para o Afrikano subordinado, a
“normalidade” é a prisão de sua mente e corpo.

Agora pensando na TCR: se o que é “bom” para um desses lados –


(pense no tabuleiro de xadrez de Welsing...) representa o oposto
para o outro (gente branca vs povo preto), a partir de critérios de
normalidade e anormalidade do estabelecimento de saúde mental
eurocêntrico, Amos Wilson fala – também da segunda publicação:

31 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


(...) os estados de consciência “normais” e “anormais” e suas
tendências comportamentais correlatas nos Afrikanos
oprimidos fornecem os meios e justificativas para seu
controle social pelo domínio europeu, que reivindicam uma
licença exclusiva para definir e rotular esses estados. Esses
estados de consciência/comportamento, uma vez ordenados e
reordenados pela opressão, são racionalizados e revertidos
pelo estabelecimento de saúde mental de maneira que seus
efeitos pareçam ser causas. Sob opressão, o processo de
rotular o comportamento é tanto uma parte do problema
quanto afirma ser parte da solução. O processo de rotulagem
obscurece os propósitos e os meios pelos quais esses estados
rotulados são gerados, mantidos e alterados para atender às
necessidades dos que estão no poder. O processo de
rotulagem não é mais apenas demarcativo, mas também
gerador, ou seja, o próprio processo ajuda a gerar estados de
consciência e a denotá-los. (ênfases adicionadas)

Agora quando pensamos no ambiente, ecossistema como um todo,


lembramos o que Amos Wilson fala, que a dominação eurocêntrica
chegou a tal ponto, que eles podem se dar ao luxo de não estudar a
própria história. Isso porque essa “ignorância” funciona de um jeito
pra eles e de outro totalmente diferente pra nós (TCR) – parece
não-lucrativo? É porque, pra um dos lados, deve ser lucrativo;
quando uma disciplina se apresenta como apolítica, é quando ela é
mais política. “Eles podem reduzir sua atenção aos livros, mas a
história ainda está lá e continua funcionando no mundo” – essa e
essa outra é do segundo livro, atente aos nossos grifos:

Esta igreja, este edifício é um evento histórico e representa a


evolução histórica, e dentro dessa estrutura histórica as
mentes e os corpos das pessoas são alterados e criados. (...)
Portanto, mesmo que o europeu pare de ler sua história nos
livros, a história do europeu ainda é “boa e elegante” e está
operando em todos os lugares que vamos. De fato, uma das
razões pelas quais ela pode ter sido reduzida em termos de
livros de história em si é porque ela está oculta em qualquer
outro lugar. Está indissociavelmente ligada e envolvida em
todas as situações, circunstâncias e eventos da vida.

32 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Estudamos matemática e achamos que ela se originou na
Grécia. Geralmente é apresentado dessa maneira. Temos as
teorias pitagóricas, a geometria euclidiana, a álgebra booleana
e outros nomes europeus espalhados pela matemática. Os
nomes e os conceitos e quem “primeiro” os descobriram são
história; imagens {visuais e sonoras...} sendo projetadas. Não
estamos aprendendo apenas ciências e matemática neutras; A
história européia está inculcada em seu estudo.

Em resumo, não precisamos buscar nos livros a história deles: ela


está ao nosso redor, estamos inseridos nela nesse exato momento, e
já estamos falando em epigenética – fluindo de todas as direções:
“Enquanto nossa própria história não estiver intimamente e
inextricavelmente entrelaçada com tudo o que fazemos, (...)” Por
outro lado, ao estudar nossa história, dois benefícios de cara: “Só
podemos entender a psicologia de nossos opressores ao entender
sua história.” – “Nós, como indivíduos, somos a nossa história.” –
“Temos que reconhecer que a história é uma instituição da mesma
maneira que qualquer outra disciplina é uma instituição.”
A importância da história nós já entendemos. Agora falando de
uma outra disciplina em específico – e poderíamos pegar a ciência
da computação, para refletir se não estamos contribuindo para a
nossa própria aniquilação biológica, ao ofertar nossos talentos às
instituição de tecnologia branca, como se isso representasse algum
tipo de “progresso”... pra quem? Mas vamos de medicina.
Neste ponto, queremos refletir como o estabelecimento médico,
por exemplo, pode ocultar seus reais interesses, menos pela falta de
investimento em pesquisa do que pelo próprio processo de
rotulagem, como no exemplo da melanina – é Nur Ankh Amen:

Melanina é a substância mais importante do corpo humano. É


uma forma oxidada de RNA, que permite ao corpo coordenar
a produção de proteínas necessárias na reparação celular.
Onde quer que exista dano celular melanina é vista em torno
do local, funcionando como um neurotransmissor em
coordenação com a produção de proteínas dos melanócitos
para o reparo do DNA danificado.

33 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Conhecimento do valor medicinal da melanina é
suprimido pelo Estabelecimento Médico, a fim de negar a sua
supremacia.

A fim de resolver esse falso paradoxo – e como vimos não se trata


de um paradoxo, mas ironia da história (a “ironia da educação”...),
tratamos do Locus de Controle – LC, por uma sigla. Por analogia,
os “internalizadores” estão para os “tipos de hemisfério esquerdo”
como “externalizadores” estão para os “tipos de hemisfério direito”
– ainda por analogia, se os brancos se inserem no primeiro grupo, e
portanto treinam seus filhos para criarem (e aqui entra Chomsky,
que vai nos ajudar a entender essa psicologia); nós devemos estar
no segundo grupo: treinamos nossos filhos para “se comportarem”,
e por isso Foucault: se comportar de acordo com os padrões de
normalidade (e anormalidade) deles; o que significa a manutenção
do sistema supremacista deles, à serviço da dominação deles.
Em resumo, não é porque é da natureza deles, eles são assim e
a solução é consciência branca – muito menos uma atitude isolada,
baseada na liberdade individual de um autodeclarado sujeito
autônomo – um “intelectual”, “gênio” nos casos excepcionais (um
Kant, Hegel...)... De igual modo, se um indivíduo branco exibe um
comportamento desviante – em relação ao interesses do seu grupo
– a exceção também não deve significar a regra: tipo um Volney...
A questão que fica é: de acordo com qual parâmetro de
normalidade (e anormalidade) nossa consciência e comportamento
são produtos, criações ou reproduções?... Em sendo a norma “ela
própria, um fator no domínio que aqueles que têm poder exercem
sobre a consciência e o comportamento dessa pessoa.” (FCA)
Em outras palavras, ao trazer Chomsky e Foucault à nossa
reflexão, endendemos que nossa tarefa é fazer uma crítica ao nível
da linguagem e outra ao nível da epistemologia, só pra começar...
É interessante como as teorias de um e de outro são
“herméticas” – extremos que se tocam... Se alguém perguntasse a
Chomsky o que ele preferia, ativismo político ou a pesquisa
linguística, ele diria que protestava contra a injustiça por um senso
de dever, não por prazer intelectual – de fato, ele disse isso.
Foucault, por sua vez, se ateve mais às práticas discursivas,
começando por si próprio – “quando eu falo, não é sobre mim”...

34 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Chomsky – só mais um americano sonhando com uma natureza
humana que eles sempre deixaram escapar...
Foucault – e lá vai mais um europeu determinado a denunciar
as instituições que seus próprios pais criaram...
Yurugu onde chega só faz confusão: nunca é demais lembrar!
E tem sido assim: Economistas reprimem o fator psicológico –
psicólogos menosprezam o fator econômico – biólogos positivam o
fator social – sociólogos reduzem os fatores biológicos – “e assim
o caos urbano se torna mais um mistério”... Amos Wilson procura,
pra nossa sorte, unificar todos os campo do saber (grifos nossos):
“Abordamos psicologia, história, sociologia, grande parte da
ciência política, economia e áreas afins (antropologia e assim por
diante), porque tudo isso precisa ser combinado no processo de
construção da nação.”

***

Quando dissemos que nossa primeira publicação poderia ser lida


junto à PNL – na medida de sua conexão com a psicologia
cognitivista –, não era um exagero. De fato, Amos Wilson fala, em
sua primeira palestra, em termos de percepção, atenção, motivação
etc., bem como – uma vez que ao modelo estímulo-resposta (S-R)
é acrescentada as crença do indivíduo (S-O-R) – de autoconceito,
autoimagem, autoestima etc. Portanto, fala-se por extensão em
personalidade. Amos Wilson não para por aí, no entanto.
Consequentemente, no próprio PDCP ele já havia ido além:

O Cérebro Como Uma Unidade Estatística. O cérebro, ao


executar seu controle sobre o comportamento, não funciona
como uma unidade total com todas as suas partes igualmente
envolvidas ou igualmente contribuindo para o comportamento
que ocorre sob sua direção, nem o comportamento relevante é
completamente controlado por alguma área isolada e
independente do cérebro. O cérebro opera em uma base
estatística, ou seja, a ocorrência de um determinado ato de
comportamento, seja físico ou mental, é o resultado médio da
entrada coordenada de qualquer número de regiões ou células
do cérebro.

35 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


E. Roy John, em 1972, propôs uma teoria da função
cerebral que expressa de forma concisa o conceito do cérebro
como uma unidade estatística. Sua teoria, que ele chama de
“teoria da configuração estatística”, propõe que:

. . . informação sensorial está difusamente disponível


para a maioria, senão todas as regiões do cérebro, e
os movimentos podem ser iniciados a partir de uma
ampla variedade de estruturas. A informação é
representada, não pela atividade em um neurônio
específico ou por uma via selecionada, mas pelo
padrão temporal médio de disparo em populações
anatomicamente extensas de neurônios. A atividade
de qualquer neurônio, . . . só é significativa na
medida em que contribui para o comportamento
médio do conjunto, para o processo estatístico. A
diferença entre as regiões do cérebro não é a
meditação qualitativa “tudo ou nada” de funções
sensoriais, motoras ou outras funções específicas,
mas as representações quantitativas “graduadas” de
funções diferentes. . .

Se esta informação sobre o cérebro parece abstrata, Amos Wilson


vai ilustrar (em nossa primeira publicação) – e tentaremos fazer o
mesmo: do ponto de vista da consciência, veremos como ela
permanece atual em Antonio Damasio – e do ponto de vista da
linguagem, também em artigo encontrado em nossas pesquisas,
veremos o que diz a ciência –, por fim retomando a consciência:

Por exemplo, falamos sobre seus lobos frontais, o chamado


lobo orbital do cérebro, o córtex orbital do cérebro – a parte
do córtex que está acima dos olhos, a parte do córtex que se
preocupa com intencionalidade, propósito, direção e
motivação – e a conexão desse córtex ao cérebro inferior, ao
que chamamos de núcleo caudado, a parte do cérebro que
possui um comportamento repetitivo, que lida com o
comportamento modulador, que lida com (em conexão com o
hipotálamo e tálamo) a distribuição dos sentidos e a
organização dos sentidos. (Pág. 194)

36 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


As pesquisas de Damásio com (...) lesões cerebrais levaram-
no a teorizar que a Consciência emerge da atualização
constante das informações sobre os estados internos e
externos do organismo. Com isso, propôs que a mente
funciona em três “camadas”: o protoself, que registra as
mudanças de estado do organismo; o self central, que gera a
percepção do eu situado no presente; e o self autobiográfico,
quando o self central se conecta com a memória, criando o
histórico de vida. É a partir dele que funções superiores como
crenças e linguagem são possíveis. A Teoria da Consciência
de Damásio parece ser a mais próxima de explicar a geração
da mente a partir de mecanismos já conhecidos pela ciência.

De fato, nosso tronco cerebral é semelhante ao de muitas espécies.


Nosso cortéx cerebral, a sede do eu/self/ego, no entanto, é
diferenciado, e se divide em três níveis – isso pro “aclamado”
neurocientista, Antonio Damasio: o protoself, o self central e o self
autobiográfico, como vimos. Os dois primeiros são partilhados
com muitas espécies, na medida de sua conexão ao tronco cerebral
“e o que quer que exista de cortéx nessas espécies”. (Neste ponto,
antes de prosseguir, queremos só abrir um parênteses para RAW,
que vai colocar isso nos termos que vimos anteriormente:

É claro, caso a consciência consistisse em nada além tapioca


indistinta de software atemporal e não espacial, não teríamos
individualidade, nenhum centro, nenhum Ego.
Queremos saber, então, como pode uma pessoa específica
emergir desse oceano [ou gramática...] universal de software.
O que o Pensador pensa, o Demonstrador comprova.
O cérebro humano, como o cérebro de outros animais,
age como um computador eletrocoloidal e não como um
computador de estado sólido; ele segue as mesmas leis dos
cérebros de outros animais. (...)

Pronto, agora que esta citação conectou o que dissemos no início


com o que dizíamos agora pouco, através de Antonio Damasio...)
Chegamos ao ponto que queríamos, sobre a consciência, e
Damasio irá dizer: “Mas a novidade está aqui.” Reduzino a termo:

37 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


O self autobiográfico é construído com base em recordações
passadas e em recordações dos planos que fizemos; é o
passado vivido e o futuro antecipado. E o self autobiográfico
conduziu à memória ampliada, ao raciocínio, à imaginação, à
criatividade e à linguagem. E daí resultaram os instrumentos
da cultura – religiões, justiça, comércio, as artes, ciência,
tecnologia. É no âmbito dessa cultura que podemos realmente
obter – e esta é a novidade – algo que não é inteiramente
determinado pela nossa biologia. É desenvolvido nas culturas.
Desenvolveu-se nos coletivos de seres humanos. E esta é,
claro, a cultura na qual desenvolvemos algo a que gosto de
chamar regulação sócioculural.

(Parece que foi a partir do tal do self autobiográfico que cientistas


se reuniram para um experimento envolvendo hipnose. Sob o
tópico “História e Manipulação do Tempo”, no FCA – ver também
“Tempo Europeu e Identidade Africana” – VPP.) Parece ser dessa
intersecção entre o tronco e o cortéx cerebral (comportamento, do
ponto de vista da etologia – e consciência, para a neurociência...)
que flui a psicologia da pessoa e do grupo – nesse modelo a
consciência emerge da atualização constante das informações sobre
os estados internos e externos do organismo. Difere do modelo de
Noam Chomsky (na ciência cognitiva), tal como o modelo de um
Steven Pinker (estudioso da mente), por exemplo, deste último.
Se aqui fica sugerida a interação entre várias partes do cérebro,
com a linguagem não é diferente, inserida dentro desta perspectiva

(...) é possível dizer que praticamente todas as regiões


cerebrais estão envolvidas de alguma forma na linguagem.
Ela se reveste de aspectos emocionais, requer a reativação
de várias modalidades de memória, como visuais, auditivas e
olfativas e depende da integridade de inúmeras outras funções
cerebrais, primitivas e filogeneticamente mais evoluídas.
Quando você fala com alguém, não imagina o grau de
refinamento neurológico alcançado ao longo de milhares de
anos de evolução. Se fosse eleger um aspecto do nosso
comportamento que realmente nos torna diferentes em relação
às outras espécies, certamente diria a linguagem.

38 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


E finalmente, prosseguindo com a leitura de Amos Wilson (PDCP)
– só até sua citação ao conceito de “dano cerebral sociogênico”
(Montagu, 1974), ou seja, até o ponto que nos permita seguir
falando de epigenética; e seus comentários sobre os lobos frontais
– feito isso de quebra teremos virtualmente “escaneado” o cérebro:

A. R. Luria em um artigo de 1970 na revista Scientific


American intitulado “A Organização Funcional do Cérebro”
desenvolveu conceitos relacionados aos da teoria estatística
de John. Ele observa que pelo menos três quartos do córtex
cerebral do cérebro não têm nada a ver com funções
sensoriais ou motoras. Ou seja, as partes do cérebro
responsáveis principalmente pela percepção e pelo
movimento compreendem apenas uma pequena parte do
córtex cerebral. Ele, portanto, conclui que nessas áreas não
sensoriais e não motoras devem estar localizados os sistemas
responsáveis pelos processos comportamentais mais elevados
e complexos.
Luria concebe o cérebro como consistindo de três
unidades funcionais principais – a primeira unidade que
“regula o nível de energia e o tônus do córtex, fornecendo-lhe
uma base estável para a organização de seus vários processos”
está localizada na parte inferior do cérebro. A segunda
unidade que desempenha o papel principal na análise,
codificação e armazenamento de informações está localizada
na metade posterior do cérebro e a terceira está envolvida na
“programação, regulação e verificação da atividade mental”,
está localizada na metade frontal do cérebro. Esta unidade,
que consiste principalmente dos lobos frontais, também está
“envolvida na formação de intenções e programas de
comportamento.” Eles realizam isso em parte por meio da
ativação do cérebro e da regulação da atenção e da
concentração. Estudos elétricos do cérebro indicam que,
sempre que a atividade mental está envolvida, um complexo
de excitações elétricas ocorre nas regiões frontais do cérebro e
que essas excitações desaparecem quando a atividade mental
é encerrada. De acordo com Luria, a relação entre as três
unidades funcionais do cérebro e seus constituintes é tal que –

39 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


É claro que toda forma complexa de comportamento
depende do funcionamento conjunto de várias
faculdades localizadas em diferentes zonas do
cérebro. Uma perturbação de qualquer faculdade
afetará o comportamento, mas cada falha de um fator
específico provavelmente mudará o comportamento
de uma maneira diferente. . . Deve-se, portanto,
esperar que lesões nas estruturas envolvidas possam
resultar em mudanças no comportamento e que a
natureza da mudança varie de acordo com a estrutura
particular que está danificada.

Danos Cerebrais Psicogênicos. A principal preocupação do


trabalho de Luria a que nos referimos acima era o efeito do
dano físico ou mau funcionamento em áreas específicas do
cérebro no comportamento. Não estamos preocupados aqui
com os efeitos do dano físico de certas áreas do cérebro sobre
o comportamento, mas com os efeitos do “dano” cerebral
psicológico dessas regiões, particularmente da região frontal,
sobre o comportamento. Pois é nossa afirmação que dentro de
certos contextos socioculturais, a presença ou ausência de
certas experiências psicológicas pode ter o mesmo efeito no
comportamento de uma pessoa como dano físico realmente
ocorrido em uma área particular do cérebro. Em outras
palavras, a má programação ou socialização das regiões
frontais do cérebro produz um comportamento equivalente ou
semelhante ao dano cerebral real nas mesmas regiões.

A afirmação grifada – dentro de certos contextos socioculturais... –


será retomada no GEG; por hora, segue uma exposição sobre a
função dos lobos frontais do cérebro (seu desenvolvimento, caberá
ao leitor estudar, também no PDCP) e a conexão com Vygotsky,
seu conceito de pensamento verbal e a fala, e ao fim e ao cabo,
voltaremos ao GEG, com uma citação que fará o link entre
linguagem, consciência e o nosso cérebro:

Os Lobos Frontais. Já indicamos que algumas das funções


gerais dos lobos frontais incluem a formação de planos,
intenções, de programas de comportamento, a regulação da

40 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


atenção e concentração. As regiões frontais são as principais
responsáveis por regular o resto do cérebro e do corpo para
que o indivíduo possa se comportar de maneira apropriada
para completar um programa de ação planejado. Elas
observam e avaliam o comportamento à medida que está
sendo executado e comparam o comportamento concluído
com o plano de ação original, corrigindo, tanto quanto
possível, quaisquer desvios do plano. Os lobos frontais têm a
responsabilidade muito importante de alocar a energia mental
e física adequada à disposição do indivíduo para que as metas
estabelecidas possam ser alcançadas. Eles também regulam a
atenção e concentração do indivíduo para que ele não seja
facilmente desviado de seus objetivos por estímulos
irrelevantes. Assim como Luria concluiu. . . “os lobos frontais
do cérebro estão entre as estruturas vitais responsáveis pela
orientação do comportamento de um animal não apenas para
o presente, mas também para o futuro, e são responsáveis
pelas formas mais complexas de comportamento ativo.”

Os atos de programar, regular e verificar o comportamento


são realizados pelos lobos frontais com o auxílio da fala.
Embora instintivas, as formas elementares de comportamento
ocorrem com o auxílio da fala, processos mentais complexos
e superiores dependem fortemente dela.
Como apontado há algum tempo por Vygotsky, a fala que
é utilizada pelos lobos frontais é de origem social, ou seja, é
introduzida no indivíduo como resultado de suas interações
com os outros (e como criança, com suas relações com os
adultos). Portanto, é lógico que as relações humanas restritas,
distorcidas e negativas (particularmente nos primeiros anos de
desenvolvimento), e a fala engendrada por esses tipos de
relações, quando utilizada pelos lobos frontais como meio de
regular o comportamento, produz efeitos sociais e
desajustamento intelectual.

Essas relações (restritas,) distorcidas e negativas, Amos Wilson vai


sempre procurar colocar em termos técnicos, ora entendidas por
esquizoides e frustradas – para além de restritas – tipo analogia...

41 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Tal como, no VPP, Amos Wilson cita Deleuze e Guattari,
apenas para dar mais um exemplo: poderíamos nos limitar a citá-
los a fim da aprovação de quem só valoriza o que é produção
branca de pensamento, e então passar a fazer “esquizoanálises”:
»Conseqüentemente, as necessidades “criminosas” de Violência-
Preta-contra-Preto são essencialmente as mesmas que aquelas
exibidas por todos os Americanos “não-criminosos”. Geralmente
são artificiais, ou seja, “a criação deliberada de carência como uma
função da economia de mercado [que] é a arte de uma classe
dominante [Branca Americana]”. Isso envolve a organização
deliberada de desejos e necessidades “...em meio a uma abundância
de produção; fazer todos os desejos vacilar e tornar-se vítima do
medo maior de não ter suas necessidades satisfeitas...”
E então já estamos vendo que os fatores internos estão para a
herança genética como os externos estão para os ambientiais... Mas
como podemos ficar com uma teoria que diz que a linguagem é
inata, quando somos – definidos por nossa história e experiência –
“externalizadores”? Aqui cabe reutilizar o termo “esquizoide”.
Sobre esse termo em específico, novamente conectando o
ambiente à linguagem, o artigo de Kiara Thorpe e Andrea D. Lewis
vai dizer – sobre outra das contribuições teóricas de Amos Wilson,
artigo disponível via link – Bíbliografia, Índice, Apêndice (etc.):

As crianças Africanas Americanas geralmente têm um senso


complicado de raça e aprendem a viver em um ambiente
esquizóide. Essa sensação de dupla consciência também é
amplamente sugerida pelo Dr. William Edward Burghardt Du
Bois. Wilson usa o termo esquizóide em um sentido
psicossocial, não psicopatológico (Wilson, 1978).

Em outras palavras, o termo aqui se refere à flutuação dos pretos


entre os dois mundos – o mundo branco e o mundo preto. Exemplo
de alternância entre dois mundos: o uso do português “correto” e o
“pretuguês” (expressão de Lélia Gonzalez). Ele sugere que os pais
pretos garantam que os filhos possam falar adequadamente a língua
padrão com a mesma competência que as crianças brancas de
classe média, mas não neguem o uso da língua que adquirimos,
adaptamos e recriamos em ambientes apropriados (Wilson, 1978).

42 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Falou-se do cérebro, e da linguagem novamente à consciência,
por fim trazemos esta passagem, procurando sintetizar tudo que foi
dito até aqui (págs. 193-195):

Quando você envolve pessoas em terapia comportamental e


examina o cérebro delas para ver como o cérebro metaboliza
energia, você percebe que há uma relação entre as áreas do
cérebro que estão usando energia rapidamente, o tipo de
atividade mental pela qual uma persona está passando e o tipo
de atividade física comportamental pela qual a persona está
passando. Cada personalidade, cada tipo de orientação tem
um plano no cérebro em termos das várias áreas do cérebro
que se relacionam funcionalmente entre si. É interessante
notar, por exemplo, algo chamado personalidade obsessivo-
compulsiva – a persona que não consegue parar de repetir um
comportamento específico, por mais irracional que seja; a
persona que deve lavar as mãos a cada trinta minutos, mesmo
que não esteja suja, mas que é compelida a ponto de lavar as
mãos à escoriação, porque não pode parar; a persona que é
absorvida por um tipo particular de imagem, por tipos
específicos de pensamento ou orientação que eles não
conseguem tirar de suas mentes. É isso que queremos dizer
quando falamos sobre a personalidade obsessivo-compulsiva,
uma personalidade rígida e repetitiva. Observamos que, se
você escanear o cérebro dessas personalidades, certas áreas do
cérebro estão intensamente ativas. (...) Quando nós olhamos
para a personalidade compulsiva, notamos que essas áreas são
intensamente ativas, e ativas de uma maneira que mantêm os
sintomas dessa personalidade. Foi demonstrado que, quando
essas pessoas tomam um medicamento como o Prozac – e
respondem a ele de uma maneira que seus sintomas são
aliviados – a intensidade da interação entre essas três áreas do
cérebro é diminuída ou desassociada.
Também foi observado que você pode colocar esses
mesmos tipos de pessoas através de terapia comportamental;
que, mudando a natureza do relacionamento social entre o
terapeuta e o paciente – mudando a natureza da recompensa e
do castigo que o paciente sofre, em um esforço para mudar o
comportamento do paciente, mudando a maneira como o

43 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


paciente pensa sobre o que está em sua mente, pensa nos
problemas em que ele se encontra – quando você pode reduzir
com sucesso os sintomas do transtorno compulsivo por meio
desse condicionamento social, notamos também os mesmos
tipos de alterações fisiológicas do cérebro que ocorrem com a
ingestão das drogas e com a ingestão de treinamento social.
Em última análise, nós estamos dizendo que a natureza da
consciência e a natureza da experiência do indivíduo
transforma fisicamente o cérebro e transforma fisicamente a
maneira como o cérebro opera. Portanto, quando nós falamos
de consciência, estamos falando de algo que é real; nós
estamos falando de algo que transforma tanto a psique quanto
o corpo.

Por isso falamos de anacronismo, loop, delay e déjà vu ou aminésia


histórica – em outras palavras, epigenética. Já dizia um mais velho:

“O TRAUMA VIAJA ATRAVÉS DAS GERAÇÕES


ATÉ ENCONTRAR ALGUÉM QUE POSSA CURÁ-LO.”

***

Até aqui, chegamos à duas conclusões: historicamente, os pretos


são de tipo hemisférico direito, e os brancos de esquerdo. Coisa
que um Leopold Sedar Senghor sintetizou: a razão é helena, como
a emoção é negra; Fanon chutou. Césaire procurou um meio termo,
e enfatizou o caráter cultural Pan-Africano, outrora a personalidade
Africana de Blyden, atualizada por Nkrumah. Segunda conclusão:
sempre que o lado esquerdo do nosso cérebro se manifesta, temos
Pan-Africanismo como um movimento de ideias.
“Crentes” nas leis de Deus ou dos homens, acreditam praticar
um culto racional, mas que na verdade estão envoltos na névoa do
sentimentalismo e presos no emocional, até que a lavagem cerebral
seja completa e você convertido, e então se arrasta para aquelas
cadeiras, e morre mas não “sente” o espírito santo... estes recebem
ataques daqueles que querem atingir, muitas das vezes mais como
crença, nomeadamente o socialismo: em resumo (e logo, redução)
esse é o abismo que os separa Foucault de Chomsky no debate.

44 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Sobre o cérebro, o tal Marx, meio que por intuição, já havia
chegado quase a essa mesma conclusão: “Os homens fazem a sua
própria história, mas não o fazem como querem... a tradição de
todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos
vivos.” – ou seja, anula o sujeito, impede o ato criativo... Mas não
fique impressionado pelos nomes. Parafraseando Amos Wilson:
Marx está bem. Ele é útil, mas não se deixe enganar por ele.

Vamos olhar para a psicologia do nosso povo. Olhe para o


que está acontecendo e avalie as coisas nos termos das
realidades da nossa situação, não em termos da fama ou do
prestígio de um indivíduo que está apresentando uma
“grande” ideia.

Além do mais, Amos Wilson mesmo fala: Passado, presente e


futuro são um, e essa proposição está no centro de uma história e
abordagem Afrikano-centradas.

Assim como os homens, com seu conhecimento e desejo,


fundamentalmente fazem história, a história também faz os
homens.

Essa citação é de “White Racism: A Psychohistory” (Racismo


Branco: Uma PsicoHistória), de Joel Kovel.
O ponto é: não somos tão diferentes assim do homem branco:
sei narcisismo (projetado e internalizado) o impede de reconhecer
seu criador, confirmando Aristóteles, que admitiu que os filhos
sempre acharão seus pais antiquados... E aqui no ocidente estamos
nós, sob infuência desse “pensamento” (crença) de que nós somos
muito diferentes dos animais e o restante da natureza, portanto
devemos dominá-la, ela e todos os demais. Você certamente já
ouviu aquela história, papo de que DNA humano compartilha 50%
das mesmas informações genéticas da banana... Cheikh Anta Diop
vivia lembrando que é possível um sueco e um banto-sul-africano
serem geneticamente mais próximos entre si do que entre pessoas
da própria raça – tirando a menalina, o que os diferenciaria?... –,
logo “raça” “é uma construção fenotípica e sociocultural, não uma
condição biomolecular.” (Charles S. Finch III) (grifo nosso).

45 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Não negamos, gostaríamos muito que fosse assim. Também
gostaríamos de saber que há um “gap” de inteligência entre pretos
e brancos – uma inteligência geneticamente herdada... Que há uma
relação direta entre nossos genes e nosso comportamento, e como
ele atualiza nosso passado grandioso, e nos prepara para o futuro...
Como temos descalcificado nossas glândulas pineais, e agora nós
nos comunicamos quase que por telepatia, ou lunáticos, proclamar
que somos “gotas do sol sobre a Terra”, “o povo do sol” etc....
No entanto, a epigenética parece vir justamente para superar
essas teorias alienígenas, do lamarckismo ao neodarwinismo...
Não são questões para se preocuparmos: num caso ou no outro,
pretos são pioneiros. Se a linguagem for inata, então nós como
Africanos, podemos reivindicá-la: como seres humanos originais,
nós a desenvolvemos – como se diz, “tá no genes”. Se for pra olhar
para a estrutura também, pode-se dizer, com forte grau de certeza,
que também nesse assunto fomos os primeiros construtores, das
primeiras estruturas-sinapses... aqui importaria pensarmos que os
neurônios são divididos em três estruturas: corpo celular, dendrites
e axónio, diz uma matéria que encontramos (grifos nossos):

O axónio funciona com um canal de comunicação dos


neurónios, permitindo o contacto com outros neurónios ou
outras células do corpo humano, através de uma estrutura
especializada designada de sinapse, que permite a transmissão
de informação entre as células nervosas.
“Durante o desenvolvimento do sistema nervoso, os
neurónios passam por um processo de maturação, no qual
ocorrem transformações significativas ao nível do axónio”,
explica o CNC. “Uma dessas modificações é a alteração do
número de ribossomas – pequenas estruturas que funcionam
como máquinas de produção de proteínas.”

Mas se nossos cérebros contam 200.000 anos de desenvolvimento,


por outro lado a epigenética pode interferir, pelo menos nas três
últimas gerações, vamos pegar os últimos 500 anos... Por isso
dissemos, epigenética tá pro ambiente como a PNL pra experiência
– experiência consciente, orientada, focada, concentrada, com
motivação, essas coisas sob controle – não seja Heru, o Cego...

46 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


E que uma está pra memória como a outra pra consciência...
Antonio Damasio acredita que a criatividade é a capacidade de
representar memórias. Se isso é verdade, e sua personalidade é um
reflexo de sua consciência, por outro lado seria memória um
reflexo do inconsciente? E o que acontece se o comportamento é
controlado pelo inconsciente?
As memórias são representadas pela imagem (imagens visuais
ou sonoras; pense em Het Heru, divindade da imagem e do som) –
e da criatividade à imaginação, é 1, 2: lembra de Amos Wilson?
“Imagination!”
Da PNL à epigenética, queremos devolver o indivíduo de volta
ao seu grupo original, ou melhor, conciliar consciência e memória
– hemisfério esquerdo e direito do cérebro, por aproximação...
A “boa nova” aqui é que, antes os cientistas eurocêntricos
acreditavam que as informações armazenadas nos genes que
formam nosso DNA determinam o comportamento, sendo
impossível modificá-lo – daqui podem surgir teorias insuspeitas,
como aquela que apregoa que a inteligência é algo inteiramente
hereditário, como se o pensamento fosse comportamento – e em
seu extremo oposto, teremos a teoria da tábula rasa, como se
existisse um reino das ideias; e por essas e por outras, contra isso,
Amos dirá: “A inteligência, embora não seja algo que é [até certo
ponto] dado, [por conta da história e experiência particular do
indivíduo, e por extensão, do grupo] precisa ser moldada.”
Agora eles sabem melhor – pro nosso azar. Eles descobriram
que “o corpo humano tem uma maneira natural de ativar ou
desativar alguns dos nossos genes em resposta ao ambiente ou ao
estilo de vida que levamos.” É o que temos que saber por enquanto.
A novidade é que isso tudo pode ser alcançado sem mudar a
estrutura do DNA, e a isso se chama epigenética. Busquemos uma
definição técnica – epigenética: “O termo epigenética foi cunhado
por Conrad Waddington, em 1942, para descrever a tese de que a
experiência de um organismo pode ter influência na expressão dos
genes, modificando-a. A modificação não se inscreve na própria
sequência do ADN. A interferência processa-se ao nível do
mecanismo de controlo da manifestação do gene. As alterações
manifestam-se ao nível do fenótipo mas não ao nível do genótipo.”

47 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Numa breve definição, encontrada ainda nesse mesmo verbete, diz
que “variações não genéticas, adquiridas até um dado período da
vida, por vezes, podem ser passadas para a descendência. Não pela
via do ADN – genoma – mas por mecanismos epigenéticos.”
(Fonte: Wikipédia.) Por que isso é importante? Porque entre a
mutação e a epigenética, como uma ponte, está a seleção natural...
Aqui entra o epigenoma, mas antes vamos a outra definição de
epigenética: “O corpo humano tem uma maneira natural de ativar
ou desativar alguns dos nossos genes em resposta ao ambiente ou
ao estilo de vida que nós levamos; mas sem mudar a estrutura do
DNA. É o que se chama de epigenética.”
Isso vimos lá atrás. O DNA, por sua vez, influencia o cérebro.
Como o gene não vive no vácuo e nós temos tanto um lado criativo
como um lado condicionado – e a própria ciência conhece apenas
parcialmente como o DNA influencia o cérebro –, ao final
traremos uma lista de referências, para que esta pesquisa não pare
por aqui. Para além da curiosidade, pela aplicação prática que tais
conhecimentos podem conter, pelos resultados apresentados no
decorrer do desenvolvimento de sua pesquisa – PNL e epigenética.
Se a PNL nos permite entender melhor a mente, a epigenética
vai mais a fundo ainda, e nos permite compreender a linguagem.
Questões de linguagem são colocadas por Amos Wilson em sua
segunda palestra da nossa primeira publicação, às quais nos
levaram aos insights (ou inputs):
Por que, quando adoecemos, dizemos que é depressão?...
Por que, em outras palavras, não falar em termos de banzo?...
Ao fazer essas associações, não estamos sugerindo que Amos é
um autor contemporâneo, e com isso queremos dizer atualizado –
nós estamos afirmando! Ele vai dos “clássicos” da chamada cultura
de massas até a chamada cultura “pop”, de Michael Jackson a
Eddie Murphy, do cinema faz analogia com Star Wars e Star Trek,
para ilustrar seus exemplos, de jornais como o New York Times
ele toma exemplos para dar corpo às suas teses. Então por que não
pegarmos um trecho de uma matéria para falar sobre epigenética,
ainda mais uma que cite o Dr. Amos N. Wilson? Esse foi nosso
raciocínio, do nosso texto de introdução a esse material. E
trouxemos Kenia Maria na Vogue, e todas essas outras referência...

48 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Epigenética: você sabia que nossa personalidade é formada
ainda dentro do ventre?! Mas Amos Wilson vai desde o conceito
de personalidade reduzido a traços de personalidade – ou seja,
passivo-agressiva, obsessivo-compulsiva; uma pessoa que agride,
nós vimos que uma pessoa que “odeia” os brancos “demônios”, e
que pode até entrar em uma organização nacionalista preta, mas
que será pelos motivos errados (e que pode até ter sucesso como
resultado de fracasso!) – de Cobbs e Price, vimos Amos Wilson
pegar o conceito de “reação de raiva”: só porque não foi aceita
entre os brancos... Como um vira-lata, quanto mais é agredida,
mais ela faz a vontade do dono... pois sofreu perca de identidade.
Ele fala da personalidade em sentido estreito, mas também no
sentido mais amplo do termo, com todas as suas imbricações
possíveis. É dito que uma pessoa tem uma “personalidade forte” ou
“não tem personalidade”, ou que sofre “desvio de personalidade”.
Ora Amos Wilson fala de personalidade como uma representação
da consciência, nada mais nada menos. Ora ele fala da
personalidade também em termos autopercepção, autoconceito,
autoaceitação, autoestima, autoimagem e autoconhecimento – o
conhecimento de si mesmo; identidade. E nós vimos isso aqui o
tempo todo. Em outras palavras, ele parte tanto de uma abordagem,
digamos, comum como também dá um tratamento diferencial –
fala-se de um lugar particular, específico...
Malcolm X dedicou seus últimos dias à sua autobiografia
porque reconhecia que, como diz Amos Wilson, até pro terapeuta
conseguir conhecer seu paciente, ele precisa do histórico clínico;
ele precisa tomar conhecimento da sua experiência, Malcolm X
sintetiza: “Todas as experiências se fundem em nossa
personalidade. Tudo o que nos acontece é um ingrediente.” A vida
do Irmão Malcolm fornece o melhor testemunho de que é possível
se programar (se aceitarmos a hipótese do sujeito autônomo – da
liberdade individual, do livre pensador... do contrário, ser
programado, literalmente passar por uma lavagem cerebral –
hipótese em que teríamos que criar um ambiente selecionado, ou
seja, cuidar dos aspectos sociais da nossa vida – GEG, pág. 236...)
– e depois se/ser reprogramar/reprogramado, para atender a um
programa específico – no caso, o programa da NOI...

49 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Não vamos nos demorar sobre personalidade, basta ter em
mente que ela é, em grande medida, um reflexo da consciência.
Respondendo à pergunta que fica – e em qual medida ela não é (ela
é memória), Amos Wilson dirá (grifos nossos): “A personalidade é
parcialmente moldada no próprio ventre; moldada pelos genes,
moldada em parte pelo próprio processo de nascimento; moldada
nos primeiros dois anos de vida.” No entanto, se alguém te fizer a
pergunta se você consegue se lembrar em detalhes desses dois
primeiros anos de vida, você se lembra? Você aprendeu a andar,
você aprendeu hoje? São perguntas clocadas pelo irmão, e
prosseguindo: »No entanto, são esses dois primeiros anos que
determinam nosso comportamento de “8 a 80”. E, portanto, a ideia
de que não conhecemos, de que não temos conhecimento de certas
experiências iniciais, não significa que escapamos dos seus efeitos.
De fato, nos coloca mais profundamente sob a influência dessas
forças desconhecidas.« Mais do que isso: a própria fuga do
conhecimento de si mesmo – seja por negação ou distorção da
realidade – se torna criadora de comportamento e estrutura de
personalidade: “Portanto, a ideia de que não conhecer a história de
alguma maneira permite escapar dela é uma mentira.”
Personalidade representa a consciência, e memória? Identidade...
Epigenoma: “conjunto de substâncias químicas que marcam o
genoma e dizem às células o que fazer com cada gene” – “é como
se alguém pegasse um pacote de marcadores de texto coloridos
para enfatizar partes diferentes do manual” (pense no DNA como
um manual de instruções de como a célula deve funcionar, e cada
célula do seu corpo tem um desses manuais...) – definição
encontrada em vídeo no youtube.
“A maioria das marcas epigenéticas dos pais é apagada já nos
primeiros dias do embrião. Mas agora já se sabe que algumas delas
permanecem, e podem ser passadas para os descendentes. Por
exemplo, se o pai tinha o hábito de fumar muito no início da
adolescência, isso poderia contribuir com uma expectativa de vida
menor para os seus filhos e até para os seus netos. Mas o
epigenoma age no nosso corpo durante toda a nossa vida, não só na
fase embrionária.” – em resumo, o que está sendo dito aqui é que
estilo de vida (hábitos, dieta etc.), as experiências e o ambiente em

50 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


que vivemos “pode ativar ou desativar nossos genes” – “a natureza
pode ter encontrado uma maneira de passar até traumas para as
gerações seguintes.”
Vimos Amos Wilson usar o termo “menticídio” pensado por
Bobby Wright para explicar o genocídio mental praticado contra os
Africanos, e falando sobre a falsificação da Consciência Afrikana,
desenvolver o conceito de psico-história: “Tudo o que aprendemos,
nós aprendemos no passado. Você aprendeu a falar, você aprendeu
a andar... Você aprendeu quando? Hoje não. Aprendeu há anos!”
De modo inverso: “nós devemos reconhecer que nosso
comportamento visitará nossas crianças, e que nossas crianças
pagarão por nosso mau comportamento. Como nós falamos e
agimos, não termina no momento de sua ocorrência; isso continua
a reverberar para o futuro, e descender através das gerações.”
Por que quanto mais psicólogos produzimos, mais loucos
ficamos? Se os nossos espaços de cura sempre foram os terreiros...
O banzo, essa palavra derivada do tronco linguístico bantu,
também tinha lá seu tempo sagrado. Assim como a zanga de Davi,
a birra de Hamilton... Nesse ponto, traremos um estudo sobre
epigenética, e depois voltamos a essa reflexão, à luz do vídeo.
Existe toda uma literatura que discute esse assunto, mas vamos
ficar com apenas um conceito-chave: para além da síndrome, ou
transtorno de estresse pós-traumático (PTSD, na sigla em inglês),
falamos da síndrome pós-traumática do escravo (PTSS), esta da
qual nos fala a Dra. Joy DeGruy. Sabe quem mais tratou da
síndrome do estresse pós-traumático? Se você pensou em Fanon,
você acertou. “Os Condenados da Terra”. Nós somos como o
soldado francês – o soldado americano dos filmes, que volta do
Vietnã e apresenta esse transtorno, essa síndrome; só que eles
lutaram contra um inimigo em comum, nós nem isso!
Quer outro exemplo: nós somos como a primeira geração de
judeus pós-holocausto, apresentamos os memo sintomas/marcas
epigenéticas... só que não acumulamos riquezas, nem ganhamos
uma terra por isso – o caso de Israel, graças à Declaração Balfour!
Não, conosco o tratamento, os protocolos foram outros... O
psicólogo radical Na'im Akbar conta como a cultura europeia –
particularmente caucasiana, com seus desdobramentos nos EUA –

51 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


é toda uma cultura voltada pra guerra, enquanto o eu Africano está
mais interessado na auto-busca, ou seja, temos toda uma cultura
voltada para o divino, o sagrado; mas isso foi destruído com a
criação do “negro”. E o negro, híper sensível, aberto a qualquer
sugestão ou imput (tipo aceitar a definição ‘negro’) é hipnotizado...

Quem apanha nunca esquece? Esquece!...

Pesquisando sobre epigenética, nos deparamos com um estudo


bastante elucidador, em determinado ponto é dito que “a população
de judeus nascidos na Noruega que sobreviveram aos campos de
concentração alemães e seus filhos foi examinada e comparada aos
judeus nascidos na Noruega que escaparam para a Suécia e seus
filhos.” O artigo continua, dizendo:

É feita uma tentativa de procurar os sintomas descritos como


uma “síndrome de segunda geração” por vários autores. Os
presentes achados não apóiam a presença de psicopatologia
séria entre os filhos de sobreviventes judeus nascidos na
Noruega como um grupo, mas indicam um certo grau de
vulnerabilidade psicológica entre essas crianças. Quando
adultos, eles estão mais envolvidos em profissões e
organizações de saúde/assistência social e também mostram
sinais de maior assimilação ao ambiente não-judeu do que o
grupo de comparação.” Ela investiga o impacto sobre toda
uma (segunda) geração de judeus do seu holocausto.

“À medida em que se desenvolve através de experiência histórica


do indivíduo, para entender a sua própria psicologia individual, a
pessoa precisa entender sua própria história e experiência.” – e
aqui vamos dar corpo à esta tese, falando em termos de epigenética
– Amos Wilson fala, “você não pode tomar a psicologia de outra
pessoa, com história, experiência e destino diferentes e usar essa
psicologia para entender a si, ou para entender sua criança, e nem
tomar essa psicologia para educar sua criança apropriadamente a
conduzir seu próprio destino. É impossível.” Dor a gente não
supera, a gente “aprende a lidar”, como se diz...

52 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


A gente se pergunta: se aqueles judeus, sujeitos ao estresse
físico por um período relativamente curto, nem uma década, ainda
sofrem com isso – imagina o povo Afrikano, subjugado a pelo
menos 500 anos pelos nossos inimigos atuais!
É por essas e por outras que Amos Wilson diz que não
podemos pegar os modelos da psicologia deles e aplicar a nós –
pra ilustrar, vamos sempre tomar a criança preta como ponto de
partida: “Eu falo sobre isso em relação à educação de nossos filhos
para indicar que nossos filhos geralmente são reprovados e
destruídos pela estrutura de tempo das escolas que frequentam.”
Tenha em mente os métodos milagrosos da PNL e seus coachings
– desenvolvidos para quem mesmo, para qual psicologia?...

Quem nos disse que as aulas só precisam durar 45 minutos?


“Ah, os brancos ensinam em 45 minutos.” Mas isso,
aparentemente, é um sistema de tempo conectado a eles e
funciona para eles, que está de alguma forma intimamente
conectado à sua história e experiência.

Voltando ao vídeo: “Os cientistas ainda estudam como esse tipo de


transmissão epigenética de um trauma poderia acontecer em
humanos.” Quer dizer, os testes ainda estão sendo feito in vitro em
ratos. “Mas eles acreditam que seria possível reprogramar esse
mesmo mecanismo para nos tornar mais saudáveis, já que as
marcas epigenéticas podem ser reversíveis. Isso abre um enorme
universo de possibilidades no mundo científico.” Qual “ciência”?...
Em qual medida essas mesmas marcas epigenéticas não estão
sendo retroalimentadas para ativar gatilhos, traços de personalidade
gerados pela escravidão e colonialismo como transtorno de
personalidade múltipla, como abordar a depressão etc. ou como
atenter a esses nomes, a essas palavras pode nos prejudicar? Enfim:
“A questão agora é como desenvolver tratamentos que atuem
somente nos marcadores prejudiciais, sem impactar os positivos.”
E de novo a gente se pergunta, se “todo avanço do conhecimento
para eles, é um avanço no conhecimento da destruição” – em
outras palavras, se a vida deles é criar o problema (a doença) pra
vender a solução (o remédio), podemos confiar que a epigenética
será usada apenas para atuar sobre marcadores negativos?...

53 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


O lado ruim: “A epigenética prova que nem tudo está escrito
nos nossos genes.” A parte boa: “Temos em nossas mãos o poder
de influenciar positivamente nosso genoma através de escolhas
saudáveis” – boa, só até a conclusão do vídeo, que acaba dizendo:
“E de ajudar pessoas que não puderam fazer essas escolhas”...
Diz uma matéria da revista Veja: Todas as células no
organismo de uma pessoa têm o mesmo conjunto de genes. O que
explica que elas realizem funções tão diferentes é a epigenética, o
padrão químico que, influenciado por fatores externos, determina
quais genes são ativados e desativados em cada tipo de célula. Para
os cientistas, o novo mapeamento pode ajudar a entender a origem
de enfermidades como câncer, autismo e doenças cardíacas.
Tudo que a gente tava falando, de uma forma ou de outra,
remete às chamadas teorias do conhecimento. Por exemplo: para o
psicólogo do desenvolvimento Piaget, o pensamento é fundamental
no processo de aprendizagem... Mas o Wikipédia diz muito pouco,
um artigo que encontramos diz melhor – “O paradigma epigenético
que abrange a psicologia piagetiana e a biologia pode ser
caracterizado pelos seguintes aspectos: (...) (f) a epigênese atua na
mediação entre os níveis biológico e psicossocial, servindo para
integrar os dois níveis em um todo estrutural e funcional.”
Anote essas palavras: estrutural e funcional. Esqueça Piaget,
nossa citação foi apenas para chegar a esta outra que esbarramos na
pesquisa, para termos mais uma definição de epigênese; uma vez
que Chomsky defende a linguagem como uma espécie de instinto,
e faz isso ignorando a epigênese, justamente ela, que se refere à
influência do ambiente na expressão do código genético...
Compartilhamos 98% dos genes com os macacos. Cientistas
chineses recentemente realizaram o seguinte experimento: a fim de
saber quais genes são responsáveis por nos tornar mais inteligentes,
inseriram genes do nosso cérebro em nossos “primos” distantes...
Não ficamos espantados em saber que esses genes foram injetados
nos embriões dos macacos por meio de um vírus que carregava o
gene MCPH1 – noutros termos, produziram macacos transgênicos!
(Outro grupo de pesquisadores descobriu, por outro lado, que
possuir determinado gene sozinho – por exemplo, os chineses
estavam tentando descobrir o gene da inteligência – é insuficiente

54 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


para desenvolver a habilidade correspondente – quais habilidades
nossos pais tinham três ou quatro gerações atrás perdemos, que
seriam proveitosas como tecnologias de enfrentamento ou
instrumento de criação hoje, é o que a gente se pergunta...)
Mas o estudo da epigenética aplicado à melanina consegue ser
ainda mais perturbador... o que serão dessas crianças? Vejamos.
Mulheres grávidas em Gana estão tomando pílulas para que
seus bebês venham ao mundo mais claros. Em Diáspora foi preciso
menos: de norte a sul (da América), quanto mais se desce, mais a
eugenia/branqueamento/miscigenação se torna política de estado.
Um estudo feito em 2010 mostrou que 50% das mulheres clareiam
a pele em todo o mundo, 70% das quais estão na África (sobretudo
na Nigéria, Congo e Costa do Marfim). Por outro lado, a Dra.
Frances Cress Welsing aponta que a indústria farmacêutica lucra
cada vez mais com produtos químicos vendidos para brancos na
tentativa de escurecer a pele. Amos Wilson diria que isso apenas
comprova que nossa realidade deve estar invertida: chama-se
Teoria da Complementariedade Racial – TCR.
Além de proteger a pele contra os raios UV, a melanina ajuda
com suas habilidades cognitivas e no funcionamento do neurônio.
Em outras palavras, você literalmente precisa de melanina para
pensar. E porque não pensar também que, é no processo da
formação das sinapses, ao invés de uma capacidade (de adquirir e
desenvolver a linguagem) inscrita no código genético, que o
próprio ambiente fornece essa estrutura, por intermédio da cultura?
Demos ênfase a pouco às palavras estrutural e funcional. A
ideia de Amos Wilson, pais participando na educação dos filhos,
pode ser identificada, na chamada moderna psicologia, em Piaget,
senão mais (no caso de Amos) em John Dewey, que defendia a
conexão entre as sensações e as ideias, vamos dizer assim
conciliando o idealismo platônico com o pensamento aristotélico
na teoria do aprendizado e prática educacional, por uma pedagogia
do aprender fazendo, instrumental, pragmática do conhecimento.
Repare que isso que vamos dizer é o que mais se aproxima de
sintetizar tudo o que trouxemos até aqui, ousamos dizer desde o
texto de apresentação a Amos Wilson ainda no primeiro livro.
Então falávamos em termos de teorias do conhecimento...

55 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Por analogia desfilamo pelo debate entre Foucault e Chomsky,
o que na nota de fim de número 6 nós tentamos exemplificar,
partindo de Marimba Ani, para dizer que o autoconhecimento
estava para o conhecimento sensível como o autoconhecer estava
para o conhecimento inteligível. O agnóstico e a gnose, o exotérico
e o esotérico, empirismo e racionalismo, tudo o que alienígenas
tiveram que dividir para imperar, dominar e conquistar...
Você não precisa pesquisar muito para descobrir que essas são
suas duas principais características – funcionalismo e pragmatismo.
Para esse autor, o comportamento deve ser compreendido à luz de
sua função; esta por sua vez ligada às necessidades de adaptação
para a sobrevivência do organismo em um ambiente
determinado/selecionado – funcionalismo. Para tanto, conceitos
abstratos devem ser evitados em detrimento daqueles que possam
ser usados de forma prática, e ponto final – pragmatismo. Amos é
pragmático: significa dizer que devemos abandonar os currículos
escolares que não trabalham para promover os intesses do povo,
nem contribui para a construção da nação e desenvolvimento
concreto de suas instituições – e por extensão, para cumprir o seu
destino –, por uma nova ordem mundial, entenda-se.
Reestabelecendo a conexão com Kovel – TEPT/PTSS,
epigenética, leia-se: “Não é sobre o que eles dizem ou não
representar. É como eles funcionam que é de importância.” –
significa dizer que Amos Wilson é um funcionalista. Todavia,
como vimos, Amos Wilson apenas dialoga, ele não se compromete.
Sua principal obra chama-se Blueprint for Black Power.
Blueprint se traduz tanto como “Modelo”/“Projeto”/“Plano” (MPP)
quanto como “Esquema”/“Framework”/“Conspiração”. Queremos
aqui interpretá-lo como um ‘Modelo para o Poder Preto’.
Optamos por ‘Modelo’, não por preciosismo, mas para linca-lo
com a Programação Neurolinguística (PNL), porque vemos em
Amos Wilson o coaching (treinador) por excelência do Povo Preto
para o século 21; um intelectual ‘modelo’, como em nosso ensaio.
A ideia é simples: uma vez que nós fomos colonizados, o que
significa dizer subordinados à cultura e língua de outros, nós
devemos nos ressignificar/reprogramar – à nível pessoal, grupal e,
por fim, nacionalmente. Mas nossa PNL não é “PNL”...

56 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Trata-se de um projeto científico, e tem até nome:
Espiritualidade Científica Africana – ECA, aqui pra nós. Enquanto
em PNL se usam esquemas, modelos, em outros termos, teorias
previamente testadas – e às vezes comprovadas... – para treinar
apenas um lado do cérebro, diferentemente da PNL, a ECA vê os
hemisférios cerebrais como unificados por Heru, buscando um
justo equilíbrio, o que foi simbolizado pela sua dupla-coroa, as
terras do húmus e do papiro nela representadas.
Enquanto a formação durava mais de 40 anos no chamado
antigo Egito (Kemet) – e não 1 hora, tipo palestra de coach... –
entre aqueles que estudaram nas universidades Keméticas, nenhum
grego se formou – nem Aristóteles, nem Platão, nem Sócrates!
Enquanto a PNL não tem propósito para além do “sucesso”,
realizar o “Sonho Americano”, a ECA é muito mais ampla,
abrangente – e anterior. Além disso, a PNL é limitada – e por isso
dizemos, onde ela acaba, começa a epigenética...
Comentando sobre os pontos de convergência – trabalhar com
modelos. Magnum opus de seus autores, tanto Blueprint quanto
Yurugu trazem em seu bojo diagramas, esquemas, modelos, mapas
mentais, porque esses autores sabem que não há melhor forma de
aprender senão visualizando (via imagens, ilustrações) os conceitos
(via palavras, palavra escrita) que estudam.
Quando falamos em modelo, vamos a um exemplo prático, eles
próprios admitem, quando dizem: esse modelo de sociedade está
falido... Tal como o materialismo histórico-dialético ou a
psicanálise, a PNL/ECA é antes um método, do que uma doutrina,
um dogma. Em Amos, como vimos, temos um intelectual modelo
para o Povo Preto, com ele aprendemos que, se estamos falando
sério sobre organização, devemos começar por nós mesmos, como
indivíduos, e só então passar para o próximo nível – como coletivo
e (finalmente) enquanto povo, nação.
Como e enquanto, pois quando nós falamos em modelo, vimos
que não estamos tratando de algo estático, dogmático, mas estamos
falando em movimento... enquanto grupo que compartilha de uma
experiência histórica em comum, e sendo assim, de comunidade
histórica. Condicionada a usar o tipo hemisférico direito, que
acredita que o comportamento é guiado de fora – externalizadora...

57 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Particularmente, a ECA não é nem existencialista nem
essencialista totalmente: não é sobre o que é (como no sentido
aristoi-télico, peri-patético...), a pergunta a ser feita é como é,
assim que é. Então a gente não se apega à terminologia – “PNL”.
Veja isso mais como uma forma de alterarmos nosso
comportamento.
Em outras palavras, fala-se de um método para largar esse
“estilo de vida” introjetado na gente. Aprofundando as diferenças...

Da epigenética à PNL, finalmente à ECA...

A PNL procura incindir diretamente no Sistema Nervoso Central –


SNC. Enquanto a PNL foca nisso, a Espiritualidade Científica
Africana olha para o Sistema Nervoso Simpático – SNS. Isso foi
melhor expresso através de Heru (“Aquele que está acima”) como
aquele que vence o caos (Set), a visão de falcão como
simbolizando a externalização do nosso foco de consciência,
“raciocinar, prestar atenção, realizar nossa vontade, utilizar os
órgãos e faculdades da atividade externa (olhos, parte frontal do
cérebro, mãos, pernas etc.)” (Ra Un Nefer Amen, 1990).

Heru corresponde à fase “solar” do ciclo metabólico


psicofísico, que é mediado pela noradrenalina e outras
substâncias químicas do SNS. Permite-nos tornar e
permanecermos despertos, ou como se dizia no antigo Egito:
Pert Em Heru. Corresponde à nossa vontade, que é a
liberdade de seguir ou rejeitar a lei divina e nossas emoções.
Essa liberdade é o cerne da nossa divindade. Sem isso, o
homem seria obrigado a seguir as forças estruturais de ordem
que se manifestam na 10ª esfera {da Árvore da Vida
Kemética – Paut Neteru, donde a palavra “natureza”} como
os “instintos”, que obrigam todas as outras criaturas a
obedecer à lei, caso em que ele não poderia ser
responsabilizado perante a lei, humana ou divina, muito
menos ser considerado a “semelhança de Deus”. Assim, o
crescimento espiritual ocorre somente quando o
comportamento e as ações são iniciadas independentemente
dos impulsos emocionais (isto é, o mesmo os ignora). Muitas

58 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


pessoas ignoram a liberdade intrínseca de sua vontade, ou
estão tão habituadas a agir por impulso emocional, ou
compulsão aparente, que renunciam voluntariamente a seu
domínio intrínseco sobre seu espírito. Este padrão para as
emoções é representado por Heru Khenti an Maati, ou “Heru,
o Cego”.

Ra Un Nefer Amen é um crítico da PNL, que segundo ele peca por


não buscar a “paz”. Sua contribuição tem preenchido as lacunas da
Espiritualidade Científica Africana perdida (particularmente
Kushita-Kemética) e ele o faz recorrendo aos sistemas Dradivianos
(Índia Preta, ou Índia pré-Ariana...), o cabalismo Cananeu, a
filosofia do Tao e os caminhos da Ásia profunda... Tal como no
caso de Platão e Aristóteles, temos o caso do mestre e do aprendiz,
em que Khonsu Nok, por outro lado, vai buscar no interior da
África essas ramificações – em verdade, suas raízes.
E não se trata de sincretismo: PNL é uma coisa, ECA é outra...
Não se trata de “libertar o espírito heroico dos negócios” e
outros metaprogramas, trata-se, antes, duma tentativa de atualizar
as ideologias, religiões – chame como quiser – para que elas nos
sirvam; é mais sobre ressignificar, para fins muito práticos, do que
por qualquer motivação desinteressada, sem propósito ou mal
intencionada. Se você está lembrado, “A essência de muitas
abordagens psicoterapêuticas é tornar o indivíduo consciente das
forças, desejos e impulsos inconscientes, que determinam seu
comportamento contra a vontade.” (Pág. 145)
Raciocina com a gente: será que o vício em cigarro acontece
exclusivamente por dependência química à nicotina? Ou é o
cérebro quem se acostuma a responder com relaxamento e bem-
estar ao ato de jogar fumaça para dentro dos pulmões?
Experimente fazer as coisas de mão trocadas – se você é canhoto,
tente a destra... é a mesma coisa com os “metaprogramas”
imputados em você, o sistema operacional instalado no seu
cérebro. Portanto, tem pouco a ver com “força de vontade”: é dito,
mapa não é território... em outras palavras, como a vontade em si e
para si; a ideia é que não pode ser algo meramente desenvolvido
por meio de “exercícios mentais”, mas por meio de rituais, envolve
música, dança, bem como atividades intelectuais, lógicas.

59 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


É o que tem feito a Ausar Auset Society, fundada pelo citado
Ra Un Nefer Amen. É por os dois lados do cérebro pra funcionar.
Você tem que viver a coisa: a filosofia é essa!
Enquanto a PNL faz o corte com a navalha de Occam, a ECA
olha para o todo; o que novamente separa o joio do trigo: o cérebro
humano é capaz de se auto-moldar, e a cada novo pensamento,
novas sinapses se formam, o que reflete numa mudança estrutural,
no longo prazo. Enquanto a PNL divide o cérebro, a ECA conserva
o corpo caloso... Se aproximando do consciencismo de Nkrumah,
baseado no materialismo histórico-dialético, ou seja, na matéria,
Amos Wilson fala: “a natureza da consciência e a natureza da
experiência do indivíduo transforma fisicamente o cérebro e
transforma fisicamente a maneira como o cérebro opera. Portanto,
quando nós falamos de consciência, estamos falando de algo que é
real; nós estamos falando de algo que transforma tanto a psique
quanto o corpo.” – já vimos isso aqui, estamos apenas reforçado.
Com isso, afastamos Amos Wilson das armadilhas do
cognitivismo individualista, solipsista, que pensa que só existe eu
no universo, e que eu sou um indivíduo independente de grupo, eu
sou “apenas um ser humano, sem cultura, sem reconhecimento,
sem identidade.” Nada a ver também com o charlatanismo coach
nova era – inteligência, para Amos Wilson, é um tanto imanente
quanto transcendente, do homem em seu encontro com a natureza:
esse é o conceito Africano, o Espírito Africano de Marimba Ani...

Amos Wilson: coaching/modelo para o povo preto...

Da TCR ao LC, a ideia do material é fornecer ao leitor uma visão


ampla do grande Amos Wilson. PNL ou epigenética, também não
se apegue aos termos. Tentamos desmistificar e escurecer algumas
questões que pairam em torno desses “extremos que se tocam”,
visto que o homem personifica antes de tudo o nacionalismo preto
– “o último Garveyista”! Uma sinapse entre nossa primeira e
segunda publicação, é a conexão que esperamos ter estabelecido.

Abibiman Shaka Touré


EDITOR EXECUTIVO

60 | AMOS WILSON: DA PNL À EPIGENÉTICA


Bibliografia Selecionada

PNL/ECA:

Amen, Ra Un Nefer. Metu Neter Vol. 1. The Great Oracle of


Tehuti And The Egyptian System of Spiritual Cultivation. Khamit
Media Trans Visions Inc., 1990.

Lubicz, Schwaller de. The Temple in Man: A Treasury of Feasts


and Festivals: Sacred Architecture and the Perfect Man. Inner
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Ver também El Ojo de Horus (“O Olho de Hórus”), documentário


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Faria, Leonardo. “Linguagem e cérebro: confira as principais áreas


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epigenética

“O que acontece quando cientistas implantam genes humanos em


cérebros de macacos.” BBC News. 15/04/2019.
“Epigenética: entenda essa nova fronteira na Ciência.” BBC News
Brasil. YouTube, 02/08/2020. Acesso em 12/02/2021.

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