Campo Maior – PI
2022
3
AGRADECIMENTOS
4
“Impavidum ferient ruinae”
Odes, III, 3 e 8
5
RESUMO
6
ABSTRACT
This paper deals with the role of written language in society and the main problems
and solutions that can lead to an improvement of the Brazilian educational system. But
that is not the main approach to work. The real intention is to demonstrate the
importance of language during prehistory and written language for the emergence of
history itself.
With the emergence of written language, a new problem arose: in the conversation
with his interlocutor, the author of the language had, in order to help him in the
conversation, in the spoken language, his physical presence, which assured the
interlocutor the answer or clarification of misunderstandings, facial expressions,
gesticulation and voice intonation.
When reading a text, what do we do to have the same understanding that we have
when we use oral language directly with the interlocutor? This problem is solved with
punctuation marks, established or standardized to cover the absence of the author of
the message.
Key words: language. Writing. Punctuation marks.
7
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................09
2. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................... 14
2.1. Linguagem .........................................................................................14
2.2. A língua ..............................................................................................18
3. A ESCRITA ....................................................................................................26
3.1. O surgimento da escrita ............................................................................27
3.2. A abordagem da escrita como sistema de representação .....................31
3.3. Da ortografia e dos sinais de pontuação como substitutos de
mecanismos da linguagem oral .................................................................35
4. DO ANALFABETISMO, DA ALFABETIZAÇÃO E DO LETRAMENTO ........42
4.1. Dos conceitos de alfabetização e letramento ..........................................43
4.2. Uma voz dissonante? .................................................................................51
5. CONCLUSÃO ......................................................................................................55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 56
8
1. INTRODUÇÃO
10
todo o mundo), ou que negam realidades incontestáveis, como que houve uma
ditadura militar no Brasil entre 1964 e 1985 e que matou, torturou e fez desaparecer
milhares de brasileiros, deles que nunca pegaram em armas contra o regime, como
escritores e jornalistas, sendo emblemático o caso do jornalista Wladimir Herzog.
E por trás dessas ideias há pessoas que se consideram cultas – e até
deveriam sê-lo, tendo em vista que muitas delas possuem curso superior nas mais
diversas áreas do conhecimento humano (história, filosofia). No entanto não só
endossam essas ideias como as propagam, havendo na internet até sites sobre esses
temas.
Temos visto em vários blogs da internet e até mesmo sites pessoas que se
dizem (ou se acham) cultas afirmando com toda categoria que o nazismo e o fascismo
foram ou são ideologias de esquerda e muitas delas tão somente porque no nome do
partido nazista - Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães – como
se vê, constam as palavras “socialista” e “trabalhadores”, o que é suficiente para
atrelar o nazismo ao Partido dos Trabalhadores no Brasil.
Tudo isso prova o déficit cognitivo e o pensam-no simplório próprio de quem é
incapaz de fazer uma leitura com interpretação correta e com crítica, resultante da
pouca leitura que se traduz com maior perfeição nos termos analfabetismo funcional.
Fica claro, pelos dados que apresentaremos neste trabalho, que muitas vezes
o perfil ideológico de algumas pessoas que se enquadram na condição de analfabeto
funcional é essência para que as pessoas adotem tais ideias através de uma leitura
superficial e a associação artificial, forçada, de oposição a outros perfis ideológicos.
Mas cabe observar que não é o perfil ideológico que fabrica o analfabeto
funcional. O problema transcende qualquer coisa nesse sentido. É o simples fato de
escrever ou falar para defender seus pontos de vistas que denuncia o analfabeto
funcional, seja deste ou daquele perfil ideológico. Citamos esses casos concretos
apenas para dar a ideia de até onde pode chegar o analfabetismo funcional.
Há que se observar que não é o perfil ideológico que leva essas pessoas a
esse grau de erro, mas o analfabetismo funcional. E aqui cabe o ressalto sobre um
dos aspectos cruciais que levam as pessoas a proferirem absurdos em público sem
o mínimo rubor, sem pensarem ou raciocinarem sobre o que estão falando baseado
numa leitura malfeita. Trata-se de interpretação de texto: o analfabeto funcional não
sabe interpretar o que lê e não raras vezes entende o contrário do que o autor quer
11
dizer no texto.
Como remédio para esse diagnóstico, surge, em meados da década de 1980,
concomitantemente mas com vieses diferentes entre países desenvolvidos e países
em desenvolvimento – Magda Soares, in “Letramento e alfabetização: as muitas
facetas” ousa até mesmo referir-se a pessoas iletradas do 4º mundo (conceito que
não existe em geografia política, até mesmo porque os termos 1º, 2º e 3º mundo, em
geopolítica política, foram substituídos por países “desenvolvidos”, “em
desenvolvimento” e “subdesenvolvidos”.2
A metodologia, portando, foi a observação direta e o trato social com essas
pessoas, assim como a pesquisa na literatura disponível, em livros que tratam do
assunto, em artigos de revista e jornais, em artigos científicos.
O trabalho trata, de início, sobre o surgimento da linguagem e da escrita, para
depois tanger à língua culta e ao bom uso dela através da ortografia e dos sinais de
pontuação, que interferem diretamente na compreensão, na interpretação do texto e,
por fim, fechar com um capítulo sobre o letramento.
2 Eduardo de Freitas, graduado em geografia e membro da equipe Brasil Escola escreveu em artigo
sobrea denominação das regionalizações mundiais sob o ponto de vista geopolíticas intitulado
“Primeiro, segundo e terceiro mundo”: O mundo recebeu e recebe diferentes regionalizações, isso para
facilitar o estudo do mesmo em diferentes abordagens, evitando generalizações nas informações, isto
é, tornando a análise mais específica. Uma das formas de regionalizar o mundo é a partir do critério de
nível de desenvolvimento. No período da Guerra Fria, por exemplo, o mundo foi dividido em: Primeiro,
Segundo e Terceiro Mundo.
Primeiro Mundo: são considerados desse grupo os países que possuem características comuns, como
economias fortalecidas, altos índices de industrialização, elevado nível tecnológico, além de suas
populações apresentarem indicadores sociais elevados, tais como boa qualidade de vida, bons
rendimentos, baixos níveis de analfabetismo, boa expectativa de vida, entre outros. Os países que
compõem esse grupo são: Canadá, Estados Unidos, Europa Ocidental, Japão e Austrália. Atualmente
esse grupo é conhecido como “desenvolvido”.
Segundo Mundo: é constituído por um grupo de países ex-socialistas, como a União Soviética, que
possuíam economia planificada. Essa designação não é mais usada atualmente. Muitos cientistas
classificam como de Segundo Mundo os países detentores de economias emergentes, como China,
Rússia, Brasil, Argentina, México e Índia. Esses países são chamados atualmente de “países em
desenvolvimento”.
Terceiro Mundo: fazem parte desse grupo os países que possuem economia subdesenvolvida ou
em desenvolvimento, geralmente nações localizadas na América Latina, África e Ásia. O criador da
expressão foi o economista francês Alfred Sauvy, a mesma foi emitida pela primeira vez no ano de
1952. A expressão foi criada a partir da observação que o economista realizou acerca dos países
do mundo, ele constatou que existia uma enorme disparidade política, econômica e social entre
as nações, deixando muitas delas marginalizadas no cenário mundial. Fazem parte desse grupo:
a maioria dos países latinos, e muitos países da África e Ásia.
As denominações apresentadas, bem como as suas características, estão de acordo com a
Teoria dos Mundos, esse método de análise foi usado entre os anos de 1945 e 1990. Apesar
dessas expressões não serem mais usadas, a configuração do mundo praticamente não mudou, com
exceção de alguns países que conseguiram evoluir um pouco. (grifamos). Disponível em:
<https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/primeiro-segundo-terceiro-mundo.htm>. Acessado
em 28/02/2019.
12
Ao tratarmos da língua (sempre que nos referirmos à língua aqui, estaremos
falando da norma culta, seja quanto a língua portuguesa, ou quanto uma língua
estrangeira), que é aquilo que mais implica na questão da interpretação e do
letramento, abordamos o aprendizado escolar, as diversas metodologias de ensino
nas escolas brasileiras, as deficiências e outros problemas pertinentes à sala de aula.
Mas essa abordagem, a despeito dos problemas inerentes à educação, que agora,
como se não bastassem os que já existem, se vê ameaçado por tentativas de
introduzir guerras de ideologias à direita e à esquerda, como a tal Lei Escola Sem
Partido, que vem acompanhada de fatos que já aconteceram e das ameaças de
fiscalização por políticos de viés conservador, é uma abordagem positiva.
Ela é positiva por apresentar não só os problemas, mas também soluções para
diversos dos problemas que afligem as salas de aula, os professores, diretores de
escola, os alunos e os pais de alunos.
A educação brasileira, apesar de ter progredido durante os últimos anos, se vê
ameaçada de retroceder e até medidas anticonstitucionais e ilegais, que ferem
inclusive a Lei de Diretrizes e Base da educação, correm o risco de serem impostas
em sala de aula.
Os tempos que atravessamos são tão sombrios para a educação, que pseudos
filósofos, que sequer concluíram o ensino básico, querem definir o que constará nos
planos de aula nos ensinos fundamental e médio das escolas brasileiras, o que é um
absurdo.
É de conhecimento público e notório, apresentado inclusive nos telejornais
brasileiros e nos diversos sites da internet, a visitado que o ator pornô Alexandre
Frota fez ao ministro da educação do governo Temer, com o intuito de influenciar de
alguma forma na condução da educação brasileira, confrontando, inclusive, a
metodologia daquele que dedicou toda a sua vida a serviço da educação brasileira,
Gilberto Freyre. Outros grupos ditos conservadores e de extrema direita,
aproveitando da visibilidade da nova tecnologia das redes sociais, têm passado falsas
informações, os famosos fake knews, seja propositalmente, seja por não acreditarem
mesmo nos fatos científicos, seja por pura ignorância, sobre descobertas científicas,
como a que informa que a Terra não é redonda e não gira em torno do Sol. Mas
teorias da conspiração e as famosas “fake knews” não por pessoas aliadas à direita,
a esquerda tem colaborado bastante.
13
Mas duas coisas são certas: alfabetização é diferente de letramento que vai
muito além daquele; e letramento não envolve apenas saber ler e escrever, mas
envolve a obtenção do que chamamos cultura, conhecimento do mundo e das coisas,
de tal forma a compreender o que ler e saber expressar o que adquire ou passa a
dominar o assunto sobre o que ler.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. A linguagem
A importância da linguagem
Na abertura da sua obra Política, Aristóteles afirma que somente o homem á
um “animal político”, isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de
linguagem. Os outros animais, escreve Aristóteles, possuem vos (phoné) e,
com ela, exprimem dor e prazer, mas o homem possui a palavra (logos) e,
com ela, exprime o bom e o mau, o justo e o injusto. Exprimir e possuir em
comum esses valores é o que torna possível a vida social e política e dela,
somente os homens são capazes.
Ela demonstra o que alguns filósofos exprimiram sobre a linguagem (p. 148):
14
instrumento graças ao qual ele influencia e a base mais profunda da
sociedade humana”.
Prosseguindo em sua apreciação sobre a importância da linguagem,
Rousseau considera que a linguagem nasce de uma profunda necessidade
de comunicação:
Desde que um homem foi reconhecido por outro como um ser sensível,
pensante e semelhante a si próprio, o desejo e a necessidade de comunicar-
lhe seus sentimentos pensamentos fizeram-no buscar meios para isso.
Gestos e vozes, na busca da expressão e da comunicação, fizeram surgir a
linguagem.
Por seu turno, Hjelmslev afirma que a linguagem é
O recurso último e indispensável do homem, seu refúgio nas horas solitárias
em que o espírito luta contra a existência, e quando o conflito se resolve no
monólogo do poeta na meditação do pensador.
15
(...)
Os números e as palavras também são signos, isto é, estão no lugar das
quantidades reais de objetos ou do próprio objeto
16
O domínio da linguagem, como a atividade discursiva e cognitiva, e o domínio
da língua, como sistema simbólico utilizado para uma comunidade linguística,
são conclusões de possibilidade de plena participação social. Pela linguagem
os homens e as mulheres se comunicam, têm acesso à informação,
expressam e defendem pontos de vista, partilham ou constroem visões de
mundo, produzem cultura. Assim, um projeto educativo comprometido com a
democratização social e cultural atribui à escola a função e a
responsabilidade de contribuir para garantira todos os alunos o acesso aos
saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania.
Essa responsabilidade é tanto maior quanto menor for o grau de letramento 3
das comunidades em que vivem os alunos. Considerando os diferentes níveis
de conhecimento prévio, cabe à escola sua ampliação de forma que,
progressivamente, durante os oito anos do ensino fundamental, cada aluno
se torne capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de
assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais
variadas situações.
E só para atestar que a visão das duas autoras se reflete dentro do universo
filosófico, ao qual elas se dirigem, arrematam dizendo:
Essa é, sem dúvida uma abordagem filosófica da linguagem e de seu uso pelos
únicos seres portadores de razão no planeta terra, os homens.
3 Letramento, aqui, é entendido como produto da participação em práticas sociais que usam a escrita
como sistema simbólico e tecnologia. São práticas discursivas que precisam da escrita para torna-las
significativas, ainda que às vezes não envolvam as atividades específicas de ler e escrever. Dessa
concepção decorre o entendimento de que, nas sociedades urbanas modernas, não existe grau zero
de letramento, pois nelas é impossível não participar, de alguma forma, de algumas dessas práticas.
(Nota do original).
17
Corroborando o entendimento acima, no verbete “Linguagem” da Enciclopédia
Mirador Internacional (1995, p. 6849/6850), temos o seguinte:
Por essa razão se pode afirmar categoricamente que um papagaio não fala.
Apenas é portador de um aparelho fonético que lhe dá a capacidade de imitar a voz
humana e que lhe daria a capacidade de falar caso dispusesse o seu cérebro dos
elementos comuns aos seres humanos, aos quais nos referimos acima.
A linguagem, portanto, é não só um fator desenvolvido e característico do ser
humano, como determina a sua realidade, bem como a modifica, a constrói, a destrói,
a transforma. Ao mesmo tempo constrói, forma, modifica, transforma o ser humano.
Daí poder-se dizer que o homem não seria o homem sem a linguagem.
2.2. A língua
4Para um maior esclarecimento sobre a origem da família e das formações grupais que se seguiram
até a formação do estado, ver ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade privada e do
Estado. 3 ed. São Paulo: Escala, 2009.
19
uso da língua pelo indivíduo, ou a forma particular do uso da língua. É o
desenvolvimento da linguagem em suas diversas formas.
A Enciclopédia Mirador Internacional (1995, p. 6849) é categórica ao afirmar
que “é essa faculdade humana, intra ou interindividual, através da qual o homem se
manifesta ou manifesta algo a outros integrantes de seu grupo, que se chama
linguagem”.
Claro está que a língua ou a fala não são as únicas linguagens utilizadas pelo
ser humano para comunicar-se. O desenho, ou a pintura, particularmente nas paredes
das cavernas em que habitava o homem primitivo foi uma das primeiras formas de
linguagem surgidas. A música, a escultura, a pintura, a música, são linguagens
utilizadas pelo homem.
ARANHA e MARTINS (2013, p. 55) observam que, obviamente, a linguagem
verbal, oral ou escrita, não são as primeiras que utilizamos para os comunicar, ou,
para usar os termos que elas usam, “para dar significado ao mundo”. Isso porque,
desde bebês, usamos várias outras linguagens para nos comunicarmos, como o olhar,
o choro, os gestos e balbucios.
A linguagem é um sistema de signos. Essas autoras informam que o signo,
segundo o filósofo Charles Sanders Peirce “é uma coisa que está no lugar de outra
sob algum aspecto”. Obviamente, os números e as palavras também são signos, ou
seja, estão no lugar das quantidades dos objetos ou deles próprios. Dessa forma, o
signo é a representação do objeto.
Tratando de outros elementos da linguagem e da imensa quantidade desses
elementos, ARANHA e MARTINS (2013, p. 57) informam que o repertório das
linguagens verbais é bastante amplo, in litteris:
E só para atestar que a visão das duas autoras se reflete dentro do universo
filosófico, ao qual elas se dirigem, arrematam dizendo:
Essa é, sem dúvida uma abordagem filosófica da linguagem e de seu uso pelos
únicos seres portadores de razão no planeta terra, os homens.
Corroborando o entendimento acima, no verbete “Linguagem” da Enciclopédia
Mirador Internacional (1995, p. 6849/6850), temos o seguinte:
É por essa razão que se pode afirmar categoricamente que um papagaio não
fala. Apenas é portador de um aparelho fonético que lhe daria a capacidade de falar
caso dispusesse o seu cérebro dos elementos comuns aos seres humanos, aos quais
nos referimos acima.
A linguagem, portanto, é não só um fator desenvolvido e característico do ser
humano, como determina a sua realidade, bem como a modifica, a constrói, a destrói,
a transforma. Ao mesmo tempo constrói, forma, modifica, transforma o ser humano.
Daí poder-se dizer que o homem não seria o homem sem a linguagem.
Não à toa o evangelho de João, no seus primeiros versículos, personifica, de
maneira mística, Jesus Cristo como o logos: Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος, καὶ ὁ λόγος ἦν
πρὸς τὸν θεόν, καὶ θεὸς ἦν ὁ λόγος.
CHAMPLIN E BENTES (1997, vol. 3, p. 897) informam que:
22
Apesar de a abordagem acima pertencer mais ao campo teológico do que
filosófico ou literário, não é desconhecido nem de teólogos nem de filósofos o que os
gregos pensavam quando vinha à sua mente a palavra logos, que significava, para
eles, exatamente “palavra” ou “verbo”, que é a palavra em ação. Mais abaixo veremos
o entendimento pleno dos gregos sobre o lógos – a palavra, ou o verbo
CHAMPLIM E BENTES (1997, vol. 3, p. 897) informam que essa palavra já
havia passado, através da filosofia grega, principalmente pelos neoplatônicos e judeus
helenistas, por modificações que fundamentaram e fundamentam o uso cristão do
termo até hoje por todo o todo o cristianismo: Romano, Ortodoxo e Protestante.
MARILENA CHAUI (2005, p. 60/61) trata da razão exposta pela e através da
linguagem:
Por identificar razão e certeza, a filosofia afirma que a verdade é racional; por
identificar razão e lucidez (não ficar ou não estar louco), a filosofia chama a
nossa razão de luz e luz natural (pois a palavra lucidez vem de luz); por
identificar razão e motivo, por considerar que sempre agimos e falamos
movidos por motivos, a Filosofia afirma que somos seres racionais e que
nossa vontade é racional; por identificar razão e causa e por julgar que a
realidade opera de acordo com as relações causais, a Filosofia afirma que a
realidade é racional.
23
É simplesmente revelador o que a filosofia grega, já a partir de Anaxágoras,
passando por Sócrates (criador da dialética), Platão e Aristóteles, criou, com a ideia
da linguagem representada por uma única palavra, o Logos, a filosofia da qual se
apoderaram os Neoplatônicos, influenciando os primeiros cristãos, mormente dos que
já possuíam uma mente com preparo filosófico – como São Paulo, nascido na cidade
de Tarso, cidade altamente influenciada pela cultura helênica (ZIBORDI, 2017, P. 82):
24
dos outros às vezes por muitos milhões de anos, que veio a se combinar no
ser humano. Ela permitiu ao homem partilhar com seus semelhantes
conhecimentos, experiências e sentimentos. Foi, assim, o fator decisivo no
desenvolvimento da cultura. Por meio da linguagem, os pais podiam explicar
aos filhos como fazer instrumentos e acender o fogo e ensinar-lhes as regras
de comportamento e as crenças religiosas. Com isso, asseguravam a
transmissão para as futuras gerações de conhecimentos que garantiriam a
sobrevivência da espécie.
Resta claro que todo o incremento das diversas civilizações que surgiram pelo
mundo no período Paleolítico e que se aperfeiçoaram-se ainda o Neolítico, deu-se
devido ao desenvolvimento da linguagem falada. Chegou um momento, porém, que a
simples emissão de sons, de palavras, não bastaram mais aos homens que se
agrupavam em sociedades, em civilizações. Além do grande número de pessoas,
havia, também, em consequência, o grande número de transações legais sociais,
políticas e econômicas entre os indivíduos e os grupos étnicos que surgiam e
transacionavam ou mercadejavam entre si. E foi aí que surgiu a necessidade da
escrita.
Sobre isso, assim se manifestam CAMPOS e MIRANDA (2005, p.19), in litteris:
Esse texto serve a nos mostrar duas coisas importantes: 1. Que as grandes
descobertas ou invenções dos seres humanos não se deram isoladamente – no
sentido de que surgiram em uma única civilização-, mas, na maioria das vezes
concomitantemente, isoladamente ou para suprir a necessidade de outra descoberta
ou invenção; 2. E o mais importante para nós: sem linguagem não há civilização; foi
exatamente o surgimento da linguagem falada, articulada, que marca o ajuntamento
25
de comunidades humanas no planeta em civilizações, e a linguagem escrita que
marca o início da História.
Mas eis que se nos apresentam os males discutidos no capítulo anterior,
aqueles que dizem respeito às peculiaridades da linguagem escrita, e que, por já
terem sido amplamente abordadas ali, apenas os mencionaremos aqui.
Na linguagem falada, a entonação da voz, as expressões faciais, as
gesticulações e outros meios de que se apodera o agente que transmite a mensagem,
fazem com que esta seja transmitida com clareza, e, mesmo se diante de tudo isso,
surgir alguma dúvida, uma pergunta, uma indagação imediata, com uma resposta
também imediata, resolvem o problema.
Na linguagem escrita, além, na maioria da vezes, da ausência do autor do texto,
que não está ali para responder indagações sobre o sentido de uma palavra, de uma
frase, de uma oração ou período, sobre a semântica ou sintaxe textual, não há, por
isso mesmo, e também, expressões faciais, gestos, entonações e outros meios
utilizados pelo receptor da mensagem para que possa bem compreender o texto. Daí
a necessidade dos sinais de pontuação.
3. A ESCRITA
26
utilizados pelo receptor da mensagem para que possa bem compreender o texto. Daí
a necessidade dos sinais de pontuação.
Tudo o que foi apresentado até aqui se propõe a demonstrar que a linguagem
é uma criação humana; que ela é composta por signos ou símbolos que devem ser
compreendido por quem emite o símbolo e por quem o percebe.
BERGAMIM et al (2013, p. 189) Tratam dos tipos de signos e sua relação com
a linguagem. A compreensão disso é essencial para que possamos entender a
comunicação entre as pessoas que os usam. Quanto ao tipo de signos, assim se
pronunciam:
27
Já quanto a língua, BERGAMIM et al (2013, p.189), falam que, no cotidiano
língua e linguagem são usadas com sentidos próximos. Porém informam que “Para a
Linguística, ciência que estuda a linguagem verbal, tratam-se de dois conceitos
diferentes. A língua é a maneira particular como a linguagem verbal se realiza nas
interações de um grupo social específico”. (os grifos constam do original)
BERGAMIN et al (2013, p.189) também apresenta o seu conceito de
linguagem:
É um retrato profundo demais para este trabalho, que não se propõe a tratar ou
conceituar a linguagem ou a língua, nem tratar do seu surgimento a partir das reações
químicas ou biológicas que ocorrem dentro do ser humano, particularmente do
cérebro, quando vai expressar-se.
No entanto, esses autores buscam expressar com a maior precisão possível o
surgimento da linguagem, da língua, da fala e da escrita, sendo esta última o que
estamos tratando neste capítulo como eles mesmos afirmam: “Isso posto, definir com
exatidão a natureza da expressão e da comunicação parece ser uma atividade mais
metafísica do que científica”. Bem, é certo que uma abordagem metafísica ou
ontológica do surgimento da linguagem não nos interessa aqui, apesar de muitos dos
conceitos que apresentamos aqui tenham sido formulados por filósofos. Mas esse
grau de abstração aqui não nos interessa. Interessa-nos, porém, é da precisão e a
28
profundidade dos conceitos e formulações que lastreiam este trabalho que surge o
nosso interesse pelos seus conceitos.
Os próprios autores acabam por admitir ou informar que os seus conceitos
foram buscados na História ou no processo histórico:
Para não nos alongarmos mais do que fizemos e também por não fazer parte
do escopo deste trabalho, deixaremos de falar dos tipos de linguagens e suas funções,
tratando especificamente da origem da e da escrita, já que tratamos da origem ou do
surgimento da linguagem.
Como já foi dito acima e pela análise da história, a linguagem verbal surgiu e
foi relegando os gestos e sinais instintivos a segundo plano com o desenvolvimento
da fala a partir dos sons guturais que se transformavam aos poucos em palavras e
sons eram associados a objetos, desejos, objeções, ideias.
A linguagem, porém, não surgiu de plano entre os seres humanos, como se um
homem primitivo acordasse um dia e começasse a dar ordens, ou a pedir coisas, ou
a explicar os fenômenos da natureza. CHAMPLIM e BENTES informam que:
A antiga Àsia ocidental não foi apenas o berço da civilização ocidental, mas,
também dos primeiros dos sistemas de escrita, onde surgiram todos os
estágios dos sistemas semasiográficos e fonográficos. Sempre que houve
necessidade de registros escritos, a escrita foi inventada.
29
os textos sumérios posteriores, provavelmente não foram criados pelos
sumérios, embora eles possam ter modificado e expandido os mesmos,
ajustando-os ao seu idioma monossilábico.
30
3.2. Abordagens sobre a escrita como sistema de representação
E completa:
31
professor de Língua Portuguesa precisa considerar, em suas atividades diárias,
aspectos de ordem técnica, econômica, social, cultural, afetiva e cognitiva, que
possibilitem a ampliação da competência comunicativa dos alunos, para que a escola
possa estar realmente desempenhando seu papel junto à sociedade, no que diz
respeito ao ensino de língua. Habilitar os alunos a desempenhar o uso da língua,
tanto na modalidade oral quanto escrita, com fluência e segurança, exige uma Prática
Pedagógica comprometida não somente com o desenvolvimento de atividades
relacionadas com a leitura e a escrita, mas com o exercício do falar, ouvir, ler e
escrever, e, além disso, que considere os aspectos relacionados às condições
socioculturais dos alunos e da comunidade em que vivem.
A preocupação dos estudiosos com a educação, especialmente dos sócio
linguistas da corrente etnográfica, tem contribuído significativamente nos últimos anos
para o desenvolvimento dessa área, principalmente em relação ao ensino de língua
materna. Muitos problemas afetam o ensino brasileiro e estão ligados a diversos
fatores, desde ordens estruturais a problemas de cunho didático – pedagógico. Uma
questão bastante discutida está relacionada à leitura e à escrita de nossas crianças e
jovens. Os dados de avaliações externas como Prova Brasil, ANA - Avaliação
Nacional da Alfabetização (2015) e outras revelam que a maioria dos discentes do
ensino fundamental e médio não domina a leitura e a escrita. O trabalho com a escrita
no Ensino Fundamental vem sendo motivo de discussão no Brasil, de forma mais
intensificada, desde a década de 80, por ser indicado como um dos responsáveis pelo
fracasso escolar dos alunos, constituindo um sério problema educacional. Voltamos
aqui aos dados presentes no artigo da professora Maria Angélica:
32
• Proficiente (8%).
Segundo a escala INAF a soma do grupo de analfabeto mais o de
rudimentar são considerados analfabetos funcionais, ou seja 27% da
população de 15 a 64 anos são analfabetos funcionais.
Funcionalmente Alfabetizados
Elementar
As pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas funcionalmente
alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média extensão,
localizam informações mesmo que seja necessário realizar pequenas
inferências, resolvem problemas envolvendo operações na ordem dos
milhares, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de
operações e compreendem gráficos ou tabelas simples, em contextos usuais.
Mostram, no entanto, limitações quando as operações requeridas envolvem
maior número de elementos, etapas ou relações;
Intermediário
Localizam informações em diversos tipos de texto, resolvem problemas
envolvendo percentagem ou proporções ou que requerem critérios de
seleção de informações, elaboração e controle de etapas sucessivas para
sua solução. As pessoas classificadas nesse nível interpretam e elaboram
sínteses de textos diversos e reconhecem figuras de linguagem; no entanto,
têm dificuldades para perceber e opinar sobre o posicionamento do autor de
um texto.
Proficientes
Classificadas neste nível estão as pessoas cujas habilidades não mais
impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações
usuais: leem textos de maior complexidade, analisando e relacionando suas
partes, comparam e avaliam informações e distinguem fato de opinião.
Quanto à matemática, interpretam tabelas e gráficos com mais de duas
variáveis, compreendendo elementos como escala, tendências e projeções.
33
3.3. Da ortografia e dos sinais de pontuação como substitutos de mecanismos
da linguagem oral
34
leitura e escrita, a criança passa por fases de grande significação no seu processo de
desenvolvimento cognitivo.
Quando falamos de pontuação, logo nos vem à mente um conjunto de sinais
que compõem um texto escrito. O Sistema de Pesquisa traz uma definição,
Por pontuação entendemos que é a parte da ortografia que trata dos sinais
ortográficos ou sinais de pontuação, destinados a indicar a pausa e flexões
de voz, para descriminar: elementos sintáticos da frase, com vistas à clareza
e às modulações da leitura. (SISTEMA DE PESQUISA 2003, P.38)
35
chegue muito mais próximo das intenções pretendidas pelo autor em sua obra, além
de fazer com que o mesmo soe melhor também aos ouvidos de quem o lê. Diante
desse contexto, a utilização dos sinais de pontuação bem definido revelara uma
clareza precisa para o leitor, tendo em vista que permitirá ao longo do texto, uma
melhor compreensão do que está sendo retratado pelo o autor. Se atentarmos bem
para os usos dos sinais, uma vírgula ou qualquer outro tipo de sinal pode causar uma
mudança no sentido de um texto.
Assim como num trânsito em uma grande cidade precisa das placas de
sinalização para orientar, advertir, informar, regular e controlar os veículos, pedestres
e dentre outros. Por outro lado, os sinais de pontuação da língua portuguesa da
necessidade de facilitar, regular, controlar e colaborar para ajudar os leitores a
compreenderem os textos escritos. Da mesma forma que acontecem vários acidentes,
infrações e desrespeitos no trânsito por falta de sinalização, os sinais de pontuação
obedecem ao mesmo ponto de vista, sendo que, sem os sinais os textos ficam sem
sentido, sem coerência e coesão, não têm fluidez e, por conseguinte, prejudicarão a
compreensão do leitor.
Os sinais de pontuação são de extrema importância para a compreensão da
língua escrita, pois, sem eles seria praticamente impossível a construção de qualquer
frase com sentido real, ou seja, um texto capaz de alcançar o seu objetivo, que é
transmitir uma informação, um sentimento; um texto precisa ser bem pontuado,
pausado, expressado e de sentido completo.
Para Bernardes, “o texto pontuado cria uma leitura e a inserção da marca de
pontuação produz efeitos”, (...) “a interpretação permite que a pontuação ressignifique
e assuma novos valores ao texto”. (BERNARDES, 2005, p.116). Na visão do autor,
um texto bem pontuado, mais do que tudo, é extremamente necessário para que haja
concordância textual, seja ela verbal ou nominal.
Dessa forma, os sinais de pontuação são importantes para os textos escritos,
visto que nos ajudam na compreensão e no entendimento, sem eles não saberíamos
identificar o sentido dos textos escritos. Diante de tudo isso, a pontuação é o oxigênio
do texto escrito.
Vale ressaltar, que foram necessários pelo menos quinze séculos para que se
produzisse a separação gradual das letras dos textos em palavras e frases. No
começo da idade média adotou-se o costume de pôr as frases em linhas separadas,
36
logo apareceram à vírgula e o ponto, posteriormente, adotaram as maiúsculas iniciais,
os parêntesis, a separação entre parágrafos, até chegar a diversidade de sinais que
temos hoje. Este desenvolvimento da pontuação fez possível a aparição da leitura
silenciosa a que agora estamos habituados.
Em sentido amplo, pontuação é um conjunto de sinais gráficos, usados para
indicar a produção de uma pausa na oração, ou para indicar o modo em que a mesma
deve ser entendida. Assim, para escrever corretamente é necessário empregar
adequadamente os sinais de pontuação, que segundo Nina Catach (1996, p. 79), “é
um sistema de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos que participam de
todas as funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. Almeida
(2002) compreende a pontuação como a arte de dividir as partes do discurso; por sua
vez, Azeredo (2010), na GHLP, considera a pontuação como sinais gráficos,
entendendo-os como uma das partes do sistema gráfico. Tournier (1980: 36) propõe
ainda a seguinte definição: A pontuação é o conjunto dos grafemas puramente
plerêmicos, não decomponíveis em unidades de ordem inferior e de natureza discreta.
Com base nas definições desses autores, é possível entender porque a
pontuação é importante, pois seu uso adequado permite evitar a ambiguidade em
textos que, sem o uso dos sinais de pontuação, poderiam ter interpretações diferentes.
Não obstante, os sinais de pontuação são, em muitos casos, de uso flexível e,
portanto, seu uso está subordinado ao estilo ou forma particular de escrever de cada
autor ou indivíduo que escreve, da apropriação que cada autor faz da língua, da
linguagem, da fala. Por que motivo, poderia se dar o caso em que um mesmo texto
possa ser corretamente pontuado por duas pessoas. Entretanto, sua interpretação e
suas nuances ou intenções poderiam ser diferentes. A linguagem escrita é cheia de
nuances e tonalidades. Às vezes, um simples sinal como uma vírgula, pode fazer
muita diferença em relação à sua interpretação. No exemplo abaixo encontraremos
uma diferença; uma vírgula muda tudo.
Conforme falamos anteriormente, os sinais de pontuação são uma parte
importante para a total compreensão e correta expressão do texto escrito. Com os
diversos sinais de pontuação se pretende reproduzir a entonação que se utiliza na
língua oral, ou seja, quando falamos. De acordo com Bernardes (2005) o texto
pontuado cria uma leitura e a inserção da marca de pontuação produz efeitos, ou seja,
37
a interpretação permite que a pontuação ressignifique e assume novos valores ao
texto.
Segundo Brandão:
38
Quanto mais os sinais enfatizam a estruturação do conteúdo (tema central,
subtema, ideia, detalhe), mais coerente e preciso se torna o texto, contribuindo assim
para uma melhor compreensão dos leitores. Ao falar, a entonação e gerenciamento
de voz fornecem informações muito importantes para o interlocutor. Além de dar pistas
sobre o humor do falante e sua relação com o que ele está falando, a entonação e o
gerenciamento de voz ajudam o interlocutor na decodificação da mensagem porque
eles lhe dão diretrizes para organizar a informação e interpretar a o que disse. Ao
escrever, são as marcas de pontuação que compõem uma boa parte deste trabalho e
é por isso que eles constituem um recurso valioso tanto para aqueles que escrevem
um texto como para aqueles que o leem.
Como mencionado anteriormente, a organização dos componentes de frases
e parágrafos é o que cria diferentes "produtos". Deste ponto de vista, os sinais de
pontuação de uma escrita são um dos mecanismos de coesão e coerência de um
texto. Um escritor sabe como usá-los a seu favor para facilitar a leitura de seu texto.
Em suma, é impossível negar a importância da pontuação como elemento
central nos processos de reproduzir a entonação da linguagem oral (pausas, nuances
de voz, gestos, mudanças de tom, etc.) para interpretar e entender corretamente a
mensagem escrita. Tendo em vista, que as marcas de pontuação, por conseguinte,
permitem expressarmos claramente e evitar diferentes interpretações do mesmo
texto.
Sob o mesmo ponto de vista, os sinais de pontuação são símbolos gráficos
encarregados de marcar pausas, dar sentido, transmitir as emoções dos diferentes,
pois a função é dar sentido e significado ao organizar as ideias que o autor deseja
capturar no texto. Essas e outras funções de pontuação demonstram como elas
podem modificar o significado de um texto e, consequentemente, a importância de
usá-los com precisão. Assim, a organização correta do conteúdo através da
pontuação será fundamental para que os textos possam ser lidos e entendidos de
maneira fluida e clara.
Na visão de Pacheco (2006), a presença de um sinal de pontuação em texto
escrito leva o leitor a ter padrões prosódicos particularizados. Essas realizações
prosódicas particulares realizados pelo leitor são percebidos pelos ouvintes que
associam certos padrões prosódicos prototípicos a sinais de pontuação específicos
39
(PACHECO 2006). Isso significa que há certa correspondência entre o que se realiza
durante uma leitura em voz e o que se ouve nesta leitura.
Há uma preocupação por parte dos educadores, principalmente, nas escolas
do ensino fundamental, em incentivar a criança a escrever e a ler, fazendo com que a
sala de aula se torne um berço de futuros escritores. Nas escolas, deve-se haver um
cantinho especial para a leitura, uma biblioteca, e as crianças devem ter muitas
oportunidades de folhear os livros, e lê-los individualmente e em grupos; as histórias
lidas por alguns devem ser socializadas com os demais, e este é um trabalho que
deve ser organizado pelo docente. “A escrita assim como a leitura, como prática social,
é sempre um meio, nunca um fim.” (PCN, Língua Portuguesa, v.2, p.57).
Ensinar a escrever continua sendo uma das tarefas mais especificamente
escolares; muitas crianças fracassam já nos primeiros passos da alfabetização. Frente
a essa problemática e em busca de caminhos que minimizassem, e, até mesmo,
erradicassem este entrave do processo ensino-aprendizagem, através de pesquisas,
ANA TEBEROSKY e EMÍLIA FERREIRO, desde 1974, travaram uma intensa
pesquisa com o objetivo de mostrar que existe uma nova maneira de encarar esse
problema, que atinge tanto o educando quanto o educador. As dificuldades
encontradas no processo de aquisição da escrita são fatores que interferem na
aprendizagem do aluno. As pesquisadoras ainda asseguram que a aprendizagem da
escrita, entendida como questionamento a respeito de sua natureza e de sua função
se propõem a resolver problemas e tratam de solucioná-los, seguindo sua própria
metodologia. Para isso deslocou-se a questão central da alfabetização do ensino para
a aprendizagem. Partindo de como se deve ensinar e como, de fato, se aprende.
(FERREIRO E. e TEBEROSKY, p. 72; 1985.)
As crianças aprendem a escrever participando de atividades de uso da escrita
junto com pessoas que dominam esse conhecimento. Aprendem a ler quando acham
que podem fazer isso. É difícil uma criança aprender a ler quando se espera dela o
fracasso. É difícil também a criança aprender a ler se ela não achar finalidade na
leitura. No entanto, os novos estudos a respeito da educação dizem que, quanto mais
próximas às práticas pedagógicas estiverem das práticas sociais, mais as crianças
verão sentido no que estudam, e escrevem, poderão estabelecer relações,
40
Segundo FERREIRO (2002, p.10), a escrita pode ser concebida como um
sistema de código e de representação. Como código, os elementos já vêm prontos e
como representação, a aprendizagem se constitui em uma construção pela criança.
Ao trabalhar a escrita como código, o ensino privilegia os aspectos preceptivos e
atividades que sejam adequadas a cada nível das turmas existentes na escola .
A escrita, no seu sentido real, faz parte do cotidiano das crianças, e que precisa ser
dimensionada às novas formas de entender o mundo que, de maneira geral, precisa
ser interpretado de forma letrada e contextualizada aos novos paradigmas da
sociedade do conhecimento.
42
lo e emprega-lo, trataremos agora de um assunto relacionado que tem ocupado a
cabeça de professores e linguistas de um modo geral: o letramento.
Nos interessa aqui não só o conceito de letramento, mas a sua história, porque
surgiu como vocábulo e como prática de aperfeiçoamento do domínio da linguagem
escrita e sua relação com o próprio processo de alfabetização. O letramento também
é um processo, e não menos ardiloso na sua conquista quanto a alfabetização, mas,
diríamos, muito mais do que ele, pois trata-se do verdadeiro domínio da linguagem
escrita, não só da leitura, mas, e principalmente, na nossa opinião, para a transmissão
dessa linguagem escrita.
5 Mestre em educação pela PUCRS. As informações a ela atribuídas foram retiradas do artigo “O
letramento a partir de uma perspectiva teórica: origem do termo, conceituação e relações com a
escolarização”. Esse artigo [como é informado em nota em seu rodapé] é decorrente de uma pesquisa
bibliográfica que compõe a dissertação de mestrado da autora, a qual recebeu financiamento do Capes.
Ao que tudo indica, o texto foi feito para ser apresentado na IX ANPED SUL – Seminário de Pesquisa
em Educação da Região Sul.
43
professores -, ou que o termo letramento veio para substituir o termo, o vocábulo
alfabetização, e depois de falar sobre analfabetismo e o seu oposto, alfabetismo
(analfabetismo com a retirada do prefixo de negação “an”) afirma que poderia ser
lógico que a palavra ou termo mais preciso para descrever o condicionamento ou
capacidade, já que condicionamento, às vez, pode angariar um sentido negativo,
continuando, muitos acreditavam que a palavra ideal para descrever a condição de
pleno uso da linguagem escrita, tanto na leitura quanto na exposição através da
escrita, de modo a se fazer compreendido, seria a palavra alfabetismo, termo que
chegou a ser utilizado, segundo ela no artigo referido, citando até mesmo de outra
autora, o qual repetiremos aqui:
Uma pesquisa recente mostra, na Inglaterra, que 13% de adultos na faixa dos
23 anos de idade afirmam ter dificuldades para ler e/ou escrever. Na Bélgica,
em 1983, estimou-se o número de analfabetos na casa de cem mil indivíduos
adultos. No Canadá, ainda na década de 1980, o número de analfabetos foi
estimado em 24%, sendo 28% em Quebec. A França, que sempre teve o
sucesso de seu sistema de ensino reconhecido mundialmente, registrou, na
44
mesma época, o número alarmente de 9% de analfabetos entre sua
população adulta (Stercq, 1993).
45
ANTUNES7, cuja orientadora foi Orientadora: MARIA DE LOURDES ROSSI
REMENCHE8), abre a sua obra numa apresentação que da interação das pessoas
com o seu meio, sua família, seus amigos, vizinhos, etc. Fala também das reuniões
sociais que favorecem o letramento, como a igreja, o esporte, o mercado, a loja de
eletrodomésticos e quaisquer ambientes onde haja a interação com o letramento
através da leitura e da verbalização:
Ela compara esse tipo de consumidor, que seria, para ela o letrado, ou seja,
aquele que é capaz de interagir com o ambiente de modo autônomo, recebendo,
através da escrita (a lista de compras, o cartaz promocional, os componentes e
validade de certos alimentos, etc.), com a parcelados brasileiros que não tiveram a
oportunidade de frequentar a escola, de serem pelo menos alfabetizados.
É óbvio que tudo isso aponta para a divisão de classes ou das pessoas em
estamentos, dado que a mobilidade social é quase impossível. KLEIMAN (1995, p. 8)
continua a sua descrição de como o letramento afeta a vida das pessoas:
Paraná.
46
transformação da ordem social é “empowerment through literacy”, ou seja,
potencializar pelo letramento.
Obviamente que o letramento deve ser para todos, mas cada um tem o seu
próprio ambiente, que, na maioria das vezes não dá para comparar. É assim como a
criança que vai de carro para a mais cara escola da cidade, com os professores mais
bem remunerados, salas com aparelhos de ar condicionados, não pode com aquele
que ainda estuda na zona rural de um estado pobre da federação, como o Piauí e o
Maranhão, e como um todo, que atinge todos os estados do Nordeste, o sertão, o
semiárido, onde as oportunidades até mesmo de interagir coma TV é mínima, assim
como o salário do professor, as condições físicas do prédio da escola e, acima de
tudo, as atividades que essa criança vai despender depois que chegar em casa.
Ora, não existe, letramento sem interação social e até definirmos que interação
o aluno da zona rural do Vale do Jequitinhonha tem, o nosso conceito de letramento,
nesse caso, será deficiente.
DESCARDECI, discorrendo sobre questões e definições de letramento, afirma:
9Com aponta KLEIMAN em seu trabalho “Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre
a prática social da escrita”
48
termo difere-se de alfabetização, uma vez que esta refere-se ao processo de
ensino e aprendizagem do código escrito. Os usos feitos da leitura e da
escrita são socialmente determinados, e, portanto, têm valor e significado
específicos para cada comunidade em específico (Street, op. cit.). Sendo
assim, o domínio do código escrito é algo que se espera em todas as
comunidades, nas quais os indivíduos sejam reconhecidos como
alfabetizados, enquanto as práticas de letramento podem variar de
comunidade para comunidade até mesmo de grupos sociais para grupos
sociais dentro da mesma comunidade. As pessoas podem ser mais familiares
om certas práticas de letramento, do que com outras. Dependendo do
engajamento delas naquela prática social específicas. Em contrapartida, as
pessoas podem ser mais_ou menos_alfabetizadas. Elas sabem, ou não
sabem, ler e escrever. (grifos da autora)
Essas noções são facilmente aceitas quando temos uma realidade social na
qual há indivíduos que apenas sabem assinar o próprio nome , outros que
são capazes de ler e escrever pequenos textos, outros ainda que têm o hábito
de ler jornal, e outros que usam o código escrito como ferramenta essencial,
para as suas interações diárias, seja no trabalho, na igreja, ou em qualquer
outro domínio social.
49
E a literata escritora não para por aí, enquanto não escancarar para o leitor não
só o que é letramento, mas, também, mas estabelecer a diferença entre alfabetização,
alfabetizado e letrado:
Obviamente que cada autor ou dissertador sobre o tema tem a sua definição
própria, sem fugir, porém, dos limites e parâmetros que o próprio conceito impõe, para
impedir uma semântica que não lhe diga respeito.
KLEIMAN (1995) também dá respostas quanto ao conceito o de letramento, ao
mesmo tempo que levanta problemas sobreo uso do neologismo sobre a temática da
alfabetização.
Ao perguntar: “O que é letramento”, logo de pronto ela procurar demonstrar as
duas facetas do letramento no Brasil, aquela que parece que não anda, que ela chama
de incipiente (como quando informa que a palavra sequer foi dicionarizada), e, por
outro lado, o vigor com que une interesses teóricos e “busca de descrições e
explicações sobre o fenômeno”
Como se pode observar, não há letramento sem interação social, sem
sociedade, assim como não haveria direito para um homem que morasse sozinho em
uma ilha. Para que haja letramento, há que ter sociedade, há que haver interação, não
só com as pessoas, mas com aquilo que elas produzem e expõem através da escrita.
KLEIMAN (1995, p. 15) trata do conceito de letramento sempre explorando o
aspecto social do processo:
50
Os estudos sobre o letramento no Brasil estão numa etapa incipiente e
extremamente vigorosa, configurando-se hoje uma das vertentes de pesquisa
que melhor concretiza a união de interesse teórico, a busca de descrições e
s explicações sobre um fenômeno , como o interesse social, ou aplicado, a
formulação de perguntas cuja resposta possa promover a transformação de
uma realidade preocupante, como a crescente marginalização de grupos
sociais que não conhecem a escrita.
O conceito de letramento começou a ser usado nos meios acadêmicos como
tentativa de separar os estudos sobre o “impacto social da escrita”
KLEIMAN fala ainda dos diversos tipos de letramentos que se apresentam, com
maior, menor ou nenhum efeito sobre a comunidade, ou seja, aqueles que não
projetam nenhum desenvolvimento social para a comunidade. Isso fica claro no
parágrafo seguinte:
51
bastante: em 1890 tínhamos 85% dos brasileiros analfabetos. Em 2011, temos 73%
dos brasileiros alfabetizados funcionalmente, diz a autora.
10 O INAF define quatro níveis de alfabetismo que, em linhas gerais, se apresentam assim:
analfabetismo - corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem
a leitura de palavras e frases; Nível rudimentar - corresponde à capacidade de localizar uma informação
explícita em textos curtos e familiares (como, por exemplo, um anúncio ou pequena carta); Nível básico
- as pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas funcionalmente alfabetizadas, pois já
leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo que seja necessário
realizar
pequenas inferências; Nível pleno - classificadas neste nível estão as pessoas cujas habilidades não
mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos mais
longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de
opinião, realizam inferências e sínteses. Nota no original.
52
de alfabetização do ponto de vista da pesquisa, e também de práticas pedagógicas,
por sua vez, é entendido em perspectiva discursiva”.
Essas práticas discursivas, segundo a autora, abordam estudos sobre
repetência, fracasso escolar (evasão escolar) a fim de usá-las como balizas da
discursão do problema do letramento.
GOULART, como todos nós entende que “Aprender a escrita somente tem
sentido se implicar a inclusão das pessoas no mundo da escrita, ampliando sua
inserção política e participação social’. Além dos dados transcritos, GOULART traz
mais dados sobre a alfabetização brasileira no seu artigo, mormente no que diz
respeito à evasão escolar, repetência e dificuldades dos alunos de aprenderem.
Diante do quadro que se apresenta à sua frente, ela conclui pela “história do fracasso
da sociedade para alfabetizar o povo brasileiro, e cita, dentre muitos estudos, PATTO
1990, MOYSÉS & COLLARES, 2011; COSTA, 1991.
Continuando a enumerar a série de desastres que assolam a escola brasileira,
GOULART cita os estudos de Brandão, Baeta e Coelho da Rocha, que organizaram
“uma síntese de problemas atrelados à evasão e à repetência nas escolas brasileiras”,
em que concluem que, atrelado à evasão e repetência, tem-se mais: experiências
escolares inadequadas, culpabilização dos alunos pelo fracasso, rotatividade e
despreparo dos professores, jornadas escolares insuficientes, etc.
GOULART não parece muito cativa do modus operandi chamado letramento,
particularmente porque este tem se mostrado dividido em várias esferas, para atender
setores específicos, com propensão pequena para o letramento como um todo, o que
torna o agente letrado ou culto em apenas um aspecto da vida. Ela diz que “é
preocupante tantos letramentos (científico, literário, matemático e outros) tenham
vicejado no panorama de propostas educacionais”.
Em um ataque ao simples acolhimento do letramento sem maiores
considerações sobre o assunto, ela informa com um vigor quase irresistível:
53
A crítica de GOULART continua, quando ela fala de pesquisa realizada por ela
mesma com crianças de 4 e 5 anos de uma creche universitária. Ao que todo indica,
o método do letramento não foi aplicada naquela creche. Mas GOULART enumera os
resultados:
54
entretanto como procuramos expressar aqui. A dicotomia talvez esteja
servindo para, mais uma vez, esvaziar o conteúdo do termo
alfabetização em seu sentido político, situado historicamente. E para
perpetuar as diferenças de conhecimentos que grupos sociais
populares levam para a escola como insuficiências que acarretam
dificuldades, que precisam ser compensadas. (grifamos)
5. CONCLUSÃO
55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, N. M. de. Gramática metódica da língua portuguesa. 44. ed. São Paulo:
Saraiva,2002.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: uma
introdução à filosofia. 5 ed. São Paulo: Moderna, 2013.
CAMPOS, Flávio; e MIRANDA, Renan Garcia. A escrita da história. São Paulo: Escala
Educacional, 2005.
CATACH, Nina (org). Para uma teoria da língua escrita. São Paulo: Ática, 1996.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13 ed. 3 imp. São Paulo: Ática, 2005.
COHEN, H.; Douaires, J.; ELSABBAGH, M. the role of prosody in Discourse. Brain
and Cognition, v. 46, n.1-2, p. 73-81, 2001.
56
ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade privada e do Estado. 3 ed.
São Paulo: Escala, 2009.
FARACO, Carlos Emílio; e MOURA, Francisco Marto. Português. São Paulo: Ática,
2002.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 7 eds. São Paulo: Brasiliense, 1986.
BERGAMIN, Cecília. et al. Ser protagonista: língua portuguesa, 1º ano, ensino médio.
2 ed. São Paulo: SM, 2013. Coleção ser protagonista. Vol. 1.
SMITH, Frank (1982) Writing and the Writer. New York: Holt Rinehart and Winston.
TOURNIER, Claude (février 1980) Historie des idées sur la ponctuationb - des
débuts de l'imprimerie à nos jours. In: Langue Française 45: 28-40. Paris: Larouss
57