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NBR 15575 compreende um total de seis partes, são:

• Parte 1: Requisitos gerais;


• Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais;
• Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos;
• Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas e externas;
• Parte 5: Requisitos para os sistemas de coberturas;
• Parte 6: Requisitos para os sistemas hidrossanitários.

1 – PATOLOGIA E MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS


A patologia das edificações, também chamada de patologia das construções, vem sendo um
tema bastante estudado nos dias atuais e, a despeito desta crescente atenção dedicada às
questões relativas à saúde e ao desempenho das edificações nas últimas décadas, esta é uma
preocupação que remonta a tempos bem antigos.
São encontradas referências a este assunto, por exemplo, no código de Hamurabi, um texto
mesopotâmio escrito há cerca de 4.000 anos, que apresenta um conjunto de leis escritas para
a sociedade daquela época, porém muito conhecida por sua referência à lei de talião, aquela
do “olho por olho, dente por dente”.
O código de Hamurabi dedica uma seção à atividade de construtores e arquitetos, sendo
evidente em seus artigos que aspectos como desempenho, qualidade e segurança das
edificações já despertavam a atenção naquele tempo, a ponto de figurar no texto da lei.
Vejamos o que postulavam tais artigos:
229º - Se um arquiteto constrói para alguém e não o faz solidamente e a casa que ele construiu
cai e fere de morte o proprietário, esse arquiteto deverá ser morto.
230º - Se fere de morte o filho do proprietário, deverá ser morto o filho do arquiteto.
231º - Se mata um escravo do proprietário ele deverá dar ao proprietário da casa escravo por
escravo.
232º - Se destrói bens, deverá indenizar tudo que destruiu e porque não executou solidamente
a casa por ele construída, assim que essa é abatida, ele deverá refazer à sua custa a casa
abatida.
233º - Se um arquiteto constrói para alguém uma casa e não a leva ao fim, se as paredes são
viciosas, o arquiteto deverá à sua custa consolidar as paredes.
Vale atentar-se ao olhar já aguçado para o processo de construção das habitações
humanas no que diz respeito à segurança e bem-estar de seus moradores, e de como este seria
já um vislumbre do que a patologia das edificações viria a se dedicar.
Entretanto, antes de avançarmos para a seção seguinte, aproveitando o ensejo dessa
preocupação com a segurança e desempenho das edificações, iniciada ainda na antiguidade,
deixemos registrada a reflexão sobre a responsabilidade técnica, civil e penal (ou criminal)
que repousam sobre o profissional da engenharia e também da arquitetura nos dias de hoje.
De acordo com Fonseca (2017), a responsabilidade técnica preconiza “o cumprimento
das normas, dos encargos e das exigências de natureza técnica”, já a responsabilidade civil
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diz respeito à aplicação de medidas que obriguem a reparação de dano moral ou patrimonial
causado a terceiros e se fundamenta no Novo Código Civil Brasileiro e nas Leis 5.194/66 e
6.496/77. Por fim, a responsabilidade penal ou criminal pode acabar sujeitando o profissional
à pena de reclusão, a depender da gravidade das ações por ele cometidas, relativas ao exercício
de sua profissão.

PATOLOGIA
O termo patologia aqui utilizado no universo das construções é, de fato, uma analogia
ao emprego deste mesmo termo na área da saúde, o qual tem sua origem no grego, de uma
derivação dos termos pathos, que significa sofrimento, doença, e logia, significando ciência,
estudo. Desta forma, a patologia seria o estudo das doenças de modo geral, representando um
estado ou condição anormal cujas causas podem ser conhecidas ou desconhecidas. Esta
definição vale tanto para a área da Medicina quanto para outras áreas do conhecimento
humano, tal como a Engenharia.
Ainda no âmbito das ciências biológicas, a patologia se debruça sobre o estudo de toda
e qualquer anomalia nas estruturas e funcionamento dos organismos vivos, alterações essas
que podem estar (e geralmente estão) sob a ação de doenças. Uma particularidade, no entanto,
encontrada nessas doenças às quais os organismos são submetidos é que elas possuem, na sua
gênese, uma causa (ou até mais de uma) que vai resultar nas alterações observadas e que
acabam sendo manifestas por meio de sintomas.
Este contexto trazido do universo da medicina foi o pano de fundo para a analogia elaborada
e utilizada pelos engenheiros civis, que introduziram termos das ciências biológicas nas
questões relacionadas às construções, inclusive na literatura de engenharia civil mundo afora.
O ponto chave para a adesão desses termos é a correspondência (guardadas as devidas
proporções) traçada entre, por exemplo, uma edificação e o corpo humano, que são os objetos
de estudo destas duas grandes áreas do conhecimento humano.
Para França et al (2011), não é difícil estabelecer uma analogia entre os elementos
estruturais de um edifício e o esqueleto humano, uma vez que a função de ambos seria prover
sustentação, conforme se verifica nas Figuras 1 e 2.

Figura 1 – Esqueleto Humano Figura 2 – Modelo Estrutural de edificação no software TQS

Vale ressaltar que as semelhanças entre corpo humano e estruturas das edificações não
param nas funções exercidas por ambos. Percebe-se que, quando se trata de anomalias no
funcionamento, as soluções adotadas partem de princípios comuns: quando o corpo padece
com uma enfermidade que afeta seu bom funcionamento, ele pode ser tratado com
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medicamentos, uma edificação também pode passar por reparos para recuperação de seu uso
esperado (FRANÇA et al, 2011).
Entretanto, assim como o médico precisa conhecer a fundo as causas de uma enfermidade
para poder aplicar o correto tratamento, administrando os remédios adequados, o especialista
precisa conhecer bem as causas das anomalias nas edificações para propor as soluções mais
adequadas a cada situação, e isso requer cada vez mais que os engenheiros se tornem
especialistas nesta área.

PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES


A partir desses exemplos, é possível estabelecer uma definição para o termo patologia
das construções, a qual seria a área da engenharia responsável por investigar as
manifestações patológicas possíveis de ocorrerem em uma construção (CAPORRINO, 2018,
p. 12).
Para completarmos essa analogia e avançarmos para outras definições importantes,
França et al (2011) apresentam ainda mais algumas relações entre termos e seus significados
que valem a pena serem citadas:
Profilaxia – remete aos meios para evitar ou prevenir doenças. Na Engenharia, seriam
as medidas utilizadas para evitar anomalias ou problemas na edificação. Vem do grego
prophýlaxis, significando cautela.
Diagnóstico – diz respeito ao conhecimento acerca de algo, o qual pode ser obtido
através de exames. Na Engenharia, seria a fase de identificação e descrição da origem e causa
dos problemas na edificação.
Prognóstico – está associado ao julgamento médico, a partir da etapa de diagnóstico e
considerando as possibilidades terapêuticas, em que o objetivo seria estipular qual seria a
evolução do problema com o passar do tempo. Deriva do latim prognosticu - pro =
"antecipado, anterior, prévio" + gnosticu = "alusivo ao conhecimento de".
Terapia – está associada ao tratamento da enfermidade. Na Engenharia, seriam as
soluções ou medidas estabelecidas, a partir das etapas anteriores, para que que se possam ser
sanadas as anomalias identificadas.
Anamnese – palavra que deriva do grego ana – “trazer de novo” e mnesis – “memória”
e caracteriza-se por uma entrevista conduzida pelo profissional da área da saúde com o intuito
de estabelecer, junto ao seu paciente, qual é o ponto de partida no diagnóstico da enfermidade,
ou seja, uma entrevista para relacionar cada fato que esteja ligado à doença e ao paciente.

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS
Uma vez estabelecida essa compreensão acerca de como a engenharia se inspirou na
Medicina ao longo do tempo para chegar ao estudo da patologia das construções, avançamos
agora para o conceito de manifestação patológica. Por manifestações patológicas se
entendem as degradações identificadas na edificação, as quais podem ser geradas durante o
período de execução da obra (quer por emprego de métodos construtivos ou materiais
inapropriados), ou na própria elaboração do projeto ou ainda adquiridas ao longo do tempo
pela utilização da edificação.
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Souza e Ripper (1998) afirmam que o processo de sistematização do estudo da
patologia das construções nos últimos tempos, e em específico no que diz respeito à patologia
das estruturas (mas que pode também ser estendido perfeitamente às demais áreas ou sistemas
das edificações), conduz ao estabelecimento de uma classificação preliminar dos problemas
ou manifestações patológicas em dois grandes segmentos: os simples e os complexos.
Neste caso, as manifestações patológicas simples se remetem àquelas que podem ser
analisadas e resolvidas através de uma padronização, sendo mais evidentes tanto o diagnóstico
quanto o tratamento das mesmas e não demandando que o profissional responsável
obrigatoriamente possua conhecimentos elevados sobre o tema.
Um exemplo disso seria uma situação de corrosão de armaduras em um pilar, causando
o desplacamento de concreto e argamassa de revestimento no mesmo, por conta de falta de
cobrimento adequado para as armaduras e baixa qualidade do concreto utilizado, o que pode
ser constatado em uma análise visual, conforme demonstrado na figura 7.

Figura 7 – Corrosão de armaduras em pilar.

Os problemas patológicos complexos seriam aqueles que demandam análise muito


mais criteriosa e detalhada, cujos mecanismos de diagnóstico, inspeção e consequentemente
de tratamento se distanciam daqueles mais convencionais e de rotina. Neste caso, espera-se
que o responsável técnico possua conhecimentos mais aprofundados sobre a patologia das
construções, para que se alcance com êxito a solução dos problemas encontrados.
A exemplo disso, poderíamos citar as manifestações patológicas relacionadas à
umidade, pois nem sempre o local onde a infiltração se manifesta por meio de manchas, mofo
ou bolor, fissuras, entre outros, coincide com o local de origem. Então, apenas uma
constatação visual não é suficiente, sendo necessária uma investigação e métodos mais
apurados, tais como a termografia infravermelha. O QR Code da Figura 8 conduz a um vídeo
produzido pelo professor Matheus Leoni, onde ele utiliza o recurso da termografia para
auxiliar na identificação da infiltração em uma edificação.

Figura 8 – Identificação de infiltração com o auxílio da termografia

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Não obstante, cabe enfatizar uma ressalva sobre a distinção entre os termos patologia
e manifestação patológica, tendo em vista uma confusão recorrente no uso dos mesmos. A
patologia das edificações é o ramo da engenharia (ciência) responsável pelo estudo das causas
e mecanismos de anomalias e problemas nas estruturas, enquanto a manifestação patológica
é a própria expressão desses problemas encontrados nas edificações. Não raramente esses
termos distintos são utilizados equivocadamente como sinônimos, e muito frequentemente
encontram-se manifestações patológicas sendo referenciadas como “patologias” não só por
leigos, mas também por profissionais.
França et al. (2011) chama a atenção para o correto emprego de ambos os termos
citando o seguinte exemplo para ajudar na compreensão: uma fissura encontrada em uma
edificação não seria uma patologia (uma vez que esta é a ciência que estuda este tipo de
problema), mas sim uma manifestação patológica, ou seja, um sintoma que indica um
mecanismo de degradação (doença), o qual poderia estar acontecendo (causa) por conta de
um processo de corrosão de armaduras, ou por deformação excessiva da estrutura etc.
Uma vez identificado que as manifestações patológicas podem ter origem desde as
etapas iniciais da edificação (projeto e execução) e se estender para o tempo decorrido de sua
utilização, percebe-se que, a despeito de se haver registros da preocupação com estas questões
desde tempos antigos, este cuidado não conseguiu acompanhar, durante muito tempo, o
avanço tecnológico e o emprego de novos materiais e métodos nas construções.
Neste ponto, cabe um parêntese para explorar alguns conceitos fundamentais
relacionados às manifestações patológicas, trazidos por Helene (1992) os quais são:
Causa – Geralmente associada a um agente, o qual seria aquele responsável por
desencadear a manifestação patológica. A exemplo, cita-se o surgimento de fissura em uma
viga de concreto armado por ação de momento fletor, cujo agente causador seria a carga à
qual a viga encontra-se submetida, pois, caso não haja a ação da carga, não haveria a fissura.
Origem – Helene (1992) apresenta a origem da manifestação patológica relacionada à
determinação da etapa ou fase do processo de construção onde a mesma teve seu início. Essas
fases podem ser: planejamento, projeto, fabricação de materiais, execução propriamente dita
e uso.
Mecanismo – É o processo através do qual a manifestação patológica se instaura e
desenvolve. Neste sentido, “conhecer o mecanismo do problema é fundamental para uma
terapêutica adequada” (HELENE, 1992, p. 20).
A sede por conhecimento da humanidade promoveu grandes transformações
tecnológicas na busca por construções que fossem se adaptando às suas necessidades e
facilitando sua vida em constante evolução. Entretanto, esse crescimento acelerado na
descoberta de novos materiais e no desenvolvimento de novas técnicas tem como um ponto
negativo algo que é bastante comum pelo “encantamento” com as novidades: o descuido ou
desatenção às consequências (até porque muitas delas só se manifestam bem depois).
Porém, já há algumas décadas a engenharia vem dedicando uma atenção especial ao
ramo da patologia das edificações, fazendo com que esse cenário histórico venha se
modificando bastante. Bauer (2011) chama a atenção para os crescentes estudos, cursos,
reuniões técnicas e publicações em todo o mundo sobre a patologia das edificações, e isto por
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volta da década de 80 do século passado. Souza e Ripper (1998, p. 16) pontuam que, desde o
início da década de 70 do século passado, a preocupação sobre as edificações vem se
estendendo de sua capacidade de resistência a esforços para abarcar também a sua capacidade
de resistência à ação do tempo e do uso.
Souza e Ripper (1998) tomam como base a patologia das estruturas – entretanto seu
pensamento pode se estender de forma igual para a patologia das edificações – pontuando que
esta área trilha seu caminho partindo do “cadastramento da situação existente e pelo estudo
detalhado de alguns casos de sintomas patológicos” (SOUZA e RIPPER, 1998, p. 15). Do
estudo desse acervo construído, a patologia das edificações se desenvolve, apropriando-se
também da consolidação de conceitos, processos e métodos, possibilitando o aprimoramento
desse campo ainda muito amplo a ser desbravado.
Neste sentido, a Norma Brasileira (NBR) 15575-2013 – Edificações Habitacionais –
Desempenho, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), representa um avanço
significativo no cenário nacional nos últimos anos em relação ao debate e ao estabelecimento
de parâmetros em busca da minimização na ocorrência de manifestações patológicas

2 – NORMA DE DESEMPENHO
Em julho de 2013 passou a vigorar no Brasil a ABNT NBR 15575-2013 – Edificações
Habitacionais – Desempenho. Esta norma, dentre seus objetivos, estabelece critérios que
visam o conforto e segurança em edificações habitacionais (e infelizmente no Brasil ainda
não existem normas específicas para outros tipos de edificações, tais como a NBR 15575-
2013).
Como expresso no próprio nome e também como é mais conhecida entre os
profissionais, a Norma de Desempenho corrobora as discussões na área da patologia das
construções na medida em que a sua observação contribui para a redução na ocorrência das
manifestações patológicas.
Para explorarmos melhor o conceito de desempenho e algumas outras definições
trazidas por esta norma e já que vínhamos traçando o caminho percorrido pela
patologia das construções em sua evolução enquanto ciência, vejamos agora um pouco
do pano de fundo histórico até a chegada da norma de desempenho, traçado pelo portal
Buidin7:
Muitas décadas antes da última atualização da NBR 15575, estudos sobre o tema já
haviam sido iniciados e em 1975 já se encontram registros do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) começando a abordagem dessa temática em suas
pesquisas.
Novos estudos na área são iniciados nas décadas de 80 e 90 do século passado, tendo
acontecido uma pesquisa em 1998, em parceria do IPT o Programa Brasileiro da Qualidade e
Produtividade do Habitat (PBQP-H), que resultaram na criação de uma Comissão de Estudos
da ABNT dois anos depois.
Ainda no ano de 2000, essas pesquisas foram alteradas para as conhecidas normas,
a partir de convênio estabelecido entre ABNT, caixa Econômica Federal e Ministério da
Ciência e Tecnologia.
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Em 2007, a primeira edição da ABNT NBR 15575 foi disponibilizada para consulta
pública.
Os trabalhos seguiram e em 2018 foi publicado o primeiro documento relacionado
à Norma de Desempenho, sendo que ficou para 2010 a exigibilidade da NBR.
Chegando em 2010, houve um adiamento na exigibilidade da norma NBR 15575, a
qual foi adiada para 2012 e novamente posta para consulta pública, com nova avaliação de
suas exigências.
Entretanto, somente no ano de 2013 a NBR 15575 veio de fato a vigorar e passou
então a ser reconhecida em todo o mundo, tendo por objetivo a melhoria na qualidade das
edificações habitacionais.
O conjunto normativo na NBR 15575 compreende um total de seis partes, as quais são:
Parte 1: Requisitos gerais;
Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais;
Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos;
Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas e externas;
Parte 5: Requisitos para os sistemas de coberturas;
Parte 6: Requisitos para os sistemas hidrossanitários.

A organização de cada uma destas partes da NBR 15575 foi feita a partir de elementos
da construção, contemplando uma sequência de exigências relativas à segurança (desempenho
mecânico, segurança contra incêndio, segurança no uso e operação), habitabilidade
(estanqueidade, desempenho térmico e acústico, desempenho lumínico, saúde, higiene e
qualidade do ar, funcionalidade e acessibilidade, conforto tátil) e sustentabilidade
(durabilidade, manutenibilidade e adequação ambiental).

DESEMPENHO
A definição de desempenho, trazida pela própria norma, diz respeito ao
“comportamento em uso de uma edificação e de seus sistemas”.
Ainda sobre o conceito de desempenho, vale citar também a definição abordada pela
International Organization for Standardization (ISO) 15686-1 – General principles and
framework, para a qual desempenho em uso seria “o nível qualitativo crítico de uma
propriedade em qualquer tempo, ou seja, correspondente ao comportamento em condições de
serviço ou uso” (NASCIMENTO, 2016, p. 8). A ISO 15686, elaborada pela British Standard
Institution (BSI) em 2011, é uma espécie de norma de desempenho internacional e, ainda que
não esteja arrolada na linha do tempo apresentada na seção anterior desta obra (até a chegada
da NBR 15575), tem um papel importante na compreensão dos aspectos relacionados ao
desempenho e vida útil das edificações.
Não obstante a ideia de desempenho abordada pela NBR 15575 tenha sido pensada
com o objetivo final de atendimento às necessidades daqueles que viverão nas edificações

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construídas, o conhecimento acerca das manifestações patológicas se beneficia disso, uma
vez que, para se atender as necessidades do usuário, é necessário que se previna o surgimento
de problemas desse tipo.
Atrelado ao conceito de desempenho, estão alguns outros termos que a NBR 15575 pontua e
que ajudam na construção do entendimento sobre a qualidade buscada para as edificações
habitacionais. Esses outros termos são:

Requisitos de desempenho – Seriam as condições qualitativas dos atributos que a


edificação habitacional precisa possuir, juntamente com seus sistemas, de maneira que
também atendam aos requisitos de usuário, a saber: segurança, habitabilidade e
sustentabilidade.

Critérios de desempenho – Dizem respeito as especificações de cunho quantitativo


dos requisitos de desempenho. Esses critérios são apresentados na forma de quantidades
mensuráveis, que possam ser objetivamente determinados.

Durabilidade – Descrita como a capacidade que a edificação ou seus sistemas


possuem para desempenhar suas funções com o passar do tempo, de acordo com as condições
de uso e também de manutenção especificadas pelo manual de uso, operação e manutenção.
O termo é comumente associado de forma qualitativa à situação na qual a
edificação e seus sistemas mantêm seu desempenho ao longo da vida útil.

Manutenção – Refere-se ao conjunto de atividades a serem executadas a fim de que


se assegure a conservação ou mesmo a recuperação da capacidade funcional da edificação e
dos sistemas que a compõem, de modo que sejam atendidas as necessidades de segurança do
usuário.
Acerca ainda da manutenção, faz-se necessário abordar seus os principais tipos, quais sejam:
manutenção corretiva, manutenção preventiva e manutenção preditiva.

Manutenção Corretiva – Trata-se da modalidade de manutenção mais dispendiosa,


uma vez que é caracterizada pela tomada de ação no sentido do reparo ou recuperação apenas
depois da ocorrência da falha, ou seja, o famoso “esperar quebrar para consertar”.
Sobre essa questão do custo da manutenção corretiva, Tutikian e Pacheco (2013) reforçam o
que postula a lei de Sitter (1984), que atribui um custo para correção crescente, em progressão
geométrica em uma razão de cinco, para as etapas de planejamento, execução, manutenção
preventiva e manutenção corretiva. Assim sendo, o gasto com a manutenção corretiva é 125
vezes maior que o gasto na etapa de planejamento.

Manutenção Preventiva – De acordo com Gomide et al (2006), “é aquela que atua


antecipadamente, para que não haja a reparação”. Para que cumpra com esse objetivo, é
preciso que as atividades sejam programadas em datas previamente estabelecidas, seguindo

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critérios técnicos e administrativos, balizados por dados estatísticos ou então o histórico de
manutenções anteriores.

Manutenção Preditiva – É a atividade de manutenção pautada pelo estudo dos


equipamentos e sistemas, através da análise de seus comportamentos em uso, objetivando
predizer e identificar eventuais anomalias, contribuindo assim, inclusive, para o
direcionamento de ações e implementação dos procedimentos a serem realizados na
manutenção preventiva.

E, para enfatizar a importância da manutenção no desempenho das edificações, Correia


(2013) chama a atenção para a necessidade de se implantar um Programa de Manutenção,
com rotinas de inspeção e manutenção estabelecidas e rigorosamente realizadas, contando
com registro claro feito pelo profissional responsável, de forma que se permita uma gestão
eficaz desse processo.

Manutenibilidade – Trata do nível de facilidade que um sistema, elemento ou


componente possui para que seja mantido ou recolocado no estado no qual possa executar
suas funções requeridas, de acordo com condições de uso especificadas, quando a manutenção
é executada sob condições determinadas, procedimentos e meios prescritos.
Degradação – Diz respeito à diminuição no desempenho da edificação ou de seus
sistemas em decorrência da atuação de de um ou de vários agentes de degradação.

Agente de Degradação – Está associado a tudo aquilo que atua sobre um sistema,
de forma a colaborar na redução de seu desempenho

A partir da apresentação desses conceitos abordados pela NBR 15575 e em conformidade


com a essência da patologia das edificações – que é investigar as causas das manifestações
patológicas, colaborando assim para a prevenção e mitigação das mesmas – se chega ao
entendimento que uma das principais vantagens da aplicação desta norma reside na
possibilidade dos imóveis apresentarem um tempo de uso muito maior ao longo do tempo.
Em tese, quer dizer que as edificações poderão durar muito mais em decorrência dos cuidados
adotados durante a sua execução e ao longo da sua utilização.
Essas questões sobre a durabilidade da edificação e a possibilidade de extensão da
mesma são salientadas no texto da NBR 15575 ao serem apresentados os conceitos de Vida
útil (VU) e Vida Útil de Projeto (VUP).

VIDA ÚTIL
De acordo com a NBR 15575, a VU de uma edificação é uma medida temporal sobre
sua durabilidade ou de seus sistemas, ou seja, o tempo em que esses elementos conseguem
desempenhar as funções ou atividades para os quais foram projetados, de modo que sejam
aferidos os níveis mínimos de desempenho requeridos por esta norma, levando em

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consideração, inclusive, a realização das ações de manutenção. Ações estas que devem
constar no manual de uso, operação e manutenção da edificação.
Este manual, por sua vez, é elaborado com base nas orientações trazidas na ABNT NBR
14037 – 1998 – Manual de operação, uso e manutenção das edificações – Conteúdo e
recomendações para elaboração e apresentação, a qual estabelece desde o responsável pela
elaboração e entrega (o construtor), o conteúdo a ser incluído no manual, até a linguagem a
ser utilizada (para que seja de fácil compreensão) e também a maneira como será
disponibilizado.
O manual utiliza ainda como referência para sua elaboração a ABNT NBR 5674 –
1999 – Manutenção de edificações – Procedimento, no que diz respeito ao provimento de
informações técnicas necessárias para desenvolvimento das atividades de operação, uso e
manutenção da edificação. O manual traz também como finalidade:
- informar aos usuários as características técnicas da edificação construída;
- descrever procedimentos recomendáveis para o melhor aproveitamento da edificação;
- orientar os usuários para a realização das atividades de manutenção;
- prevenir a ocorrência de falhas e acidentes decorrentes de uso inadequado;
- contribuir para o aumento da durabilidade da edificação. (ABNT, 1998, p. 3)
Vale citar que a NBR 15575 traz uma observação sobre o conceito de VU, de modo
que não se confunda VU com prazo de garantia legal ou contratual.
Além das operações de manutenção, alguns outros fatores influenciam também na VU
da edificação, tais como: o uso apropriado da mesma e de suas partes, possíveis alterações no
clima, níveis de poluição da região e mudanças no entorno com o passar do tempo etc.
Desta forma, o valor final alcançado pela VU será composto pelo valor teórico da VUP
sob influência positiva ou negativa destes fatores listados. Em outras palavras, se
negligenciado o cumprimento integral dos programas definidos no manual de uso, operação
e manutenção da edificação, bem como a incidência de ações anormais do meio ambiente,
poderá ser verificado o desenvolvimento de manifestações patológicas, o que ocasionará a
redução do tempo de vida útil, podendo este ficar menor que o prazo teórico calculado como
vida útil de projeto.

VIDA ÚTIL DE PROJETO


Ainda de acordo com a NBR 15575, a VUP é o intervalo de tempo estimado para o
qual um sistema é projetado, de modo que cumpra com os requisitos de desempenho
requeridos pela norma, ou seja, é uma estimativa teórica.
O atendimento dos critérios mínimos para a VUP colabora para que não sejam
entregues edificações que possuam durabilidade inadequada e que possam comprometer o
valor do bem, trazendo assim prejuízos ao usuário.
A NBR 15575 apresenta uma relação entre a vida útil da edificação e a realização de
ações de manutenção, onde é possível verificar o prolongamento considerável da vida útil
quando da realização das manutenções.
Uma vez apresentado todo este arcabouço conceitual, avancemos então, nos capítulos
seguintes, para um conhecimento mais pormenorizado sobre patologia das construções. O
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enfoque será em alguns dos elementos das construções mais comuns, de maneira que seja
possível conhecer e analisar as manifestações patológicas às quais estes elementos podem
estar submetidos.
Por fim, para informações adicionais acerca desta introdução à patologia das
construções, você pode acessar o QR Code da figura 9, onde será redirecionado para uma
página a qual será atualizada constantemente com informações relevantes a respeito deste
tema.

QUADRO RESUMO

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QUADRO ESQUEMÁTICO

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