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RT| AGRICO mnvotheé fh) GPyoas AS wot ne Guernt oe 10 FE 08 AUTORES Domingos Gallo (in mernoriem) Professor Catedriticn Octavio Nakano Professor Tila Sinval Silveira New Ricardo Pereira Lima Carvalho Professor Tear Gilberto Casadei de Baptista Professor Titular Evoneo Berti Filho Professor Tiwlas José Roberto Postali Parra Professor Til Roberto Antonio Zu Professor Tita Sérgio Batista Alves Professor Associoda José Djair Vendramnim Protessor Asoctada Luis Carlos Marehini Profeesor Assocado Joao Roberto Spotti Lopes Professor Doutor Celso Omoto Professor Doutor (Os autores desenvolveram ou desenvolvem suas atividades profssionais na; Universidade de Sio Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz" Departamento de Entomologia, Fitopatologia ¢ Zoologia Agricola Campus “Luiz de Queiroz Caixa Postal 9 13418.900 Pizacteaba, SP, Brasil SN SUSIOLU GL AHBIE ULL Dowincos Gatto (i memoriars) Ocravio Nakano Siyvat Sitveira Nero Ricarpo Persia Lina CARVALHO GiuneRto Gasper pe Barnista Evoxco Bernt Fino José Ronerro Posratt PARRA Ronrrro Antonio Zucent Séroio Barista Auves José Dra VeNpRamint Luis Cartos Marcuint Joxo Romeiro Srorn Loves Gx1s0 Owsoro © \ BIBLIOTECA DE CIENCIAS AGRARIAS LUIZ DE QUEIROZ S25, Volume 10 FEALG © FUNDAGAO DE ESTUDOS AGRARIOS, ‘LUIZ DE QUEIROZ — FEALQ fav Conta, 1080 13416:00 Piacieaa, SP, Bras one: 19-3817-6600 : A an: 19-3420-2758 Agradecimentos Website: felgore be E-mail: edt@ fealg.org. br dos Inervacionas d CatalogagSona Publicagto (CIP) a ‘Somos gratos a todos que direta e indiretamente colaboraram DIVISAO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTACAO ~ Campus "Luiz de Quciroz"USP a elaboragie desta sbra, eepecialmente avs professures, Lécnieos, alusios de ——— Se araduugio e pée-graduapto de instituipesofcias e pareuleres pelas ‘informagaes, fotegrafias, dados e literatura, Agradecemos também as _nomolgiaagucol/onningos Gallo Gin sora) ea Pacha: FEAL, ‘mpreses ablxo pelo apoio inanceie: 2002, 920 p. il. Biblioteca de Cigneias Agrérias Luiz de Queiroz, 10) Aventis CropScience Brasil Ltda, I. Entomologia agricola 1. Nakano, O. II, Silveira Neto, S. IIL, Carvalho, R.P.L. IV. Dow AgroSciences Industrial Ltda. Bapista,G.C, de Bess Fitho, EVN Pars, 5 RP. VAL Posh R.A, VB. Alves SB. 1. Vendraniny, J.D. X. Marcin L.C, XL. Lopes, 8S. XIL, Omoto, XU Tito Du Pont do Brasil S.A, L tal FMC Quimica doBrasil Ltda. Hokko do Brasil Industria Quimies'e Agropecuéria Ltda. ‘Monsanto do Brasil Lida. ISBN 85-7133-011-5 Syngenta Protegdo de Gultivos Ltda. (Novartis Agribusiness e Zeneca Agricola) Fovagrafas colors (grancts) Hecalde Negi de Oiveiza Esitoragio eletnica das pranchas: Regina Célia Botoguio de Moraes Tystragdes das ofdens dos insetos: Cleonice A. da Silva Makfoul "Nenhuma pavte deste obra poderi ser radusida, eproduzida, armazenada ou tansmitida por meio eletrénico, mecnico, de fotoespia, de gravaglo e outros, ‘sem zutoriaagao da Fendagio de Estados Agratios Luiz 6e Queiroz ~FEALQ. Sumario APRESENTAGAO..... se xm PREPACIO. eee x 1. INTRODUGEO 1 2, IMPORTANCIA DAS PRAGAS DAS PLANTAS 5 3, 0S INSETOS E O REINO ANIMAL. a Nogies de somenclatura zoolégica 13 Tdentifcapao doe insetos a 16 Classiticagdo dos ineetos 1 Ordons da classe Insecta 28 Ordem Archacognatha 28 Ordem Thysanura : 29 Ondem Ephemeroptera 30 Ondem Odonata = 30 Ordem Plecoptera 32 Ordem Blattodes. 33 Ordom Ieoptera 4 Ordem Mantodea : 36 Ordem Grylloblatiodea a Ordem Dermaptera 37 Order Orthoptera 38 ‘Ordem Phasmatodea 2 Order Embioptera z “a Ondem Zoraptera “4 ‘Order Peocopters aa Ordem Phthiraplera 6 Ordem Thysanoptera : 3 Ordem Hemiptera z 48 Order Mogaloptera Sn 6 Orem Raphidioptera . 6a Ordein Neuroptera = ot Ordem Coleoptera 6 Ondem Strepsiptera 15 Grdom Macoptera oe 16 Ordem Siphonaptera i ” Ordem Diptera 18 Ordem Trichoptera os Ordem Lepidoptera Ordem Hymenoptera Bibliogratia 4, MORFOLOGIA EXTERNA Bibliografia 5. ANATOMIA INTERNA E FISIOLOGIA ‘Tegumento Aparelho digestive e sistema de exeregao ‘Aparelho cireulatério ‘Aparelho respiratério ‘Aparalnos reprodutores. Sistema nervoso.. Orgaos do sentido Sistema muscular Sistema glandular Orgao fotogénico. Bibliografia ... & REPRODUGAO E DESENVOLVIMENTO DOS INSETOS... “Reprodugao Desenvolvimenta Metamorfcse Tipos de larva’ ‘Tipos de pupa Controle da metamerface Bibliografia 1. COLETA, MONTAGEM E CONSERVAGAO DE INSETOS ‘Métodos de coleta ‘Métodos para matar Conservario. Bibliografia 8. ECOLOGIA ‘Autecologia ‘Temperatura Umidade Lue Vento Alimenta Sinecologia var 86 96 105 107 107 309 i 16 ut 120 124 127 19 129 153 138 M1 M5 150 158 164 166 169 10 ma ma 113 115 116 ur v8 380 181 181 183 188 189 191 a1 12 195 204 205, 207 10. Populagto... Comunidades Biocenoses Regides biogeograticas Beossistemas Bibliograt INSETOS UTEIS. APICULTURA Biologia de Apis melee Criagao Mel Cera Geléia real Produo de raina cio glia rea Polinizaeao. Propolis. Veneno Inimigos das abeinas SERICICULTURA ‘Accultura da amoreira Sirgaria, depésito de folhas ¢ chocadeira Criagéo do bicho-da-seda Doeneas do bicho-da-seda Bibliografia -M#TODOS DE CONTROLE DE PRAGAS METODOS LEGISLATIVOS Servigo quarentendsio ‘METODOS MECANICCS.... METODOS CULTURAIS METODO DE RESISTENCIA DE PLANTAS. Plantas transgénices : Plantas inseticidas, METODOS DE CONTROLE POR COMPORTAMENTO ... Controle com horménios.. Feroménios sexuais Controle por meio de esterilizacao de insetos METODOS DE CONTROLE FisICO METODOS DE CONTROLE BIOLOGICO Parasitéides ¢ predadores Entomopatdgenos (controle microbiano) METODOS DE CONTROLE AUTOCIDA Radiagao ionizante CONTROLE DE PRAGAS NA AGRICULTURA ORGANICA.. METODOS QUIMICOS. Inseticidas 207 212 213 216 217 218 219 219 220 222 227 228 229 229 280 231 281 231 234 235, 237 239 240, 242 243 243 43 246 246 249 263 265 269 269 270 276 276 282 288 289 295 297 301 303 303, we 4, Formulagies 303, Classificagao de inseticidas 307 Galeulo para o emprogo de inseticidas 310 Granulados : 316 Via Kquida ai Expurgo. 320 ‘Transformasao de doaes € coneeniragten de Famigantes 320 Aplicadores de inseticidas 821 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 327 Implementagao de Programas de MIP 328 Amostragem de insotos = 331 ‘Manejo da tesisténcia de artropades a inseticidas 343 RECEITUARIO AGRONOMICO. 348 Bibliografia z 353 | TOXICOLOGIA DE INSETICIDAS. 361 Classificagao de inseticidas 362 12. Neurotéxieos Insoticidas que atwam na transmissdo sindptica, Inseticidas que ataam na transmissio axdnica Reguladores de erescimento de insetos. 367 Inibidores da sintese da quitina 367 Tuvengides (agonistas do horménio juvenil).. 367 Antijuvensides (antagonistas do hormdnio juvenil) 367 Agonistas de ecdistersides 368 ‘Toxicidade de inseticidas 385 Riscos decorrentes do uso de insetici - 388 Dosequilibrio bioldgico e seletividade de inseticidas... 390 aegis basa registro de agotoicos 393 Bibliografia : 395 PRAGAS DAS PLANTAS E SEU GONTROLE....... 397 PRAGAS DAS GRANDES CULTURAS wooo 397 Algodoeivo : : 397 ‘Amendoim . a 419 ‘Arroz. Cafocir® wan. Cana-de-apiear Reijociro, Brvilha e Fava..sssoosococoe ‘Trigo, Aveia e Cevada.. PRAGAS DAS PEQUENAS cuniroRAs 519 llfata. 519 520 520 Batato-doce. Caupi Crotalaria Ervamate Fumo Girassol Lentitha Liaho ‘Mamona .. Rami Seringucira Tungue PRAGAS DAS FRUTIFERAS Abacateiro ‘Nbaeaxi, ‘Abin ‘Acerola ‘Amoreira ‘Anoneira Bananeira Cacauciro Cajueiro Caquizeiro: Cavambola, Citros igueira Goiabeira o Aracazciro Jabuticabeira.... Jambeira Saqueira Macieira, Pereira Marmeleiro Mamoeiro Mangueira . Maracujazciro. . Nospercira e Ameixeira.. ‘Nogueira poca Oliveira Palmcoas. Pessegueira o Nectarina ‘Tamarindeivo Uvaia Videira PRAGAS DAS HORTICOLAS ORNAMENTAIS. Batatinha Cogumelo Cruciforas Cucurbitdceas 522 524 526 528, 531 538 539) Bal 542 57 578 378 Bal 585, 586 587 559 593 599 607 aut eld eis, 646 652 656 659 660 662 663, 665, 667 er 677 681 856 687 590 eal 699 705 708 107 na na 71 2 Pe Ficus. Folhas e Folhagens Gi : Hlortaligas Lilidceas Loureiro Morangueiro Orquideas Quiabeiro Roceira .. ‘Tomate, Berinjela e Pimentio .. PRAGAS DAS ESPECIES FLORESTAIS ARBOREAS ‘Acacia nogra ‘Angico-vormelho Canela-de-cheiro Casta Cedro Eucalipto, Guapuravu! pe. : ‘Mogno... Peroba Pinheiro-do.parana Pinus ~ PRAGAS GERAIS. Cupins ou Térmitas Formigas, Gafanhotos| PRAGAS DOS PRODUTOS ARMAZENADOS. ‘Amendoim.. vo ‘Arror. Gacau Café Farinhas. igo Bibliogratia.... {NDICE REMISSIVO. ‘SUMARIO DAS PRANCHAS. at 720 731 735 736 ma us M4 ut 752 154 187 170 770 m m7 72 174 75 782 184 1785 786 181 789 7 791 91 si a5 826 827 830 831 533 535 538 539) 845 6, 543, 598, 913 a9. Apresentacao ‘Meu primeiro livro de Entomologia fot a “Entomologia Agricola Brasileira” de Carlos Moreira, segunda edicao de 1929. Eu devia ter em torno de 14 anos ¢ minha ie o encadernou para mim, Ainda o guardo como uma religuia, embora as pégi- ras estejam amareladas e quebradicas. Na introdugo do livro, Carlos Moreira Tamenta a caréncia de boas colegdes e monografias sobre as principais pragas das plantas cultivadas do Brasil. Ele realga, porém, as eontribuigdes de Rodolfo von Thering, Adopho Hempel, Costa Lima e Gregorio Bondar, que, na realidade, torna- ram-se 0 nieleo da Entomologia Agricola brasileira. Desde entao, varias abras tam sido editadas com o intuito de aprimorar 0 estudo dos insetos. Os insetos sao consideradas os nossos mais sérios eompetidores pela hegemo- nia do planeta. Dependemos dos insetos para a polinizagao de muitas plantas, para a produgao de mel, seda e outros produtos naturais, para decomposigao da ‘matéria orgiinica e a reciclagem do carbono, e para muitas outras fungdes ecol6- gicas vitais. No entanto, 0 foco principal de nossas preoeupagies é 0 impacto negativo dos insetns como pragas de nossas eulturas. Nao ha informagies exatas das perdas totais causadas por insetos como vetores de patdgenos e parasitas hhumanos e de animais domésticos, como agentes de destruigio de estruturas domésticas e industriais, ou como pragas de cultivos agricolas, mas estas perdas devem chegar a centenas de bilhdes de délares anualmente. As estimativas su- ‘gerem que as perdas mundiais causadas por insetos e vertebrados a somente oito das principais culturas agricolas (algodao, arroz, batata, café, centeio, milho, soja, ¢ trigo) entre 1988 e 1990 chegaram a 90,5 bilhses de delares Na primeira metade do séeulo 20, prevalecia uma dicotomia entre entomologia basica © entomologia aplicada (ou econdmica). Desde entio, o uso da expresso Entomologia Beondmica declinow e foi substituida pelas designagées dos seus ramos principais: Entomologia Agricola, Entomologia Florestal, Entomologia Urbana, ¢ Entomologia Médica e Veterinaria, Bstudos dos aspectos fundamen- tais da ecologia, biologia, e comportamento dos insetos associados com plantas cultivadas e animais domésticos estao no Ambito da Entomologia Agricola e, Portanto, se reconhece agora que existe um elo entre estudos bésicos ¢ aplicados. A antiga dicotomie desvaneceu e algumas das contribuigées mais fundamentais aan para o conhecimento dos insetos tém resultado de estudos realizados com inse- ‘tos-praga, em centros de ensino e pesquisas agricolas. Bntre esses estudos estio a descoberta de feromdnios e horm®nios e seu papel no comportamento sexual de animais, os modelos de dinimica de populagdes e a relagao predador e presa, a demonstragao pratica dos prinefpios do deslocamento competitivo de espécies homologas, a inducio de resisténcia em plantas por herbivoria prévia, ¢ a gené ‘ica e mecanismos de resisténcia aos produtos quimicos. Estes estudos prove a base fundamental para o desenvolvimento ¢ implementacao de programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), Na década de 1940, quando “descobri” o livro de Carlos Moreira, as fontes de informagao sobre Entomologia Agricola no Brasil eram limitadas. Os livros de Costa Lima, que comecaram a ser publicados em 1939, eram de distribuigéo vestrita, No primeiro volume dos “Insetos do Brasil”, Costa Lima cita apenas 0 livro de Carlos Moreira (edigao de 1921), os segundo e terceiro catalogos dos insetos que vivem em plantas do Brasil (de 1927 e 1936, respectivamente), de sua propria autoria, e dois livros de Cesar Pinto sabre artrdpodes parasitas de importancia médica e veterinéria. Como o panorama mudou nestes tltimos 60 anos! O Brasil agora é reeonheci- do como um dos grandes centros mundiais de pesquisa entomoligica aplicada a agricultura, Atualmente a literatura de entornologia agricola brasileira é ds mais ricas na América Latina, As fontes primérios incluem trabalhos cientiicos publi- cados em revistas internacionais de alta reputacdo cientifica, eo estabelecimento dos Anais da Sociedade Entomolégica do Brasil, atualmente Neotropical Entomo- ogy, oferece aos peequisadores brasileiros um vefculo de comunicaeao cientifica em nivel internacional. A literatura secundaria também floresceu com wim merca- do de consumo de informagdes em portugués que estimula 0 interesse de editoras no langamento de livros técnicos de alto valor edueacional e informativo. © langamento do livro ENTOMOLOGIA AGRICOLA representa o dpice des- ta fase de florescimento téenico-cientifico da Entomologia brasileira. A trilha, desde o trabalho pioneiro de Carlos Moreira até a proparagao deste volume, foi longa e sinuosa, percorrida por varias geragies de entomologistas dedicados ao ‘estudo basico dos insetos de importancia econémica e & aplicagdo dos resultados da pesquisa na solugdo dos problemas de pragas das plantas de valor exondmnien. Nesta linha, a equipe de professores da FSALQ se destaca por ter atingido um nivel de exceléncia incomparavel nos eendrios nacional e internacional. 0 langa- mento desta obra reflete a dedicacdo desta equipe ao progresso da pesquisa e tensino entomoldgicos no Brasil e representa uma contribuigdo valiosa para o treinamento de faturas geragées de entomologistas, que necessariamente cont nuario na trilha dos pioneiros. ‘Marcos Kocax: Corvallis, Oregon, USA. xv Prefacio Entomologia Agricola é 0 resultado da experiéneia de varias décadas dos autores como professores dos Cursos de Graduacio e Pés-Greduagao na ESALQ/ USP. Entretanto, este livro extrapola as finalidades didaticas, pois inclui muitas informagoes de carter prético sobre os insetos de importancia econémica, O estudo dos insetos associados & culturas agricolas é dinamico, pois a im- portdncia e o nimero de espécies-prage podem se modificar ao longo do tempo para determinada cultura. Algumas causas contribuem para isso, como 0 uso de reas normalmente nao agriculturdveis (exemplo, cerrados),introdugéo de pra~ gas, resisténcia aos produtos quimicos, inovagies na condusdo de uma cultura (exemplo, plantio direto), entre outras. Conseqiientemente, 08 progressos nos estudos dos insetos-praga periodicamente precisam ser reunidos em obras, que permitam um facil acesso a esses conhecimentos. Assim, 0 objetivo deste livro & reunir as informagdes atuais sobre 0s insetos de importéncia agricola, disponibi- lizando-as aos estudantes e demais interessados em resolver problemas fitossa- nitérios, que envolvam as pragas de varias culturas agricoles Este livro contém 12 capitulos e pode ser dividido em trés partes. A primeira corresponde & Entomologia Geral (capitulos 1 2 8), na qual discute-se um breve histérico dos estudos entomoldgicos no Brasil, a importdncia econdmica das pra- 4gas, além dos conhecimentos basicos sobre classificapi0, morfologia, fisiologia, biologia, métodos de coleta e conservagio e aspectos ecolégicos dos insetos. A segunda (capitulo 9) 6 dedicada aos Insetos Uteis (abelhas e bicho-da-seda). A terceira parte refere-se a Entomologia Agricola propriamente dita. Inicia-se no capitulo 10, com os métodos de controle de pragas ~ lezislativos, mecdnicos, cul- turais, plantas resistentes, comportamentais, fisicos, biol6gicos © quimicos. No capitulo 11, 6 apresentada a toxicologia dos produtos quimicos. O eapitulo 12 é sobre as pragas das grandes culturas, das pequenas culturas, das frutiferas, das hortaligas, das florestas, pragas gerais e dos gros armazenados, num total de 500 pragas. Para eada praga, sdo apresentados uma sucinta earacteriza¢30, da- dos biolégicos, prejuizos ocasionados e métodos de controle. As recomendagées de controle quimico so apresentadas para as diferentes culturas, no entanto, devido as constantes alteragdes nessas recomendagses em razao do registro de av novos produtos, sugore-se a consulta ao portal Agrofit-chttp//200,252.165.A/agrofit>, do Ministério da Agricultura, Pecuéria © Abastecimento, para os produtos for- mulados. Portanto, este livro redne um grande volume de informagées sobre os inse- tos com énfase nos de importéncia econémica. Assim, constitui-se em fonte de consulta indispensavel a todos os interessados (engenheiros-agronémos, enge heiros-lorestais, bidlogos, técnicos e produtores) nos conhecimentos entomnel6- sicos e nos procedimentos mais adequados para a protegao das culturas contra ‘pragas agricolas, dentro de uma visdo moderna de Manejo Integrado de Pragas. Introdugao belecendo suas relagies com os seres humanos, plantas e animais, cor- respondendo, respectivamente, a Entomologia Médica, Entomologia Agri cola e Entomologia Veterindria, A.Entomologia Agricola, objetivo deste livo, é estudo das pragas agricolas Ainsetos ¢ éesr0s) que eausam danos as plantas eultivadas e dos métodos para controlé-las. Ui grande desenvolvimento dessa area ocorreu na déeada de 50 em todo o mando, havendo, a partir de 60, grandes avangos na dea de Manejo, Integrado de Pragas. Atualmente, a Entomologia esta cada vex mis interligada com as vérias areas do conhecimento (genétiea, bioquimies, bioteenologa, fisio- logia vegetal, fitopatologia, matologia, nutrigo de plantas, bioestatistica, clima- tologia, arise de impacto ambiental ete.) pois para o controle de pragas so necessérios programas inter e multidisciplinares. No Brasil, a histéria da Entomologia pode ser contada a partir do fim do steulo XIX com pioneiros como Gustavo Dutra, Hermann von Thering, Carlos Moreira, Emilio Goeldi, entre outvos. A partir da primeira década do século XX, intensificaram-se os estudos entomologices, representados principalmente pelas pesquisas de Angelo Moreira da Costa Lima, professor da Bscola Nacional de Agronomia (hoje Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), mundialmente éonhecido pela publicagao de mais de 200 trabalhos cientificos e uma obra de 12 ‘volumes iniciada em 1938 e concluida em 1962, denominada “Insetes do Brasil” Nesse periodo predominava a Entomologia descritiva, com énfase na taxo- znomia. Emm 1937, foi fundada a Sociedade Brasileira de Entomologia (SBE), lide- E ntomologia € a ciéncia que estuda os insetos sob todos os aspectos, esta- 2 — | Bntomologia Agricola ~ Capitulo 1 ada prineipalmente por taxonomistas e voltada para os estudos basicos. Na década de 60, os estudos aplicados estavam eoneentrados nas Instituigdes de Pesquisa (Instituto Biolégico de Sao Paulo, Instituto Agronémico de Campinas tc.) havendo pouca pesquisa nas Universidades. Entretanto, gracas ao pionei- rismo de dois entomologistas, Domingos Gallo, em Piracicaba, SP (ESALQ/USP) Padre Jesus 8, Moure, em Curitiba, PR (UFPR), foram eriados dois Cursos de P6s-Graduagao (CPG) em Entomologia - 0 Mestrado (1969) para ambas as Ins- titaigdes e o Doutorado na ESALQ (1972) e na UFPR (1976). Os Cursos de Pés- Graduagio surgiram da necessidade de treinar pesquisadores nas diversas éreas, da Entomologia, que teve grande impulso a partir da década de 50, especialmen- te em paises desenvolvidos. & eriagio desses cursos enincidiu com a fundagao da Sociedade Entomolégica do Brasil (SEB), em 1972, que congregava principal- mente 08 entomologistas agricolas. Nesse periodo, surgia também a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria (Embrapa). Multos pesquisadores da Em- brapa realizaram Curso de Pés-Graduagao em Entomologia no exterior, uma ver que 0s Cursos de Pés-Graduagéo nessa drea no Pais ainda estavam sendo estruturados. Os Cursos de Pés-Graduagio foram eriados baseando-se no modelo norte- americano. Nesses 25 anos, a Pés-Graduagio em Entomologia evoluiu ¢ adap- tou-se & realidade brasileira. Embora um quarto de século seja um perfodo curto para estabelecer um paralelo com Cursos de Pés-Graduagio da Europa e dos EUA, pode-se eonsiderar que jé hé cursos no Brasil com maturidade e capacida- de compardveis as dos grandes centros universitarios de paises desenvolvidos. Apesar de todos os problemas, especialmente falta de recursos financeiros e de ‘uma politica cientifica no Brasil, muitos cursos estéo, atualmente, bem estrutu- rados e perfeitamente adequados as condigoes brasileiras. Atualmente, hé sete Cursos de Pés-Graduagao em Entomologia no Brasil (BSALQ, UFPR, FFCLRP, INPA, UFV, UFLA e FCAV), $40 cursos diferentes, com linhas e tendéncias préptias, Mais de 600 mestres ¢ 150 doutores jd foram formados no Brasil. Essa ‘masca eritia, somada aos que obtiveram treinamento no exterior, eredencia a Entomologia brasileira como a mais importante na América Latina, e em igual- dade de condigées com alguns paises desenvolvidos. A especializagio nos CPGs trouxe, como reflexo, a irradiagao de conhecimen- tos entomoldgicos para todos os pontos do Pais e a possibilidede de divulgar cada ver mais a Entomologia brasileira na América Latina. A participagdo nos even- tos cientificos organizados pela SEB (Congresso Brasileiro de Entomologia, Sim- pésio de Controle Biologico, além de varias reunides cientificas) tem erescido exponencialmente nos tltimos anos, atingindo aproximadamente 1.000 partici- ppantes nos Congressos nacionais. A qualidade dos trabalhos, como conseqtiéncia desse treinamento, também methorou consideravelmente e houve maior distri- Dbuicio de trabalhos por drea de pesquisa. Assim, enquanto nos primeiros Con- ssressos da SEB havia predomindincia de trabalhos em controle quimico de pra- | Introdugéo| 3 gas, houve, com o passar do tempo, alteragdo nesse quadro, com aumento ex- Pressivo de trabalios em outras éreas. Com a ampliagéo das pesquisas em Entomologia, principalmente nas éreas aplicadas, © com uma visd0 mais ampla dos problemas entomolégicos, surgiram «_interedmbias entre entomologistas de diferentes pontos do Pais. Em razio disso, aumentos o niimero e melhorou a qualidade das publicagées, criando-se centros de pesquisa em éreas até entao sem tradigdo, fortalecendo cada vez mais a Ento- rmologia brasileira. Um reflexo desse fortalecimento foi @ escolha do Brasil pela cemunidade cientifica internacional para sediar o XI Congresso Internacional de Entomologia em Foz do Iguagu, PR (agosto’2000), numa promocao conjunta da SEB e Embrapa Soja Importancia das Pragas das Plantas te um milhao, das quais corea de 10% sao pragas, prejudicando plantas, animais domésticos e o proprio homem. Segundo o Departamento de Agri- cultura dos BUA (USDA), cerea de 5.000 novas espécies sio coletadas ¢ classifi- cadas anualmente. O niimero de espécies de insetos deseritas ¢ estimado em aproximadamen- Os danos causados pelos insetos as plantas s&o varisveis, podendo ser obser- vvadas em todos os érgaos vegetais. Dependendo da espécie e da densidade popu. Tacional da praga, do estadio de desenvolvimento e estrutura vegetal atacada da duragao do ataque, poder haver maior ou menor prejuizo quantitative e qualitative. Tais danos sao varidveis de pais para pais, de acordo com caracteris: ticas climaticas, variedades, téenicas agronémicas utilizadas e, obviamente, ca- racteristicas socioecon6micas. Os insetos podem causar danos diretos quando atscam o produto a ser e0- ‘mereializado, ou indiretos quando atacam estruturas vegetais que nfo serao co- mercializadas (folhas e raizes, por exemplo), mas que alteram os processos fisio légicos, provocando reflexos na produpo. Além disso, também podem atuar indi- relamente, transmitindo patdgenos, especialmente virus, facilitando a prolifera- ao de bactérias e o desenvolvimento de fungos (famagina) e outros patégenos, ‘0 injetando substancias toxicogénicas durante o processo alimentar (Tab. 2.1), 6 | Entomologia Agricola ~ Capitulo 2 Tabola 2.1. Tinos de dance nr) ocasionados por insets na ageututa (eto, 199). ‘Tipos de ila Insetes als comune’ ‘a Nas cures ou plantas Lagetas,besours, galas, fonmigas-cotadeiras, larvas da moscas. Sugar a seiva de fotas, botbes oral, ramos ou Percevojs,pupbes cigarirhas, pes, inaos. cochenihas, Broquear ov anlar a casa, ramos, tose Besours, ages, lavas. somentos ou ver etre a superties das fois (minadores) ‘Causar tumor em alguna pare da pant, para ‘servi de abigo e alec galas ‘aca aizes ov colo ds plants sgadores ‘oumastgadore) Aleta cu dest fas, amos, botdos ois, ‘asca ou ruts da planta para postr. Lnlzr pares da planta para a constugéo de {Lawvas de moscas, lars de vespas, Bese ages, Sars iis, Besours, cigars, moscas, ros. Formigas, vespac, abehas, lavas riros ou ratios. demoscas. Cider ov transport outros instes para a Fomigas. Plan Dissemina ou acta o deserolvnerto de ricroorgansmos Hlopstoganics (ungos, Dactérias, pretazosros evs), notando os os tei da planta ao 2 almenta, \warsporando-os por gales ou oeasorando ‘um fiment, através G0 qual o organism ‘ausador da doanga nossa penetra 1b~ Nos gros au produtos armazenatos ‘Almertarse de todo ou de pate de proto ‘manera, CContariear o prtsuto com suas secrebes, excragies 0s o agua pate do corpo, tomando-oimprstavel para consu Buscar prctogfo ou consti rnhos ou abigos com au sobre esse substrto. "Flac 28 are comire oo SU sia eotnec pul pet Pulgoos, cigarintas, besours, ‘cochorinas, moscas braces, ‘belhas, vespas, pes, moscas. CCarunchos, gorquos, basours, rages. CCarunchos, gxquhos, basoues,ragas. CCarunchos, gorohos,basoures, tapas. Bm termos mundiais, 0s prejuizos causados por pragas e doengas so bas- tante clevadose, juntamente com as plantas daninhas, chegam a causar perdas da ordem de 88% (Tab, 2.2). Alguns paises tiveram a sua economia fortemente abalada devido ao ataque de pragas. Assim, em 1867, a Franga sofreu tremendo impacto devido & presen- ¢2 do pulgio-da-videira, Daktulosphaira vitifoliae, que dizimou em pouco tempo 0s vinhedios existentes, uma das maiores eulturas do pats naquela época. A pro- | | Importincia das Pragas das Plantas | 7 ‘Tabela 22. Perdas (4) mundas de produgeo, por aro, por ataque de prages, doencase plantas dan thas ANDEF 1687), Cutturas ____Perdas (%) Pragas__Doengas__Plantas daninhas Total “Tigo 5 10 10 5 Aveia ? 10 10 a Centeio 2 3 0 15 Covad 4 8 9 21 ‘Asroz 2 8 10 a7 Pango. eorgo x0 10 8 38 mano 13 10 3 36 Batata 6 2 4 2 Boterraba a 10 6 24 ‘Cana-ce-agucar 2 19 15 sé Honaligas 8 2 a ey Piantas futforas 7 “4 3 2 Vidoira 3 ze 10 s cate 13 v7 4s Cacau 18 a 6 cha 8 1s 2 Fumo 10 13 3t \Lspulo 8 8 2 Owveira 18 a 36 oqueiro 12 7 2 Soja 5 i" 2 ‘Amendoim 18 iw 40 ‘Algodso 13 10 28 tuanaga 3 id i Cota’ 3 7 st Gergetm 3 a 28 Gopra 5 @ “4 Outras plantas osas 5 8 23 Seringueira 5 15 25 Media 13 4 38 dugao de vinho baixou de tal maneira, que 0 governo estabeleceu um prémio aquele que conseguisse resolver esse problema Outro exemplo 6 a mosca-do-mediterrineo, Cerattis capitata, que exigin 0 gasio de mithdes de délares para sua erradicago. Em 1929, 0 governo dos EUA fo alertado pelos técnicos da grave situaeo.em que se encontrava a citricultura da Florida, causada pela introdugao dessa mosea. Assim, foram decretadas me- espinhos proesternais presente... e bespinkos proesternais ausentes.. .~ Phaneropterinae € —pronoto com 2 suturas transversais Peeudophyllinae © pronoto com 1 sulura transversal ou nenhuma soon 4 fastigio estendendo-se além do escapo -» Copiphorinae @ —fastigio nto indo além do eseapo Conocephalinae Ordem Phasmatodea Jacobson & Bianchi, 1902 (phasma = espectro) ‘Sao insetos que se distingoem pelo extraordinario mimetismo, confundindo- se com gallos verdes ou secos, folhas e até mesmo liquens, recebendo daf o nome comum de bicho-pau, Algumas espécies podem atingir mais de 300 mm, porém hd espécies com pouco mais de 10 mm, Cabega livre, pequena, opistognata, Ni mero de ocelos varidvel (0, 2 ou 3); olhos compostos desenvolvidos. Antenas seté- ceas, multissegmentadas, com até 100 articulos, Aparelho bueal mastigador. Térax cilindrieo, liso ou com espinhos ou carenas, Protérax curto, menor que a cabera. Mesotérax bem desenvolvido, pelo menos trés vezes maior que 0 pro- téeax. Metatérax semelhante ao mesotérax. Asas bem desenvolvidas em algu- mias espécies, mas ha espécies apteras, Na maioria, porém, a asa anterior 6 atro- fiada, Em algumas espécies, os machos sio aladas e as femeas dpleras, Asas, em geral, hialinas. As formas aladas voam mal. Deslocam-se lentamente, protegi- das polo mimetismo. Pernas ambulatérias, providas ou nao de espinhos e salién- Os Insetos e 0 Reino Animal | 43 cias de aspecto foliéceo. Pernas anteriores, ge- ralmente mais longas que as posteriores; tarsos pentameros. Abdome eilindrico, sendo o primei- + tergito fundido com o metatérax, formando o segmenta mediano. Cereos curtos nas fémeas € Jongos nos machos (Fig. 3.18). A reprodugdo sexuada. 0 macho, em ge- ral, é bem menor que a fémea. Entretanto, ha espécies partenogenéticas, pois 08 machos so muito raros. Os fasmatédeos sao pouco proliferos. Os ovos em nimero muito varidvel geralmente sto postos no chdo, em série ou isolados. Stio opereulados e de varios formatos. O desenvolvi- mento é por hemimetabolia, eclodindo des ovos formas jovens semelhantes aos adultos, que logo apés 0 nascimento se distendem consideravel- mente. No Brasil, os bichos-paus apresentam pou- ca importincia econdmica, apesar de fivofagos, Fgua3.16, Orem Psmatea pois seu potencial bidtico ¢ baixo, vivendo em maior abundancia nas matas e, raramente, nas areas cultivadas. A ordem conta com mais de 2.500 espécies deseritas, divididas em tres familias Ordem Embioptora Sipley, 1904 (embio Sao insetos terrestres, de 5 até 20 rom de com- primento, Possuem coloragio escura, corpo alonge: do, com o 3° tarsomero das pernas anteriores extre- mamente dilatado; eercos assimétricos (Fig. 3.19). Vivem, preferencialmente, em climas quentes, abr sados sob tineis ou galerias de seda, no solo ow em pedras e troncos de arvores. Algumas espécies for- mam eolénias, outras vivem icoladas, Os machos podem ser atraidos por fos luminosos, Ax fémeas sho apteras © pouco proliferas. A reprodugao so xuada e 0 desenvolvimento por hemimetabolia. Ca vega relativamente grande, deprimida; olhos ovais sgranulosos. Sem ocelos; antenas filiformes; apare- ‘ho bueal mastigador. Pernas eurtas,trimeras, com 0 I’ articuio tarsal com glandulas tarsais que secre tam a seda para a ecnstrupao dos abrigos. Existem deseritas eerea de 200 espécies,distribuidas em 8 familias, Avan; ptera = asas) Fea 318. Orde Embortara

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