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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUÍZ DE DIREITO DA …ª VARA DA

COMARCA DE PORTO VELHO/RO.

Processo nº …

THOR HEIMDALL, brasileiro, nascido em 24/10/1998, natural de Porto


Velho/RO, filho de Elis e Edil, RG N., residente na BR 619, km 10, Sítio do
picapau amarelo, nesta capital, atua/mente recolhido no sistema prisional desta
capital.

LOKI FREY, brasileiro, nascido em 29/11/1987, natural de Porto Velho/RO,


filho de Carmen e Kennedy, RG N..., residente na Av. Costa e Silva, bairro São
Marcos, nesta capital, atua/mente recolhido no sistema prisional desta capital, e

ODIN BALDUR, brasileiro, nascido em 19/05/1994, natural de Picosa/PI,


filho de Riz e Cleber, RG..., residente na rua Vitória, n. 0 6943, bairro Nacional,
Porto Velho. Vêm, respeitosamente, por meio de seu advogado, infra-assinado,
devidamente constituído (procuração anexa), apresentar as

DEFESAS PRÉVIAS

com fulcro no art. 5º, LV, da Constituição Federal c/c art. 55, § 1º, da Lei nº.
11.343/06, pelo que faz nos seguintes termos:

SÍNTESE DA DENÚNCIA

No dia 15 de setembro de 2020, durante a noite, na rua Anari, s/n o, bairro Cohab
Floresta, nesta capital, THOR HEIMDALL e LOKI FREY, agindo em concurso
com ODIN BALDUR, transportavam, valendo-se do veículo Chevrolet/Onix Joy,
placa, sem autorização e com finalidade de mercancia, 07 (sete) porções
CONHA, pesando cerca de 961,77 g (novecentos e sessenta e um gramas e se nta
e sete centigramas), bem como, na rua Vitória, n.º 6943, ODIN BALDUR trazia
consigo e tinha em depósito, m autorização e com finalidade de mercancia, 07
(sete) porções de MACONHA, p ando cerca de 6.052,20 g (seis mi/ e cinquenta e
dois gramas e vinte centigramas), conforme descrito no auto de apresentação e
apreensão (fl. 33) e laudo toxicológico preliminar (fls. 35/36).

Segundo restou apurado, policiais militares realizavam patrulhamento quando


avistaram os denunciados LOKI e THOR dentro do veículo GM/Onix, cor
branca, placa, na rua Anari, próximo à Av. Jatuarana, sendo que, ao perceber a
presença da guarnição, ambos demonstraram extremo nervosismo. Diante disso,
os policiais realizaram abordagem e, durante busca no veículo, encontraram uma
mochila contendo 07 (sete) porções de MACONHA, pesando cerca de 961,77 g.
Na ocasião, THOR informou que LOKI sabia que fariam uma entrega de droga e
que ele receberia um valor por isso, além disso, THOR informou que pegava a
droga com o vulgo "Júnior do ", na rua vitória, 6943.

Assim, os policiais foram até o local informado, onde abordaram o denunciado


ODIN, vulgo "Júnior ", e, durante busca pessoal, encontraram 02 (duas) porções
de MACONHA, pesando cerca de 21,18 g, no bolso de ODIN. Em seguida, com
o consentimento de ODIN, os policiais realizaram buscas no interior da
residência e encontraram uma balança de precisão, um rolo de filme PVC, uma
sacola contendo vários sacos plásticos e uma faca.

Em continuidade, os policiais acionaram uma guarnição do canil do


BPCHOQUE e, durante buscas com o cão, encontraram 05 (cinco) porções de
MACONHA, pesando cerca de 6.031,02 g, enterradas. Em seguida, ao ser
indagado pela guarnição, ODIN informou que a droga lhe pertencia e que havia
recebido 10 (dez) tabletes grandes de MACONHA duas semanas antes da prisão,
bem como que os denunciados THOR e LOKI vendiam e entregavam a droga
que pertencia a ODIN.

Ao final, a acusação pede a condenação dos acusados nas penas pela prática do
crime tipificado no art. 33, caput, da Lei n. 0 11.343/06 c/c art. 29 do Código
Penal.

PRELIMINARMENTE

DA INÉPCIA DA DENÚNCIA

Numa análise preliminar da peça exordial acusatória, tem-se que a mesma é


inepta, vez que desobedece o comando insculpido no art. 41 do Código de
Processo Penal, pois claramente deixa de expor todas as circunstâncias do
suposto fato criminoso.

Código de Processo Penal:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato


criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas. (destacamos)

De forma inaceitável, a denúncia formulada omite ou deixa de indicar diversas


informações e circunstâncias que são relevantes, pois apesar de se ter formulado
acusação envolvendo os crimes de tráfico, em nenhum momento o parquet narra
onde seria o local da comercialização, e muito menos indica ao menos alguma
pessoa que teria adquirido as prováveis substâncias proscritas pertencentes à
inverossímil acusação de tráfico”.

Nesse sentido, ensina o doutrinador Eugênio Pacelli (Curso de Processo Penal, p.


102, 2017) que “Inepta é a acusação que diminui o exercício da ampla defesa,
seja pela insuficiência na descrição dos fatos, seja pela ausência de identificação
precisa de seus autores.”

Na mesma linha de se reconhecer a inépcia da denúncia ante a ausência de


cumprimento dos requisitos previstos no art. 41 do CPP, colaciona-se o seguinte
julgado do STJ:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.


PROCESSUAL PENAL. DENÚNCIA. INÉPCIA.
TRANCAMENTO.
1. É inepta a denúncia que não expõe os fatos imputados ao
denunciado que conduziriam ao resultado danoso, pena de
responsabilização penal objetiva.
2. Recurso provido para trancar a ação penal em relação ao
recorrente.
(Processo RHC 41205 RJ 2013/0328927-1, Orgão JulgadorT6 –
SEXTA TURMA
Publicação DJe 14/05/2014, Julgamento6 de Maio de 2014,
Relator Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA

Portanto, diante dos argumentos supramencionados, conclui-se que a r. Denúncia


padece de inépcia, merecendo rejeição por este douto Juízo, nos termos do art.
395, I, do CPP, aplicado subsidiariamente.

II – PRELIMINARMENTE
a) Do Exame De Dependência Toxicológica A defesa entende ser necessário o exame de
dependência toxicológica do acusado THOR HEIMDALL, uma vez que desde o seu primeiro
depoimento, este afirmou ser usuário de drogas e com base nos documentos juntados aos
autos, comprava-se a dependência química do acusado. Com efeito, aventada possível
inimputabilidade será hábil para resolver a matéria, não sendo possível substituí-lo por
qualquer outro elemento de convicção.
Nenhum prejuízo trará à instrução a instauração do incidente correspondente. Ao contrário,
maior segurança disporá à este Juízo para apreciar o caso, sempre na busca da verdade real.
Nesse sentido, o E. Supremo Tribunal Federal já teve oportunidade de decidir que: "se há
alegação de que o agente do crime de tóxico é viciado, é de ser ele submetido a exame
especializado para que se verifique ser isso verdadeiro. Anulação da sentença, em
conseqüência, para que outra seja proferida após dito
a exame especializado para que se verifique ser isso verdadeiro. Anulação da sentença, em
consequência, para que outra seja proferida após dito exame" (RT 639/384).
Na mesma linha, A E. Corte do STJ já salientou que: "fazendo o réu declaração de
dependência a psicotrópico, imprescindível a realização do exame de verificação de
dependência e imputabilidade, cujo resultado poderá, se positivo, isentá-lo de pena ou
determinar sua redução, configurando a falta dessa perícia psiquiátrica cerceamento de
defesa" (HC 157.638 3/3, rel. Luiz Pantaleão, j.20.12.93)
Verifica-se, portanto, que a confissão do acusado revela concordância com outros elementos
de convicção e, por isso, dispõe de valor probante, de acordo com art. 197 do CPP. Necessário
será a realização de exame de dependência toxicológica para comprovar a confissão de
dependência do réu.

b) Da Desclassificação Para o Artigo 28 da Lei nº 11.343/06 Primeiramente, cabe aduzir que o


acusado THOR HEIMDALL não pratica, na realidade, o comércio de substância de
entorpecentes. A verdade é que o acusado, sendo usuário e não comerciante de drogas é
vítima dos que lucram com o mercado do tráfico, desse sistema destruidor das drogas que
assola cada vez mais o país e o mundo.
Como é sabido em seu interrogatório o acusado diz o seguinte: “Nega ser o dono da droga
apreendida; Que reconhece ser usuário de drogas e que apenas 25 gramas lhe pertencia; Que
não estava vendendo drogas para Odin Junior; Que comprou as 25 gramas com Odin Junior;
Que a droga encontrada dentro do veículo de Loki foi apenas as suas 25 gramas; Que o
restante a droga foi encontrado na casa de Odin Junior.”
Outrossim, o ora acusado deve ser submetido a tratamento médico adequado, nos termos do §
7º do art. 28, a fim de que possa se livrar do vício. Portanto, mister a desclassificação do tipo
penal imputado ao acusado do art. 33 para o art. 28 da lei em comento, pois até entendimento
pacífico dos nossos tribunais a respeito
Por tudo exposto, restando constatado que o acusado é somente usuário de drogas e que a
substância apreendida (25 gramas) seria utilizada apenas para consumo próprio, requer a
Defesa a desclassificação para o delito tipificado no art. 28 da Lei de Tóxicos.
Como consequência lógica, deve o processo ser desmembrado em relação a Thor e enviado
para o Juizado Especial Criminal. Também como consequência desse reconhecimento deve
ser editado o imediato alvará de soltura, pois que a prisão preventiva é incompatível com as
disposições relativas aos crimes de menor potencial ofensivo.

c) Do Erro de Tipo CP, art. 20, caput O acusado Loki Frey não tinha menor idéia de que o
conteúdo, acondicionado em uma mochila, conduzido pelo passageiro Thor, seria de ordem
ilícita. Segundo consta dos autos do inquérito, o Réu estava no seu mister de motorista de
aplicativo, inclusive narrado em termo de interrogatório que conhecia a pouco tempo o
passageiro THOR, e não conhecia a pessoa de ODIN, inclusive com cópias de trocas de
mensagens e a solicitação da corrida via aplicativo.
Na realidade o Ministério Público almeja a condenação do acusado tão somente assentado em
suposições. Para o Parquet, o fato desse encontrar-se juntamente com o possuidor da droga,
presumidamente estaria em concluio no propósito da flagrância. Nega-se veemente essas
conjeturas. É preciso sublinhar que o material apreendido encontrava-se acondicionado dentro
de uma mochila e escondido. Então, indaga-se: Diante disso, qual seria a postura certa do
acusado? Determinar a revista na mochila para aprovação da corrida? Recusar o transporte de
passageiros mediante a essas circunstâncias? Não há minimante qualquer suporte fático a
endereçar-se aos argumentos da acusação. Desse modo, indiscutivelmente a conduta é
atípica, pois inexiste a figura do dolo. O tipo penal descrito na peça proemial reclama
comportamento volitivo doloso. Não é o caso, insistimos. É impositiva a absolvição do Réu,
maiormente quando o conjunto probatório revelado pela acusação

autoriza o reconhecimento do erro de tipo, previsto no art. 20 do Código Penal. Com efeito, a
absolvição sumária do denunciado é imperiosa, à luz da dicção do art. 395, inc.III, da
Legislação Adjetiva Penal.

d) Da nulidade da prova Temos no caso em tela uma clara demonstração de Invasão de


Domicílio sem ordem judicial. Os policiais afirmam que Odin consentiu com as buscas no
interior de sua residência. Ora, V. Exa., em que situação alguém com mais de 6 (seis) quilos de
maconha iria permitir a entrada de policiais na sua casa? Temos aqui um claro abuso de
autoridade, tipificado no art. 22 da Lei 13.869/2019. Ante o afirmado, pede-se a
desconsideração dos 6.031,02g de maconha encontrados na casa de Odin.

MÉRITO

Da Defesa de Loki

O Acusado Loki é motorista de aplicativo de onde retira seu sustento e de sua


família. Após chegar no local onde encontraria o Acusado Thor, Loki percebeu
que aquele estava com uma bolsa preta, mas não há revistou, até porque não tem
permissão nem legalidade para tal ato, portanto não teria como saber que o
Acusado Thor transportava drogas.

Portanto descabível e improcedente a denúncia em face do acusado Loki,


devendo ser absolvido sumariamente.

Ademais, as demais provas de inocência do acusado serão comprovadas e


apresentadas na audiência de instrução e julgamento a ser designada por esse
juízo.

II. Da Defesa de Thor

Conforme extraído do próprio interrogatório do acusado e já mencionado


nesta defesa é usuário de drogas, contudo não vende, apenas compra para
consumo próprio.

Assim, o art. 27 da Lei nº 11.343/06, dispõe que será submetido as penas


de advertência sobre os efeitos das drogas, ou prestação de serviços à
comunidade ou medida educativa de comparecimento à programa ou curso
educativo.
Portanto, diante da confissão de usuário e possuir pouca quantidade em sua
posse, requer a aplicação da pena de advertência ou curso educativo, uma vez
que o acusado Thor não é traficante.

Ademais, as demais provas de inocência do acusado serão comprovadas e


apresentadas na audiência de instrução e julgamento a ser designada por esse
juízo.

III. Da Defesa de Odin

As parcas produzidas na fase inquisitorial em relação ao acusado Odin foram


obtidas por meio ilícito, eis que em evidente situação de violação de domicílio,
pois os Policiais não tinham mandado de busca para adentrar à sua residência e a
entrada destes não foi devidamente autorizada.

Assim, as eventuais circunstâncias probatórias decorrentes de tal ato são nulas e


não podem sustentar a acusação.

Os demais elementos de prova d inocência de Odin será provada na audiência de


instrução.

DOS PEDIDOS

DIANTE DO EXPOSTO, requer:

1) a realização do exame toxicológico em relação ao


denunciado Thor
2) O reconhecimento da desclassificação para o crime previsto
no artigo 28 da lei antidrogas, com a declaração de
incompetência deste juízo e com o consequente envio do
processo em relação a Thor, com a imediata expedição do
alvará de soltura;
3) O reconhecimento do erro de tipo em relação ao acusado
Loki, com a evidente situação de culpa e exclusão da
tipicidade da conduta.
4) A declaração da nulidade da busca feita na residência do
acusado Odin e os efeitos anulatórios derivados em relação
a toda prova ali obtida.
5) A rejeição da denúncia nos termos do artigo 395, I e III do CPP,
aplicado subsidiariamente.
6) Caso o pedido retro não seja acolhido, que ao final sejam os
réus ABSOLVIDOS, com fulcro no art. 386, VI, do CPP.
Protesta pela produção de todos os meios de prova admitidos,
juntada de documentos e especial para a oitiva das seguintes
testemunhas, que deverão ser previamente intimadas:

(…)

Nestes termos,

pede e espera deferimento.

Porto Velho, 17 de março de 2021.

 
Rol de testemunhas

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

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