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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.22.148116-1/001 Númeração 5006937-


Relator: Des.(a) Narciso Alvarenga Monteiro de Castro (JD
Relator do Acordão: Des.(a) Narciso Alvarenga Monteiro de Castro (JD
Data do Julgamento: 10/08/2022
Data da Publicação: 10/08/2022

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. ATRASO NO RECONHECIMENTO DE


DISCIPLINAS JÁ CURSADAS NA INSTITUIÇÃO. IMPACTO CURRICULAR
E NA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA DA APELANTE. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. DESVIO PRODUTIVO DA CONSUMIDORA. DANO
MORAL. QUANTUM. REDUÇÃO. DESNECESSIDADE.

- O desgaste e significativo tempo despendido, na tentativa de solução


extrajudicial e judicial, para reconhecimento de disciplinas já cursadas, na
própria instituição apelante, fundamentam o dano moral requerido face à
consagrada tese do desvio produtivo ou perda de tempo útil.

- A jurisprudência dos tribunais vem acompanhando a doutrina que


reconhece a responsabilidade civil por danos morais em decorrência do
desvio produtivo do consumidor, ou pela perda do tempo útil do consumidor.

- A fixação do dano deve ser feita em medida capaz de incutir ao agente do


ato ilícito lição de cunho pedagógico, mas sem propiciar o enriquecimento
ilícito da vítima e com fulcro nas especificidades de cada caso.

- Os danos morais devem ser fixados dentro de critérios que equalizem seu
caráter pedagógico, a retribuição pelo constrangimento e a proibição de
enriquecimento ilícito.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.22.148116-1/001 - COMARCA DE MURIAÉ -


APELANTE(S): SESES SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR ESTÁCIO DE
SÁ LTDA - APELADO(A)(S): MARYANE BARBOSA DE SOUZA

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ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 11ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

JD. CONVOCADO NARCISO ALVARENGA MONTEIRO DE CASTRO

RELATOR

JD. CONVOCADO NARCISO ALVARENGA MONTEIRO DE CASTRO


(RELATOR)

VOTO

Trata-se de apelação cível interposta por SESES - SOCIEDADE DE


ENSINO SUPERIOR ESTÁCIO DE SÁ LTDA (ordem 73) nos autos da AÇÃO
DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA C/C
DANOS MORAIS, pretendendo a reforma da r. Sentença proferida pelo MM.
Juiz da 3ª Vara Cível da Comarca de Muriaé (ordem 71), que julgou
procedente o pedido, condenando a apelante ao pagamento de R$5.000,00 à
apelada a título de danos morais à apelada.

Em suas razões recursais a apelante SESES - SOCIEDADE DE ENSINO


SUPERIOR ESTÁCIO DE SÁ LTDA (ordem 73) rebate, em síntese, a
existência de dano moral indenizável, afirmando a inexistência de falha na
prestação de serviços educacional e alegando que os fatos narrados na
inicial causaram meros aborrecimentos à apelada, não

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ensejando danos morais indenizáveis. Pela eventualidade, pugna pela


redução do valor fixado (R$5.000,00). Por derradeiro, requereu fosse dado
provimento ao apelo para reformar a sentença primeva pelos fundamentos
expostos.

Contraminuta recursal colacionada no evento de ordem 77, impugnando,


por óbvio, as teses da apelante. Afirma, em síntese, que "a pretensão
indenizatória é legitimada em decorrência do desgaste e significativo tempo
despendidos na tentativa de solução extrajudicial e judicial face à consagrada
tese do desvio produtivo ou perda de tempo útil".

É o sintético e necessário relatório.

Presentes os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade


recursal, conheço do recurso interposto.

Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer com Pedido de Tutela


Antecipada C/C Danos Morais, em que a autora relata que iniciou seus
estudos na IES em 2020, onde passou a cursar duas graduações
tecnológicas em EAD, uma em Negócios Imobiliários e a outra em Ciências
Contábeis. Aduz que dia 11/02/2021, realizou transferência interna de curso
de Ciências Contábeis EAD para Processos Gerenciais. Ocorre que, em
19/07/2021, ao solicitar o aproveitamento em Processos Gerenciais de 04
(quatro) disciplinas já concluídas e aprovadas em Negócios Imobiliários,
sendo elas: Estatística e probabilidade; Gerenciamentos de Projetos, Gestão
de Processos e Gestão de Serviços, tivera seu pleito negado pela requerida.
A pretensão indenizatória é legitimada em decorrência do desgaste e
significativo tempo despendidos na tentativa de solução extrajudicial e judicial
face à consagrada tese do desvio produtivo ou perda de tempo

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útil.

Sem razão a apelante.

Como bem salientado pelo juízo a quo, restou incontroverso o direito da


autora em obter o aproveitamento das disciplinas, como alegado na inicial.
Restou comprovada, ainda, a demora, a desorganização e a ilegítima recusa
da apelante em atualizar os documentos e a grade estudantil da apelada,
gerando grande perda de tempo, alto desgaste emocional em torno de um
direito social legítimo (educação), ocasionando um significativo tempo
despendido na tentativa de solução extrajudicial e judicial para a solução de
uma demanda curricular relativamente simples da apelada.

A atitude da apelante/requerida em somente atender o pleito da autora


via judicial, gerou prejuízos e aborrecimentos de toda ordem à consumidora,
que só teve o aproveitamento das disciplinas já cursadas e aprovadas e seu
histórico escolar atualizado para emissão do diploma após toda uma "via
sacra" narrada na inicial e mediante ordem judicial. Como bem afirmado em
contrarrazões recursais "é inconcebível que uma instituição de ensino, depois
de reiteradas provocações administrativas por parte de sua aluna, só venha a
constatar o óbvio (direito da aluna em ter reconhecido a sua aprovação nas
referidas matérias) mediante ordem judicial", sendo "inconcebível a ideia de
investir e dispensar tempo cursando 04 matérias e não tê-las reconhecidas
em seu histórico escolar, tendo próxima a data para a colação de grau".

Portanto, a pretensão indenizatória da apelada/autora é

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legitimada em decorrência do desgaste e significativo tempo despendidos na


tentativa de solução extrajudicial e judicial, face à consagrada tese do desvio
produtivo ou perda de tempo útil.

Sobre o tema "responsabilidade civil por danos morais em decorrência do


desvio produtivo do consumidor" assim tem decidido essa Egrégia 11ª
Câmara:

EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO INDENIZATÓRIA - TELEFONIA


- INADIMPLEMENTO CONTRATUAL NÃO COMPROVADO - ÔNUS DA
PARTE RÉ - INTERRUPÇÃO DOS SERVIÇOS INJUSTIFICADA - FALHA
NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - TENTATIVA DE SOLUÇÃO
ADMINISTRATIVA FRUSTRADA - PERDA DE TEMPO ÚTIL DO
CONSUMIDOR - DANOS MORAIS CONFIGURADOS - QUANTUM
INDENIZATÓRIO - RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE - JUROS
DE MORA - TERMO INICIAL. 1. Nos termos do art. 186 e do art. 927, ambos
do Código Civil, aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito, ficando obrigado a repará-lo. 2. A parte ré não se
desincumbiu do ônus de demonstrar o alegado inadimplemento contratual,
ônus que lhe incumbe, a teor do art.373, II, do CPC. 3. A interrupção
injustificada de linha telefônica e internet caracteriza falha na prestação de
serviço da operadora e causa transtornos significativos ao consumidor que
ultrapassam os limites do mero aborrecimento cotidiano, por se tratarem de
serviços que se revestem de natureza essencial. 4. A jurisprudência dos
tribunais vem acompanhando a doutrina que reconhece a responsabilidade
civil por danos morais em decorrência do desvio produtivo do consumidor, ou
pela perda do tempo útil do consumidor. 5. Inexistindo parâmetros objetivos
para a fixação da indenização por danos morais, deve o julgador observar a
razoabilidade e a proporcionalidade, atentando para o seu caráter punitivo-
educativo, e também amenizador do infortúnio causado. 6. No que diz
respeito aos juros de mora, em se tratando de responsabilidade de natureza
contratual, o termo inicial deverá corresponder à data da citação, nos termos
do art. 405 do

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Código Civil c/c art. 240, do CPC. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.22.033394-


2/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - APELANTE(S): CLARO S.A.,
LUDMILLA MARTINS DE BRITO - APELADO(A)(S): CLARO S.A.,
LUDMILLA MARTINS DE BRITO A C Ó R D Ã O - Vistos etc., acorda, em
Turma, a 11ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO
AO PRIMEIRO RECURSO E DAR PARCIAL PROVIMENTO AO SEGUNDO.
DESA. SHIRLEY FENZI BERTÃO RELATORA - DES. FABIANO RUBINGER
DE QUEIROZ - De acordo com o(a) Relator(a). DES. RUI DE ALMEIDA
MAGALHÃES - De acordo com o(a) Relator(a). grifo e negrito nosso.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA - PEDIDO DE


CANCELAMENTO DE CONTRATO NÃO ATENDIDO - INÉRCIA
INSTITUÍÇÃO FINANCEIRA - LONGO PRAZO - RESTITUIÇÃO EM DOBRO
- DANO MORAL CONFIGURADO - RESSARCIMENTO HONORÁRIOS
CONTRATUAIS - IMPOSSIBILIDADE. No âmbito das relações
consumeristas, o fornecedor responde pelos prejuízos causados ao
consumidores, independentemente de culpa, nos termos do art. 14, caput, do
Código de Defesa do Consumidor. Os valores indevidamente descontados
devem ser devolvidos de forma dobrada, quando comprovada a má-fé da
instituição financeira na recusa injustificada de cancelamento do contrato de
seguro. A recusa em cancelar o contrato e a dificuldade em resolver o
problema, são infortúnios que, conjugados, ultrapassam a fronteira do mero
aborrecimento e causam inequívoco dano moral ao consumidor. O desvio
produtivo caracteriza-se quando o consumidor se vê obrigado a desperdiçar
o seu tempo e a desviar de suas atividades para tentar resolver um problema
criado pelo fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, irrecuperável
e, portanto, indenizável. A relação contratual havida entre o cliente e seu
advogado não cria direito ou obrigações para terceiros, sendo absolutamente
descabida a pretensão do vencedor de ver-se ressarcido pela parte contrária
quanto ao dispêndio de tal verba. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.21.145928-
4/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - 1º APELANTE: ROSILENE
DUTRA - 2º APELANTE: BRADESCO SEGUROS S/A - APELADO(A)(S):
BRADESCO SEGUROS S/A, ROSILENE DUTRA - A C Ó R D Ã O - Vistos
etc., acorda,

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em Turma, a 11ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas


Gerais, na DAR PARCIAL PROVIMENTO AOS RECURSOS. DESA.
MÔNICA LIBÂNIO ROCHA BRETAS

RELATORA - DES. ADRIANO DE MESQUITA CARNEIRO - De acordo com


o(a) Relator(a). DES. FABIANO RUBINGER DE QUEIROZ - De acordo com
o(a) Relator(a). grifo e negrito nosso

EMENTA : APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL


POR VÍCIO OCULTO C/C PEDIDO DE REPARAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS - COMPRA E VENDA DE VEÍCULO -
REVENDEDORA - SEMINOVO - RELAÇÃO DE CONSUMO - CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR - APLICABILIDADE - FALHA NO SENSOR DE
VELOCIDADE - ACENDIMENTO DA LUZ DE INJEÇÃO ELETRÔNICA -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA - TEORIA DO DESVIO PRODUTIVO -
DANOS MORAIS - CONFIGURAÇÃO - CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO -
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE - CONSECTÁRIOS LEGAIS -
TERMO INICAL - CORREÇÃO MONETÁRIA - ARBITRAMENTO EM
SENTENÇA - JUROS DE MORA - CITAÇÃO DA PARTE RÉ. I - Segundo as
disposições do Código de Defesa do Consumidor, é objetiva a
responsabilidade do fornecedor pelos danos decorrentes do vício de seus
produtos e da falha na prestação dos seus serviços. II - Pela "Teoria do
Desvio Produtivo do Consumidor", o fornecedor do serviço tem o dever de
aperfeiçoar os recursos para a resolução do problema, sob pena de ser
devida ao consumidor indenização pelos danos morais sofridos decorrentes
da perda considerável de tempo para solucioná-los. III - A indenização por
dano moral deve ser arbitrada segundo o prudente arbítrio do julgador,
sempre com moderação, observando-se as peculiaridades do caso concreto,
devendo o magistrado analisar as lesões sofridas pela parte e a sua
extensão, atento aos princípios da proporcionalidade, da razoabilidade e da
vedação ao enriquecimento sem causa. IV - A correção monetária da
indenização por danos extrapatrimoniais deverá incidir a partir do
arbitramento da indenização e os juros de mora são devidos a partir da
citação da parte requerida. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.22.056837-2/001 -
COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): CEMIGAUTO EIRELI -
ME - APELADO(A)(S): PEDRO IGOR

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CARDOSO DE SOUZA A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 11ª


CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na
conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO
RECURSO. DES. FABIANO RUBINGER DE QUEIROZ RELATOR DES. RUI
DE ALMEIDA MAGALHÃES - De acordo com o(a) Relator(a). DES.
MARCOS LINCOLN - De acordo com o(a) Relator(a). grifo e negrito nosso.

O desvio produtivo caracteriza-se quando a consumidora se vê obrigado


a desperdiçar o seu tempo e a desviar de suas atividades para tentar
resolver um problema criado pelo fornecedor, a um custo de oportunidade
indesejado, irrecuperável e, portanto, indenizável.

A doutrina há alguns anos vem defendendo a possibilidade de


responsabilidade civil pela perda injusta e intolerável do tempo útil.

Nesse sentido, podemos citar:

¿ Marcos Dessaune (Desvio Produtivo do Consumidor - O Prejuízo do


Tempo Desperdiçado. São Paulo: RT, 2011). ¿ Maurílio Casas Maia e
Gustavo Borges (Dano temporal: o tempo como valor jurídico. Florianópolis:
Empório do Direito, 2018). ¿ Pablo Stolze (Responsabilidade civil pela perda
do tempo. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 18, n.
3540, 11 mar. 2013. Disponível em: ); ¿ Vitor Vilela Guglinski (Danos morais
pela perda do tempo útil: uma nova modalidade. Jus Navigandi, Teresina,
ano 17, n. 3237, 12 maio 2012.

No voto e na ementa do REsp 1737412/SE, a Min. Nancy Andrighi


mencionou a "Teoria do desvio produtivo do consumidor". O que vem a ser
isso? Trata-se de uma teoria desenvolvida por Marcos Dessaune,

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autor do livro Desvio Produtivo do Consumidor - O Prejuízo do Tempo


Desperdiçado. São Paulo: RT, 2011). Segundo o autor, "o desvio produtivo
caracteriza-se quando o consumidor, diante de uma situação de mau
atendimento, precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as suas
competências - de uma atividade necessária ou por ele preferida - para tentar
resolver um problema criado pelo fornecedor, a um custo de oportunidade
indesejado, de natureza irrecuperável". CAVALCANTE, Márcio André Lopes.
É cabível indenização por danos morais em caso de demora excessiva para
atendimento na fila do banco?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
e m :
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3a904474
6ffc9e6f539ecace6d3e2c82>. Acesso em: 01/07/2022.

Logo, a consumidora deverá ser indenizada por este tempo perdido.

Diante disto, considero que resta, de fato, o dever da apelante de


indenizar a apelada pela falha na prestação do seu serviço, ocasionando à
autora uma perda de tempo considerável na tentativa de solucionar o
problema, gerando angústia, medo, temor de não colar grau a tempo e modo,
além de obrigar a autora/apelada a movimentar toda a máquina judiciária
estatal na busca de um direito evidente e certo, cuja efetivação não foi
possível, administrativamente, por má vontade da apelante.

VALOR DOS DANOS MORAIS

A sentença recorrida fixou o valor dos danos morais pleiteados

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pela autora/apelada em R$5.000,00, a apelante requer a redução do valor.

No que pertine ao quantum indenizatório, é sabido que este deve possuir


dupla função, qual seja, reparatória e pedagógica, devendo objetivar a
reparação do prejuízo efetivamente sofrido pela vítima, bem como servir de
exemplo para inibição de futuras condutas nocivas.

Sobre o tema, preleciona Humberto Theodoro Júnior:

"Impõe-se rigorosa observância dos padrões adotados pela doutrina e


jurisprudência, inclusive dentro da experiência registrada no direito
comparado para evitar-se que as ações de reparação de dano moral se
transformem em expedientes de extorsão ou de espertezas maliciosas e
injustificáveis. As duas posições sociais e econômicas, da vítima e do
ofensor, obrigatoriamente, estarão sob análise, de maneira que o juiz não se
limitará a fundar a condenação isoladamente na fortuna eventual de um ou
na possível pobreza do outro (JÚNIOR, Humberto Theodoro. Dano Moral. 5ª
ed. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira).

Assim, entendo que o quantum indenizatório deve seguir os critérios da


razoabilidade e da proporcionalidade, devendo ser fixado em valor que tenha
realmente o condão de reparar, ou ao menos amenizar, o dano sofrido e, em
contrapartida, inibir o autor da conduta ilícita.

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Se, por um lado, é certo que o valor da indenização por dano moral não
pode ser fonte de enriquecimento ilícito para quem o sofreu, por outro, deve
ser considerado que o referido valor não pode ser irrisório a ponto de não
reparar o dano, devendo levar em conta a capacidade econômica das partes.

Assim, devem ser levadas em conta as peculiaridades de cada caso e,


principalmente, o nível socioeconômico das partes, bem como a gravidade
da lesão, assim como também procurar desestimular o ofensor, buscando a
sua conscientização, a fim de evitar novas práticas lesivas.

Cabe ao juiz a difícil tarefa de arbitrar o valor da reparação, sem que


possibilite lucro fácil ao autor ou reduza o montante a quantia ínfima ou
simbólica, ao menos até o Legislador produzir ou importar uma lei tal qual a
que existe na Espanha, que regula em minúcias o Instituto da Indenização,
produzindo maior justiça e precisão quanto ao tema.

A doutrina e a jurisprudência têm procurado estabelecer parâmetros para


o arbitramento do valor da indenização, traduzidos, por exemplo, nas
circunstâncias do fato, bem como nas condições do autor do ilícito e do
ofendido, devendo a condenação corresponder a uma sanção ao
responsável pelo fato para que não volte a cometê-lo.

Também há de se levar em consideração que o valor da indenização não


deve ser excessivo a ponto de constituir fonte de enriquecimento do
ofendido, nem apresentar-se irrisório, uma vez

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que, segundo observa Maria Helena Diniz:

"Na reparação do dano moral, o juiz determina, por equidade, levando em


conta as circunstâncias de cada caso, o quantum da indenização devida, que
deverá corresponder à lesão e não ser equivalente, por ser impossível, tal
equivalência. A reparação pecuniária do dano moral é um misto de pena e
satisfação compensatória. Não se pode negar sua função: penal, constituindo
uma sanção imposta ao ofensor; e compensatória, sendo uma satisfação que
atenue a ofensa causada, proporcionando uma vantagem ao ofendido, que
poderá, com a soma de dinheiro recebida, procurar atender a necessidades
materiais ou ideais que repute convenientes, diminuindo, assim, seu
sofrimento" (A Responsabilidade Civil por Dano Moral, in Revista Literária de
Direito, ano II, nº 9, jan/fev. de 1996, p. 9).

Nessa linha, também, é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,


senão vejamos:

"Para a fixação do valor da indenização por danos morais deve-se


considerar as condições pessoais e econômicas das partes e as
peculiaridades de cada caso, de forma a não haver o enriquecimento
indevido do ofendido e que sirva para desestimular o ofensor a repetir o ato
ilícito". (STJ - AGA 425317 - RS - 3ª T. - Relª. Minª. Nancy Andrighi - J.
24.06.02).

Na hipótese dos autos, sopesando os fatos e convencido de que o valor


da indenização deve pautar-se na condição econômica dos envolvidos, bem
como na gravidade da lesão, sem olvidar dos

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princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, de minha parte estou


convicto de que a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) é suficiente a
mitigar os danos morais infligidos à autora, ora apelada, tal qual entendeu o
magistrado de origem.

DISPOSITIVO

Com tais considerações, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO,


mantendo, in totum, a bem lançada sentença recorrida.

Fixo honorários recursais em 2% majorando de 15% para 17% sobre o


valor da condenação. Custas, despesas e honorários pela apelante.

DES. RUI DE ALMEIDA MAGALHÃES - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. MARCOS LINCOLN - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "RECURSO NÃO PROVIDO"

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