Você está na página 1de 10
Fazendo arte para aprender: A importancia das artes visuais no ato educativo Elizangela Aparecida da Silva" Femanda Rodrigues Oliveira Leticia Scarabelli Maria Lorena de Oliveira Costa Samyla Barbosa Oliveira Orientadora: Profi, Vera Lucia Lins Sant’ Anna** “Toda crianga é artista. O problema é como permanecer artista depois de crescer”. Resumo presente artigo apresenta o histérico da arte, vista como uma ciéneia que, para ser reconhecida institucionalmente, percorreu um longo caminho, a importaneia de se trabalhar as Artes Visuais dentro da sala de aula, fazendo uma reflexdo sobre o desenvolvimento cognitivo, afetive e motor da exianga através das diferentes linguagens artisticas presents nas Artes Visuais, identificando e mostrando como a etianga se desenvolve na aprendizagem através das Artes Visuais (pintura, desenho, arte tridimensional (modelagem), recorte ¢ colagem). Neste trabalho, usamos aportes tedricos ligados a Artes Visuais, Arte e Educagio, Psicologia (desenvolvimento infantil), Educagio, Documentos Legais que abordam a questio do ensino da Arte para a erianga 2, no contexto atual de um mundo globalizado, a questtio da Midia como divulgadora ¢ influenciadora da produgiio attistice. Picasso. Palavras-chave: Artes Visuais; Cognitivo; Interagdo Social; Afetivo. Introdugio © presente artigo aborda o histérico da Arte, que pode ser identificada como uma ciéncia que vem percorrendo um longo caminho para ter seu reconheaimento institucional. © ensino no Brasil, que passou por diversos métodos, na maioria das vezes importados sem a devida adaptagao, apresenta concepgSes sobre a importéncia das artes visuais baseada nos Parémetros Curriculares *Ahunas do Curso de Pedagogia da PUC Minas, Nacionais de Artes ¢ na Lei de Diretrizes & Bases da Educagio. Caracteriza as diferentes linguagens presentes nas Artes Visuais no processo de aprendizagem como: desenho, uma das manifestagSes que tem a fung’io de atribuig&o de significagio ao que se expressa e seconstréi: pintura, que pode ser definida como aarte da cor; arte tridimensional (modelagem), em que se procura explorar aquilo que a rodeia através do tato, da manipulagao dos objetos agugando sua curiosidade; recorte e colagem, que propiciam a crianga dos primeiros anos **Mestre em Educagiio e Doutora em Ciéneias da Religitio. Professora e pesquisadora da PUC Minas. Pedagogia em ago, v.2, n.2, p. 1-117, nov, 2010 - Semestral 95 Silva, E. A. da; Olivei F_R3 Scarabelli, L; Costa, M. L. de O.; Oliveira, S. B.; escolares 0 aperfeigoamento de contetidos de coordenag’io motora, criatividadee desenvolvimento da sensibilidade, nogdes de espago e superficie, E, no contexto atual de um mundo globalizado, é tratada a questo da Midia como divulgadora da produgio artistica. Todas essas questées foram observadas ¢ analisadasem uma escola da rede particular, da regiao centro-sul de Belo Horizonte, fazendo uma relagho com os tedricos estudados e apresentados no artigo. ‘Trajeto das artes visuais até a escola: Uma abordagem teérica A arte, numa perspectiva histérica, pode ser identificada como uma ciéneia que vem percorrendo um longo caminho para ter seu reconhecimento institucional. © ensino de Arte no Brasil, a0 longo do tempo, passou por diversos métodos, na maioria das vezes importados sem a devida adaptagio, desde a colonizagio com os jesuitas, impondo a separago entre a retérica a manufatura e negando a cultura indigena, passando pelo século XIX com a negagao do barroco em favor do neoclassico. Ja no século XX, havia uma grande preocupagio com o ensino de Arte que até entdo se resumia ao ensino do desenho, este visto como um importante meio para formagio técnica. A disciplina Desenho, apresentada sob a forma de Desenho Geométrico, Desenho do Natural eDesenhoPedagégico, eraconsiderada mais por seu aspecto funcional do que uma experiéncia em arte. (BRASIL, 2000, p. 25). Em meacos da segunda metade do século XX, a pedagogia experimental sinalizava um novo lugar para arte na educag’io, No momento em que a crianga conquista seu lugar como sujeito, com caracteristicas préprias, deixando de ser apenas um projeto de adulto, o desenho infantil passa ser objeto de estudo cognitivo. Com a Semana da Arte Moderna em 1922, os modelos de educagao técnica voltada para © trabalho, com forte identificag’o ao estudo do desenho clissico e do desenho geométrico, comegaram a ser contestados, passando a valorizar a expressiio infantil. No inicio dos anos 30, também comegaram a ganhar espago no Brasil escolas especializadas em artes para criangas e adolescentes. No final dos anos 40, 0 ensino de arte conquista mais espagos fora dos muros da escola com as “Escolinhas de Arte” implantadas em varios pontos do pais Este movimento visava a um ensino de arte pautado na livre express%io, como um rumo alternativo na busca de uma_ identidade ainda desconhecida. Segundo Ana Mae Barbosa, a Escolinha de Arte, em parceria com 0 governo, promoveu varios cursos de formagio de professores, com “uma enorme influéncia multiplicadora, chegando a haver 32 Escolinhas no pais” (BARBOSA, 2003). Nos anos 70, a apresentagio dos programas reflete influéncia da tendéncia tecnicista. O ensino de arte é fortemente influenciado pelas ideias de Lowenfeld & Herbert Read, o que levaré ao espontaneismo, ao laissez-faire, na maioria das escolas. ALei de Diretrizes e Bases n° 5.692/71 é tecnicista e incita 4 profissionalizagio, 0 trabalho pedagégico fragmentou-se para tornar © sistema educacional efetivo e produtivo. Através dessa lei, foi instituida no curriculo a Educagiio Artistica, reunindo todos os tipos de linguagem tornando o ensino de artes polivalente. A promulgagio da lei, sem prever anteriormente a formagio dos professores e sua qualificagtio, enfraqueceu a qualidade de ensino, ao invés de promover melhorias nas condigdes ja existentes, (BEMVENUTI, 1997, p. 44). Em 1973, eriaram os cursos superiores em Educagao Artistica, uma formagdo com duas opgdes, a licenciatura curta em dois anos ¢ a licenciatura plena em quatro anos. Com cursos de curta duragao ¢ um curriculo abrangente que propunha conhecimentos de miisica, artes plésticas ¢ teatro, os professores conheciam superficialmente as _linguagens e conduziam o ensino sem uma concepeaio Pedagogia em agao, ¥.2, n.2, p. 1-117, nov, 2010 - Semestral 96 Fazendo arte para aprender: A importincia das artes visuais no ato educative filosofica adequada, sem a esséncia do ensino de arte. Com auséncia de formagao continuada consistente, conhecimentos basicos de arte, os professores sentem-se despreparados, inseguros € sem capacidade e disposigio de tempo para aprofundar seus conhecimentos, nem para explicitar, discutir © praticar um planejamento mais consistente de educagio e arte, passam a apoiar-se nos livros didaticos de Educagio Artistica produzidos desde o final da década de 70. Nas escolas, a arte ocupa apenas o lugar de relaxamento, lazer, sendo ignorada como area de conhecimento. Com a nova LDB (lei n® 9.394/96), é extinta a Educagao Artistica e entra em campo a disciplina Arte, reconhecida oficialmente como area de conhecimento. O artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educagao Nacional, em seu § 2°, dispde que: § 2 © ensino da arte constituira componente curricular obtigatério, nos diversos niveis da educagtio bisica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos, Essa mudanga nao foi apenas nominal, mas de toda a estruturagio que envolve o tratamento de uma area de conhecimento. De atividades esporddicas de cunho mais proprio de relaxamento e recreag’io, passa-se ao compromisso de construir conhecimentos significativos em arte. Artes visuais, como um conjunto de manifestagdes artisticas, compreendem todo © campo de linguagem € pensamento sobre olhar e sentido do ser humano. As Artes que normalmente lidam com a visio como seu meio principal de apreciagio costumam ser chamadas de Artes Visuais. Porém as artes visuais nfio devem ficar restringidas apenas ao visual, pois, através dessas manifestagdes artisticas (desenho, pintura, modelagem, recorte colagem entre outros), hi varios significados que o artista deseja passar. Segundo Panofsky (1989), uma obra de arte deve ser definida como um “objeto feito pelo homem que exige ser esteticamente experenciado” AsArtes Visuais sto linguagens, por isso sfo uma forma muito importante de expresso e comunicagio humenas, isto justifica sua presenga na educag&o infantil, O ensino de ‘Arte aborda uma série de significagées, tais como: 0 senso estético, a sensibilidade e a criatividade. Atualmente, algumas agdes esto interferindo qualitativamente no processo de melhoria do ensino e aprendizagem de Arte. Os Pardimetros Curriculares Nacionais de Arte destacam que: Dentre as varias propostas que estio sendo difundidas no Brasil na transigio para 0 século XI, destacam-se aquelas que tém se afirmado pela abrangéncia © por envolver agdes que, sem diivida, esto interferindo na methoria do ensino & da aprendizagem de arte. Trata-se de estudos sobre a educagao esiética, a estética do cotidiano, complementando a. formagio artistica dos alunos. Ressalta-se ainda o eneaminhamento pedagégico- artistic que tem por premissa basica a integragtio do fazer artistico, a apreciagio da. obra de arte ¢ sua contextualizagiio histérica (PCN, 2000, p. 31) Podemos destacar a “Proposta ou Metodologia Triangular” difundida_ orientada por Ana Mae Barbosa, que vem se afirmando por sua maior abrangéncia cultural Essa proposta pedagogica integradora tem por base trabalhar trés vertentes do conhecimento em arte: o fazer artistico, a leitura da imagem © a contextualizagao historica. Outra agfio que esta interferindo na melhoria do ensino e da aprendizagem de Arte se refere a estudos sobre a educagio estética do cotidiano, complementando a formagio estético-artistica dos alunos. Pedagogta em acao, v.2, n.2, p. 1-117, nov, 2010 - Semestral Silva, E. A. da; Olivei , F_R.; Searabelli, L; Costa, M. L. de O.; Oliveira, S. B.; Caracterizagio das diferentes linguagens nas artes visuais no processo de aprendizagem A crianga, desde bebé, se interessa pelo mundo de forma peculiar. Emitindo sons, movimentando 0 corpo, “rabiscando” as paredes da casa e desenvolvendo atividades ritmicas, cla interage com o mundo sem precisar ser estimulada para tal Fazer arte retine processos complexos em que a crianga sintetiza diversos elementos de sua experiéneia. No proceso. de selecionar, interpretar e reformar, mostra como pensa, como sente ¢ como vé, A. crianga representa na criagio artistica ‘© que Ihe interessa € 0 que ela domina, de acordo com seus estigios evolutivos. Uma obra de arte nio é a representagao de uma coisa, mas a representagiio da relagdo do artista com aquela coisa, [..] Quanto mais se avanga na arte, mais se conhece e demonsira autoconfianga, independéncia, comunicagiio e adaptagio social. (ALBINATI, 2009, p. 4). Assim sendo, a arte propicia 4 crianga expressar seus sentimentos ¢ ideias, colocar a criatividade em pratica, fazendo com que seu lado afetivo seja realgado, Tendo essa observagao voltada para o Ambito escolar, vemos claramente como as artes visuais sio essenciais na interag%io social da crianga e como os professores podem desfrutar desse recurso para isso. Além de utilizar as artes visuais para trabalhar o afetivo e a interagao social da crianga, © professor pode utiliza-las no auxilio da motricidade infantil que deve ser bem trabalhada desde a infancia para que, futuramente, ela possa sentir a diferenga desse recurso na sua vida pessoal, escolar e profissional. Sendo assim, o presente artigo destaca cinco tipos de linguagens nas artes visuais que sio utilizadas com as criangas no cotidiano escolar Sao elas: desenho, pintura, modelagem, recorte/colagem e midia (informatica), Desenho O desenho ¢ uma das manifestagdes semidticas, isto é uma das formas através das quais a fumgao de atribuigio da significagio se expressa ¢ se constréi. Desenvolve-se concomitantemente as outras manifestagdes, entre as quais o brinquedo ¢ a linguagem verbal (PIAGET, 1973). Figura 1 Fonte: Simone Villani A crianga, inicialmente, vé 0 desenho como simplesmente uma agZo sobre uma superficie, sentindo prazer em “rabiscar”, explorar e¢ descobrir as cores e novas superficies, ssa é a chamada fase da garatuja. Com as novas experiéncias de mundo que a crianga adquire, as garatujas vio evoluindo, ganhando formas definidas com maior ordenagtio. © papel nfio ¢ mais apenas uma superficie para os rabiscos infantis, Ele passa a ser uma superficie na qual a crianga expressaré 0 que vive diariamente, ou seja, expressaré a alegria, a tristeza, os passeios que mais interessaram, a dinamica familiar (inclusive Pedagogia em agao, ¥.2, n.2, p. 1-117, nov, 2010 - Semestral 98 Fazendo arte para aprender: A importincia das artes visuais no ato educative os conflitos vividos dentro de casa). Segundo Cunha, “devemos lembrar que os registros resultam de olhares sobre o mundo. Se o olhar & desinteressado e vago, as representagdes serio opacas ¢ uniformes. (Referencial Curricular Nacional, 1999, p. 12)” [...] a erianga desde bebé mantém comtato com as cores visando explorar os sentidos © a cutiosidade dos bebés em relagio a0 mundo fisico, tendo em vista que, nesse periodo, descobrem o mundo através do conhecimento do seu proprio corpo e dos objetos com que eles tm possibilidade de interagir. (CUNHA, 1999, p. 18). Desenhar, além de ser algo prazeroso para a crianga, é extremamente importante no cotidiano escolar. Deacordo com oReferencial Curricular Nacional de Educagio Infantil Por meio de diferentes gestos em um plano vertical (ou pelo menos inclinado), @ ctianga aprende a segurar corretamente o giz eo lapis. Para que a crianga adquira um trago regular, precisara trabalhar com certa rapidez, sobre uma grande superficie colocada a sua altura, A crianga que no domina bem seu gesto ser solicitada a tmabalhar, sobretudo, com © ombro ¢ ¢ cotevelo: far entio desenhos grandes. Somente mais tarde, quando os movimentos altura do ombro 2 do cotovelo tornarem-se desenvelvidos, faremos dimimiir as proporgées dos desenhos, exigindo assim da enianga um trabalho mais especifico do purho e dos dedos,” (1998, p. 106) © professor pode explorar superficies diferentes como lixa, papelio, papel branco, madeira, cho, entre outros, para ajudar no desenvolvimento motor da crianga. No ato de desenhar, a crianga expressa seu lado afetivo com a manifestagio organica da emogio, a crianga usa o papel eo lapis para expressar os seus sentimentos no desenho, a sua Telagio com a familia, os amigos, a escola. Através dos tragos feitos pela crianga, até mesmo pelas cores usadas, 0 professor consegue perceber 0 que esté acontecendo com ela, ¢ que pode estar levando-a ao fracasso escolar. Com o avangar do desenho infantil, a crianga também desenvolve melhor o seu cognitivo, j4 que ela, primeiro, representa © que vé para depois representar 0 que esta gravado (fotografado) na meméria, ou seja, ela aprende a sair do plano palpavel para o plano abstrato. O que ajudaré muito na iniciag’o matematica, futuramente, com as tio “temidas continhas” que sao trabalhadas de forma tatil para depois ser retratadas de forma abstrata. Dessa forma, o desenho passa a ter uma significagio muito mais ampla na educagio infantil e, assim, merece ser tratado como mais. que simples rabiscos, sendo valorizado como um auxiliador importante no desenvolvimento da crianga, Pintura ‘A pintura pode ser definida com a arte da cor, Se no desenho o que mais se utiliza 0 trago, na pintura o mais importante a mancha da cor, Ao pintar, vamos colocando sobre o papal, a tela ou a parede cores que representam seres & objetes, ou que eriam formas. (COLI TEBEROSKY, 2004, p, 30). A pintura trabalhada com as oriangas tem abjetivos que vio além do simples prazer em manipular maos ¢ pincéis, Através do contato com diversos materiais disponiveis para a manipulagao comas tintas, cola, alcool, entre outros, as criangas podem expressar sentimentos diversos na superficie trabalhada, além de desenvolver, assim como o desenho, sua habilidade motora que, futuramente, na sua alfabetizagao, seré fundamental no desenvolver das letras. Pintar 6, antes de tudo, uma arte que deve ser usada também na Educagio Infantil como fator de desenvolvimento motor, afetivo e social da crianga. Interpretar obras, recriar 99) Pedagogta em acao, v.2, n.2, p. 1-117, nov, 2010 - Semestral Silva, E. A. da; Olivei , F_R.; Scarabelli, L; Costa, M.L. de O.; Oliveira, S. B.; imagens, pintar por observagao sio atividades quemostram possibilidadesdetransformagées, dereconstrugiio, dereutilizagao edeconstrugio de noves elementos, formas, texturas, ete. Figura 2 Fonte: Simone Villani Arelagao que a crianga estabelece com os diferentes materiais se da, no inicio, por meio daexploragio sensorial eda utilizagioem. diversas brincadeiras. Tudo isso influenciara na sua criatividade e imaginagio. Una caracteristica essencial da pintura 0 que se pode ou nfo fazer com ela através do jogo de cores. A crianga nao constitui um conceito de cor olhando simplesmente algo colorido, mas durante repetidas agdes de comparar, nomear, transformar, enfim, falar das relagSes entre as cores que sio apenas trés basicas (azul, vermelho, amarelo), que formam todas as outras. Percebendo isso, o lado sensivel e imaginario da crianga pode ser agugado, ajudando-a a se formar como um ser completo, criativo, concentrado. Arte Tridimensional Durante sua vida, a orianga procura explorar aquilo que a rodeia através do tato, da manipulagdo dos objetos agugando sua curiosidade. Cabe ao professor explorar essa curiosidade, buscando desenvolver atividades. que instiguem esas caracteristicas. Um bom aliado so as atividades artisticas que envolvem a modelagem ou, na atualidade, a arte tridimensional (por apresentar altura, largura e profundidade), Segundo Cunha: [...] ao invés do professor simplesmente disponibilizar materiais, as criangas devem ser desafiadas a explorar os materiais em todas as suas possibilidades, como numa atividade banal com o lapis de cot e papel. Podemos transformar essas propostas simplistas ¢ comuns. em uma proposta instigadora ¢ fonte de descobertas, além de conhecermos as hipéteses das eriangas sobre o que vamos trabalhar(1999, p. 57) AArte tridimensional, ou modelagem, ¢ umaatividade basicamente sensorial. Podemos trabalhd-la usando massas de biscuit caseiras, argila em barro, jornal, terra, massinha, gesso e até mesmo massa comestivel. Através da modelagem, a crianga tem a possibilidade de melhorar sua motricidade e ampliar sua capacidade de criatividade, pois a modelagem pode ser usada em varios aspectos da aula ou em qualquer outro ambiente em que a crianga esteja. As diferentes formas de expresstio permitem ainda a crianga comunicar com os pares © os adultos as experiéncias vividas © os conhecimentos adquirides. Elas tém o privilégio de aprender através das suas comunicag$es e experiéncias concretas. Promove-se o desenvolvimento intelectual da crianga através de uma focalizagio sistematica na representagio simbélica. Arte significa ter mais linguagens significativas, diferentes formas de ver e representar o mundo Amodelagem propicia para a crianga 0 ato de se expressar livremente, promovendo a habilidade na coordenag3o motora. As Artes Visuais, em geral, podem ser usadas também como interdisciplinaridade, ou seja, com outros conteidos de outras disciplinas como, por exemplo, o jornal que, depois de lido, pode ser reciclado, transformado em um novo papel que serd reutilizado na escola. Trabalha-se, entio, a sustentabilidade. Pedagogia em agao, v.2, n.2, p. 1-117, nov, 2010 - Semestral 100 Fazendo arte para aprender: A importincia das artes visuais no ato educative Pela modelagem também conseguimos perceber 0 quanto é importante a crianga expressar os seus sentimentos, fazendo com que os educadores reflitam sobre a utilizagio da modelagem para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor da crianga. Midia, arte e educagio Dizer que estamos no mundo da informag%o ¢ na era da informatica jé virou cliché. Na verdade, o que vemos € que os meios de comunicagio garantiram uma forma de que 0 acesso a informagio fosse possivel a todas as camadas sociais. Aqui nfo entraremos na discussiio sobre a qualidade ¢ veracidade da informagao, o que nos interessa realmente 6 entender minimamente qual a influéncia da midia como veiculo de divulgagio e de produgio artistioa Com alguns cliques em um teclado, somos capazes de ver por uma tela de computador obras de Da Vinci, Picasso, Monet. Sem sequer sairmos de casa, entramos em contato com séculos de histéria e culturas, desde as manifestagdes artisticas mais classicas até as contemporaneas. Um universo de possibilidades se abre, A imagem na tela do computador ou da televisio, os impressos, os jomais, as revistas ¢ os catdlogos so hoje os grandes divulgadores da arte. As novas formas de produgio artistica que brotam das novas tecnologias impressionam com suas cores, formas ¢ movimento. Sio editoragSes gréficas, web designs, montagens de fotografias, videos. E a arte visual se atualizando e se modificando, sem, contudo, abandonar a grande raziio da existéncia da arte que é a expressio de ideias e sentimentos, A tecnologia nao veio para nos afastar dos ideais artisticos, embora seja 0 que acontega em alguns casos. E possivel e necessdrio ver nos avangos tecnolégicos uma. forma segura de produgio e resgate do fazer artistico aliado as novas exigéncias sociais. No proceso de educagiio realizam-se, ainda, dois movimentos: um primeito, em que é feita a mediagio entre © social, a pritica construida ¢ o individuo, no qual se forma a base dos pensamentos individual e coletivo e é quem possibilita a continuidade do processo histérico da cultura, e em segundo, que se caracteriza pela mediagio que a palavra @ a imagem fazem entre © pensamento individual €0 social e pela possibilidade que cada um tem de ser sujeito, de reelaborar produzindo © novo, revelando como a educagio se envolve na tensio entre 0 individual © © social (MELO; TOSTA, 2008, p. 55) Como mediadora desse proceso de interag3o, entra a escola, local privilegiado da construgio ¢ reprodugao cultural, cumprindo © papel de tecer as relagdes necessarias entre © conhecimento do classico e do nove, como uma ponte entre os sujeitos e o mundo artistico. Recorte ¢ colagem O recorte ea colagem siio um processo usado ha muitos anos para decorar igrejas, pragas, casas, quadros, usando diferentes materiais como, por exemplo, ladrilhos, pedras, papéis ¢ outros. A jungio desses materiais formava uma figura, denominada mosaico. Com as eriangas, esse processo também & muito utilizado: Uma maneira interessante de trabalhar com colagem consiste em cortar ou rasgar formas de figuras de cores ¢ texturas variadas, Comega-se recolhendo papéis, papeldes e tecidos de texturas © cores diferentes. Podem ser empregados muitos tipos de papel: lisos, rugoses, brilhantes, g2r0880s, fines... As fotogratias das revistas io muito titeis, porque tém uma grande quantidade de cores diferentes. (COLL: TEBEROSKY, 2004, p. 64.) 101 Pedagogia em acao, v.2, n.2, p. 1-117, nov. 2010 - Semestral Silva, E. A. da; Olivei , F_R.; Scarabelli, L; Costa, M.L. de O.; Oliveira, S. B.; Tendo uma folha de papel a sua frente, a orianga pode explorar varios aspectos dela. Surgem ideias sobre o que se pode fazer com ela; experimentam-se sensagdes passando a mfosobreela, Toda exploragiolevaa aquisigfio de conhecimentos sobre suas caracteristicas: sea folha ¢ lisa ou aspera; se pode ser dobrada ou amarrotada; como ela fica se submetida a amassos, rasgGes ¢ picagem; se ela pode ficar de um jeito que expresse alegria ou tristeza. Os trabalhos de recorte, colagem e aplicag&o propiciam a crianga dos primeiros anos escolareso aperfeigoamento decontetdos de coordenagio motora, criatividade desenvolvimento da sensibilidade, nogdes de espagos e superficie. O primeiro interesse da crianga, ainda pequena, éno recorte puro, sem a intengfio de formar figuras. A medida que ganha seguranga no dominio da tesoura sobre © papel, surge a ideia de transformar pedagos de papel em figuras significativas e de utilizs- las a fim de compor cenas. A partir dai, ela vai manifestando preferéncias dentro da atividade, distinguindo papéis e possibilidades de recortes, colagens e aplicagdes. Revistas, jomais, papéis de diferentes texturas pequenos objetos passam a ser vistos como fonte de pesquisa Fonte: Simone Villani ‘A justaposigfio e a sobreposicio de figuras levam acrianga a aprimorarsuasnogdes de orientagfio espacial, a partir da percepgiio das partes em relagao ao todo. O trabalho pode evoluir para a aplicagiio sobre objetos de uso, como a intervengiio em capas de caderno. ou caixas, ¢ o trabalho final também pode ser posto em moldura, valorizado como objeto de exposigao. A crianga deve ter liberdade para exercer sua criatividade, executando ideias criativas ¢ 0 capricho com o acabamento final das produgdes artisticas. Picando com as maos, com o auxilio de uma tesoura ou simplesmente da forma como encontra o material desejado para a colagem, a crianga trabalha o seu cognitive ao perceber o tamanho, a espessura ¢ 0 modo como encaixar a matéria no local desejado. Como mediador do conhecimento, © professor é essencial para incentivar o aluno pelo caminho da arte ou por outra érea do conhecimento, oferecendo os melhores suportes, de forma que venha a somar no seu erescimento e na sua formagio. Pode-se abordar na atividade de recorte e colagem a manipulagio e a exploragio de diferentes materiais, independentemente de sua utilizagdo na realizagio de um produto final, A mistura de materiais propicia trabalhos muito interessantes, como a colagem de tecidos rusticos com beiradas desfiadas sobre cartes cortados em papel reciclado. Consideragoes Vi is As Artes Visuais sio uma forma que a crianga tem de expressar-se com sua visio de mundo ¢ com isso desenvolver-se nas dimensées afetiva, motora e cognitiva, utilizando as diferentes linguagens artisticas que compdem as artes visuais, tendo a oportunidade de construir, criar, reeriar e inventar, tornando-se um sujeito ativo e critic na sociedade. As Artes Visuais, em uma perspectiva histérica, percorreram um longo caminho Pedagogia em agao, v.2, n.2, p. 1-117, nov, 2010 - Semestral 102 Fazendo arte para aprender: A importincia das artes visuais no ato educative para serem reconhecidas institucionalmente. Na medida em que a crianga conquistou seu lugar na sociedade como participante ativa da construgio do seu conhecimento, as diferentes linguagens das Artes Visuais passaram a ser objeto de estudo por muitos tedricos, que perceberam a necessidade de elas serem trabalhadas principalmente na Educagiio Infantil (criangas de zero a cinco anos), uma vez que sfio o principal auxilio no desenvolvimento cognitivo, afetivo ¢ motor. De acordo com a Lei de Diretrizes © Bases da Educagio Nacional, 0 ensino das artes passou a ser um componente curricular obrigatério, nos diversos niveis da educagito basica, de forma a promover 0 desenvolvimento cultural dos alunos, Além das Artes Visuais trabalharem © afetive e a interagio social da crianga, clas contribuem para o desenvolvimento da motricidade infantil e de outros conteidos trabalhados em sala de aula que irao refletir, futuramente, na vida pessoal, escolar e profissional do individuo. Cada movimento, expressio ou recorte de papel constitui-senum direito que a crianga tem de conhecer 0 mundo, expressar seus sentimentos sem a fala. Muitas escolas —_utilizam esses recursos para a formagao da crianga como um ser completo, trabalhando-os nfio como passatempo ou um recurso decorativo, mas sim como uma forma de aprendizagem ludica, repleta de objetivos importantes no desenvolvimento da crianga Expressando-se no papel, com argila, na tela, fazendo colagem, a crianga faz arte naturalmente, A arte proporciona um contato direto com nossos sentimentos, despertando no individuo maior ateng%o ao seu processo de sentir. 103 Abstract ‘This article presents the history of art, which is seen asa seience to be recognized institution, has come a Jong way, the importance of working within the Visual ‘Arts classroom, making a reflection on the cognitive, affective and child’smotorthrough the different artistic Janguages present in the visual arts. Identifying and showing how the child develops learning through the visual arts (painting, drawing, art three-dimensional (modeling), and cutting and pasting). In this paper we use theoretical issues related to the Visual Arts, Art and Education, Psychology (child development), Education, Legal documents that address the issue of teaching art to children, and in the current context of a globalized world, the question of how media published and influenced artistic produotion. Key words: Visual Arts, Cognitive; Social Relation, Child Referéncias Bibliograficas ALBINATTI, Maria Eugénia Castelo Branco. Artes visuais. Artes I. Belo Horizonte. 2008. BARBOSA, Ana Mae. Arte Educacio no Brasil: do modernismo ao pés-modernismo. Sao Paulo, 2003. Disponivel em: http://www. revista art,br/site-numero-00/anamae, htm Acesso em: 26 abr. 2010. BEMVENUTL Alice. © que rompe, 0 que continua, Para onde vamos mesmo? In: Seminario sobre o Ensino Superior de Artes e Design no Brasil. Salvador, 1997 BRASIL. Ministério da Educagiio edo Desporto. Pariimetros — Curriculares —_ Nacionai arte/Secretaria de Educagio Fundamental Caracterizagio da area de arte, 2, ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000, Cap.1, p. 19-43 BRASIL. Ministério da Educagio e do Desporto, SecretariadeEducagaio Fundamental Referencial Curricular Nacional para a Educagao Infantil. Brasilia: MEC/SEF, 1998. Pedagogia em acao, v.2, n.2, p. 1-117, nov. 2010 - Semestral Silva, EA. da; Oliveira, F_R.; Scarabelli, L; Costa, M. L. de O.; Oliveira, S. B.; COLL, César, TEBEROSKY, Ana. Aprendendo arte: contetidos essenciais para oensino fundamental. Sao Paulo: Atica, 1999. 256 p. CUNHA, Suzana Rangel Vieira, Cor, som e movimento: a expresso plistica, musical e dramética no cotidiano da crianga, Porto Alegre: Mediagio, 1999 LEI DE DIRETRIZES E BASES PARA A EDUCAGAO BRASILEIRA. Disponivel em: wwwplanetaeducacao.com br/novo/ legislacao/ Acesso em: 26 abr. 2010. MELO, José Marques de; TOSTA, Sandra de Fitima Pereira, Midia & educagio, Belo Horizonte: Auténtica, 2008. 111 p. PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais, Lisboa: Editorial Presenga, 1989 439 p. PIAGET, INHELDER, B. A psicologia da grianga, Sio Paulo: Difuusio Européia do Livro, 1973, VILLANI, Simone. 2009. Fotos, Disponivel em: www recreio.ete br/blog. asp Pedagogia em agao, v.2, n.2, p. 1-117, nov, 2010 - Semestral 104

Você também pode gostar