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História da Riqueza do costumes

Homem
(Leo Huberman)

HUBERMAN, LEO, 1981  a posse da terra pressupunha uma série de deveres


 a posse pelo servo não significava plena disposição de seu
História da Riqueza do Homem
uso, fruto ou propriedade
1ª edição, Rio de Janeiro: Zahar Editores
 a propriedade da terra na organização feudal tampouco era
necessariamente do senhor, este poderia ser – ele mesmo –
PARTE 1 - DO FEUDALISMO AO CAPITALISMO arrendatário de outro senhor hierarquicamente superior e
assim por diante, até o monarca ou príncipe
CAPÍTULO I
Sacerdotes, Guerreiros e Trabalhadores  a justiça a princípio cabia ao senhor, mas em alguns casos,
como na Inglaterra, ela poderia ser questionada em um
p. 12-14 tribunal real
 ... “não havia senhor sem terra, nem terra sem senhor”...
p. 19
 a terra arável era dividida entre o senhor e seus arrendatários  minha interpretação: por que na organização feudal era
 a terra era dividida em 3 campos, cada um em várias faixas interessante o desmembramento do domínio em um maior
 cada arrendatário tinha uma ou mais faixas em cada campo número de feudos?
 ao senhor cabia ainda faixas exclusivas, onde o trabalho  quanto mais vassalos, maior seria a capacidade de
era executado pelos arrendatários (aka servo) sem mobilização de forças coercitivas contra outro domínio
qualquer pagamento
 os campos eram cultivados em regime de rotação, ie: com  a terra era a medida de riqueza do homem, não só por
proporcionar-lhe grande e variados frutos, mas por
descanso alternado
assegurar-lhe poder de coerção
 a propriedade do senhor tinha que ser arada, ceifada e
semeada primeiro, assim como sua produção p. 20
comercializada primeiro  concedia-se terras e títulos em troca de serviços militares
 dias de dádivas eram dias que os servos dedicavam seu p. 20-21
trabalho à terra e à produção do senhor  tal qual os servos, os herdeiros dos vassalos deviam taxa e
obrigações para com o senhor imediatamente acima
p. 16
 haviam diferentes tipos de servos: p. 22
 servos de domínio – permanente ligados à casa e que  a Igreja foi a maior proprietária de terras do mundo medieval
trabalhavam somente os campos do senhor  ente um terço e metade de toda a Europa ocidental
 servos fronteiriços – pequenos arrendatários de terras na  parte por pagamento por indultos
orla da aldeia (de cerca de um hectare)  parte por doações humanitárias
 aldeões –sem qualquer arrendamento, apenas uma
 parte por participações em espólios de campanhas
cabana, vendiam somente seu trabalho em troca de
militares, etc.
comida
 vilões – servos com maiores privilégios pessoais e
p. 23
econômicos  como qualquer vassalo, bispos e abades deviam serviços e
 cidadãos – proprietários independentes que somente obediência ao senhor feudal que lhe concedesse terras
pagavam uma taxa ao senhor  da mesma forma que um vassalo ao ser presenteado com
um feudo em terras da Igreja deveria obediência ao rei e
 alguns violões eram tão abastados que além de arrendar à própria Igreja
terras, alugavam faixas do senhor com pleno direito a sua
produção  no início do feudalismo a Igreja foi mais progressiva que a
nobreza leiga
p. 15 e 17  prestava maiores auxílios sociais (escolas, orfanatos e
 qual era a diferença entre um servo e um escravo?
hospitais), administrava mais eficientemente o feudo
 um escravo poderia ser vendido individualmente, extirpado
de sua família  mas, ao contrário da nobreza, a Igreja sempre acumulava
 um servo, como o escravo, estava legalmente preso à terra, terras e riquezas mediante o dízimo
mas a unidade familiar era respeitada, inclusive a  mesmo o celibato sacerdotal tinha por finalidade coibir a
autoridade senhorial se estendia à proibição, sem herança de terras de bispos e abades
permissão, de casamentos fora de seus domínios
 o direito à herança do arrendamento era previsto, mediante p. 24
uma taxa a ser paga pelo herdeiro  a Igreja prestava ajuda espiritual, enquanto a nobreza
proteção e coerção militar
p. 18
 o direito no feudo era predominantemente consuetudinário
 superficialmente por falta de legislação escrita, mas na CAPÍTULO II
verdade pela ausência de um governo central que a Entra em Cena o Comerciante
elaborasse
 a organização do sistema baseava-se em um conjunto de p.25-25
deveres e direitos fundamentados precipuamente nos  na Idade Média o capital acumulado pela nobreza e pela

Resumo de 1
Igreja eram estáticos, improdutivos, imóveis cidades-estado italianas do Adriático
 praticamente não havia negócios onde investi-los, era uma
economia predominantemente de consumo auto-  ao norte Bruges faria o mesmo pelo comércio russo-
suficiente, produzia-se o que se consumia escandinavo (minha nota: que seria intensificado à medida
 além disso a vida econômica ocorria sem grande que o império Mongol garantiria a segurança das rotas pela
necessidade de capital Ásia central e a pressão dos sultões mulçumanos montaria
 a maior parte das necessidades básicas era atendida sobre Bizâncio e depois sobre as rotas das cidades italianas)
dentro do próprio feudo, quase auto-suficiente, ou muitas
vezes mediante trocas p. 30-31
 mas mesmos as trocas davam-se com pequenas sobras da  com o tempo as rotas norte e sul se encontrariam nas feiras
produção das planícies da Champagne, como a de Troyes
 essencialmente, a produção não visava um excedente para  as feiras foram o primeiro passo desse incipiente comércio
obtenção de lucro  como o consumo não justificava, ainda, um fluxo constante
de mercadorias, estas eram oferecidas periodicamente
p. 26-27 em feiras, inicialmente mensais e depois semanais
 assim, o comércio era pouco intenso e local, limitado por:
 por ausência de estradas ou pobre ligações geográficas p. 32
 por insegurança nos percursos – em face de intempéries,  as feiras da Champagne asseguravam proteção e residência
– mediante impostos – a seus participantes
salteadores e piratas
 por cobrança de pedágios por outros senhores ao longo dos  minha nota: o comércio europeu caracterizou-se desde
cedo por uma forte regulamentação aduaneira ao longo
percursos
de suas vias, para sua proteção, armazenamento e
 pela escassez de dinheiro e pela variação de seu valor
comercialização
conforme o lugar
 por dificuldade de padronização de medidas entre
p. 33
diferentes regiões  as feiras marcaram também o surgimento de negócios
cambiais, que dariam origem a atividades financeiras
p. 27  o dinheiro passava a ser negociado, empréstimos eram
 o comércio de longas distâncias era, assim, caro e difícil,
realizados e saldavam-se dívidas
favorecendo a opção pela auto-suficiência de um comércio
 banqueiros com suas letras de cambio e letras de crédito já
local e reduzido
circulavam livremente
 nos séculos X e XI, esse cenário se transforma, o comércio
p. 34
passa a caminhar a passos largos
 o uso do dinheiro (unidade de valor portátil e divisível)
 as Cruzadas trouxeram novos ímpetos ao comércio
traz agilidade, possibilidade de crescimento no volume
 suas linhas de provisões tinham quer ser abastecidas,
das trocas e permite o surgimento da atividade financeira
sendo acompanhadas por mercadores
 gostos e hábitos foram adquiridos e trazidos da Terra Santa
pelos cruzados, criando novos mercados para os CAPÍTULO III
produtos daquela região na Europa Rumo à Cidade
 um aumento populacional no século X também criou p. 35
demanda para um aumento no comércio  as cidades já existiam antes mesmo do florescimento do
comércio na Europa medieval
 as próprias Cruzadas eram investidas de um caráter  já existiam centros urbanos que concentravam as ordens
econômico, garantindo ganhos por meio de pilhagens ou militar, judiciária e administrativa do império, cidade-
conquistas de terras e rotas comerciais estado ou de dado domínio
p. 28  m.n: a cidade foi um resultado da expansão do comércio na
 enquanto a Igreja Romana via nas Cruzadas a oportunidade Europa, ou era um pré-requisito para tal?
de estender sua área de influência, a Igreja Bizantina via-as  as cidades européias floresceram ou cresceram como
como um instrumento de contenção da expansão
resultado da expansão do comércio europeu
mulçumana – territorial, religiosa e comercial – já às suas
 mas sem dúvida esse crescimento muitas vezes foi
portas
propiciado por cidades já existentes, com tradição
comercial, que, na vanguarda do processo, primeiro se
p. 29
organizaram e conduziram-no
 as cidades italianas costeiras de Gênova, Veneza e Pisa –
detentoras de portos naturais privilegiados e mais próximas
 as primeiras cidades comerciais surgiram onde duas
do Constantinopla – também encorajavam as Cruzadas
estradas se cruzavam, onde havia um porto natural, na
como um meio de garantir vantagens comerciais, preservar e
embocadura de um rio, próximo a um passo cruzando
expandir suas rotas comerciais com a Ásia Menor
cadeias de montanhas, onde a terra apresentava um declive
adequado, etc.
p. 30
 nesses locais surgiam em volta de uma igreja, um burgo,
 as Cruzadas, apesar do curto domínio dos cristãos sobre
Jerusalém, garantiram o nascimento da Europa para o um entreposto, uma passagem por um rio, um local de
comércio descanso, de proteção
 as rotas do Mediterrâneo foram retomadas pelos italianos,
p. 36
convertendo-se na maior rota comercial entre oriente e
 a unicidade entre mercator e burgensis (o morador do
ocidente e
burgo), não é uma verdade histórica absoluta, mas uma
 mais uma vez trazendo o centro da vida econômica
dedução etimológica de historiadores como Henri Pirenne
européia para a costa meridional, especialmente nas
Resumo de 2
(“The Stages in Social History of Capitalism”, in The America  desejava-se levantar os obstáculos à expansão da cidade e
Historical Review, vol.. XX, April 199´14, The Macmillan de seu novo modo de vida
Company, N.Y., 1914)
 segundo Pirenne os dois termos seriam usados p. 40-41
alternadamente como sinônimos  o grau de liberdade das cidades variava enormemente
 seria difícil estabelecer uma quadro geral das liberdades,
p. 36-37 direitos e organização da cidade medieval
 a natureza liberal da cidade vs a natureza reclusiva do  havia cidades totalmente independentes, como as cidades-
feudalismo república de Flandres e da Itália
 na sociedade feudal o senhor tinha total controle sobre a  havia comunas livres, com variáveis graus de
propriedade, que essencialmente referia-se à independência
propriedade territorial, fosse rural ou urbana  havia cidades com aparente liberdade, mas com poucos
 esse domínio era exercido com base em uma efetivos privilégios
regulamentação rígida e consuetudinária, que por ser
fundamentada em costumes é mais estática, ie: p. 42-43
mudanças requerem mais tempo e comprometimento  os privilégios fiscais ou à comercialização eram, em regra,
mais amplo pelo grupo obtidos por meio das corporações, que os usavam para
 o domínio feudal implicava em forte barreiras: impostos, controlar novos entrantes no mercado ou a ação de
taxas, serviços, monopólios, tribunais de justiças mercadores externos
identificados com o senhor, etc.
 a natureza do comércio requer relações mais liberais, ágeis p. 43
e livre de barreiras, implica novos conceitos de  a administração da cidade freqüentemente era atribuída, por
propriedade – conflituosos com os então existentes – e concessão real, a indicados pelo comerciantes ou mesmo a
de relacionamento entre o senhor e a classe nascente de eles próprios
comerciantes
 o acesso aos privilégios reais eram, por vezes,
p. 37 monopolizados e conduzidos por regulamentos rígidos da
 como forma de solucionar seus problemas de proteção, corporação
armazenamentos, comercialização e relacionamento com o
poder feudal, os comerciantes buscaram formar p. 44
associações, guildas, corporações, ligas  o poder dessas associações comerciais podia se estender
 transportavam juntos maiores volumes e quantidades de além dos limites da cidade
cada produto, defendendo-se de piratas, negociando com  a Liga Hanseática, da Alemanha, tinha uma esfera de poder
os senhores feudais locais, comercializando em conjunto e influencia sobre mais de cem cidades, da Holanda à
em feiras, etc. Rússia, com fortalezas e até marinha de guerra própria

p. 37-38-39  surgia um novo grupo no jogo do poder: a burguesia, uma


 a população das cidades passa a buscar sua liberdade e classe média, com um novo tipo de riqueza
direito à propriedade  seu capital era o comércio e o dinheiro, era móvel, vivo e
 o homem da cidade via a terra (sua casa) e o direito de ir e ativo, bem diferente da riqueza feudal (terras: capital
vir de forma diferente do homem feudal estático)
 esperava poder dispor de sua propriedade até mesmo para
obter liquidez no incipiente sistema bancário-financeiro
 desejava proceder seu próprio julgamento, seus próprios CAPÍTULO IV
tribunais, sua justiça Surgem Novas Idéias
 desejava fixar seus próprios impostos à sua maneira, em
benefício de sua cidade e de seus negócios p. 45
 segundo Huberman, a maioria dos negócios é realizada com
p. 39 dinheiro emprestado, sobre o qual paga-se juros
 essa liberdade era concedida pouco a pouco, vendida ou  a expansão de uma grande empresa é feita com a
alugada pelo senhor feudal, parcela por parcela, a pessoa ou capitalização por novos sócios, via debêntures ou
grupo, mas nunca de forma geral e ampla empréstimo bancário
 ou mesmo conquistada por lutas política ou armada  m.n: esse conceito é largamente incorporado à mentalidade
norte-americana, capitalista por excelência
p. 40  m.n: o acesso ao crédito é parte da estrutura econômica
 mas a luta pela liberdade pelo homem da cidade nesse americana
cenário de transformação, na Idade Média, não era uma  m.n: no Brasil, o capital não é percebido como crédito, mas
aspiração revolucionária como algo próprio do capitalista
 não lutava-se por direitos amplos e gerais à liberdade do  m.n: resultado de uma tradição brasileira, onde o acesso ao
homem crédito era reservado à elite, que se instava no governo e
 não buscava-se substituir o sistema de poder do senhor se auto-financiava (cf. Banco do Brasil no Primeiro
feudal Império)
 buscava-se apenas uma janela de liberdades relativas, que
lhe permitissem prosseguir em um cenário em  mas na Idade Média a cobrança de juros era um crime,
transformação condenado pela Igreja Católica
 contentava-se em estabelecer condições para uma vida  a usura era um pecado
tranqüila e próspera na cidade e no comércio – como
isenção ou fim de taxas, reconhecimento de direito à p. 46
propriedade, etc. – mas sem romper plenamente com a  na economia medieval, estática e de subsistência, o valor do
organização do poder senhorial feudal dinheiro não era relacionado ainda ao investimento com

Resumo de 3
ganhos, mas à aplicação em algo essencial à sobrevivência, uma divisão do trabalho entre a cidade e o campo
eg: à compra de uma nova vaca para substituir uma perdida
para uma doença p. 51-52
 não seria cristão, então, alguém emprestar dinheiro, sob  a expansão da produção de alimentos no campo é
tais condições, para lucrar com a desgraça de outro alcançada com maior eficiência no campo (melhores
 cabia, assim, à Igreja normatizar o que era certo ou errado, técnicas e maior aplicação de mão-de-obra) e com a
do ponto de vista cristão extensão das terras cultivadas

p. 47 p. 52
 na Idade Média cristã – católica – as relações eram por  no século XII ainda vastas parcelas das terras européias não
demais locais e personalizadas haviam ainda sido aproveitadas
 todos se conheciam, uma relação era permeada por todos  metade das terras da França, dois terços da Alemanha e
os fatos da vida quatro quinto da Inglaterra ainda eram florestas,
 não havia, ainda, o anonimato do capitalismo pântanos e terrenos inaproveitados
 não era possível, ainda, pensar-se: negócio é negócio  essas áreas foram colonizadas por camponeses fugindo da
 a vida ainda não era compartimentalizada em atividades opressão de senhores feudais
pessoais e profissionais, a vida era interligada em todos
seus aspectos e as relações parte de uma todo indivisível  tal como os pioneiros americanos, cinco séculos depois,
 e a Igreja era o marco do comportamento individual e do abriram florestas com machados, esgotaram pântanos,
construíram diques, transformando a terra
grupo
 tal como para os pioneiros americanos essa luta árdua
 a Igreja ainda ensinava que o lucro do bolso representa a representou para o camponês europeu uma fuga da
ruína da alma e o bem-estar espiritual é que estava em repressão e uma busca de liberdade
primeiro lugar
 não se compreendia a máxima moderna: qualquer p. 53
 entretanto para o camponês europeu essa liberdade seria
negócio é lícito, desde que seja possível realizá-lo
ainda uma caricatura daquela que os americanos buscariam
 o comerciante era aceito na medida que prestava um
cinco séculos mais tarde: sua busca por liberdade e
serviço à comunidade
propriedade seria ainda parcial
 sua recompensa não deveria ultrapassar o valor justo de
 eg: a concessão de terras pelo Bispo de Hamburgo a
seu trabalho, não havia a aceitação da maximização do
holandeses, mediante pagamento anual de taxa de um
lucro
dízimo e de um fixo de um dinar pelo direito à terra e de
 tampouco considerava-se ético o acúmulo de dinheiro além
uma taxa pelo privilégio de manter tribunais próprios
do necessário à manutenção própria (...É mais fácil um
camelo passar pelo fundo de uma agulha que um rico p. 54
entrar no Reino dos Céus...)  essa forma de arrendamento representava uma evolução
 agora o camponês não mais devia parte de sua produção
p. 48
em gênero ao senhor, mas um pagamento em dinheiro
 esses conceitos de uma economia natural, típica da Idade
 obtinha também privilégios semelhantes aos dos
Média, continuavam a ser transpostos e aplicados pelo
comerciantes das cidades (direito a tribunais próprios)
homem comum à nova economia monetária que surgia
 a Igreja e a nobreza continuariam a advogar esses
 como tempo esse modelo se difundiria até chegar aos servos
preceitos, mas não os praticariam
das velhas propriedades
 bispos, reis e os banqueiros italianos, todos lucrariam com
empréstimos ou os contrairiam sem cerimônia  essa nova fórmula seria um incentivo também à melhora na
eficiência da produção agrícola
p. 49-50  agora o camponês não era mais limitado por uma falta de
 aos poucos a Igreja foi se acomodando aos novos tempos e
perspectiva
estabelecendo situações onde o juro era aceitável
 na verdade a perspectiva passava a ser aumentar sua
 como uma forma de pagamento por um risco – ou pela não
produção acima das necessidades próprias e do senhor,
utilização do dinheiro pro seu dono – para que dada
com excesso, que ainda diluiria a importância do valor
empreitada, que traria um benefício à comunidade,
acordado, em dinheiro, pelo arrendamento
pudesse ser realizada
 passa a haver uma usura moderada, aceitável e
p. 55
justificável  pelo lado do senhor, para ele também era mais interessante
 consolidando-se uma prática comercial diária receber em dinheiro, que passava a ser mais amplamente
empregado e podia ajudá-lo a financiar seus gastos
 m.n: o dinheiro passava a ter mais utilidade para o senhor
CAPÍTULO V de terras que parte da produção; na nova ordem
O Camponês Rompe as Amarras econômica a divisão do trabalho era clara: o camponês
trabalhava a terra, o burguês comercializava e o senhor
p. 51 administrava sua mais nova riqueza: o dinheiro
 o crescimento do comércio, com o conseqüente
surgimento de uma economia monetário-financeira e o p. 56
crescimento das cidades proporcionam novos meios para  o principal opositor à emancipação dos servos não foi a
o camponês romper os laços estáticos e rígidos que o nobreza e sim a Igreja
subjugavam ao senhor feudal  os estatutos da Cluníaca, uma ordem religiosa,
condenavam os senhores que dessem cartas ou
 o comércio e o crescimento das cidades (m.n: cf. tbm c/ Tilly
privilégio de liberdade a servos pertencentes a mosteiros
e o conceito de implosão do capital e da manufatura) levam
da ordem
a um aumento de demanda por alimentos, estabelecendo
Resumo de 4
 na prática o senhor secular era mais brando trabalho e capital não se confundem e travam uma constante
disputa, a manufatura da Idade Média caracteriza-se pelo
p. 57 convício entre capital e trabalho
 a peste negra, que assolou a Europa no século XIV, também  o aprendiz vive e mora com seu mestre, come a mesma
fez muito pela emancipação dos camponeses comida e acredita nas mesmas coisas
 aprendiz, mestre artesão e jornaleiro são membros da
 m.n: a peste que ao seu fim havia reduzido a população mesma corporação e em estado de igualdade
européia em dois terços, nas cidade e no campo, deixou
uma grande escassez de mão-de-obra e excesso de terras p. 65-68
cultiváveis  as corporações defendiam os interesses de seus membros,
organizavam aquele ofício e regulavam as boas práticas
p. 59  inclusive prevendo proteção na doença, na incapacidade e
 o valor da mão-de-obra camponesa aumentou, na verdade o na velhice (p. 65)
trabalho, tanto na cidade quanto na área rural, valorizou-se  tinham um espírito de fraternidade e não de concorrência,
 a oferta reduziu-se abruptamente e sua procura aumentara mas protegiam o monopólio de sua indústria contra
 o camponês ganhou poder de barganha competidores externos (p. 67)
 o preço do trabalho alugado aumentou em 50% em relação  zelavam por uma prática moral, justa e honesta –
ao período anterior à peste práticas comerciais como obsequiar um cliente para
ganhá-lo era rechaçada – e pela qualidade dos produtos
 surgiram uma série de revoltas camponesas, no século XIV, e serviços de seus membros (p. 67)
na Europa ocidental, em decorrência da crise na oferta de  zelavam também para que preços justos fossem
mão-de-obra após a peste, contestando o poder do senhor praticados, em conformidade com a concepção
feudal ou recusando-se a ele continuar a submeter-se econômica e as práticas comerciais da época, fortemente
influenciadas pela ética cristã (p. 68)
p. 61
 transações envolvendo o trabalho, entre o senhor e o p. 69
camponês, tornaram-se comuns  a atividade comercial não visava o lucro, mas o benefício
mútuo do vendedor e do comprador: vender mais caro ou
 surgiu uma nova concepção de propriedade agrária comprar mais barato seria incorreto
 onde antes a terra era cedida com base em serviços
mútuos, formas de arrendamento e propriedade com p. 70
base em pagamentos de direitos em dinheiro ao senhor  a expansão comercial, o crescente volume de produtos e
tornam-se comuns e cada vez mais a regra opções ofertadas, acabam por modificar o pensamento
econômico
 tal qual ocorrera com a usura, a idéia de preço justo vai
CAPÍTULO VI sendo abrandada e substituída pelo preço de mercado
“ E nenhum estrangeiro trabalhará ...”  as forcas de mercado vão arrastando novas idéias
econômicas para o dia-a-dia do mundo
p. 62
 a indústria também de modifica na idade média p. 71
 inicialmente, uma família era auto-suficiente, produzia tudo  enquanto o comércio medieval permaneceu restrito ao
que necessitava: tecia, fazia seus calcados, seus móveis, cenário local, era fácil determinar-se o que seria preço justo
etc., a indústria era uma atividade caseira e familiar, sem e que esse preço justo acompanhasse variações naturais
qualquer objetivo à comercialização e sem uma dos preços no mercado
especialização  uma safra ruim, com menor produção, justificaria a justeza
 a especialização que se observava era restrita a alguns no aumento dos preços
servos domésticos da nobreza e de ordens eclesiásticas,  mas conforme o comércio expande suas fronteiras,
que dedicavam seu trabalho a determinada atividade (eg: incorporando produtos sujeitos a variações de outros
ferreiro, marceneiro, etc.), mas fora desse ciclo o mercados e tornando o sistema mais instável, a paridade
camponês medieval é um faz tudo, voltado para sua entre preço justo e preço de mercado torna-se inviável
subsistência  assim a complexidade de um mercado expandido além das
 com 1) o crescimento da cidade, 2) a implosão do capital e fronteiras cidades, de regiões e países leva às práticas
da manufatura, 3) a distribuição do trabalho entre campo econômicas e comerciais terem que adotar o preço de
e cidade e 4) expansão do comércio, a indústria passa a mercado em detrimento de um conceito de preço justo,
produzir para a comercialização mais afeito a um mercado local e estável
 como diria Jehan Buridan, reitor da Universidade de Paris,
p. 63 no século XIV:
 o artesão cada vez mais muda-se para a cidade e passa a “ O valor de uma coisa não deve ser medido por sua
viver exclusivamente de seu ofício validade intrínseca... é necessário levar em conta as
 esse ofício é realizado muitas vezes em sua própria casa, necessidades do homem, e avaliar as coisas em suas
vendendo seu produto ali mesmo relações para com a essa necessidade.”
 inclui também treinar um aprendiz (por até 12 anos) e  a coisa não teria um preço justo intrínseco, mas sim
empregar a ajuda de um jornaleiro um valor determinado pela oferta e demanda

 ao término de sua educação, o aprendiz – que mora e vive p. 72


com seu mestre – pode tornar-se um jornaleiro, trabalhando  as corporações, que marcaram os séculos XIII e XIV, tinham
para seu mestre, ou abrir sua própria oficina então duas características marcantes:
 a igualdade entre seus membros (aprendizes, jornaleiros e
p. 64 mestres artesãos) e
 ao contrário do estágio moderno do capitalismo, onde  a facilidade com que se passava de aprendiz a mestre – era

Resumo de 5
somente uma questão de tempo e dedicação bem sucedidamente integrado a ele em um poder central,
como na Inglaterra ou nos Países Baixos – estivesse
 essas duas características de sua organização foram unificando um Estado nacional em regiões até então
também as principais razões de sua decadência desorganizadas
 em um sistema econômico em transformação, onde o
acumulo e concentração de capital e a divisão do
trabalho era crescentes a igualdade e paridade capital e
trabalho estava fadada ao esgotar-se CAPÍTULO VII
Aí vem o Rei!
 com o passar do tempo os mestres foram criando suas
próprias corporações, passando a existir até mesmo p. 78
corporações de mestres superiores e inferiores, sendo que  na Idade Média ainda não havia limites estatais à religião
estes até trabalhavam como assalariados para aqueles (católica)
 um dos mais eficientes instrumentos de coesão e controle
 a comercialização foi também se separando da produção, da Igreja sobre a civilização européia medieval, no
com alguns mestres formando corporações comerciais ocidente, talvez fosse a língua
dedicadas somente à comercialização do produto – como os  o latim era a língua franca nos cultos em toda a Europa
seis “Corps de Métier” em Paris –, não mais admitindo ocidental e em todo conhecimento impresso
artesãos e suplantando as corporações de mercadores que  os idiomas europeus eram falados, mas ainda não
antes detinham o monopólio do comércio registrados em escrito
 algumas destas por sua vez, ao invés de desaparecerem,  os livros e publicações eram todos em latim, fosse na
especializaram-se em um produto e fortaleceram-se França ou na Alemanha
ainda mais  as universidades – verdadeiramente internacionais –
 o fato é que o sistema que havia funcionado perfeitamente beneficiavam desse conhecimento comum do latim
até então modificava-se conforme a realidade econômica escrito
continuava a transformar-se e uma nova elite era  o conhecimento e a ciência eram produzidos e divulgados
formada nessa língua comum

p. 73  m.n: segundo Burns (I, p. 293) as universidades eram


 do controle das corporações essas elites passaram ao criadas a partir de corporações de estudantes (eg: Bolonha)
controle do governo municipal ou guildas de mestres (eg: Paris)
 os membros dessas organizações passaram a ocupar ou
indicar os quadros da administração local  a Igreja Católica era o elemento unificador da cultura
 nascia uma nova classe dominante européia ocidental
 a nobreza continuava a dominar o campo, mas na cidade  todos, espontaneamente ou a contragosto, pagavam
uma aristocracia comercial se estabelecia com base em dízimos à Igreja e sujeitavam-se às suas regras e
suas relações com o dinheiro e laços familiares regulamentos
 a burguesia passava a controlar a cidade, sua legislação,
sua justiça e os impostos p. 79
 ainda não havia o conceito de nacionalismo, posto ainda não
 analogamente a passagem de aprendiz para mestre foi existir o Estado nacional
tornando-se mais difícil, por meio de exames mais rigorosos  a identidade era local e não nacional
ou aumento das taxas de exame  para um mercador de Chester, na Inglaterra, o estrangeiro
 a distância entre mestre e aprendiz aumenta, favorecendo era aquele do continente e também de Londres
sempre que possível aqueles com laços com o capital ou
a aristocracia comercial  no século XV esse cenário começa a modificar-se:
 as leis locais passam a ser unificadas em leis de um Estado
p. 74-76 nacional, regulando não mais as atividades de uma
 esse distanciamento – entre aprendiz e mestre – e a corporação local, mas de uma incipiente indústria
dificuldade de oportunidade para os jornaleiros vão  línguas nacionais vão se consolidando com literatura
aumentando a pressão social nas cidades própria
 os jornaleiros formam suas próprias associações e iniciam  as divisões nacionais vão sendo desenhadas e pouco a
pressões e ações sobre as confederações de mestres pouco consolidando-se um sentimento de nação
detentoras do poder, para tentar assegurar seus  os cidadãos de Londres, Lisboa e Paris passam a
interesses considerarem-se ingleses, portugueses e franceses,
 como no campo, as disputas por salários mais altos foi devendo fidelidade não a um senhor feudal, mas a seu
grande após a Peste Negra rei, o monarca da nação
 cidades apresentavam os extremos sociais de riqueza e
pobreza – Florença chegou a ter 20.000 mendigos (p. 76)  m.n: de maneira geral, mas cada caso seguindo caminhos
 as classes inferiores verificavam que somente haviam próprios, conforme sua história e evolução econômica, sócio-
mudado de senhores e de forma de dominação cultural e geopolítica:
 a implosão do capital e da manufatura, sua interação com a
p. 77 nobreza e sua resultante crescente organização em um
 como no campo, ao final do século XIV revoltas eclodiram ente coercitivo, com forças armadas permanentes e uma
nas cidades em toda Europa ocidental administração pública, levam à expansão de sua esfera
 após esse período de desordem as corporações começam de influência sobre cidades e regiões periféricas,
a decair e o poder de algumas cidades livres a formando-se os embriões dos Estados nacionais
enfraquecer
 o controle passa mais uma vez a uma entidade externa, um p. 80
duque, príncipe ou rei e que – financiado por um capital  a ordem feudal já não atende aos novos agentes

Resumo de 6
econômicos do comércio e da indústria, o rei começa a ver que a
 na verdade foi contra ela que camponeses haviam lutado regulamentação de cada corporação monopolista, de cada
por sua liberdade cidade, pode gerar interesses conflituosos em um espaço
 tampouco essa ordem servia mais aos interesses dos geoeconômico expandido
novos senhores da cidades, os comerciantes e  passa a ser necessário que essa regulamentação seja
financistas burgueses elaborada e acompanhada em uma esfera ampliada,
 também essa ordem não satisfazia aos trabalhadores aquela do Estado nacional
urbanos, aos aprendizes, jornaleiros e mestres e às suas  nessa medida, a corporação medieval típica da cidade
associações passa a ser um modelo inadequado à ordem nacional
 monopólios locais são, então, derrubados em favor de
 a proteção feudal já não mais atendia os interesses dessas interesses mais amplos, nacionais
novas forças sociais, mas sim as reprimia  o rei passa reclamar uma regulamentação em nome da
 a extorsão do senhor feudal e de suas forças de coerção nação – ainda que ao seu lado, ajudando a garantir sua
não eram em seus interesses organização de coerção, estejam certos grupos de
 essas novas forças sociais necessitavam de uma nova financistas, representando interesses de grupos
estrutura de extração e coerção que agisse também a específicos de comerciantes e industriais
seu favor  todavia, por isso mesmos, esses financistas associados ao
 a cidade vai se organizando – e regiões se seguem o passo príncipe terão certamente seus interesses resguardados
– em um novo reequilíbrio de poder ou mesmo ampliados em nome do interesse nacional
 a nobreza, a Igreja, a burguesia e o trabalho se
reorganizam em uma nova estrutura, que paulatinamente p. 84
vai vencendo os limites da cidades, ganhando as regiões  assim é que em Paris tornam-se proibidas os mestres de
vizinhas e tomando a forma de Estados nacionais ofícios e comunidades de qualquer tipo, passando o métier a
ser regulado pelo Preboste, que indicava ao exercício do
 a monarquia que bem sucedidamente se associa ao capital ofício aqueles com suposta tradição no mesmo
prevalece sobre os barões feudais  essa mudança nas regras indica a centralização, no Estado,
 a burguesia financia o rei em um projeto de poder das prerrogativas de organização da indústria
centralizado, ocupando o espaço tomado aos antigos  indica também que essa centralização certamente garantia
senhores feudais em uma nova fórmula de organização uma maior consolidação não só do poder real mas da
do espaço geopolítico e econômico burguesia
 o Estado era de fato o rei e os financistas que o apoiavam
p. 80-81  os nomes chaves na administração eram resultado da
 a burguesia passa a financiar a coerção estatal em benefício associação real à burguesia
comum seu e do príncipe do nascente Estado nacional
 não foi uma tarefa fácil enfrentar o monopólio das cidades
p. 81  na verdade quanto mais rica a cidade, mas tardia foi a
 porém a nova organização da coerção, na forma de um
formação do Estado nacional
exército permanente e nacional, deve ser explicada também
 na Itália e na Alemanha, berços da expansão comercial na
pelo desenvolvimento tecnológico da nova ordem
 a expansão comercial trouxe intercâmbio de conhecimentos Idade Média, a unificação em um Estado nacional
somente ocorreria no século XIX
com a importação e desenvolvimento de novas técnicas
de guerra e de armas
 m.n: o modelo inglês não contradiz a máxima acima
 um novo exército e marinha – com novo tamanho e preparo
 na Inglaterra temos um modelo próprio de formação do
técnico – eram necessário para uma nova forma de
Estado nacional
guerra – com novas táticas, estratégias e armas
 antes mesmo de Londres tornar-se uma potencia comercial
p. 81-82 o Estado inglês já se havia unificado em torno de Alfredo,
 a burguesia ao financiar a coerção estatal comprava seu Guilherme I
direito a participar dos destinos do nascente Estado nacional  mais tarde a Guerra Civil (1642-49) e a Revolução Gloriosa
e de desfrutar de crescentes vantagens e benefícios reais permitiriam a participação de elites fora da nobreza
 eg: a adoção de peso e medida padrões na Inglaterra em inglesa na direção do país via parlamento
1389  também a Reforma Inglesa representou uma forte processo
 eg: proibição, na França, em 1439, de que todos os de consolidação de uma identidade nacional na forma da
capitães e homens de guerra ataquem mercadores, Igreja Anglicana
trabalhadores. etc.
p. 86
p. 82-83  a identificação com um ideal nacional também ocorria entre
 também em 1439, na França, introduz-se a taille, imposto camponeses e artesãos
regular em dinheiro
 os impostos passam a ser cobrados em dinheiro, por p. 87
 mas a Igreja não via a formação do Estado nacional tão de
funcionários reais assalariados e não mais por
forma tão simpática
senhores feudais ou arrendatários de impostos
 a Igreja já tinha a fé e uma consolidada doutrina religiosa
p. 83 como elemento unificador
 torna-se evidente para o príncipe a importância da  ela já tinha seu lugar de destaque na estrutura de poder do
manutenção e prosperidade da atividade burguesa, pois é mundo feudal
dela que vem o financiamento e prosperidade de seu Estado  o reequilíbrio de poder na nova ordem necessariamente iria
e parte de sua riqueza envolver questionamentos sobre seu papel
 a igreja já acumulara riquezas suficientes, independendo de
 na medida que sua prosperidade depende da prosperidade financistas burgueses para sua sobrevivência

Resumo de 7
 apesar de já deter de um terço a metade das terras, ela CAPÍTULO VIII
recusava-se a pagar impostos ao governo nacional “Homem rico...”
 ela relutava em ceder seu direito a tribunais religiosos em
detrimento de uma justiça estatal laica p. 93
 os reis da Idade Média, quando queriam conseguir dinheiro,
p. 88 desvalorizavam a moeda, ie: diminuíam o percentual de ouro
 a Igreja era um rival ao poder central e soberano ou prata nas moedas (físicas)
 não relutava em interferir em assuntos internos do país e  de imediato isso lhes gerava lucro, pois gastavam menos
não via porque não podia aplicar multas ouro para produzir a mesma quantidade de moeda
 considerava a si um poder supranacional  os preços em conseqüência dessa desvalorização da
moeda elevavam-se
p. 90  dizer que uma moeda vale menos é dizer que ela compra
 os abusos da Igreja, embora não fossem novidade, menos coisa
acabaram criando as bases da Reforma, iniciada em 1571,  como uma moeda com 50% de ouro comprava 12 ovos, se
em Wittenberg, por Matinho Lutero, mas essa não foi a a moeda tem agora 25% de ouro ela comprará somente 6
primeira tentativa de reforma ovos: ela se desvalorizou – ou os preços subiram, preciso
 mas ao contrário de Lutero movimentos anteriores tentaram de mais moeda para comprar os mesmos 12 ovos
reformar mais que apenas a religião  a desvalorização da moeda causa uma elevação nos
 Calvino e Knox, Wycliff (líder espiritual da Revolta preços (cf. com inflação)
Camponesa na Inglaterra), Hus na Boêmia (líder
camponês de caráter comunista), etc. p. 94
 assim esses primeiros movimentos não forma combatidos  o valor das moedas em circulação dependia do percentual
somente pela Igreja, mas por todo o estabelecimento de ouro e prata que tivessem em sua composição

p. 90-91  apesar do lucro imediato do rei ao diminuir a quantidade de


 ao voltar sua preocupação exclusivamente para assuntos de ouro na moeda, o comércio é afetado
cunho religioso, Lutero evitou angariar a antipatia da classe  os preços sobem, o poder de compra cai
dominante, pelo contrário  os pobres e os que têm renda fixa são prejudicados
 não havia em Lutero uma preocupação com desigualdades  o comerciante, ciente de que o ouro ou prata – elemento
sociais ou de contestação de privilégios sociais laicos, que emprestava valor ao dinheiro – havia sido diminuído
seu foco eram privilégios e abusos da Igreja Romana no em quantidade na moeda, mas mantendo seu valor
campo da fé e da prática religiosa nominal, aumenta o preço da mercadoria, de forma a
 nesse sentido Lutero encontrou respaldo em uma crescente manter o valor real da troca
antipatia nas populações urbanas que identificavam a
Igreja de Roma com a antiga estrutura de poder medieval p.95
 Lutero apela para o nascente sentimento de identidade  mas a prática de alterar a quantidade de metal precioso na
alemão, até mesmo entre sua nobreza, contra moeda era uma forma de fraude oficial e contribuía para a
interferência econômica e política de Roma descrença na moeda – inexistia até então o conceito de
 a contestação de Lutero confundia-se com um moeda fiduciária
questionamento do poder papal em assuntos locais e  Copérnico considerava a deterioração do dinheiro uma das
com o nascente sentimento de identificação local, causas de decadência de um Estado (as outras seriam
regional e nacional as lutas, a terra estéril e as pestes)
 mas ele não foi um rebelde, mas sim um reformador,
preocupado em manter uma ordem e estrutura de p. 96
governo nacional  em o total de ouro e prata de um reino decrescia a medida
que seu dinheiro desvalorizava
p. 91-92  a oferta de metal preciso para dinheiro decrescia à media
 segundo Huberman a Igreja teria perdido poder mesmo se a que seu dinheiro desvalorizava
Reforma não tivesse ocorrido
 parte da importância da Igreja consistia exercer um poder  leis eram introduzidas para coibir a exportação de ouro e
moderador entre os poderes fragmentados dos barões prata sem a licença do rei
feudais – impondo a Trégua de Deus  ie: os mercadores e financistas, para contornar a alta de
 na nova ordem essa necessidade inexistia haja vista a preços pela desvalorização da moeda procuravam
centralização do poder na figura do rei mercados onde seus ouro e prata lhes rendesse mais
 antes a Igreja tinha poder completo sobre a educação e as
ciências, agora com o surgimento das universidades – a p. 98
partir de associações de alunos e guildas de mestres –e  em busca de metais preciosos e de rotas alternativas para
sua incorporação de sábios mulçumanos e judeus diminuir os custos do comércio com o oriente foi que a
 onde antes somente a Igreja podia oferecer homens cultos, Europa de lançou às grandes navegações
 m.n: o argumento clássico de que Portugal e Espanha
uma nova elite – formada nos centros de estudos laicos –
apresenta-se para gerir a administração do Estado lançaram-se ao mar para escapar aos intermediários
 o direito romano – mais adequado a solução de disputas genoveses e italianos é uma verdade relativa
 havia certa concordância das cidades italianas com a
comerciais – é ressuscitado desafiando a supremacia do
direito da Igreja empreitada, inclusive financiando-a
 ocorria que Gênova e Veneza estavam sobre crescente
p. 92 pressão do controle mulçumano sobre suas tradicionais
 a Reforma Protestante foi a resposta da nova ordem de rotas no Mediterrâneo oriental, especialmente com a
poder ao sustentáculo da ordem feudal: a Igreja Romana tomada, em 1453, de Constantinopla, pelos otomanos
 deveríamos perguntar então se a relativa queda de
importância comercial das cidades italianas foi uma
Resumo de 8
conseqüência das navegações, ou foi um fator que  no século XV a família se estabeleceu com um comércio de
contribuiu para o seu sucesso lã e especiarias e com a expansão comercial fizeram
fortuna até tornarem-se grandes banqueiro
p. 99, 100 e 101  primeiro emprestaram capital a outros mercadores e por fim
 a Revolução Comercial decorrente das Grandes a príncipes, reis e até o Papa, recebendo privilégios e
Navegações torna o comércio efetivamente internacional concessões comerciais da coroa, recebendo muitas
 formaram-se novas companhias de mercadores, como a vezes em garantias terras reais, que vez por outra
Company of Merchant Adventurers of London, as Cias incorporavam-se a seu patrimônio
das Índias Orientais britânica e holandesa, as Cias das
Índias Ocidentais holandesa, dinamarquesa, etc. p. 104
 Antuérpia era o centro de toda essa atividade financeira e
p. 100 comercial, tomando o lugar que outrora fora das cidades
 as companhias de comércio são formadas em parte por italianas
conta dos altos custos das empreitadas de descoberta,  Antuérpia não era grande em população (100 mil) mas era
navegação e exploração das novas rotas comerciais grande em importância, em especial pela ausência de
 apesar dos altos custos são imensamente lucrativas, restrições e liberdade que oferecia às casa comerciais e
oferecendo lucros de até 6.000% (como na primeira financeiras
viagem de Vasco da Gama às Índia, p. 98)  a corrente do comércio deslocara-se do Mediterrâneo para
o Atlântico
 a organização tradicional das associações de comércio não  os Fuggers eram os Médici da nova era
comportava empreitadas de tamanhos custos e riscos, a
distâncias tão consideráveis p. 104-105
 um novo tipo de associação é adotado para arregimentar o  em Antuérpia desenvolveu-se o hábito da venda através de
capital elevado necessário e diluir os riscos amostras de mercadorias padronizadas e reconhecidas
 surgem as sociedades por ações, nos séculos XVI e XVII,  estabelecia-se o intercambio de mercadorias em bases
sendo a primeira a dos Aventureiros Mercadores, que modernas
contava com 240 acionistas, cada um entrando com 25  daí as feiras perderam sua importância, pela possibilidade
libras de venda sem a presença da mercadoria e pela ausência
 mesmos expedições de corsários seguiam esse modelo, de restrições
algumas delas contando como acionista a própria Rainha  todos eram bem-vindos a Antuérpia desde que para fazer
Elizabeth, em uma das expedições de Drake contra os negócios
espanhóis, distribuindo lucros de 4.700%, cabendo a
Rainha 250 mil libras (p. 101) p. 105
 outra inovação, desta volta financeira, introduzida em
p. 101 Antuérpia era o sistema de compensação e pagamentos
 um dos principais privilégios que essas companhias tinham mediante letras de câmbio
era o monopólio no comércio das rotas que estabelecessem  m.n: pode-se de dizer que seja o germe para o nascimento
 muitos historiadores questionam se o comércio não poderia da moeda fiduciária
ter sido ainda maior, se não houvesse sido garantido, a
essas companhias, o privilégio de monopólio
CAPÍTULO IX
p. 102 “...Homem pobre, mendigo, ladrão”
 os lucros das companhias eram obtidos tanto pelo aumento
da produção e maiores vendas, quanto pela restrição na p.107
produção – eg: pela destruição de estoques, não exploração  nos séculos XVI e XVII o número de mendigos e sem-tetos
proposital de outros rotas de fornecimento, pelo torna-se ainda mais surpreendente, de forma generalizada
açambarcamento, etc. nas cidades européias, apesar do boom no comércio
 eg: os holandeses pagavam aos nativos de outras ilhas  uma das causas da miséria eram as guerras constantes,
para exterminarem o cravo-da-índia e a noz-moscada, particularmente a Guerra dos Trinta Anos (1618-48), na
enquanto concentravam seu cultivo na ilha de Amboyna, Alemanha, quando cerca de dois terços da população e
na Indonésia, onde eles próprios podiam manter o cinco sextos das aldeias pereceram
controle
p. 108
 esse foi o período áureo do comércio, quando o capital foi  outra causa para a grande miséria que acometia as massas
acumulado em fortunas que formariam o alicerce para a na Europa foi o desenvolvimento das colônias Espanholas
expansão industrial dos séculos XVII e XVIII nas Américas, em especial no México e Peru
 nesse período os verdadeiros capitães da história foram  a produção de ouro e prata na Europa limitava-se a minas
os mercadores e financistas da época, que constituíam na Saxônia e na Áustria, cuja produção era infinitamente
o poder atrás do trono por eles financiado reduzida comparada a produção das Américas
 a casa da moeda espanhola produziu 45.000 quilos de
 durante os séculos XVI e XVII as guerras foram quase prata entre 1500-20; 270.00 entre 1545-60; e 340.000
contínuas – pela disputa do poder na nova ordem mundial de entre 1580-1600
comércio – endividando reinos e alicerçando ao poder  enquanto portugueses, ingleses, franceses e holandeses
banqueiros e grandes mercadores traziam navios cheios e especiarias e mercadorias, os
 eg: foi o banqueiro Jacob Fugger quem decidiu que a coroa galeões espanhóis chegavam abarrotados de ouro e
do Sagrado Império Romano cabia a Carlos V da prata
Espanha e não a Francisco I da França  m.n: o boom de especiarias, e mercadorias entrando no
mercado europeu por si só já seria suficiente para
p. 103 provocar a chamada Revolução Comercial, mas o
 a história dos Fuggers é a história do seu tempo: elevadíssimo influxo de metais preciosos agravou os

Resumo de 9
efeitos dessa revolução, desequilibrando o valor das
moedas européias p. 114
 a revolução dos preços agravou um fenômeno que já vinha
p. 109 afetando a vida dos camponeses: o fechamento das
 o ouro e prata espanhol era rapidamente repassado para propriedades
financistas e mercadores de outros países, como
contrapartida de financiamento e abastecimento dos  anterior à elevação dos preços, já havia se iniciado na
exércitos espanhóis, constantemente envolvidos em guerras Europa, principalmente na Inglaterra, o fechamento das
propriedades
 esse afluxo de prata na Europa foi suficiente para causar um  no sistema feudal, a propriedade era dividida em faixas,
vertiginosa inflação que corroeu o poder de compra do intercaladas entre lavradores e o senhor, que recebia o
homem comum pagamento pelo arrendamento em forma de trabalho em
 tanto quanto a desvalorização da moeda (eg: quando suas faixas – quase de subsistência, a economia rural
diminuía-se a quantidade de ouro na moeda), quanto não visava a um excesso de produção para obtenção de
quando se aumenta o volume do total de dinheiro em lucro
circulação são causas de elevação dos preços  com as mudanças nas relações entre senhor e o
 a entrada de um excesso de ouro e prata (na época quase camponês, o pagamento passou a ser em dinheiro e o
sinônimos de dinheiro) nos mercados causa um camponês passou a ter um maior direito a propriedade
generalizada inflação nos preços que arrendava, sua produção também passava a ser
comercializada na cidade... assim o cercamento da
p.110 propriedade passava a ter sentido para o senhor e para o
 o homem comum não compreendia a razão para a alta dos lavrador
preços, nem mesmo que essa alta era generalizada,  propriedades fechadas podem ser melhor agrupadas e
atingindo toda a Europa e não só sua região trabalhadas em sistema de produção crescente, o bom
 a precariedade dos meios de comunicação dificultava lavrador pode se destacar daquele menos eficiente
sobremaneira o caráter generalizado da inflação, levando  lavradores e senhores com terras mais eficientes
o homem comum a culpar agentes locais – o agiota, o rei, paulatinamente foram empurrando os menos eficientes
o cavaleiro, o agricultor, o mercador, etc. para as cidades, sem emprego ou moradia

p. 111  o campo fechado serviu para responder a crescente


 a abundância do dinheiro encarece as coisas, ao passo que demanda de lã oriunda de ovelhas, que aos poucos foram
a escassez do dinheiro as barateia tomando o lugar de campos cultivados
 todavia a troca dos campos cultivados por ovelhas implicou
 Jean Bodin no século XVI já identificava a abundância de também em um excesso de mão-de-obra – o pasto
ouro e prata como uma das razões para a elevação consome bem menos mão-de-obra – que sem emprego
generalizada de preços seguiu em caminho das cidades
 mas o que foi controvérsia no século XVI e XVII, tornou-se
evidente no século XVIII  assim, o fechamento das propriedades, seja para o cultivo ou
pasto, contribuiu – junto com a revolução dos preços – para
p. 112 elevar os números de desabrigados e famintos, na cidade e
 mas como em qualquer processo inflacionário, alguém no campo
lucrou:
 os mercadores, que embora suas despesas se elevassem, p. 115-116
seus lucros aumentaram ainda mais, pagavam mais pelo  o cercamento para cultivo, em busca de produções
que compravam, mas cobravam muito mais pelo que eficientes, também tirava a terra do pequeno lavrador, pois
vendiam várias pequenas faixas teriam melhor colheitas se
 os arrendatários, que pagavam determinada quantia fixa trabalhadas em uma única gleba
por um longo prazo, mas vendiam seus produtos a  privava também o pequeno camponês de terras em
preços crescentes (eg: manteiga, trigo, etc.) servidão de pastagem, igualmente tornando-o
redundante
 aqueles que dependiam de rendas fixas (eg: proprietários
de terras arrendadores, como o governo, os pensionistas, p. 116
etc.) e os trabalhadores assalariados foram os que mais  aos mesmo tempo as transformações no campo e na forma
perderam: de concessão da posse da terra contribuíam para a
 sua renda era fixa, mas suas despesas não (cf. com redundância de massas de camponeses
imposto inflacionário)  no sistema feudal o arrendamento da terra era feito com
 os salários aumentavam, mas nunca acompanhando a base no costume, mas o costume era considerado pelo
inflação – um dia de trabalho de um trabalhador na senhor uma expressão de sua vontade em determinado
França no século XV correspondia a 4,3 quilos de carne, momento
um século depois valia apenas 1,8 quilo  assim o costume de se manter o valor de um dado
arrendamento ao longo do tempo foi se modificando com
 a revolução dos preços pôs o governo em situação delicada: a escalada dos preços, o senhor já entendia que tinha o
com as contas comprometidas e um sistema econômico direito a também ajustar o arrendamento
evoluindo em velocidade maior que sua capacidade de  o senhor entendia que na passagem de um arrendamento
atualização, o Estado via mais uma força a lançá-lo em para um herdeiro também cabia um ajusto em seu valor
direção aos braços da burguesia, em busca de  o senhor passava a arrendar a terra pelo que pedia e a
financiamento quem podia pagar

 com a erosão dos salários pela inflação, ações coletivas p. 117


tornaram-se comuns  protestos surgiram quanto a essas mudanças nas práticas

Resumo de 10
de arrendamento, tanto por parte dos camponeses como por  o intermediário passa a controlar a matéria-prima (parte
membros do clero (eg: pelo bispo de Latimer, durante o do Capital), a comprar trabalho e produtos e a auferir e
reinado de Eduardo VI) como pela própria Coroa, que regular o lucro – o mestre artesão e os jornaleiros passam
tentava evitar o despovoamento de aldeias e o êxodo urbano a ser meros assalariados
 a figura do intermediário não implica na alteração do
p. 118 sistema de produção – permanecendo doméstico,
 diversas leis foram passadas contra os aumentos abusivos quando executada pelo artesão em sua casa (the cottage
de taxas de arrendamento no campo e contra o fechamento industries) com seus ajudantes, ou mesmo corporativo,
indiscriminado dos campos e pastagens, mas no final os quando executada por uma corporação de artesãos, ou
juízes locais sempre eram proprietários ou agentes agindo familiar, quando executado pela família
em seu nome  o que se altera na verdade é o volume da produção, que
juntamente com a forma de negociação são
 talvez o ponto mais importante dessas mudanças no reorganizadas sob a influência do intermediário para
campo fosse que a antiga relação entre a terra e o aumentar o volume produzido e sua eficiência, com a
trabalho sobre ela executado cedia a vez para uma natural decorrência da especialização
relação da terra como capital (cf. com Cobb-Douglas, para
quem terra é parte do capital) p. 121
 o arrendamento por dinheiro, o fechamento da terra, o  paradoxalmente, o intermediário e a corporação se opunham
desenvolvimento do comércio, a implosão do capital por natureza: enquanto esta zelava pela manutenção de seu
e da manufatura, a ascensão das cidades e a monopólio, aquele buscava burlá-lo
escalada nos preços transformaram a terra
 ela cede seu papel como medida de riqueza para o p. 122
dinheiro, ao qual ela se submete, assim como os homens  mas a expansão do mercado tornara obsoleto o modo de
e o trabalho produção e comercialização da corporação tradicional e do
 a terra passa a ser uma fonte de renda, tornou-se um sistema familiar, dando origem à cottage industry
instrumento de especulação, comprada, vendida e
explorada conforme a oportunidade de fazer dinheiro, o p. 122-123
novo fim do sistema  a medida que o papel da indústria têxtil – em especial na
Inglaterra no século XVIII – cresce nas exportações
européias, os intermediários tornam-se ansiosos para
CAPÍTULO X aumentar sua produção
Precisavam-se trabalhadores:  a indústria se expande pelo campo e a demanda por mão-
crianças de dois anos podem candidatar-se de-obra cresce
 na família, na corporação, no cottage, nas nascentes
p. 119 fábricas, em todos os locais toda e qualquer mão-de-obra
 a expansão comercial também pode ser entendida como a é aproveitada, inclusive a infantil
expansão do mercado
 a expansão do mercado é a chave para a compreensão das p. 124
forças que produziram a indústria capitalista  enquanto os intermediários controlam parte do capital (a
 a expansão comercial ou expansão do mercado dá-se matéria-prima) e o lucro, os artesãos e jornaleiros tornam-se
quando passa-se a produzir para um mercado que assalariados
ultrapassa os limites da cidade, adquirindo um alcance  sendo que os mestres ainda podiam deter parte do capital,
nacional e internacional ie: as ferramentas e a tecnologia, mas já não eram mais
independentes
 na economia da cidade medieval, a corporação e o artesão
atendiam perfeitamente as necessidades locais de produção  enquanto no sistema de corporações o capitalista tinha um
e comercialização papel reduzido, a transição para a produção doméstica
 todavia, à medida que o mercado se expande, faz-se (cottage industries) e para a economia nacional representa
necessária uma rede de agentes bem mais complexa, a ascensão do capitalista, no processo de produção, na
para que um produto seja produzido, conduzido e forma do intermediário e do financista
comercializado em locais distintos um do outro, com suas  era necessário muito dinheiro e um novo expertise para
especificidades – econômicas, legais, culturais, etc. comprar matéria-prima, para organizar a distribuição da
 um dos novos agentes que surgem é o intermediário, que, produção e para sua venda
ao lado do financista, marca indelevelmente a Revolução  o capitalista torna-se o diretor do sistema de produção
Comercial doméstica (cottage industry)
 é o intermediário que assegura que a mercadoria produzida a
milhares de milhas chegue ao consumidor p. 124-125
 ao mesmo tempo o capitalista se faz imprescindível em
p. 119-120 atividades de indústria pesada, como na mineração de
 até então o mestre artesão fora cinco pessoas em uma: o carvão e metais em minas profundas
fabricante, o negociante, o empregador, o capataz e o lojista  cf. com monopólio natural
 com o surgimento do intermediário as funções do mestre  com a descoberta de novas terras, novas indústrias
artesão se reduzem a três: fabricante, empregador e surgem, como a de tabaco e açúcar, que exigiam
capataz aplicação de capital em empreendimentos com alto risco
 ele deixa de ser negociante pois o intermediário lhe entrega  consolida-se a figura do capitalista-mercador-
a matéria-prima intermediário-empreendedor
 ele deixa de ser o lojista pois o intermediário também cuida
da venda de seu produto p. 125
 o autor sugere um sumário das fases possíveis no
p. 120 desenvolvimento da organização industrial:

Resumo de 11
1.º)fase familiar: a produção gira em torno da família e
voltada para consumo próprio e autossuficiente; o p. 132
trabalho não visava ao atendimento de um mercado  o negócio passava a ser exportar mercadorias de valor e
2.º)fase das corporações: produção é realizada por importar somente o necessário, recebendo-se o saldo em
mestres artesãos independentes, com seus aprendizes dinheiro (ouro e prata)
e jornaleiros, para atender um mercado pequeno e  isso significava uma organização do comércio externo
estável favorável mediante o controle de mercados chaves ou
3.º)sistema doméstico (cottage industry): como no sistema desenvolvimento de uma indústria nacional com valor
das corporações, produção realizada por artesãos, com agregado relativo
seus ajudantes, mas de forma dependente de um
intermediário, para atender um mercado em expansão p. 133-134
– os mestres mantinham a propriedade dos instrumentos  uma indústria nacional melhorava a balança de comércio ao
de trabalho, mas dependiam da matéria-prima e do aumentar a receita das exportações e ao reduzir os gastos
intermediário na comercialização e/ou no financiamento com importações – ie: aumentava a autossuficiência do país
4.º)fase fabril: produção cada vez maior e oscilante,  surgiam os prêmios de incentivo à exportação, as tarifas
realizada fora de casa, em um edifício do empregador e protecionistas contra as importações (eg: tarifas sobre os
sob forte supervisão – o empreendedor passa a ter o tecidos de algodão indianos) e práticas de atração de
controle de todo capital, inclusive das ferramentas, e de artesãos qualificados de outros países
todo o trabalho; a habilidade do trabalhador perde em
importância em face do uso de máquinas p. 135
 cartas patentes que garantiam o direito à dada atividade ou
p. 126 protegiam invenções ou monopólios de trabalhadores
 essas fases não seguiram-se de forma homogênea, qualificados ou inventores estrangeiros eram emitidos com
tampouco foram excludentes, coexistindo dentro de uma freqüência na Inglaterra dos Tudors
mesma região e de uma mesma atividade
p. 136
 na França, no século XVII, Colbert organizou institutos de
CAPÍTULO XI educação técnica e fábricas, mantidos e administrados pelo
Ouro, Grandeza e Glória Estado, subsidiando um outro número de indústrias têxteis
 na Baviera, no século, XVI, as fábricas estatais de tecidos
p. 129 empregavam dois mil operários
 a organização do Estado nacional pressupunha, após sua
organização política, jurisdicional e legislativa, uma p. 137
organização econômica que permitisse a manutenção de um  os mercantilistas reconheciam que, além de aumentar as
sistema central de riqueza e poder coercitivo, interno e exportações e reduzir as importações, a indústria era
externo uma forma de aumentar o emprego
 a regulação da vida diária sob o prisma legal e garantida
por um sistema de coerção estatal exigia uma  dedicou-se também grande atenção à produção de cereais,
capacidade de financiamento, uma forma de riqueza do não só para a melhoria da balança de pagamentos, como
Estado, seu poder econômico para garantir autossuficiência e uma população forte em
caso de guerra
p. 130
 a primeira noção de riqueza de um Estado, que garantiria  da mesma forma os mercantilistas viam a necessidade de
seu poder de coerção, seria o volume de ouro e prata por ele uma marinha mercante e de guerra forte que garantisse suas
acumulado – o “sistema mercantilista” rotas e costas
 ouro e prata eram então as mais seguras formas de  os construtores de navios da mesma forma recebiam ajuda
acumulação de riqueza, de liquidez imediata, durável, governamental, em forma de subsídios ou incentivos
fisicamente armazenável e de relativa portabilidade fiscais
 segundo o mercantilismo, quanto mais ouro e prata um país
acumulasse, mais rico seria p. 138-139
 em decorrência, surgiam legislações que coibiam ou  as Leis de Navegação Inglesas, do século XVII, favoreceram
proibiam a saída dos metais preciosos, sob qualquer não só a construção de uma marinha inglesa, como norte-
forma, dos países americana, contra o poder marítimo holandês

p. 130-131 p. 141
 como conseqüência, surge uma nova noção de uma forma  durante o mercantilismo acreditava-se que o comércio era
eficiente de acumulação de riqueza (ie: ouro e prata): seria o finito, não haveria espaço para o crescimento mútuo, o
sucesso em estabelecer uma balança comercial favorável, crescimento de um seria excludente e causa de perda para o
ie: que garantisse uma maior entrada de recebimentos que outro
pagamentos (ie: em ouro e prata)  o fruto da política mercantilista é a guerra, por mercados,
 os países poderiam aumentar suas reservas de outro e por colônias
prata dedicando-se a um comércio exterior favorável, ie:  período fortemente marcado pela regulamentação da
onde as exportações superassem as importações economia e pela presença do Estado nos negócios
 assim a Companhia Inglesa das Índias Ocidentais – contra privados
o senso comum – permitia em seus estatutos a  o mercantilismo se desenvolve ainda em um Estado em
exportação de ouro, visto que este seria compensado por formação – as forças-armadas e a administração pública
recebimentos de suas exportações de mercadorias ainda não se profissionalizaram por completo; o Estado
 era o que Thomas Mun chamou de England’s Treasure by coercitivo ainda surge na figura de arrendadores da
Foreign Trade (1664), The Macmillan Company, NY: coleta de impostos e de monopólios cedidos pelo rei em
1895, pp. 7-8, 52, em Huberman p. 131 troca de financiamento do Estado em formação

Resumo de 12
a proteger a manufatura inglesa seria uma ameaça
 sob a forma de contrabando a lã irlandesa chegava à
CAPÍTULO XII França, que por sua vez a manufaturava e depois a
Deixem-nos em Paz colocava no mercado, competindo finalmente com a
própria manufatura inglesa
p. 143  ao passo que se fosse manufaturada na Irlanda, parte dos
 o ano de 1776 é uma ano de importantes transformações: a lucros inevitavelmente chegariam à Inglaterra
Declaração de Independência dos EUA e a publicação da
An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of p. 146-147
Nations, de Adam Smith (e a máquina a vapor de Watt, veja  outra importante crítica ao mercantilismo foi feita por David
Capítulo XV) Hume, em 1742 (Essays, Moral, Political and Literary), sobre
a importância do estoque de ouro e prata para a riqueza
 a Riqueza das Nações representa a súmula de um crescente de um país
questionamento dos conceitos da política, teoria e prática  segundo Hume o resultado positivo na balança comercial,
mercantilistas geraria um acréscimo de dinheiro (ouro), que por sua vez
 Smith e outros pensadores criticavam as restrições, acarretaria um aumento nos preços internos (inflação), que
regulamentações e limitações criadas pelo Estado por sua vez encareceria os produtos do país, com uma
mercantilista na vida econômica decorrente piora na balança comercial e, conseqüente-
 ao mesmo tempo comerciantes e empreendedores mente, com redução de seu estoque de ouro (usado para
ressentiam os monopólios e privilégios excludentes pagar pelo excesso de importação); dessa forma os preços
característicos do Estado mercantilista internos cairão novamente e suas exportações voltarão a
 os donos do dinheiro queriam aproveitar as crescentes crescer; esse movimento segue-se entre os países
oportunidades de um mundo em expansão e crescimento envolvidos, até que se atinja um balanço neutro
econômicos, no comércio e na indústria  “... a maior ou menor abundância de dinheiro não tem
importância: pois o preço das mercadorias é sempre
p. 143.144 proporcional à abundancia do dinheiro.”
 as regulamentações da vida econômica pelo Estado ao  ie: em conseqüência do comércio internacional, o volume de
mesmo tempo que beneficiavam alguns estabeleciam limites outro que estabelece seus preços tende a se equilibrar com
e obstáculos a outros as importações e exportações tendendo a um balanço
 na Prússia, em 1700, a proibição da exportação da lã – nos neutro entre todos os países envolvidos
moldes da Inglaterra – visava à proteção de sua balança  cf. com o price-specie-flow mechanism e com a
comercial, estimulando a manufatura local ao assegurar a quantitative theory of money (TQM)
matéria-prima local a preços baixos, mas impedia aos
produtores de lã beneficiarem-se de preços mais p. 148
convidativos em mercados externos  o comércio livre foi defendido em especial pelos fisiocratas
(para quem a terra era a única fonte de riqueza e o
p. 144-145 liberalismo econômico fundamental) franceses, em face do
 para alguns na Câmara dos Comuns, a política inglesa de excessivo controle do Estado e das corporações sobre a vida
proteção à lã local baseava-se mais no conceito de vantagem econômica do país
absoluta e vantagem comparativa, que em uma pura questão  o controle excessivo (do comércio, das normas de
de conta nacional, ie: em uma busca cega por uma balança manufatura, das ferramentas, etc.) provocaria um
comercial positiva movimento igualmente profundo nos anos por vir
 a postura inglesa não seria, então, uma questão de puro  Gournay: laissez-faire – que tornar-se-ia o lema dos
protecionismo, mas de defesa de um comércio livre com fisiocratas franceses
base em uma regulamentação que somente reforçasse leis
econômicas (eg: vantagens absoluta e comparativa) p. 149-150-151
 entendiam esses legisladores ingleses que o comércio  os fisiocratas franceses tornar-se-iam a primeira “escola” de
internacional não seria necessariamente excludente nos economistas (eg: Quesnay, Mirabeau, etc.)
benefícios para as partes, acreditavam que a liberdade no  acreditavam na inviolabilidade da propriedade privada (da
comércio poderia levar a soluções includentes, com terra) e, conseqüentemente, na liberdade do indivíduo de
benefícios mútuos para as partes envolvidas fazer dela o uso que desejasse, para produzir e vender o
que e onde desejasse, desde que respeitando as leis e
p. 145 os direitos de outrem
 mesmo não sendo uma voz solitária nesse questionamento,  a terra era a única fonte de riqueza e o trabalho na terra o
Smith inova por sua abordagem metodológica único trabalho produtivo
 sua análise se ocupava do estudo das causas que  mas a riqueza da terra não era medida pela soma fixa,
influenciavam a produção e distribuição de riqueza como ativos, mas pela sua capacidade de produção,
 não buscava definir uma política específica ou sugestões gerada pelo trabalho, seu produto líquido – como uma
práticas para a construção da riqueza de um Estado variável de fluxo e não de estoque
 sua abordagem tinha uma caráter e metodologia científicos
p. 151-152
 Smith e seus pares acreditavam que princípios mercantilistas  Smith esvaziou a importância do acúmulo de ouro e prata
como tarifas e monopólios que obstaculizassem o comércio como forma de riqueza
eram causa de decadência  lançou luz sobre o trabalho – a partir dos fisiocratas – como
 a proibição de produtos estrangeiros reduziria o fabrico e a o verdadeiro gerador de riqueza e argumentou que ouro,
exportação de produtos locais prata e vinho seriam comprados a um determinado preço,
como qualquer outra mercadoria
p. 146  defendia também o fim do monopólio mercantilista sobre a
 a política colonial mercantilista também foi atacada: a vida econômica das colônias
proibição de manufaturas de lã na Irlanda ao invés de ajudar

Resumo de 13
p. 152 os demais 22 milhões eram de camponeses, dentre
 o livre comércio, para Smith, era o coroamento da máxima: os quais 1 milhão ainda eram de servos no sentido
“o maior melhoramento na capacidade produtiva do antigo
trabalho ... parece ter sido ao efeito da divisão do trabalho.” 3.º)os Primeiro e Segundo Estados detinham
 cf. com especialização e vantagem absoluta (diretamente) todos os privilégios, dentre eles: não
pagavam impostos e mantinham direitos a dízimos e
 a especialização tem seu paradoxo: taxas feudais remanescentes do antigo sistema
 Smith dá o exemplo da manufatura de alfinetes, onde ao feudal
separar-se a produção em 18 passos, alocando tarefas 4.º)todo o Estado francês era, então, financiado por um
específicas a cada trabalhador, atinge-se um elevado sistema fiscal que incidia quase que exclusivamente
nível de eficiência na produção sobre os camponeses, já que a burguesia de alguma
 enquanto nas fases familiar, da corporação e, mesmo forma conseguia isenções
ainda, na doméstica, o trabalhador necessitaria dominar 5.º)dentro do Estado francês esses privilégios eram
todo o processo, obtendo uma produção menor por vistos como direitos constitucionais dos membros do
trabalhador Primeiro e Segundo Estado, que tinham por deveres
 no sistema fabril, com o coroamento da especialização, a instrução, o culto e a proteção – com seu sangue
um trabalhador necessita conhecer os poucos (sic) – da Nação
movimentos relativos à sua função e têm-se melhor 6.º)os gastos do Estado não eram fixados a partir das
eficiência por trabalhador receitas, mas sim as receitas eram fixadas a partir de
gastos voltados a atender um Estado patrimonialista,
p. 153 fisiologista e corrupto
 para Smith a divisão do trabalho – e a especialização – é
determinada pelo tamanho do mercado p. 158
 a capacidade de troca é que enseja a divisão do trabalho  após os pagamentos de impostos, taxas à nobreza e dízimos
à Igreja, o camponês retinha apenas cerca de 20% de seus
 quando o mercado é muito pequeno, ninguém terá estímulo
ganhos
para dedicar-se inteiramente a um emprego, por
 entretanto isso não implica dizer que o camponês no século
dificuldade de troca de seu excesso de produção, acima
XVII não tivesse conquistado melhoras em relação ao
de seu consumo, e pela escassez de oferta de suas
sistema feudal
outras necessidades
 por volta de 1789, o campesinato francês lograra poupar
 a divisão do trabalho determina uma maior produtividade suficiente para deter cerca de um terço das terras da
 ao mesmo tempo que é limitada pelo tamanho do França
 mas sem duvida ainda permaneciam à mercê de boas
mercado
 assim quanto maior for o mercado, maior a colheitas para necessidades básicas
produtividade
p. 159
 com o comércio livre mais oportunidades são
 mas independente de seus avanços e de uma boa colheita o
aproveitadas, com melhor utilização da divisão do
campesinato francês tinha ainda uma crescente fome por
trabalho e com aumento da produtividade
terras
 resumindo:
 essa fome encontrava limites nas estrutura de poder do
1.º)o aumento da produtividade decorre da divisão do
Estado, especificamente na nobreza e no clero
trabalho
 muitas revoltas ocorreram, com melhorias parciais ou
2.º)a divisão do trabalho aumenta ou diminui conforme o
derrotas e repressão, mas no final do século XVIII o
tamanho do mercado
campesinato francês encontraria a força e a liderança
3.º)o tamanho do mercado se amplia ao máximo com o
que lhe faltava na burguesia, igualmente insatisfeita com
comércio livre
os privilégios dos Primeiro e Segundo Estados e com a
4.º)logo, o comércio livre proporciona maior produtividade
fortes limitações estatais à sua expansão e liberdade de
ação econômica
 o comércio livre seria a divisão do trabalho levada ao seu
ponto máximo em face das vantagens absoluta e
 foi a nascente burguesia quem conduziu e mais lucrou com a
comparativa (esta definida mais tarde por David Ricardo)
Revolução Francesa
 era uma reação natural ao obsoleto Estado francês e suas
CAPÍTULO XIII restrições à expansão da burguesia – escritores,
“A velha ordem mudou...” doutores, professores, juízes, funcionários, mercadores,
fabricantes, banqueiros, que já tinham direitos, mas
p. 155-158 queriam mais
 o quadro na França de 1776 era grave e em profundo  precisavam enterrar definitivamente a herança feudal e
descompasso com o cenário de expansão do comércio fazer espaço para o capitalismo nascente, que tinha o
internacional talento, a cultura, o dinheiro
 o Estado mercantilista francês destacava-se por sua  a mesma burguesia que financiara o Estado e agora o
excessiva regulamentação e pela coexistência de queria de volta em face de uma administração perdulária
estruturas herdadas dos sistema feudal e irresponsável
1.º)no Antigo Regime, o Estado francês na verdade era  queria que seu poder econômico fosse acompanhado por
constituído de três Estados: o Primeiro Estado, o um poder político compatível e efetivo
clero (@ 130 mil membros); o Segundo Estado, a
nobreza (@ 140 mil); e o Terceiro Estado, o povo, a p. 161
classe sem privilégios (ie: quase 98% da população  criara-se na França de 1789 um caso de completa crise de
francesa total de 25 milhões) governabilidade
2.º)no Terceiro Estado, 250 mil eram a burguesia, 2,5  atingira-se a receita para a revolução:
milhões eram artesãos vivendo em aldeias e cidades,  crise aguda de governabilidade

Resumo de 14
 massas descontentes insumo um valor, que inclui o custo da transformação do
 carga fiscal absurdamente desigual insumo (o trabalho) e sua margem de lucro
 uma classe inteligente, rica e em expansão,  assim o capitalista compra trabalho e o revende,
insatisfeita e alijada do processo político embutindo-o no preço do produto: revende o produto,
mas beneficiado pelo trabalho
p. 162  o capitalista vende a um preço de produção, que inclui os
 como Marat apontaria, quem mais lucrou com a Revolução custos dos fatores de produção (terra, trabalho e
fora a burguesia capital) e o custo de oportunidade (ie: a que no total é
 o Código Napoleônico deixa isso claro: de igual à Eficiência Marginal do Capital, Emgk),
aproximadamente 2 mil artigos, somente 7 tratam do oferecendo-lhe um lucro
trabalho – associações são permitidas, mas sindicatos e  a diferença entre o preço de produção e a soma dos custos
greves são proibidos e o patrão protegido nas disputas – dos fatores de produção e o custo de oportunidade é
enquanto cerca de 800 artigos são dedicados a defesa e denominado mais-valia, sendo a base do lucro
garantia da propriedade privada – o Código fora feito pela  ora o lucro, então, é representado pela remuneração de seu
burguesia e para a burguesia custo de oportunidade e pelo resultado do trabalho de
transformação dos insumos
p. 163  assim a mais-valia fundamenta o lucro principalmente no
 a Revolução lançou uma pá de cal no feudalismo, não só na custo do capital e no trabalho incorporado ao produto
França, como em todos os países conquistados pelo exército  sendo que a remuneração do trabalho não equivaleria ao
de Napoleão valor superior pelo qual esse trabalho seria repassado no
 nas palavras de Marx: “... terminaram a tarefa da época – preço do produto, daí uma mais-valia
que foi a libertação da burguesia e o estabelecimento da  a mais-valia (surplus-value) seria, para Marx, o valor
moderna sociedade burguesa...” criado pelo trabalhador em excesso à sua remuneração,
sendo apropriado pelo capitalista como parte de seu lucro
p. 163-164 juntamente com a remuneração de seu custo de
 o autor compara os casos francês e inglês: a “revolução” oportunidade (Emgk)
inglesa se dera um século antes, igualmente de forma
violenta (cf. a Guerra Civil, os roundheads e a Revolução  o capitalista é dono dos fatores de produção terra e capital e
Gloriosa) compra o fator de produção trabalho
 entretanto enquanto na França a burguesia teve de dar um
golpe fatal nos direitos de nascimento, na Inglaterra a  a riqueza do capitalista decorre não necessariamente de seu
burguesia foi paulatinamente se associando à nobreza, capital financeiro (eg: dinheiro), mas principalmente de sua
formando uma aristocracia rural e industrial, repartindo o propriedade ou direito sobre ativos (como os meios de
poder, impondo o controle sobre a monarquia e, por fim, produção e o trabalho), ie: de seu capital fixo e circulante
assumindo o governo (Smith)
 assim seu capital aumenta à medida que compra mais força
p. 164 de trabalho
 uma nova classe – a burguesia – completava seu ciclo de
emancipação e transformação da estrutura de poder na p. 168-169
sociedade  mas da onde viria o capital necessário para se iniciar uma
 o sistema feudal, controlado pela Igreja e nobreza é indústria
substituído por uma nova ordem  ele depende de uma capital previamente acumulado e de
 iniciada com a Reforma Protestante, continuada na mão-de-obra livre e sem propriedades – ie: gente que em
Revolução Gloriosa e concluída com a Revolução de trabalhar para viver e para os outros viverem
Francesa  o capital acumulado veio de poupanças, do comércio (ie: de
 a burguesia consolida sua supremacia em um novo seu lucro), de conquistas, saques, pirataria e exploração
sistema, baseado na livre troca de mercadorias, com o (e também de trabalho acumulado conforme diria Marx)
objetivo primordial de obter lucro  para Marx o capital se dividiria em meios de produção e em
trabalho passado acumulado
 nesse sentido dinheiro poderia ser entendido como trabalho
passado cumulado materializado dentro da ótica
PARTE II - DO CAPITALISMO AO ...? capitalista

p. 169-170
CAPÍTULO XIV
 eg: a participação das cidades-Estados italianas nas
De onde vem o dinheiro?
cruzadas e sua vasta rede de comércio com o oriente,
juntamente com a vasta exploração das riquezas naturais e
p. 167
dos povos conquistados (eg: pelos Espanhóis, nas Américas,
 o dinheiro só se torna capital quando aplicado na obtenção
e pelos Holandeses, na Indonésia e Malásia) foram eventos
de mercadorias (matéria-prima, equipamentos, produtos,
– entre outros – fundamentais na acumulação de capital para
etc.) ou trabalho, com a finalidade de transformá-los e/ou
a Europa moderna
vendê-los novamente, com lucro (Karl Marx)
 assim o pastor quando vendia sua lã para obter dinheiro
p. 170
para comprar pão para comer, não usava esse dinheiro  o autor reconhece nos exemplos Espanhol, Holandês e
como capital (fase pré-capitalista) Inglês o papel da coerção na acumulação de capital e na
formação dos Estados europeus
p. 168
 o capitalista compra sempre algo para vender com lucro p. 171
 seja lã, carros, casas, serviços, etc.  o comércio de escravos africanos também teve um papel
 para obter lucro o capitalista acrescenta ao valor pago pelo relevante na formação do capitalismo, especialmente para

Resumo de 15
cidades como Liverpool, Manchester e Lisboa desenvolveu mais rapidamente na Inglaterra – vários fatores
contribuíram ou demonstram esse pioneirismo:
p. 173  o precoce fechamento das terras e das propriedades, já no
 mas o acúmulo de capital não pode ser apontado como século XVI (com a resistência da coroa), e completado,
condição única para o surgimento do capitalismo depois, no século XVIII (agora sob os auspícios da
 o capital por si só não gera lucro – o capital não pode ser consolidada aristocracia rural, sob a proteção das “Leis
usado como capital de Fechamento”), privando os camponeses de terras
 há que se empregar trabalho, pois é do trabalho que se comuns ou arrebatando-lhes seus arrendamentos, em
obtém o lucro benefício da eficiência de uma econômica rural com
 era necessária um oferta de trabalho juntamente com esse maior escala
acúmulo de capital  esse exército de mão-de-obra, desprovido de seu original
meio de produção (a terra), forma uma massa, no século
 mas a oferta de trabalho não é algo natural XVI forçada para as estradas, como mendigos, vagabundos
 o homem somente trabalha para outro quando obrigado e ladrões, e que, no século XVIII, torna-se um mercado
 enquanto tiver acesso à terra, para produzir para si, não abundante de trabalho nas cidades
trabalha para mais ninguém
 eg: enquanto houve oferta de terra barata ou de graça no p. 175
Oeste norte-americano, houve escassez de mão-de-obra  a privação de terras comuns tem particular impacto, pois
no Leste tirava dos camponeses não só o direito de trabalhar a terra,
 da mesma forma os trabalhadores cujo meio de produção é como lhes afastava o direito ao uso de pastos comuns, tão
necessários à obtenção de leite e lã
a oficia e as ferramentas: eles só trabalharão para outros
 nesse sentido o fechamentos das terras contribuiu para o
quando não mais tiverem acesso às suas própria oficina
e ferramentas processo de transformação, anteriormente observado, de
divisão do trabalho e especialização em curso
p. 174
 somente quando o trabalhador não é o proprietário de seu p. 176
próprio capital – quando for separado de seu meio de  esse processo de fechamento das terras, assim, sem ter por
produção – é que estará disposto a vender seu trabalho, ie: objetivo criar um mercado de trabalho para a manufatura e
a trabalhar para outro sim aumentar a eficiência e os lucros da atividade agrária,
 a história da oferta de trabalho necessária ao provê a atividade fabril com um trabalho abundante e barato
 segundo o autor “...as rendas, com o fechamento,
desenvolvimento do capitalismo é a história de como os
trabalhadores foram privados dos meios de produção geralmente se duplicavam...”
(terra, capital e, conseqüentemente, trabalho)
p. 177
 esse processo de expropriação dos meios de produção do  o processo de fechamento das terras, na França, viu crescer
trabalhador: é um processo de transformação dos meios a classe do pequeno proprietário camponês, mas na
sociais de subsistência e produção em Capital e de Inglaterra, onde o capitalismo industrial teve maior impulso e
transformação dos produtores imediatos em trabalhadores uma aristocracia rural alçou maior influência no governo, o
assalariados pequeno proprietário desapareceu quase que por completo
 esse processo ocorre quando o sistema feudal desfaz-se,
 um processo de expropriação dos meios de produção,
quando o arrendatário e o servo libertam-se do solo e do
semelhante ao fechamento das terras, verifica-se à mediada
senhor feudal; quando o trabalhador se liberta das
que as indústrias começam a crescer, partindo das fases
corporações, e seus regimes de monopólio, aprendizes e
jornaleiros; tornando-se livres e vender sua força de familiar, da corporação, doméstica (cottage industry ) até a
fase fabril
trabalho aonde quer que encontre mercado
 na indústria, esse processo torna-se ainda mais evidente e
 tornam-se vendedores do próprio trabalho à medida que
acelerado à medida que a especialização ganha espaço
são destituídos dos seus próprios meios de produção e
e tecnologia sofistica-se
de todas as garantias antes proporcionadas pela antiga
 a economia de escala tornava proibitivo o investimento em
organização feudal
 m.n: a liberdade tem um custo (there is no free lunch)? meios de produção sem um financista e impossível, ao
pequeno produtor, competir nos preços
 é irônico pensar que para se libertar do julgo feudal, o
homem teve de lutar tanto, para terminar nos braços
p. 179
do capital – mas essa luta não foi necessariamente
 a revolução nos modos de produção e troca – do feudalismo
uma luta de fuga do julgo; foi também uma luta de
para o capitalismo – também exigiu e provocou mudanças
sobrevivência, pois muitas vezes o trabalhador não
em outras áreas da vida e do conhecimento humano: a
escapava da organização feudal, mas era expelido
arquitetura, o direito, a educação, a ciência, o governo e a
pela busca dos poderosos por mais terras e mercados;
religião no século XIX já não eram os mesmos
não há necessariamente uma relação de busca por
algo melhor, há instâncias de mero acompanhamento
 a realidade de um mundo dominado pelo comércio
das massas de um movimento de transformação
internacional, com base em trocas em moeda,
liderado por empreendedorismo, desejos, sonhos e
financiamentos, trabalho assalariado, etc. pedia por preceitos
ambições de alguns; mas qualquer entendimento será
religiosos compatíveis
melhor se fugir dessa redução mecanicista e
 usura, lucro, hereditariedade de poder, meritocracia eram
simplificadora de um embate entre o bem e o mal,
conceitos que tinham de ser revistos e acomodados na
entre o certo e o errado, entre o humanitário e o
nova ordem
egoísmo econômico – a síntese do homem há que
acomodar seu demônio e seu anjo
p. 179-180
 quando a Igreja Católica, com profundas ligações com a
p. 174-175
ordem antiga, teve dificuldades de acompanhar essas
 o capitalismo se manifestou de forma mais expressiva e se

Resumo de 16
mudanças necessárias à nascente organização capitalista, sistema de rodízio, entre dois campos de cereais e um
nasce a Igreja Protestante em repouso, e adotava o sistema de rodízio de quatro
 puritanos, como Richard Baxter, defendiam que era uma campos, dois de cereais, um de nabo e outro de trevo
obrigação, perante a Deus, a realização temporal e  o trevo e o nabo limpavam o campo, porém produzindo
profissional, na medida que ela se apresentasse alimento de inverno para o gado, ao contrário do antigo
(pragmática), inclusive a realização da fortuna ou maior sistema, onde um terço das terras permanecia ociosa
lucro possível – “Do what you are able first, and then enquanto descansava
complain to God for denying you Grace if you have  o gado não precisava mais ser abatido e salgado para
cause” (meu Weber, p. 216) e “ You may labour in that servir de alimento no inverno, ele agora podia ser
manner as tendeth most of your success and lawful gain. mantido vivo durante o inverno e, graças a experiências,
You are bound to improve all your talents ...” (op. cit., p. passa por melhorias de raça
257) – contrapondo-se ao posicionamento católico  tal qual as ferramentas nas fábricas, as ferramentas do
negatório do lucro campo e suas técnicas de aplicação foram aperfeiçoadas
 metodistas, como Wesley, defendiam a acumulação de e utilização (eg: o fechamento das terras)
riqueza: “...temos e exortar todos os cristãos a ganhar
tudo quanto puderem, e poupar tudo quanto puderem: e p. 186
isso na verdade significa: enriquecer.” (op. cit. p. 160)  caracterizando um processo onde é difícil precisar uma
 Calvino, por sua vez, defendia a renda proveniente do ordem causal, o aumento da produtividade e o aumento
trabalho e do empreendedorismo: “...Por que razão a renda populacional são fatores determinantes na transformação da
com os negócios não deve ser maior do que a renda com a agricultura em atividade lucrativa
propriedade da terra? De onde vêm os lucros do  a necessidade de mais alimentos, novas técnicas, novos
comerciante, senão de sua diligência e indústria?” (R. H. investimentos, etc., tudo vai se interassociando em uma
Tawney, Religion and The Rise of Capitalism, p. 105) rede de desenvolvimentos paralelos e lineares que
transformam não só o campo como a cidade,
p. 180 acompanhando uma transformação mais ampla: a
 a Reforma Protestante ocorreu exatamente no século XVI, adoção da organização capitalista na vida econômica e
quando a acumulação de capital, tão necessária para a social
expansão da produção do capitalismo, teve seu Zenith
 analogamente o autor aponta as transformações e o papel
p. 181 dos transportes nesse processo de transição para a ordem
 assim o protestante e o capitalista tinham máximas de capitalista
conduta semelhantes:  novas técnicas de navegação e construção naval, novas
 frugalidade, poupança, sucesso, lucro, realização, trabalho, tecnologias nos transportes terrestres e marítimos,
etc. canais, melhores estradas, dragagem de rios, etc.

CAPÍTULO XV CAPÍTULO XVI


Revolução – Na indústria, Agricultura, Transporte “A semente que semeais, outro colhe...”

p. 183 p. 188
 1776: apresentação da máquina a vapor de James Watt  a Inglaterra da Revolução Industrial era dois países em um:
 em 1800 já estariam em uso 150 máquinas na Inglaterra, um rico e próspero, outro miserável e explorado pelo
em minas, fundições, usinas e cervejarias primeiro

p. 184 p. 189-191
 a máquina a vapor decorreu da necessidade do capital de  a premência da eficiência fabril e da vida curta das máquinas
aumentar a eficiência de suas fábricas e sua introdução exigia longas horas de trabalho dos operários, para pagar o
transformou o método de produção na indústria de larga investimento do capitalista nos meios de produção
escala  a vida do trabalhador na fábrica, além das longas horas,
 a máquina a vapor juntava-se à divisão do trabalho, ie: envolvia rotinas maçantes e extenuantes para
especialização, e à economia de escala acompanhar os movimentos das máquinas
 era também uma resposta ao surgimento de novos  aos trabalhadores impunham-se deveres e obrigações
mercados, no novo mundo, e ao crescimento dos injustos e desumanos
mercados interno da Inglaterra e Europa e do oriente  com baixíssimos salários e uso de mão-de-obra infantil (já
 na Inglaterra e na Europa esse crescimento se dava pela comum na fase da cottage industry)
nova organização do trabalho, agora assalariado, e pelo
crescimento populacional p. 192
 com o advento da máquina a vapor a fábrica se distância das
p. 184 quedas d’água e se aproximas das minas de carvão
 na Inglaterra esse crescimento populacional era devido  do sai para a noite lugares sem importância incharam em
menos ao aumento da taxa de natalidade e mais à queda cidades sem qualquer planejamento e com um mínimo de
nas taxas de mortalidade urbanização e péssimas condições de vida
 as pestes e epidemias da idade média começavam a ceder
ao desenvolvimento de práticas médicas e ao aumento American Revolution
da produtividade no campo 1776 resolution declaring independence
1783 Treaty of Paris ends the Revolutionary War
1778 Treaty of Alliance with France
p. 185-186 1789 presidential election
 a revolução industrial era acompanhada por uma revolução North Carolina is the 12th state to ratify the Constitution
agrícola 1790 Rode Island and Providence Plantation is the 13 th state to ratify
the Constitution
 no século XVII, a agricultura européia se despedia do

Resumo de 17
French Revolution dos trabalhadores
1789
May:
Jun:
Convocation of the Estates-General p. 202
national assembly  a Revolução Industrial trouxe consigo várias transformações
Jul:
Aug: the Assault on the Bastille que permitiram a paulatina construção dos sindicatos e do
Declaration of the Rights of the Man and of the Citizen
(National Constituent Assembly ends feudalism) movimento sindicalista:
Oct: march on Versailles  concentração dos trabalhadores
1792 republic was proclaimed  especialização dos trabalhadores
start of French Revolutionary Wars
1793-94 the Reign of Terror - Jacobins and Robespierre  melhoria das condições de comunicação e transporte
the Thermidorian Reaction (July, Robespierre’s death)  a própria necessidade de cooperação para uma causa
1795-99 the Directory
comum
1799 coup of 18 de Brumaire installs the Consulate

p. 196 CAPÍTULO XVII


 na Inglaterra, ao invés de uma Revolução, fizeram-se “Leis Naturais” de quem?
reformas como a redução da jornada de trabalho para 10
horas p. 208
 os pensadores econômicos da Revolução Industrial
p. 197 fundaram o que se convencionou denominar “Economia
 a controvérsia sobre a redução da jornada de trabalho Clássica”
envolveu, na Inglaterra e nos EUA, a citação de Adam Smith  dentre eles destacam-se Adam Smith, Thomas Malthus,
(“A propriedade que todo homem tem de seu próprio
David Ricardo, John Stuart Mill, Nasser Senior, etc.
trabalho, constituindo a base original de todas as outras
propriedades, é a mais sagrada e inviolável. ... impedi-lo de
 a Escola Clássica oferecia um grande conforto ao
empregar essa força e destreza da forma que lhe parece
empreendedor da Revolução Industrial: ela professava o
justa, sem prejudicar seu vizinho, é uma violação evidente do
laissez-faire, legitimava todas as oportunidades que surgiam
mais sagrado direito...”), sem entretanto reconhecer que as
a reboque da expansão comercial, industrial, agrícola e
palavras de Smith eram voltadas à crítica do mercantilismo e
científica da época
que ele mesmo posicionava-se a favor de tal redução
 justifica como natural a busca do lucro, a regulação dos
p. 198 salários pela disputa entre o trabalhador e o capitalista
 movimento ludita (The Luddites): hordas desesperadas (que sempre venceria)
promovem demonstrações violentas, destruindo máquinas  defendia que a procura do lucro levaria ao bem estar não só
na fábricas têxteis do capitalista como do Estado, da sociedade (“...o estudo
 protestavam contra a perda de trabalho e a mudança em de sua vantagem pessoal, naturalmente, ou melhor,
seu estilo de vida, gerados pela Revolução Industrial necessariamente o leva a preferir o emprego mais
vantajoso para sociedade.”
p. 200
 além de destruição de máquinas pelos luditas, muitas p. 209
petições foram encaminhadas com reivindicações de  ao governo caberia apenas as funções de preservar a paz,
soluções que evitassem a exclusão dos trabalhadores dos proteger a propriedade, não interferir
benefícios da nova ordem econômica e melhorassem suas  as forca naturais da economia, da concorrência e do
condições de trabalho mercado tratariam do resto
 o vilão não era a máquina, mas seu dono que buscava
maximizar seu lucro a qualquer preço  a concorrência manteria baixos os preços ao mesmo tempo
 comissões legislativas foram formadas e leis aprovadas, que livraria a sociedade dos fracos e ineficientes em
benefício dos mais produtivos e eficientes
mas o fiel da balança da justiça nem sempre pesou
corretamente
p. 209-211
 seguindo essa linha, Malthus defende que os males da
p. 201
sociedade têm fundamentação em leis naturais que regem a
 Adam Smith reconhecia o problema da parcialidade da
vida econômica:
justiça: “O governo civil, na medida que é instituído para a
 as regulamentações políticas e a administração da
segurança da propriedade, é na realidade instituído para a
defesa do rico contra o pobre, ou dos que têm propriedades propriedade apenas obliterariam a verdadeira causa
contra os que não têm nada.” (natural) da impossibilidade humana: as dificuldades
das classes trabalhadoras não residiriam em lucros
p. 201-202 excessivos, mas no descompasso entre o
 na Inglaterra o movimento cartista agregou a classe crescimento populacional e a geração de recursos
trabalhadora na busca por seus direitos trabalhistas e para a satisfação das necessidades de existência do
políticos homem (os alimentos)
 especialmente o sufrágio universal, que permitisse a  a capacidade da sociedade em aumentar sua produção de
ascensão da classe trabalhadora ao processo legislativo, alimentos seria lentamente suplantada pelo seu
certificando-se que as lei fossem feitas também pelos crescimento populacional, levando-se à miséria e fome
trabalhadores e também para os trabalhadores  em sua segunda edição de seu trabalho seminal (An Essay
 em relação aos direitos trabalhistas a mais importante on the Principle of Population), publicada em 1803,
reivindicação foi a própria organização dos trabalhadores Malthus concede uma alternativa para o problema: o
em sindicatos (uma evolução das antigas associações de controle moral da natalidade nas famílias
jornaleiros)
 apesar de não alcançar seus objetivos políticos imediatos, o p. 211
 o pensador seguinte é David Ricardo, com seu livro The
cartismo plantou as sementes do movimento pelo
Principles of Political Economy and Taxation, de 1817
sufrágio e determinou significantes avanços nos direitos
Resumo de 18
 a renda é representada pela diferença na produtividade de
p. 212 cada campo
 Ricardo propôs a Lei dos Salários  para o dono da terra ou para o arrendatário, o aumento do
 ele partia da teoria de Turgot (1766) de que o trabalhador preço do trigo representa um real aumento de renda,
vendia seu trabalho pro um preço barganhado com seu para o primeiro é um aumento no lucro sem que se
empregador, mas ao nível necessário à sua subsistência aplique qualquer trabalho, para o segundo é um aumento
 o empregador tentar pagar o menos possível, diminuindo de produção sem uma aplicação de trabalho extra
seus custos, e o trabalhador tenta receber o máximo
possível; assim, o empregador dará emprego àquele que p. 215
lhe cobrar menos, obrigando os trabalhadores a diminuir  assim, para Ricardo, os negócios entre o dono da terra e o
o preço de seu trabalho, em concorrência uns com os público não são iguais às relações de comércio
outros  no primeiro falamos de renda, no segundo de lucro
 essa acomodação ocorre no nível em que o salário é  no primeiro a perda recai totalmente sobre o comprador, no
suficiente para atender à mera subsistência do segundo as duas partes têm a ganhar
trabalhador
 Ricardo sustenta a idéia de salário de subsistência, mas p. 219
faz a distinção entre o preço de mercado do trabalho e  Walker desnuda a teoria de Senior e Mil sobre fundo de
o preço natural do trabalho salários, segundo a qual o salário decorreria do capital, ie:
dos resultados da indústria no passado (eg: do capital de
p. 213 giro)
 para Ricardo o preço de mercado é quanto se paga  Walker demonstrou que os salários vêm da produção atual,
realmente pelo trabalho, resultante da lei de oferta e sendo a produção a verdadeira medida dos salários
demanda – caro quando há escassez e barato quando
abundante p. 222-223
 o preço natural é o salário de subsistência – ie: a  Ricardo defendia a noção de vantagem comparativa com
alimentação, necessidades e conveniências necessárias base no livre comércio, mas sua posição partia da
à manutenção do trabalhador e sua família perspectiva de um inglês, do país que não só dominava o
 porém, por mais que o preço de mercado possa se desviar comércio internacional, mas encontrava-se em um estágio
do preço natural, aquele têm tendência a se conformar de desenvolvimento industrial bem mais avancado que os
com este outros
 Ricardo usa Malthus para ilustrar essa convergência: se o  Friedrich List, ao publicar seu Sistema Nacional de
preço de mercado está superior, as famílias têm mais Economia Política (1841), apontava a dificuldade que,
filhos, a oferta de trabalho cresce e o salário cai ao nível naquele momento, Alemanha e EUA teriam para alcançar
natural, e vice-versa a Inglaterra e estabelecer um comércio equilibrado,
dadas as diferenças em seus estágios de
 essa é a Lei dos Salários de Ricardo: desenvolvimento, defendendo proteções tarifárias
por mais variações hajam no preço de mercado do  List argumentava que o que torna grande um país não
trabalho, com o tempo os trabalhadores não receberão são suas riquezas, seu estoque de valores, mas sua
mais do que o necessário à sua manutenção e de sua capacidade de produzir valores que financiem seu
família consumo
 m.n: nesse sentido a Lei dos Salário de Ricardo seria uma  para ele as causas das riquezas são totalmente distintas
resposta natural ao dilema de Malthus, os salários da riqueza em si
regulariam a taxa de natalidade
 a tendência das famílias seria regular seu tamanho em
torno da manutenção e perpetuação da raça, respeitando CAPÍTULO XVIII
a Lei dos Salários “Trabalhadores de todos os países, uni-vos!”

p. 214 p. 226
 o autor aborda a polêmica em torno das Leis do Trigo – ie:  Marx ao contrário de muitos não se preocupou com um
na Inglaterra, controle da importação do Trigo enquanto o futuro justo, não se ocupou em descrever como seria uma
preço interno do produto não alcançasse dado nível sociedade justa e utópica, do futuro
 os industrialistas se opunham a tais leis, pois preferiam que  Marx preocupou-se me estudar o processo histórico de
o mercado regulasse seu preço a níveis mais baixos formação do capitalismo e das rodas que o moviam no
possíveis, reduzindo o custo da subsistência e reduzindo presente, não prescreveu uma fórmula para o futuro em
o preço dos salários; já os agricultores as defendiam pois seu “O Capital – Análise Crítica da Produção Capitalista”
lhes garantiam um melhor lucro
 assim segundo Ricardo, com exceção dos donos das  para Marx o socialismo seria um conseqüência inevitável do
terras, todos seriam prejudicados pelo aumento do trigo, capitalismo e não um sonho utópico
pois somente quem vive de renda ganha (a natureza da  o socialismo seria o resultado de forças definidas que
renda): quanto mais alto o trigo, mais altas as rendas operam na sociedade, sendo a mais importante, para
essa evolução, uma classe trabalhadora revolucionária
p. 214-215 organizada (que seria característica do capitalismo
 dessa forma Ricardo explica a natureza da renda: maduro)
 as terras tem fertilidade, qualidade e propriedades distintas,
suas produtividades são diferentes  enquanto na Economia Clássica a teoria era elaborada do
 se temos três campos, de 1ª, 2ª e 3ª qualidade, à medida ponto de vista do Capital, dos homens de negócios, na
que as terras vão sendo cultivadas, por agricultores Economia Marxista a teoria foi elaborada a partir do
capitalistas ou mesmo pelo proprietário, produzem, por Trabalho, do ponto de vista dos trabalhadores
exemplo, 100, 90 e 80 sacas, todas negociadas ao
mesmo preço  o ponto fundamental da teoria de Marx é que o capitalismo

Resumo de 19
se baseia na exploração do trabalho está preso à terra, mas para ganhar sua vida só pode se
empregar em troca de um salário
p. 226-227  o dono do dinheiro precisa então do trabalhador livre, para
 em uma economia escravocrata ou em uma economia dispor de sua força de trabalho para produzir
feudal, é evidente que tanto o escravo quanto o servo fazem mercadorias
um mau negócio, não têm escolha; na economia capitalista,  ao trabalhador livre resta vender a única mercadoria que
o trabalhador, apesar de livre, continua a não ter escolha e tem: seu trabalho, pois lhe falta todo o necessário para a
ainda faz uma mau negócio, a ele imposto realização de sua capacidade de trabalho
 o grau de perda do trabalhador, no entanto, será amenizado
à medida que o sistema capitalista tenha se estruturado e p. 230-231
os trabalhadores tenham se organizado em suas  por que “preço” o trabalhador livre vende sua mercadoria,
reivindicações o trabalho?
 a resposta a essa pergunta é a explicação do que Marx
 o conceito de mais-valia de Marx parte da teoria de Ricardo definiu como mais-valia
e da Escola Clássica de que o valor das mercadorias  m.n: para entender esse conceito, facilita pensarmos
depende da quantidade de trabalho aplicado na sua nos dois tipos de troca possível: MDM (ie: vender
produção mercadoria por dinheiro, para depois adquirir outra
 para Benjamin Franklin o comércio seria apenas a troca de mercadoria) e DMD (ie: comprar mercadoria para
trabalho por trabalho, sendo todas as coisas medidas depois revendê-la
pelo trabalho  o tipo MDM é uma troca mais rudimentar, não
específica ao capitalismo; mas o tipo DMD é uma
 Marx, entretanto, distinguia o bem em geral de mercadoria, troca específica do capitalismo, pois pressupõe que
que seria típica do capitalismo, onde a riqueza seria a alguém terá lucro
acumulação de mercadorias, tendo por unidade a  não faria sentido alguém comprar uma mercadoria por
mercadoria isolada
um preço, para depois vendê-la pelo mesmo preço,
assim pressupõe-se que o preço de revenda será
p. 228
maior, de forma que o tipo DMD seria melhor escrito
 para ele um bem se transforma em mercadoria ao ser
assim: dMD (cf. com Hunt, E. K., 2005, 2ª Ed.;
produzido para troca e não para o consumo direto
 quem satisfaz sua própria necessidade com seu próprio História do Pensamento Econômico – Uma
Perspectiva Crítica; Rio de Janeiro: Campus-Elsevier;
trabalho cria valor de uso, não mercadoria
p. 202-203)
 a mercadoria seria o resultado do trabalho aplicado não só
a valores de uso, mas valores de uso para outros, valores p. 231
de uso sociais, tem valor de troca  ao associarmos Hunt com a linha de pensamento do autor –
partir do conceito de Riccardo de trabalho aplicado –
 mas o que determina o valor (o “preço”) da mercadoria? podemos entender o que Marx definiu como mais-valia
 o valor ou taxa pelo qual as mercadorias são trocadas é  o valor da força trabalho aplicada pelo trabalhador na
determinado pelo trabalho aplicado na sua produção produção é medido – como qualquer outra mercadoria –
(como na economia clássica) pelo total de trabalho necessário para produzi-la; ie:
 esse valor de uma mercadoria será determinado pelo tempo equivale a todas as coisas necessárias à manutenção de
(quantidade) de trabalho social necessário à sua sua vida e de sua família (pois o trabalho é permanente e
produção relativamente ao tempo aplicado à outra deve ser mantido e perpetuado na linha do tempo da
mercadoria envolvida na troca sociedade)
 assim a força de trabalho aplicada na produção é medida
p. 228-229 pelo seu salário de subsistência do trabalhador; ie: o
 esse trabalho seria o trabalho social médio, aplicado em trabalhador recebe um salário em troca de sua
dadas condições sociais de produção médias, com uma capacidade de trabalho, tendendo aquele a equivaler à
determinada condição social média e uma habilidade média soma de dinheiro necessário a garantir a satisfação das
do trabalhador condições de manutenção e perpetuação da capacidade
 com isso Marx resolvia objeções levantadas quanto ao nível de trabalho do trabalhador e de seus filhos
de especialização do trabalho e à eficiência de um  o valor da força de trabalho é o valor dos meios de
trabalhador específico subsistência necessários à manutenção do
 assim uma hora de trabalho especializado poderia equivaler trabalhador,do mercado de trabalho
a duas horas de trabalho simples; e a hora de trabalho  esses meios de subsistência incluem alimentação, roupas,
não seria a hora de um trabalhador específico, mas uma energia, abrigo, etc., variando segundo o clima,
média estatística condições físicas, evolução história e grau de civilização
 dessa forma para Marx todo trabalho poderia ser do país
comparado e igualado, apesar de haver trabalhos de
natureza e características diferentes, na medida que todo p. 231-232
trabalho seria um gasto de força de trabalho humano  Marx define, assim, o trabalho como uma mercadoria
peculiar, negociada pelos trabalhadores e o capitalista no
p. 229-230 mercado de trabalho
 essa idéia de equivalência do trabalho social seria aplicada  a peculiaridade dessa mercadoria, para Marx, é que
aos próprios meios de produção, que seriam medidos na garantiria o lucro do capitalista: o trabalho pode criar
forma do trabalho necessário à sua produção, resultando em um valor superior ao seu – no trabalho é que se
uma tecnologia média fundamentaria o conceito de lucro
 aplicando a abordagem de Hunt ao raciocínio de
p. 230
Huberman, o capitalista, ao comprar trabalho, aplicá-lo na
 o trabalhador do capitalismo é livre: ele foi libertado do
produção de uma nova mercadoria e revendê-la, buscará
senhor feudal e dos meios de produção, não tem dono e não
seu lucro nesse mesmo trabalho – é da diferença de
Resumo de 20
“preço” que virá o lucro “...como podem as pessoas não ver, uma vez
 para Huberman isso se dá porque o trabalhador ao vender compreendido o sistema, que ele é o melhor plano
seu trabalho não o faz vendendo somente aquele possível para o melhor estado possível da sociedade.”
trabalho aplicado a unidades específicas produzidas, mas (Manifesto Comunista)
o vende pelo dia, pela semana e pelo mês de trabalho  a transformação socialista pressupunha aceitar-se a luta de
 assim se recebeu 200 reais na semana e produz em três dias classes e um solução socialista excludente da burguesia
o equivalente a 200 reais em mercadoria, os restantes dois – somente a ação revolucionária da classe trabalhadora
dias equivalem a uma mais-valia: nos primeiros três dias (o levaria à verdadeira emancipação social
tempo de trabalho necessário)trabalhará para si, para
satisfazer suas necessidades, nos últimos dois dias (o p. 236-237
tempo de trabalho excedente)trabalhará para o dono do  para Marx e Engels a luta de classes era verdadeira força
dinheiro, produzindo seu lucro – dessa forma o trabalho cria motora da história
um valor superior ao valor pelo qual foi vendido ao dono do  os movimentos e modificações ocorridos na sociedade são
dinheiro resultados das forças econômicas da sociedade – assim
entendiam a história
p. 232  a história seria, para Marx, uma seqüência de atos
 assim o valor de uma mercadoria é de fato determinado pela interdependentes, conforme uma padrão básico definido
quantidade total de trabalho nela aplicada por leis econômicas, dentro de um processo de evolução
 mas parte dessa quantidade de trabalho é realizada num do homem
valor, pelo qual foi pago um salário  a chave de tudo são as relações entre os homens como
 enquanto outra parte é realizada num valor cujo equivalente produtores
não foi pago – ie: um trabalho não pago  a forma pelo qual o homem vive é determinada pela forma
 assim ao vender a mercadoria pelo valor da quantidade de como ganha a vida, pelo modo de produção
trabalho nela aplicado (vip: a venda não pela quantidade predominante dentro da sociedade, em determinado
de trabalho aplicado, mas pelo valor do trabalho), o momento, ie: a maneira como a riqueza é distribuída e a
capitalista a vende necessariamente com lucro sociedade dividida em classes depende da organização
 para Marx o custo da mercadoria e o custo real são coisas dos meios de produção e de como os produtos são
diversas, e o lucro é obtido vendendo-se a mercadoria não trocados
acima de seu valor, mas pelo seu valor real
p. 238
p. 233  em acordo com sua concepção de história, Marx e Engels
 por tudo dito a mais valia pode ser entendida coma a medida reconheciam o papel revolucionário que a burguesia teve ao
da exploração do trabalho no sistema capitalista seu tempo, na luta pela derrubada do sistema feudal e na
emancipação da concorrência livre
 Abraham Lincoln dividia dessa visão com Marx: “Nada de  a transição do feudalismo para o capitalismo só foi possível
bom tem sido, ou pode ser, desfrutado sem ter primeiro pela presença de novas forcas produtivas e pela ação
custado trabalho. E como a maioria das coisas boas são revolucionária da burguesia, dando origem à
produzidas pelo trabalho, segue-se que todas essas coisas concorrência livre e a uma constituição social sob o
pertencem, de direito, àqueles que batalharam para produzi- predomínio econômico e político da classe burguesa
las. Mas tem ocorrido, em todas as eras do mundo, que
muitos trabalharam e outros, sem trabalhar, desfrutaram p. 239
uma grande proporção dos frutos. Isso está errado e não  Marx e Engels acreditavam que, tal qual o feudalismo, o
deve continuar. Assegurar a todo trabalhador o produto do capitalismo seria substituído por um novo sistema, dentro do
seu trabalho, ou o máximo possível desse produto, é o processo de evolução do homem – o desaparecimento do
objetivo digno de qualquer bom governo.” (Hay, J. and capitalismo seria devido à certas características suas:
Nicolay, J. G.; Abraham Lincoln, Complete Works; NY:  a crescente concentração de riqueza nas mãos de poucos
Century Company; vol. I, p. 92)  o esmagamento dos pequemos e médios produtores pelos
grandes produtores
p. 234  o uso crescente da máquina, substituindo um número cada
 Robert Owen: socialista inglês, escreveu o livro Book of the vez maior de trabalhadores
New Moral World, mas não foi um revolucionário  a crescente miséria das massas
 pregava uma reforma moral da ordem social sob os  a ocorrência de colapsos (crises) periódicos do sistema
auspícios do Rei William IV  a contradição fundamental do capitalismo: enquanto a
produção é cada vez mais socializada (coletivizada), a
 Charles Fourier: socialista francês também buscava um ideal apropriação é privada
utópico sem envolver a classe trabalhadora na direção do
movimento p. 239-240
 no capitalismo a criação do trabalho é, crescentemente, uma
 Saint-Simon: socialista francês, contrário à Fourier, mas empresa conjunta, um processo cooperativo, mas os
igualmente buscava a colaboração da burguesia para a produtos são apropriados individualmente pelos donos do
transformação social dinheiro, pelo capitalista, os donos dos meios de produção
 esse é o conflito fundamental: produção socializada vs
p. 235
apropriação privada
 Marx e Engels desaprovavam os socialistas utópicos
 essa situação é assegurada pela concentração dos meios
 os dois não acreditavam que seria uma transformação da
de produção nas mãos do capitalista, mas a medida que
sociedade que atendesse a todas suas classes e que
o trabalho socializado se organiza e se estrutura em
fosse levada a diante sem consideração das distinções
sindicatos, esse monopólio dos meios de produção passa
de objetivos de cada classe e que incluísse os interesses
a ser insustentável perante as reivindicações da classe
de todas as classes
trabalhadora, cada vez mais disciplinada, unida e
 para esses utópicos Marx e Engels argumentavam que
organizada

Resumo de 21
 a evolução do capitalismo para o comunismo seria inerente ao capitalismo pela ótica marxista
ao próprio capitalismo e inevitável  a saída para esse paradoxo viria no final do terceiro quarto
do século XIX com os trabalhos de Stanley Jevons
p. 241 (Inglaterra, 1871), Karl Menger (Alemanha, 1871) e Léon
 por conta desse conflito fundamental e por conta do papel Walras (Suíça, 1874): a teoria marginal da utilidade
chave da classe trabalhadora na evolução de transição do  os três paralela e simultaneamente chegariam à teoria do
capitalismo para o comunismo, Marx e Engels emprestavam valor fundamentado na utilidade marginal, que até
uma importância vital ao sindicalismo hoje é aceita e defendida pela Escola Ortodoxa

 igualmente por esse motivo eles acreditavam que o grande p. 247


mal do capitalismo era a propriedade privada:  em sua Theory of Political Economy Jevons propõe a
 a posse e monopólio dos meios de produção, garantidos utilidade como o fator determinante do valor de uma
pelo o instituto da propriedade privada, se transformam mercadoria
no grande instrumento de expropriação da classe  para a compreensão dessa proposição é necessário
trabalhadora primeiro entender o conceito marginal
 para Marx e Engels, a propriedade privada era uma
instituição capitalista e não tinha sentido, pois apenas um  marginal mensura uma variação – ocorrida em determinado
décimo da população tinha acesso à essa propriedade e fator envolvido na produção, consumo ou troca econômica –
para os outros nove décimos ela não existia, portanto a decorrente do acréscimo ou decréscimo de uma unidade
abolição da propriedade privada seria um benefício para desse fator; ie: consumo marginal, custo marginal,
a maioria produtividade marginal, etc.
 mais fácil de entender pode ser custo marginal, que seria o
p. 242 acréscimo no custo de produção de uma unidade extra
 para Marx e Engels o único caminho para a abolição da de dada mercadoria
propriedade privada seria a revolução comunista levada a  analogamente utilidade marginal seria o comportamento
cabo pela classe trabalhadora no valor ou no consumo de dada mercadoria conforme se
 Lincoln também acreditava em revoluções: “Qualquer povo, aumenta ou decresce sua oferta ou necessidade; ie: ela
em qualquer parte, tendo o desejo e o poder, tem o mede como a utilidade dessa mercadoria se comporta
direito de levantar-se e derrubar o governo existente e em função do aumento ou redução de uma unidade de
formar um novo, que lhe seja melhor. É um direito que, dada grandeza (unidade física, quilograma, tonelada,
acreditamos e esperamos, venha a libertar o mundo.” (ib., centena, etc.) da mercadoria, ou da necessidade que o
Complete Works, vol. I, p. 105) consumidor tem em relação aquele acréscimo ou
decréscimo
p. 243
 Marx e Engels argumentavam que o Executivo de um Estado p. 248
nada mais é que a representação da classe dominante  o valor da mercadoria aumenta ou decresce conforme
 o poderio estatal é usado no interesse da classe dominante aumentar a utilidade percebida, pelo mercado consumidor,
 na verdade, segundo os marxistas, o controle do Estado daquele acréscimo ou decréscimo na oferta
pela classe dominante é a razão pela qual o Estado  se o pão é um produto de oferta abundante, sua utilidade
exista, pois ele nada mais é que a organização política do marginal é mínima, para que seu preço seja
poder da classe dominante significantemente afetado é necessário que haja um
aumento ou redução relevante na sua produção
 Smith, reconhecia essa relação de controle do poder  se o preço de um carro médio de dada fábrica aumentar,
econômico sobre a estrutura política organizada do Estado com certeza sua utilidade marginal será ínfima, pois
capitalista: muitos consumidores migraram para uma outra das
 “Sempre que a legislatura tenta regulamentara diferença diversas marcas equivalentes disponíveis com menor
entre senhores e seus trabalhadores, seus conselheiros preço
são sempre os senhores.” (Wealth of Nations, vol. II, p.  em tempos normais o variações pequenas no preço de
143) diamantes pode determinar uma grande variação no seu
consumo dada a pouca utilidade que ele teria

CAPÍTULO XIX  a teoria marginal da utilidade desvia a atenção importância


“Eu anexaria os planetas, se pudesse...” da produção para o consumo
 relaciona o valor à idéia de satisfação e o torna um valor
p. 246 subjetivo
 a teoria do valor do trabalho, elaborada pelos economistas  quanto menor a necessidade ou maior a oferta, menor será
da escola clássica e expandida por Marx, teve dois ângulos: a utilidade marginal da mercadoria
 para os capitalistas, serviu como uma crítica mordaz ao
antigo sistema feudal e seus antigos senhores no campo, p. 249
que tinham garantida renda sem qualquer  da mesma forma a utilidade marginal pode ser aplicada do
contraprestação de trabalho ponto de vista do dono do dinheiro: o capital terá uma
 para Marx, serviu como crítica aos próprios capitalistas, por utilidade marginal na medida que ao investimento
fundamentar seu sistema no trabalho como o gerador de corresponder determinado retorno
riqueza para os donos do dinheiro e na exploração da  o capitalista na hora de investir na produção de dado item
classe trabalhadora, expropriada ou livre dos meios de levará em consideração o retorno que esse investimento
produção lhe trará comparado ao mesmo investimento na produção
de outras mercadoria (cf. com Custo de Oportunidade e
 assim a fundamentação do capitalismo sobre o trabalho Curva de Possibilidade de Produção)
serviu paradoxalmente como teoria sustentadora do
capitalismo vis-à-vis o feudalismo, mas também como crítica p. 250

Resumo de 22
 mais uma vez os exemplos da água, do pão e do diamante
podem nos ajudar a entender os efeitos do valor p. 253
fundamentado na utilidade  o desenvolvimento de novas tecnologias e técnicas nas
 a água até determinado nível diário de consumo é essencial fábricas e nos transportes criavam as condições para a
à vida, mas a partir de determinado nível seu consumo concentração da produção, maior especialização e divisão
começa a ter uma baixa utilidade marginal: após nos do trabalho e expansão da economia de escala, aumentando
alimentarmos e banharmos, qualquer oferta extra de e concentrando os lucros
água começa a se desvalorizar em nossa cesta de  a concorrência e a concentração do capital leva a gradual
consumo substituição do pequeno produtor pelo grande, que tem
 a importância do pão em nosso dia-a-dia é infinitamente uma maior economia de escala
superior à do diamante, mas em vista de sua ampla
oferta seu preço é infinitamente menor p. 254
 o diamante por sua vez tem uma oferta insuficiente em face  em 1904 a Standard Oil Company controlava 86% do
da procura que tem no mercado de luxo, atingindo preço petróleo refinado para iluminação, nos EUA
infinitamente superior ao do pão  como diria John D. Rockfeller: “A rosa American Beauty só
pode ser produzida, com todo seu esplendor e fragrância,
p. 250-251 sacrificando-se os primeiros botões que nascem à sua
 o conceito de valor fundamentado na utilidade marginal volta.” (Ida M. Tarbell; The History of the Standard Oil
também deve levar em consideração o produto no mercado, Company; The Macmillan Company, 1925)
em seu conjunto, ie: em relação à oferta total do produto
(como visto acima) e em relação à outros produtos  o truste é uma forma de organização da produção e
disponíveis (concorrentes ou substitutos) distribuição de dada mercadoria que dispõe de um controle
 seu valor não á dado pela importância de uma unidade de oferta suficiente para determinar um preço de mercado a
desse produto em relação a um consumidor, mas pela seu favor
relação que uma nova unidade (utilidade marginal)
ofertada desse produto tem com seu mercado específico, p. 255
pela relação com o acréscimo no nível de satisfação do  o cartel é uma associação contratual entre indústrias do
cliente e pela necessidade dessa mercadoria vis-à-vis mesmo ramo que se associam com o objetivo de operar de
seus concorrente ou substitutos forma monopolizadora em dado mercado, mantendo,
entretanto, sua independência legal
p. 251
 mais uma vez a utilidade marginal pode ser vista pelo ângulo p. 256
do produtor:  a concentração do capital não se verificava somente na
 a decisão de produzir uma unidade extra de mercadoria e o indústria, como também nos bancos
preço que por ela será cobrado devem levar em  essa concentração do capital fazia com que juros, preços e
consideração a percepção que o consumidor terá desse oferta fossem fixados e não alcançados pela livre
aumento de oferta concorrência
 eg: uma geladeira R$1.000 tem uma venda média de
100.000 unidades/mês p. 258
 a decisão de aumentar a produção ou aumentar o preço da  no último quarto do século XIX, o capitalismo da livre
geladeira passará pela análise do comportamento do concorrência consolida-se como o capitalismo do
consumidor monopólio
 o aumento de produção pode implicar novos investimentos,
p. 258-259
sendo esse o caso será necessário um aumento no
 essa concentração dos meios de produção provocou um
faturamento da firma
aumento nunca visto na produção e em breve a capacidade
 esse aumento no faturamento pode vir mediante aumento
industrial cresceu muito mais que a capacidade de
nas vendas ou aumento nos preços
consumo
 caso uma pesquisa de mercado indique que o mercado
 na verdade o que importava não será o nível de consumo
procurará concorrentes em face de aumento no preço, a
do mercado – que pode sempre consumir mais – mas
melhor alternativa pode ser reduzir o preço e aumentar
usa capacidade de consumir dentro dos limites que
as vendas para pagar o investimento extra
garantam o lucro desejado pelo capitalista
 dessa forma o truste e o cartel garantiram uma oferta que
p. 252
protegesse seus lucros – nem que para isso tivessem
 pela teoria marginal da utilidade pode-se compreender as
que manter parte de sua capacidade instalada ociosa – e
iniciativas protecionista em vários mercados do século XIX,
partiram em uma guerra por novos mercados
como nos EUA, Rússia, Alemanha e França – inclusive com
estrangeiros, que ainda não tivessem aderido à
a formação de trustes (EUA) e cartéis (Alemanha)
barreiras tarifárias
 as indústria daqueles países procuravam defender seus
lucros, sobrevivência e crescimento contra o oferta
p. 259
inglesa
 a saída para esses novo mercados livres de tarifas foram
 regulava-se a oferta para regular os preços
as colônias, especialmente na África, que seria então
repartida
 nesse sentido a formação de trustes e cartéis e as medidas
protecionistas representavam uma gradual substituição da p. 260
livre concorrência por monopólios, sendo o monopólio um  as colônias garantiriam, além dos mercados para o excesso
crescimento e decorrência natural da própria de produção, as matérias-prima que suas indústrias
concorrência necessitavam
 os trustes e cartéis de formavam a partir da livre
concorrência, esmagando os pequenos com guerras de p. 261-263
preços e maiores possibilidades de escala  os lucros excepcionais do capitalismo dos trustes gerou uma
Resumo de 23
superacumulação de capital  com a expansão da economia, a produção aumenta
 esse excesso de capital não foi vertido para investimentos  a menos que o dinheiro em circulação seja aumentado,
em infraestrutura ou melhora na condição de vida nos para corresponder ao maior fluxo de mercadorias, os
seus países preços cairão – ie: quando a Y, há deflação (os preços
 mas investido na construção de uma infraestrutura nas caem)
colônias, que garantissem e potencializassem o lucro do  as crises seriam efeitos da elevação ou queda no nível
capital da metrópole geral de preço, devido ao aumento ou diminuição no
 ou emprestado à colônia ou países do novo mundo, em volume de dinheiro em circulação
estágio de desenvolvimento anterior, a juros favoráveis  quando os negócios são bons, o dinheiro circula mais
aos bancos da metrópole e sob condições que depressa e os bancos concedem mais crédito (a juros
garantissem a compra de produtos ou serviços da mais altos)
metrópole  a economia se aquece e os bancos começam a achar que a
estrutura de crédito está se tornando pesada e retiram-se
p. 263 do mercado
 a política colonial aproximou os interesses dos  mas os industriais tem que permanecer para fazer seus
industriais e dos financistas das metrópoles, ambos investimentos renderem frutos, correndo o risco de
ávidos das oportunidades comuns nas colônias falência
 essa aliança foi a mola mestra do imperialismo  a quebra da produção gera recessão, gerando pessimismo
e contenção nos consumo e investimentos
p. 264-267  o dinheiro se acumula nos bancos ao invés de financiar a
 a dominação imperialista não era necessariamente mediante indústria e o comércio
uma estrutura política colonial
 muitas vezes, como na América do Sul, era determinada p. 277-278
por uma área de influência econômica e cultural,  se os homens de negócios não percebessem o aumento dos
mantendo o país na esfera do seu poder colonial (eg: preços, não seriam encorajados a tomar empréstimos para
Inglaterra na Argentina e no Brasil), inclusive usando de investir em produção de olho em ganhos com vendas a
suas forças armadas (como os USMC na América preços mais altos
Central)  evitar-se-ia uma injustificada expansão da produção
 a melhor maneira de se curar essa moléstia do
individualismo seria o controle da moeda e do crédito
CAPÍTULO XX
O Elo Mais Fraco p. 278-281
 Hayek não acreditava que a manipulação da quantidade de
p. 272 moeda para corresponder à produção seria uma solução
 a crise de 1929 não era uma crise como as outras, era o  para ele o remédio para uma crise com queda de preços
resultado da superabundância, nelas os preços não subiram,
seria uma redução nos salários e na assistência social
ao invés, caíram
aumentaria os lucros imediatos, preocupando-se com a
 havia algodão de sobra, capacidade industrial instalada de
restauração dos lucros
sobra e mão-de-obra de sobra
 Hobson acreditava que em momentos de prosperidade as
p. 273 rendas do capital cresciam muito mais que os salários
 no sistema capitalista as mercadorias não são produzidas  acredita que a elevação dos salários e assistência social
para o consumo, mas para a troca, para gerar lucro
seria o remédio, restaurando o consumo
 “Na moderna economia de troca (capitalista), o industrial
não produz com o objetivo de atender a uma certa p. 281
procura ... mas na base dos cálculos de lucros.” (von  para Marx o dilema do capitalismo seria exatamente a
Hayek, F. A.; Monetary Theory and the Trade Cycle; impossibilidade de coexistência das teorias de Hobson e
London: Jonathan Cape; p. 68) Hayek:
 “O lugar do homem de negócios na economia dos negócios  seria impossível restaurar os lucros e os salários ao
é ganhar dinheiro, e não produzir coisas...” (Veblen, mesmo tempo
Thorstein; The Vested Interest and the Common Man;
 um dos dois deveria ser sacrificado e, na visão de Marx, na
NY: W. Huebsch; pp. 92)
sua teoria da evolução do capitalismo, era o lucro que
seria sacrificado
p. 275
 haveria assim um tendência evolutiva histórica do
 A. C. Pigou atribuía as crises recorrentes do capitalismo a
períodos de prosperidade e de depressão decorrentes do capitalismo à redução da taxa de lucro
otimismo ou pessimismo dos capitães da indústria e suas
variações de previsões de negócios p. 281-282
 Marx dividia o Capital (k) em duas partes: o Capital
p. 276 Constante (c) e o Capital Variável (v)
 Para Keynes a razão seria a instabilidade do padrão de  Capital Constante (c) representa os meios de produção
valor (do dinheiro) físicos, eg: terra, máquinas, estoques, etc.; ie: no
 o dinheiro é um meio de troca, precário, instável processo de produção seu valor permanece constante,
 o valor da unidade monetária varia com o contexto estéril, não cria qualquer valor; seu valor se transfere ao
produto final sem qualquer adição
 pede um controle da moeda e do crédito (uma política
 Capital Variável (v) representa o trabalho aplicado na
monetária), fundamentado em uma relação estável entre
produção e como tal cria valor, o valor do trabalho
o volume de ouro produzido e o volume de dinheiro em
aplicado é transferido para a mercadoria com uma mais-
circulação
valia; o valor do capital variável é superior ao que vale
em si, dando origem ao lucro
p. 277

Resumo de 24
p. 282
 à medida que o capitalismo evolui, o capital constante cresce
em virtude dos investimentos e maior uso de automação e o
capital variável sofre a pressão da organização da classe
trabalhadora
 dessa forma a relação c/k aumenta, enquanto a relação v/k
diminui; ie: a participação do capital variável no capital
total vai se reduzindo, e por conseguinte a taxa de juros
também
 assim: a mesma taxa de mais-valia, com o mesmo grau
de exploração do trabalho, se expressaria numa taxa
decrescente de lucro
 a única forma de evitar a redução da taxa de lucro seria
aumentar a mais-valia (pagando os menores salários
possíveis) ou aumentar seu investimento em capital e
trabalho
 ie: para que a taxa de lucro não definhe, o capitalista
tem que aumentar sua produção indefinidamente
 o capitalismo dependeria, do crescimento constante do seu
produto final (eg: PIB)

CAPÍTULO XXI – A Rússia Tem um Plano

CAPÍTULO XXII – Desistirão Eles do Açúcar?

Resumo de 25

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