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AVALIAÇÃO HEURÍSTICA PARA GROUPWARES

MÓVEIS: UM ESTUDO DE CASO UTILIZANDO UM


AUDIENCE RESPONSE SYSTEM

Márcio J. Mantau, Luciana P. Araújo, Jucilane R. Citadin, and Carla D.M. Berkenbrock
Departamento de Ciência da Computação, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Campus Universitário Prof. Avelino Marcante – 89.219-710 – Joinville – SC – Brasil
dcc6mjm@udesc.br, lucianahh@gmail.com, jucilane.rosa@gmail.com, diacui@joinville.udesc.br

ABSTRACT
In conferences, congresses and symposia, there are issues that may be handled by applications that use mobile devices.
In this context, the mobile groupware titled Simple Question was developed to help the elaboration of questions during
symposia by the use of mobile devices. This paper aims to evaluate the Simple Question usability using 13 heuristics.
With these heuristics, three specialists evaluated the interface in three steps: (i) exploration of the system and its
features; (ii) usability evaluation step; (iii) consolidation of the collected data and reflection. The results show that the
heuristics survey were efficient, being that most of the 11 problems discussed were about error management, input
methods facility, reading and data visualization.

KEYWORDS
Mobile Groupware, Heuristic Evaluation, Usability.

RESUMO
Em conferências, congressos e simpósios existem questões que podem ser tratadas por aplicações que utilizam
dispositivos móveis. Neste contexto, o groupware móvel intitulado Simple Question foi desenvolvido para auxiliar na
elaboração de questionamentos ao longo do evento, utilizando os dispositivos móveis dos participantes. Este artigo tem
como o objetivo avaliar a usabilidade da ferramenta Simple Question utilizando um conjunto de 13 heurísticas. Com base
nestas heurísticas, três especialistas avaliaram a interface em três etapas: (i) exploração do sistema e de seus recursos; (ii)
avaliação da usabilidade; (iii) consolidação dos dados coletados e reflexões. Os resultados demonstram que o conjunto de
heurísticas levantadas foram eficientes, sendo que a maioria dos 11 problemas discutidos estão relacionados ao
gerenciamento de erros, métodos de entrada facilitados, e visualização e leitura dos dados.

PALAVRAS-CHAVE
Groupware Móvel , Avaliação Heurística, Usabilidade.

1. INTRODUÇÃO
A utilização adequada de dispositivos móveis durante palestras aumenta a interação entre público e o
palestrante (Teevan et al., 2012). Student Response Systems, Classroom Student Sytems, Audience Response
Systems, ou Clickers são termos utilizados para definir sistemas que podem ser utilizados durante apresentações
para fornecer um feedback ao palestrante, bem como uma maior iteração entre os participantes (Rechenthin,
Molenda, 2009).
Clickers possibilitam realizar pesquisas rápidas, de forma anônima e seus resultados podem ser utilizados
instantaneamente durante a palestra. De acordo com Esponda (2008) e Scornavacca et al. (2009), dentre os
benefícios da utilização Clickers em salas de aula pode-se citar: aumentam o interesse, a participação, a
compreensão e a discussão entre alunos; melhoram a percepção do professor das dificuldades dos alunos;
promovem um aprendizado mais efetivo; fornecem feedback para o professor; possibilitam maior motivação
dos alunos; e permitem o aprendizado coletivo. Rechenthin e Molenda (2009) mostram que, quando
utilizados corretamente, estes sistemas aumentam o envolvimento dos alunos na sala de aula.
O presente trabalho tem por objetivo avaliar a usabilidade do sistema colaborativo Simple Question a
partir de um grupo de heurísticas selecionadas. A avaliação heurística é um método consolidado e de custo
acessível, que permite identificar de forma rápida possíveis problemas no sistema avaliado (Kimura et al.,
2012). O Simple Question propõe uma nova dinâmica para reuniões presenciais. Entre suas funcionalidades
destacam-se: a elaboração de perguntas a qualquer momento sem interromper o palestrante; a utilização de
dispositivos moveis para elaborar perguntas; o anonimato do autor da pergunta; e a colaboração do publico
para seleção das melhores perguntas.
As próximas seções deste artigo estão organizadas da seguinte maneira: na Seção 2 são apresentados os
trabalhados relacionados com a presente pesquisa. Na Seção 3 é apresentado em detalhes o sistema a ser
avaliado, o Simple Question. A Seção 4 aborda as heurísticas selecionadas para a avaliação do sistema. A
avaliação da usabilidade do sistema Simple Question, realizada a partir das heurísticas, é descrita na Seção 5.
A Seção 6 apresenta os resultados obtidos. Na Seção 7 estão descritas as considerações finais e possíveis
trabalhos futuros.

2. TRABALHOS RELACIONADOS
Alguns trabalhos apresentam ferramentas do tipo Clickers para auxiliar na interação dos participantes em
grupos colocalizados. Dentre estas ferramentas, algumas são destinadas para dipositivos móveis (Lindquist et
al., 2007; Esponda 2008; Scornavacca et al., 2009; Teevam et al., 2012; Furquin et al., 2013), outras foram
desenvolvidas para serem utilizadas em ambiente desktop ou web (Rechenthin e Molenda, 2009).
Rechenthin e Molenda (2009) desenvolveram um Student Response System para a aplicação de
questionários em sala de aula. Cada aluno responde o questionário de forma individual, e ao final, o professor
tem acesso aos resultados.
Teevam et al. (2012) desenvolveram um sistema Clicker que permite ao público repassar o feedback ao
palestrante. O sistema é constituído de três componentes: cliente móvel, que fornece o feedback; visualização
compartilhada, para apresentar o feedback; e widgets desenvolvidos para incluir o palestrante no feedback. O
cliente móvel permite que os usuários forneçam o feedback positivo ou negativo da palestra. O aplicativo é
acessado via navegador web instalado no dispositivo (smartphones, tablets, laptops), através de uma URL.
Os resultados coletados pelos clientes móveis são apresentados diretamente em uma visualização
compartilhada, constituída de uma barra lateral disposta juntamente com a apresentação de slides. Os widgets
foram projetados para lembrar os membros da audiência a fornecer feedback e chamar a atenção quanto
situações interessantes ocorrem (grande quantidade de feedbacks positivos ou negativos, um grande período
de inatividade, grande quantidade de participantes, dentre outros).
Esponda (2008) desenvolveu um sistema intitulado Classroom Response System (CRS’s) para ser
utilizado via navegador de dispositivos móveis (smartphones ou tablets). O sistema permite realizar
perguntas de forma espontânea, no momento em que a pergunta surge (on-the-fly), mas também há a
possibilidade de aplicar questionários pré-elaborados.
Scornavacca et al. (2009) apresentam um sistema denominado de TXT-2-LRN (text-to-learn), que utiliza
mensagens SMS para que os alunos respondam as perguntas levantadas pelo professor durante as aulas. De
acordo com os autores, a utilização do sistema gerou um aumento na qualidade de feedback dos alunos, bem
como melhorou o interesse e a participação dos alunos.
Lindquist et al. (2007) desenvolveram um sistema que permite aos alunos apresentar soluções para os
exercícios propostos, de forma textual ou através de fotos, utilizando-se de seus dispositivos móveis.
Alguns autores desenvolvem modelos ou frameworks para melhorar os aspectos de colaboração em
aplicações móveis. González e Ruggiero (2006) apresentam um modelo conceitual de aprendizagem
colaborativa baseada na execução de projetos. Silva e Rabelo (2012) apresentam um sistema com suporte a
decisão com base em um protocolo de decisão como apoio gerencial.
3. SIMPLE QUESTION
O Simple Question foi desenvolvido para possibilitar a colaboração dos participantes de palestras, na
elaboração de perguntas a partir de dispositivos móveis (Balestrin et al., 2011). Esta ferramenta permite que
as perguntas possam ser realizadas a qualquer momento do evento sem a necessidade de interromper a
palestra e de forma anônima. Ao longo da palestra o público pode escolher de forma colaborativa as
perguntas de maior interesse.
O sistema desenvolvido consiste em duas interfaces principais: a interface móvel utilizada para a
realização das perguntas dos participantes, e a interface do mediador. O mediador será o responsável por ler
as perguntas realizadas pelos participantes e dirigi-las ao palestrante.
Furquin et al. (2013) desenvolveram novas funcionalidades no Simple Question apresentado por Balestrin
et al. (2011): verificação do entendimento da resposta, ou seja, após a pergunta ser respondida pelo
palestrante, pode-se verificar se o público conseguiu entender a resposta; filtragem das perguntas na interface
do mediador, útil em palestras com um grande volume de perguntas; ordenação das perguntas por diferentes
atributos, tais como título, autor e número de votos; e ajuste de visualização, permitindo que a aplicação se
ajuste de uma forma adequada a diferentes resoluções de tela.
Para participar da sessão colaborativa, é necessário que os participantes tenham dispositivos móveis com
acesso a rede Wi-Fi e um navegador web instalado. A aplicação possui suporte aos idiomas inglês e
português. Após efetuado o login no sistema é apresentado a tela com as respectivas perguntas da sessão
atual, conforme a Figura 1(a).
A partir da tela apresentada na Figura 1(a), o usuário tem a possibilidade de adicionar uma nova pergunta
bem como visualizar ou apoiar uma pergunta já existente. O processo para adicionar uma nova pergunta é
apresentado na Figura 1(b). Caso o usuário queira visualizar as informações de uma pergunta, ele deverá
selecioná-la na listagem da Figura 1(a), fazendo que esta seja exibida na tela como apresentado na Figura
1(c). Nesta tela o usuário tem a possibilidade de apoiar a pergunta, o que permite verificar, ao longo das
atividades, quais são as perguntas de maior interesse do público.
O Simple Question permite que os participantes avaliem as respostas dadas às perguntas, como
apresentado na Figura 1(d). Estes dados são convertidos em estatísticas e podem ser utilizados para avaliar o
desempenho do palestrante.

Figura 1. a) Apresentação das perguntas realizadas; b) Tela para realizar uma nova pergunta; c) Tela para visualizar e
apoiar uma pergunta realizada; d) Tela para a avaliação do entendimento da resposta.
A colaboração no sistema Simple Question se dá pelo fato dos participantes poderem votarem nas
perguntas dos outros durante a palestra. Os participantes podem apoiar uns aos outros, fazendo com que a
pergunta fique em uma colocação melhor na interface do mediador, tendendo a ser respondida. Outro fator
que envolve a colaboração é o feedback dos participantes com relação a resposta dada pelo palestrante. Cada
participante pode, individualmente, votar se a pergunta foi bem respondida ou não, permitindo que todos os
participantes da palestra tenham um feedback sobre a qualidade de sua resposta.
Para organizar e acompanhar o andamento da reunião, bem como dirigir as perguntas elaboradas pelos
participantes ao palestrante, foi desenvolvida a interface do mediador. A Figura 2 apresenta a tela principal
dessa interface. Como a interface foi desenvolvida para o ambiente web, é possível acessá-la através de
computadores fixos ou móveis. A partir desta interface, o mediador pode criar, editar, abrir, salvar e fechar as
sessões de perguntas. As perguntas realizadas são exibidas na interface do medidor em ordem decrescente de
apoios. Assim sendo, as perguntas mais relevantes na opinião dos participantes serão visualizadas primeiro.

Figura 2. Interface da aplicação do mediador.

4. AVALIAÇÃO HEURÍSTICA
A avaliação heurística é um método de inspeção de usabilidade em que a avaliação é realizada com base
em um conjunto de heurísticas, e que descrevem características desejáveis na interação, orientando os
avaliadores a inspecionar a interface em busca de problemas que prejudiquem a usabilidade (Nielsen, Mack,
1994).
Realizar uma avaliação heurística consiste basicamente em analisar a interface para relatar problemas
que, segundo a opinião dos avaliadores, não estejam de acordo com princípios de usabilidade. Nesse método,
os especialistas examinam o sistema e fazem um diagnóstico dos problemas e das barreiras que os usuários
provavelmente encontrarão durante a interação (Barbosa e Silva, 2010). Recomenda-se de três a cinco
avaliadores para a avaliação. Este método é consideravelmente rápido e apresenta um custo inferior em
relação a outros métodos de avaliação (e.g. experimentos/intervenções com usuários).
O conjunto de heurísticas proposto por Nielsen permite aos avaliadores analisar e avaliar a interface a
procura de problemas de usabilidade (Nielsen e Mack, 1994). Contudo, este conjunto de heurísticas foi
concebido para aplicações convencionais e está preocupado apenas com as questões de interação entre
usuário-sistema. Os aspectos de colaboração, essenciais em um sistema groupware, não são contemplados
por este conjunto. Baker et al. (2001) relatam que a avaliação de groupwares é mais difícil do que sistemas
convencionais, pois as metodologias de avaliação de usabilidade nem sempre possibilitam descobrir
problemas específicos do trabalho em grupo.
Baker et al. (2001) definiram um conjunto de heurísticas para avaliar a colaboração em sistemas
groupware, e foram baseadas em heurísticas convencionais (i.e. heurísticas de Nielsen). Apesar de estas
heurísticas não serem específicas para dispositivos móveis, elas apresentam questões importantes que devem
ser atendidas em qualquer groupware a fim de facilitar a colaboração.
Bertini et al. (2009) definiram um conjunto de heurísticas para avaliar aplicações especificamente
desenvolvidas para dispositivos móveis. Este conjunto de heurísticas também foi baseado nas heurísticas de
avaliação convencional, com as heurísiticas de Nielsen e Mack (1994).
Para a avaliação apresentada neste trabalho, serão utilizados aspectos importantes com relação a
colaboração encontrados nos três conjuntos de heurísticas apresentados anteriormente (Nielsen e Mack,1994;
Baker et al., 2001; Bertini et al., 2009). Os três conjuntos mostram-se complementares para a avaliação de
groupwares móveis, pois as heurísticas apresentadas por Nielsen e Mack (1994) avaliam a usabilidade de
sistemas de propósito geral, as heurísticas apresentadas por Baker et al. (2001) avaliariam as questões
referentes à colaboração, e as heurísticas apresentadas por Bertini et al. (2009) avaliam as questões referentes
aos dispositivos móveis. Neste trabalho foram adotadas as seguintes heurísticas:
H1 - Visibilidade do estado do sistema: o sistema deve fornecer feedback adequado aos usuários dentro
de um tempo razoável. Através do dispositivo móvel o sistema deve manter o usuário informado sobre o que
está ocorrendo. Além disso, o sistema deve priorizar mensagens a respeito de informações críticas e de
contexto, como status da rede, bateria e condições do ambiente (Nielsen e Mack, 1994; Bertini et al., 2009).
H2 - Compatibilidade do sistema com o mundo real: o sistema deve usar termos familiares ao usuário
ao invés de termos orientados ao software. Devem ser seguidas convenções do mundo real de modo que as
informações apareçam numa ordem sequencial e lógica (Nielsen e Mack, 1994; Bertini et al., 2009). As
informações devem ser apresentadas de forma natural e em uma ordem lógica, e sempre que possível o
sistema deve ter a capacidade de perceber as mudanças no ambiente e adaptar-se a ele (sistemas conhecidos
como context-aware systems).
H3 - Consistência e mapeamento: um usuário não deve adivinhar que diferentes palavras, situações ou
ações significam a mesma coisa. O modelo conceitual de interação do usuário com o sistema deve estar de
acordo com o contexto. O mapeamento entre as ações e interações do usuário (e.g. controles de navegação) e
a tarefa real correspondente (e.g. navegação no mundo real) deve ser consistente (Nielsen e Mack, 1994;
Bertini et al., 2009).
H4 - Reconhecimento ao invés de memorização: tornar objetos, ações e opções visíveis. O usuário não
deve ter que lembrar uma informação de uma parte para outra do diálogo. Instruções devem estar visíveis ou
ser de fácil recuperação quando necessárias (Nielsen eMack, 1994).
H5 - Flexibilidade e eficiência de uso: prover meios para usuários experientes acelerarem a interação e
de apoiar usuários novatos. Permitir que os usuários personalizem ações frequentes, bem como configurem o
sistema de acordo com a necessidade do contexto (Nielsen e Mack, 1994; Bertini et al., 2009).
H6 – Design estético e minimalista: diálogos não devem conter informações irrelevantes ou raramente
necessárias. Exibir apenas as informações que sejam importantes e necessárias. Os recursos de tela são
propriedades escassas e devem ser utilizadas com sabedoria (Nielsen e Mack, 1994; Bertini et al., 2009).
H7 - Gerenciamento de erros: mensagens de erro devem ser expressas com linguagem clara indicando o
problema e construtivamente sugerindo uma solução. Proteger os usuários dos erros que podem ocorrer.
Auxiliar o usuário a reconhecer, diagnosticar e se possível recuperar-se do erro ocorrido (Nielsen e Mack,
1994; Bertini et al., 2009).
H8 - Facilidade de entrada, visualização, e leitura da tela: dispositivos móveis devem fornecer meios
facilitados para entrada de dados, os dados apresentados na tela devem ser fáceis de serem lidos e navegados.
É ideal apresentar apenas informações cruciais sobre o sistema (Bertini et al., 2009).
H9 - Convenções estéticas, sociais e privativas: Levar em consideração aspectos estéticos e emocionais
a serem apresentados nos dispositivos móveis. Deixar claro que as informações do usuário estão seguras
(Bertini et al., 2009).
H10 - Fornecer comunicação de artefatos compartilhados (i.e. feedthrough): uma importante
necessidade de um groupware é disponibilizar informações sobre as ações dos outros usuários, reconhecer o
que os outros estão fazendo com os artefatos compartilhados (Baker et al., 2001).
H11 - Fornecer proteção: Em workspaces compartilhados o acesso simultâneo a um mesmo conjunto de
artefatos pode ocasionar conflitos. Em alguns casos, as ações de um usuário podem vir a interferir nas
atividades dos demais, e assim sendo, o sistema deve disponibilizar mecanismos para que estes conflitos não
ocorram (Baker et al., 2001).
H12 - Gerenciamento de colaboração de baixo e alto acoplamento: o acoplamento é o grau que as
pessoas trabalham em conjunto, e representa a quantidade de trabalho que uma pessoa pode realizar antes de
precisar discutir, consultar ou pedir uma informação para outra pessoa (Baker et al., 2001).
H13 - Permitir que as pessoas coordenem suas ações: um dos problemas encontrados ao longo da
colaboração face a face é como o grupo media suas interações. Ações de coordenação envolvem realizar as
tarefas na ordem certa, no momento certo, sem ignorar as restrições impostas (Baker et al., 2001).
Para cada problema encontrado segundo as heurísticas apresentadas, deve-se associar a uma gravidade,
que é baseada na combinação de três fatores (Kimura et al., 2012): i) A frequência com que ele ocorre (i.e. se
é comum ou raro); ii) O impacto do problema quando ele ocorre (i.e. se é fácil ou difícil para o usuário
superá-lo); iii) A persistência do problema (i.e. problema que ocorre uma única vez e que o usuário pode
superar, ou se os usuários serão repetidamente incomodados por ele).
Esses fatores influenciam os níveis de gravidade utilizados na avaliação, que podem ser classificados
como (Nielsen, Mack, 1994): 0) Não é encarado como um problema; 1) Problema estético que não tem
necessidade de ser corrigido; 2) Problema pequeno com baixa prioridade na correção; 3)Problema grande,
com alta prioridade de correção; 4) Problema catastrófico, onde é indispensável sua correção.

5. AVALIAÇÃO HEURÍSTICA DO SIMPLE QUESTION


A avaliação heurística do Simple Question foi realizada por três avaliadores, todos com conhecimento
prévio do método de avaliação, e também do ambiente a ser avaliado. A avaliação foi realizada apenas na
interface móvel da aplicação, conforme apresentada na Seção 3. A ferramenta Simple Question foi acessada
via browser sob o sistema operacional Android 2.2. Foi utilizado um dispositivo móvel, a saber, Samsung
Galaxy Tab P1000L e dois emuladores Android 2.3.
O processo de avaliação foi realizado em três etapas, como apresentado por (Kimura et al., 2012): i) uma
exploração do sistema, buscando e entendendo as funcionalidades a serem avaliadas; ii) período de avaliação,
onde cada avaliador utilizou o sistema separadamente, inspecionando a interface; iii) consolidação das
informações, onde os avaliadores compartilharam os problemas levantados, discutindo suas respectivas
gravidades e identificando possíveis soluções.
Ao final da avaliação, foram identificados as seguintes informações: i) problema encontrado; ii)
Heurística violada; iii) Gravidade associada; iv) possível solução encontrada.

6. RESULTADOS
A avaliação heurística encontrou 11 problemas de usabilidade, sendo que cada um dos avaliadores
encontrou um conjunto diferente de problemas. A Figura 3 apresenta a distribuição dos problemas
encontrados para cada um dos avaliadores.
A distribuição dos problemas encontrados, conforme apresentado na Tabela 1, indica que os principais
problemas do Simple Question estsão relacionados aos aspectos do gerenciamento de erros (H7) e facilidade
de entrada, visualização e leitura das informações (H8).

Tabela 1. Resumo das heurísticas, problemas e gravidade.


Heurística Problemas Gravidade média
H1 3e4 3
H2 5 2
H3 3e4 3
H4 -- --
H5 6 2
H6 11 2
H7 1, 2 e 7 3
H8 7, 8 e 9 3
H9 -- --
H10 -- --
H11 -- --
H12 10 3
Figura 3. Distribuição dos problemas encontrados.
H13 -- --

Não foi encontrado nenhum problema com baixa gravidade de correção (gravidade 1), ou que seja
considerado uma catástrofe de usabilidade (gravidade 4). Outro aspecto que pode ser observado, é que para
as heurísticas H4, H9, H10, H11, e H13, não foi encontrado nenhum problema de usabilidade, o que
demonstra que o aplicativo Simple Question está de acordo com o defendido por estas heurísticas.
6.1 Principais Problemas Encontrados
Problema 1: Mensagens de erro são exibidas na interface do usuário sem nenhuma forma de tratamento
(e.g. erros de SQL). Esse problema viola a H7 e é classificado como uma gravidade de grau 3. Como solução
sugere-se tratar os erros SQL, e, caso haja a necessidade de informar ao usuário sobre a ocorrência de um
erro, apresentá-lo em uma linguagem natural ao usuário.
Problema 2: O tamanho máximo de uma pergunta no Simple Question é de 1000 caracteres, entretanto
ao fazer uma pergunta com comprimento maior não é informado nenhum erro ao usuário. E ainda é
apresentada uma mensagem informando que a pergunta foi registrada com sucesso, porém a mesma não é
listada junto as perguntas realizadas. Esse problema também viola a H7, sendo classificado como uma
gravidade de grau 3. Como solução indica-se que seja tratado o limite do campo em tela, avisando o usuário e
permitindo os ajustes necessários na pergunta.
Problema 3: Falta de feedback ao usuário quanto à situação do sistema e as ações efetuadas por ele (e.g.
que perguntas fez, quais apoiou, quais avaliou). O usuário descobre com o uso que as perguntas apoiadas por
ele ficam na cor verde. O problema viola a H1 e a H3 e também é classificado como uma gravidade de grau
3. Como solução, aconselha-se a definição de uma legenda indicando o significado das cores e ícones, para
que fique claro ao usuário o status do sistema.
Problema 4: Confusão ao identificar a pergunta avaliada, pois independentemente se o usuário entendeu
ou não a resposta para a pergunta é apresentado na interface o mesmo ícone, indicando apenas que foi
avaliada (e.g. aparece o ícone para a pergunta avaliada, ainda que a resposta não tenha sido
compreendida). O problema também viola H1 e H3 e é classificado com gravidade de grau 3. Como solução
sugere-se definir ícones ou cores diferentes para pergunta entendida e não entendida, por exemplo:
positivo/verde – para entendida; e negativo/vermelho – para não entendida.
Problema 5: Permite ao usuário iniciar uma ação bloqueada, confundindo a lógica do processo (e.g. ao
clicar numa pergunta já apoiada, não é bloqueado o botão de apoio. O sistema informa o usuário que a
pergunta já foi apoiada por ele, apenas após ele tentar apoiar novamente). Esse problema viola H2 e é
classificado como gravidade de grau 2. Como solução indica-se que além da legenda de cores já comentada,
seja bloqueado o botão de apoio, já que a ação não pode mais ser executada pelo participante.
Problema 6: Perda da configuração escolhida pelo usuário (e.g. ao mudar a ordenação das perguntas e
então navegar dentro delas, ao voltar no contexto inicial a ordenação se perde, limitando a alteração da
aparência do sistema). Esse problema viola H5 e possui grau de gravidade 2. Como solução aconselha-se
manter a ordenação escolhida pelo usuário ao voltar no contexto inicial após a navegação.
Problema 7: Tratamento de erro inadequado e perda da entrada de dados do usuário (e.g. quando o
usuário utiliza um título já existente para a pergunta, o sistema trata o erro porém perde a pergunta digitada).
O problema viola H7 e H8 e é classificado como gravidade de grau 3. Como solução recomenda-se manter a
pergunta digitada, editando apenas o campo título para que seja substituído.
Problema 8: Falta de paginação nas perguntas (e.g. não há como paginar as perguntas com opção para
voltar a uma página anterior, ir para a próxima página). Esse problema viola H8 e também é classificado
como gravidade de grau 3. A solução para ele é fazer a paginação e permitir a navegação nas diferentes
páginas das perguntas.
Problema 9: A atualização das informações (e.g. lista de perguntas, participantes, número de apoios)
deve ser realizada de modo manual. Caso o usuário não faça constantemente a atualização da aplicação, sua
interação ficará prejudicada, pois não terá acesso a novas perguntas. O problema viola H8 e é classificado
como gravidade de grau 2. Para solução sugere-se fazer a atualização dos dados automaticamente, para
manter a integridade do ambiente visualizado pelo usuário.
Problema 10: Falta de mecanismo de busca para as perguntas (e.g. não permite ao usuário buscar
perguntas já realizadas por título ou palavra). Desta forma o usuário não visualiza se uma determinada
pergunta já foi feita, prejudicando a colaboração. O problema viola H12 e é classificado com gravidade de
grau 3. Como solução é recomenda-se permitir buscar perguntas por título ou palavras.
Problema 11: Não há separação entre as perguntas já respondidas e as ainda não respondidas (e.g. as
perguntas ficam ordenadas conforme configuração definida e não há separação para as perguntas já
respondidas/não respondidas). O problema viola H6 e é classificado como gravidade de grau 2. Como
solução é sugerida a definição de locais separados para as perguntas respondidas e não respondidas
melhorando o design estético da aplicação.
7. CONCLUSÃO
Este trabalho apresenta um conjunto de 13 heurísticas elaboradas para avaliar a usabilidade de aplicações
colaborativas móveis. Estas heurísticas foram elaboradas com base em três conjuntos de heurísticas presentes
na literatura: as heurísticas de Nielsen para avaliar a usabilidade de aplicações convencionais, ou seja, avaliar
os aspectos da interação humano-computador (Nielsen e Mack,1994); as heurísticas de Baker desenvolvidas
para avaliar os aspectos de colaboração (Baker et al., 2001); e as heurísticas de Bertini desenvolvidas para
avaliar a usabilidade de aplicações móveis (Bertini et al., 2009).
Com o conjunto de heurísticas levantadas neste trabalho, foi possível avaliar a usabilidade e a eficiência
de um sistema colaborativo para dispositivos móveis, denominado Simple Question. Percebe-se que dentre as
13 heurísticas levantadas, algumas não encontraram problemas de usabilidade na interface (H4, H9, H10,
H11 e H13), o que indica que o sistema avaliado está em conformidade com o defendido por estas
heurísticas. Conforme apresentado, 6 dos 11 problemas levantados estão relacionados ao gerenciamento de
erros (H7), facilidade de entrada, leitura e visualização das informações (H8), o que indica que a aplicação
precisa melhorar sua interface em relação a esses aspectos.
Com base na avaliação realizada, sugere-se que as heurísticas levantadas sejam aplicáveis para avaliar
outros groupwares móveis. Os requisitos analisados no sistema Simple Question atendem várias heurísticas
abordadas. Contudo, algumas heurísticas não foram atendidas, mostrando que há detalhes a serem
melhorados no sistema em questão.

REFERÊNCIAS
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8th IFIP Working Conference on Engineering for Human-Computer Interaction. Toronto, Canada. pp. 123-139.
Balestrin, G. et al., 2011. Uma Ferramenta de Colaboração Móvel para Auxiliar a Interção em Palestras Presenciais.
Proceedings of XI Brazilian Symposium on Collaborative Systems, Paraty, RJ.
Barbosa, S.D.J. and Silva B.S., 2010. Interação Humano-Computador. Editora Campus.
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Esponda M. 2008. Electronic voting on-the-fly with mobile devices. In ACM SIGCSE Bulletin.Vol. 40, No. 3, pp. 93-97.
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Apresentações mais Efetivas. Proceedings of VI SULCOMP. Criciúma, SC.
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