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ASPECTOS JURÍDICOS

APLICADOS AO SETOR PÚBLICO


Prof. Marcus Vinicius Corrêa Bittencourt
AULA 1

REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO

1. REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO

Apresenta-se o regime jurídico administrativo como um sistema especial


que coloca a Administração Pública numa posição de supremacia perante os
administrados para satisfazer às necessidades coletivas, mas, por outro lado,
estabelece uma série de restrições ao modo de agir do Poder Público.
O regime jurídico administrativo pode ser representado pelo binômio
prerrogativas/restrições, pois ao administrador público se atribuem várias
prerrogativas e “privilégios” para realizar as finalidades públicas que não são
encontrados nas relações de direito privado. Em contrapartida, no entanto,
existem limitações à sua liberdade de atuar para proteção aos direitos dos
administrados frente ao Estado.
Assim, para garantir a supremacia do interesse público, o regime jurídico
administrativo assegura prerrogativas (como o poder de expropriar, o poder de
alterar e rescindir unilateralmente os contratos administrativos e o exercício do
poder de polícia) e faculdades diferenciadas (por exemplo, prazos judiciais
mais dilatados e presunção de veracidade de seus atos).
Assim, o regime jurídico administrativo limita a atuação do Poder Público
na busca exclusiva do atendimento aos interesses públicos.

2. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Encontram-se expressamente previstos no art. 37, caput, da Constituição


os princípios básicos que informam a Administração Pública: legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Além disso, há ainda
princípios do Direito Administrativo que, apesar de estarem implícitos no
ordenamento jurídico, são de fundamental importância para a compreensão do
sistema, como é o caso do princípio da supremacia do interesse público sobre
o interesse privado e da indisponibilidade do interesse público.
3. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Representa uma integral subordinação do Poder Público à previsão legal.


Os agentes da Administração Pública devem atuar sempre de conformidade
com a lei, pois esta foi elaborada pelos representantes do povo. Nas relações
de direito privado é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, com base no princípio
da autonomia da vontade. Já com relação à Administração Pública, só é
permitido fazer o que a lei autoriza.
Assim, a Administração Pública não pode, mediante mero ato
administrativo, conceder direitos, estabelecer obrigações ou impor proibições
aos cidadãos. A criação de um novo tributo, por exemplo, sempre dependerá
de lei. Apenas a lei em sentido formal, ou seja, o ato resultante do exercício da
função legislativa, pode inovar o ordenamento jurídico.

4. PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE

A Administração Pública, no exercício de suas funções, deve atuar de


forma objetiva, uma vez que tem como missão tutelar o interesse público. A
impessoalidade da atuação administrativa pode ser verificada em duas frentes.
Em primeiro lugar, é vedado à Administração Pública prejudicar ou
favorecer certas pessoas ou grupos.
Em segundo lugar, deve-se entender que os atos administrativos sempre
são imputados à pessoa jurídica e não ao agente público que o pratica. Nesse
sentido, determina o art. 37, §1º, da Constituição que “a publicidade dos atos,
programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo
constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de
autoridades ou servidores públicos”.

5. PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

Com previsão expressa no art. 37, caput, da Constituição, a moralidade


administrativa é condição essencial no agir do administrador público. Além de
se comportar conforme o estatuído no ordenamento jurídico, o agente público
deve ter uma “atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”
(art. 2º, IV, da Lei nº 9.784/99). Assim, o ato administrativo, além de ser legal,
também tem de ser honesto.
Os atos de improbidade administrativa, segundo o art. 37, §4º, da
Constituição “importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”. A Lei nº
8.429/92 disciplina os atos de improbidade administrativa, modalidades,
cominações e processos de apuração.

6. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Como já mencionado, a Administração Pública tutela interesses de


terceiros (no caso, interesses da coletividade). Deve, portanto, haver
transparência em toda a atuação da administração, que permita conhecimento
e controle real por parte da sociedade a respeito da condução de seus
interesses. Tal transparência no trato da coisa pública nada mais é que o
princípio da publicidade expressamente previsto no art. 37, caput, da
Constituição Federal.
Assim, fica claro, frente ao art. 5º, XXXIII, da Constituição que todos têm
direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular,
ou de interesse coletivo ou geral, só se admitindo sigilo quando imprescindível
à segurança da sociedade e do Estado, consoante hipóteses previstas no
ordenamento jurídico.

7. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

Com a reforma administrativa promovida especialmente pela Emenda


Constitucional nº 19/98, houve a inclusão do princípio da eficiência no art. 37,
caput, da Constituição. Observe-se que o princípio da eficiência já se
encontrava previsto no Decreto-Lei nº 200/67, buscando disciplinar o
comportamento dos servidores públicos e o controle da Administração Pública.
A previsão do princípio da eficiência no plano constitucional significa uma
tentativa de alteração do paradigma existente para um sistema de mérito,
possibilitando maior controle de resultados na atividade administrativa. Assim,
exigem-se a apresentação de resultados positivos para o serviço público e
atendimento satisfatório das necessidades do administrado não apenas na
conduta do servidor público, mas também de toda a Administração Pública.
A Administração Pública deve pautar-se pela busca do máximo de
resultado com o mínimo de custo possível, contudo não se deve esquecer o
sistema em que está inserido o princípio da eficiência. Não se pode olvidar os
princípios da legalidade e da moralidade em nome de uma eficiência própria de
empresas privadas e inaplicável na seara pública.
AULA 2

PODERES ADMINISTRATIVOS

Para que a Administração Pública possa tutelar adequadamente os


interesses coletivos, o regime jurídico administrativo confere a ela
determinadas prerrogativas que se apresentam na forma de poderes
administrativos. Como instrumentos para o exercício da função administrativa,
essas prerrogativas de autoridades apenas podem ser utilizadas nos limites da
lei.
Serão examinados os poderes normativo, disciplinar, hierárquico, bem
como o poder de polícia. Para alguns autores, os poderes administrativos
poderiam ainda ser classificados em “poder vinculado” e “poder discricionário”,
de acordo com a liberdade do agente público para a prática de seus atos.
Poder vinculado é aquele que a lei confere à Administração Pública para a
prática de ato de sua competência, determinando os elementos e requisitos
necessários à sua formalização. O agente está totalmente preso ao previsto na
lei. Poder discricionário é o que o Direito concede à Administração para a
prática de atos administrativos com liberdade na escolha de sua conveniência e
oportunidade.

1. PODER NORMATIVO

O poder normativo consiste em ato administrativo com a função de


expedir normas complementares à lei, para sua fiel execução.

2. PODER HIERÁRQUICO

Para se compreender qual o conteúdo do poder hierárquico, faz-se


necessário esclarecer o que significa hierarquia. Esta pode ser definida como
relações internas de coordenação e subordinação existentes na Administração
Pública, atribuindo competências para órgãos e agentes para o adequado
desempenho da função administrativa.
O poder hierárquico busca coordenar, controlar e corrigir a atividade
administrativa, mediante uma série de prerrogativas deferidas pelo
ordenamento jurídico, como dar ordens; fiscalizar e corrigir a atividade dos
subordinados; delegar e avocar competências, desde que não seja atribuição
exclusiva, segundo a lei; bem como rever os atos administrativos para verificar
sua legalidade, conveniência e oportunidade, com a possibilidade de anulá-los
ou revogá-los, se for o caso.

3. PODER DISCIPLINAR

Define-se o poder disciplinar como aquele que compete à Administração


Pública no sentido de apurar infrações e aplicar penalidades aos servidores
públicos e outras pessoas submetidas à disciplina administrativa, como, por
exemplo, alunos de entidade de ensino público.
O poder disciplinar também tem como fundamento a hierarquia
encontrada na Administração Pública, buscando sempre aprimorar o serviço
público, mediante controle das funções e condutas internas dos seus
servidores.
Não pode ser aplicada penalidade, por mais simples que seja, como uma
mera advertência, sem prévia apuração por meio de processo legal em que
sejam assegurados os princípios do contraditório e a ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes (art. 5º, LV, da CF).

4. PODER DE POLÍCIA

Conceito

Modernamente, configura-se poder de polícia como a atividade


administrativa que condiciona o exercício das liberdades individuais em
benefício do interesse da coletividade.
A Constituição Federal garante o exercício normal dos direitos individuais,
mas não permite o abuso. Para evitar tal excesso, a Administração Pública
exerce o poder de polícia, tendo como fundamento o princípio da supremacia
do interesse público sobre o particular.
Uma vez que o exercício do poder de polícia configura fato gerador para
cobrança de taxa, conforme rezam o art. 145, II, da Constituição, e o art. 77 do
Código Tributário Nacional, houve previsão legal (art. 78 do CTN) explicando o
conteúdo dessa atividade administrativa: “Considera-se poder de polícia a
atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando direito,
interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão
de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades
econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à
tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
coletivos”. Dessa forma, o Poder Público limita o exercício dos direitos e
atividades que possam afetar a coletividade, como, por exemplo, os setores de
segurança, saúde e moralidade públicas.
AULA 3

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA

Sob o prisma subjetivo, a Administração Pública consiste nos órgãos


públicos e pessoas jurídicas. No âmbito federal, o Decreto-Lei nº 200/67, no
seu art. 4º, prevê que a Administração Pública federal compreende:

I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na


estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios;
II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de
entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista;
d) Fundações Públicas.

Encontra-se um conceito de órgão previsto na Lei nº 9.784/99: “unidade


de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da
Administração indireta” (art. 1º, §2º, I). Dessa forma, órgão constitui parte de
uma pessoa, de uma entidade.
Diferentemente das pessoas, entretanto, o órgão não possui perso-
nalidade jurídica, ou seja, não pode contrair obrigações nem exercer direitos
em nome próprio, uma vez que integra a organização de uma entidade, seja de
natureza política (União, Estados, Municípios e Distrito Federal), seja de uma
pessoa da Administração Pública Indireta (autarquias, fundações públicas,
empresas públicas e sociedades de economia mista).

2. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

A Administração Pública Indireta decorre da descentralização por


serviços, que consiste na instituição pelo Estado, por meio de lei, de uma
pessoa jurídica de direito público ou privado à qual se atribuem a titularidade e
a execução de determinado serviço público. Autarquias, fundações públicas,
empresas públicas e sociedades de economia mista integram a Administração
Indireta (art. 4º do Decreto-Lei nº 200/67).

Autarquia

A autarquia consiste em pessoa jurídica de direito público, criada por lei,


com capacidade de autoadministração, para o desempenho de atividades
típicas do Poder Público.
Como são criadas com personalidade jurídica de direito público, as
autarquias estão submetidas integralmente ao regime jurídico administrativo
aplicado à Administração Direta, ou seja, possuem as mesmas prerrogativas e
restrições do Poder Central.

Fundações Públicas

As fundações públicas são pessoas administrativas cuja criação depende


de autorização por lei específica, com capacidade de autoadministração, para
desempenho de atividade atribuída ao Estado no âmbito social, sujeita a
controle administrativo ou tutela exercida nos limites da lei.

Sociedades de Economia Mista e Empresas Públicas

Sociedades de economia mista e empresas públicas são pessoas


jurídicas de direito privado cuja criação é autorizada por lei específica (art. 37,
XIX, da CF), submetidas ao controle estatal, com vinculação aos fins definidos
na lei instituidora, para exercer atividade econômica, seja para intervenção do
Estado no domínio econômico (art. 173 da CF), seja para prestação de serviço
público (art. 175 da CF).
AULA 4

SERVIÇO PÚBLICO

1. CONTEÚDO DE SERVIÇO PÚBLICO

Conforme determina a Constituição Federal em seu art. 175, incumbe ao


Estado, na forma da lei, a prestação de serviços públicos, diretamente ou
mediante regime de concessão ou permissão. A dificuldade está em conhecer
qual atividade administrativa configura serviço público. A doutrina é divergente
na sua conceituação. Isto ocorre tendo em vista que, dependendo da época e
do lugar, altera-se a noção de serviço público.
Compreende-se serviço público como a prestação positiva, prevista em
lei, para satisfazer necessidades ou fornecer utilidades para a comunidade,
mediante um regime jurídico especial, predominantemente de Direito Público. A
atividade qualificada como serviço público caracteriza-se pela satisfação de
necessidades inerentes à dignidade da pessoa humana.

2. PRINCÍPIOS DO SERVIÇO PÚBLICO

As atividades administrativas qualificadas como serviços públicos,


exercidas por pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado, são
submetidas a um determinado regime jurídico. Não existe, contudo, um regime
jurídico comum a todos os serviços públicos. Dependendo da natureza da
atividade ou da pessoa jurídica que o executa, o regime jurídico pode ser de
direito público, normalmente para serviços públicos não comerciais ou
industriais, ou de direito comum (civil ou comercial), mas sempre derrogado em
certos aspectos pelo direito público, para serviços ditos comerciais ou
industriais.
Tradicionalmente, o regime jurídico que disciplina o desempenho de
serviço público consiste no traço característico dessa forma de função
administrativa, em atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana,
mediante a prestação de um serviço adequado.
A Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, ao dispor sobre o regime de
concessão e permissão na prestação de serviços públicos, trouxe parâmetros
para delimitar “serviço adequado”, ao especificá-lo como “o que satisfaz as
condições de: regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas” (art. 6º, §1º).
Em verdade, esse dispositivo legal não deixa de ser um desenvolvimento das
chamadas Leis de Louis Rolland, que primeiramente sistematizou os princípios
próprios do serviço público.
Dessa análise destaca-se um conjunto de princípios que são inerentes ao
serviço público. Embora a doutrina seja divergente ao definir quais seriam os
princípios do regime de serviço público e qual a denominação deles, três
princípios estão normalmente presentes: igualdade, continuidade e
mutabilidade. Deve-se observar, todavia, que apesar de ser possível encontrar
esses vetores em todos os serviços qualificados como públicos, não significa
que eles possuam a mesma consistência em todos os casos. De qualquer
forma, essa disciplina se apresenta diversa do regime jurídico em que atua o
Estado quando explora atividade exclusivamente econômica.
Os princípios da igualdade, continuidade e mutabilidade são
compreendidos, tradicionalmente, como princípios que caracterizam o serviço
público. Cabe examinar a perspectiva atual frente às alterações recebidas pelo
instituto.

3. PRESTAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO

A Administração Direta e Indireta executam determinados serviços


públicos denominados próprios, como visto acima, bem como existe a
possibilidade de transferir a execução de outros para particulares. Conforme
prevê o art. 175 da Constituição Federal, é dever do Estado a prestação de
serviços públicos diretamente ou indiretamente. Nesta última hipótese, o
Estado irá realizar uma parceria com a iniciativa privada, ao transferir a
competência para executar determinados serviços.
Observe-se que, nessa hipótese de descentralização, o Poder Público
não se despoja da titularidade, ou seja, do dever de prestar o serviço público,
mas apenas transfere a execução ao particular para que este a desenvolva
segundo as regras estabelecidas previamente pelo poder concedente, inclusive
quanto à política tarifária. O concessionário ou permissionário deve respeitar,
todavia, o regime jurídico estabelecido pelo Estado, tendo em vista que está
em jogo o interesse da coletividade.
O aspecto positivo nesse modo de descentralização consiste na
prestação do serviço público sem a necessidade de o Estado investir grandes
quantias de capital público, conservando, ainda assim, a disponibilidade sobre
o serviço. Ao particular caberá executar essa atividade, por sua conta e risco,
sendo remunerado, em regra, pelas tarifas cobradas diretamente dos usuários.
Nesta última hipótese, denominada descentralização por colaboração,
verifica-se que o Estado transfere, por meio de contrato ou ato administrativo
unilateral, a execução de certo serviço público a empresas privadas, mantendo
em seu poder a titularidade do mesmo.
São hipóteses de descentralização por colaboração a concessão e a
permissão de serviços públicos.
As agências reguladoras passaram a exercer a função de controle quanto
às concessões e permissões de serviço público, mediante o exercício de
inúmeras competências, como, por exemplo, regular a atividade
desempenhada pelo particular, realizar o certame licitatório para escolha do
concessionário ou permissionário, elaborar o contrato de concessão e
permissão, estabelecer a quantia da tarifa e de sua revisão, alterar unilateral-
mente as condições de prestação do serviço, aplicar penalidades, encampar,
decretar a caducidade etc. Em outras palavras, as agências reguladoras
possuem as prerrogativas que o ordenamento jurídico confere ao Poder
Público na concessão e permissão de serviço público.
Conclui-se que, como toda atividade administrativa, também no conteúdo
de serviço público, mesmo quando transferida a execução para particulares, há
o exercício de uma função pública, ou seja, o ordenamento jurídico impõe um
encargo à Administração Pública para tutelar interesses da coletividade. Dessa
forma, esses poderes administrativos das agências são instrumentos que
servem para corrigir eventuais falhas na execução do serviço por particulares e
existem apenas e tão somente para o atendimento dessa finalidade pública.
4. CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

A concessão de serviços públicos consiste em um contrato administrativo


firmado entre Estado e particular para que este execute um serviço público, por
sua conta e risco, e aufira remuneração, em regra, por meio de tarifa cobrada
dos usuários.

5. PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

Tradicionalmente, a doutrina conceituava a figura da permissão como ato


unilateral e precário, mediante o qual a Administração Pública transfere a
pessoa física ou jurídica o desempenho de um serviço de sua competência,
permitindo a exploração econômica dessa atividade, em regra, por meio de
cobrança de tarifa dos usuários. Como exemplo de tal situação, deve ser
lembrada a permissão de serviço público de transporte coletivo municipal
(linhas de ônibus), firmada antes da Constituição Federal de 1988.
A precariedade, tecnicamente, pode ser compreendida como a
prerrogativa de o poder concedente, titular do serviço público, revogar a
qualquer momento o ato de permissão, sem acarretar o dever de indenizar o
permissionário.
A Lei nº 8.987/95, que trata de normas gerais de concessão e permissão
de serviços públicos, define a permissão de serviços públicos em seu art. 2º,
IV, nos seguintes termos: “a delegação, a título precário, mediante licitação, da
prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou
jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e
risco”.
O art. 40 desta lei, entretanto, estabelece que a permissão de serviço
público será formalizada por meio de contrato de adesão, mantida a
precariedade e a revogabilidade unilateral do instituto. O art. 175, parágrafo
único, da Constituição também leva a entender que será delegada a permissão
contratualmente.
A sistemática estabelecida pelo art. 40 prevê a estranha figura de um
“contrato precário”. Na verdade, este representa uma contradictio in terminis,
uma vez que a ideia de contrato está associada a estabilidade numa relação
jurídica firmada entre as partes envolvidas, trazendo especialmente uma
segurança maior ao permissionário. Caso seja rescindido o contrato antes do
prazo estabelecido no contrato, sem culpa do particular, este receberá uma
indenização pela quebra do equilíbrio econômico-financeiro. Ao se afirmar que
será precária tal relação, retira-se a possibilidade de indenização na hipótese
de rescisão antecipada do contrato.
Para se justificar a permissão de serviço público como contrato seria
necessário enquadrá-la como um contrato por prazo indeterminado, sendo uma
ressalva à regra do art. 57, §3º, da Lei nº 8.666/93, que determina a
obrigatoriedade de período determinado nos vínculos contratuais celebrados
pela Administração Pública. Na hipótese de estipulação de um termo final, este
deve ser compreendido como um prazo referencial máximo, não garantindo
para o contratado direito à indenização pela rescisão antecipada.
AULA 5

RESPONSABILIDADE
EXTRACONTRATUAL DO ESTADO

A responsabilidade civil consiste no dever de reparação econômica de


danos causados na esfera patrimonial de terceiros. Pode ser contratual ou
extracontratual, caso seja estabelecida previamente em um contrato ou não.
O Estado, como pessoa jurídica de direito público, pode ser
responsabilizado extracontratualmente em virtude de prejuízo causado a
terceiros por atos e omissões de seus agentes.
A responsabilidade extracontratual do Estado corresponde à obrigação de
o Poder Público recompor prejuízos causados a particulares, mediante
indenização em dinheiro, em decorrência de ações ou omissões,
comportamentos materiais ou jurídicos, lícitos ou ilícitos, imputáveis aos
agentes públicos no exercício de suas funções.

1. RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO BRASIL

A Constituição Federal de 1988, seguindo uma tradição estabelecida


desde a Constituição Federal de 1946, determinou, em seu art. 37, §6º, a
responsabilidade objetiva do Estado e responsabilidade subjetiva do
funcionário.

Art. 37. [...]


§6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Para ocorrer a responsabilidade objetiva são exigidos os seguintes


requisitos: a) pessoa jurídica de direito público ou de direito privado prestadora
de serviço público; b) entidades que prestem serviço público; c) dano causado
a terceiro em decorrência da prestação de serviço público (nexo de
causalidade); d) dano causado por agente, de qualquer tipo; e) de que o agente
aja nessa qualidade no exercício de suas funções.
Verifica-se, desde já, que não apenas pessoas jurídicas que pertencem à
Administração Pública são responsabilizadas objetivamente por danos
causados por seus agentes, mas também entidades particulares, como
concessionárias e permissionárias de serviço público, respondem
objetivamente por prejuízos a particulares.
Nessa mesma linha, esse dispositivo constitucional (art. 37, §6º) não
incide sobre as pessoas administrativas da Administração Indireta que
exploram atividade econômica. Assim, no caso de empresas públicas e
sociedades de economia mista que não prestam serviços públicos, devem ser
aplicados os princípios de responsabilidade civil próprios do Direito Privado.
Em que pese a aplicação da teoria da responsabilidade objetiva ser
adotada pela Constituição Federal, o Poder Judiciário, em determinados
julgamentos, utiliza a teoria da culpa administrativa para responsabilizar o
Estado em casos de omissão. Assim, a omissão na prestação de serviço
público tem levado à aplicação da teoria da culpa do serviço público (faute du
service). A culpa decorreu da omissão do Estado, quando este deveria ter
agido. Por exemplo, o Poder Público não conservou adequadamente as
rodovias e ocorreu um acidente automobilístico com terceiros.

2. HIPÓTESES EXCLUDENTES E ATENUANTES DA RESPONSABILIDADE


ESTATAL

A responsabilidade do Poder Público não existirá ou será atenuada


quando a conduta da Administração Pública não der causa ao prejuízo ou
concorrerem outras circunstâncias que possam afastar ou mitigar sua
responsabilidade.
Em geral, são chamadas causas excludentes da responsabilidade estatal
a força maior e a culpa exclusiva da vítima. Nestes casos, não existindo nexo
de causalidade entre a conduta da Administração e o dano ocorrido, a
responsabilidade estatal será afastada.
Numa hipótese de força maior, ou seja, de um acontecimento excepcional
e imprevisível, alheio à vontade do Estado, como um raio que incendeia uma
casa, não cabe responsabilizar o Poder Público pelo sinistro ocorrido.
Existe, entretanto, a possibilidade de responsabilizar o Estado, mesmo na
ocorrência de uma circunstância de força maior, desde que a vítima comprove
o comportamento culposo da Administração Pública. Por exemplo, num
primeiro momento, uma enchente que tenha causado danos a particulares
pode ser entendida como uma hipótese de força maior e afastar a
responsabilidade estatal; contudo, se o particular comprovar que os bueiros
entupidos concorreram para o incidente, o Estado também responderá, pois a
prestação do serviço de limpeza pública foi deficiente.
Observe-se que cabe ao Poder Público o ônus de provar a culpa da
vítima ou a existência de força maior.
REFERÊNCIA

BITTENCOURT, Marcus Vinicius Corrêa. Manual de Direito Administrativo. 4


ed. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2010.

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