Saberes Do Nós

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‘Certamente poderemos encontrar multos fatores pelos quais identificar um movimento social. Mas lum é inconfundivel: um conjunto de pessoas e agées pode ser chamado de movimento social se estabelece a sua centralidade na educacao popular. Pode até ocorrer a organizagao das relvindicactes populares, dando-Ihes substancia politica, jé que vivemos em um pais marcado por uma estrutural ¢ estruturante excluséo de grande parcela da Populagao, das riquezas que ela mesma produz. Mas, mesmo nesse caso, as atividades dos movimentos socials devem ser sempre assumidas ‘como atividades geradoras e comunicadoras de diversas modalidades de conhecimento. 122009 by adi de Mois soe (On) us Conia. 8, 40, Le. 2629 Secremriae Fax (Oxx62) 2271814 ~ Revistas (Onx62) 2271815 Jt Abe Hon Cao May TS Madd gia ii le a Ca 1119, don er de oe vine sa Jt de Mort evs fom) Ang Cian Bly Mann al ~ Gn Bards UGG, ISON: ws.r103-2049 su, je de Mont ag. Meee, Ange Cine Ble Ip Boil "Gane mi con ta pe wi ard mt ea ina ‘Freeaady moe de det et ‘rnp pe 0 ope pts pase Polis po 5. ONGs, TERCEIRO SETOR E ESTADO: [AS POSS{VEIS PERVERSIDADES DE UMA RELAGAO COMPLICADA José Adeton da Cruz SOBRE OS AUTORES “a7 173 APRESENTAGAO vvando, em meio as manifertages mais fecundas e amplamente partihadas de repulsa & ditadura militar, 0 poeta Chico Buar- que cancou “Apesar de voce, amanhé ha de ser outro dis’, etava expres: Sando nio por cle apenas, mas por toda uma geragio de estudantes, intelectuais, misicos ¢ artistas que a morte € 0 silenciamento nio sobreviveriam por muito tempo. Fram frucs da vontade de uma mino- tia acovardada nas armas ¢ dstante dos sonhos da grande maioria da populacio brasileira, para quer, em geral, fltavam eacolas, moradias ‘e mests fartas, mas eobejava a esperanga convertida em cantos, poe- Sian, pecas de teatro. Gradativamente, esa esperanga coletiva Foi g2- ‘shando outtos sujeitos e outros nomes: partido politico possvel, movimento contra a cartia, movimento pela ansta,rformulasto Pasidiia elegber dtetar © tantor ros espalhados plas médias © grandes cidades. Preendiase 0 “fim da hist na vontade de uns poucos, mas cla nfo veioe no vck porque a vida em sociedade ndo € produto da Seontade de grupos, por mais Huminados ques juguem. Tem sido recor- Tememente produrida por suas prpriascondighese pelos fxores que 4 compéem. Essa € uma iéia que jf vem de longe mas ctncas socials ‘Mas no seu pereurs brasileiro, devemes a sua ssematizagio a0 mestre Floretan Fernandes, especialmente no seu pequeno grande texto: A heranct atlecrual de ociolegia, quando di: _Acipae iliac, come rita esl um aod prt ue pri omen omc cs nde bmi oma odem prod els ‘rip conned ond fore prado da ide ei. “das ee E foi no avolumar dinimico © sempre confltve desss cond 40es toclais que 0 Brasil comesou o rerceto milénio elegendo um Spero predénca da Replica, endo sido ee eo seu partido conse {hidos ness mesmas Luts socials organiadas a0 flo de pelo menos, Gqaero décadas. Eis pos uma nova situago hitica istaurada qu, in sombra de divide, seri sempre muito dramitica para a condugto {do governo Lula: govenar com os movimenos socias que vém hi tempos conscruindo as condiges da sua propria emergéncia. J& que or problemas que afligem 0 povo desde cas longas datas alnds no foram solucionadose jé surgiram autos, com, por exemplo, 0 aggan- tamento da viléncia e do crime organido, Forno, quelas mes ‘nasragbes coletvas organiadas precisam continua sconreczado, O foverno Lala s6 fark sentido se els continuarer. E a, governar com ipove nas eua srt mais um eapisulo importante da histria bral, {fue sel indiscutivelmente gerador de outros antes e differs aprendi- ‘dos para todo os agentes Soins envolidos, IR diego da historiidade no pode ser pretendida por um presidente ~ de qualquer lado que cle tena vindo ~ nem pelos seus rupos de sustenagio, As ag6s cletivas oxganizadas vio ear cons- fantemente em lua pelo dia a participa dela. Plo menos ¢ assim {gue entende um dos principals intéspretese sstematzadores dais tbria dos movimentos sciis, Alain Touraine. Em La oil égards |diz Touaine “Um movimento socal a agio clea oranizada por Meio da qual um ator dominante 0 dominado lua pela disyfo so ‘dal da historiedade num conjunto hstrico “Dor iv, para ese ator, extudar os movimentos socials nfo é csradar im dominie ov um capitulo particular da socolgia. As sela- (6es socials ¢ sua dindmica confliiva constituem-se. no. proprio obje- 10 da sociologias_ [Esrudar or movimentas soc significa ambém conhecer = _ propria configuragio do Estado, que nio pode ser entendido apenas Eom um conjunco de agentes c institigbesencaregadas exlusivas {vida politica de uma sociedade. Na perspeciva grarucana, &pre- ‘Gro concebélo-de-mancia ampliad, na unio da Sociedade polica ‘ocedade cv, Ou st, o Estado nfo se resume aos érgios de poder weinamentas, portant, nio € apenas um espago de po- der eserigo da clase dominante. Assim expeessa Maria da Gloria 10 Gohn, importante pesquisadora dos movimentos socias no Brasl ¢ ‘comentadora de Gramsci, A autora diz ainda que pensar © Estado de acardo com essa concepeio, dg adit qu made scl Jam proces grad amas do pir Force ce de presi eso res de rangormaa da rode so alr pris pel dence deacon re ‘ren dnt sinc uri ements be ds dan, ‘ewe alia dln nec iors Mas, © que fzem of movimentos sociis? © que os earacteriaa de forma se poder dive, a0 mesmo tempo, se um determinado con- jumto de pesoas © agbes é 04 nio um movimento social e, que uma Jeerminada dimensio do exsde humano s6 poss ser criada desen- “olvida ow operada por um movimento social? Tal pergunta nao se eve a uma preensio moraizadora, de cunho maniquesta, mas pa fe de uma constatagio histrica, Jé desde o8 anos 1990, indimeras ‘rganizages sugiram no Bal, fzendo uma intermediacdo entre 38 Dolicaspovemarsnraiscompensatirias as demandas populares por Pneagie bésca, atendimento médico-hospitala, moradis, emprego Senda: preservagio ambiencal « outas. E em muitos casos esas oF fniragées apresentam-se como movimentossocais ou sio clasifia- fs como ual pelos destnatvis de suas apes e até por analisas. ‘Cersamente poderemos encontrar muitos facores pelos quais lencifcer um movimento socal, Mas um é inconfundWel: um con: jumco de pesous e agbes pode ser chamado de movimento social se Ueabelece a sua centralidade na educapéo popular. Pode até ocotrr 2 Sngenlagio das rcivindiagbes populates, dando-thes substincia po- Tica, j2 que vivemos em um pais marcado por via estratural © festrusurante exclusio de grande parcela da populagio, das riquezas (Que cla mesma produz. Mas, mesmo -nesse caso, a8 asvidades dos ‘Rovimentos socais devem ser sempre astumidas como atividades ge- ‘idoras e comuniadoras de diversas modalidades de conhecimento ‘io basta 0 etendimento dss necessidades mals prementes das pops- lagder excluldas do desenvolvimento das moderaizagbes recorrente- mente conservadorss. ‘Além disso, € fundamental para as camadas populares que as cas nas quals se envolvem sejam cambém acbes educatves, ‘num sentido amplo, que inclui também iniciagio © ampliagio no conhecimento e pritica da excita, mas, sobrerudo, ages que influenciem culturalmence essas mesmas populagées. A luca politica organizada, desde o nivel micro do ambiente de moradia e do bairo, af o nivel macro do Estado e da Federacio, deve promover entre os seus sujeitos uma capacidade gradativamente mais ampla, para uma andlise dos condicionantes do seu estado econémico, culeual e socecirio atual bbem como igual capacidade de formulacso de projetos consistentes € praticéveis de transformagéo dessa mesma realidade, Sem isso, as lu- {as socal correm o cisco de se transformarem em meros agenciamencas de recursos ou numa acomodacio das inquietacées e dos conflitos sociis. A consttuigdo de sueitos e protagonists da histéria € 0 hori- onte maior de toda luca poltica que, portanto, rem que ser sempre tuna luta de sujeicos coleivos, aprendentes e ensinantes. (Os cinco textos ora apreseneados reptem essas questbes, com toda a sun conflvidade, endo sempre como horizonte a teflexio sobre (95 movimentos sociais enquanto conjunco de priticas educativas, Sio decortentes das itimas pesqusas dos seus autores, codos integrados 4 Linha de Pesquisa "Educacio, Trabalho e Movimentos Sociis” do Programa de Pés-Graduacio em Educacio da Universidade Federal dde Goiis, Truzer a piblico esta pequens coletines tem por objetivo cespectico socalizar essa producio, num esforco conjunto de carace- sizar o uabalho da Linha de Pesquisa, se possivel, motivando outras penoas 4 nos ajudaren nessa eomerueao coleiva de conhecimento No primeiro texto, “Fducaco para além da escola", Angela Cristina [Belém Mascarenhas apresenta as bases desse trabalho coletivo de re- flexio sobre a perspectiva educatva dos movimentos socais, inician- do por dizer de estreita relagéo entre educario e cultura, A educagio se faz ndo apenas em agéncias convencionadas para iso, mas em to- dor os espagor em que ar pertoasextabelecem significagées aquilo que fazem, Iso se di, expecialmente quando esas sgnificaghes sto consteuldas ¢ trocadas pelos grupos sociais. E nesse horizonte que Angela Mas- | ‘arenas destac a atua¢o dos movimentossocisis, buscando caracteriza- los como produgio coletva de saberes, especialmente quando lutam pelas tansformarées das condigées de vida e de trabalho. No texto de minha autoria, "Movimentos sociais ¢ novos mov ‘mentos socias”, essa temética aparece inserida no préprio objeto da 12 Ay (x08 Sociais (NMSS), no pés-década de 1970. Procu sociologia, que sio as relag6es sociais, por isso mesmo foi incsiva- ne ating pela en de paradigmas das cis soi sbejamen- ‘Mee diseatid, Tso signifi dizer, mas precsamente, de um esgoramento So conceito luce de le para se analisar os movimentos socials prin- | cipalmente na sia nova fase, comprecndida como Novos Movimen- repor & bass tds dessa avaliagSo critica «, a0 mesmo sempa propor um outro concsito =o conesito cama. na acepeio. de Bourdieu —.na tentaciva de oferecer ao. debate sobre os movimentos sociais, em par- siculs, relacionados 3 educacio, a sua dinimica neces ‘O texto de Carlos Rodrigues Brandio, “A vida reinventada", fot posto intencionalmente na seqiéncia desta discussio sobre os novos Iovimentos socisis, poi é esse contexto que 0 autor disute os mo- vimenror ambienaists. No final do steulo XX houve uma multipl ‘pio da quantidade e da variedade dos movimentos sociais. Como Participagio em im movimento social supoe sempre uma escolha, fm decorréncia, foram mulkiplicadas também as possibilidades de escolha, Iso tem influéncia direta nas formas de auto-atibuigio de Sentidos vvidos pelos individuos. Ou sea, a eonstructo da idenida- de passou a combinar cada vex mais, feixes de atibutos culeurais na teallzgio do nér-mesmos. Em especial, constiuindo esses fixes, inte grando um grande leque de novos movimentos sociais, esto os mo- imentos que expresiam wma voeapdo-narurest — genetalizadamente, ‘oe mosimentor retain om for da vida vd natura ‘Ari Lazaro Filho anaisa no texto "O proceso educaivo da luca pela terra no Estado de Santa Catarina’, as novas qualidades con- ‘quistadas pelo MST em meto acs luta. O MST ado luta pela propsie dade privada da torr, mas-pela propricdade social, Por isso, numa perspectiva gramsclana, na articulagfo entre « formacéo teérca e as priticas coletivas do movimento s40 formados os ineletis, 0 fo ‘adores da conscitncia coletiva que, inclusive, sio deslocados para viérios outros estados da federagio, para contribuir nesse proceso de Tormacio de mancira mais global. Mas, desse proceso de formacio inelectual fae parce também ar priticas da rligiosidade popular © 4 relagso dos camponescs com a naturera, present na prego dos lideres do Contestado no Estado de Santa Catarina, Numa outra pers pectva da pritcareligiosa, a Igreja Catsica das Comunidades Eclesiais ligadas s tutas © 20s movimentos socias ganham destaque: mul- de Base e da Comisséo Pastoral da Terra participou também intenss- mente desse processa de lita no estado, surgindo as principaislide- rancas do MST dos grupos e priticaseatdicas. Juntando todos esses ingredients, diz o autor que “o educativo da luta pela terra através da corganizasdo dos trabalhadores implica na formagio de uma autono- mia e de um projeto soci, contrapondo-se 4 reorganizagio do modo de producto capialist’. TE nossa coletinea encerra-se com o texto “ONG, tercero seror

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