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Caderno de

Referência de

Conteúdo

Ementa –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Estudos das teorias metodológicas em Educação Física Escolar. Análise dos aspectos

voltados para o ensino da Educação Física no ambiente escolar, tomando

como base as propostas curriculares ofi ciais e formas adequadas de trabalho

didático. Fundamentação teórica, princípios dos métodos e técnicas de ensino.

Elaboração de teorias pedagógicas.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO

Quais são as principais teorias metodológicas em Educação

Física escolar? Qual a importância dessas teorias para a nossa área?

De que forma as propostas curriculares oficiais contribuíram para

a melhoria da prática pedagógica dos professores? A disciplina de

Educação Física permite a utilização de metodologias variadas? Estes

serão os desafios que teremos pela frente no desenvolvimento

deste Caderno de Referência de Conteúdo.

A Educação Física tem um campo vasto de reflexão, portanto,

discutir as principais teorias metodológicas e propostas curri-

8 © Fundamentos da Educação Física Escolar

culares que fundamentam o trabalho do professor de Educação

Física no âmbito escolar é apenas o pontapé inicial para outras

discussões referentes a esse componente curricular.

Neste Caderno de referência de conteúdo (CRC), o objetivo

será justamente esse: possibilitar uma reflexão criteriosa acerca

dos fundamentos da Educação Física escolar, no sentido de conhecer,

compreender e refletir sobre as diferentes abordagens e propostas

que são, na atualidade, as bases teóricas da Educação Física

escolar. Nas unidades que se seguirão você terá a possibilidade

de compreender esse universo conceitual, além dos seus desafios


para promover um viés sistematizado da prática educativa.

Por se tratar de um campo amplo de análise, destacamos as

principais teorias metodológicas, as propostas curriculares oficiais

que fundamentam a Educação Física na Educação Básica e alguns

métodos e técnicas de ensino, que comporão o objeto deste Caderno

de referência de conteúdo.

Na Unidade 1 trataremos da discussão sobre as principais

abordagens pedagógicas em Educação Física; já na Unidade 2,

abordaremos o Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil (RCN) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para

os Ensinos Fundamental e Médio; e, finalmente, na Unidade 3, a

discussão girará em torno dos métodos e técnicas de ensino.

Para uma melhor reflexão sobre os temas tratados neste Caderno

de referência de conteúdo, sugerimos a leitura do texto a seguir,

no qual o autor apresenta os principais momentos históricos

que contribuíram para o surgimento de novas propostas pedagó-

gicas para o ensino de Educação Física.

Da origem médica e militar à esportivização ––––––––––––––

A constituição da educação física, ou seja, a instalação dessa prática pedagó-

gica na instituição escolar emergente dos séculos XVIII e XIX, foi fortemente

infl uenciada pela instituição militar e pela medicina. A instituição militar tinha a

prática — exercícios sistematizados que foram ressignifi cados (no plano civil)

pelo conhecimento médico. Isso vai ser feito numa perspectiva terapêutica, mas

principalmente pedagógica. Educar o corpo para a produção signifi ca promover

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saúde e educação para a saúde (hábitos saudáveis, higiênicos). Essa saúde ou

virilidade (força) também pode ser (e foi) ressignifi cada numa perspectiva
nacionalista/patriótica.

Há exemplos marcantes na história desse tipo de instrumentalização


de formas culturais do movimentar-se, como, por exemplo, a ginástica:

Jahn e Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália e Getúlio Vargas e seu Estado

Novo no Brasil. Esses movimentos são signatários do entendimento de que a

educação da vontade e do caráter pode ser conseguida de forma mais efi ciente

com base em uma ação sobre o corpóreo do que com base no intelecto; lá, onde

o controle do comportamento pela consciência falha, é preciso intervir no e pelo

corpóreo (o exemplo mais recente é o movimento carismático da Igreja Católica

no Brasil - a aeróbica do Senhor). Normas e valores são literalmente "incorporados"

pela sua vivência corporal concreta. A obediência aos superiores precisa ser

vivenciada corporalmente para ser conseguida; é algo mais do plano do sensível

do que do intelectual.

O corpo é alvo de estudos nos séculos XVIII e XIX, fundamentalmente das ci-

ências biológicas. O corpo aqui é igualado a uma estrutura mecânica - a visão

mecanicista do mundo é aplicada ao corpo e a seu funcionamento. O corpo não

pensa, é pensado, o que é igual a analisado (literalmente, "lise") pela racionalidade

científi ca. Ciência é controle da natureza e, portanto, da nossa natureza corporal.

A ciência fornece os elementos que permitirão um controle efi ciente sobre

o corpo e um aumento de sua efi ciência mecânica.2

Melhorar o funcionamento

dessa máquina depende do conhecimento que se tem de seu funcionamento e

das técnicas corporais que construo com base nesse conhecimento.

Assim, o nascimento da EF se deu, por um lado, para cumprir a função de colaborar

na construção de corpos saudáveis e dóceis, ou melhor, com uma educação

estética (da sensibilidade) que permitisse uma adequada adaptação ao

processo produtivo ou a uma perspectiva política nacionalista, e, por outro, foi

também legitimado pelo conhecimento médico-científi co do corpo que referendava

as possibilidades, a necessidade e as vantagens de tal intervenção sobre o

corpo. Como lembra Le Breton (1995), a medicina representa, em nossas sociedades,

um saber em alguma medida ofi cial sobre o corpo.

Mas novamente esse entendimento vai se alterar e mais uma vez em consonância

com alterações de ordem mais geral, ou seja, da forma como se produz e reproduz
a vida, portanto, de mudanças históricas. Foucault (1985) identifi ca uma

mudança importante da ação do poder ou do envolvimento do corpo pelos/nos

micropoderes. Paulatinamente no século XX saímos de um controle do corpo via

racionalização, repressão, com enfoque biológico, para um controle via estimula-

ção, enaltecimento do prazer corporal, com enfoque psicológico. Muitos estudos

citam a década de 1960 (Courtine 1996; Le Breton 1995) como o momento mais

importante dessa infl exão. Voltaremos a isso mais adiante.

Outro fenômeno muito importante para a política do corpo foi gestado e adquiriu

grande signifi cação social nesse período histórico (séculos XIX e XX). Essa

prática corporal, a esportiva, está desde cedo muito fortemente orientada pelos

princípios da concorrência e do rendimento (Rigauer, 1969). Este último aspecto

ou esta última característica é comum a outra técnica corporal incentivada pelos

fi lantropos e pela medicina na Europa continental que é a ginástica. Aumento do

rendimento atlético-esportivo, com o registro de recordes, é alcançado com uma

intervenção científi co-racional sobre o corpo que envolve tanto aspectos imediatamente

biológicos, como aumento da resistência, da força etc., quanto comportamentais,

como hábitos regrados de vida, respeito às regras e normas das

competições etc. Treinamento esportivo e ginástica promovem a aptidão física e

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suas conseqüências: a saúde e a capacidade de trabalho/rendimento individual e

social, objetivos da política do corpo. A ginástica é parte importante do movimento

médico-social do higienismo, como mostrou Soares (1997).

Interessante observar que Foucault (1985, p. 151), quando perguntado sobre

quem coordena a ação dos agentes da política do corpo, afi rma que é "um conjunto

extremamente complexo (...). Tomemos o exemplo da fi lantropia no início

do século XIX: pessoas que vêm se ocupar da vida dos outros, de sua saúde,

da alimentação, da moradia... Mais tarde, dessa função confusa saíram personagens,

instituições, saberes... uma higiene pública, inspetores, assistentes sociais,

psicólogos. E hoje assistimos a uma proliferação de categorias de trabalhadores

sociais". Entre estes, seguramente podemos situar os professores de EF.

Interessante observar que a adesão ao esporte na Inglaterra puritana, segundo


Grieswelle (1978), deveu-se também ao fato de este ter incorporado o princípio

do rendimento que o aproximou da ética do trabalho, propiciando inclusive a

construção do conceito de "Cristandade Muscular". Courtine (1995) mostra de

forma brilhante como o puritanismo absorve esse tipo de prática corporal nos

Estados Unidos, conferindo-lhe um signifi cado coerente com a doutrina religiosa

e com os valores culturais dominantes.

"A emergência do esporte após a Guerra Civil ocorreu sobre o pano de fundo

de um individualismo disciplinado, exigindo auto-sacrifício e devotamento a uma

causa comum. A ética puritana do trabalho tinha se infi ltrado profundamente nas

práticas esportivas, como se a utilidade social destas práticas devesse ser julgada

apenas de acordo com seu critério. Entretanto, no fi nal do século XIX, esta

lógica de organização racional e de ordem moral já estava em declínio. Durante

as primeiras décadas deste século, ela foi sendo progressivamente substituída

por uma concepção um tanto diferente das fi nalidades da cultura física. O espí-

rito de competição, o desejo de vencer tinham, mais ainda que no passado, sido

investidos pelo esporte, ao mesmo tempo em que invadiam o sentimento de que

se podia legitimamente buscar no exercício muscular uma gratifi cação pessoal e

um prazer do corpo. Um cuidado com o bem-estar individual aparece nas críticas

da ética puritana formuladas desde então. Reprova-se essa ética por investir a

totalidade da energia do indivíduo americano em fi ns puramente utilitaristas, por

exprimir e mesmo reforçar um medo do prazer" (Courtine, 1995, p. 99).

É claro que o esporte, assim como a ginástica, é um fenômeno polissêmico, ou

seja, apresenta vários sentidos/signifi cados e ligações sociais. Por exemplo, o

movimento olímpico permitiu conferir, pela categoria política da nação, um signifi -

cado mais imediatamente político aos resultados esportivos, o qual é incorporado

à política do corpo mais geral, com as repercussões que todos conhecemos na

educação física. Chamo aqui a atenção para a combinação de dois fatores, e

para o fato de que o esporte passa a substituir, com vantagens, a ginástica como

técnica corporal que corporifi ca/condensa os princípios que precisam ser incorporados

(no duplo sentido) pelos indivíduos.

A pedagogia da EF incorporou, sem necessidade de mudar seus princípios mais


fundamentais, essa "nova" técnica corporal, o esporte, agregando agora, em virtude

das intersecções sociais (principalmente políticas) desse fenômeno, novos

sentidos/signifi cados, como, por exemplo, preparar as novas gerações para representar

o país no campo esportivo (internacional). Tal combinação de objetivos

fi ca muito clara no conhecido Diagnóstico da Educação Física/Desportos, realizado

pelo governo brasileiro e publicado em 1971 (COSTA, 1971).

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Como os princípios eram os mesmos e o núcleo central era a intervenção no

corpo (máquina) com vistas ao seu melhor funcionamento orgânico (para o desempenho

atlético-esportivo ou desempenho produtivo), o conhecimento básico/

privilegiado que é incorporado pela EF para a realização de sua tarefa continua

sendo o que provém das ciências naturais, mormente a biologia e suas mais

diversas especialidades, auxiliadas pela medicina, como uma de suas aplica-

ções práticas (Fonte: Trecho do artigo de: BRACHT, Valter. A constituição das

teorias pedagógicas da educação física. Cadernos CEDES (online). 1999, vol.19,

n.48, pp. 69-88. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-

32621999000100005&script=sci_arttext>. Acesso em: 23 jun. 2010).

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Neste estudo conheceremos as principais contribuições de

cada abordagem pedagógica para a área de Educação Física, os

avanços das propostas curriculares oficiais, no caso RCN e PCNs, e

também as questões referentes aos objetivos, conteúdos, procedimentos

e avaliação em Educação Física.

Após este resumo histórico sobre a Educação Física, apresentamos

a seguir, no Tópico Orientações para estudo, algumas

orientações de caráter motivacional, dicas e estratégias de aprendizagem

que poderão facilitar o seu estudo.

2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO

Abordagem Geral
Este tópico apresenta uma visão geral do que será estudado.

O aprofundamento dessas questões será tratado em cada uma das

unidades deste material. No entanto, esta abordagem geral fornece

o conhecimento básico necessário para que seu conhecimento

seja construído em uma base sólida – científica e cultural – para

que no futuro exercício de sua profissão você a exerça com ética e

responsabilidade.

Para essa nossa empreitada de reflexão e debate, apresentaremos

e discutiremos as principais Teorias Pedagógicas em Educação

Física Escolar. Também analisaremos as propostas curriculares

oficiais, especialmente o Referencial Curricular Nacional para

a Educação Infantil, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o

12 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Ensino Fundamental e os Parâmetros Curriculares Nacionais para

o Ensino Médio. Discutiremos, ainda, a importância dos objetivos

e dos demais componentes do processo didático na elaboração

das aulas de Educação Física.

Antes de adentrarmos ao conteúdo de nossa discussão, seria

interessante, nesse momento, que fizéssemos um exercício de reflexão.

Para isso, serão lançadas algumas questões.

A partir da década de 1980 surgiram diversas teorias pedagógicas

em Educação Física, dentre elas: Abordagem Desenvolvimentista,

Abordagem Crítico-Superadora, Abordagem Antropoló-

gica, Abordagem Crítico-Emancipatória, Abordagem Construtivista

e Abordagem dos Jogos Cooperativos.

• Você conhece alguma dessas teorias? Com qual delas

você mais se identifica? Por quê?

• Como a legislação brasileira trata a Educação Física escolar?

Quais as principais contribuições que as propostas

curriculares oficiais trouxeram para a área de Educação

Física?
• O professor de Educação Física, ao elaborar uma aula,

deve se preocupar mais com os objetivos ou com os conteúdos?

Por quê?

Enfim, são várias questões que podemos formular para que

possamos refletir sobre os Fundamentos da Educação Física Escolar.

Nos últimos anos, a Educação Física sofreu mudanças significativas.

Podemos dizer que essas mudanças ocorreram devido à

proposição de uma variedade de abordagens para o seu desenvolvimento,

como citadas anteriormente.

As contribuições trazidas por cada uma dessas teorias foram

de grande importância para a compreensão de quais são as

funções sociais e quais são as bases metodológicas do ensino de

Educação Física.

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Embora a prática pedagógica ainda resista a certas mudan-

ças, ou seja, ainda hoje encontramos muitos professores de Educa-

ção Física desenvolvendo atividades relacionadas à aptidão física

e ao treinamento esportivo, essas teorias pedagógicas desenvolvidas

nas últimas décadas representam uma alternativa para a melhoria

da qualidade do ensino de Educação Física nas escolas.

Veja, a seguir, os pontos principais de cada uma dessas teorias.

O pressuposto básico da Abordagem Desenvolvimentista

pode ser representado pela seguinte afirmação: se existe uma sequência

normal nos processos de crescimento, de desenvolvimento

e de aprendizagem, isto significa que as crianças necessitam ser

orientadas considerando-se esses processos. Ou seja, para que as

reais necessidades das crianças sejam alcançadas, é preciso levar

em consideração os processos de mudança do comportamento

motor dessas crianças ao longo da sua vida.


Os conteúdos principais dessa abordagem são as habilidades

motoras básicas: andar, correr, saltar, equilibrar etc.

A Abordagem Desenvolvimentista procura mostrar que para

definir os objetivos, métodos e conteúdos de ensino, é importante

considerar as necessidades que advém do próprio processo de

mudanças no comportamento motor humano ao longo da vida.

Isso significa que, para planejar uma aula, o professor deve considerar

a sequência normal de desenvolvimento das crianças para

que as atividades ministradas não estejam nem muito além e nem

muito aquém das suas reais necessidades.

Outro ponto fundamental dessa abordagem refere-se à diversidade

e à complexidade dos movimentos. Alguns autores acreditam

que nas aulas de Educação Física deve haver a interação entre

o aumento da diversidade e da complexidade dos movimentos

visando proporcionar aos alunos condições para que seu comportamento

motor seja desenvolvido.

A Abordagem Crítico-Superadora foi idealizada, em 1992,

por um grupo de autores: Soares, Taffarel, Varjal, Castellani Filho,

14 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Escobar e Bracht. O objeto de estudo dessa abordagem é a Cultura

Corporal de Movimento. Os conteúdos básicos envolvem os temas

que, historicamente, compõem a cultura corporal dos brasileiros,

como, por exemplo, o jogo, a ginástica, o esporte e a dança.

A abordagem crítico-superadora trata de uma pedagogia

emergente que busca realizar uma reflexão pedagógica sobre as

diferentes formas de representação do mundo que o homem tem

produzido no decorrer da história. Todas as atividades corporais

(pular, arremessar, jogar, dançar, saltar, lutar, etc.) foram constru-

ídas em determinadas épocas históricas com base nas necessidades

humanas, portanto, é fundamental que a prática pedagógica

da Educação Física tenha como base a Cultura Corporal de Movimento.


Nessa perspectiva, todos os temas envolvendo a cultura corporal

devem ser tratados na escola de forma crítico-superadora,

ou seja, além de trabalhar os elementos técnicos e táticos, deve-se

evidenciar o sentido e o significado dos valores e das normas que

regulamentam o nosso contexto sócio-histórico, na tentativa de

buscar uma transformação que supere as desigualdades existentes

em nossa sociedade.

A obra Da Cultura do Corpo, de Daólio (1995), apresenta a

Abordagem Antropológica da Educação Física. O referencial teórico

desse trabalho é baseado na Antropologia Social.

O autor propõe uma Educação Física plural, ou seja, que saiba

respeitar as diferenças físicas e culturais dos alunos. De acordo

com essa teoria, não podemos mais nos preocupar com o desenvolvimento

e a eficiência do desempenho dos alunos, pois a sociedade

atual pede o reconhecimento das diferenças – não só físicas,

mas também culturais – expressas pelos alunos, garantindo o direito

de todos à sua prática.

Essa abordagem acredita que se o homem é um ser social,

vinculado às redes de sociabilidade, ele também o é na sua vida

profissional. Isso significa que a Abordagem Antropológica olha

para os professores de Educação Física como um grupo constituído

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por seres sociais, buscando e fazendo de sua atuação profissional

cotidiana o sentido para suas vidas.

O professor de Educação Física está inserido em um contexto

cultural, portanto, as suas representações sobre o mundo, o corpo

e a escola precisam ser valorizadas. Além disso, o ponto de partida

nas aulas de Educação Física deve ser o repertório cultural de cada


aluno.

Kunz (1994) foi o idealizador da Abordagem Crítico-Emancipatória.

O objeto de estudo dessa teoria é o esporte e as suas

transformações sociais. O autor fundamenta-se na ação comunicativa

e problematizadora, visando uma interação humana responsável

e produtiva, bem como a emancipação dos alunos. O ensino

na concepção crítico-emancipatória deve basear-se em uma concepção

crítica, ou seja, deve ser um ensino de libertação de falsas

ilusões, de falsos interesses e desejos, criados e construídos nos

alunos pela visão de mundo que apresentam com base no conhecimento.

Kunz (1994) defende o ensino crítico visando à emancipação

dos alunos.

Hoje, podemos dizer que os jovens são mais livres e independentes.

Porém, acreditamos que isso só acontece no plano

físico, ou seja, os jovens vão morar fora de casa, entram no mercado

de trabalho bem cedo etc. Mas, no plano intelectual, sofrem

constantes influências externas dos modernos meios de produção

e reprodução cultural, dos meios de comunicação, da própria educação

etc.

Essa influência externa pode ser vista por meio dos cortes de

cabelos iguais aos dos jogadores famosos, o consumo de produtos

alimentícios recomendados por atletas, a compra de tênis de acordo

com as marcas que os atletas usam etc.

É dessa emancipação que estamos falando. Os jovens precisam

se libertar das condições que limitam o uso da razão crítica,

do seu agir social, cultural e esportivo.

16 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Ao comprar um tênis, o jovem precisa avaliar os motivos que

os levaram a comprar esse tênis: estou comprando o tênis porque

eu gostei realmente dele ou por que é o tênis que o Pelé usa? Esse

tênis vale realmente o preço que está sendo cobrado? etc.


Em uma concepção crítico-emancipatória, o ensino dos esportes

nas aulas de Educação Física deverá ter um caráter teóricoprático

visando tornar o fenômeno esportivo transparente, permitindo

aos alunos melhor organizar a sua realidade de esporte,

movimentos e jogos de acordo com as suas possibilidades e necessidades.

A Abordagem Construtivista foi elaborada por Freire (1997).

O referencial teórico encontrado em sua obra Educação de Corpo

Inteiro tem como base os estudos de Piaget. Essa abordagem entende

a motricidade humana como um conjunto de habilidades

que permitem ao homem produzir conhecimento e se expressar.

Os conteúdos básicos envolvem a cultura dos próprios alunos e

todos participam do processo de construção do conhecimento.

Na proposta construtivista, o jogo, enquanto conteúdo/estratégia,

tem papel privilegiado. É considerado o principal modo

de ensinar, é um instrumento pedagógico, um meio de ensino,

pois, enquanto joga ou brinca, a criança aprende, sendo que este

aprender deve ocorrer em um ambiente lúdico e prazeroso para a

criança.

Segundo a Abordagem Construtivista, a criança precisa de

uma educação de corpo inteiro. Mas como isso pode ser feito? De

acordo com Freire (1997), com o máximo de respeito, reuniria tudo

o que a criança sabe sobre amarelinha, pegador, futebol, bolinha

de gude, casinha, comidinha, e toda aquela infinidade de saltos,

corridas, giros, gritos, risadas, cantos e danças, e levaria para dentro

da escola, sem discriminação, e aos poucos iria aumentando

essas experiências tornando-as cada vez mais complexas.

"A Abordagem dos Jogos Cooperativos surgiu da preocupa-

ção com a excessiva valorização do individualismo e da competi-

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ção na cultura ocidental". O idealizador dessa abordagem é Brotto

(1995, s/n). O principal objetivo dessa teoria é promover, por meio

dos jogos cooperativos, a autoestima e o desenvolvimento de habilidades

interpessoais positivas.

O referencial teórico dessa teoria aponta que a vivência de situa-

ções cooperativas pode contribuir para que os alunos aprendam a

se relacionar de forma positiva e solidária nos jogos, na escola na

sua vida social (BROTTO, 1995, s/n).

A Abordagem dos Jogos Cooperativos acredita que a Educação

Física deve procurar desenvolver as destrezas de todos, e

não somente dos melhores. Além disso, por meio dos jogos cooperativos,

é possível desenvolver muito mais do que as habilidades

motoras, técnicas e táticas. Os jogos cooperativos também promovem

o aperfeiçoamento das habilidades humanas essenciais, tais

como: criatividade, confiança, respeito, aceitação, paciência, bom

humor, autoestima etc.

O foco central da Abordagem dos Jogos Cooperativos é

aprender a jogar uns com os outros ao invés de uns contra os outros.

A partir da década de 1980 ocorreram mudanças significativas

na área de Educação Física. Além de todas as teorias pedagó-

gicas emergentes nessa época, também surgiram propostas curriculares

visando subsidiar o trabalho do professor. Dentre essas

propostas, encontramos: o Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil e os Parâmetros Curriculares Nacionais para os

Ensinos Fundamental e Médio.

A Educação Física, pouco a pouco, está sendo mais valorizada

dentro da escola e está conquistando a confiança de todos.

Uma das grandes conquistas ocorreu em meados da década de

1990, com base na implantação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB) nº. 9.394/96. Esse documento passou a

considerar a Educação Física um componente curricular obrigató-


rio da Educação Básica.

18 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Portanto, atualmente, a Educação Física deve ser ministrada

em todos os níveis de Ensino, ou seja, Educação infantil, Ensino

Fundamental e Ensino Médio.

Na Educação Infantil, o documento denominado Referencial

Curricular Nacional (RCN) foi elaborado em 1998 com o objetivo

de subsidiar o trabalho dos professores que atuam em creches e

pré-escolas.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é

composto por três documentos:

1) Introdução.

2) Formação Pessoal e Social.

3) Conhecimento de Mundo.

O documento de introdução apresenta reflexões sobre creches e

pré-escolas no Brasil, situando e fundamentando as concepções

do que é ser criança, de educação, de professor e de instituição

escolar. Com base nessas concepções, foram definidos os objetivos

gerais da Educação Infantil.

O volume sobre a Formação Pessoal e Social prioriza os processos

de construção da identidade e autonomia das crianças.

O volume relativo ao Conhecimento de Mundo é composto por

seis documentos: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem

Oral e Escrita, Natureza e Sociedade, e Matemática, referentes à

construção das diferentes linguagens pelas crianças e as relações

que elas estabelecem com os objetos de conhecimento (BRASIL,

1988, s/n.).

O eixo de trabalho denominado Movimento refere-se às

atividades relacionadas à área de Educação Física. Por enquanto,

ainda não é obrigatória a presença de um professor de Educação

Física para ministrar essas atividades, por isso algumas instituições


optam por não contratarem um profissional dessa área e deixam

responsável pelas atividades de movimento os professores formados

em Pedagogia.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil:

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O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento

do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que

permite às crianças agirem sobre o ambiente humano, mobilizando

as pessoas por meio de seu teor expressivo.

Assim, o trabalho com o movimento na Educação Infantil deve

contemplar a multiplicidade das funções e manifestações do ato

motor, propiciando um amplo desenvolvimento dos aspectos específicos

da motricidade infantil abrangendo atividades voltadas para

a ampliação da cultura corporal da criança, bem como, a reflexão

acerca das posturas corporais presentes nas atividades cotidianas

(BRASIL, 1988, p. 15).

Já os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados

pelo Ministério da Educação visando auxiliar o trabalho dos professores

das diferentes disciplinas do Ensino Fundamental e Mé-

dio.

Esses Parâmetros foram produzidos no contexto das discussões

pedagógicas mais atuais, e o propósito do Ministério da

Educação, ao consolidar os PCNs, é apontar metas de qualidade

que ajudem a formação de um aluno participativo, reflexivo, autô-

nomo e conhecedor de seus direitos e deveres. É importante ressaltar

que esses documentos são abertos e flexíveis, podendo ser

adaptado à realidade de cada região (BRASIL, 2001).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais representam um grande


avanço para a área de Educação Física, pois ao contrário das

outras disciplinas, a Educação Física nunca teve um livro didático

para poder acompanhar e organizar os seus conteúdos. É claro que

os PCNs não são e nem se parecem com apostilas ou livros didáticos.

Mesmo assim, ter um documento para poder nos basearmos

é muito importante para os professores de Educação Física.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental

apontam que o trabalho de Educação Física, nesse nível de ensino

é muito importante, pois possibilita aos alunos desenvolverem habilidades

corporais e de participar de atividades envolvendo, como

por exemplo, jogos, esportes, lutas, ginástica e dança (BRASIL,

2001, p. s/n).

20 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Os conteúdos apresentados nesse documento foram organizados

em três eixos temáticos:

1) Conhecimento sobre o corpo.

2) Esportes, jogos, lutas e ginásticas.

3) Atividades Rítmicas e Expressivas.

O primeiro bloco de conteúdos, "conhecimento sobre o corpo",

oferece ao aluno informações sobre o próprio corpo, sua estrutura

física, sua interação com o meio social etc.

O bloco referente aos "esportes, jogos, lutas e ginásticas"

envolve a transmissão de informações relacionadas à história, à

origem, à importância e às principais características de cada uma

dessas práticas.

As "atividades rítmicas e expressivas", apresentadas no último

bloco de conteúdos, referem-se às manifestações que combinam

expressões, sons, danças, rodas cantadas, mímicas etc. Por

meio dessas atividades, os alunos caracterizam diferentes movimentos

expressivos, sua intensidade e duração.

No Ensino Médio, de acordo com os Parâmetros Curriculares


Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 1998b), o professor de

Educação Física deverá dar continuidade ao que foi desenvolvido

no Ensino Fundamental.

O aluno do Ensino Médio após frequentar, ao menos, onze

anos de escolarização deve possuir sólidos conhecimentos sobre a

cultura corporal. Dessa forma, nesse nível de ensino, a Educação

Física deve pautar-se em uma "melhor compreensão e utilização

das formas de expressão utilizando gestos e movimentos, seus significados,

suas técnicas e táticas" (BRASIL, 1998b, p. 57).

Segundo os PCNEM, a Educação Física para o Ensino Médio

tem como objetivo preparar o aluno como cidadão, aprimorar seus

conhecimentos como pessoa humana, com formação ética, autonomia

intelectual e crítica, tendo ampla visão dos conhecimentos

tecnológicos e os processos teóricos e práticos. Além disso, esse

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caderno deve fornecer aos alunos um parecer da importância das

atividades físicas em seu cotidiano.

A atividade física no Ensino Médio deve chegar ao aluno com

um objetivo e significado, tornando-se assim uma prática interessante

e com fundamentos, para que o aluno venha a tornar isso

como hábito saudável, assimilando-o como parte de seu cotidiano.

Apesar de todas essas contribuições, infelizmente, as aulas

de Educação Física são pouco valorizadas no Ensino Médio. Os alunos

participam das aulas com desdém e, muitas vezes, conseguem

um atestado médico para serem dispensados das atividades.

Portanto, é necessário que os professores dessa área modifiquem

a mentalidade dos alunos, a fim de tornar as aulas de Educação

Física de extrema relevância para os adolescentes, visando

efetivar os reais objetivos desse componente curricular.


Para finalizar essa síntese, abordaremos a questão dos objetivos

da Educação Física.

Muitos professores acreditam que, ao elaborarem um plano

de aula, o fundamental é selecionar conteúdos adequados. É claro

que os conteúdos são importantes para o bom desenvolvimento

de qualquer atividade, porém, antes de qualquer coisa, é preciso

saber definir os objetivos.

O conteúdo trabalhado nas aulas de Educação Física nada

mais é do que o instrumento utilizado pelo professor para atingir

os objetivos. Ou seja, não adianta selecionar os mais interessantes

e diversificados conteúdos se o professor não souber qual é o objetivo

daquelas atividades.

Os objetivos traçados pelo professor precisam estar relacionados

com o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. Portanto,

antes de elaborarmos um plano de aula, é preciso conhecer e refletir

sobre o perfil de aluno que está descrito no PPP da escola.

22 © Fundamentos da Educação Física Escolar

É importante esclarecer que o Projeto Político-pedagógico é

construído e vivenciado por todos os envolvidos com o processo

educativo da escola. É uma ação intencional e um compromisso

definido, coletivamente, pela comunidade escolar (pais, professores,

direção e funcionários).

Podemos dizer que o Projeto Político-pedagógico de cada escola

é definido pelas questões políticas e pelas ações educativas.

Isso significa que o PPP articula o compromisso social e político

aos interesses da comunidade, bem como define ações educativas

visando efetivar a intenção escolar que é formar cidadãos.

Por isso, o professor de Educação Física precisa definir seus

objetivos com base no que está descrito no PPP, para que a sua

prática pedagógica não se torne "vazia" e sem significado tanto

para os alunos quanto para as metas presentes no contexto escolar.


Após definir os objetivos, o professor deverá se preocupar

com os demais componentes do processo didático: conteúdos,

procedimentos e avaliação.

Conteúdos de ensino: são o conjunto de conhecimentos,

habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação

social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a

assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida.

Os conteúdos podem ser classificados de acordo com as seguintes

dimensões: procedimental, atitudinal e conceitual.

Procedimentos de ensino: são ações, processos ou comportamentos

planejados pelo professor, para colocar o aluno em

contato direto com coisas, fatos ou fenômenos que lhes possibilitem

modificar sua conduta, em função dos objetivos previstos.

Portanto, os procedimentos de ensino dizem respeito às formas

de intervenção do professor, ou seja, os procedimentos englobam

as ações a serem realizadas pelo professor e pelos alunos durante

toda a aula. Ao escolher os seus procedimentos de ensino, o professor

irá traçar o caminho para atingir os seus objetivos.

23

Claretiano - Centro Universitário

© Caderno de Referência de Conteúdo

Avaliação: é uma tarefa didática necessária e permanente do

trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo

de ensino e aprendizagem. A avaliação é uma reflexão sobre o ní-

vel de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos

alunos. Portanto, a avaliação não se resume à realização de provas

e atribuição de notas.

Esperamos com essa síntese ampliar o conhecimento em relação

aos fundamentos que envolvem a Educação Física escolar,

bem como instigar a procura por outras questões relevantes para


a melhoria da qualidade de ensino.

O nosso estudo não termina aqui. Ele está só começando,

especialmente, para aqueles que se colocam no papel de críticos.

Espero que essa vontade do saber seja ferramenta essencial de

seus estudos. Por maior que sejam as dificuldades encontradas

pelo caminho do conhecimento, a vontade de estudar e de aprender

supera todas as barreiras da aprendizagem.

Forte abraço a todos e bons estudos!

Glossário de conceitos

O Glossário permite a você uma consulta rápida e precisa

das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio

dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento

dos temas tratados neste Caderno de Referência de Conteúdo Fundamentos

da Educação Física Escolar. Veja a seguir a definição dos

principais conceitos:

1) Educação Básica: compreende a Educação Infantil (creche

e pré-escola), Ensino Fundamental e Ensino Médio

(INEP).

2) Educação Infantil: primeira etapa da educação básica,

tem como finalidade o desenvolvimento integral da

criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico,

psicológico, intelectual e social, complementando a ação

da família e da comunidade (Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20/12/96) (INEP).

24 © Fundamentos da Educação Física Escolar

3) Ensino Fundamental: nível de ensino obrigatório (e gratuito

na escola pública), com duração mínima de oito

anos, podendo ser organizado em séries, ciclos ou disciplinas.

Tem por objetivo a formação básica do cidadão,

mediante: (1) o desenvolvimento da capacidade de

aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio


da leitura, da escrita, e do cálculo; (2) a compreensão

do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia,

das artes e dos valores em que se fundamenta

a sociedade; (3) o desenvolvimento da capacidade de

aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos

e habilidades e a formação de atitudes e valores;

(4) o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de

solidariedade humana e de tolerância recíproca em que

se assenta a vida social. O ensino fundamental é presencial,

sendo o ensino à distância utilizado como complementação

da aprendizagem ou em situações emergenciais

(Lei nº 9.394, de 20/12/96) (INEP).

4) Ensino Médio: nível de ensino com duração mínima de

três anos. Trata-se da etapa final da educação básica.

Tem por finalidades: (1) a consolidação e o aprofundamento

dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental,

possibilitando o prosseguimento de estudos;

(2) a preparação básica para o trabalho e a cidadania do

educando, para continuar aprendendo, de modo a ser

capaz de adaptar-se com flexibilidade a novas condições

de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; (3) o aprimoramento

do educando como pessoa humana, incluindo

a formação ética e o desenvolvimento da autonomia

intelectual e do pensamento crítico; (4) a compreensão

dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos

produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino

de cada disciplina (INEP).

Esquema de conceitos-chave

Além do cronograma que você deverá seguir para desenvolver

suas atividades e interatividades propostas pelo professor-responsável,

você poderá valer-se de outros tipos de aprendizagem,


25

Claretiano - Centro Universitário

© Caderno de Referência de Conteúdo

como Aprendizagem de conceitos, de princípios (uma cadeia de

vários conceitos) que poderão levá-lo à resolução de problemas,

quando, mediante a combinação desses princípios, é produzido

um novo conhecimento. Daí a importância de um Esquema de

conceitos-chave para se ter clareza das ideias e princípios que fundamentam

um saber científico.

EDUCAÇÃO FÍSICA

TEORIAS

PEDAGÓGICAS

DESENVOLVIMENTISTA

JOGOS

COOPERATIVOS

PROPOSTAS

CURRICULARES

CRÍTICO-

-SUPERADORA

ANTROPOLÓGICA CRÍTICO-

-EMANCIPATÓRIA

CONSTRUTIVISTA

OBJETIVOS

RCN PCNs

ENSINO MÉDIO

CONTEÚDOS

PROCEDIMENTOS

AVALIAÇÃO

ENSINO

FUNDAMENTAL

EDUCAÇÃO
INFANTIL

Figura 1 - Esquema de conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo:

Fundamentos da Educação Física escolar.

Como você pode observar, o esquema da Figura 1 lhe apresenta

uma visão geral dos conceitos mais importantes desse estudo.

Seguindo este esquema, você poderá transitar entre um e outro

conceito e descobrir o caminho para construir o seu processo

ensino-aprendizagem. Por exemplo, ao refletirmos sobre as teorias

pedagógicas em Educação Física, será necessário você conhecer as

abordagens Desenvolvimentista, Antropológica, Crítico-Emancipatória,

Jogos Cooperativos, Crítico-Superadora e Construtivista, sem

o domínio conceitual dessas abordagens explicitado pelo esquema,

pode-se ter uma visão confusa do que essas teorias representam

para a qualidade de ensino em Educação Física Escolar.

Observamos que o Esquema de conceitos-chave é mais um

dos recursos de aprendizagem que vem somar-se àqueles disponíveis

no ambiente virtual com suas ferramentas interativas, bem

26 © Fundamentos da Educação Física Escolar

como às atividades didático-pedagógicas realizadas presencialmente

no polo. Lembre-se de que você, como aluno na modalidade

a distância, pode valer-se da sua autonomia na construção de

seu próprio conhecimento.

Questões autoavaliativas

No final de cada unidade, você encontrará algumas questões

autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados. Responder, discutir

e comentar estas questões e relacioná-las com a prática do

ensino de Fundamentos da Educação Física Escolar pode ser uma

forma de você medir o seu conhecimento, ter contato com questões

pertinentes ao assunto tratado e de lhe ajudar na preparação

para a prova final, que será dissertativa. Mais ainda: é uma maneira

privilegiada de você adquirir uma formação sólida para a sua


prática profissional.

Bibliografia básica

É fundamental que você use a bibliografia básica em seus

estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliografias

complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)

As ilustrações neste material instrucional fazem parte integrante

dos conteúdos; não são meramente ilustrativas. Elas esquematizam

e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe

de observar a relação dessas figuras com os conteúdos, pois relacionar

aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte

de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)

Este estudo convida você a um olhar mais apurado da educa-

ção como processo de emancipação do ser humano. Procure ficar

atento para as explicações teóricas, práticas (do senso comum) e

27

Claretiano - Centro Universitário

© Caderno de Referência de Conteúdo

científicas presentes nos meios de comunicação, e partilhe com

seus colegas seus comentários. Ao compartilhar o que observamos

com outras pessoas, temos a oportunidade de perceber o que nós

e os outros ainda não sabemos, aprendendo a ver e notar o que

não tínhamos percebido antes desenvolvendo discriminações. Observar

é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.

Você como aluno do curso de Graduação na modalidade

EAD e futuro profissional da educação necessita de uma formação

conceitual sólida e consistente. Para isso, contará com a ajuda do

tutor a distância, do tutor presencial e, principalmente, da intera-

ção com seus colegas. Sugerimos que organize bem o seu tempo,

realize as atividades nas datas estipuladas.


É importante que você anote suas reflexões em seu caderno

ou no Bloco de Anotações, pois no futuro poderá utilizá-las na elaboração

de sua monografia ou de produções científicas.

Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie

seus horizontes teóricos. Coteje com o material didático, discuta a

unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.

No final de cada unidade, você encontrará algumas questões

autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os

conteúdos desenvolvidos e se foram significativos para sua forma-

ção. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, estes procedimentos

serão importantes para o seu amadurecimento intelectual.

Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade

Educação a Distância é PARTICIPAR, ou seja, INTERAGIR,

procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.

Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a

este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com

seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.

Claretiano - Centro Universitário

EAD

Teorias Pedagógicas da

Educação Física

1. OBJETIVOS

• Compreender as principais teorias pedagógicas da Educa-

ção Física.

• Estabelecer paralelos entre as diferentes teorias.

2. CONTEÚDOS

• Abordagens da Educação Física: Desenvolvimentista, Crí-

tico-Superadora, Antropológica, Crítico-Emancipatória,

Construtivista e Jogos Cooperativos.

• Sugestões de Atividades Práticas.


3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE

1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos explicitados

no Glossário e suas ligações pelo Esquema de

30 © Fundamentos da Educação Física Escolar

conceitos-chave para o estudo de todas as unidades deste

Caderno de referência de conteúdo (CRC). Isso poderá

facilitar sua aprendizagem e seu desempenho.

2) Lembre-se de que apresentaremos apenas seis das

principais abordagens pedagógicas da Educação Física.

Pesquise em livros ou na internet as demais teorias e

os seus respectivos autores e, se encontrar algo interessante,

disponibilize tal informação para seus colegas na

Lista. Lembre-se de que você é protagonista do processo

educativo.

3) Leia os livros da bibliografia indicada, para que você

amplie seus horizontes teóricos. Coteje com o material

didático e discuta a unidade com seus colegas e com o

tutor.

4) Antes de iniciar os estudos desta unidade pode ser interessante

conhecer um pouco sobre as obras que norteiam

nosso estudo. Para saber mais acesse os sites indicados.

Obra: Educação Física Escolar: fundamentos de uma

abordagem desenvolvimentista (TANI et all, 2006)

Autores: Go Tani; Edison de Jesus Manoel; Eduardo

Kokubun, José Elias de Proença.

O livro visa estabelecer uma fundamentação teórica

para a Educação Física Escolar. Para tanto, parte de

um pressuposto básico: se existe uma seqüência normal

nos processos de crescimento, de desenvolvimento e de

aprendizagem, isto signifi ca que as crianças necessitam


ser orientadas considerando-se estes processos, pois só

assim as suas reais necessidades e expectativas serão

alcançadas. Em outras palavras, este trabalho procura

mostrar que, para o estabelecimento de objetivos, métodos e conteúdos de ensino

apropriados, é importante considerar as necessidades que advêm do pró-

prio processo de mudanças no comportamento motor humano ao longo da vida.

Este livro destina-se a professores e estudantes de Educação Física que buscam

fundamentos para elaboração, execução e avaliação de programas de

Educação Física no âmbito escolar. Imagem disponível em:


<http://www.relativa.com.br/livros_template.asp?codigo_produto=37945>.

Acesso em: 30

jun. 2010. Texto disponível em: <http://www.relativa.com.br/DescricaoLivro.

asp?CodigoLivro=37945>. Acesso em: 30 jun. 2010.

31

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

Autores: Carmem Lúcia Soares, Celi Taffarel, Elizabeth

Varjal, Lino Castellani Filho, Micheli Escobar e Valter Bracht

Metodologia do Ensino de Educação Física (Coletivo de

Autores).

Este livro reporta-se a questões teórico-metodológicas da

Educação Física escolar, tomando-a como matéria curricular

que trata dos jogos, da ginástica, do esporte, enquanto

elementos constitutivos, dentre outros, do seu conteúdo.

Carmen Lúcia Soares, Celi Taffarel, Elizabeth Varjal, Lino

Castellani Filho, Micheli Escobar e Valter Bracht, seus autores,

preocuparam-se, na sua elaboração, em apresentar

elementos básicos para a confi guração de uma teoria pedagógica da Educação

Física materializada na sugestão de um programa específi co para cada um dos

graus de ensino, na seleção e sistematização do conhecimento e na organiza-

ção do trabalho escolar. Pretendem, assim, fornecer fundamentos teóricos para


a apreensão do conhecimento por parte dos professores, de modo a auxiliá-

los a pensar autonomamente. Imagem disponível em: <http://compare.buscape.

com.br/metodologia-do-ensino-de-educacao-fi sica-soares-carmen-8524904593.

html>. Acesso em: 30 jun. 2010. Texto disponível em: <http://www.livrariasolucao.

com.br/livro/metodologia-do-ensino-de-educacao-fi sica-carmen-lucia-soares-

8524904593.html>. Acesso em: 30 jun. 2010.

Autor: Jocimar Daólio

Da Cultura do Corpo.

Utilizando um referencial próprio da antropologia social,

essa obra discute a construção cultural do corpo humano.

É com base nessa perspectiva que o autor analisa o trabalho

do professor de Educação Física, reconstruindo o universo

de representações sobre o corpo que rege e orienta

sua prática escolar. Jocimar Daólio discorre brilhantemente

sobre o conceito de corpo nesse livro tomando emprestado

os conceitos da antropologia social, apontando para

uma defi nição do corpo e seus signos sociais. Enquanto

trabalha o conceito de alteridade, nos mostra a possibilidade

de uma aula de Educação Física voltada para o respeito

das diferenças. Imagem disponível em: <http://www.relativa.com.br/livros_

template.asp?Codigo_Produto=13789&Livro=Da%20Cultura%20do%20Corpo>.

Acesso em: 30 jun. 2010. Texto disponível em: <http://afi liados.submarino.com.

br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=2002

6&ST=SF1139#content>. Acesso em 30 jun. 2010.

32 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Autores: Elenor Kunz

Transformação Didático-Pedagógica do Esporte.

Este livro é uma resposta ao desafi o de fazer do esporte

objeto de aprendizagem sistemática e formal intencionada

pela escola, uma linguagem complementar às

demais e por elas complementada no inteiro sistema


das relações em que se empenham corpos capazes da

linguagem da ação e da ação da linguagem. Imagem

disponível em: <http://www.mundoeducacaofi sica.com/

livros/books/1448/ >. Acesso em: 30 jun. 2010. Texto disponível

em: <http://www.relativa.com.br/DescricaoLivro.

asp?CodigoLivro=86905>. Acesso em: 30 jun. 2010.

Autores: João Batista Freire

Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da Educação

Física.

A proposta desta obra é ressaltar que não só a cabeça do

aluno deve ser matriculada na escola e receber educação,

mas também seu corpo. Ela estabelece um elo entre o

movimento e o desenvolvimento mental da criança.

Imagem disponível em: <http://www.jacotei.com.br/educacao-de-corpo-inteiro-teoria-e-


pratica-de-educacao-fi

sicajoao-batista-freire-8526214780.html>.

Acesso em: 30 jun.

2010. Texto disponível em: < http://www.scipione.com.br/

mostra_livro_paradidatico.asp?id_livro=695> Acesso em: 30 jun. 2010.

Autores: Fábio Otuzi Brotto

Jogos Cooperativos: se o importante é competir, o fundamental

é cooperar.

É o primeiro livro de autoria de Fábio Brotto. Neste primeiro

livro do autor, Fábio expõe de uma maneira clara e concisa

todo o embasamento teórico dos jogos cooperativos, tra-

çando um paralelo com a competição. Inserindo o assunto em um contexto histó-

rico, desde as origens dos jogos cooperativos em diversas etnias do mundo até

o presente momento, o autor resgata os fatores históricos-sociais que permeiam

a cultura mundial sobre o que é a competição e o que é cooperação. Fábio Otuzi

Brotto constrói um texto em linguagem simples e direta onde procura atrelar as

suas observações e estudos à aspectos cotidianos, seja ele, escolar, social ou


organizacional. Mestre em Educação Física e Bacharel em Psicologia atua como

Focalizador do Projeto Cooperação ® e Facilitador em Jogos Cooperativos e da

Pedagogia da Cooperação. É Docente em cursos de Pós-Graduação em diversas

Universidades e Institutos. Tendo sido adotado como livro-base: - Concurso

Público para Professores de Educação Física do Estado de São Paulo, Paraná e

diversos municípios. - Disciplina de Filosofi a e Ética na Universidade Metropolitana

de Santos, Faculdade de Educação Física, desde 1996. - Programa esporte

Educacional do INDESP-MEC, em 1995. Imagem disponível em: <http://www.jo-

33

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

goscooperativos.com.br/Livros.htm >. Acesso em: 30 jun. 2010. Texto disponível

em: <http://200.194.222.32/produto/1/92253/jogos+cooperativos#A1>. Acesso

em: 30 jun. 2010.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE

Antes de iniciarmos nossos estudos acerca das teorias pedagógicas

da Educação Física, será preciso tomar consciência de que

não existe uma teoria melhor do que a outra. O que existe são formas

diferentes de trabalhar a Educação Física escolar. O importante

é conhecer cada uma delas para que a nossa prática pedagógica

não seja embasada no "achismo". Se na prática existem dezenas

de excelentes professores de Educação Física, o que é ótimo, no

aspecto teórico, isso não acontece.

Por isso, ao embasarmos nossa prática com base em uma ou

várias teorias, certamente, estaremos à frente daqueles profissionais

considerados exclusivamente "práticos".

A teoria e a prática estão extremamente ligadas. Uma depende

da outra.

Portanto, a questão central desta unidade é: com qual teoria

pedagógica eu mais me identifico?

Esse é um questionamento crucial para o desenvolvimento


de nosso estudo. E muito interessante. Qual teoria pedagógica irá

embasar a minha prática? A resposta apontará o caminho que o

levará a construir uma prática pedagógica consistente, intencional

e de qualidade.

Essa será uma das perguntas que procuraremos discutir nesta

primeira unidade.

É notável o engessamento dos professores em relação ao ensino

de Educação Física. Muitos dos profissionais, ainda hoje, são

conhecidos como "rola-bola", ou seja, os profissionais da área não

abordam os conteúdos de uma forma diversificada e sistematizada.

É muito comum encontramos professores de Educação Física

34 © Fundamentos da Educação Física Escolar

sentados na arquibancada da quadra cronometrando uma partida

de futebol, ou então ministrando a chamada "aula livre" (cada aluno

escolhe o material e faz aquilo que desejar durante a aula).

Por isso, muitas vezes, os professores de Educação Física são

tachados de "folgados" e são vítimas de certos comentários que

mancham a sua imagem, como, por exemplo: "professor de Educa-

ção Física só tem músculo", "eu deveria ter feito Educação Física,

pois é só jogar bola", "professor de Educação Física não precisa

preparar aula", "professor de Educação Física só serve para enfeitar

a escola e elaborar coreografias em datas comemorativas".

Até que ponto tudo isso é verdade? Precisamos mudar esse

conceito sobre a Educação Física escolar e os professores que trabalham

nos diferentes níveis de ensino.

Então, qual seria a melhor forma de reverter esse quadro?

Acredito que para "ganharmos um lugar ao sol" e sermos reconhecidos

no meio escolar, precisamos, inicialmente, ter um forte

embasamento teórico e saber relacioná-lo com a prática.

Tal empreitada parece impossível, contudo as barreiras encontradas

no dia a dia ficarão menores a partir dos conhecimentos


adquiridos nesta unidade.

As possibilidades são muitas, portanto, é só arregaçar as

mangas e ir ao trabalho!

Vamos em frente?!

5. AS PRINCIPAIS TEORIAS PEDAGÓGICAS

Nos últimos anos, a Educação Física sofreu mudanças significativas.

Podemos dizer que essas mudanças ocorreram devido à

proposição de uma variedade de abordagens para o seu desenvolvimento.

As abordagens mais conhecidas são:

35

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

1) Psicomotricista (Le Bouch, 1982).

2) Desenvolvimentista (Tani, Manoel, Kokubun e Proença,

1988).

3) Construtivista (Freire, 1989).

4) Fenomenológica (Moreira, 1991).

5) Sociológica (Betti, 1991).

6) Crítico-Superadora (Soares, Taffarel, Varjal, Castellani Filho,

Escobar e Bracht, 1992).

7) Crítico-Emancipatória (Kunz, 1994).

8) Antropológica (Daólio, 1995).

9) Saúde Renovada (Guedes e Nahas, 1997).

10) Jogos Cooperativos (Brotto, 1995).

Abordar todas essas teorias pedagógicas, em um único caderno,

de uma forma não superficial, é praticamente impossível,

por isso, selecionamos seis dessas abordagens para serem apresentadas

e discutidas nesta unidade. As demais teorias serão abordadas

no decorrer do curso.

Abordagem Desenvolvimentista

A Abordagem Desenvolvimentista foi elaborada por Go Tani,


Edison de Jesus Manoel, Eduardo Kokubun e José Elias de Proença.

O livro denominado Educação Física Escolar: fundamentos de uma

abordagem desenvolvimentista foi publicado em 1988.

Essa abordagem procura mostrar que para definir os objetivos,

métodos e conteúdos de ensino, é importante considerar

as necessidades que advém do próprio processo de mudanças

no comportamento motor humano ao longo da vida (TANI et al,

1988).

Isso significa que, para planejar uma aula, o professor deve

considerar a sequência normal de desenvolvimento das crianças

para que as atividades ministradas não estejam nem muito além e

nem muito aquém das suas reais necessidades.

36 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Outro ponto fundamental dessa abordagem refere-se à diversidade

e à complexidade dos movimentos. Os autores acreditam

que nas aulas de Educação Física deve haver a interação entre

o aumento da diversidade e da complexidade dos movimentos

visando proporcionar aos alunos condições para que seu comportamento

motor seja desenvolvido. Ou seja, os conteúdos devem

obedecer a uma sequência e devem ser trabalhados do mais simples

ao mais complexo.

A sequência adotada pela Abordagem Desenvolvimentista

foi baseada no modelo de taxionomia do desenvolvimento motor

proposta por Gallahue (1982).

Fonte: GALLAHUE (1982)

Figura 1 – Modelo de Gallahue.

Ao observarmos a Figura 1, podemos classificar os movimentos

humanos em cinco fases:

1) Movimentos Reflexos (vida intrauterina até 4 meses

após o nascimento).

37
Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

2) Movimentos Rudimentares (dos 4 meses até 2 anos).

3) Movimentos Fundamentais (dos 2 aos 7 anos).

4) Combinação de Movimentos Fundamentais (dos 7 aos

12 anos).

5) Movimentos Determinados Culturalmente (a partir dos

12 anos).

Essa classificação hierárquica permite programar conteúdos

seguindo uma ordem de habilidades, até atingir os movimentos

determinados culturalmente que envolvem movimentos especí-

ficos, como, por exemplo, a prática dos esportes, da dança, dos

jogos etc.

A seguir, serão apresentados alguns conceitos importantes

que são a base da Abordagem Desenvolvimentista: domínio do

comportamento humano e habilidades básicas.

Domínios do Comportamento Humano

Todo o comportamento humano pode ser classificado como

sendo pertencente a um dos três domínios: cognitivo, afetivo-social

e motor.

Fazem parte do domínio cognitivo as operações mentais

como a descoberta, o armazenamento e a geração de informações

a partir de certos dados e a tomada de decisão (MAGILL, 1980).

O domínio afetivo-social é composto pelos sentimentos e

emoções e, do domínio motor, fazem parte os movimentos.

Apesar de um determinado comportamento ser classificado

em um desses três domínios, é importante esclarecer que, na

maioria dos casos, existe a participação simultânea de todos eles.

Ou seja, essa classificação é utilizada para destacar o domínio que

é predominante em determinado comportamento motor.

Por exemplo: o comportamento de um indivíduo no jogo


de xadrez é predominantemente cognitivo, embora os domínios

motor (movimentação das peças) e afetivo-social (alegria, tristeza,

raiva etc.) também estejam presentes.

38 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Mas você deve estar se perguntando: qual a utilidade de conhecer

esses três domínios?

Em termos práticos, ao conhecer os domínios do comportamento

humano, teremos uma visão integrada e sistêmica desse

comportamento. Assim, o trabalho na Educação Física passará a

desenvolver não só as qualidades físicas, mas também a afetividade,

a socialização e a cognição envolvidas em cada atividade ministrada.

Embora a Educação Física defenda a importância da integração

entre corpo e mente, na prática, é possível observar várias

situações nas quais ainda predomina a preocupação com o desenvolvimento

físico, dando pouco ou quase nenhuma atenção aos

outros aspectos do desenvolvimento global das crianças.

Por isso, ao ministrar qualquer atividade nas aulas de Educação

Física, o professor deve estar atento não só aos aspectos

motores, mas também aos aspectos cognitivos e afetivo-sociais

envolvidos durante o processo de ensino-aprendizagem.

Aquisição dos padrões fundamentais do movimento (ou

habilidades básicas)

Tani et al (1988) afirmam que para entender os problemas

que os indivíduos encontram para adquirir habilidades específicas

é necessário retomar o processo pelo qual as habilidades básicas

foram ou não adquiridas.

Isso significa que se uma pessoa tem dificuldades em jogar,

por exemplo, futebol, deve-se ao fato de que as habilidades básicas

para a prática desse esporte (chutar, receber, saltar etc.) não

foram adquiridas.

Essa definição afirma, novamente, a importância da não especialização


precoce, ou seja, até os doze anos de idade, a criança

deve se preocupar em desenvolver as habilidades básicas e não se

especializar em um único esporte.

39

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

Segundo Wickstrom (1977 apud TANI et al, 1988, p. 87) "entende-se

por habilidade básica uma atividade motora comum com

uma meta geral, sendo ela a base para atividades motoras mais

avançadas e altamente específicas".

Isso enfatiza a necessidade de uma atuação mais eficiente da

Educação Física para aquisição de habilidades básicas. Muitos professores

se preocupam em ensinar as técnicas e táticas de várias

modalidades esportivas e esquecem-se de desenvolver um trabalho

voltado ao desenvolvimento das habilidades básicas: correr,

saltar, rolar, arremessar, chutar, rebater etc.

Os padrões fundamentais de movimento (habilidades básicas)

podem ser divididos em padrões de locomoção, de manipula-

ção e de equilíbrio.

Locomoção: os padrões de movimento que as crianças apresentam

nesta categoria permitem a exploração do espaço. Fazem

parte da locomoção: andar, saltar, correr, rolar, galopar e saltar no

mesmo pé.

Manipulação: essa categoria envolve o relacionamento do

indivíduo com um objeto. São incluídos aqui o arremessar, receber,

rebater, chutar e quicar.

Equilíbrio: permite à criança manter uma postura no espaço

e em relação à força de gravidade. Fazem parte dessa categoria:

estar em pé, estar sentado, girar os braços, flexionar o tronco, parada

de mão, rolamento, equilíbrio em um só pé e o caminhar sobre

uma superfície de pequena amplitude.


Após a apresentação das habilidades básicas, é importante

ressaltar que o desenvolvimento destas ocorre a partir de uma

hierarquia.

Qual é o primeiro padrão fundamental de movimento ou habilidade

básica a se desenvolver? A resposta para essa questão é

o andar.

40 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Com base no andar, outras habilidades básicas são desenvolvidas.

Estudos mostram que, aproximadamente, até os 7 anos de

idade, o desenvolvimento motor das crianças é caracterizado pela

aquisição, estabilização e diversificação dos padrões fundamentais

do movimento.

Após essa idade, até por volta dos doze anos, as habilidades

são refinadas e ocorre uma combinação dessas habilidades em padrões

sequenciais cada vez mais complexos. Por exemplo: a habilidade

básica correr interage com a habilidade de quicar uma bola,

resultando em uma estrutura mais complexa denominada drible.

Isso significa que as habilidades adquiridas nos primeiros

anos de vida são a base para a aprendizagem de tarefas mais complexas.

Não observar essa sequência de desenvolvimento pode

levar a superestimulação das crianças, levando à especialização

precoce que é muito prejudicial ao desenvolvimento infantil.

Por isso, as crianças até os dez anos de idade devem desenvolver

ao máximo as habilidades básicas sem preocupação com as

habilidades específicas.

Dessa forma, a Educação Física deve proporcionar às crian-

ças o desenvolvimento hierárquico de suas habilidades. Para que

isso aconteça, é necessário organizar atividades diversificadas e

cada vez mais complexas.

Por exemplo, o professor pode propor uma atividade na qual

as crianças irão andar pela quadra, em seguida, ele diversificará


os movimentos, pedindo para as crianças andarem de costas e de

lado. Para tornar essa atividade mais complexa, o professor pedirá

para as crianças andarem de olhos fechados e em ritmos diferentes.

O professor de Educação Física, ao respeitar a sequência de

desenvolvimento e estabelecer tarefas cada vez mais diversificadas

e complexas, estará favorecendo os desenvolvimentos das potencialidades

máximas das crianças.

41

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

As atividades desenvolvidas com base na proposta dessa

abordagem não precisam ser monótonas e repetitivas, pelo contrário,

o professor deve selecionar e organizar conteúdos e metodologias

atraentes, diferenciadas e lúdicas. Veja uma sugestão de

atividades:

Sugestões de Atividades ––––––––––––––––––––––––––––––

1) Dividi-se a turma em duas colunas. Formam-se um percurso com cones e as

crianças deverão andar entre estes quicando uma bola, indo e voltando e

passando a bola para a próxima criança que estiver na fi la.

2) Nunca Três: a turma fi ca dividida em duplas (sentada uma atrás da outra).

Duas crianças serão selecionadas, uma para ser o pegador e outra par ser o

fugitivo. O pegador tentará pegar o fugitivo enquanto este deverá fugir e sentar

atrás de uma das duplas. Quando sentar, o primeiro da fi la passará a ser

o pegador e a criança que era o pegador passará a ser o fugitivo.

3) Dividi-se a turma em duas equipes. As equipes formarão duas colunas. A atividade

será feita em duplas. Cada dupla deverá segurar e equilibrar a latinha

de refrigerante com a testa (juntos). À frente terão dois cones que formarão

um gol. Próximo ao cone estará uma bola de handebol. O objetivo é pegar a

bola e fazer o gol, sem deixar a latinha cair no chão. Feito o gol, a dupla volta

equilibrando a latinha na testa e passa para a próxima dupla. Vence a equipe


que terminar primeiro.

4) A turma se dividirá em duas equipes. Cada equipe formará uma coluna e terá

a sua frente seis arcos formando um triângulo (três na base, e no meio e um

na ponta). O aluno terá cinco chances de arremessar a bola de handebol em

direção aos arcos. Se a bola cair dentro dos três primeiros arcos (base) o

aluno marcará um ponto. Se cair nos dois arcos do meio marca dois pontos e

se o aluno conseguir fazer com que a bola caia no arco da ponta, ele marcará

três pontos. Vence a equipe que marcar mais pontos.

5) A turma se dividirá em duas equipes. Cada equipe formará uma coluna no

fundo da quadra. Cada aluno terá que correr controlando a bexiga até o cone

posicionado à frente da coluna. Assim que o aluno voltar, passar a bexiga

para o próximo e assim, sucessivamente.

6) Atividade semelhante a anterior. Agora além do aluno correr controlando a

bexiga, terá que equilibrar o copo plástico na testa. Vence a equipe que terminar

primeiro.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Retomando

Para seguirmos com nosso estudo sobre as abordagens, vale

a pena recordar o que estudamos até agora, segundo Tani et al:

A abordagem desenvolvimentista parte do posicionamento básico

de que, se a Educação Física pretende atender às reais necessidades

e expectativas da criança, ela necessita, antes de mais nada,

42 © Fundamentos da Educação Física Escolar

compreender as suas características em termos de crescimento,

desenvolvimento e aprendizagem, visto que a não observância

destas características conduz frequentemente ao estabelecimento

de objetivos, métodos e conteúdos de ensino inapropriados (TANI

et al, 1988, p. 135).

Um aspecto muito importante aqui abordado é que, se existe uma

seqüência normal nos processos de crescimento, de desenvolvimento

e de aprendizagem motora, isto nada mais significa que as


crianças necessitam ser orientadas especificamente com relação a

estas características, desde que, só assim, as suas reais necessidades

e expectativas serão alcançadas (TANI et al, 1988, p. 135).

Em outras palavras, se existe uma seqüência normal de desenvolvimento,

isto quer dizer que as tarefas de aprendizagem a serem

ensinadas nas aulas de Educação Física devem sempre manter correspondência

com esta seqüência, para que não se estabeleçam

conteúdos nem muito além e nem muito aquém das capacidades

reais da criança (TANI et al, 1988, p. 136).

A ausência de correspondência entre a tarefa a ser ensinada e o

processo de desenvolvimento conduz, frequentemente, à subestimulação

ou superestimulação, ambas prejudiciais ao desenvolvimento

normal do ser humano (TANI et al, 1988, p. 136).

Os conhecimentos de desenvolvimento fisiológico, cognitivo e

afetivo-social tornam-se muito importantes na determinação da

metodologia de ensino a ser adotada na Educação Física. Esses

conhecimentos fornecem subsídios para elaborar uma estratégia

mais adequada do professor na sua atuação com os alunos. Além

disso, serve de critério ou referencial para que se possa avaliar a

progressão das crianças e, por conseguinte, permite acompanhá-

las melhor (TANI et al, 1988, p. 136).

Acreditamos que a Educação Física, quando estruturada com base

nos conhecimentos abordados nesse trabalho, possibilita a preparação

de um ambiente de aprendizagem e de desenvolvimento

que favoreça a todas as crianças desenvolverem ao máximo as

suas potencialidades de movimento e os fatores que o influenciam,

levando-se em consideração suas características e limitações (TANI

et al, 1988, p. 137).

Abordagem Crítico-Superadora

A Abordagem Crítico-Superadora é apresentada na obra Metodologia

do Ensino de Educação Física, também conhecida, popularmente,


como Coletivo de Autores.

43

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

Esse livro foi publicado em 1992. Na sua elaboração, seus

autores Carmem Lúcia Soares, Celi Taffarel, Elizabeth Varjal, Lino

Castellani Filho, Micheli Escobar e Valter Bracht preocuparam-se

com as condições reais do dia a dia escolar visando auxiliar os professores

no aprofundamento dos conhecimentos de Educação Fí-

sica como área de estudo e campo de trabalho.

A seguir, serão apresentados os principais conceitos abordados

nessa obra.

A abordagem crítico-superadora trata de uma pedagogia

emergente que busca refletir sobre a cultura corporal, ou seja,

busca realizar uma reflexão pedagógica sobre as diferentes formas

de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer

da história, exteriorizadas pela expressão corporal, como,

por exemplo, jogos, lutas, danças, ginásticas, atividades circenses,

esportes etc. (DAÓLIO, 2007).

Todas as atividades corporais (pular, arremessar, jogar, dan-

çar, saltar, lutar etc.) foram construídas em determinadas épocas

históricas com base nas necessidades humanas, portanto, é fundamental

que a prática pedagógica da Educação Física tenha como

base a Cultura Corporal de Movimento.

Nessa perspectiva, todos os temas envolvendo a cultura corporal

devem ser tratados na escola de forma crítico-superadora,

ou seja, além de trabalhar os elementos técnicos e táticos, deve-se

evidenciar o sentido e o significado dos valores e das normas que

regulamentam o nosso contexto sócio-histórico.

Por exemplo, pode-se explicar ao aluno que um jogo de voleibol

só ocorre porque existe a contradição erro/acerto. Imagine


como seria monótono e sem graça uma partida de voleibol em que

a bola não caísse no chão.

O erro faz parte do jogo, por isso, o aluno não deve se sentir

fracassado só porque cometeu um erro.

44 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Esse tipo de reflexão faz que o aluno dê um "salto qualitativo"

em todos os sentidos: nas habilidades, na coletividade, nos

valores éticos e morais, no domínio da técnica, nas atividades corporais

etc.

Segundo Soares et al (1992, p. 41):

Esse tratamento não se coloca na perspectiva de uma organização

escolar rígida e conservadora, uma vez que diferentes espaços podem

ser utilizados: a quadra ou o campo para o jogo, a sala de aula

para a reflexão pedagógica sobre ele, o recreio para uma "pelada",

um campeonato para constatar os dados, identificar as classifica-

ções, as generalizações etc.

Esta forma de organizar o conhecimento não desconsidera a

necessidade do domínio dos elementos técnicos e táticos, porém,

não os coloca como exclusivos e únicos conteúdos da aprendizagem.

Esse é o ponto central de uma prática transformadora.

Educação Física Escolar

Os autores do Livro Metodologia do Ensino de Educação Fí-

sica, no capítulo 2, lançam a seguinte questão: O que é Educação

Física?

Educação Física é educação por meio das atividades corporais?

Educação Física é educação pelo movimento? Educação Física

é esporte de rendimento? Educação Física é educação do movimento?

Educação Física é educação sobre o movimento?

Em sua opinião, qual dessas respostas é a correta?

Segundo os autores da Abordagem Crítico-Superadora (SOARES

et al, 1992, p. 50):


A Educação Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar,

tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo,

esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área

de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal.

Dessa forma, a Educação Física é uma disciplina que trata,

pedagogicamente, do conhecimento de uma área denominada de

cultura corporal.

45

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

O estudo desse conhecimento visa apreender a expressão

corporal como linguagem. São exemplos de temas ou formas de

atividades corporais: jogo, esporte, ginástica, dança etc.

Os temas da cultura corporal, tratados na escola, precisam ir

além do ensino das técnicas e táticas. Ou seja, esses temas precisam

envolver uma reflexão sobre os problemas sociopolíticos atuais

como: ecologia, saúde pública, papéis sexuais, preconceitos,

distribuição de renda etc., para que o aluno tenha a oportunidade

de entender a realidade social, interpretando-a e explicando-a

com base nos seus interesses de classe social.

Um exemplo de atividade seria organizar uma excursão para

um local onde seja possível a prática de montanhismo, rafting, trilhas

etc. Todas essas atividades fazem o aluno confrontar-se com

questões relacionadas à preservação do meio ambiente.

Baseado nesse passeio é possível discutir o homem como

um ser construtor e predador, ou seja, ao mesmo tempo que o

homem constrói bens sociais, como ruas asfaltadas, provoca desmatamento,

poluição etc.

A Educação Física, em uma perspectiva crítico-superadora,

precisa selecionar e organizar os conteúdos de uma forma coerente

e visando promover a leitura da realidade.


Todos os conteúdos desenvolvidos nas aulas de Educação Fí-

sica devem ser estudados profundamente pelos professores, desde

a sua origem histórica até o seu valor educativo. Além disso,

esses conteúdos podem, e devem, ser tratados em todos os níveis

de ensino em uma evolução espiralada.

Por exemplo, o professor ao trabalhar o lançamento de dardo

deverá, inicialmente, promover atividades lúdicas envolvendo

a possibilidade de jogar distante de si objetos diferentes (bola,

pedra, bastão de madeira etc.). Em seguida, a distância do lançamento

deverá ser ampliada. O passo seguinte é a busca da forma

"técnica", visando garantir a eficácia do lançamento e, mais tarde,

46 © Fundamentos da Educação Física Escolar

praticar o "lançamento de dardo" com o propósito claro da busca

do rendimento esportivo. Além de todas essas atividades, deve-se

também abordar a questão histórica dessa modalidade esportiva,

bem como as questões sociais que estão inerentes a esse esporte

(patrocínio, classe social dos praticantes, mídia etc.)

Sugestões de Atividades ––––––––––––––––––––––––––––––

1) Ginástica Artística: a seleção e organização de conteúdos, com base na abordagem

crítico-superadora, exige coerência com o objetivo e visa promover a leitura

da realidade. Assim, em primeiro lugar deve-se analisar a origem do conteú-

do e conhecer o que determinou a necessidade do seu ensino. A segunda etapa

consiste em trabalhar os fundamentos da ginástica artística: saltar, equilibrar,

rolar/girar, balançar e etc. Nas séries subsequentes, deve-se abordar as técnicas

apropriadas e os conhecimentos mais sofi sticados dessa modalidade.

Segundo Soares et al (1992), cada aula pode ser dividida em três fases: 1) Discutir

os conteúdos e objetivos da unidade com os alunos, buscando as melhores

formas de estes se organizarem para a execução das atividades propostas; 2) A

segunda fase refere-se à apreensão do conhecimento e; 3) Na terceira fase avalia-se

o que foi realizado e levantam-se perspectivas para as aulas seguintes.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Retomando

Na busca em compreender melhor sobre a Abordagem Crí-

tico-Superadora, veja um apanhado geral nas palavras de Soares

et al:

Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica

curricular, no âmbito da Educação Física, tem características bem

diferenciadas das da tendência anterior. Busca desenvolver uma

reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação

do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história,

exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios

ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e

outros, que podem ser identificados como formas de representa-

ção simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente

criadas e culturalmente desenvolvidas (SOARES et al, 1992, p. 38).

É fundamental para essa perspectiva da prática pedagógica da educação

Física o desenvolvimento da noção de historicidade da cultura

corporal. É preciso que o aluno entenda que o homem não nasceu

pulando, saltando, arremessando, balançando, jogando, etc.

Todas essas atividades corporais foram construídas em determinadas

épocas históricas, como respostas a determinados estímulos,

desafios ou necessidades humanas (SOARES et al, 1992, p. 39).

47

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

A expectativa da Educação Física escolar, que tem como objeto a

reflexão sobre a cultura corporal, contribui para a afirmação dos

interesses de classes das camadas populares, na medida em que

desenvolve uma reflexão pedagógica sobre valores como solidariedade

substituindo individualismo, cooperação confrontando a

disputa, distribuição em confronto com apropriação, sobretudo enfatizando

a liberdade de expressão dos movimentos – a emancipa-


ção – negando a dominação e submissão do homem pelo homem

(SOARES et al, 1992, p. 40).

Abordagem Antropológica

A Abordagem Antropológica ou Cultural foi sugerida por Jocimar

Daólio (1995).

Na obra Da Cultura do Corpo, o autor utiliza como referencial

teórico a Antropologia Social. Segundo Daólio (1995), a Antropologia

Social entende o homem como construtor de significados

para as suas ações no mundo. Por isso, o seu estudo pauta-se no

homem e nas suas relações sociais.

Essa abordagem acredita que se o homem é um ser social,

vinculado às redes de sociabilidade, ele também o é na sua vida

profissional.

Isso significa que a Abordagem Antropológica olha para os

professores de Educação Física como um grupo constituído por

seres sociais, buscando e fazendo de sua atuação profissional cotidiana

o sentido para suas vidas.

O professor de Educação Física está inserido em um contexto

cultural, portanto, as suas representações sobre o mundo, corpo e

a escola precisam ser valorizados.

Além disso, o ponto de partida nas aulas de Educação Física

deve ser o repertório cultural de cada aluno. Ou seja, ao planejar

uma aula, é preciso levar em consideração toda a "bagagem" cultural

dos alunos e, a partir daí, desenvolver os conteúdos entendendo

as diferenças existentes em cada turma.

48 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Antropologia

Segundo Laplantine (1988 apud DAÓLIO, 1995, p. 23)

A Antropologia nada mais é do que um certo olhar, um certo enfoque,

que consiste em estudar o homem inteiro e em todas as sociedades,

sob todas as latitudes, em todos os seus estados e em todas


as épocas. Ou, dito de outro modo, trata-se de estudar o homem

em todas as suas práticas e os seus costumes.

O antropólogo, com base em observações de outras sociedades,

vai notando certas diferenças em relação à sua própria sociedade.

Esse estranhamento em relação a determinados hábitos e

comportamentos o faz olhar criticamente para características, até

então, tidas como naturais em uma sociedade.

Por exemplo, ao observar o comportamento e vestimentas

das mulheres indianas, notaremos que elas são submissas aos homens

e que não podem sair nas ruas sem estarem totalmente cobertas.

Ao contrário, as mulheres brasileiras são independentes,

escolhem seus próprios casamentos e vestem roupas curtas e decotadas

em qualquer ambiente.

Essa comparação cultural nos faz refletir sobre a nossa pró-

pria cultura: é melhor sairmos às ruas mostrando grande parte do

nosso corpo ou é melhor nos enfeitarmos apenas para os nossos

maridos? O respeito aos mais velhos e aos pais de família é prejudicial

a nossa formação? É possível construir um amor após um casamento

arranjado ou é melhor casar-se somente após encontrar

uma grande paixão?

É justamente essa variabilidade cultural que torna a humanidade

plural e faz com que os homens, apesar de pertencerem todos à

mesma espécie, se expressem por meio de determinadas especificidades

culturais (LAPLANTINE apud DAÓLIO, 2007, p. 24).

O trabalho do pesquisador que utiliza a metodologia antropológica

resume-se em uma dupla tarefa de afastamento e aproximação,

que consiste, por um lado, em transformar o exótico em

familiar e, por outro, o familiar em exótico. Ou seja, o pesquisador

deve buscar decifrar aquilo que se apresenta como incompreensí-

49

Claretiano - Centro Universitário


© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

vel e deve procurar estranhar aquilo que à primeira vista é conhecido.

Por exemplo, ao estudar uma tribo indígena e ver uma crian-

ça com um arco e flecha, antes de chegar a uma conclusão sobre

aquilo que está observando, o pesquisador deve acompanhar todos

os movimentos das crianças, observar se elas estão brincando

ou caçando, se é perigoso manusear essa arma, qual o papel dos

adultos durante essa atividade etc.

A Antropologia mostra que todo comportamento humano,

por possuir uma dimensão pública, não pode ser julgado por meio

de conceitos como bom/mau ou certo/errado. Assim, a Antropologia

nos ensina a evitar qualquer tipo de preconceito.

Antes de tacharmos um aluno como incompetente, não habilidoso,

distraído etc., devemos buscar referenciais culturais que

dão sentido a essas atitudes. Um aluno, às vezes, não consegue

acompanhar uma aula de futebol porque foi criado, por exemplo,

nos Estados Unidos onde os esportes mais praticados são o beisebol

e o futebol americano. Ou então, uma aluna não consegue

aprender uma coreografia na aula de dança porque é de uma famí-

lia cuja religião proíbe assistir televisão ou ouvir rádio.

Portanto, os professores de Educação Física precisam criar

o hábito de considerar as diferenças existentes entre os alunos e

grupos de alunos de forma não preconceituosa. Essa é a principal

contribuição da Abordagem Antropológica para o ensino dessa

disciplina.

A construção cultural do corpo humano

Segundo Daólio (1995), é impossível pensar a natureza humana

como exclusivamente biológica e desvinculada da cultura.

O homem é um ser cultural, ao mesmo tempo, fruto e agente da

cultura.

Rodrigues (1986 apud DAÓLIO, 1995, p. 35) diz que:


A estrutura biológica do homem lhe permite ver, ouvir, cheirar, sentir,

pensar, e a cultura lhe forneceria o rosto de suas visões, os chei-

50 © Fundamentos da Educação Física Escolar

ros agradáveis ou desagradáveis, os sentimentos alegres ou tristes,

os conteúdos do pensamento. Poder-se-ia, igualmente, afirmar

que todos os seres humanos têm a capacidade biológica de sentir

dor, mas o limite a partir do qual o indivíduo reclamará e passará a

gemer é extremamente variável de cultura para cultura.

No Japão, quando morre um ente querido, a família realiza

uma festa. Aqui no Brasil, as pessoas quando perdem um familiar

ficam desoladas e no velório o sentimento é de muita tristeza e

dor.

Esse exemplo ilustra a afirmação citada anteriormente, ou

seja, apesar dos japoneses e brasileiros serem humanos e terem a

mesma estrutura biológica, eles lidam diferentemente com a morte.

Isso acontece devido às questões culturais.

É muito difícil traçar um limite entre o que é biológico e o

que é cultural. O importante é entender que a cultura tem grande

influência sobre o comportamento do homem.

E o corpo? Também é uma construção cultural?

Sim, o corpo é considerado uma construção cultural, já que

cada sociedade se expressa diferentemente por meio de corpos

diferentes.

Por ele ser o meio de contato primário do indivíduo com o

ambiente que o cerca, no corpo, estão inscritos todas as regras, as

normas e valores de uma sociedade específica. Mesmo antes de

andar ou falar, a criança já traz no corpo alguns comportamentos

sociais, como o sorrir para determinadas brincadeiras, a forma de

dormir, as vestimentas, a necessidade de um tempo de sono, a

alimentação, a postura no colo etc.

Podemos adivinhar, com um bom índice de acerto, a origem


de determinado indivíduo observando-se a distância sua gesticulação,

sua forma de andar, sua postura corporal.

Quando você estiver em um terminal rodoviário ou em um

aeroporto, faça um teste, observe as pessoas que estão ao seu re-

51

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

dor, veja a forma de andar, a forma de cumprimentar as outras

pessoas, os seus gestos, as suas roupas, os acessórios etc. Tente

adivinhar quem são essas pessoas, de que lugar elas são e quais

são os seus costumes.

Rodrigues (1987 apud DAÓLIO, 1995, p. 39) mostra que

Assistindo-se a uma copa do mundo de futebol, também pode-se

diferenciar com nitidez uma seleção de outra, a despeito de todas

jogarem segundo as mesmas regras e apesar de os esquemas táticos

atuais tentarem nivelar todas as seleções privilegiando o preparo

físico dos jogadores. É notória, por exemplo, a diferença entre

a expressão corporal da seleção brasileira de futebol e a da alemã.

Fala-se com propriedade que elas possuem estilos diferentes.

Podemos afirmar que todos os seres humanos possuem uma

constituição biológica semelhante (50 trilhões de células, um coração

que bate em uma velocidade de 60 a 80 vezes por minuto

etc.). Entretanto, não são essas semelhanças que definem o corpo

humano, mas a forma como os conceitos e as definições a seu respeito

são construídos culturalmente.

Portanto, o que importa é a forma como cada um desses

corpos é construído, cuidado, concebido, valorizado, enfim, representado.

Por volta dos séculos 17 e 18, a criança era tratada como um

adulto em miniatura. Elas vestiam-se como os adultos, comportavam-se

como eles e até mesmo as brincadeiras eram iguais. Hoje,


as crianças são tratadas de acordo com as suas especificidades,

suas vestimentas são próprias, os brinquedos e brincadeiras são

diferenciados, as festas e convívio social são específicos.

Observe as Figuras 2, 3 e 4 e compare as vestimentas, as

posturas e as especificidades das crianças nos diferentes períodos

históricos.

52 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Figura 2 The Infanta Margarita, 1653.

Figura 3 Os Filhos de Hülsenbeck, 1806.

53

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

Figura 4 Criança do século 21.

Assim, precisamos entender os movimentos corporais como

parte de um todo social. Por exemplo, ao observarmos as festas

tradicionais de cada região, percebemos que os comportamentos

corporais fazem parte de uma tradição social, da mesma forma

que os rituais religiosos, os costumes, as crenças e a linguagem.

Portanto, o conjunto de posturas e movimentos corporais representa

valores e princípios culturais. Consequentemente, atuar

no corpo implica atuar sobre a sociedade na qual esse corpo está

inserido.

A Educação Física trabalha com práticas corporais, por isso,

os professores dessa área precisam refletir sobre essas práticas, a

fim de que a sua realização considere o homem como sujeito da

vida social.

Não podemos mais nos preocupar com o desenvolvimento

e a eficiência do desempenho dos alunos. A sociedade atual pede

o reconhecimento das diferenças – não só físicas, mas também


culturais – expressas pelos alunos, garantindo o direito de todos à

sua prática.

54 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Sugestões de atividades –––––––––––––––––––––––––––––––

1) Dramatizar cantigas de roda: A turma será dividida em equipes de quatro pessoas.

Cada equipe sorteará uma cantiga de roda. Eles terão que dramatizar e

cantar a cantiga sorteada. Exemplos de cantiga: Escravos de Jô, Ciranda Cirandinha,

O Cravo brigou com a Rosa, Atirei o pau no gato, A Dona Aranha, etc.

2) Futebol americano: A turma se dividirá em duas equipes. As regras serão as

seguintes: 1) Só poderá segurar o atleta que estiver com a posse de bola. 2) Será

ponto da equipe se o jogador que estiver com a bola entrar na área delimitada. 3)

Em qualquer saída de bola, as equipes deverão fi car frente a frente, tendo uma

linha imaginária separando-as. 4) Os atletas não poderão ultrapassar essa linha

imaginária enquanto a bola não sair da mão do passador. 5) O jogo terminará

quando acabar o tempo determinado. 6) O vencedor será a equipe que tiver o

maior número de pontos.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Retomando

Retomemos o significado e importância da abordagem antropológica

de acordo com Daólio:

Essa concepção de corpo como primordialmente biológico, ainda

arraigada na prática dos professores, implica entender que os mesmos

ossos, os mesmos músculos, os constituíram na justificativa

para a aceitação de uma noção universal de corpo humano. A conseqüência

direta dessa concepção é a tendência em se visar unicamente

ao desenvolvimento físico de todos os alunos da mesma

forma (DAÓLIO, 1995, p. 94).

Os corpos, embora a sua base biológica semelhante, foram e continuam

a ser construídos diferentemente em cada sociedade, segundo

os padrões gerais da sua cultura e respeitando as especificidades

de classe social, de religião, de grupo, etc. (DAÓLIO, 1995, p. 94).


A ciência antropológica, conforme discutido anteriormente, considera

a humanidade plural e procura abordar os homens a partir de

suas diferenças (DAÓLIO, 1995, p. 99).

Um costume ou uma prática de um determinado grupo não devem

ser vistos como certos ou errados, melhores ou piores do que

outros do nosso próprio grupo. Ambos têm significados próprios

que os justificam no âmbito do grupo no qual ocorrem. Portanto, a

diferença não deve ser pensada como inferioridade (DAÓLIO, 1995,

p. 100).

O que caracteriza a espécie humana é justamente sua capacidade

de se expressar diferencialmente (DAÓLIO, 1995, p. 100).

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Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

Abordagem Crítico-Emancipatória

A principal obra publicada na perspectiva Crítico-Emancipatória

da Educação Física é de autoria de Elenor Kunz. A sua obra

Transformação Didático-Pedagógica do Esporte (1994) apresenta

uma reflexão sobre as possibilidades de ensinar os esportes por

meio de uma transformação didático-pedagógica.

Para o autor, o ensino escolar deve basear-se em uma concepção

crítica, ou seja, a tarefa do professor é dar condições para

que os alunos adquiram uma competência crítica e emancipada.

O Esporte

O esporte, evidentemente, é um fenômeno extremamente

importante em todas as sociedades atuais.

Defrontamo-nos com ele a toda hora, mesmo sem praticá-

lo. Quem não pode acompanhar as últimas Olimpíadas ou a Copa

do Mundo? Quem não sabe qual time venceu o campeonato brasileiro?

Qual emissora de televisão não divulgou as últimas contratações

feitas pelos grandes times? Quem nunca ouviu falar em


Daiane dos Santos ou em Gustavo Borges?

Mesmo quem não pratica ou não gosta de nenhum esporte,

em todo instante nos deparamos com algo relacionado aos eventos

esportivos, seja na TV, na rua, no rádio, na escola, nas festas,

nos bares, nos restaurantes etc.

Atualmente, o Brasil faz parte da elite mundial do futebol,

do voleibol, da ginástica olímpica e de outras modalidades esportivas.

Isso vem gerando uma influência cada vez maior sobre nossa

"cultura de movimento" e, principalmente, sobre o conteúdo a ser

desenvolvido nas aulas de Educação Física.

Não podemos negar os esportes como um conteúdo importante

nas aulas de Educação Física, pois os esportes fazem parte da

cultura dos brasileiros.

56 © Fundamentos da Educação Física Escolar

O que não pode acontecer é desenvolver os esportes nas aulas

de Educação Física com a finalidade do alto rendimento.

O trabalho visando o alto rendimento apresenta uma série

de problemas. Dentre eles:

• O interesse da ciência esportiva não está no ser humano

ou na dimensão social do esporte, mas sim na tecnologia

para alcançar resultados cada vez melhores.

• No esporte de alto rendimento, embora o homem não

seja substituído pela máquina, torna-se ele próprio uma

máquina de rendimentos.

Os atletas de alto rendimento, para ultrapassar um record,

sujeitam-se a tratamentos desumanos, pois o que importa é que o

resultado seja alcançado.

O filme Menina de Ouro mostra bem o que um atleta é capaz

de fazer para conseguir chegar ao topo de um campeonato.

Passar fome, passar frio, dormir pouco, treinar mesmo sentindo

dores musculares, são exemplos do que muitos atletas enfrentam


no meio esportivo.

É claro que o esporte, para ser praticado nos padrões e nos

princípios do alto rendimento, requer exigências de que cada vez

menos pessoas conseguem dar conta.

Atualmente, para ser um atleta de elite é preciso ter um bom

patrocinador, ter as exigências físicas e técnicas necessárias para a

prática do esporte, ter acesso às novas tecnologias etc.

Como uma criança que fica confinada em um apartamento e

sem acesso a locais adequados para a prática dos esportes poderá

se tornar um atleta de alto rendimento? As possibilidades são mí-

nimas, mesmo assim, ele é o modelo que todos querem seguir.

Atraídos pela fama e fortuna, muitos alunos alimentam o sonho

de serem contratados por um grande time e serem conhecidos

internacionalmente. Dessa forma, Kunz (1994) levanta a seguinte

57

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

questão: sob quais condições e de que forma o esporte deve e

pode ser praticado na escola?

Segundo o autor, o esporte não necessariamente precisa ser

tematizado na forma tradicional, com vistas ao desenvolvimento

de determinadas competências exigidas pelos esportes, mas sim

com vistas ao desenvolvimento de três competências imprescindíveis

na formação do aluno: trabalho, interação social e linguagem.

Trabalho: processo racionalmente organizado e sistematizado

para alcançar progressivamente melhor performance física e

técnica para as práticas esportivas.

Interação social: exige a competência por parte dos alunos e

do professor para conduzir o ensino, democraticamente, de acordo

com a situação, o conteúdo, o contexto e o grupo.

Linguagem: essas interações de aluno-aluno, aluno-professor


e professor-aluno não podem acontecer sem a participação da linguagem.

Pelo esporte existem inúmeras formas de se manifestar

e buscar entendimentos pela via de linguagem (falada, por gestos,

por imitação etc.).

Isso significa que durante o processo de ensino-aprendizagem,

além do trabalho de treinar habilidades e técnicas, devem

ser considerados dois outros aspectos que também são importantes:

a interação social e a linguagem.

A constituição do processo de ensino por essas três categorias

(trabalho, interação e linguagem) deve conduzir ao desenvolvimento

das seguintes competências: objetiva, social e comunicativa.

Competência Objetiva: o aluno precisa receber conhecimentos e

informações, precisa treinar destrezas e técnicas racionais e eficientes,

precisa aprender certas estratégias para o agir prático de forma

competente. Precisa, enfim, se qualificar para atuar dentro de suas

possibilidades individuais e coletivas e agir de forma bem-sucedida

no mundo do trabalho, na profissão, no tempo livre e, nesse caso,

no esporte (KUNZ, 1994, p. 40).

58 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Competência Social: o aluno deve adquirir conhecimentos e esclarecimentos

para entender as relações socioculturais do contexto

em que vive, dos problemas e contradições dessas relações, os diferentes

papéis que os indivíduos assumem numa sociedade, no

esporte, e como esses se estabelecem para entender diferentes expectativas

sociais. No caso do esporte, especialmente, a competência

social deve atuar, também, no sentido de desvelar diferenças e

discriminações que se efetivam através da socialização específica

para os sexos e que nessas aulas normalmente são reforçadas pela

formação de turmas masculinas e femininas. (...) Enfim, a competência

social deverá contribuir para um agir solitário e cooperativo,

deverá levar os alunos à compreensão dos diferentes papéis sociais


existentes no esporte e fazê-los sentir-se preparados para assumir

esses diferentes papéis e entender/compreender os outros nos

mesmos papéis ou assumindo papéis diferentes. Isso naturalmente,

não pode acontecer sem reflexão e sem muita comunicação em

aula (KUNZ, 1994, p. 40-41).

Competência Comunicativa: para o desenvolvimento da competência

educacional crítico-emancipatória, o desenvolvimento da

competência comunicativa exerce um papel decisivo. Saber se

comunicar e entender a comunicação dos outros é um processo

reflexivo e desencadeia iniciativas do pensamento crítico. Mas, a

competência comunicativa na Educação Física e esportes não deve

se concentrar apenas na linguagem dos movimentos que precisam,

acima de tudo, ser compreendidos pelos integrantes de um jogo ou

atividades lúdicas, mas, principalmente, a linguagem verbal deve

ser desenvolvida. (...) Isso significa dizer, que conduzir o ensino na

concepção crítico-emancipatória, com ênfase na linguagem, é ensinar

o aluno a ler, interpretar e criticar o fenômeno sociocultural do

esporte (KUNZ, 1994, p. 41 e 43).

Assim, podemos dizer que o esporte, para atender uma concepção

crítico-emancipatória de ensino, deve passar por um processo

de "transformação didático-pedagógica" e ser desenvolvido

com os alunos baseado em uma didática comunicativa.

Concepção Crítico-Emancipatória

O ensino na concepção crítico-emancipatória deve basear-se

em uma concepção crítica, ou seja, deve ser um ensino de libertação

de falsas ilusões, de falsos interesses e desejos, criados e

construídos nos alunos pela visão de mundo que apresentam a

partir do conhecimento.

59

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© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física


Kunz (1994) defende o ensino crítico visando à emancipação

dos alunos.

Hoje, podemos dizer que os jovens são mais livres e independentes.

Porém, acreditamos que isso só acontece no plano

físico, ou seja, os jovens vão morar fora de casa, entram no mercado

de trabalho bem cedo etc. Mas, no plano intelectual, sofrem

constantes influências externas dos modernos meios de produção

e reprodução cultural, dos meios de comunicação, da própria educação

etc.

Essa influência externa pode ser vista por meio dos cortes de

cabelos iguais aos dos jogadores famosos, o consumo de produtos

alimentícios recomendados por atletas, a compra de tênis de acordo

com as marcas que os atletas usam etc.

É dessa emancipação que estamos falando. Os jovens precisam

se libertar das condições que limitam o uso da razão crítica,

do seu agir social, cultural e esportivo.

Ao comprar um tênis, o jovem precisa avaliar os motivos que

os levaram a comprar esse tênis: estou comprando o tênis porque

eu gostei realmente dele ou por que é o tênis que o Pelé usa? Esse

tênis vale realmente o preço que está sendo cobrado? Em uma

concepção crítico-emancipatória, o ensino dos esportes nas aulas

de Educação Física deverá ter um caráter teórico-prático visando

tornar o fenômeno esportivo transparente, permitindo aos alunos

melhor organizar a sua realidade de esporte, movimentos e jogos

de acordo com as suas possibilidades e necessidades.

Isso implica que o esporte, na escola, não deve ser algo apenas

para ser praticado, mas sim estudado. Afinal, para que se vai

à escola?

Sugestões de Atividades ––––––––––––––––––––––––––––––

1) Dividir a turma em duas equipes, sendo que cada integrante das equipes terá

em mãos uma bolinha de jornal. O objetivo é colocar o maior número de bolinhas


no campo adversário até o professor apitar o fi nal do tempo pré-determinado.

Após a contagem das bolinhas, a equipe que tiver o menor número de bolinhas

em seu campo será a vencedora.

60 © Fundamentos da Educação Física Escolar

2) Encontrar locais e formas de saltar: os alunos deverão localizar no espaço

externo da escola, locais para a realização de saltos. Após o registro desses locais,

as crianças deverão experimentar diferentes formas de saltar. Por exemplo:

saltar em declive, atravessar uma vala com o auxílio de uma vara, etc.

3) Corrida veloz: o professor colocará fi tas de diferentes tamanhos em vários

bonés. Com as fi tas presas aos bonés, os alunos deverão imprimir o máximo de

velocidade em uma corrida visando manter a fi ta no ar.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Retomando

Diante deste contexto, vamos retomar o que foi estudado

neste tópico segundo Kunz:

O esporte como é conhecido na sua prática hegemônica, nas competições

esportivas e nos meios de comunicação (televisão), não

apresenta elementos de formação geral – nem mesmo para a saú-

de física, mais preconizada para essa prática – para se constituir

uma realidade educacional (KUNZ, 1994, p. 125).

O esporte ensinado nas escolas enquanto cópia irrefletida do esporte

de competição ou de rendimento, só pode fomentar vivências de

sucesso para a minoria e o fracasso ou a vivência de insucesso para

a maioria (KUNZ, 1994, p. 125).

Esse fomento de vivências de insucesso ou fracasso, para crianças

e jovens em um contexto escolar é, no mínino, uma irresponsabilidade

pedagógica por parte de um profissional formado para ser

professor (KUNZ, 1994, p. 125).

Considerando o esporte uma das objetivações culturais expressas

pelo movimento humano mais conhecida e mais admiradas, até

mesmo entre as mais diferentes manifestações culturais existentes,


torna-se imperativo uma transformação didático-pedagógica

para torná-lo uma realidade educacional potencializadora de uma

educação crítico-emancipatória (KUNZ, 1994, p. 126).

A Educação Física, conseguindo introduzir com competência e

organização a formação de indivíduos críticos com perspectiva

emancipadora, poderia iniciar um processo concreto de redimensionamento

da educação do jovem no Brasil e ser imediatamente

acompanhada pelas demais disciplinas escolares, pois, na verdade,

só existe uma formação crítico-emancipatória da escola e não de

uma disciplina (KUNZ, 1994, p. 151).

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© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

Abordagem Construtivista

A Abordagem Construtivista tem como colaborador o autor

João Batista Freire. Seu livro Educação de Corpo Inteiro foi publicado

em 1997 e teve um importante papel na divulgação das ideias

construtivistas da Educação Física.

Segundo Freire (1997), todos temos alguma ideia de como

é uma criança: ela se arrasta, pula, corre, engatinha, brinca etc.

De qualquer maneira, sua marca característica é a intensidade da

atividade motora e a fantasia.

O autor acredita que aquelas crianças que vivem em apartamentos

grudadas no videogame e aquelas outras crianças que por

conta da necessidade financeira precisam trabalhar desde cedo,

mesmo assim, no espaço que lhes sobra, exercem o movimento e

a fantasia típicos da infância.

Com certeza, a qualidade dos movimentos e das fantasias

não são as mesmas de décadas atrás, pois a tecnologia e a crise financeira

acabaram tirando de nossas crianças aquilo que elas mais

sabem fazer: brincar.


Segundo Freire (1997, p. 12),

Às vezes falta visão ao sistema escolar, às vezes faltam escrúpulos.

É difícil explicar a imobilidade a que são submetidas as crianças

quando entram na escola. Mesmo se fosse possível provar (e não

é) que uma pessoa aprende melhor quando está imóvel e em silêncio,

isso não poderia ser imposto, desde o primeiro dia de aula, de

forma súbita e violenta.

Você consegue imaginar o que representa para uma criança

ser subitamente "amarrada" e "amordaçada" para, como se diz,

aprender?

A criança ao entrar na escola torna-se uma prisioneira desse

sistema de ensino. Na escola ela deve ficar sentada na carteira

quieta e imóvel para poder aprender. Mas quem disse que os alunos

só conseguem aprender quando estão imóveis e em silêncio?

62 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Freire (1997) tem a convicção de que só é possível aprender

no espaço da liberdade. Então surge uma questão: se só é possí-

vel aprender no espaço da liberdade, como que as crianças ainda

aprendem?

Elas aprendem porque, por mais restritivo que seja o ambiente

familiar ou escolar, sempre resta um espaço de liberdade

para pensar, para mexer, para criticar, para brincar etc.

Por isso, pensando em ampliar esse espaço, Freire (1997)

propôs para as crianças uma Educação de Corpo Inteiro.

Pelo menos até a quarta série do Ensino Fundamental, os

professores estão lidando com alunos cuja maior especialidade é

brincar.

O problema é que a cultura infantil, bem como os movimentos,

os jogos e as fantasias das crianças são, na maioria das vezes,

ignorados pelas instituições de ensino.

É uma pena que esse conhecimento tão rico e vasto não seja
aproveitado como conteúdo escolar. O pior de tudo é que nem a

Educação Física, enquanto componente curricular, que deveria ser

especialista em atividades lúdicas e cultura infantil, leva isso em

conta.

Os professores de Educação Física, infelizmente, ainda possuem

uma forte influência esportivista e, por isso, acabam desconsiderando

o grande valor que os jogos e brincadeiras infantis têm

para o desenvolvimento das crianças.

Para Freire (1997, p. 13-14), o corpo e a mente devem ser

entendidos

Como componentes que integram um único organismo. Ambos devem

ter assento na escola, não um (a mente) para aprender e o outro

(o corpo) para transportar, mas ambos para se emancipar. Por

causa dessa concepção de que a escola só deve mobilizar a mente,

o corpo fica reduzido a um estorvo que, quanto mais quieto estiver,

menos atrapalhará.

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© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

O autor mostra que não faz sentido exigir que as crianças

fiquem imóveis para aprender, pois corpo e mente são partes inseparáveis

de um mesmo organismo. Por isso, Freire (1997) sugere

que, a cada início de ano letivo, por ocasião das matrículas, também

o corpo das crianças seja matriculado.

Curiosidade

Você sabia que existe o Dia Internacional de Brincar?

Ele é comemorado no dia 28 de maio. Para maiores informações

acesse o site disponível em: <http://www.brinquedoteca.org.br/si/

site/0009>. Acesso em: 10 jun. 2010.

Pedagogia do movimento na escola de primeira infância

A primeira infância é um período da vida em que as crianças


podem viver intensamente. Porém, as pré-escolas esquecem o seu

verdadeiro papel e reduzem o seu trabalho a preparar as crianças

para a escola.

Tem muita instituição de Educação infantil que não leva em

consideração a importância do brinquedo e da atividade lúdica

para a criança, mas sim, a alfabetização. Isso é um crime contra a

infância.

Na primeira infância, tanto a alfabetização quanto qualquer

outro tipo de aprendizagem depende da ação corporal. Ou seja, a

ação corporal é o mediador do conhecimento nessa fase da vida.

Portanto, não pode ser esquecida ou deixada em segundo plano

pelos profissionais de educação.

A ansiedade dos pais e professores em alfabetizar as crian-

ças, muitas vezes, bloqueia o seu espaço de ação corporal. Dessa

forma, as crianças acabam aprendendo a ler e a escrever, mas com

sérias dificuldades em estabelecer uma ligação entre aquilo que

aprendeu com o mundo que a cerca, ou seja, a verdadeira função

da linguagem.

64 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Diante de todas as características infantis, a Educação Física

precisa ser mais valorizada no contexto escolar. Aprender por meio

de jogos e brincadeiras tem consequências importantes para o desenvolvimento

da criança.

Em relação ao seu papel pedagógico, a Educação Física deve

atuar como qualquer outra disciplina da escola, portanto, precisa

ter os seus objetivos, conteúdos e metodologias específicas, bem

como deixar claro quais as consequências de cada atividade ministrada

do ponto de vista cognitivo, social e afetivo.

A Educação Física não pode mais ser vista como um momento

de lazer das crianças e nem torná-la uma disciplina auxiliar de

outras. Pelo contrário, a Educação Física por ser uma disciplina,


predominantemente prática, deve aproveitar esse contexto lúdico

para desenvolver os conteúdos específicos da disciplina.

Os professores de Educação Física talvez não tenha se atentado

para o fato de que jogos e brincadeiras como, por exemplo,

amarelinha, pega-pega, esconde-esconde, queimada, cantigas de

roda etc., têm exercido, ao longo da história, importante papel no

desenvolvimento das crianças.

É lamentável o fato de que os jogos e brincadeiras não tenham

sido incorporados aos conteúdos da Educação Física escolar.

Trabalhar com tais conteúdos poderia garantir um bom desenvolvimento

das habilidades motoras por meio de atividades lúdicas.

Adotar como conteúdo pedagógico as atividades pertencentes

à cultura infantil facilita o trabalho dos professores de primeira

infância, pois garante o interesse, a alegria e a motivação das

crianças.

Pedagogia do movimento na escola de segunda infância

No Ensino Fundamental, particularmente até a quarta série,

o movimento corporal pode ser considerado um recurso pedagó-

gico valioso.

65

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© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

As crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental diferem,

de modo geral, daqueles que estão na primeira infância em

um aspecto fundamental: passaram os anos anteriores de suas

vidas formando estruturas motoras, afetivas, sociais e cognitivas

para agir com compreensão, no mundo em que vivem.

A criança nessa fase da vida possui mecanismos que possibilitam

representar o mundo e compreender de forma lógica sua

vida de relações. Enquanto a criança na primeira infância queria se

sentir o centro das atenções, a criança na segunda infância supera


aquela fase fantasiosa e começa a interagir com os elementos da

realidade concreta.

A socialização crescente e a necessidade de estabelecer trocas

com o meio dão novo significado aos brinquedos e brincadeiras.

Mesmo assim, essa preocupação com o outro não impede que

o faz-de-conta continue a ser um dos traços mais constantes no

mundo dos brinquedos, jogos, esportes etc.

A respeito do jogo

Segundo Piaget (1985, p. 158 apud FREIRE, 1997, p. 115)

O jogo é um caso típico das condutas negligenciadas pela escola

tradicional, dado o fato de parecerem destituídas de significado

funcional. Para a pedagogia corrente, é apenas um descanso ou o

desgaste de um excedente de energia. Mas esta visão simplista não

explica nem a importância que as crianças atribuem aos seus jogos

e muito menos a forma constante de que se revestem os jogos infantis,

simbolismo ou ficção, por exemplo.

Essa citação de Piaget mostra que os jogos e brincadeiras são

pouco valorizados no ambiente escolar. Para a maioria dos professores,

os jogos servem apenas como um momento de lazer para

as crianças ou então uma forma delas gastarem as suas energias

acumuladas.

Por meio de suas pesquisas, Piaget (1978 apud FREIRE, 1997)

definiu quatro categorias de jogos. São elas:

66 © Fundamentos da Educação Física Escolar

1) Jogo de exercício: refere-se à fase não verbal das crian-

ças, em que, por meio da repetição de gestos aprendidos,

a criança usa esses gestos por puro prazer. Para

Piaget, o jogo de exercício não tem outra finalidade que

não o próprio prazer do funcionamento. Por exemplo: o

bebê ao pegar uma colher descobre que ao batê-la no

prato faz barulho. Assim, pelo simples prazer de bater


a colher e fazer barulho, o bebê repete essa ação várias

vezes.

2) Jogo Simbólico: ao contrário dos jogos de exercícios, os

jogos simbólicos permitem resolver conflitos e realizar

desejos que não são possíveis de realizar em situações

não lúdicas. Ou seja, no jogo simbólico pode-se fazer-de-

-conta aquilo que na realidade não é possível acontecer.

Por exemplo: a criança por ser muito pequena não pode

dirigir um automóvel de verdade, então, no jogo simbólico

ela senta-se no chão, pega uma tampa de panela para

ser a direção do seu carro e uma caneca plástica para

ser o câmbio. Dessa forma, por meio do faz-de-conta, a

criança realiza o seu desejo de dirigir um automóvel.

3) Jogo de construção: o jogo de construção estabelece

uma espécie de transição entre o jogo simbólico e o jogo

com regras. A criança, a partir dos cinco anos de idade,

mais ou menos, começa a manifestar uma vontade crescente

em realizar com exatidão as construções materiais

que acompanham os jogos de que participa. As crianças

procuram reproduzir com diferentes tipos de materiais,

as coisas imaginadas, o que caracteriza o jogo de construção.

Por exemplo: quando a criança brinca com jogos

de encaixe e tentam construir um avião ou uma casinha.

4) Jogo de regras: esse jogo surge de forma estruturada.

Da mesma forma que para viver em sociedade precisamos

nos submeter a certas normas, no jogo de regras, a

criança precisa respeitar as regras do jogo. É importante

ressaltar que, por mais que o jogo de regras parece ser

uma atividade "séria", a fantasia e a imaginação estão

presentes o tempo todo. São exemplos de jogos de regras:

pega-pega, esconde-esconde, queimada, gato e


rato etc.

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© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

O jogo possui múltiplas funções, porém, no contexto escolar,

não se trata de um jogo qualquer, mas, sim, de um jogo transformado

em instrumento pedagógico, em meio de ensino.

Essa é a função das aulas de Educação Física: transformar o

jogo, que é a especialidade das crianças, em um meio para desenvolver

a formação integral delas.

Criatividade nas aulas de Educação Física

Outro ponto discutido pelo autor João Batista Freire (1997) é

a criatividade do professor.

Segundo o autor, muitos professores deixam de realizar determinadas

atividades por falta de material ou espaço. Aí é que

entra o papel da criatividade.

A falta de materiais e de espaços adequados para as aulas de

Educação Física é uma triste realidade, por isso não adianta nada

ficar sentado reclamando sobre a situação precária. Lamentar não

irá levar a lugar nenhum.

Ora, se não tem uma bola de borracha para jogar queimada,

então, faça uma bola de meia. Se não tem um bastão para jogar

taco (bets), então, arrume um cabo de vassoura.

O que não pode acontecer é deixar de promover a brincadeira

por conta da falta de materiais.

Tão grave quanto deixar de realizar a atividade é realizá-la

sempre da mesma forma, "tim tim por tim tim", sem alterar nenhuma

regra e seguindo as orientações do livro ou da apostila nos

mínimos detalhes.

O professor não pode ser escravo dos livros e apostilas. Ele

precisa ser criativo. As atividades propostas em livros didáticos devem


servir de sugestões, porém existem muitas formas de desenvolver

a mesma atividade. Tudo depende da clientela que estamos

trabalhando, dos objetivos da aula e da criatividade do professor.

68 © Fundamentos da Educação Física Escolar

A falta de criatividade é um dos graves empecilhos para uma

Educação Física de melhor qualidade. Por isso, procure primeiro

verificar o objetivo da atividade escolhida, depois tente torná-la

mais motivante e, em seguida, acrescente uma variação que implique

nova aprendizagem.

De acordo com Freire (1997, p. 67):

O que falta nas escolas, na maioria das vezes, não é material, é criatividade.

Ou melhor, falta o material mais importante. Essa tal criatividade

nunca é ensinada nas escolas de formação profissional.

O autor acredita que, nos curso de formação inicial dos professores

de Educação Física, os alunos deveriam ser estimulados a

analisar atividades lúdicas, a criticá-las e a vivenciar essas atividades.

Por isso, a seguir, serão apresentadas algumas amarelinhas

modificadas, ou seja, a partir da amarelinha tradicional foram estabelecidos

diferentes objetivos e diferentes formas de brincar.

Vamos pular amarelinha?

Amarelinha tradicional

A forma tradicional de jogar amarelinha consiste em traçar

no chão uma sequência alternada de quadrados simples e duplos,

chamados "casas", que devem ser saltados com um pé só e com os

dois pés, respectivamente. A sequência é numerada de 1 a 10.

Em pé, atrás da casa inicial (nº 1), a criança deverá arremessar

uma pedrinha (saquinho de areia etc.) na casa de número 1. Se

acertar ela deverá saltar por cima da primeira casa e pisar direto

na casa dupla seguinte, e assim sucessivamente. Na volta, deve

apoiar os dois pés na casa 2 e 3, e pegar a pedrinha arremessada.

Enquanto a criança não erra, ela irá repetindo a sequência seguindo


a ordem crescente à numeração das casas. São considerados

erros: pisar na linha ou fora das casas, errar o alvo (a numeração

correta), perder o equilíbrio e usar os dois pés em uma casa sim-

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© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

ples, usar as mãos para se equilibrar e pegar a pedrinha. Ao errar,

a criança passa a vez ao colega. Quando voltar a jogar, começa no

ponto em que errou na rodada anterior.

Figura 5 Amarelinha Tradicional.

Amarelática

As crianças se dividirão em duplas. As duplas se posicionarão

no início da amarelinha e, ao sinal do professor, deverão pular para

a primeira "casa" e terão que resolver a primeira conta. Elas só poderão

passar para a próxima casa quando acertarem o resultado e

quando conseguirem jogar a pedrinha dentro do local demarcado,

e assim sucessivamente.

Antes de a próxima dupla começar a percorrer a amarelinha,

o professor deverá modificar as contas. Outra possibilidade é desenhar

várias amarelinhas (uma para cada dupla de alunos) e fazer

um rodízio entre eles.

70 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 6 Amarelática.

Amarelinha das 18 casas

A amarelinha terá 18 casas, alternando casas simples e casas

duplas.

Para percorrer a amarelinha, a criança deverá jogar um dado.

O número obtido determinará o número de casas que a criança

deverá pular. Por exemplo, a criança jogou o dado e saiu o número


cinco, então a criança deverá pular até a casa correspondente ao

número cinco.

A próxima criança jogará o dado e realizará o mesmo procedimento.

O ganhador será aquele que chegar primeiro no final da

amarelinha.

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© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 7 Amarelinha das 18 casas.

Amarelinha das vogais

A criança jogará a pedrinha na primeira vogal. Em seguida,

pulará sobre as outras vogais na sequência correta até chegar no

"céu".

Quando a criança chegar ao céu, ela deverá pegar uma consoante

que estará dentro de uma caixa e também deverá pegar um

numeral (de dois a quatro) que estará em outra caixa.

Tendo o número e a letra em mãos, a criança deverá formar

uma palavra contendo a consoante que foi retirada da caixa e o

número de sílabas correspondente ao número sorteado.

Assim, se a criança tirar a letra "P" e sortear o número "2",

ela deverá formar uma palavra de duas sílabas contendo a letra

"P", como, por exemplo, Pato.

72 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 8 Amarelinha das Vogais

Amarelinha em caracol

O professor desenhará a amarelinha em forma de caracol. E

em cada casa deverá colocar uma conta de adição.

A criança jogará a pedrinha e deverá dizer o resultado da


conta de adição da casa correspondente. Se o resultado estiver

correto, a criança pulará até chegar nessa casa. E jogará a pedrinha

novamente.

Quando a criança errar, o próximo da fila deverá jogar a pedrinha

e proceder da mesma forma que a primeira criança. E assim,

sucessivamente.

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© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

Vence a brincadeira a criança que chegar primeiro ao centro

do caracol.

Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 9 Amarelinha em Caracol.

Circuito de amarelinhas

O professor organizará um circuito composto por:

1) Amarelinha das figuras geométricas e cores.

2) Ziguezague entre os cones.

3) Amarelinha com enigma.

4) Passar embaixo das cordas.

5) Caracol da Matemática.

Na primeira amarelinha, a criança deverá pular nas casas,

com um pé só, e dizer o nome da figura geométrica ou a sua cor,

conforme o que está sendo indicado em cada figura.

Em seguida, a criança deverá passar pelos cones em ziguezague

até chegar à próxima amarelinha.

Na segunda amarelinha, a criança encontrará um enigma, ou

seja, terá que adivinhar qual palavra está escondida. No caso do

74 © Fundamentos da Educação Física Escolar

exemplo a seguir, a palavra é sorvete. Quando a criança adivinhar

a palavra, ela deverá pular a amarelinha da forma tradicional.

Depois, a criança deverá passar embaixo das cordas rastejando.


Até chegar à última estação que é o caracol.

No caracol, a criança deverá fazer as contas de adição e divisão

até encontrar o resultado correto. Quando ela acertar o resultado,

a criança deverá pular o caracol, utilizando um pé só, até

chegar ao centro.

Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 10 Circuito de Amarelinhas.

As relações entre a Educação Física e as outras disciplinas da

escola

De modo geral, pouca importância se dá a uma possível rela-

ção entre as atividades da disciplina de Educação Física e aquelas

realizadas em sala de aula. Os professores da sala, a maioria das

vezes, veem as aulas de Educação Física como um momento reservado

para descansar, arrumar o armário, passar lição de casa

no caderno das crianças, preparar atividades etc. Pouco importa

quais conteúdos estão sendo desenvolvidos pelo professor de

Educação Física.

75

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

São raros os momentos em que o professor da sala solicita

ao professor de Educação Física ajuda para desenvolver determinado

conteúdo, como, por exemplo, trabalhar cores, figuras geométricas,

números etc.

Freire (1997, p. 182) mostra que:

É muito sintomática, por sinal, a visão que a escola tem de mente e

corpo. Espacialmente, reserva-se à "mente" a quase totalidade das

construções escolares; o espaço para o corpo perde-se escondido

entre as salas de aula e de administração. Dá para imaginar a escola

como um ser de cabeça imensa e corpo diminuto, um ser, por isso,


deformado.

Essa observação feita por Freire (1997) mostra a realidade

da maioria das escolas brasileiras. O espaço reservado para a Educação

Física é terrível: encontramos quadras descobertas, locais

apertados e com uma acústica ruim, terrenos irregulares, em dia

de chuva o professor não tem espaço para ministrar a sua aula,

tabelas e traves destruídas etc.

As verbas que chegam para a reforma das escolas são encaminhadas

inicialmente, para as necessidades das salas de aula e

depois, se sobrar algum dinheiro, vai para a Educação Física.

Isso acontece porque, no ambiente escolar, a mente sempre

foi, e ainda é, mais valorizada que o corpo. Por isso, Freire (1989)

tem razão em afirmar que a escola tem a aparência de um ser com

a cabeça imensa e o corpo pequeno, ou seja, um ser totalmente

deformado.

As disciplinas de Português, Matemática, Geografia etc. têm

valores indiscutíveis dentro da escola. Não haveria um pai se quer

que não fosse reclamar na direção da escola se o seu filho ficasse

1 mês sem ter aula, por exemplo, de Português.

E se ao aluno ficasse um mês sem ter aula de Educação Física?

Qual a reação dos pais diante dessa situação?

Os pais simplesmente não fariam nada. Encontramos diariamente

casos e mais casos de professores de Educação Física que

76 © Fundamentos da Educação Física Escolar

são afastados por licença médica e não são substituídos. As crian-

ças ficam meses e meses sem terem aulas de Educação Física.

Por que existe essa diferença de valores? Será que a Educa-

ção Física é tão desnecessária no contexto escolar? Qual a importância

do papel dessa disciplina na formação da criança?

Para começarmos a ser valorizados, precisamos reforçar o

discurso de que a Educação Física é importante para o desenvolvimento


integral das crianças, que o seu papel não é auxiliar os

conteúdos de outras disciplinas, que a Educação Física se justifica

por si mesma e pelos conteúdos que desenvolve na escola.

A importância de demonstrar as relações entre os conteúdos

da disciplina Educação Física e os das demais disciplinas reside não

na sua importância como meio auxiliar daquelas, mas na identificação

de pontos comuns do conhecimento e na dependência que

corpo e mente, ação e compreensão, possuem entre si.

Não existe uma disciplina mais importante que outra. Todas

são necessárias para que ocorra a formação integral dos alunos. As

atividades físicas, intelectuais, sociais e afetivas devem fazer parte

dos conteúdos de todos os componentes curriculares.

Sugestões de Atividades ––––––––––––––––––––––––––––––

1) Zerinho: os alunos deverão passar correndo embaixo de uma corda que será

"batida" por duas pessoas. O objetivo é chegar ao outro lado sem esbarrar na

corda. No início a atividade será individual. Depois, haverá uma nova regra: a

passagem será realizada em sequência, ou seja, um após o outro, até totalizarem

20 passagens. A cada erro ou "batida vazia", volta-se a contagem ao zero.

2) Corpo Interativo: dividi-se os jogadores ou participantes em dois grupos. O

professor dará missões para os grupos formarem letras/objetos como, por exemplo,

casa, ônibus, árvore, letra A, letra T etc. O grupo que cumprir a tarefa primeiro

marcará o ponto. Depois, haverá uma variação dessa atividade: as missões

serão dadas por meio de perguntas como, por exemplo: Qual é o maior mamífero

do mundo? O que Noé construiu? Qual é a primeira letra do nome do presidente

da república?

3) Esconde-Esconde: primeiro o professor escolherá um lugar para ser o pique

e quem fi cará nele. O jogador escolhido fi cará de costas e de olhos fechados

no pique, contando até o número combinado. Enquanto isso, o resto do grupo

terá que se esconder. Quando terminar a contagem, o jogador deverá procurar

os companheiros. As crianças que estão escondidas terão que correr até o pi-

77
Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

que para se salvar. Quando o jogador que estiver procurando encontrar alguém,

deverá voltar ao pique e dizer em voz alta o nome daquele que foi encontrado.

Porém, se o perseguido chegar primeiro, ele será salvo. O primeiro que for pego

será o perseguidor da próxima rodada.

4) Gato Mia: uma criança fi cará com os olhos vendados. Os outros participantes

fi carão espalhados pela quadra. A criança vendada deverá procurar os "gatos".

Ao encontrar um participante (gato) a criança que está vendada deverá tocá-lo

com as mãos e dizer: Gato Mia! O participante que foi tocado deverá miar e a

criança vendada terá que adivinhar quem é aquele "gato".

5) Bola ao Centro: trata-se de uma adaptação de brincadeiras de bola ao alvo

ou tiro ao alvo. Traçam-se no solo, com giz, cinco círculos concêntricos. O mais

externo recebe o número 1, o segundo o número 2 e assim sucessivamente,

até o mais central, que fi ca com o número 5. As crianças deverão lançar 3 bolas

em direção aos círculos com o objetivo de acumular o maior número possível

de pontos, isto é, procurando colocar as bolas no centro. Para que haja maior

participação de todos, podem-se organizar duas ou mais equipes. Nesse caso a

brincadeira vai exigir cooperação, pois o resultado de um interessa ao resultado

geral do grupo. Uma variação para esse jogo pode ser feita utilizando-se bolas

de pesos e tamanhos diferentes.

6) Pegar Antes de Cair: duas crianças, de frente uma para a outra, havendo cerca

de 2 m de distância entre elas, seguram um bastão cada, que tem uma das

extremidades apoiada no solo. Ao sinal do professor, as crianças deverão soltar

o seu próprio bastão e tentar pegar o bastão do companheiro antes que ele caia

no chão.

7) Jogo dos Opostos: o objetivo do jogo dos opostos é fazer tudo ao contrário do

que o professor pedir. Por exemplo: Quero que vocês façam muito barulho (as

crianças deverão fi car em silêncio); Quero que vocês fi quem bem quietinhas (as

crianças deverão fazer muito barulho), Todos em pé (as crianças deverão fi car

sentadas), Todo mundo andando em linha reta (as crianças deverão andar em
ziguezague) etc.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Retomando

Para finalizar este tópico, veja uma síntese sobre essa abordagem

segundo Darido (2005) e Freire (1997):

Freire (1997) teve o mérito de levantar a questão da importância da

Educação Física na escola e considerar o conhecimento que a crian-

ça já possui, independentemente da situação formal de ensino,

porque a criança, como ninguém, é um especialista em brinquedo

(DARIDO, 2003, p. 07).

Deve-se, deste modo, resgatar a cultura de jogos e brincadeiras dos

alunos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, aqui incluí-

das as brincadeiras de rua, os jogos com regras, as rodas cantadas

e outras atividades que compõem o universo dos alunos (DARIDO,

2003, p. 07).

78 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Além de procurar valorizar as experiências dos alunos e a sua cultura,

a proposta construtivista também tem o mérito de propor uma

alternativa aos métodos diretivos, tão impregnados na prática da

Educação Física. O aluno constrói o conhecimento a partir da interação

com o meio, resolvendo problemas (DARIDO, 2003, p. 08).

Na proposta construtivista o jogo, enquanto conteúdo/estratégia,

tem papel privilegiado. É considerado o principal modo de ensinar,

é um instrumento pedagógico, um meio de ensino, pois enquanto

joga ou brinca a criança aprende. Sendo que este aprender deve

ocorrer num ambiente lúdico e prazeroso para a criança (DARIDO,

2003, p. 08).

Segundo a Abordagem Construtivista, a criança precisa de uma

educação de corpo inteiro. Mas como isso pode ser feito? Segundo

o autor (FREIRE, 1997, p. 219), com o máximo de respeito, reuniria

tudo o que a criança sabe sobre amarelinha, pegador, futebol,


bolinha de gude, casinha, comidinha, e toda aquela infinidade de

saltos, corridas, giros, gritos, risadas, cantos e danças, e levaria para

dentro da escola, sem discriminação. Não haveria movimento feio

ou bonito, certo ou errado, melhor ou pior. Essa é a matéria-prima

básica que utilizo em Educação Física. Porém, eu não levaria essa

cultura para a minha escola para mantê-la como ela se apresenta.

Eu tentaria fazer com que ela crescesse, se ampliasse cada vez

mais, como uma espiral.

Uma criança chega à escola sabendo alguns números. Com eles

aprendem algumas contas, processo que estimula o seu raciocí-

nio, fazendo com que aprenda contas mais complicadas, e isso não

pára nunca enquanto ela estudar. Espera-se que essa criança saiba

aplicar esse conhecimento na sociedade em que vive. O mesmo se

dá com as letras e palavras. Com as atividades corporais, deveria

ocorrer progresso semelhante: a criança começa sabendo alguns

brinquedos, melhora sua habilidade naqueles que sabe, com isso

aprende outros, aprende a realizá-los em grupos, com regras mais

e mais complicadas, a saltar mais, a lançar melhor, a girar com mais

equilíbrio, e só o que a gente espera é que esses conhecimentos todos

da Matemática, da escrita e leitura, da Educação Física, possam

se entrelaçar num todo que garanta a esse aluno uma vida de participação

social satisfatória, de dignidade, de justiça, de felicidade

(FREIRE, 1997, p. 220).

Abordagem dos Jogos Cooperativos

A Abordagem dos Jogos Cooperativos está pautada sobre a

valorização da cooperação em detrimento da competição. O autor

Fábio Otuzi Brotto é o principal divulgador destas ideias no Bra-

79

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

sil. Em sua obra Jogos Cooperativos: se o importante é competir, o


fundamental é cooperar (1995), o autor sugere o uso dos jogos cooperativos

como uma força transformadora, pois esses jogos são

divertidos para todos e todos têm um sentimento de vitória.

No mundo atual, a competição parece ser inerente ao ser

humano. As pessoas competem na escola, no trabalho, nos momentos

de lazer e até mesmo no ambiente familiar. Buscando

uma nova alternativa para esse sentimento de competição, Brotto

(1995) apresenta uma proposta de trabalho por meio dos jogos

cooperativos visando eliminar a ideia de que a competição é uma

opção natural do ser humano. Para o autor, o espírito competitivo

é condicionado pela escola, família, mídia etc.

Os estudos sobre os jogos cooperativos vêm crescendo em

diversos países, tais como Estados Unidos, Canadá, Espanha, Escó-

cia e Austrália. No Brasil, apesar de existirem ações muito significativas,

a proposta envolvendo jogos cooperativos ainda é muito

recente e pouco explorada pelos professores de Educação Física.

A seguir, serão apresentadas as principais ideias e princípios

que regem os jogos cooperativos.

O Jogo na educação por inteiro

Brotto (1995) mostra que, por meio do jogo, são estabelecidas

possibilidades muito variadas para incentivar o desenvolvimento

humano em suas diferentes dimensões. Em outras palavras,

o jogo envolve todos os níveis de desenvolvimento humano:

físico, emocional, mental e espiritual.

Dentre as principais contribuições do jogo para o desenvolvimento

humano, encontramos:

1) Desenvolvimento da Linguagem: até ter o domínio da

linguagem, o jogo é o canal por meio do qual os pensamentos

e sentimentos são comunicados pela criança.

2) Desenvolvimento Cognitivo: o jogo fornece às crianças

um maior número de informações, dessa forma, o con-


80 © Fundamentos da Educação Física Escolar

teúdo do pensamento infantil torna-se mais rico. Por

exemplo: para a criança brincar de professora, ela precisa

observar os passos da sua professora, o jeito de se

vestir, as expressões mais frequentes, a rotina da sala,

a forma de corrigir o comportamento inadequado dos

alunos etc. Tudo isso enriquece o vocabulário, o pensamento

e as habilidades já consolidadas pela criança.

3) Desenvolvimento Afetivo: o jogo facilita a expressão e

os sentimentos das crianças. Por isso, o adulto precisa

criar um ambiente facilitador para as crianças poderem

expressar os seus afetos e emoções. Muitas vezes, por

meio de uma brincadeira de roda, a criança toca pela primeira

vez a mão de outra criança. Essa troca de carinho

é muito importante para o desenvolvimento infantil.

4) Desenvolvimento Físico-Motor: o jogo permite a exploração

do corpo e do espaço por meio de ações motoras,

táteis, auditivas etc. E isso leva a criança a se desenvolver.

5) Desenvolvimento Moral: as regras adotadas no jogo

colaboram com o desenvolvimento moral da criança.

É preciso respeitar e cumprir as regras para que o jogo

possa se realizar.

Assim, podemos dizer que o jogo cria uma oportunidade

concreta para que todos os participantes possam se expressar de

forma plena e harmoniosa, apresentando suas habilidades e dificuldades,

virtudes e defeitos, alegrias e tristezas etc. Isso significa

jogar por inteiro.

Cooperação e competição

Antes de discutirmos a questão da cooperação e da competição,

inicialmente, é preciso defini-las.

Segundo Brotto (1995), a cooperação é um processo no qual


os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os resultados

são benéficos para todos. Já a competição é um processo em

que os objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são individualistas

e somente alguns se beneficiam dos resultados.

81

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

A história da Educação Física mostra que, desde o seu início,

os trabalhos realizados pelos professores dessa área reforçavam a

competição entre os alunos. Os menos habilidosos eram deixados

de lado ou eram designados a auxiliarem as atividades que estavam

sendo desenvolvidas como, por exemplo, apitando os jogos,

marcando os pontos, arrumando os materiais etc.

A Abordagem dos Jogos Cooperativos acredita que a Educação

Física deve procurar desenvolver as destrezas de todos, e

não somente dos melhores. Além disso, por meio dos jogos cooperativos,

é possível desenvolver muito mais do que as habilidades

motoras, técnicas e táticas. Os jogos cooperativos também promovem

o aperfeiçoamento das habilidades humanas essenciais, tais

como: criatividade, confiança, respeito, aceitação, paciência, bom

humor, autoestima etc.

O foco central da Abordagem dos Jogos Cooperativos é

aprender a jogar uns com os outros ao invés de uns contra os outros.

As principais diferenças entre jogos competitivos e jogos cooperativos

serão apresentadas no Quadro 1:

Quadro 1 Características dos jogos cooperativos e dos jogos competitivos

JOGOS COMPETITIVOS JOGOS COOPERATIVOS

São divertidos apenas para alguns. São divertidos para todos.

Alguns jogadores têm o sentimento de

derrota.

Todos os jogadores têm um sentimento


de vitória.

Alguns jogadores são excluídos por sua

falta de habilidade.

Todos se envolvem independentemente

de sua habilidade.

Aprende-se a ser desconfiado, egoístas ou

se sentirem melindrados com os outros. Aprende-se a compartilhar e a confiar.

Divisão por categorias: meninos x

meninas, criando barreiras entre as

pessoas e justificando as diferenças como

uma forma de exclusão.

Há mistura de grupos que brincam

juntos criando alto nível de aceitação

mútua.

82 © Fundamentos da Educação Física Escolar

Os perdedores ficam de fora do jogo e

simplesmente se tornam observadores.

Os jogadores estão envolvidos nos

jogos por um período maior, tendo

mais tempo para desenvolver suas

capacidades.

Os jogadores não se solidarizam e ficam

felizes quando alguma coisa de "ruim"

acontece aos outros.

Aprende-se a solidarizar com os

sentimentos dos outros, desejando

também o seu sucesso.

Os jogadores são desunidos. Os jogadores aprendem a ter um senso

de unidade.

Os jogadores perdem a confiança em si

mesmo quando eles são rejeitados ou


quando perdem.

Desenvolvem a autoconfiança porque

todos são bem aceitos.

Pouca tolerância à derrota desenvolve

em alguns jogadores um sentimento de

desistência face a dificuldades.

A habilidade de perseverar face às

dificuldades é fortalecida.

Poucos se tornam bem sucedidos. Todos encontram um caminho para

crescer e desenvolver.

Fonte: BROTTO (1995, p. 56).

Jogos cooperativos

Os jogos cooperativos, como vimos anteriormente, são jogos

nos quais o objetivo é jogar uns com os outros. O importante é

superar desafios e não derrotar os outros.

Nesse tipo de jogo, a cooperação é fundamental para se atingir

um objetivo comum. Os jogos cooperativos são estruturados

para diminuir a pressão da competição, por isso, visam promover

a participação de todos, em que a finalidade é brincar, participar,

se divertir etc. Ou seja, joga-se pelo prazer de jogar.

Dessa forma, os jogos cooperativos são jogos de compartilhar

e de unir pessoas, pois não existe a preocupação de ser o vencedor.

O importante não é ganhar, é continuar jogando.

Brotto (1995) dividiu os jogos cooperativos em categorias.

São elas:

1) Jogos cooperativos sem perdedores: nesta categoria todos

formam um único "grande time". Esses jogos são

plenamente cooperativos, pois todos jogam juntos para

superar um desafio comum.

83

Claretiano - Centro Universitário


© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

2) Jogos de resultado coletivo: os jogos de resultado coletivo

são bastante ativos e incorporam o conceito de trabalho

coletivo visando atingir um objetivo comum, sem

que haja competição entre os times. Esse tipo de atividade

permite a existência de várias equipes, porém, a

motivação principal está em realizar metas comuns, que

necessitam do esforço coletivo para serem alcançadas.

3) Jogos de inversão: esses jogos envolvem a troca de jogadores

que começam em times diferentes. Conforme

o jogo vai se desenvolvendo, os jogadores vão mudando

de lado, ou seja, os jogadores se alternam nos dois times.

Desse modo, todos passam a ser membros de uma

mesma equipe.

4) Jogos semi-cooperativos: os jogos semi-cooperativos

são indicados para iniciarem o processo de inserção dos

jogos cooperativos em grupos que estão acostumados

com os jogos competitivos. A estrutura dos jogos semicooperativos

fortalece a cooperação entre os membros

de uma mesma equipe. Exemplos de regras para desenvolverem

os jogos semi-cooperativos: 1) a bola deve ser

passada por entre todos os jogadores do time, para que

o ponto seja validado; 2) para que um time vença é preciso

que todos os jogadores tenham feito pelo menos

um ponto durante o jogo; 3) a bola deve ser passada,

alternadamente, entre meninos e meninas; 4) todos

os jogadores passam pelas diferentes posições no jogo

(técnico, goleiro, torcedor, árbitro, jogador etc.); 5) os

pontos são convertidos ora por um menino ora por uma

menina.

É importante ressaltar que, apesar de serem apresentadas


em separado, essas categorias se relacionam de uma maneira interdependente,

ou seja, em uma mesma atividade é possível encontrarmos

mais de uma categoria.

Essas categorias mostram que há inúmeras possibilidades

para trabalhar a questão da cooperação nas aulas de Educação Fí-

sica. É claro que não podemos iniciar o trabalho com jogos cooperativos

aplicando na primeira aula um jogo cooperativo sem per-

84 © Fundamentos da Educação Física Escolar

dedores, pois os alunos que não estão acostumados com esse tipo

de jogo, certamente, farão de tudo para que a atividade dê errado.

Por isso, é aconselhável iniciar pelos jogos semi-cooperativos e,

aos poucos, ir caminhando na direção dos jogos cooperativos sem

perdedores. Os alunos precisam experimentar os jogos cooperativos

em "doses homeopáticas", ou seja, pouco a pouco para que

eles entendam que o importante não é ser o melhor, mas sim vencer

um desafio junto com os colegas.

Formação de grupos e premiação

Dois pontos polêmicos, nessa questão da cooperação, envolvem

a formação de grupos e a premiação: como deve ser feita a

organização dos grupos para que não haja exclusão? Deve-se premiar

a equipe vencedora em um jogo cooperativo?

Para gerar um ambiente de aceitação recíproca, Brotto

(1995) apresenta alguns critérios para serem utilizados na forma-

ção de grupos. São eles:

1) Mês de nascimento: grupo 1º trimestre; grupo 2º trimestre;

grupo 3º trimestre; grupo 4º trimestre.

2) Dia de nascimento: grupo 1ª quinzena; grupo 2ª quinzena.

3) Signos: signos do elemento Ar; do elemento Água; do

elemento Fogo; do elemento Terra.

4) Horário de estudo: manhã, tarde e noite.

5) Inicial do nome: grupos de A-H, I-O e P-Z; ou de acordo


com o número de letras do primeiro nome.

6) Cores da roupa: claro e escuro.

7) Preferências: quem prefere café com leite, de um lado;

do outro lado, quem prefere suco de laranja.

Esses critérios ajudam o professor a separarem as famosas

"panelinhas" existentes em cada turma.

E a premiação? Como tratar essa questão nos Jogos Cooperativos?

85

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

Para Brotto (1995), as recompensas nos motivam a obter um

prêmio e não a melhorar o envolvimento com aquilo que estamos

realizando. Portanto, mesmo que essas recompensas sejam pirulitos,

diplomas e medalhas, ou seja, que não envolvam dinheiro,

estaremos motivando os alunos a conquistarem esses prêmios e

não a participarem e aprenderem com aquela atividade.

O foco de nossas atenções não deve ser no resultado, mas

sim, no processo. Por isso, durante a realização de jogos cooperativos,

o professor não deve nem premiar e nem punir os alunos.

Desenvolver sentimentos de cooperação, respeito mútuo e

alegria entre os participantes é o melhor prêmio que existe.

Sugestões de atividades –––––––––––––––––––––––––––––––

1) Eu te amo: a turma deverá estar posicionada em círculo, cada um sentado

em uma cadeira. Um aluno deverá fi car no centro e em pé. O aluno que estiver

em pé deverá se aproximar de um colega e dizer: - Eu te amo. O colega deverá

responder: - Por quê? Então, ele dirá, por exemplo: - Porque você está de tênis!

Em seguida, todos aqueles alunos que estiverem de tênis deverão trocar de lugar

(sentar em outras cadeiras). O aluno que estava no centro e iniciou a brincadeira

deverá procurar um lugar para sentar e, assim, aquele que sobrar dará continuidade

a atividade.

2) Voleibol divertido: a turma será dividida em duas equipes. Dois alunos irão
auxiliar a atividade segurando uma corda atravessada no meio da quadra. As

equipes irão se posicionar uma de cada lado da corda. O objetivo é não deixar a

bola cair no chão. Enquanto os participantes jogam, os alunos que estão segurando

a corda deverão se movimentar pela quadra com o objetivo de mudarem a

quadra de lugar. Os jogadores precisam fi car atentos às mudanças à medida que

a corda vai sendo movimentada.

3) Nó humano: todos os participantes formarão um círculo dando as mãos. Cada

um deverá verifi car quem está a sua direita e a sua esquerda. Ao comando do

professor todos deverão soltar as mãos e caminharem pelo espaço aleatoriamente.

Ao sinal do professor, todos deverão fi car parados exatamente onde estão.

Em seguida, sem sair de suas posições, deverão dar sua mão direita para

quem estava à sua direita no início da brincadeira e a sua mão esquerda para

quem estava à esquerda. Irá formar um grande nó. Todos deverão desfazer esse

nó, sem soltar as mãos, até voltarem ao círculo inicial.

4) Jogo das palmas: os participantes deverão formar um círculo. Um dos participantes

deverá iniciar a brincadeira batendo uma palma. Essa palma deverá

ser passada para o próximo aluno que estiver ao seu lado, em sentido horário,

e assim sucessivamente, até chegar no iniciante. Quando isso acontecer, todos

deverão bater uma palma juntos. Variação: Se o participante bater uma palma o

jogo segue normalmente, porém, se um dos participantes bater duas palmas, o

participante que estiver ao lado passará a sua vez, ou seja, não baterá nenhuma

86 © Fundamentos da Educação Física Escolar

palma, pois o outro já bateu por ele. Ao chegar o participante que iniciou a brincadeira

todos deverão bater duas palmas.

5) Alguém para se apoiar: um participante fi ca em pé e com uma venda nos

olhos, no centro da roda, formada por seus amigos. Eles devem estar em pé também

e bem próximos um do outro para que o participante que estiver no centro

possa cair em qualquer direção e eles sejam capazes de segurá-lo e colocá-lo

de volta à sua posição inicial.

6) Abraço musical: os participantes deverão dançar livremente pelo espaço destinado

ao jogo. Quando a música parar, o professor deverá dar um comando,


por exemplo, em duplas. Todos deverão se abraçar em duplas. Volta a música e

todos continuam dançando. Quando a música parar, o professor deverá dar outro

comando: em trios, quartetos, grupos de cinco pessoas etc. Até o fi nal, quando

todo o grupo deverá dar um grande abraço coletivo.

7) Círculo de aplausos: todos os participantes deverão formar um círculo. O professor

escolherá um aluno do círculo para ir até o centro e todos os outros participantes

deverão aplaudi-lo efusivamente. Depois do aplauso, ele deverá retribuir

de alguma forma positiva como, por exemplo, cantar, dançar, declamar um

poema, contar uma piada etc. Terminada a forma de agradecimento, ele deverá

convidar o próximo do círculo para continuar o jogo.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Retomando

Neste momento, convidamos você a fazer uma retomada referente

à Abordagem dos Jogos Cooperativos. Veja o que afirma

Soler (2005) a esse respeito:

Uma das maiores dificuldades do homem moderno é justamente a

convivência, pois infelizmente existe uma ilusão de separatividade

que faz com que haja um distanciamento cada vez maior entre as

pessoas. (...) Cada vez mais o homem se afasta e enxerga o outro

como inimigo, adversário e como alguém a ser vencido. (...) Os Jogos

Cooperativos são um importante instrumento para que essa

convivência seja exercitada e melhorada cada vez mais (SOLER,

2005, p. 95).

Os Jogos Cooperativos foram justamente criados para diminuir a

competição exagerada e a valorização do individualismo, pois o individualismo

é algo que mais cresce na sociedade moderna, mais

especificamente na cultura ocidental (SOLER, 2005, p. 95).

Os Jogos Cooperativos são baseados em valores como o trabalho

em grupo, a solidariedade, colaboração e companheirismo, são de

fácil aplicação e levam ao prazer, à comunicação, à expressão e à

cooperação (SOLER, 2005, p. 96).


Algumas idéias para diminuir a competição: evite jogos que busquem

a eliminação; valorize mais o processo e menos o resultado

final; fuja de jogos individuais, valorize os jogos em grupo; divida os

87

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

times de forma criativa e não por terem mais ou menos habilidades;

proponha Jogos Competitivos e Cooperativos para que o grupo

possa perceber onde se sente melhor; permita que a liderança

circule pelo grupo pois todos devem, em algum momento, liderar;

abra espaço para que a intercomunicação de idéias aconteça; pare

o jogo sempre que for necessário, para discutir com o grupo que

joga (SOLER, 2005, p. 41).

6. TEXTOS COMPLEMENTARES

Para completar o estudo desta unidade, serão apresentados

um trecho do livro de Darido (2003) e um quadro sobre as abordagens

(Quadro 2).

Atualmente coexistem na área várias concepções, todas elas tendo

em comum a tentativa de romper com o modelo anterior, fruto de

uma etapa recente da Educação Física. Estas abordagens resultam

da articulação de diferentes teorias psicológicas, sociológicas e concepções

filosóficas. Todas essas correntes têm ampliado os campos

de ação e reflexão para a área e aproximado das ciências humanas.

Embora contenham enfoques diferenciados entre si, com pontos

muitas vezes divergentes, tem em comum a busca de Educação Fí-

sica que articule as múltiplas dimensões do ser humano (DARIDO,

2003, p. 20 e 22).

Quadro 2 Síntese das Abordagens Pedagógicas em Educação Física

ABORDAGEM

PEDAGÓGICA REPRESENTANTES LIVRO OBJETIVO

Desenvolvimentista
Go Tani; Edison

de Jesus Manoel;

Eduardo Kokubun;

José Elias de

Proença.

Educação Física

escolar: uma

abordagem

desenvolvimentista

Desenvolver

as habilidades

básicas e

específicas

Crítico-Superadora

Carmem Lúcia

Soares, Celi Taffarel,

Elizabeth Varjal,

Lino Castellani Filho,

Micheli Escobar e

Valter Bracht

Metodologia do

Ensino da Educação

Física

Transformação

Social

Antropológica Jocimar Daólio Da Cultura do

Corpo

Reconhecer o

papel da cultura

88 © Fundamentos da Educação Física Escolar

CríticoEmancipatória
Elenor Kunz

Transformação

Didáticopedagógicas

do

esporte

Reflexão Crítica

emancipatória

dos alunos

Construtivista João Batista Freire

Educação de Corpo

Inteiro: teoria e

prática da Educação

Física

Construção do

Conhecimento

Jogos Cooperativos Fábio Brotto

Jogos Cooperativos:

se o importante

é competir, o

fundamental é

cooperar

Formar

indivíduos

cooperativos

Fonte: adaptado de Darido (2003) e elaborado pelo próprio autor.

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS

Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar

as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta

unidade, ou seja, as diferentes abordagens pedagógicas em Educa-

ção Física escolar. Se você encontrar dificuldade em respondê-las,

procure revisar os conteúdos estudados para sanar suas dúvidas.


A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você

testar seu desempenho. Este é um momento impar para você fazer

uma revisão desta unidade. Lembre-se de que no ensino a distância

a construção do conhecimento se dá de forma cooperativa

e colaborativa, portanto, compartilhe com seus colegas suas descobertas.

1) Dada a riqueza de informações sobre as diferentes abordagens

pedagógicas, desenvolva a sua crítica sobre os

temas trabalhados na unidade.

2) Qual a importância da discussão, proposta nesta unidade,

para a sua formação?

3) Explique em breves palavras se existem pontos semelhantes

e divergentes entre as abordagens pedagógicas

estudadas.

4) Ao refletir sobre a prática pedagógica do professor, qual

dessas abordagens pedagógicas está sendo mais utiliza-

89

Claretiano - Centro Universitário

© U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física

da, hoje, pelos professores de Educação Física nas escolas

públicas? Por quê?

5) Qual é o foco principal da Abordagem Antropológica?

6) Explique quais são as principais diferenças entre os jogos

cooperativos e os jogos competitivos.

7) Apresente a sua crítica sobre a unidade, destacando:

a) Quais os pontos fundamentais?

b) Quais os pontos divergentes?

c) O que pode ser melhorado?

d) Tem relação com o objetivo proposto?

e) É importante para a formação do professor?

8. CONSIDERAÇÕES
Nesta primeira unidade, conhecemos todas as teorias pedagógicas

da Educação Física, seis delas em especial. Com esse

conhecimento, traçamos uma relação entre as abordagens e sua

importância para o profissional da área.

Com tais conhecimentos, estamos aptos a estudar, na pró-

xima unidade, Propostas Curriculares Oficiais e sua relação com a

Educação Física. Até lá!

9. Eͳ REFERÊNCIAS

Lista de figuras

Figura 2 – The Infanta Margarita. Disponível em <http://www.diegovelazquez.org/TheInfanta-


Margarita-1653.html>.

Acesso em: 27 jun. 2010.

Figura 3 - Os Filhos de Hülsenbeck, 1806. Disponível em: <http://casoual.wordpress.

com/2007/02/14/dos-meus-quadros-vi-i-parte/>. Acesso em: 27 jun. 2010.

Figura 4 - Criança do século 21. Disponível em: <http://static.blogstorage.hi-pi.com/

photos/ulyssesteixeira.arteblog.com.br/images/gd/1208177247/BICHO-DA-
GOIABAFRAGMENTOS.jpg>.

Acesso em: 27 jun. 2010.

Figura 5 – Amarelinha Tradicional. Disponível em: <http://bbel.uol.com.br/upload_2009/

conteudo/amarelinha.jpg>. Acesso em: 27 jun. 2010.

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