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Registro de Fitoterápicos
Abstract
Phytomedicines are the drugs obtained using exclusively vegetal drug
derivates as active constituents, characterized by the knowledge of
the effectiveness and the risks of its use, as well as for its quality
constancy. Effectiveness and safety can be validated through ethno-
pharmacological surveys, scientific publications or pre-clinic and clinic
pharmacological studies. Safety can also be determined by assays
that prove the identity of the plant and the absence of contaminants.
The quality must be reached through a control of the raw materials,
pharmaceutical formulation, packing materials and stability studies.
This article describes some topics of the phytomedicine registration
process in the National Health Surveillance Agency (ANVISA), Brazilian
agency that regulates and register medicines.
Unitermos:
Fitoterápicos; medicamentos; Dentro do contexto de regulamentações de registro de medicamentos
saúde pública; ANVISA; regis- no Brasil, os fitoterápicos foram até hoje contemplados com quatro dis-
tro; regulação.
positivos regulatórios: Portaria 22, de 30/10/1967, do extinto Serviço
Nacional de Fiscalização da Medicina e da Farmácia (SNFMF); Portaria
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A Portaria 22/67, embora não tivesse o detalha- em seu Anexo I , referentes à qualidade, posologia e
mento técnico dos instrumentos regulatórios atuais, indicações terapêuticas.
continha todos os aspectos essenciais ao registro
de fitoterápicos, exigindo identificação botânica A RDC 48/04 foi uma pequena revisão da RDC
das espécies vegetais usadas, padrão de qualidade 17/00, acompanhando a atualização do conjunto de
e identidade, prova de eficácia e de segurança que instrumentos regulatórios de medicamentos efetua-
validassem o uso e as indicações terapêuticas. Ou da pela ANVISA desde 2003. A estrutura do regula-
seja, basicamente todos os aspectos pertinentes mento foi modificada, reservando-se à RDC 48 todo
ao registro de um fitoterápico, aspectos esses que o enunciado das exigências técnicas e legais para a
continuam a ser objeto dos regulamentos atuais, concessão do registro e transformando os anexos
em um nível maior de detalhamento. Interessante da RDC 17/00 em quatro Resoluções Específicas
ressaltar que já havia a preocupação com a questão (RE): RE 88 - Lista de referências bibliográficas para
das associações de espécies vegetais, às quais se avaliação de segurança e eficácia; RE 89 - Lista de
referia como polifitoterapia. registro simplificado; RE 90 - Guia para a realização
de estudos de toxicidade pré-clínica; e RE 91 - Guia
A Portaria 06/95, por sua vez, já estava bem mais para realização de alterações, inclusões, notificações
próxima dos regulamentos atuais de registro. Na e cancelamentos pós-registro. Importante ressaltar
realidade, grande parte foi transposta, com algumas que, com a nova norma, a lista de produtos de Regis-
adaptações, para a RDC 17/00. A questão das tro Simplificado foi ampliada de 17 para 34 plantas.
associações recebeu tratamento particularmente Esta lista poderá ser revisada periodicamente e
severo, impossibilitando, na prática, o registro das novas plantas incluídas, com o avanço de estudos
mesmas, a menos que apresentassem ensaios de científicos comprovando a segurança e eficácia das
segurança e estabilidade e que demonstrassem que mesmas. Sugestões de inclusões e retirada de plan-
os efeitos colaterais e reações adversas fossem de tas devem ser enviadas para ANVISA para análise.
intensidade igual ou menor que os de cada compo-
nente isoladamente. Definições
A RDC 17/00 introduziu um diferencial importan- A legislação atual, a RDC 48, traz algumas definições
te: o conceito do uso tradicional e da história de em seu escopo que é importante explicitar:
uso como fator influente no registro. Sistematizou Droga vegetal - planta medicinal, ou suas partes,
também a questão do aproveitamento da literatura após processos de coleta, estabilização e secagem,
existente sobre plantas medicinais e seus derivados, podendo ser íntegra, rasurada, triturada ou pulveri-
introduzindo um conjunto de regras para sua qualifi- zada. Não é objeto de registro a planta medicinal
cação e quantificação no conjunto de elementos fresca ou a droga vegetal.
que são considerados para a concessão de um re- Derivado de droga vegetal - produto de extração da
gistro de fitoterápico. A questão das associações matéria prima vegetal, ou seja: extrato, tintura, óleo,
foi minimizada, admitindo-se o seu registro desde cera, exsudato, suco e outros.
que apresentassem os mesmos requisitos exigidos Matéria prima vegetal - planta medicinal fresca, dro-
para os produtos baseados em apenas uma espécie ga vegetal, ou derivado de droga vegetal. Compreen-
vegetal. Obviamente que toda a validação do pro- de os estágios pelos quais passa a planta medicinal
duto deveria referir-se ao mesmo, não se admitindo até a elaboração do fitoterápico.
validação inferida a partir dos dados individuais de Fitoterápico – é o medicamento obtido empregando-
seus componentes. se exclusivamente derivados de drogas vegetais. É
caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos
Na prática, impôs um freio ao excesso de criatividade riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade
farmacoterapêutica característico desses produtos, e constância de sua qualidade. Não se considera
restringindo, de forma acentuada, novos registros de fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua
associações de plantas medicinais. Introduziu tam- substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem
bém o conceito de Registro Simplificado, modalidade as associações destas com extratos vegetais.
de registro na qual era dispensada a comprovação Marcador - componente ou classe de compostos
de eficácia e segurança do produto, desde que o químicos presente na matéria-prima vegetal, ideal-
mesmo adotasse parâmetros estabelecidos na RDC,
Revista Fitos Vol.1 Nº03 março/2006
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mente correlacionado com o efeito terapêutico, que FPs podem ser obtidas no site da ANVISA através
classe de composto químico como marcador, sendo e processos operacionais padrão para o controle de
aceito apenas quando não se consegue identificar qualidade, é obrigatória a apresentação do Certifi-
a ação é devida a um conjunto de moléculas (fito- um relatório técnico contendo o relatório completo
complexo) que agem sinergicamente para promover de produção e as metodologias de controle do pro-
do qual o Ministério da Saúde, no uso de sua atri- nação Comum Internacional (DCI) com a quantidade
buição específica, determina a inscrição prévia no expressa no Sistema Internacional e a indicação de
órgão ou na entidade competente, pela avaliação sua função na fórmula.
segurança e qualidade destes produtos, para sua processo produtivo contemplando equipamentos e
introdução no mercado e sua comercialização ou metodologias utilizadas, tamanho máximo e mínino
consumo (BRASIL, 1967). e a descrição dos critérios de identificação do lote
a ser produzido.
O dossiê de registro é composto por uma parte
documental, o relatório técnico e o relatório de segu- Controle de Qualidade/Validação
rança e eficácia.
Os fitoterápicos necessitam do controle da qualidade
Parte Documental tanto dos derivados de droga vegetal e excipientes
quanto do produto tecnologicamente acabado.
Na parte documental, é exigida a apresentação de:
Cópia de licença de funcionamento da empresa A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou no
(Alvará Sanitário) atualizada, Certificado de Respon- documento WHO/Pharm/92.559, uma coletânea de
sabilidade Técnica (CRT) atualizado, emitido pelo metodologias para analisar a qualidade de plantas
Conselho Regional de Farmácia (CRF), cópia do medicinais com o objetivo de auxiliar o desenvolvimen-
protocolo da notificação da produção de lotes-piloto to de especificações nacionais de referência baseada
e formulários de petição (FP) preenchidos, contendo nas condições regionais de mercado e na legislação
todas as informações sobre a composição do produto local. Isto é importante para o controle de qualidade
(inclusive a quantidade de marcador de cada extra- dos insumos utilizados na fabricação dos derivados
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copéias ou formulários oficiais reconhecidos pela autenticidade, com a descrição das características
ANVISA (disponibilizados na RDC 79/03), ou validar organolépticas, macroscópicas e microscópicas;
a metodologia analítica no controle de qualidade. pesquisa de matérias estranhas como insetos, outras
Se houver a metodologia na Farmacopéia Brasileira plantas ou impurezas de natureza mineral; cinzas e
(FB), esta deve ser obrigatoriamente a seguida, cinzas insolúveis em ácido clorídrico; e umidade.
em relação às demais conhecidas, devendo-se dar
prioridade à edição mais recente. Métodos farmaco- Quando a empresa adquire o derivado de droga ve-
péicos nem sempre são os mais avançados do ponto getal o laudo do fornecedor deve apresentar estas
de vista científico, mas são os métodos oficiais nos informações. Esse item está sendo reavaliado para
quais serão baseadas as decisões em caso de dúvida uma futura revisão da RDC 48/04.
ou litígio.
2. Informações referentes ao derivado da droga
Não havendo a metodologia nos compêndios oficiais, vegetal
deve ser feita a validação com o objetivo de demons- Nesta etapa são exigidas as seguintes informações:
trar que o método é apropriado para a finalidade nomenclatura botânica oficial e a tradicional; parte
pretendida, ou seja, a determinação qualitativa, da planta utilizada; solventes, excipientes e/ou veí-
quantitativa e/ou semi-quantitativa de fármacos culos; pesquisa de metais pesados; contaminantes
e outras substâncias em produtos farmacêuticos. microbiológicos; e análise qualitativa e quantitativa
Para tanto, o método deve apresentar os parâmetros dos marcadores característicos da espécie.
especificados para validação de métodos analíticos
explicitados na RE 899/03. Todas as metodologias Para a análise qualitativa, podem ser utilizadas as
utilizadas no controle de qualidade devem ser envia- determinações gerais farmacopéicas como: den-
das para a ANVISA com a indicação da fonte biblio- sidade, viscosidade, pH, índice de dulçor/amargor,
gráfica ou de desenvolvimento. teor alcoólico, índice de refração e rotação ótica
que devem ser acompanhadas do teor de resíduo
A empresa pode optar por terceirizar uma parte seco, da prospecção fitoquímica (reações químicas
da produção ou do controle de qualidade, mas de- de caracterização usadas para a identificação de
verá fazê-lo em laboratórios habilitados pela Rede grupos de princípios ativos) ou de Cromatografia
Brasileira de Laboratórios em Saúde (REBLAS) ou em Camada Delgada (CCD).
em outras empresas fabricantes de medicamentos
que tenham CBPFC atualizado. Informações sobre Na CCD, cada extrato vegetal possui um padrão de
contratos de terceirização podem ser obtidas nas bandas exclusivo, chamado de “fingerprint”, devido
Portarias 59/96, 185/99 e através do link: www. às migrações diferenciais de seus constituintes em
anvisa.gov.br/divulga/noticias/2003/180703.htm. condições de análise padronizadas (SHARAPIN,
2000). Para auxiliar a identificação de certo compo-
Os requisitos necessários, segundo a RDC 48/04, nente do extrato é importante proceder sempre a
para o controle de qualidade são detalhados adian- uma corrida paralela com padrões, sob a mesma
te. placa. No caso da inexistência de padrões de refe-
rência comercializados, pode-se utilizar um padrão
1. Informações referentes à droga vegetal: secundário, isolando o componente do extrato vege-
A qualidade da droga vegetal é essencial para a efi- tal. Nesses casos, as bandas da amostra devem
cácia do fitoterápico. Os parâmetros devem estar de ser comparadas com um extrato padrão do vegetal
acordo com monografias oficiais ou a empresa deve elaborado sob condições conhecidas e padroniza-
elaborar uma monografia estabelecendo suas especi- das. Caso a CCD seja o método utilizado, devem
ficações. Os requisitos que devem ser apresentados ser enviadas cópias dos cromatogramas realizados.
referentes à droga vegetal são: relatório descritivo Quando os princípios ativos da droga não são conhe-
dos métodos de secagem, estabilização e conser- cidos, a identificação pode ser feita através de aná-
vação utilizados; laudo de identificação próprio ou lise de compostos químicos característicos da planta,
emitido por profissional habilitado, quando não exis- mesmo que essas não estejam envolvidas no efeito
tirem especificações farmacognósticas que permitam terapêutico.
a confirmação da identidade botânica; testes para
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Um critério obrigatório para o registro de fitoterápi- Atualmente, a bula de fitoterápicos deve seguir a
cos é a comprovação da sua segurança e eficácia. Portaria 110/97, no entanto, a empresa pode op-
Para isso, de acordo com a RDC 48/04, as empresas tar pela RDC 140/03. Isso ocorre por que a RDC
poderão usar três alternativas. Uma delas é a obten- 140/03 estipula que a adequação à mesma só é
ção de uma quantidade de pontos contados a partir obrigatória após a citação da bula padrão do medica-
da apresentação de estudos farmacológicos e toxi- mento no Compêndio de Bulas de Medicamentos
cológicos com base na literatura descrita na “Lista (CBM) da ANVISA, publicação que reúne as bulas
de Referências Bibliográficas para Avaliação de de medicamentos disponíveis no mercado. Quando
Segurança e Eficácia de Fitoterápicos”, publicada na da publicação das bulas de fitoterápicos no CBM,
RE 88/04. Como mínimo, a metade dos artigos apre- ressalvadas as especificidades desse tipo de medica-
sentados devem se referir aos ensaios clínicos. mento, todas as bulas devem se harmonizar às dos
Outra forma é a apresentação de levantamento bi- medicamentos considerados padrões.
bliográfico etnofarmacológico demonstrando eficácia
e segurança do produto que tenha uso comprovado A bula de fitoterápicos, além do disposto nas legisla-
por um período igual ou superior a 20 anos. Nesse ções supracitadas, deve informar a parte utilizada da
caso, é necessário considerar o período de uso pro- planta, a composição do medicamento, indicando a
posto para o medicamento, que deve ser episódico relação real, em peso ou volume, da matéria prima
ou curto, e uma busca detalhada por substâncias vegetal usada e a correspondência em marcadores
químicas potencialmente tóxicas ao usuário. e/ou princípios ativos.
A terceira alternativa é a realização de testes pré-clí- No registro, renovação e pós-registro, as bulas são
nicos e clínicos, até a fase 3. Para a orientação dos analisadas, cabendo ao especialista da ANVISA
testes toxicológicos pré-clínicos de fitoterápicos, avaliar sua veracidade e adequação à legislação. As
a ANVISA publicou a RE 90/04 que estabelece os informações disponibilizadas na bula pelas empresas
critérios mínimos aceitáveis para o estudo toxicoló- devem ser submetidas à análise criteriosa, pois são
gico agudo, sub-crônico e crônico, os testes para estes dados que estarão disponíveis para informar
medicamentos de uso tópico e o estudo especial de usuários e profissionais de saúde, além de fazer parte
genotoxicidade. Para os estudos clínicos, devem ser em anúncios e campanhas publicitárias. Nenhuma
seguidas as determinações do Conselho Nacional informação não aprovada no processo de registro
de Saúde (CNS), através das Resoluções 196/96
Revista Fitos Vol.1 Nº03 março/2006
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RDC 134/03 – Dispõe sobre a adequação dos me- dade e a comprovação de segurança e eficácia devido
dicamentos já registrados à complexidade química dos derivados de drogas ve-
getais. Faltam investimentos em pesquisa com plan-
A RDC 134/03 determina que “Por ocasião da tas nativas por parte das indústrias, que preferem o
primeira renovação de registro após a publicação registro de produtos baseados em plantas exóticas,
desta resolução, todos os detentores de registro de por dispor de vasta literatura científica publicada. A
medicamentos devem enviar relatórios de produção, dificuldade inerente ao processo de caracterização
controle de qualidade tais quais descritos nos regu- química e farmacológica dos derivados de drogas
lamentos específicos.” Desta forma, todos os medi- vegetais exige tempo e recursos apreciáveis, investi-
camentos, que tenham em sua composição princípios mento em equipes multidisciplinares de pesquisa en-
ativos derivados de droga vegetal, devem-se adequar volvendo botânicos, biólogos, agrônomos, farmacêu-
ao previsto na RDC 48/04, fossem anteriormente ticos, químicos e médicos.
serem classificadas como de venda “sob retenção D.O.U., Brasília, 24 set. 1976.
O papel regulador da ANVISA é essencial para evitar 4 - BRASIL. Ministério da Saúde. Farmacopéia Brasileira. 4ª ed.
que medicamentos ineficazes, nocivos e de má quali- São Paulo: Editora Atheneu, 1988.
da população, como também, a credibilidade dos rigorosamente obedecidos, quanto à ordem e conteúdo. D.O.U.,
Brasília, 18 març. 1997.
profissionais de saúde, estimulando a prescrição de
fitoterápicos. 7 - BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
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