“O grande legado que a pandemia deixou para a Educação foi a tomada de consciência
de que nossos problemas educacionais são, antes de tudo, problemas de desigualdade
social. Embora a função social da escola não seja de assistência social – é de garantir
aprendizagens – ela tem papel fundamental de acionar a rede de proteção, por sua
capilaridade e contato diário e porque, para garantir aprendizagens, precisa olhar para o
estudante como um todo”, diz Gina Vieira.
Com o início do ano letivo se aproximando, as redes e as escolas têm a tarefa de garantir
que os protocolos de segurança sanitária, elaborados em conjunto com as Secretarias da
Saúde de estados e municípios, estejam adequados e que a infraestrutura das unidades
esteja preparada para receber a comunidade escolar com todas as condições a que ela
tem direito. “Além disso, a vacinação de todos e todas é chave para essa reabertura
segura”, defende Cleuza.
A especialista, que acompanha diversas redes de Educação pelo país, pontua ainda
outros problemas que têm surgido ao longo do retorno presencial, iniciado sobretudo no
segundo semestre de 2021.
“O primeiro diagnóstico que os professores precisam fazer dos estudantes é do seu bem
estar geral porque eles não vão aprender se não estiverem bem”, observa Gina sobre
parte essencial do processo de recomposição das aprendizagens que as escolas
precisarão fazer.
Esse processo de acolhimento e escuta, que deve ser contínuo, alcança não só os
estudantes e suas famílias, mas também os professores, que voltam à escola após
vivências profissionais e pessoais difíceis, muitas vezes, traumáticas. Além de serem
lançados ao desafio de usar tecnologias digitais sem preparo para isso, se aproximaram
da vida dos estudantes. Dessa maneira, puderam perceber situações delicadas e
extremas, como violência e fome.
“Tenho visto escolas e redes usarem estratégias diferenciadas de busca ativa, desde o
controle diário da frequência dos estudantes até gincanas, sair de bicicleta pelo bairro
atrás de todo mundo, pedindo ajuda dos estudantes para encontrarem os colegas, usando
a estrutura da Saúde, da Assistência Social e dos agentes comunitários para cruzar dados
e encontrar famílias. É hora de acionar todo mundo, para que estejam atentos ao seu
redor”, orienta Cleuza.
Para Gina, este também é o momento de resgatar políticas públicas que garantam
condições para os estudantes, sobretudo os adolescentes e adultos, a continuarem na
escola: “É o caso de medidas como o Bolsa Família, programa que acabou, mas que foi
consolidado, testado exaustivamente dentro e fora do Brasil, e garantia à família um
apoio na sua renda com a condição de que a criança não faltasse à escola”.
“É importante defender cada vez mais a inclusão digital porque ela é sinônimo de
inclusão social e observar que o discurso de que os professores têm resistência às
tecnologias foi por terra, uma vez que eles fizeram acontecer. O que falta são políticas
públicas sistemáticas, formação, acompanhamento e investimento”, defende Gina.
“Precisamos de uma cultura coletiva que tenha no horizonte a internet como um direito”
Já em meio ao fazer pedagógico, a especialista indica que incluir a tecnologia não pode
passar por reduzir professores e estudantes a consumidores de tecnologia. Essas
ferramentas devem respeitar a autonomia docente, a concepção de crianças e
adolescentes como agentes sociais e não abrir mão dos marcos civilizatórios e da
ciência da Educação.
O Novo Ensino Médio, aprovado em 2017, teve o início de sua implementação adiada
para 2022, em razão da pandemia. Seu início, previsto para este ano, contemplará o 1º
ano do Ensino Médio. Em 2023, contará com os 1º e 2º anos e, completando o ciclo de
implementação, estará em vigor de forma completa, nos três anos de Ensino Médio, em
2024.
E as mudanças não são poucas. O Novo Ensino Médio possui um currículo dividido em
dois blocos: um geral, que segue as determinações da BNCC (Base Nacional Comum
Curricular), e um diversificado, composto por cinco tipos de itinerários de
aprendizagem e os itinerários integrados, que envolvem mais de uma área. As escolas e
redes precisam, portanto, adaptar desde os currículos até os espaços físicos e o quadro
docente para implementar tais mudanças.
A revisão do Ideb
“É uma oportunidade de avaliar todo o Ideb, refletindo sobre o que ele trouxe para
melhorar a qualidade da Educação ou não, mas para isso vamos precisar que toda a
sociedade se envolva no debate”, explica Helena.
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