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INDEPENDÊNCIA: UMA BATALHA DIÁRIA

José Castellani

A 17 de junho de 1822, três Lojas, resultantes da divisão da


Loja Comércio e Artes --- a própria Comércio e Artes, a União e
Tranquilidade e a Esperança de Niterói --- fundavam o Grande
Oriente Brasiliano (depois, Grande Oriente do Brasil), com a
finalidade de "sustentar a causa do Brasil". E essa causa, na
época, era a independência política do país.

A luta pela independência, nos meios maçônicos, todavia,


começara bem antes, chegando a um ponto praticamente decisivo,
quando se conseguiu, a 9 de janeiro de 1822, no célebre episódio
do "Fico", que o príncipe-regente D. Pedro permanecesse no país,
ignorando os decretos 124 e 125, das Cortes Gerais portuguesas, e
a lei de 24 de abril de 1821, instrumentos, que, praticamente,
revertiam o Brasil à sua condição colonial e que exigiam a imediata
volta do príncipe a Portugal. Feito sob a liderança dos maçons
José Joaquim da Rocha e José Clemente Pereira, o movimento do
"Fico" foi alimentado por representações ao príncipe, emanadas de
diversas províncias brasileiras: a representação dos paulistas,
redigida por José Bonifácio de Andrada e Silva, que viria a ser o
primeiro Grão-Mestre do Grande Oriente; a representação dos
fluminenses, redigida pelo frei Francisco de Santa Tereza de Jesus
Sampaio, orador da Loja Comércio e Artes ; e a representação dos
mineiros, de Pedro Dias Paes Leme.

As primeiras sessões do Grande Oriente foram administrativas,


para organizar as três Lojas fundadoras e a Obediência. Mas já na
quarta sessão, resolvia, a administração, que haveria um Livro,
chamado dos Juramentos, no qual assinariam "todos os atuais
operários e todos os filiandos e iniciados", fazendo-se expressa
menção da Defesa do Brasil e da sua Independência.

Na 14ª. sessão do Grande Oriente, em Assembleia Geral,


realizada a 9 de setembro (20º. dia do 6º. mês maçônico) o 1º.
Grande Vigilante, Joaquim Gonçalves Ledo, que, na falta do Grão-
Mestre, dirigia a assembleia, fez, "do sólio, enérgico e fundado
discurso, demonstrando, com as mais sólidas razões, que as atuais
políticas circunstanciais de nossa pátria, o rico, fértil e

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poderoso Brasil, demandam e exigem, imperiosamente, que a sua
categoria seja inabalavelmente formada, com proclamação da nossa
independência e da Realeza Constitucional, na pessoa do augusto
príncipe, perpétuo defensor do Reino do Brasil". A moção de Ledo
foi aprovada, unanimemente, pois não se sabia, nesse dia, que o
brado de independência, que desataria os laços com Portugal, já
fora dado dois dias antes, a 7 de setembro.

Essa foi a primeira oportunidade que tiveram, os maçons do


Grande Oriente do Brasil, de lutar por uma causa social brasileira;
e foi a única vez em que o Grande Oriente, como instituição,
envolveu-se na luta. Muitas outras conquistas viriam depois e
sempre com uma evidente participação maçônica, a ponto de não se
poder separar a História do Brasil independente da História do
Grande Oriente do Brasil.

E o trabalho social continua, incessante, porque o mundo


evolui, as fronteiras nacionais vão ficando esmaecidas, os
conflitos religiosos alastram-se, as refregas atávicas entre povos
em perene litígio continuam, os laços familiares tornam-se mais
tênues, os valores morais e éticos são postergados, a consciência
dos povos embota-se e o sentimento de amor ao chão natal vai sendo
substituído pelo cosmopolitismo global. Por isso, luta-se pela
independência até hoje! Não para que ela seja feita, mas para que
seja mantida, para que perdure e para que esteja sempre na mente
do povo. Porque, parafraseando Colbert, a grandeza de um país não
se mede pela extensão de seu território, mas pelo caráter de seu
povo.

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