Em que pende do mundo o Redentor, Acaso aprendeste quanto custa, Do perdão que te oferta, o inaudito penhor ?
Olhando àquela fronte lacerada
Por espinhos cruéis, de coroa irrisão; O flanco assim, ferido pela espada, As mãos e os pés cravados em prisão; Olhando o sangue a salpicar-Lhe o rosto, E do lado a correr-Lhe assim a flux, Caíste em ti, tomada de desgosto, Por ver o teu pecado imolando a Jesus ?
Olhando aquela rude populaça,
Vociferando insultos em tropel, Enquanto o sacerdócio a ultrapassa Na ironia mordaz e na chufa cruel, Tu não sentiste o peso do pecado A oprimir inclemente o Cordeiro de Deus, A fim de te eximir ao preço acarretado Por tuas culpas e os delitos teus ?
Não viste neste sangue que Lhe estua
Do flanco alanceado A fronte que proveu e ainda atua, Ela só, no delir a mancha do pecado ? Não foste a essa fonte , compungida, Buscar a purificação, E ao Redentor Pelos laços de amor P’ra sempre unida, Não rendeste de vez o coração ?
Meu salvador, revela hoje a minha alma
O sentido vital dessa cruz para mim! Como ancora perene, eu nela encontre a calma Da contrição perfeita E a fé que n’alma delita Essa visão sem fim!