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Servir ao Povo de Todo Coração

Blog marxista-leninista-maoista, principalmente maoista


(Brasil)

A problemática
nacional (Presidente
Gonzalo, 1974)

EM 10 DE OUTUBRO DE 202110 DE
OUTUBRO DE 2021 / POR SERVIR AO
POVO DE TODO CORAÇÃO
Nota do blog: Publicamos importantíssima
intervenção do Presidente Gonzalo, em
1974, sobre o problema nacional da
sociedade peruana como sociedade
semicolonial e semifeudal.

Tradução não-oficial.

A problemática nacional
Discurso pronunciado pelo Dr. Abimael
Guzmán em 1974 no Sindicato de Docentes
de Huamanga

A Sociedade Peruana Atual

– Caráter de nossa sociedade

– Caráter do processo revolucionário da


sociedade peruana

O Capitalismo Burocrático

– O que entendemos por capitalismo


burocrático?

– Três linhas do capitalismo burocrático

A situação atual do País

– Condições em que surge o regime atual

– Os planos e o caráter do regime

Evidentemente é muito importante


analisar a problemática da sociedade
peruana. Consideramos de que é necessário
conhecê-la, porquanto sem seu
conhecimento não é possível compreender
os processos que se dão; se não estamos
claros sobre o caráter da sociedade
peruana, sobre o processo que se vive hoje,
mal podemos entender o que representa a
lei de educação ou da lei de mineração. Isto
é, não é possível compreender o problema
concreto no país, como o da educação, sem
compreender qual é o caráter da sociedade
peruana atualmente e qual a situação
política. Lamentavelmente muito pouco se
conhece sobre a problemática nacional;
ainda mais nos últimos tempos, o Estado
tem montado toda uma campanha
deformadora destas questões; portanto, é
mais peremptória a necessidade de
analisar estes problemas.

A Sociedade Peruana Atual

Caráter de nossa sociedade

Planteamos: O Peru é uma sociedade


semifeudal e semicolonial. O que
entendemos por semifeudal e
semicolonial? Vejamos estas questões.

Nosso país no século passado se


emancipou. Faz 150 anos, éramos uma
colônia; vivíamos sujeitos a uma metrópole
(Espanha), não tínhamos independência
política. Por outro lado, no começo do
século passado era um país feudal, isto
quer dizer que nossa sociedade se baseava
fundamentalmente no trabalho da terra
que era o sustento da economia.
Naturalmente havia comércio e
modalidades industriais incipientes; mas o
fundamento econômico era a feudalidade.
Baseada na existência de grandes
latifúndios que percenciam a umas
quantas pessoas, e sobre essa propriedade
latifundiária se levantava a servidão, a
exploração dos camponeses, que por um
pedaço de terra teriam de prestar serviços
pessoais, lavrando a terra do senhor ou
outros serviços, inclusive doméstico.

Nosso país era atrasado, donde o


fundamental eram as velhas formas de
produção e modalidades de governo
totalmente caducas. Nosso país a começos
do século XIX tinha dois problemas, que
com variações persistem ainda: Um, o
problema da terra, oproblema da
feudalidade, o da servidão do campesinato
levantada sobre a propriedade
latifundiária; Dois, o problema da
soberania nacional, o de que nossa nação
era uma colônia da Espanha. A
emancipação enfrentou ambos problemas,
o provam as lutas de independência quanto
à soberania; e os decretos de Bolívar sobre
a propriedade territorial e os debates
parlamentários nos quais se planteava que
a emancipação só pdia assegurar-se
entregando a terra aos camponeses, no
tocante ao problema da terra. Mas a
emancipação só implicou comper as
ataduras com a Espanha. No entanto, o país
prontamente foi controlado e logo
dominado pela Inglaterra. Esta, então,
grande potência capitalista dominou em
toda América Latina, e, por tanto, em nosso
país. Que importância tem o domínio inglês
em nosso país? Até antes da emancipação
éramos um país feudal e colonial. Quando
nos emancipamos, seguimos tendo base
feudal mas com certa independência
política; conformamos uma República em
que se pesem os avatares da emancipação e
primórdios republicanos. Mas a Inglaterra
introduz ao país modalidades mais altas de
desenvolvimento, modalidades capitalistas,
fundamentalmente através de seu
comércio e os ata ao comércio mundial, do
guano. Isto implica que se comece a
acelerar a destrução da feudalidade; o fato
de que a Inglaterra traga mercadorias e
introduza métodos capitalistas acelera,
estimula a destruição da feudalidade. Por
outro lado, a Inglaterra começa a controlar
e introduzir um processo de colonização do
país. Assim, a dominação inglesa implicou
no começo de uma mudança, a passagem
até a conformação de uma sociedade
semifeudal e semicolonial no país. Neste
século, os EUA logram aplastrar o domínio
inglês e converter-se em um amo, em
meados dos anos 20. Assim, nosso país se
vê dominado por outra potência mundial,
mas ainda imperialista; Estados Unidos
quando nos domina é um país imperialista,
desenvolveu um sistema monopolista,
grandes empresas que concentram a
economia do país; por ouro lado, é uma
potência em expansão colonialista na
América Latina e até em parte da Ásia.
Nestas condições do domínio imperialista
ianque, nossa sociedade evolui seu caráter
semifeudal, mas não se destrói totalmente,
segue sobrevivendo. Sob o domínio inglês
(especialmente depois da guerra com o
Chile), se dá um maior impulso à
destruição da feudalidade sob o
desenvolvimento de uma forma de
capitalismo ligado aos grandes monopólios
e dependente do imperialismo. Ademais de
maner seu caráter semifeudal, nosso país
segue sendo semicolonial, isto é, um país
dominado que ainda que tenha
independência política declarada, vive sob
o domínio de uma potência imperialista no
econômico, diplomático, cultural e militar,
que torna a independência política uma
questão formal.

Assim a sociedade peruana, desde o século


XIX tem evoluído de uma sociedade feudal
a uma semifeudal, e de uma sociedade
colonial a uma semicolonial. Neste largo
processo, três potências nos têm dominado
e explorado: Primeiro Espanha até 1824, no
entando o espanhol seguiu dominando
muitas décadas mais. Posteriormente a
Inglaterra que mais sutilmente nos
dominou; que até nos fabricou partidos
políticos de corte burguês e um melhor
aparato estatal, para sujeitarmos melhor
com um domínio solapado, mais encoberto,
mas não menos explorador. Finalmente,
EUA que ainda nos oprime e explora;
imperialismo que, apesar de tudo o que se
diga, nos domina em todos os planos.

Quando éramos um país colonial, tínhamos


dois problemas: o problema da terra e o
problema nacional. Sob o domínio inglês,
éramos uma sociedade semifeudal e
semicolonial, de forma muito mais
elementar que a atual, evidentemente, e
tínhamos dois problemas: da terra e o
nacional; porque a terra seguia em poucas
mãos e a servidão seguia capeando no país
e porque a Inglaterra nos dominava. Neste
século, os EUA nos dominam, seguimos
sendo uma sociedade semifeudal e
semicolonia, muito mais evoluída que a
anterior, indubitavelmente, mas os
problemas básicos do país seguem sendo
dois: o da terra e o nacional. O problema da
terra, porque ainda as modalidades feudais
de exploração sobrevivem e tendo toda a
nossa sociedade: nossa mentalidade
acientífica e supersticiosa, nossa ideologia
em geral assim como nossas relações
sociais e políticas têm muito de
feudalidade. O problema nacional porque
somos uma nação oprimida;
aparentemente livre, mas no fundo
subjugada de mil formas.

Sintetizando, a história pátria desde o


século passado até hoje é a da luta de
classes feudal e colonial que, sob o domínio
capitalista inglês e do imperialismo ianque
sucessivamente, tem evoluído até
converter-se e ser na atualidade uma
sociedade semifeudal e semicolonial com
dois problemas básicos não resolvidos até
hoje: o problema da terra e o problema
nacional.
Caráter do Processo
Revolucionário da Sociedade
Peruana

Assentado o caráter da sociedade peruana


surge uma pergunta: Qual é o caminho da
transformação revolucionária?
Concretamente, qual é o caráter da
revolução peruana? Temos estabelecido
que há dois problemas: o da terra e o
nacional de cuja solução deriva a solução
do resto dos problemas do país; pois toda a
problemática nacional depende do caráter
semifeudal e semicolonial da sociedade
peruana. Isto quer dizer que, para a
sociedade peruana mude, se revolucione
verdadeiramente, tem que resolver essas
duas questões: 1) o problema da terra, cuja
solução exige varrer a semifeudalidade,
pois enquanto não se a varre, não se
resolve o problema da terra; 2) o problema
nacional, cuja solução exige varrer com a
opressão imperialista ianque, pois
enquanto não se varre este domínio
semicolonial não se resolve o problema
nacional. Assim, enquanto não varremos a
semifeudalidade e a semicolonialidade não
é possível transformar real e
verdadeiramente a sociedade peruana,
apesar de tudo o que nos dizem; além
disso, o que hoje pregam não é novo, por
exemplo, no ano 19 deste século, já
escutamos similares cantos de sereia. Em
consequência, o processo de transformação
da sociedade peruana, o que
cientificamente se chama revolução
peruana, tem duas tarefas a cumprir: 1)
destruir a semifeudalidade e 2) destruir a
semicolonialidade. Estas são as tarefas da
revolução peruana em sua primeira etapa.
O anterior significa que a revolução
peruana é antifeudal e anti-imperialista;
isto é que necessariamente deve destruir-se
a sobrevivência feudal e o domínio do
imperialismo. Por isso, a revolução
peruana necessariamente é uma revolução
democrático-nacional; democrática quanto
à feudalidade, a destruir as relações
feudais do país; e nacional pois é anti-
imperialista, dirigida a aplastrar a opressão
imperialista ianque. Assim, na atual
sociedade peruana semifeudal e
semicolonial, só cabe uma revolução
democrático-nacional, antifeudal e anti-
imperialista.

Analisemos o caráter da revolução peruana


em relação com as condições históricas
concretas. Tinhamos dois problemas desde
o século passado: o da terra e o nacional;
mas o século passado e o atual têm grandes
diferenças: no século passado não havia
imperialismo, neste século há; no século
passado não havia classe operária
internacionalmente convertida em
condutora da revolução, nem havia no país
uma classe operária desenvolvida, na atual
temos uma classe operária triunfante e no
país uma classe operária com larga história
de luta. Estas são diferenças
importantíssimas no processo
revolucionário de nosso país.

No século passado e até os anos 20 do atual,


a burguesia no país poderia conduzir o
processo de transformação através da
solução desses problemas. Mas em nosso
país, desde os anos 20, vão se produzir
grandes lutas; heroicas lutas e sucessivos
levantamentos camponeses, mobilizações e
lutas estudantis e poderosos grandes
combates da classe operária; gerando-se
um grande processo de luta política em
meio do qual começa a difundir-se e
aplicar-se à nossa realidade a ideologia do
proletariado, através de uma
extraordinária figura: José Carlos
Mariátegui, cujo trabalho combatente de
homem pensante e operante marca um
feito na historia ao fundar em 1928 o
partido da classe operária do Peru, o
Partido Comunista. Assim pois, este período
determina uma mudança fundamental em
nossa revolução, pela qual a burguesia, nas
condições de domínio do imperialismo e de
existência de uma classe operária
mergulhada em luta, já não pode conduzir
o processo revolucionário em nosso país;
pois já surgiu e se desenvolve a classe
operária que, além de disputar a direção
com a burguesia, é a única classe
consequente e capaz de levar a revolução
peruana a seu triunfo. Desta forma, a
revolução burguesa no país tem dois
períodos: 1) a velha revolução burguesa
que pode cumprir-se até o começo do
século, sob direção burguesa; e 2) a nova
revolução burguesa ou revolução
democrático-nacional, ou revolução
burguesa de novo tipo, sob a direção do
proletariado, que é a única perspectiva
histórica do país. Os burgueses, por razões
históricas não tem podido cumprir com seu
papel no país; mas depois do ano 18
insurge o proletariado politicamente
organizado e arrebata a burguesia da
condução histórica do processo
revolucionário, como única classe que pode
cumpri-la. Portanto, a revolução no país, a
destruição da feudalidade e do domínio
imperialista, só pode cumprir-se a partir do
ano 28 mediante uma revolução
democrático-nacional e sob a direção do
proletariado, classe que para cumprir sua
função histórica tem que unir-se com o
campesinato em uma sólida aliança
operário-camponesa, por ser o
campesinato como majoritária força
principal ainda que não dirigente no
processo.

Estes problemas do caráter da sociedade e


da revolução são de vital importância, pois
aderimos firmemente à posição de que no
país ou o proletariado com seu partido
conduz o movimento ou não há revolução
democrático-nacional. Não sejamos
enganados, direta ou indiretamente
serviremos aos inimigos da classe.
Para concluir este tema assinalamos que há
outras teses contrárias às expostas,
destacando que a tese de que a sociedade
peruana é capitalista é hoje a mais
perigosa. Se o país é capitalista; e se a
revolução é socialista; o proletariado e não
o campesinato seria a força principal. Esta
tese muda a fundo o importantíssimo
problema do caminho da revolução; como
vimos, há dois caminhos: 1) o da revolução
de outubro que é da cidade para o campo e
o seguem os países capitalistas através de
uma revolução socialista; caminho que
seguiu a velha Russia ou que hoje teria de
seguir a França, por exemplo e 2) o
caminho da revolução chinesa, que é desde
o campo à cidade e que seguem os países
semifeudais e semicoloniais ou coloniais
mediante uma revolução democrático-
nacional, caminho que hoje segue Vietnam,
entre outros. Portanto, que o país seja
semifeudal ou capitalista, não é simples
discussão bizantina, pois se se erra no
caráter da sociedade, se erra no caminho
da revolução e, em consequência, esta não
triunfará. A tese do caráter capitalista da
sociedade peruana tem sido e é sustentada
pelo trotskismo e posições próximas a ele,
no entanto tal tipificação começa a ser
sustentada pelo revisionismo para
aprofundar mais seu entreguismo ao
regime.
O Capitalismo Burocrático

Este problema é importante para a


compreensão da sociedade peruana, e seu
desconhecimento é a raiz de graves erros
políticos; a tese do capitalismo burocrático
encontramos nos clássicos e em Mariátegui,
ainda que neste, com outro nome.

O que entendemos por


Capitalismo Burocrático?

É o capitalismo que impulsiona o


imperialismo em um país atrasado; o tipo
de capitalismo, a forma especial de
capitalismo, que impõe um país
imperialista em um país atrasado, seja
semifeudal, semicolonial. Analisemos este
processo histórico.

Como se desenvolveu o capitalismo nas


velhas nações europeias? Suponhamos a
França; em fins do século XVIII era um país
feudal, tinha de 20 a 22 milhões de
camponeses, os operários e trabalhadores
não somavam sequer 600 mil, (aqui se pode
ver a etapa feudal que teria); se baseava
sobre a servidão em suas diferentes
formas. No entanto, na entranha feudal da
França se geraram novas formas
produtivas, fabris, capitalistas; e uma
classe, a burguesia, foi tendo cada vez mais
força, mais poder econômico, inclusive
influência política. Perguntemo-nos: França
era um país subjugado a outro? Era um
país oprimido? Não. França era uma
Monarquia absolutista que disputava com
a Inglaterra a hegemonia do mundo; não
estava oprimida por ninguém. Suas
condições socioeconômicas e históricas
fizeram com que ela se desenvolvesse
assim. Nessa época havia imperialismo?
Não. O imperialismo é desse século. O que
havia é países em desenvolvimento
capitalista como Inglaterra, por exemplo; e
França ia desenvolvendo
independentemente uma sociedade
capitalista. Igual caminho seguiram outros
países, e quando chega ao século XIX,
França, Inglaterra, Bélgica, Holando, etc.
são países capitalistas independentes
desenvolvidos.

Qual era a situação das nações


latinoamericanas no século XIX? Quando
começa a emancipação da América (1810),
as nações da Europa já eram poderosas,
enquanto as latinoamericanas recém
começavam a estruturar sua
nacionalidade, problema que ainda não foi
concluído. Além disso, estas nações após
emanciparem-se caíram sob o domínio de
uma potêncoa, da Inglaterra; assim seu
capitalismo vai desenvolver-se sob o
domínio inglês, como um capitalismo
dependente. Há, pois, uma diferença
histórica, econômica e política notória
frente ao processo europeu. Por outro lado,
as burguesias de desenvolveram na
América Latina se vão ligando cada vez
mais ao país dominante, de tal maneira que
estas débeis burguesias em vez de
desenvolver-se independentemente, como
o fizeram as europeias, e a serviço dos
interesses nacionais, vão se desenvolvendo
como burguesias subjugadas, dependentes,
entregues de corpo e alma às potências
imperialistas (Inglaterra ou EUA) na
medida em que acreditam até
converterem-se em ricas e desenvolvidas
burguesias intermediárias, como mostra a
história desse século.

Este último caminho é o que se deu no


Peru. Como vimos, na segunda década
deste século, o imperialismo ianque
substituiu o domínio inglês. Para isto, os
Estados Unidos utilizaram a seus
intermediários e dominou o poder estatal;
este é o significado e a função do golpe
estatal de 1919, de Leguía e seu oncenio.
Este período é chave no processo nacional.
Leguía em 19 planteou algumas questões: a
reivindicação dos recursos naturais, a
concessão de terras a quem nelas trabalha,
a reivindicação das riquezas naturais, a
participação do povo através de plebiscito e
o remanejamento do aparato estatal.
Leguía foi o instrumento político direto dos
Estados Unidos para impulsionar seu
capitalismo burocrático dependente no
país, a cujo fim impulsionou sua própria
burguesia extirpando do aparato estatal a
ligação da Inglaterra mediante uma
renovação da burguesia intermediária que
enfrentou em dura luta, a chamada
oligarquia. Deste processo devemos extrair
uma lição, entre outras, não basta que um
regime ataque a oligarquia ou planteie
reivindicar as riquezas naturais ou fale de
enregar a terra a quem nela trabalha para
que ele seja percebido como
revolucionário; se pode tratar, como Leguía
atualmente, de uma renovação da
burguesia intermediária e
desenvolvimento do capitalismo
burocrático.

Assim, os Estados Unidos começaram seu


domínio no país, pouco a pouco foi
introduzindo-se em nossa economia,
mudando suas formas segundo as
flutuações internacionais e a correlação de
classes dentro do país. Em um período o
imperialismo norte-americano usa
modalidades capitalistas de Estado, no
outro usa iniciativa privada como o
fundamental; em função do qual o Estado
intervem diretamente em forma mais
ampla no processo econômico,
impulsionando-o ou pondo em primeiro
plano seu papel cautelador nas livres
relações das empresas privadas.

Três linhas do Capitalismo


Burocrático
O capitalismo burocrático desenvolve três
linhas em seu processo: uma linha
latifundiária no campo, uma burocrática
na indústria e uma terceira, também
burocrática, no ideológico. Sem pretensão
de que essas sejam as únicas.

Introduz a linha latifundiária no campo


mediante leis agrárias expropriatórias que
não apontam a destruir a classe
latifundiária feudal e sua propriedade
senão evoluí-las progressivamente
mediante a compra e pagamento da terra
pelos camponeses. A linha burocrática na
indústria aponta a controlar e a centralizar
a produção industrial, no comércio, etc.,
pondo-os cada vez mais em mãos
monopolistas a fim de propiciar uma
acumulação mais rápida e sistemática do
capital, em detrimento da classe operária e
demais trabalhadores, naturalmente, e em
benefício dos maiores monopólios do
imperialismo em consequência; neste
processo tem grande importância a
poupança forçosa a que se submete aos
trabalhadores, como se vê na lei industrial.
A linha burocrática no ideológico consiste
no processo para moldar a todo o povo,
mediante meios massivos de difusão,
especialmente, na concepção e ideias
políticas, particularmente, que sirvam ao
capitalismo burocrático; a lei geral de
educação é a expressão concentrada desta
linha, e uma das constantes desta linha é
seu anticomunismo, seu antimarxismo
aberto ou solapado.
Estas três linhas formam parte do caminho
burocrático ao qual se opõe ao CAMINHO
DEMOCRÁTICO, o caminho revolucionário
do povo; se aquele defende a propriedade
feudal, este planteia sua destruição e
perante o pagamento da terra, contrapõe
com seu confisco; se aquele reconhece e
fortalece a propriedade industrial
imperialista, este a nega e luta por seu
confisco; se aquele pugna por subjugar
ideologicamente ao povo, este luta por
armá-lo ideologicamente; e se aquele
persegue o marxismo, este sustenta que há
que guiar-se pelo marxismo como único
instrumento cientifico para compreender a
realidade. São, pois, dois caminhos
absolutamente contrários. A história do
país no presente século é a história da luta
destes dois caminhos: do caminho
burocrático, ou seja, do capitalismo
subjetido ao imperialismo, e do caminho
democrático, do caminho da classe
operária, do campesinato, da pequena
burguesia e, em certas circunstâncias, da
burguesia nacional. Para compreender o
capitalismo burocrático é muito útil o
estudo e análise da década de 60, na qual se
avançou mais o processo da destruição da
feudalidade; neste período se impulsiona a
indústria e as relações capitalistas na
agricultura. Por outro lado, se desenvolveu
grandemente a luta de classes; o
movimento sindical, camponês e estudantil
alcançaram altos níveis. Assim se
desenvolveu um forte movimento sindical
que em determinado momento tomou
locais e chefes como reféns; o movimento
camponês também teve um grande auge,
no segundo semestre de 63 como um rastro
de pólvora correu desde o centro do país
até o sul; e o movimento estudantil teve
bastante ascenso. Em síntese, a luta das
massas viveu grandes experiências neste
período, luta política.

Desse modo, a política partidária teve um


grande auge; por um lado os partidos
políticos da reação entravam em grandes
dificuldades e pugnas levando a crise da
chamada democracia representativa, anos
67 e 68; por outro lado a esquerda
desenvolveu uma vigorosa vida política,
dentro da qual se deu a luta entre
marxismo e revisionismo, posteriormente a
retormar o caminho de Mariátegui como
condição para desenvolver a revolução.

Outro feito bastante importante e não


suficientemente estudado é o problema das
guerrilhas: no ano 65, inclusive nesta zona,
surgiu um foco guerrilheiro. O movimento
guerrilheiro no país é parte do processo
nacional. É uma primeira questão que há
que destacar porque sectariamente às
vezes se pretende considerar que é a
simples experiência de um organismo e
não a vemos como uma experiência do
povo peruano. É um movimento
intimamente ligado ao processo político do
país, desenvolvido segundo concepções
pequeno burguesas; é uma grande
experiência que necessita ser analisada
desde a posição do proletariado para
extair-lhe lições frutíferas. É impossível
compreender nossa situação dos anos 70 e
sua perspetiva sem compreender as
condições concretas dos anos 60. Há uma
coisa boa: nos últimos anos, a
intelectualidade peruana vem
compreendendo a necessidade de estudar a
década de 60. Só compreendendo esse
período estaremos melhor armados
ideologicamente para compreender a
situação atual. O problema do capitalismo
burocrático é importante porque nos
permite compreender qual é o caminho
dominante que o imperialismo impõe a um
país atrasado, em um país semifeudal e
semicolonial; compreendendo este
problema estaremos preparados para
combater a tese do caráter capitalista do
país e suas derivações políticas.

Para concluir este tema tratemos o


seguinte: alguns sustentam que plantear o
capitalismo burocrático no país é
desconhecer seu caráter semifeudal e
semicolonial; dizem que encobertamente
se planteia que o país é capitalista. Este é
um erro que desconhece as leis do
desenvolvimento social de nosso país e dos
países atrasados; porque, precisamente, o
capitalismo burocrático não é senão o
caminho do imperialismo em um país
semifeudal e semicolonial, sem condição
semifeudal e semicolonial não haveria
capitalismo burorático, assim, plantear a
existência de capitalismo burocrático é
plantear como premissa que o país é
semifeudal e semicolonial.

A Situação Atual do País

Condições em que surge o regime


atual

Em que condições surge o regime atual?


Reparemos nos fins da década de 60. Que
se passava? Problema econômico: 67
desvalorizações monetária, congelamento
de salários, etc. Crise econômica. Por outro
lado, nas lutas das massas ascenderam,
fortes lutas operárias e camponesas, se via
nitidamente que começavam a apresentar
características similares às que se deram
nos anos iniciais da década; visando um
futuro ascenso do movimento de massas.
No político, enfrentamentos e
fracionamentos entre e dentro das
organizações políticas das classes
dominantes; as famosas disputas entre
parlamento e executivo. Ademais, se
aproximavam as eleições dando
conjuntura para que se esclarecessem
muitos problemas do país e inclusive para
que os próprios partidos em disputa, em
seu afã de monopolizar votos, expusessem
sua roupa suja ao sol. Ideologicamente
nosso país havia passado por um profundo
debate de ideias e se havia esclarecido
bastante bem o que é marxismo e o que é
revisionismo; mais ainda, começava a se
retomar o caminho de Mariátegui, a aplicar
o marxismo às condições concretas do país.

Além disso, há que destacar duas situações:

1. A situação econômica do país, isto é o


desenvolvimento do capitalismo
burocrático já não podia seguir
desenvolvendo-se na forma anterior,
urgia seu aprofundamento.
Necessitávamos abrir mais larga a
estrada para que avançasse esse
processo na forma do imperialismo;
com as formas anteriores, não se podia
avançar. Não esquecemos que há
muitos anos se discutia o problema
agrário, inclusive havia leis agrárias:
projeto Beltran, Leis de Pérez Godoy e
de Belaúnde. Outra questão: no
problema industrial a lei do segundo
governo e Prado já era insuficiente e se
reformulava a necessidade de fazer
parques industriais, dar prioridade ao
papel estatal, planificar etc.; aqui está o
plano de Belaúnde de 1967 a 70 que
mais ainda planteava a necessidade de
mudar a condição social do país para
construir uma nova sociedade nacional,
democrática e cristã. Em conclusão, o
processo do capitalismo burocrático
necessitava aprofundar-se.
2. No país se dava a chamada democracia
representativa, mas o parlamentarismo
não satisfazia as necessidades dos
exploradores; as massas populares
avançavam com relativa facilidade
pondo em dificuldades, ainda que
transitórias, as classesexploradores.
Necessitava então substituir a
modalidade representativa, o
parlamentarismo. Era isto um caso
típico que se dava só no país? Não. A
década de 60 implica na América Latina
a fragilidade do chamado regime de
democracia representativa, a crise do
parlamentarismo e por consequinte a
necessidade de substituí-lo por
modalidades estatais mais eficazes para
a reação.

Em síntese, a necessidade econômica de


aprofundar o capitalismo burocrático e a
fragilidade do parlamentarismo, nas
condições assinaladas, planteou às classes
exploradas e ao imperialismo a
necessidade de uma nova abordagem
política para o país. Assim, o regime atual
surge por necessidades econômicas, sociais
e políticas de aprofundar o capitalismo
burocrático. Existe atualmente um plano
econômico-social do qual pouco se fala. Em
síntese estabelece: a necessidade de
impulsionar o capitalismo burocrático,
mediante a força dos operários e
camponeses, os primeiros sendo
dominados pela lei industrial e os outros
mediante a lei agrária. Por sua vez,
planteia também a ação direta e primordial
do Estado para abrir condições de inversão
do capital privado; que o financiamento
necessariamente tem de originar-se do
imperialismo e como este financiamento é
insuficiente, o fundamental enraíza-se nos
próprios recursos. Este plano pinta muito
claramente sua ligação com o processo de
capitalismo burocrático do país;
nitidamente se liga este plano ao de
Belaúnde e este com todo o sistema de
capitalismo burocrático do país.

Muito íntima também é a relação entre o


plano econômico e a mobilização social.
Esta é outra coisa qe não está muito clara.
O regime, sancionadas suas medidas
fundamentais (agrária, industrial e
educacional) passou a uma etapa
organizativa. Hoje e no imediato nos
desenvolvemos dentro de organização,
mobilização e participação que o regime
está impulsionando. A mobilização social,
há que entendê-la ligada ao processo
econômico, o mesmo governo disse que
sem mobilização social não poderá cumprir
seu plano econômico-social; e planteia que
a mobilização social tem uma sustentação,
a participação na propriedade.
Ultimamente os representantes do regime
falam de propriedade social, mas para que
serve esta? A propriedade serve para, por
meio da isca de participar na propriedade,
mobilizar as masses em benefício do
capitalismo burocrático. Por isso a
sustentação da mobilização social é a
participação social.
Para que serve a mobilização social? A
mobilização social é um instrumento
político em mão do regime para
impulsionar suas concepções e abrir um
caminho nem capitalista nem comunista,
isto é feito para difundir suas ideias. E ao
difundir suas ideias busca evitar que nas
massas se imprimam ideias estranhas,
exóticas estrangeiras; a que ideias se
refere? Ao marxismo; este processo
ideológico é para evitar que as massas
aprendam o marxismo e assim atá-las ao
caminho burocrático. Desse modo, a
mobilização é um meio para organizar, a
partir das modalidades de propriedade, as
massas e canalizá-las sob um mando
vertical. Isto é o que entende por
mobilização social; é uma peça mestre
desse sistema a serviço de seu plano
econômico e político. Uma das razões por
quais o plano econômico não avança, como
esperavam que avançasse, é a falta de sua
chamada mobilização social.

Do dito, derivamos: a situação política atual


do país se está centrando no problema da
mobilização da smassas, agora e no
imediato nos movemos nessa conjuntura,
que é: quem e como mobiliza as massas. O
governo pretende movê-la segundo sua
concepção; os fatos assim o demonstram. O
egime aponta a organizar as massas
camponesas, a isto serve a lei 19400,
apontam a organizar os operários
mediante a chamada CTRP. Nacionalistas,
revolucionárias, participacionistas, entre a
estudantada cria organizações que nascem
um dia e ao seguinte desaparecem. Tudo
isso significa o intento de organizar as
massas operárias, camponesas, estudiantis,
o que revela que a contenda se está dando
no plano organizativo.

No entanto, apesar da propaganda e dos


esforços do regime e seus seguidores a luta
das massas se aviva e se desenvolve. Por
quê? Porque as condições de vida da
smassas se agravma como consequência do
próprio sistema; por isso, por mais que
gritem que é a ultraesquerda que move as
massas e as agita, o certo é que as massas
se movem por seus interesses, e na medida
em que são mas conscientes, mas os
defendem. Sintetizando, as condições
sociais, econômicas e políticas levam a uma
agudização da luta da smassas; e a questão
organizativa vai enfrentar graves
dificuldades perante a ofensiva
organizativa do regime, o mesmo que
incapaz de impor seu controle total sobre
as massas, terá de apelar mais à repressão
sistemática. (mostras das quais há vários e
muitos instrutores).

Em conclusão: a ideologia e a política do


regime, inclusive a organizativa, expressa
um caráter fascista. As medidas do regime,
o que expressam seus dirigentes, sua
maneira de organizar, as expressões que
tem frente ao regime representativo, a
maneira de tratar as liberdades cidadãs,
não demonstram senão uma coisa: o
abandono do sistema demoliberal e
representativo e adesão ao fascismo. O
próprio chefe do Sinamos disse que há um
período prérrevolucionário e que todos os
regimes e organizações políticas tem
caducado nas novas condições sociais. Por
outro lado, as medidas aplicadas no
político, no econômico e no organizativo
provam certamente que estão se
assentando as bases de um sistema
CORPORATIVISTA. A essência desta questão
são as orgnaizações nos diferentes níveis,
nos quais devem participar os patrões, os
trabalhadores e o Estado. Três partes nas
organizações, isto está definido como
coporação desde o século passado. Assim o
tem planteado quem tem sustentado o
corporativismo no ano 20 e assim o
sustentam hoje na Espanha e em Portugal.

Assim, o regime atual é um sistema que


tem uma orientação ideológica de corte
fascista e está assentando as bases de um
sistema CORPORATIVISTA. Dir-se-á que há
outra tese. Está claro. Há teses que
sustentam que isto não é certo, sustentam
uns de que se trata de um regime
revolucionário burguês que está
cumprindo uma etapa da revolução; se
recordamos o que temos vista esta é uma
afirmação sem fundamento político,
ideológico e econômico. Outra tese sustenta
que o regime é reformista burguês, que
está aplicando reformas. O que é reforma?
Reforme é a a concessão que o povo
arranca com suas lutas, ou é o subproduto
da revolução, dizia Lenin. São concessões
ao povo as leis agrárias, industriais ou
educacionais? Isto bastava para ver a
incosistência dessa tese.

Finalmente: quando nos emancipamos


teríamos dois problemas, o da terra e o
nacional, o problema da feudalidade e o
problema do domínio de uma potência
estrangeira. Tem passado muitos anos,
nossa sociedade tem avançado. O povo de
hoje não é o povo de ontem. Consideramos
que hoje em dia, depois de tantos anos,
seguimos tendo dois problemas: da terra e
o nacional. De agora, o processo de
transformação em nosso país,
cientificamente chamado segue sendo uma
REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICO NACIONAL e
esta somente pode ser conduzida pelo
proletariado.

TODO DEBATE SE ABRE PARA OS QUE


OPINAN, NÃO PARA OS QUE CALAM.

J.C Mariátegui

A POLÊMICA É UTIL QUANDO SE PROPÕE,


VERDADEIRAMENTE, ESCLARECER AS
TEORÍAS E OS FATOS, E QUANDO NÃO SE
TRAZ A ELA SENÃO IDEIAS E MOTIVOS
CLAROS

J.C Mariátegui.

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